quinta-feira, 3 de março de 2011

9608 - JUDEUS NO BRASIL

JUDEUS NO BRASIL:
explorando os dados censitários*
René Daniel Decol
RBCS Vol. 16 no 46 junho/2001
Introdução
Embora tenha crescido o número de trabalhos
sobre a presença judaica no Brasil, ainda falta
muito para que tenhamos um amplo panorama
histórico. A história da imigração judaica ainda não
foi mapeada com a mesma abrangência de outros
grupos, como italianos e japoneses, talvez porque
envolva dificuldades únicas — afinal, ao contrário
da italiana ou japonesa, a imigração judaica partiu
de dezenas de países diferentes (Grün, 1999). Para
reconstruí-la é necessário compreender o contexto
em que judeus viviam em regiões e situações tão
diversas como a Europa Central no período entre
as duas guerras mundiais e o Oriente Médio depois
do aparecimento do Estado de Israel.
Por outro lado, devido também a suas características
únicas, judeus formam um dos únicos grupos
imigrantes sistematicamente pesquisados pelos
censos demográficos brasileiros a partir de 1940.
Isto se deve à existência da categoria “judeus” na
pergunta sobre religião. Diferentemente de muitos
países do mundo, o censo brasileiro traz uma
pergunta sobre religião, o que nos permite traçar
um amplo panorama das transformações religiosas
ocorridas no Brasil nos últimos 50 anos (Decol,
1999). No caso específico dos judeus, a existência
de informação censitária desde 1940 é uma vantagem
interessante para o pesquisador interessado
em resgatar a sua história.
O objetivo deste artigo é investigar algumas
características sociodemográficas deste grupo, utilizando
os dados censitários colhidos pelo IBGE
nos censos decenais realizados entre 1940 e 1991.
A questão da identidade judaica é assunto amplo
demais para ser aqui discutido a fundo. Para a
finalidade deste artigo é importante mencionar que
os dados obtidos pelos censos demográficos são
de natureza auto-identificatória: os entrevistados
são convidados a responder qual a religião de cada
um dos membros do seu domicílio. Embora a
definição de quem é judeu ou não possa ganhar
diferentes enfoques, na maior parte dos estudos
quantitativos a única definição operacionalmente
viável é justamente a autodefinição (Schmelz e
DellaPergola, 1992, p. 486n).
* Este artigo resume alguns tópicos desenvolvidos em
minha tese de doutorado, Imigrações urbanas para o
Brasil: o caso dos judeus, defendida no Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, em
1999, sob a orientação de Daniel Hogan. Agradeço os
comentários dos pareceristas anônimos da RBCS.
148 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 16 No 46
As dificuldades envolvendo a definição de
quem é judeu, para fins de pesquisa social empírica,
foram exaustivamente analisadas por Schmelz e
DellaPergola (1992, p. 486):
Em muitos aspectos, judeus partilham das dificuldades
enfrentadas quando se tenta definir, identificar
e enumerar minorias nas sociedades contemporâneas.
As dificuldades são ampliadas pelas
características únicas deste grupo, onde se misturam
componentes religiosos, étnicos, culturais e
históricos, bem como pela sua dispersão geográfica
e estrutura socioeconômica muito particular.
Nas sociedades contemporâneas que experimentam
processos intensos de secularização, aculturação
e interação social, as linhas demarcatórias que
separam diferentes grupos religiosos, étnicos e
culturais não são mais rígida e claramente demarcadas,
como acontecia no passado. Múltiplas bases
de identificação entre indivíduos e grupos
podem coexistir. Como a identificação não é
regulada legalmente, indivíduos podem mudar
suas preferências durante seu ciclo vital. Indivíduos
de origem judaica podem vivenciar diferentes
níveis de vinculação ao judaísmo ou à comunidade
judaica, e podem resolver cortar os respectivos
elos, adotando ou não outra identidade. Estas
mudanças atitudinais são reversíveis: pessoas que
negam seu vínculo com o judaísmo podem mudar
de idéia mais tarde. Alguns, ainda, podem admitir
ou negar a identidade judaica dependendo das
circunstâncias. Outro elemento deste quadro é a
freqüência crescente de casamentos mistos. Alguns
casais preferem unificar a família, um dos
cônjuges adotando a religião do outro; outros
preferem manter as diferentes identidades religiosas.
Filhos de casais mistos, por sua vez, estão
sujeitos a serem expostos às diferentes tradições
de seus pais, a partir das quais sua própria identidade
será moldada.
Para contornar as dificuldades impostas pela
definição fluida e voluntarista de quem é judeu, os
autores desenvolveram um quadro referencial
onde definem três conceitos diferentes de população
judaica: nuclear (aqueles que se definem
como judeus quando perguntados, por exemplo,
em um levantamento censitário); estendida (a população
nuclear mais aqueles que, embora de
origem judaica, não se definem atualmente como
tais); e finalmente, ampliada (a população estendida
mais os membros não-judeus de suas famílias,
tais como cônjuges e filhos em casamentos mistos).
De um ponto de vista operacional, os dados
censitários se referem apenas à população nuclear
e se referem àqueles que se definem como judeus
por religião (já que a pergunta é formulada nos
seguintes termos: “qual é a religião de cada um dos
membros do domicílio?”). Outras definições, mais
amplas, provavelmente nos levariam a números
diferentes, abarcando outras definições. É o caso,
por exemplo, dos descendentes de judeus que, no
contexto de uma sociedade em processo intenso
de secularização como a brasileira, em número
cada vez maior se dizem sem religião. É possível
que muitos se definiriam como judeus por outras
características (sociais, étnicas, culturais ou históricas)
se a pergunta tivesse outra natureza.1 A
experiência dos levantamentos censitários sobre
judeus em outros países, como o Canadá (Millman,
1983), mostra que o grupo que se define como
judeu por religião forma um núcleo central ao
redor do qual gravita uma população maior e que
envolve judeus por outro tipo de definição, além
de familiares não-judeus. Os dados censitários,
portanto, embora não abarquem outras definições
possíveis da população judaica, jogam alguma luz
sobre um componente importante — seu núcleo
central.
Os dados são importantes não apenas para a
comunidade judaica brasileira mas também para
pesquisadores do ciclo da imigração internacional
para o Brasil. Afinal, oferecem a rara oportunidade
da rastrear a evolução de um grupo de imigrantes
ao longo de sua trajetória de assimilação na sociedade
brasileira. Dada a condição singular dos
judeus, o grupo carrega um “marcador”: a religião
judaica, que pode ser rastreada ao longo de sucessivas
gerações pela pergunta do censo. Uma pergunta
sobre país de nascimento, para pessoas nãonaturais
do Brasil, permite identificar imigrantes
pelo país de origem — mas isto é possível apenas
para a geração dos que imigraram. Para seus filhos,
já nascidos no Brasil, a informação sobre a origem
JUDEUS NO BRASIL: EXPLORANDO OS DADOS CENSITÁRIOS 149
se perde. Portanto, não é possível utilizar dados
censitários para outros grupos étnicos por mais de
uma geração. Judeus são uma notável exceção
porque o “marcador” religião é uma característica,
em geral, transmitida ao longo de gerações.
Portanto, além de todas as incertezas inerentes
a qualquer tentativa de medição quantitativa
em ciências sociais (King, Keohane e Verba, 1994),
os dados censitários ainda trazem um nível adicional
de incerteza, devido às complexidades envolvidas
na definição de quem é judeu. Como judeus
eram discriminados em boa parte de seus países de
origem (inclusive legalmente), esta incerteza era
menor no passado mas cresce à medida que seus
filhos se integram na sociedade brasileira.
Outra incerteza adicional está relacionada
com a metodologia censitária, já que a pergunta
sobre religião provém do questionário da amostra,
aplicado apenas a um subconjunto da população.
Esta incerteza, decorrente do erro amostral, incide
apenas nos levantamentos a partir de 1960, quando
foi introduzido o procedimento — nos censos de
1940 e 1950 a pergunta sobre religião era feita no
questionário universal. O erro amostral, por outro
lado, deve ser maior para 1991 do que para 1980,
já que a amostra utilizada em 1991 foi menor do
que a de 1980. Outras incertezas podem ainda ter
afetado os dados mais recentes: como argumenta
Grün (1999, p. 363n), evangélicos podem ter se
declarado judeus, principalmente a partir de 1991,
quando a presença deste grupo se torna mais
significativa.
Estes diferentes níveis de incerteza, que incidem
de forma diferenciada ao longo da série
histórica, alertam sobre a cautela que se faz necessária
na análise. Ainda assim, os dados são relevantes.
Como lembram os metodólogos, um tópico
importante em ciências sociais merece ser estudado
mesmo que a qualidade dos dados seja limitada.
As conclusões assim obtidas podem ter seu alcance
limitado pela qualidade dos dados e devem ser
relativizadas; mas, uma vez que o pesquisador
reporte o nível de incerteza envolvido, é possível
obter ganhos significativos em conhecimento sobre
o tópico em questão (King, Keohane e Verba,
1994, p. 6).
Revisão da literatura
Entre os estudos que têm sido publicados
sobre judeus no Brasil, nota-se uma preocupação
em definir os principais parâmetros quantitativos,
preocupação esta fundamental quando se analisa
um grupo pequeno e com características tão peculiares.
Sendo um grupo cuja chegada no Brasil é mais
recente que a dos imigrantes “clássicos” (alemães,
italianos e japoneses, por exemplo), é natural que
haja um interesse em determinar o seu tamanho e
suas características demográficas e socioeconômicas.
Devido ao foco específico deste artigo, a
revisão da literatura a seguir se refere apenas aos
estudos relevantes para um enfoque demográfico.
Rattner (1972) é um pioneiro neste tipo de
estudo, tendo coordenado uma pesquisa realizada
por instituições comunitárias em fins dos anos 60,
no município de São Paulo. Utilizando seus resultados,
este autor publicou em 1977 um amplo perfil
quantitativo, com foco em aspectos culturais e
sociológicos. Deve-se a Rattner, ainda, a divulgação
entre nós de textos clássicos sobre a imigração
judaica, principalmente Lestschinsky (1961) e Engelman
(1961), publicados em sua antologia Nos
caminhos da diáspora (Rattner, 1972).
Lesser (1995) trouxe uma contribuição importante
aos estudos de cunho demográfico ao
focalizar um período específico, aquele em que a
chamada “questão judaica” emergiu no país. Com
sua pesquisa, Lesser supriu lacunas importantes na
historiografia, localizando algumas das principais
correntes migratórias que marcaram a chegada do
grupo. Autores como Grün (1999) têm explorado
interpretações históricas de diversos aspectos do
perfil social e cultural da comunidade, baseados
em dados quantitativos históricos e naqueles revelados
por Rattner. Outros autores, como Blay
(1997), têm se concentrado em correntes específicas
dentro do mosaico étnico judaico.
Poucos, no entanto, têm usado os dados
provenientes da pergunta sobre religião dos censos
demográficos decenais. A rigor, apenas dois
pesquisadores israelenses, Schmelz e DellaPergola
(1985), detiveram-se sobre os dados censitários
brasileiros ao elaborar um panorama demográfico
sobre os judeus da América Latina. O interesse pelo
150 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 16 No 46
conjunto da comunidade latino-americana, no entanto,
impediu que os autores se aprofundassem
mais detidamente no caso brasileiro. Além disso,
os últimos dados disponíveis quando da publicação
do seu artigo eram os do censo de 1980.
Muito importante, do ponto de vista metodológico,
é o artigo de Schmelz (1981) onde estão
delineados os principais conceitos necessários a
uma análise demográfica de qualquer comunidade
judaica (ou, de resto, de qualquer grupo religioso),
seja em Israel ou na diáspora. Neste artigo seminal,
Schmelz mostra que, com exceção dos Estados
Unidos, na maioria dos países da diáspora os judeus
já enfrentavam, por volta do início da década de
1980, taxas negativas de crescimento populacional.
Em geral, são significativas as observações de
Levine (1995) de que, em grande parte, a literatura
sobre judeus ainda guarda um tom de celebração,
típico dos primeiros escritos sobre grupos imigrantes,
onde predominam tentativas de mostrar que
importantes personagens da história eram judeus,
ou descendentes de cristãos-novos. Levine lembra
também que, enquanto muito se fala sobre judeus
famosos, pouco sabemos sobre o grosso da comunidade:
Sabemos muito sobre empresários de sucesso [...],
escritores e artistas de origem judaica [...] Por outro
lado, a literatura nos diz pouco sobre judeus
brasileiros menos proeminentes [...] A maior parte
do que foi publicado procura fazer uma crônica da
história de sinagogas, clubes e instituições comunitárias,
passando ao largo da vida de pessoas
comuns, e sem colocar a vida de judeus brasileiros
no contexto mais amplo da sociedade brasileira,
como se judeus vivessem em um vácuo. [...] Não
sabemos praticamente nada, por exemplo, sobre
os cerca de 30% dos judeus brasileiros que não
estão engajados na indústria, nos negócios ou nas
profissões liberais e que, portanto, não pertencem
à classe média afluente. (Levine, 1995)
É sensível também a falta de informações básicas
sobre a comunidade do ponto de vista demográfico:
afinal, quantos são os judeus brasileiros, de onde
vieram, em que época e onde se instalaram? Onde vivem
hoje, como estão distribuídos no espaço geográfico,
onde estão concentrados? A ausência deste mapeamento
inicial prejudica tentativas de se fazer um
mapeamento mais abrangente da comunidade. Parte
desta ausência pode ser explicada pelas dificuldades
inerentes ao tema, já apontadas.
Uma maneira de se suprir estas lacunas é
utilizando dados dos censos demográficos, que,
evidentemente, trazem informações não apenas de
judeus proeminentes. Embora poucos estudos tenham
usado esta fonte de dados, “judeus” é, como
vimos, uma das categorias investigadas pela declaração
de religião dos censos do IBGE desde 1940.2
Há dados censitários publicados, portanto, cobrindo
todo o período que vai de 1940 a 1991, com
exceção de 1970, quando o grupo foi incluído em
uma categoria genérica e residual, “outros”.
Além disso, com o avanço recente das ferramentas
de informática, dados censitários relativos
aos levantamentos de 1970 em diante estão agora
à disposição dos pesquisadores em discos laser, o
que permite uma grande flexibilidade na obtenção
dos mais diversos tipos de cruzamentos entre
variáveis. Assim, é possível extrair um grande
conjunto de dados demográficos e socioeconômicos
relativos à subpopulação de religião judaica no
âmbito dos últimos dois censos, o de 1980 e o de
1991. No presente artigo, procurei fazer uma análise
de alguns aspectos sociodemográficos da comunidade
judaica brasileira utilizando dados publicados
dos censos de 1940 em diante e processamentos
especiais dos censos de 1980 e 1991. Uma
análise mais abrangente, incluindo aspectos socioeconômicos,
pode ser encontrada na minha tese
de doutorado (Decol, 1999). Além de atualizar a
série histórica, é a primeira vez que se utilizam
processamentos especiais para se estudar uma
minoria religiosa brasileira.
Antes da análise propriamente dita, vale a
pena discutir por que estes dados existem — ou
seja, as razões pelas quais judeus passaram a ser
pesquisados pelos censos demográficos brasileiros.
Afinal, o censo é fundamentalmente um instrumento
de coleta de informações que possam nortear
políticas públicas. Mas o censo é também um
espelho da sociedade: muitas das suas questões
provêm de interesses políticos existentes no momento
em que o levantamento é organizado (RoJUDEUS
NO BRASIL: EXPLORANDO OS DADOS CENSITÁRIOS 151
bey, 1984; Anderson, 1988). Em diversos momentos
da história e em vários países, censos foram
utilizados também para obter informações sobre
minorias indesejáveis, muitas vezes com o objetivo
de subsidiar políticas restritivas. Isto aconteceu
com judeus, por exemplo, na Rússia czarista do
século XIX (Rowland, 1986). E com grande sofisticação
organizacional e tecnológica no censo da
Alemanha nazista de 1939 (Seltzer, 1998; Black,
2001). Até que ponto o namoro de Getúlio Vargas
com o nazismo era o pano de fundo para a
existência de uma categoria independente para os
judeus no censo brasileiro de 1940 é assunto
aberto a discussões. Vale lembrar que Giorgio
Mortara, demógrafo italiano de ascendência judaica
que foi o diretor técnico do censo de 1940, conta
em sua autobiografia que quando assumiu o cargo
encontrou as perguntas já prontas (Mortara, 1985).
Uma vez introduzida, a categoria acabou permanecendo
nos questionários dos levantamentos seguintes,
tradição que persiste até hoje.3
Dados censitários sobre judeus:
interesse político ou curiosidade
sociológica?
Como se sabe, a presença judaica no Brasil
data do período colonial. Banidos da Península
Ibérica a partir de fins do século XV, judeus
convertidos em cristãos-novos tiveram participação
importante nos primórdios da formação da
população brasileira. No entanto, não fizeram isso
como judeus, com uma identidade religiosa, cultural
e histórica distinta.
A presença judaica assumida como tal tem
início apenas no século XIX, após a Constituição de
1824 ter instituído formalmente a liberdade religiosa
no país. Como fenômeno de massa, no entanto, a
imigração judaica começou depois do desenvolvimento
da navegação a vapor e do estabelecimento
de linhas comerciais entre a Europa e o Brasil, o que
aconteceria só na segunda metade do século XIX
(Moya, 1998). Mas o movimento ganharia volume
significativo apenas na segunda metade da década
de 1920, quando Estados Unidos e Argentina introduziram
restrições à entrada de determinados grupos.
O Brasil, que desde fins do século XIX se
estabelecera como um importante destino da migração
internacional, tornou-se uma alternativa natural.
Sucessivamente, judeus provenientes do Império
Russo, dos Bálcãs e da Europa Central passaram
a chegar em números crescentes: calcula-se
que, entre 1920 e o início da Segunda Guerra
Mundial, mais de 50 mil judeus tenham aqui aportado
(Lestschinsky, 1961; Wischnitzer, 1948).
Desde as últimas décadas do século XIX, o
Brasil havia recebido alguns milhões de imigrantes
europeus, vindos principalmente da Itália, Alemanha,
Portugal, Espanha e Polônia. Embora, a princípio,
a maior parte desta imigração fosse rural,
começava a crescer a participação de fluxos com
destino às cidades (Klein, 1999; Fausto, 1991). O
grosso da imigração, no entanto, era rural. Calculase
que 70% da imigração italiana tenha tido origem
e destino rural (Alvim, 1998; Trento, 1989). Este
seria o caso de 50% da imigração portuguesa
(Klein, 1989). Mesmo com metade do seu contingente
se dirigindo para destinos rurais, a imigração
portuguesa é considerada a mais urbana de todas
as migrações “clássicas” (Klein, 1989).
Neste contexto, alguns grupos, como judeus,
sírios e libaneses, se diferenciavam por apresentar características
singulares (Truzzi, 1997). Em primeiro lugar,
o fato de serem mais urbanos. Esta característica
é particularmente significativa no caso dos judeus. Os
judeus se urbanizaram mais cedo do que a maioria
dos grupos populacionais e de forma universal (Engelman,
1961; Lestschinsky, 1961). Já na Antiguidade
apresentavam características peculiarmente urbanas
(Baron, 1957) e, por circunstâncias históricas muito
específicas, continuaram sendo um grupo essencialmente
urbano ao longo de sua história. Claro que a
própria definição do que é “urbano” variou consideravelmente
ao longo deste período. De qualquer forma,
pode-se afirmar que judeus estiveram quase sempre,
e em grande maioria, no nível mais urbano possível
em cada momento histórico.
O resultado disto foi sua marginalização durante
o período feudal, quando o poder era baseado
na posse da terra e o comércio, desprezado.
Impedidos de terem acesso à terra, judeus foram
mantidos à margem da economia senhorial, estigmatizados
e legalmente discriminados. Com as
revoluções comercial e industrial, judeus viram nas
152 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 16 No 46
cidades em expansão uma oportunidade que se
abria para escapar desta posição subalterna (Lestschinsky,
1961).
Quando começaram a chegar em números
maiores ao Brasil, já na década de 20, o país iniciava
sua transição para uma nação cada vez mais urbana
e industrializada. Com uma vocação urbana bem
mais acentuada que todos os outros grupos imigrantes,
os judeus se dirigiram, em sua grande
maioria, principalmente para três grandes centros
urbanos: Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.4
Uma vez instalados, os judeus começaram a
atrair atenção, devido às suas características peculiares.
Da concentração urbana decorria uma estrutura
ocupacional singular, em que predominava o
comércio e os pequenos empreendimentos domésticos.
5 Devido às suas diferenças, incluindo sua
concentração residencial nos bairros centrais das
cidades onde se fixaram, judeus eram mais “visíveis”
do que outros grupos de imigrantes. Logo
membros da elite católica que governava o país
começariam a se alarmar: a população judaica
estava crescendo rápido demais — ou pelo menos
assim parecia.
A partir de 1937, com a ascensão do Estado
Novo de Getúlio Vargas, começa a tomar corpo a
versão brasileira da “questão judaica” (Tucci Carneiro,
1988; Lesser, 1995).6 Logo começaria uma discussão
pública se era conveniente ou não a presença
de judeus no Brasil. Parte da discussão envolvia
uma questão política: Getúlio, como acontecia na
Alemanha nazista, procurava identificar judeus e
comunistas. Parte da discussão envolvia uma questão
demográfica: segundo alguns, centenas de milhares
de judeus já haviam entrado e se instalado no
país. Se nada fosse feito, outros milhares, ou talvez
até milhões, poderiam procurar refúgio em terras
brasileiras.
A rigor, o tamanho exato da comunidade
judaica não era conhecido nesta época. O Brasil
não realizava um censo desde 1920. E mesmo este
levantamento, que deixara muito a desejar em
termos de qualidade, não trouxera uma questão
sobre religião. As primeiras informações estatísticas
confiáveis sobre a presença judaica no Brasil provêm
do censo de 1940, cujos resultados só seriam
conhecidos em 1943. Ainda assim, no auge do
Estado Novo, durante o debate sobre a “questão
judaica”, alguns faziam estimativas altamente exageradas.
“400 mil judeus vivem no Brasil; 150 mil
entraram nos últimos seis meses”, publicou no final
de 1940 o Meio-Dia, jornal carioca financiado por
alemães (Lesser, 1995, p. 231). Quando os dados
censitários foram finalmente publicados, soube-se
que a comunidade judaica tinha algo ao redor de 50
mil pessoas — cerca de oito vezes menos do que
apregoava a manchete alarmista do Meio-Dia.
Durante o período em que a “questão judaica”
era debatida publicamente começaram os trabalhos
de preparação do censo de 1940. Provavelmente
devido ao interesse pela questão, judeus foram
enumerados em uma categoria independente da
pergunta sobre religião. Note-se que a pergunta
sobre religião já aparecera nos censos do Império, o
que talvez possa ser atribuído ao interesse, na
época, pela chegada dos primeiros imigrantes alemães
de religião protestante e a conseqüente formação
do primeiro núcleo populacional não-católico
do país. E judeus já haviam sido tabulados
separadamente em 1900, embora na época não
passassem de algumas centenas. De forma que,
quando o censo de 1940 investigou a presença de
judeus, não havia aí nenhuma grande novidade na
metodologia do censo. A novidade era, no entanto,
que agora havia algumas dezenas de milhares deles
no país.
Qualquer que tenha sido o contexto político
no qual surgiu o interesse na enumeração em
separado de pessoas de religião judaica, quando os
resultados foram finalmente publicados o cenário
já havia mudado: Getúlio Vargas abandonara sua
simpatia pelo Eixo e se juntara aos aliados. A
“questão judaica” desapareceu — ou pelo menos
submergiu. Ao lado dos argumentos que faziam
restrições à presença do grupo no Brasil, uma nova
voz surgira no debate, argumentando que a presença
judaica seria benéfica, porque traria capital,
além de habilidades técnicas e comercias, coisas
importantes para um país em pleno processo de
modernização e industrialização (Lesser, 1995).
A persistência do grupo como categoria nos
censos de 1950 em diante pode ser explicada,
talvez, pelo interesse sociológico em uma minoria
com características sociodemográficas muito espeJUDEUS
NO BRASIL: EXPLORANDO OS DADOS CENSITÁRIOS 153
cíficas. Parece inegável, no entanto, que a introdução
da categoria no censo de 1940 tenha se dado
por razões políticas.
A imigração judaica no contexto da
imigração internacional para o Brasil
Nos cem anos entre as décadas de 1870 e
1970, mais de 5 milhões de imigrantes chegaram ao
Brasil (Bassanezi, 1996). A imigração em geral teve
seu auge na última década de século XIX, tendo
voltado a crescer nas primeiras décadas do século
XX e nos anos 50. Comparada aos demais fluxos, a
imigração judaica é relativamente recente nas terras
brasileiras: judeus participaram muito pouco do
primeiro e mais intenso fluxo imigratório, em que
predominava o elemento rural.
Judeus começaram a imigrar com mais intensidade
já nos anos 20, com a chegada de dezenas
de milhares, provenientes sobretudo da Europa
Central, do Leste, e da região dos Bálcãs. A emigração
era freqüentemente apontada como solução
para o problema das minorias na Europa do Centro-
Leste (Mendelsohn, 1983). A Tabela 1 compara
a imigração em geral para o Brasil com a judaica,
mostrando a defasagem entre ambas.
Tabela 1
Brasil – Imigração Geral e Judaica, por Períodos,
1872-1972
Período Geral Judaica
1872-1879 176.337 3,3% 500 0,5%
1880-1889 448.622 8,4% 500 0,5%
1890-1899 1.198.327 22,4% 1.000 1,1%
1900-1909 622.407 11,6% 5.000 5,4%
1910-1919 815.453 15,2% 5.000 5,4%
1920-1929 846.647 15,8% 30.316 32,5%
1930-1939 332.768 6,2% 22.452 24,1%
1940-1949 114.085 2,1% 8.512 9,1%
1950-1959 583.068 10,9% 15.243 16,3%
1960-1969 197.587 3,7% 4.258 4,6%
1970-1972 15.558 0,3% 450 0,5%
Total 1872-1972 5.350.859 100,0% 93.231 100,0%
Fontes: Para imigração geral, Bassanezi (1996, p. 8); para a
judaica, estimativas do autor baseadas nos censos do IBGE, em
Wischnitzer (1948, p. 293) e em Lestschinsky (1961, p. 1.554).
A partir dos anos 60, tanto a imigração geral
como a judaica entrariam em declínio. Privada do
que fora sua principal fonte de crescimento no
passado, a população judaica teria de contar, daí
em diante, apenas com seu próprio crescimento
vegetativo para manter seu contingente demográfico.
Como judeus provenientes da Europa formavam,
em qualquer momento, a maioria da população
judaica, o grupo como um todo teve suas
características demográficas fortemente determinadas
pelo componente shkenazi.7
Como outros grupos descendentes de europeus,
judeus ashkenazis já apresentavam, desde as
primeiras décadas do século, baixas taxas de natalidade.
Atualmente, na maioria dos países da diáspora8
onde se estabeleceram, suas taxas de fecundidade
já estão abaixo do nível de reposição
necessário para a reprodução intergeracional (Schmelz,
1981). Estimativas para os judeus brasileiros,
baseadas nos dados dos censos, sugerem que já
em 1980 o grupo apresentava taxas de fecundidade
abaixo do nível de reposição.9
Como conseqüência, uma vez extinta a imigração,
a partir dos anos 60, a comunidade como
um todo apresentaria baixas taxas de crescimento,
como mostra a Tabela 2.
Tabela 2
Brasil – População Judaica, de Acordo
com os Censos
1940 1950 1960 1980 1991
Censos 55.563 69.955 96.199 91.795 86.417
Ajustada* 56.000 70.000 86.000 90.000 86.000
* Ajustes propostos por Schmelz e DellaPergola, refletindo as
incertezas em torno das informações censitárias.
Fontes: IBGE, Censos demográficos; Schmelz e DellaPergola
(1985, p. 74).
Os dados mostram que, se a comunidade judaica
cresceu significativamente nos anos 40 e 50, este
crescimento perdeu seu ímpeto em algum momento
a partir dos anos 60. Em 1980 a comunidade teria experimentado
seu auge, com cerca de 90 mil indivíduos,
tendo entrado em declínio desde então. De fato,
provavelmente pela primeira vez neste século, o tamanho
da população judaica diminuiu entre 1980 e
1991: 86 mil pessoas se identificaram (ou foram iden154
REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 16 No 46
tificadas por membros do domicílio) como judeus em
1991 — quatro mil a menos do que os 90 mil de 1980.
Resultado do interesse crescente no país pelo
tema das migrações, os censos de 1980 e 1991
perguntaram aos não-naturais, isto é, aos não
nascidos no Brasil, seu país de nascimento; o de
1991 perguntou ainda a data de chegada no Brasil.
Estas informações, quando cruzadas com a declaração
de religião, permitem obter um quadro dos
principais países de origem da imigração judaica.
Naturalmente, estes “instantâneos” refletem também
o efeito da mortalidade e da reemigração
acumulada até a ocasião das pesquisas. O resultado
deste cruzamento está na Tabela 3.
Tabela 3
Brasil – Pessoas de Religião Judaica,
por País de Nascimento, nas Datas dos Censos
de 1980 e 1991
1980 1991
Total 91.795 86.417
Nascidos no Brasil 62.903 67.131
Fora do Brasil 28.892 19.286
Polônia 7.684 4.219
Romênia 3.281 2.030
Alemanha 2.727 1.691
Egito 2.222 1.504
Israel 1.835 1.443
URSS 1.786 1.076
Argentina 1.459 1.340
Líbano 937 826
Hungria 893 487
Itália 536 337
Fonte: IBGE, Censos demográficos de 1980 e 1991, tabulações
especiais do autor.
Como vemos na Tabela 3, o contingente mais
significativo veio da Europa do Centro-Leste (Polônia,
Romênia e Hungria), seguido pelos da Europa
Central (Alemanha) e do Leste (União Soviética).10
Um outro fluxo importante teve origem no Oriente
Médio (Egito e Líbano). A presença nesta lista de
Israel e Argentina, destinos tradicionais da imigração
judaica, reflete a importância de fluxos circulares
entre as diversas comunidades da diáspora.
Vale ressaltar que o grupo mais significativo tanto
em 1980 quanto em 1991 era o de nascidos na
Polônia.
Houve decréscimo no número de nascidos,
para cada um dos países de origem, entre 1980 e 1991,
devido ao efeito acumulado da mortalidade num contexto
de imigração pouco significativa. A intensidade
do declínio depende da maior ou menor antiguidade
dos fluxos. Para poloneses e outros da Europa, o declínio
foi maior, pois chegaram ao Brasil ainda nas primeiras
décadas do século. Já o declínio entre sefaradis11
nascidos no Egito e no Líbano foi menor porque
esta migração é mais recente.
Enquanto as gerações mais antigas sofreram o
impacto da mortalidade, membros das novas coortes,
já nascidos no Brasil, são afetados cada vez mais pela
assimilação, casamentos mistos (Sorj, 1997a) e secularização.
Uma taxa alta de casamentos mistos aumenta
a possibilidade de perdas atitudinais, isto é, o fluxo
de pessoas formal ou informalmente se convertendo
para outra religião ou, como ocorre cada vez mais freqüentemente
no Brasil, para os “sem religião”.
De fato, há indícios de que a secularização, pelo
menos para certos setores da sociedade, seja um fenômeno
em crescimento, afetando principalmente as
religiões tradicionais (Wilson, 1985). Este processo é
visível no aumento significativo da proporção de pessoas
que se definem como “sem religião” nas entrevistas
censitárias.12 As pessoas que assim se identificam
cresceram de menos de 1% de todos os brasileiros
em 1940 para quase 5% em 1991. Este crescimento
é ainda mais intenso nas principais regiões metropolitanas.
No Rio de Janeiro, quase 14% dos respondentes
disseram não ter nenhuma filiação religiosa em
1991, um crescimento considerável sobre os 5% que
havia assim se manifestado no censo anterior, como
se vê na Tabela 4.
Tabela 4
Estado do Rio de Janeiro – Distribuição
Relativa da População por Grupos Religiosos,
1940-1991
(%)
1940 1950 1960 1970 1980 1991
Católicos 91,7 89,1 88,8 86,1 80,9 67,3
Sem religião 0,4 1,3 1,3 2,1 4,9 13,9
Evangélicos 3,1 4,3 5,3 7,1 8,3 12,8
Outros 4,8 5,2 4,6 4,7 5,9 6,1
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: IBGE, Censos demográficos de 1940 a 1991.
JUDEUS NO BRASIL: EXPLORANDO OS DADOS CENSITÁRIOS 155
O crescimento dos sem religião é um fenômeno
ainda pouco estudado entre nós (Fonseca,
1998). A maior parte dos trabalhos sobre mudança
religiosa tem enfocado o extremo oposto do espectro
religioso, ou seja, a revitalização, expansão e
multiplicação das religiões no país (Pierucci, 1998).
Importante assinalar que as duas hipóteses não são
excludentes: é possível que estejamos assistindo a
uma polarização — isto é, setores da sociedade
podem estar se tornando mais religiosos enquanto
outros setores se tornam menos religiosos (Glenn,
1987). O censo, evidentemente, não é uma pesquisa
específica sobre religião e não pode nos dar
muitas respostas. Não temos informação, também,
sobre o impacto diferencial da secularização em
cada um dos diferentes grupos religiosos.13
Distribuição espacial
Quando o Brasil começou a atrair imigrantes
da Europa, ainda era um país largamente rural, com
a maior parte da sua população ocupada na agricultura.
Por isso, a imigração internacional teve, pelo
menos no início, um caráter rural. Com o tempo, foi
se tornando mais urbana, à medida que avançava a
urbanização não só no Brasil, como também nos
países de origem. Há indícios, porém, de que pelo
menos até a década de 20 ainda havia contingentes
rurais significativos chegando ao país (Alvim, 1998).
No balanço final, a imigração para o Brasil teve um
resultado muito diferente daquele da imigração
para os Estados Unidos. Enquanto lá predominou o
elemento urbano (Bodnar, 1985), aqui predominou
o elemento rural.
Neste contexto, os judeus que chegaram ao
Brasil tiveram uma trajetória única. Como tinham
pouca ou nenhuma experiência rural, dirigiram-se
para as cidades bem mais cedo e de forma praticamente
universal. O resultado é que estiveram sempre
mais concentrados nas cidades do que qualquer
outro grupo imigrante, sem falar no conjunto da
população brasileira como um todo. Como mostra a
Tabela 5, por volta de 1940, cerca de 74% do total de
judeus residentes no Brasil já vivia em apenas três
cidades: Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo.
Em comparação, apenas 8% de todos os brasileiros
viviam nestas cidades na mesma época.
Tabela 5
Brasil — População Judaica, por Municípios
Selecionados
Cidade 1940 1950 1980 1991
São Paulo (1) 17.219 22.808 41.308 38.843
Rio de Janeiro (2) 19.743 25.222 27.699 24.754
Porto Alegre (3) 4.331 5.557 7.051 7.118
Subtotal (1+2+3) 41.293 53.587 76.058 70.715
BRASIL (4) 55.563 69.955 91.795 86.416
(1+2+3)/4 74,3% 76,6% 82,9% 81,8%
Fonte: IBGE, Censos demográficos de 1940, 1950, 1980 e
1991.
Como mostra ainda a Tabela 5, até pelo
menos a década de 1950 o Rio de Janeiro era sede
da maior colônia judaica no país. Sendo a capital,
além de centro portuário e comercial, o Rio havia
atraído a maior parte dos novos imigrantes, além
dos que haviam se instalado inicialmente em outros
portos de chegada: Belém, Recife e Salvador.
Assim, a colônia do Rio chegou ao censo de 1950
com pouco mais de 25 mil pessoas. Mas, a partir de
então, esta comunidade cresceria muito pouco,
tendo atingido um tamanho máximo de quase 28
mil em 1980. Já em 1991, no entanto, as pessoas
identificadas como de religião judaica somaram
menos do que as 25 mil registradas em 1950.
Se a população judaica do Rio estagnou em
algum ponto entre os anos 50 e 80, São Paulo logo
assumiria a liderança como principal concentração
de pessoas de religião judaica no Brasil. Isto se
deve, é claro, ao importante papel desempenhado
por São Paulo no processo de industrialização no
período posterior à Segunda Guerra Mundial. Liderando
o processo, São Paulo torna-se a maior
metrópole nacional do país, vindo a concentrar,
em 1970, cerca de 15% da população urbana, 36%
do emprego industrial, e 43% do valor de transformação
industrial do país (Araújo, 1992, p. 45).
Tamanho dinamismo gerava oportunidades
não só na indústria, mas também no comércio e
nos serviços, e a cidade converteu-se em um pólo
de atração inevitável para as novas levas de imigrantes
recém-chegados, incluindo duas novas
importantes correntes de judeus: sobreviventes da
Segunda Guerra Mundial e judeus expulsos dos
países árabes depois da criação do Estado de Israel
156 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 16 No 46
(Stillman, 1991). São Paulo chega a 1991, portanto,
com mais de 41 mil judeus, quase o dobro do
tamanho verificado em 1950.
Nem esse dinamismo econômico, no entanto,
conseguiu compensar as forças dispersivas, de
caráter demográfico e atitudinais, que a comunidade
tem experimentado nas últimas décadas. Com o
fim do ciclo migratório, São Paulo também registrou
uma perda significativa a partir de 1980: os
que se identificaram como judeus diminuíram de
41 mil em 1980 para menos de 39 mil em 1991.14
Porto Alegre, a terceira maior comunidade
brasileira, por sua vez, continuou a crescer até
1980, mas estagnou desde então em algo próximo
a 7 mil pessoas. No conjunto, as três maiores
comunidades concentravam quase 83% de todos
os judeus brasileiros em 1980, tendo esta percentagem
decaído cerca de um ponto percentual no
censo seguinte. Teriam os judeus brasileiros embarcado
no processo de desconcentração metropolitana
verificado no país a partir dos anos 80
(Martine, 1994)?
Independente de processamentos especiais,
o censo de 1980 publicou os resultados da variável
religião ao nível mais básico dos distritos, tornando
assim possível uma análise do padrão de distribuição
espacial dos judeus no interior da própria
célula urbana. Como São Paulo abriga a maior
concentração de judeus no país, este município foi
escolhido para a análise neste nível geográfico.
Mesmo no interior do Município de São
Paulo, judeus estão altamente concentrados, como
revela a Tabela 6: apenas dez distritos da capital
paulista eram responsáveis por mais de 80% de
todos os judeus vivendo no município por ocasião
do censo de 1980. Mais da metade deles estava
concentrada em apenas quatro distritos. E só Santa
Cecília abrigava mais de 17% de todo grupo. Com
mais de 7 mil pessoas, Santa Cecília tinha em 1980
mais judeus que todo o Estado do Rio Grande do
Sul. Em nenhum destes bairros, no entanto, judeus
eram a maioria da população. Mesmo em Santa
Cecília, judeus representavam pouco mais de 8%
da população local. Apenas o Bom Retiro, tradicional
assentamento de judeus em São Paulo,
exibia uma percentagem mais elevada: 21,4% do
total.
Tabela 6
Município de São Paulo — População Judaica e
Total, por Distritos Selecionados, na Data do
Censo de 1980
Distrito População % População % J u d e u s
Judaica Acum. Total Acum. c/
% do
total
Sta. Cecília 7.052 17,1 84.951 1,2 8,3
Bom Retiro 5.364 30,1 25.074 1,5 21,4
Cerqueira César 4.223 40,4 65.451 2,5 6,5
Jardim Paulista 4.174 50,5 116.464 4,1 3,6
Consolação 4.079 60,4 72.359 5,1 5,6
Jardim América 2.096 65,4 55.286 5,9 3,8
Perdizes 2.022 70,3 127.938 7,7 1,6
Vila Mariana 1.644 74,3 108.289 9,2 1,5
Ibirapuera 1.266 77,4 158.409 11,4 0,8
Bela Vista 1.114 80,1 79.371 12,6 1,4
Outros 8.205 100,0 6.220.666 100,0 0,1
TOTAL 41.239 7.114.258 0,6
Fonte: IBGE, Censo demográfico de 1980, vol. 1, tomo 4,
número 19 (São Paulo).
Os dados do censo de 1980 apenas confirmam
um padrão comum a outros destinos de
imigração judaica na América: a concentração na
região central das metrópoles, em geral ao redor
do centro financeiro e comercial (Taschner e Decol,
1992). Enquanto 80% dos judeus paulistanos
viviam nos dez distritos listados na Tabela 6 por
ocasião do censo de 1980, a mesma região reunia
apenas 12,6% da população total do município.
Esta concentração no centro expandido da cidade
pode ser melhor visualizada na Figura 1.
A metrópole paulista, por sua vez, experimentaria
crescimento intenso na segunda metade
do século XX, tendo chegado a 1996 com 16,6
milhões de habitantes. Na esteira deste intenso
crescimento vieram os problemas urbanos: pobreza
de grandes contingentes da população, marginalidade,
violência, desequilíbrios ambientais e
muitas outras atribulações típicas das megacidades
do Terceiro Mundo. Neste contexto, setores afluentes
da classe média têm reagido simplesmente
deixando para trás os grandes centros metropolitanos.
Como a distribuição de renda entre judeus
tem uma configuração diferente da maioria da
população brasileira, com participação bem mais
significativa da classe média, é lícito imaginar que
estejam envolvidos nestes fluxos de contra-urbaniJUDEUS
NO BRASIL: EXPLORANDO OS DADOS CENSITÁRIOS 157
zação (Martine, 1994) em proporção maior do que
o conjunto da população.
O certo é que este movimento pode contribuir
para aumentar ainda mais as perdas atitudinais,
já que longe dos centros urbanos tornam-se
mais escassas as oportunidades de cultivar a identidade
judaica. A dispersão espacial, portanto, é
mais um fator a aumentar ainda mais as dificuldades
para que o grupo possa manter seu vigor
demográfico e sua singularidade sem se dissolver
completamente no caldeirão étnico brasileiro.
Conclusão
Os estudos sobre a minoria judaica no país
têm crescido ultimamente, assim como as abordagens
quantitativas. No caso de uma minoria cujos
números são tão pequenos quando comparados à
população brasileira em geral, uma visão quantitativa
é um ponto de partida fundamental. No caso
dos judeus, uma abordagem deste tipo é facilitada
pelo fato de o grupo ter sido sistematicamente
pesquisado como categoria da pergunta sobre
religião nos censos demográficos do IBGE.
Dada a incerteza que cerca os dados relativos
assim obtidos, qualquer conclusão deve ser relativizada
e vista com cautela. Apesar disto, algumas
conclusões parecem se impor, em consonância
com resultados obtidos para outras comunidades
judaicas da diáspora. Devido a taxas de fecundidade
muito baixas, um número crescente de casamentos
mistos, e ao complexo emaranhado de fatores
Figura 1
Município de São Paulo —
Distritos com Maiores Concentrações de Judeus,
por Ocasião do Censo de 1980
Fonte: IBGE, Censo demográfico de 1980, vol 1, tomo 4, número 19 (São Paulo).
158 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 16 No 46
que contribuem para uma erosão progressiva da
identidade cultural em um contexto de secularização,
judeus brasileiros estão enfrentando dificuldades
cada vez maiores para manter seu contingente
populacional. De fato, o número de pessoas que se
identificaram como judeus diminuiu entre 1980 e
1991, provavelmente pela primeira vez desde que
membros deste grupo começaram a imigrar em
massa para o Brasil, a partir da década de 1920.
A se manter estas tendências, judeus poderão
estar cada vez mais expostos às poderosas forças
de assimilação e de secularização da sociedade
brasileira. No limite, correm o risco de perder sua
identidade como um grupo social específico, com
uma história e uma cultura distintas.
Claro que estas tendências podem ser revertidas
por um movimento de ordem cultural, que
revalorize a identidade religiosa. Embora esta seja
uma possibilidade, e embora se verifiquem processos
de contra-secularização nas sociedades modernas
e em modernização, como é o caso da brasileira,
estes movimentos são posteriores ao período em
estudo. Se este movimento já se fez sentir ao nível
da dinâmica demográfica da comunidade judaica, é
algo que só o censo do ano 2000 poderá revelar.
NOTAS
1 Importante frisar a ausência, nesta lista, de atributos
raciais. Judeus podem ser tudo, menos uma raça (Shapiro,
1970).
2 Os dados provenientes da pergunta sobre religião dos
censos têm sido pouco explorados em geral desde o
desaparecimento de Cândido Procópio Ferreira de Camargo.
3 Faz parte da tradição censitária brasileira que categorias
introduzidas em um levantamento permaneçam nos
levantamentos posteriores para efeito de compatibilidade
nas comparações.
4 O interior do Estado de São Paulo, onde vigorava a rede
urbana do café, parece ter sido o máximo do rural a que
se lançaram algumas famílias. Ainda assim, mesmo estes
acabariam imigrando para a capital (Fausto, 1997).
5 A presença pouco expressiva dos judeus no então
nascente proletariado industrial urbano é assunto complexo
demais para ser tratado aqui. Para uma discussão
sobre a estrutura ocupacional dos judeus na Europa do
entre-guerras ver Mendelsohn (1983).
6 Questão judaica era a expressão tradicionalmente usada
em referência ao “problema” da minoria judaica em
diversos países da Europa Central no período do entreguerras.
Para alguns, a presença dos judeus era um
problema para o qual se deveria achar uma solução
política, que muitas vezes era a emigração (Mendelsohn,
1983).
7 O termo ashkenazi, em hebraico, ou asquenaze (segundo
o Aurélio) designava originalmente judeus de ascendência
alemã. Como a maioria dos judeus dos países da
Europa do Centro e do Leste eram descendentes de
judeus franco-alemães, o termo veio a ser aplicado a
judeus europeus em geral, em oposição a judeus sefaraditas,
provenientes dos países islâmicos do Oriente
Médio e Norte da África.
8 Diáspora é o termo comumente usado para referir-se às
comunidades judaicas fora de Israel.
9 Nível de reposição é um conceito-chave em Demografia,
definido como o nível de fertilidade de uma coorte
de mulheres necessário para apenas “repô-las” e manter
o tamanho da população estável. Em geral, aproximadamente
2,1 filhos por mulher.
10 A lista de países pesquisados pelo IBGE reflete o mapa
político da Europa por ocasião da preparação dos
trabalhos censitários.
11 Sefaradis (ou sefaraditas, segundo o Aurélio) é a denominação
dada aos judeus de origem espanhola ou
portuguesa que se espalharam pela África do Norte e
pelo Império Otomano após sua expulsão da Península
Ibérica no fim do século XV. Muitos permaneceram em
países do Oriente Médio até que o aparecimento do
Estado de Israel, em 1948, desse início a conflitos que
acabariam resultando na sua expulsão (Millman, 1983).
12 Para uma discussão sobre os “sem religião” em pesquisas
e censos, ver Glenn (1987).
13 Berger (1985) sugere que a secularização seja ainda
mais intensa entre judeus do que entre outros grupos
religiosos.
14 Importante lembrar que o censo de 1991 utilizou uma
amostra menor do que o precedente, podendo, portanto,
incorrer em erros amostrais maiores.
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