As pesquisas sobre o livro didático de História: temas e perspectivas
Raphaela de Almeida Santos*
RESUMO
O texto analisa os trabalhos apresentados no Simpósio Internacional Livro Didático.
Educação e História, realizado na Universidade de São Paulo (2007) através dos anais
impressos e eletrônicos.
Palavras chave: livro didático – ensino de História - pesquisa
ABSTRACT
The text examines the work presented in the International Symposium Schoolbooks.
Education and History, held at the University of São Paulo (2007) through the annals printed
and electronic.
Key words: scoolbooks – teaching History - research
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Introdução
Este estudo foi desenvolvido junto ao Grupo de Pesquisa em História da Educação e
Ensino de História: Saberes e Práticas da Faculdade de Educação da UFF, que tem por
objetivo investigar o processo de constituição de saberes disciplinares e pedagógicos nos livro
didático.
Neste trabalho apresentamos os resultados de um levantamento elaborado a partir dos
resumos publicados nos Anais do I Simpósio Internacional sobre livro didático ocorrido no
Brasil – Livro Didático. Educação e História. Simpósio Internacional que teve lugar na
Universidade de São Paulo em 2007.
* Universidade Federal Fluminense. Bolsista de Iniciação Científica da FAPERJ.
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O estudo desses anais é importante por nos dá uma idéia de como o livro didático vem
sendo estudado nas pesquisas recentes pelos profissionais que se dedicam ao tema. Apesar de
trazer um estudo quantitativo sobre o simpósio – que abrangeu pesquisas com livros didáticos
das mais variadas matérias – o foco dessa apresentação constitui o conjunto das comunicações
sobre o livro didático de História.
Os pesquisadores e suas questões
A partir dessa análise podemos ver que os pesquisadores se empenham em responder a
algumas questões comuns. Os pesquisadores tentam estudar a metodologia empregada nos
saberes passados pelos livros didáticos. O processo de escolha e até mesmo alguns momentos
de uso dos mesmos em sala de aula.
Observamos uma grande preocupação com a memória que se constrói através da
utilização de material didático em sala de aula. A questão da memória aparece como objeto de
estudo no interior de vários temas, especialmente da História do Brasil, sob a ótica da História
Social e Cultural. Os pesquisadores têm utilizado as concepções dessa Nova História tanto
para entender como para confrontar saberes passados pelo livro didático.
Outra preocupação que se evidencia quando do estudo do livro didático é com a
questão das imagens. A iconografia tem lugar de destaque nas pesquisas recentes que utilizam
o livro didático como fonte. A concepção de que se trata de um mero enfeite com o propósito
de ocupar espaço e reduzir o tempo de leitura está sendo questionada por historiadores que se
empenham em mostrar a importância desse recurso, enquanto fonte histórica. Com relação ao
estudo das imagens retratadas nos livros didáticos o tema que mais desperta o interesse dos
pesquisadores é a escravidão. A imagem do negro escravo, assim como a imagem do negro
nos dias de hoje desperta um rico debate que nos remete às questões raciais que se colocam
nos dias de hoje.
No campo das imagens a investigação não difere dos outros campos estudados por
pesquisadores do livro didático. Tanto o que se fala quanto o que é silenciado tem relevância
para a pesquisa. O livro didático é considerado um instrumento muito importante para a
construção de ideologias e memórias, perpassando o imaginário das pessoas que adquirem
saber através dele. A preocupação com sua utilização, bem como sua elaboração e escolha
está ligada a preocupação que se tem com essas ideologias e memórias criadas ao longo do
enorme contato que se tem com esse material.
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Outro campo que desperta muito interesse é o estudo da metodologia empregada pelo
autor para expor o conteúdo no livro didático. A forma como o autor apresenta o conteúdo
interfere na interpretação do aluno sobre os fatos.
Em relação aos temas, sobressaem as pesquisas que têm como foco a construção de
saberes escolares e o papel do livro didático na construção de uma história que nos inspire
um sentimento nacionalista.
Relacionadas aos temas citados acima, temos as pesquisas que privilegiam a
construção dos saberes escolares e do sentimento nacional brasileiros. Essas pesquisas se
baseiam na analise de fontes que nos remete ao Colégio Pedro II. Esse enfoque se deve ao
fato dessa instituição ter sido exportadora de currículos e materiais didáticos para outras
instituições de ensino brasileiras. Era, portanto, uma escola modelo. Os estudos relacionados e
essa instituição tratam principalmente da nacionalização do currículo, da transformação do
saber histórico escolar e também empreendem estudos sobre materiais específicos produzidos
pelos profissionais dessa instituição, principalmente no período que vai de 1838 a 1900.
Breve abordagem conceitual
É preciso ressaltar que não se pode empreender uma pesquisa, sem saber o que outros
autores que trabalham na mesma área têm a dizer. Para fazer essa abordagem teórica vamos
utilizar dois artigos de autores que pesquisam sobre o livro didático. Um é de Circe Maria
Fernandes Bittencourt e o outro e de Alain Choppin.
O artigo de Bittencourt (2004) tenta nos dar um panorama sobre um estudo da
produção e dos problemas de autoria do livro didático. A autora estuda o papel do autor do
livro didático, o que ela considera ser um tema polemico por sua ambigüidade em relação a
seus direitos e suas responsabilidades. Neste artigo, publicado na Revista da Faculdade de
Educação da USP, a autora procura traçar o perfil dos autores de livros didáticos brasileiros
no período de 1810 a 1910, sem perder de vista o fato de que o livro didático oferece retornos
financeiros consideráveis para editores e autores, o que traria envolvimentos complexos e
tensos (BITTANCOURT, 2004).
Já o autor Alain Choppin (2004), observa que após ter sido negligenciado por
historiadores, os livros didáticos vêm despertando um grande interesse de uns trinta anos pra
cá.
O autor aponta duas dificuldades que são inerentes à proposta de pesquisar o livro
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didático: a primeira seria a própria definição do objeto; a segunda estaria ligada ao caráter
recente dessa pesquisa – as obras de síntese ainda são raras e não abrangem toda a produção
didática e nem todos os períodos.
O autor avalia ainda os fatores relacionados à valorização da produção didática. Nesse
aspecto, assim como Bittencourt (2004), ele não deixa de levar em conta o alto lucro gerado
pela produção do livro didático.
O autor nos mostra que os estudos mais antigos e numerosos que envolvem o livro
didático se referem ao nacionalismo. Segundo Choppin (2004, p. ),
O controle da produção nacional foi um ato administrativo pautado
pela preocupação em subordinar os manuais ao discurso oficial, ou
ainda de um governo de ocupação, em um contexto de censura que
tinha como objetivo eliminar ou evitar qualquer desvalorização ou
qualquer interpretação nociva aos interesses.
O autor conclui que a imagem da sociedade apresentada pelos livros didáticos
corresponde a uma construção que obedece a motivações diversas e possui como
característica comum apresentar a sociedade mais do modo como aqueles que conceberam o
livro didático gostariam que ela fosse, mais do que como ela realmente é. Para ele os autores
do livro didático não são simples espectadores do seu tempo, uma vez que reivindicam – na
visão de Choppin (2004) – o papel de agente.
Conclusões
Tendo em vista a análise realizada, vemos que há uma grande preocupação com a
produção didática. Os pesquisadores do livro didático se interessam também pela
compreensão dos processos que perpassam a cultura escolar – não só o livro didático, mas
também as estruturas curriculares e a construção de saberes.
As preocupações dos autores que apresentaram suas pesquisas no Seminário
Internacional do Livro Didático com os saberes passados pelos livros didáticos mostram bem
esse interesse em estudar como esse objeto acaba se tornando elemento de complexa
compreensão.
Referências Bibliográficas
ANAIS do Simpósio Internacional Livro Didático – Educação e História. De 5 a 8 de
novembro de 2007.
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Autores e editores de compêndios e livros de
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leitura (1810-1910). Revista da Faculdade de Educação da USP. Educação & Pesquisa.
Set/dez 2004.
CHOPPIN, Alain. História dos Livros e das edições didáticas: sobre o estudo da arte. Revista
da Faculdade de Educação da USP. Educação & Pesquisa. Set/dez 2004.
GASPARELLO, Arlette Medeiros. Construtores de Identidades: A pedagogia da nação nos
livros didáticos da escola secundária brasileira. Iglu Editora. São Paulo, 2004.
GASPARELO, Arlette Medeiros; MUNAKATA, Kazumi. As Pesquisas de História do
Ensino de História: algumas questões. In: VII ENCONTRO NACIONAL DE
PESQUISADORES DO ENSINO DE HISTÓRIA. Belo Horizonte/MG
UFMG/FAE/LABEPEH, 2006, CD-ROM, p. 1-12.
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