domingo, 1 de abril de 2012

LÍNGUAS DA AMAZÔNIA

européia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
80
3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
81
3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
80
3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
81
3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
80
3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
81
3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
80
3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
81
3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
80
3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
81
3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
80
3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
81
3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
80
3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
81
3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
80
3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
81
3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
80
3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
81
3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
80
3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
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3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
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3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
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3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
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3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
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3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
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3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
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3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
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3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
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3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
80
3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
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3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
80
3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
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3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
80
3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
81
3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
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3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
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3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
80
3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
81
3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cujaeuropéia – o português – trazida pelo colonizador e que, em longo prazo, seria hegemônica.
Essas línguas, nos contatos mantidos através de seus falantes, se influenciaram mutuamente,
sofrendo modificações que foram aqui assinaladas.
O estudo da história social das línguas na Amazônia requer uma explicitação das
diferentes políticas de línguas, tanto da Coroa Portuguesa, quanto do estado neo-brasileiro.
Durante mais de um século, a administração colonial estimulou oficialmente o uso e a
expansão da Língua Geral, em detrimento da língua portuguesa, só modificando seu ponto
de vista em meados do século XVIII. É necessário investigar as razões das mudanças de
rumos e acompanhar a implementação e os resultados de tais políticas, bem como o
comportamento dos principais agentes responsáveis por sua execução: os missionários.
79
Desta forma, é possível esclarecer porque parece ter sido mais conveniente para os interesses
coloniais estimular o uso de uma língua indígena, caracterizada por sua oralidade e
considerada como ‘bárbara’ e ‘inculta’, e não o uso do português, uma língua escrita, de
prestígio, literatada desde o século XIII? (Houaiss 1985: 46). Trata-se, na realidade, de
entender por que, na Amazônia, os barcos comandados pelo colonizador, em vez de
disseminarem a língua portuguesa, acabaram transportando uma língua indígena. Para isso,
parece oportuno, agora, discutir a ação direta do Estado e da Igreja, relacionada às funções que
foram atribuídas a essas línguas, como resultado da política da Coroa Portuguesa.
80
3. A POLÍTICA E O REORDENAMENTO DE LÍNGUAS
81
3.1 – O campo da política de línguas
“Ponha efficaz deligencia em que os índios sejam práticos na lingua portuguesa...e
vos recomendo a infallivel observancia desta minha Real ordem”. Carta Régia de 12
de setembro de 1727. (ABAPP, T.II 1902: 191)
O termo ‘política de línguas’ vem sendo usado pela sociolingüística para designar
um conjunto de medidas, explícitas ou implícitas, adotadas predominantemente pelo
Estado, mas também por outros agentes sociais, para ordenar as línguas faladas em um
determinado território. Esse conceito abrange, portanto, as normas jurídicas e as ações
deliberadas desenvolvidas pelos aparelhos burocráticos de Estado, da mesma forma que inclui
também o conjunto de atividades sociais, que de alguma forma interferem no destino das
línguas, cujas funções são analisadas, dessa forma, como um elemento de ordenamento social.
Trata-se, portanto, de uma categoria, com a qual podemos pensar a intervenção do Estado,
enquanto poder político institucionalizado e força política organizada, que gera diferentes
tipos de mudanças lingüísticas e transforma experiências individuais e coletivas, com
implicações nas formas e usos lingüísticos da comunidade e, em conseqüência, nas atitudes
dos falantes ante as línguas. Quando uma sociedade se organiza e estende as suas relações
de contato, intercâmbio e dominação sobre outras sociedades, cultural e lingüisticamente
diferentes, as línguas desempenham função relevante, tanto para organizar a dominação e a
hegemonia, quanto para resistir a elas (Hamel 1993: 8).
No processo colonial ibero-americano, como resultado de determinações políticas,
as línguas que historicamente se constituíram como nacionais passaram a desempenhar um
papel hegemônico somente após uma série de estratégias, que sempre incluíram o uso das
denominadas Línguas Gerais, que eram, do ponto de vista demográfico, as mais
importantes línguas indígenas. A formação de tradutores e intérpretes (denominados de
‘línguas’), os currículos das escolas para filhos de caciques e a criação, já em 1580, das
cátedras de línguas indígenas nas universidades no Peru e no México, referendam o prestígio
que alcançaram algumas dessas línguas, constituindo-se, ao mesmo tempo, em espaço de
debate dessa produção. Na América colonizada por Portugal, os processos históricos foram
diferentes, embora guardem algumas similitudes, como no caso das duas línguas gerais que se
desenvolveram: a Língua Geral Paulista(LGP) e a Língua Geral Amazônica (LGA), cuja



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