domingo, 1 de maio de 2011

10439 - O DISCURSO DO REI: GEORGE VI DA INGLATERRA

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A História do Rei George VI da Inglaterra
Publicado em 13/02/2011 por Eduardo Chaves


Fomos assistir a “O Discurso do Rei” num dos cinemas do Bourbon Shopping – e lá encontramos o Alipio Casalis (professor da PUC-SP) e a mulher, que se sentaram do nosso lado. Filme magnífico. História real do Rei George VI, da Inglaterra, pai da atual rainha, que gaguejava e acabou dominando o problema com a ajuda de um terapeuta sem qualificação acadêmica e extremamente heterodoxo.

Não percam.

O filme está indicado para o Oscar em nada menos do que 12 categorias. Colin Firth está incomparável como um George VI gago, inseguro, que não acredita em si mesmo, mas que aos poucos vence esses problemas e se torna um rei amado e respeitado na Inglaterra durante um dos períodos mais difíceis do país: A Segunda Guerra. É um dos candidatos mais fortes ao Oscar de Melhor Ator Principal. Seu terapeuta, representado por Geoffrey Rush, também tem um desempenho impecável e está indicado para o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Helena Bonham Carter, no papel de mulher de George VI, que veio a ser a Rainha-Mãe no reinado de Elizabeth II, e viveu até recentemente, também está indicada para o Oscar, na categoria Melhor Atriz Coadjuvante. O Diretor, Tom Hooper, também foi indicado.

Como é bonito e inspirador o cinema, quando bem feito.

Eis as categorias em que o filme está indicado para um Oscar:

Melhor filme
Melhor Diretor (Tom Hooper)
Melhor Ator Principal (Colin Firth)
Melhor Ator Coadjuvante (Geoffrey Rush)
Melhor Atriz Coadjuvante (Helena Bonham Carter)
Roteiro Original
Direção de Arte
Fotografia
Trilha Sonora Original
Mixagem de Som
Figurino
Edição
Transcrevo, abaixo, um excelente artigo de Contardo Calligaris sobre o filme. Transcrevo do blog do Contardo, mas o artigo foi publicado na Folha de 2 de Fevereiro de 2011.

Vale a pena ler o artigo também.

———-

http://contardocalligaris.blogspot.com/2011/02/todos-os-reis-estao-nus.html

02 Fevereiro 2011

Todos os reis estão nus

Que Deus nos guarde de todos os que não enxergam sua própria nudez, sejam eles reis ou não

JÁ ESTÁ em cartaz (pré-estreia) “O Discurso do Rei”, de Tom Hooper. O filme foi indicado ao Oscar em doze categorias; a atuação de Colin Firth (o rei) é tão inesquecível quanto a de Geoffrey Rush (o terapeuta).

Resumo.

Quando George 5º morreu, o filho primogênito lhe sucedeu (com o nome de Eduardo 8º), mas por um breve período: logo ele abdicou, por querer uma vida diferente daquela que o ofício de rei lhe proporcionaria. Com isso, o cadete, Duque de York, tornou-se rei -inesperadamente e num momento decisivo: era a véspera da Segunda Guerra Mundial.

O Duque de York (e futuro George 6º) era tímido, temperamental e, sobretudo, gago -isso numa época em que, graças ao rádio, a oratória dos ditadores incendiava as praças do mundo: na hora do perigo, para que serve um rei se ele não consegue ser a voz que fala para o povo e por ele?

O filme, imperdível, conta a história (verídica) da relação entre o rei e seu terapeuta, Lionel Logue, um fonoaudiólogo australiano pouco ortodoxo. Eis algumas reflexões saindo do cinema.

1) Qualquer terapia começa com uma dificuldade prática: uma impotência, a necessidade de um conselho, uma estranha tensão nos ombros, uma gagueira. A relação terapêutica se constrói a partir dessa dificuldade: o terapeuta é quem saberá nos livrar do transtorno, seja ele fonoaudiólogo, terapeuta corporal, eutonista, psi (de qualquer orientação) etc.

Quer queira quer não, a ação do terapeuta é dupla: relaxaremos o ombro, exercitaremos a dicção ou endireitaremos o pensamento do paciente, mas, de uma maneira ou de outra, acabaremos mexendo nas fontes de um mal-estar mais geral que talvez se manifeste no transtorno.

2) Há, às vezes (mais vezes do que parece), escondidas no nosso âmago, ambições envergonhadas ou vergonhosas, que não confessamos nem a nós mesmos. Quando sua realização se aproxima, só podemos inventar jeitos de fracassar, porque, no caso, não nos autorizamos a querer o que desejamos.

Obviamente, detestamos a voz do terapeuta que se aventura a nos dizer o que queremos mas não nos permitimos. Essa voz atrevida é a única aliada de desejos que são nossos, mas que encontram um adversário até em nós mesmos.

3) No trabalho psicoterapêutico, o segredo de polichinelo é que, por mais que suspendamos diplomas em nossas salas de espera, somos todos leigos e aventureiros. Não sei se existem cursos ou estágios que ensinem a ouvir o que Logue ouve e entende do desejo escondido do Duque de York. Certamente não há formações que ensinem a coragem maluca do terapeuta do rei, seu esforço para se colocar, sem medo, ao serviço do que o duque e futuro rei não quer saber sobre si mesmo.

4) Pensando bem, Logue (como Freud) tinha, sim, uma formação que o qualificava como conhecedor da alma humana e especialmente da dos reis: a leitura de Shakespeare.

5) Quase sempre, chega o dia em que um paciente descobre que seu terapeuta sabe muito menos do que ele (o paciente) imaginava. O paciente pode até pensar que o terapeuta, atrás de seu bricabraque de saberes práticos, é um impostor. É ótimo que isso aconteça, pois, geralmente, é sinal de que o paciente descobriu que ele também é um impostor. No caso, o terapeuta não é qualificado para ser terapeuta, exatamente como o rei não é qualificado para ser rei. (Parêntese: em geral, é assim que nasce uma amizade: os dois se tornam amigos por aceitarem estar ambos nus, como o rei da fábula – mesmo que seja só por um instante.)

Não há como ser terapeuta ou rei sem alguma impostura. Todos carregamos máscaras. Avançamos mascarados, enfeitados por mentiras que nos embelezam. Até aqui, tudo bem: essa impostura é uma condição trivial e necessária da vida social. Os melhores conhecem sua impostura e sabem que não estão à altura de sua máscara.

Os piores se identificam com sua máscara. Acreditar nas máscaras que vestimos é um delírio que nos torna perigosos. Não há diferença entre o rei que acreditasse ser rei, o terapeuta que acreditasse ser terapeuta e o anjo exterminador que saisse atirando e matando, perfeitamente convencido de ser uma figura do apocalipse. Os três teriam isto em comum: acreditariam ser a máscara que eles vestem.

Enfim, que Deus nos guarde de todos os que não enxergam sua própria nudez.

———-

Repito. Não percam. É um filme sobre uma história real, que os mais velhos companharam em grande parte.

Em São Paulo, 13 de Fevereiro de 2011.

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Sobre Eduardo Chaves
Consultor e Professor de Filosofia (aposentado na UNICAMP e em atuação no UNISAL-Americana), em ambos os casos nas áreas de filosofia política, filosofia da educação e uso da tecnologia nos processos de aprendizagem (tanto na educação como no treinamento).
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3 respostas para A História do Rei George VI da Inglaterra
Eduardo Chaves disse:
15/02/2011 às 16:44
Este post teve 258 page views no dia 14/2/210 — recorde absoluto para page views de um post num só dia. Ao todo o blog recebeu 392 blogs nesse dia. Também um record para um só dia. Obrigado aos visitantes. Espero que os lerem o post tenham ido ver o filme e gostado dele tanto quanto nós. Se isso aconteceu, espalhem a notícia acerca do filme.

Responder
Marilia disse:
17/02/2011 às 16:11
Acabei de sair do cinema. Que filme incrível, cheio de emoções. O hilário é saber que é real e, Real. A realeza britânica se desnuda para a plebe numa história cativante tornando mais próxima a relação entre ambos. Filme lindo. Assintam.

Responder
ana disse:
20/02/2011 às 16:05
Um filme fantastico,com ema interpretaçao excelente tanto do rei como do seu terapeuta.Deixa nos a pensar que temos que acreditar na experiencia de vida ,que muitas vezes vale mais que um diplama.
Nao percam….e pensem…

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