quinta-feira, 31 de março de 2011

10167 - RADIAÇÃO ATÕMICA

TERRORES CRIADOS PELA CIÊNCIA:
a Bomba Nuclear e a Radiação Atômica

Por Orivaldo Leme Biagi


O lançamento de filmes com temáticas sobre o mundo devastado por uma guerra atômica e seus terríveis efeitos radioativos na vida dos sobreviventes, ou mesmo os efeitos da radiação criando monstros e deformidades naturais, foi muito comum na segunda metade da década de 40 e, praticamente, durante toda a década de 50, diminuindo um pouco no começo dos anos 60 por causa do sucesso dos filmes da produtora inglesa Hammer - que trouxe de volta velhos personagens e monstros do terror trabalhados pela Universal Pictures nos anos 30, mas com cores, sexo e violência - e, logicamente, pelo estrondoso sucesso de Psicose (Psycho, 1960), do "Mestre do Suspense" Alfred Hitchcock - que trouxe problemáticas mais cotidianas ao universo do terror.

Mas a idéia do mundo devastado e/ou das terríveis conseqüências da radiação atômica marcou uma geração de fãs de filmes de terror e de ficção científica, o que estimulou uma série de pequenas produtoras (e algumas grandes, logicamente) a produzir uma centena de filmes sobre o tema, filmes estes que lotavam os drive-ins - local de cinema por excelência do público jovem da época.

O problema é que a temática que estimulou esta produção não foi "inventada" pelas pequenas ou grandes produtoras ou pelos jovens: o risco de uma guerra nuclear entre as superpotências da época, Estados Unidos e União Soviética, era bem real, assim como os efeitos da radiação atômica assustavam um imenso público. Era a chamada Guerra Fria em plena atividade.





O problema atômico surgiu como conseqüência da Segunda Guerra Mundial. Albert Einstein enviou uma carta para o presidente Roosevelt, em 1939, mostrando sua preocupação quanto às possibilidades da Alemanha nazista já estar adiantada no desenvolvimento da bomba atômica. Logo, iniciou-se o "Projeto Manhattan" que, em 1945, desenvolveria a primeira bomba atômica, que foi pensada, inicialmente, dentro da lógica militar da Segunda Guerra Mundial, ou seja, como um instrumento que poderia determinar os caminhos militares da guerra. O lançamento das bombas atômicas em Hiroxima e Nagasaki mudou radicalmente esta premissa, pois foi uma demonstração pouco sutil de que os Estados Unidos utilizariam seu arsenal atômico sobre os países inimigos - e a União Soviética era, dentro dessa lógica, o primeiro país na lista. Começava a Guerra Fria.

A estratégia soviética perante a bomba atômica norte-americana seguiu dois caminhos distintos: 1º - subestimar a bomba atômica norte-americana; 2º - desenvolver a sua própria bomba rapidamente. Assim, a diplomacia soviética continuou agressiva e, sempre que possível, mostrou-se indiferente ao armamento norte-americano, não se intimidando e procurando impor-se como potência mundial (através do bloqueio de Berlim, em 1948, por exemplo). Stalin também destinou recursos praticamente ilimitados ao projeto atômico soviético, apesar da situação econômica do país estar caótica depois da guerra. Com tal orientação, mais a presença de cientistas de grande capacidade intelectual e conhecimento sobre a energia atômica, além da eficiência da sua espionagem (que forneceu dados precisos sobre o "Projeto Manhattan"), os soviéticos aceleraram a construção da sua bomba atômica, que foi testada, com sucesso, em 29 de agosto de 1949.

Neste mesmo ano, os Estados Unidos conseguiriam estabelecer um padrão industrial para a produção de artefatos nucleares em larga escala, iniciando o que seria denominado de "corrida armamentista" entre as superpotências. O desenvolvimento tecnológico militar parecia não ter mais limites. Em 1952, os Estados Unidos explodiram a bomba de hidrogênio, um arma ainda mais poderosa do que a bomba atômica, sendo que os soviéticos desenvolveram a mesma bomba e a explodiram em 1953. As rampas de lançamento intercontinentais começaram a ser desenvolvidas e, já no final da década de 50, o homem poderia lançar um satélite artificial no espaço (como os soviéticos fizeram ao lançar o Sputinik) ou enviar uma bomba nuclear, com muita precisão de alvo, nos mais distantes lugares do mundo.





O futuro autor de livros de terror, Stephen King, deve ter aprendido muito do seu ofício neste momento da Guerra Fria. No dia 4 de outubro de 1957, ele estava assistindo o filme A Invasão dos Discos Voadores, quando o filme foi interrompido e o gerente deu um aviso para a platéia, formada essencialmente por adolescentes: "Eu gostaria de lhes comunicar que os russos acabam de colocar um satélite em órbita: eles o chamam Sputinik." O cinema ficou mudo e apreensivo, como, de um modo geral, ficou a população norte-americana perante essa "vitória" da tecnologia soviética, que, no decorrer dos próximos anos, seria suplantada pelos Estados Unidos. Esse confronto tecnológico foi uma das características básicas da Guerra Fria, pois tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética procuravam ter os arsenais nucleares mais numerosos e de tecnologia mais avançada.

O mundo ficou assistindo esta "corrida" assustado: qualquer desentendimento poderia provocar uma destruição global ou a incapacitação da vida no planeta. O Homem conseguiu igualar-se a Deus em pelo menos um aspecto: na capacidade de destruir o mundo.

Foi dentro desta lógica, portanto, que a produção de terror e ficção científica se concentrou nas décadas de 40 e 50: a Terra devastada depois de uma guerra atômica; monstros criados a partir da radiação (ratos, escorpiões, insetos, etc.); pessoas normais desenvolvendo grandes capacidades transformando-se em super-heróis ou super-vilões, etc. O "fator atômico" permitiu que uma geração inteira de roteiristas e diretores pudesse criar as mais fantasiosas e estranhas histórias que a cultura jovem jamais tinha visto até então.

Existe um fator a ser acrescentado: a realidade da época era mais aterrorizante do que os próprios filmes. Não podemos nos esquecer dos riscos reais de uma Terceira Guerra Mundial (com possibilidades do uso de arsenal nuclear) na crise de Berlim (1948), na derrota das forças colonialistas francesas em Dien Bien Phu na Indochina (1954), na questão de Suez no Oriente Médio (1956) e, logicamente, na crise do foguetes de Cuba (1962), esta última que colocou barcos norte-americanos e soviéticos um de frente para o outro.

O desconhecimento da radiação também era uma terrível realidade: campanhas informativas produzidas por militares norte-americanos informavam que, em caso da explosão de uma bomba atômica, as pessoas deveriam apenas se abaixar e colocar as mãos na nuca. Por sorte destas pessoas, bomba atômica alguma caiu perto delas - com informações assim, teríamos uma série de monstros e poderosos seres em grande quantidade.


Orivaldo Leme Biagi

Orivaldo Leme Biagi, Doutor em História pela UNICAMP, Professor da FAAT e Membro da Academia Literária Atibaiense (ALA).


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