quinta-feira, 10 de março de 2011

10040 - STÁBIA

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Sobre a Erupção de 79 D.C.

Pompéia destruidaUma vez conhecido o desenvolvimento histórico de Pompéia, sua urbanização, o comportamento e mentalidade de seus habitantes, buscarei narrar o que me parece a realidade dos fatos. Para tal, é necessário sentir a catástrofe como um morador de Pompéia. Acredito somente assim sermos capazes de vislumbrar a verdade da violenta erupção – e como tudo aconteceu jamais saberemos exatamente.

Após o cismo de 62, a cidade foi reconstruída. Em seus últimos anos de vida, os terremotos na região tornaram-se tão intensos, que o medo levou muitas famílias a venderem suas propriedades por preço irrisório e abandonar a cidade. Sucedeu mesmo uma intervenção imperial buscando expulsar gente da classe baixa que se apossou de bens particulares e terras do governo. Isso é prova de que muitos nobres possuindo propriedades na cidade e seus arredores, para lá já não se dirigiam nos períodos de descanso. Dos 20 mil habitantes estimados na cidade, quantos ainda realmente permaneceram em Pompéia?

Impossível saber. Somente cerca de 2 mil corpos foram encontrados intra muros e acredita-se que a maioria escapou fugindo pelos campos. Sou de opinião que se a região circundante à cidade fosse escavada “a pente fino”, muitos corpos seriam encontrados. É certo que diante de uma catástrofe, todo um povo foge não importa para onde. Mas consideremos que, fugindo para norte, fosse pela Porta Herculana, do Vesúvio ou de Cápua, a população desesperada ia de encontro ao perigo: o Vesúvio situa-se ao norte. Pela Porta Marina, ganhava-se rapidamente a praia. Talvez quem por aí saiu de imediato, a despeito do mar agitado, tenha sobrevivido.

Se Plínio o Velho desde que avisado da estranha nuvem, decidido a socorrer as pessoas e preparando suas galeras para zarpar de Miseno, tenha para isso se demorado em cerca de uma hora (e quanto tempo levou por mar para se aproximar de Herculanum e Pompéia?); se ele mesmo relata que as praias destas cidades estavam interditadas e era impossível desembarcar, é porque em pouco tempo a fuga por mar , naquela região, tornara-se impossível.

De Pompéia, restam então as saídas ao sul e a leste. Talvez quem por aí fugiu tão logo iniciada a erupção, tenha sobrevivido, uma vez que quem se retardou reunindo seus pertences, certamente pereceu.

Tomemos por base os relatos de Plínio o Jovem e consideremos o início da erupção, conforme ele diz, começando às 13 horas. Nesse instante, em Miseno, sua mãe notificou que uma estranha nuvem aparecera no céu. Plínio – tio e sobrinho – procuraram um local de onde avistá-la melhor. Desde esse momento, até a chegada do pedido de socorro de Rectina e a decisão do almirante em preparar suas esquadras e partir em socorro das vítimas, consideremos que tenha transcorrido cerca de hora e meia.

Foi tempo suficiente para que a colossal nuvem de fumo, cuja altitude estima-se ter atingido mais de 20 km de altura, baixasse sobre Pompéia e as cidades vizinhas, levando a escuridão, o terror e a morte. Deixemos Miseno; vamos nos situar diretamente em Pompéia.

É hora do prandium, refeição o mais das vezes, feita às pressas. Um estrondo terrível enche os ares ( Miseno, distante 30 km a noroeste do Vesúvio, não ouviu o ruído?); a terra treme, os pompeianos assustados deixam suas casas. Aturdidos, eles percebem a nuvem medonha elevando-se do Vesúvio aberto em dois: ela cresce com rapidez espantosa e se ramifica, ora negra, ora branca, a montanha rugindo e sibilando assustadoramente. Então, uma violenta e torrencial chuva de lapilli se abate sobre a cidade. Resulta ela da fragmentação do tampão de lava solidificada que obstruía a cratera do vulcão, lançado aos ares na formidável explosão. O pavor se apodera da população, eles voltam para o interior de suas casas, em busca de abrigo. A nuvem colossal se expande mais ainda, escurece o sol, começa a baixar, vencida pelo próprio peso. A chuva de lapilli é constante, o dia começa a se fazer noite, clarões assustadores emergem da montanha. Muitos fogem. Uma chuva pesada de cinzas incandescentes cai sobre Pompéia.

Quanto tempo transcorreu desde a explosão até este momento? Talvez 15 minutos? Impossível saber. Certo é que o vento soprava para o sul, a nuvem letal atingira as encostas do Vesúvio e se abatia sobre Herculanum, Oplonte, Pompéia, avançando em direção a Stábia. Ela só atingirá Miseno no dia seguinte, quando o vento mudar de direção.

A despeito da escuridão e das pedras pomes que caem , muitos pompeianos permanecem em suas casas. Alguns, apavorados com a intensa chuva de cinzas, o calor insuportável, os abalos sísmicos e o barulho de casas desabando, reúnem seus pertences, dispostos a fugir. A maioria da população se espreme pelas ruas apertadas, golpeada pelas pedras, edifícios que desabam com os violentos tremores, e agora uma chuva torrencial e horrível, de cinzas ardentes, os sufoca e oprime, tamanha sua intensidade! Tentemos imaginar uma turba apavorada, na mais densa escuridão, fugindo às cegas: atropelam-se, tropeçam no que não podem ver, caem num leito de cinzas escaldantes e são pisoteados! As cinzas queimam os olhos, a pele, a roupa, a garganta e sufoca... respirar, como?

Como sobreviver em condição tão terrível? Os que se trancaram em suas casas, quando tentaram fugir, estavam presos: em pouco tempo, as cinzas e dejetos lançados sobre Pompéia tão intensamente, bloquearam a entrada das casas. Estes, aprisionados, sucumbem pelos gases letais e pelas cinzas que lhes sepultam as moradias, seus telhados desabando sob o peso da chuva incessante e ardente.

Sejamos menos dramáticos (?) e suponhamos que não em três, mas no espaço de seis ou oito horas, Pompéia esteja completamente sepultada por todas as escórias lançadas pelo Vesúvio. Ainda assim, é difícil crer que a maioria se salvou. Quem escapou da cidade, morreu pelos campos. Seja pelos gases letais, a chuva de cinzas ardentes, as pedras lançadas da cratera vomitando relâmpagos e magma...qual a temperatura atingida nesta atmosfera opressora, fantasmagoricamente iluminada pelos fogos do vulcão?

Dizem os estudiosos que duas nuvens piroclásticas se abateram sobre Pompéia, a primeira incinerando seus moradores. Discordo: quando esta nuvem escapou do Vesúvio, Pompéia estava totalmente sepultada.

De uma dessas duas nuvens, temos relato de Plínio o Jovem. Mas discordo do fato delas terem incinerado os pompeianos e explico: é sabido que uma nuvem de tal natureza, desce pela encosta dos vulcões à mais de 170 km. por hora, é imprevisível em seu trajeto, atinge mais de 800 graus de calor. Em sua temperatura elevada e com tal velocidade, queima e arrasa tudo que encontra em seu caminho. Quando o Vesúvio lançou sua primeira nuvem piroclástica, se Pompéia não estivesse sepultada, nenhum edifício teria permanecido em pé. Mas existem relatos da época, dizendo que após a erupção, de Pompéia restaram visíveis as partes mais altas do fórum, e alguns edifícios públicos... Porque não desabaram? Porque estavam sepultados por nove metros de cinzas e escórias diversas! A maioria das residências pompeianas está praticamente intacta, perderam seus telhados devido ao peso das cinzas que os fizeram desabar.

Os incessantes tremores não lhes ruíram as paredes, porque Pompéia estava sepultada! Não nos esqueçamos de que muitos estragos ocorridos na cidade deveram-se à exumação sem critério quando de sua descoberta e das bombas lançadas sobre ela durante a segunda Grande Guerra! Para corroborar minha opinião, valho-me do sucedido no início do século XX em Saint Pierre, na Martinica.

O vulcão Pellée, após dar sinais de atividade, numa manhã lançou repentinamente sobre a cidade, uma nuvem piroclástica que incinerou toda a população e arrasou os edifícios até suas fundações! Apenas uma pessoa sobreviveu, um negro prisioneiro na cadeia. Porque o mesmo não sucedeu à Pompéia? Porque a cidade jazia sepultada! Porque esta nuvem mortífera não atingiu Stábia, se o vento continuava soprando de norte para sul? Conforme os relatos, Plínio o Velho desembarcara em Stábia, tomou banho com seu amigo Pomponianus, jantou e foi dormir, afetando despreocupação. Plínio era um nobre e um naturalista, homem de têmpera moldada pela disciplina do exército romano, gordo, de meia idade, e com um sério defeito congênito: tinha a laringe estreita, o que tornava sua respiração ofegante e certamente a voz rouca e entrecortada.

Ele dormiu em casa de Pomponianus e roncava terrivelmente, porque lhe faltava o ar e a atmosfera em Stábia lhe agravava o problema respiratório. Em meio à noite, ele abandona seus aposentos pelo risco de ficar aprisionado pelo acúmulo de cinzas. Junto com seu amigo e demais pessoas da casa, decide tentar a fuga por mar, a despeito da chuva de cinzas e pedras pomes que caem sobre a cidade.

Pompéia, distante apenas 8 km. do vulcão, já não existe mais! O dia amanhece em Stábia, uma claridade vacilante e incerta. Plínio o Velho está na praia, ofegante, sentado sobre um lençol, contemplando o mar agitado. Um clarão horrendo ilumina tudo, uma nuvem avança ameaçadora. Seus amigos fogem, apavorados com “o fogo que se aproxima e o forte odor de enxofre”. Trata-se da nuvem piroclástica. A primeira? A Segunda? Difícil saber. Ela porém detém seu curso ou muda de direção, caso contrário, o velho sábio seria incinerado juntamente com a cidade. Sufocado e auxiliado por dois escravos, Plínio tenta se erguer, mas cai sem vida. Todos fogem. Quando o drama termina, seu corpo é encontrado intacto, “com suas vestes e a aparência mais de quem dormia, de que de um morto”.

Analisemos agora este momento, pelo relato de Plínio o Jovem, que se encontrava em Miseno. Tenhamos em mente que, quatro horas após o início da erupção, até a morte do almirante em Stábia, Pompéia já não existe.

Desde que foi notada em Miseno, a nuvem ocultou toda a região circunvizinha ao Vesúvio, de modo que “não se sabia de que monte ela surgira”. O vento sopra de norte para sul, o que impede que a nuvem se abata sobre Nápoles e Miseno. Miseno dista cerca de 30 km a noroeste do Vesúvio. Aqui, incessantes tremores abalam a cidade. De acordo com Plínio o Jovem, os tremores se intensificam à noite, e é impossível dormir. Ele e sua mãe vão para o jardim, temendo que a casa desabe. Amanhece, um dia envolto em névoa e pouca claridade. Os tremores se intensificam de tal modo, que todos resolvem fugir para campo aberto. Vai com eles a população assustada. Uma vez transposto os limites da cidade, com horror percebem que “o mar recuava, pois muitos animais marinhos jaziam em seco”. E mais, a terra treme tanto, que nem calçados os veículos permanecem em repouso! O povo é tomado de pânico, ainda mais que “uma nuvem horrenda e negra nos perseguia, rolando como uma torrente pelos campos”. É a nuvem piroclástica! “Ela avançou pelo mar, envolveu a ilha de Capri e roubou a visão do promontório de Miseno”.

É neste instante que o tio de Plínio, distante em Stábia, morre na praia. Mas o vento mudou subitamente de direção: a nuvem se deteve ao longe... tendo mudado o curso do vento, a nuvem de cinzas avança então sobre Miseno. Ela oculta o sol empalidecido e, prudentemente, mãe e filho se afastam do caminho, “para não acontecer de serem derrubados e pisoteados pelos que fugiam”. Mal o fazem, e “uma escuridão como num aposento fechado e sem luz se abate”, “pesada chuva de cinzas cai, tão intensa, que se não nos levantássemos amiúde para sacudí-la, seríamos enterrados por ela”. Embora ainda quente, as cinzas já não queimam, ou Plínio isso mencionaria. Na completa escuridão, o povo foge aos gritos, às cegas, famílias inteiras se desgarrando. Plínio nos fala de relâmpagos cuspidos pelo vulcão, os quais momentaneamente clareavam a escuridão. “Mas a nuvem deteve-se ao longe, e a claridade não era do sol, mas do fogo que se aproximava... contudo fez-se novamente escuro e pesada chuva de cinzas voltou a cair”... A nuvem piroclástica não atinge Miseno!

Quando tudo se aquieta, a paisagem está desfigurada. Mãe e filho retornam a Miseno onde, a despeito dos terremotos e tementes do retorno das cinzas, preferem aguardar notícias do irmão e tio. Estes foram os fatos ocorridos em Miseno, 24 horas após o início da erupção. Apenas pergunto: o que não sofreu Pompéia, desde o início da catástrofe até o anoitecer daquele triste 24 de agosto? Quando tudo terminou, a configuração regional da Campânia tinha-se alterado: o mar recuara devido a precipitações das cinzas e lavas expelidas pelo vulcão. O rio Sarno, procurava novo curso, seu antigo leito entulhado de escombros, uma paisagem desoladora era o que restava dos campos floridos e ensombrados por árvores frondosas… Que me perdoem os estudiosos e os vulcanólogos, em Pompéia, ninguém escapou do triste fim reservado pelo destino à Pérola da Campânia!

Sobre Pompéia
De tudo que foi estudado, pesquisado, comparado; de tudo que as escavações na cidade revelaram, a despeito dos saques, depredações e descaso por ela sofrida desde sua exumação, uma coisa é certa: Pompéia era rica!

Rica por ter se tornado importante entreposto comercial. Rica por sua posição geográfica privilegiada. Rica pela cultura que ali se desenvolveu. Rica por possuir habitantes zelosos de sua beleza e conservação.

Pompéia era pacífica, ricos e pobres conviviam em harmonia, nela não havia luta de classes nem discriminação racial.

Era uma cidade habitada por pessoas de classe social elevada, e mesmo sua classe média ou baixa, possuía uma residência decente.

Amada por seu clima, por sua paisagem, pelo seu ar perfumado e sua luz, seu céu de profundo e intenso azul, a sociedade romana nela construiu vivendas luxuosas para desfrutar suas férias de verão. Malgrado suas ruas estreitas, suas calçadas altas e exíguas, sua topografia contida sobre uma camada de lava solidificada e sua depressão, tornando-a uma cidade de altos e baixos, Pompéia se apresentava quase um modelo perfeito de urbanismo e saneamento.

Aquedutos levavam-lhe água e a cidade era abastecida através de encanamentos subterrâneos de chumbo, e mesmo possuía um reservatório para suprir essa necessidade: próximo à porta do Vesúvio, seu trecho mais elevado, erguia-se o Castellum Aquae, o qual através de três encanamentos, supria as fontes das ruas e as residências.

Seus habitantes eram felizes e a amavam, não medindo esforços para embelezá-la mais e mais. Mesmo os bairros mais modestos, possuíam seus atrativos.

Seu Teatro Grande e o Odeon, seus ginásios e suas termas, deixam entrever uma sociedade culta e ciosa do cuidado corporal. Seu Fórum Triangular era um recanto de lazer, uma colina ensombrada por belos arvoredos, donde se descortinava uma visão espetacular da cidade e da paisagem com seus campos floridos, dourados pelo sol da Campânia.

O impacto produzido em todos os que adentravam o recinto sagrado do Fórum, era imenso: os edifícios judiciários, a Basílica, o Eumáquia, todos ao sul, contrastavam em beleza com os templos e os Arcos de Triunfo ao norte. Uma praça resplandecente em seu calçamento branco, suas estátuas que a ornamentavam, seu pórtico em dupla colunata, tudo causava admiração e espanto pela sua riqueza, beleza e imponência!

Pompéia era uma cidade rica e bela! E através dos estudos de documentos e comparativamente a outras cidades da Roma Imperial, não era caro viver em Pompéia.

Cidade de luxo, riqueza e prazer, seus produtos eram baratos, Pompéia gerava de si seu próprio sustento e se bastava, era independente… e seus habitantes se orgulhavam disto!

O gosto pelo belo e a ostentação, os pompeianos refletiram mesmo em suas necrópoles: os mausoléus de Pompéia assemelham-se a uma cidade entrecortada de ruas onde se erguem belas moradas…de eternidade!

Seduzido pela beleza da cidade, Otávio ali construiu o Pagus Augustus Felix, a imperatriz Lívia foi a primeira proprietária da Vila dos Mistérios, Cícero em Pompéia escreveu seu De Officiis.O Vesúvio, morada preferida de Baco, sepultando-a, preservou-a para a posteridade, e hoje, compreendemos porque Pompéia era a “ Pérola da Campânia”.

“HAVE, PULCRA POMPEII, VOBIS OPUS DICATUM”
Fonte: www.companiarte.hpg.ig.com.br
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