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CLÁUDIO EDUARDO REGIS DE FIGUEIREDO E SILVA
INTRODUÇÃOO sociólogo francês JEAN LOJKINE analisa aREVOLUÇÃO INFORMACIONAL a partir do marxismo,para lançar uma luz sobre os reflexos das novastecnologias sobre o modo de produção capitalista, bemcomo sobre as novas possibilidades que se desvendamna busca de referências teóricas para o século XXI.
LOJKINE inicia identificando no tempo (final doséculo XX) uma DOMINAÇÃO MUNDIAL DOCAPITALISMO ao mesmo tempo em que as novastecnologias põem em questão o MONOPÓLIO DOPENSAMENTO, característico da divisão do trabalho.Passa a pergunta: é possível uma recomposição defunções na divisão do trabalho, entre os que decidem eos que executam?
Ilustrando as ENORMES POTENCIALIDADESdessa transformação, define a REVOLUÇÃOINFORMACIONAL como aquele que ³nasce daoposição entre a revolução da máquina-ferramenta,fundada na objetivação das funções manuais, e arevolução da automação, baseada na objetivação decertas funções cerebrais desenvolvidas pelomaquinismo industrial´ (p. 14).Diante da capacidade proporcionada pelas novastecnologias da informação, o problema central consisteem saber ³como se organizar para tomar decisões ± ouseja, como tratar a informação´ (Herbert Simon, 1983).
Descreve uma crise do modelo americano que vê a informaçãocomo mercadoria que ³perde valor´ ao ser compartilhada, paraconsiderá-la como INVESTIMENTO (cfe. Benjamin e a indústria dacomunicação), daí a importância do seu controle! Aobra se divide em três partes:1ª± avalia a revolução informacional comparada à revoluçãoindustrial;2ª- trata do problema do controle da informação;3ª- busca analisar as possibilidades da superação dadivisãoentre produção e informaçãona organização do trabalho, entreprodutores e elaboradores, enfim, entre funções produtivas eimprodutivas. Pretende ³desmascarar o fosso´ que divide osganhadores e os excluídos da modernização tecnológica.Para discutir os novos problemas surgidos com ainformática, é necessário superar velhos conceitos: uma revisão crítica do taylorismo-fordismo (MITOS); definir a natureza e os tipos de informação tratados pelarevolução informacional (aberta e interativa ou fechada econcentrada); distinguir a lógica da rentabilidade (MERCADO) da lógicaespecífica do tratamento da informação.
A revisão dos MITOS MOBILIZADORES da produçãocomeça com definições MICRO-ECONÔMICAS correntes (p.31): TAYLORISMO: divisão do trabalho em micro-tempos.Cada trabalhador recebe a ³atribuição´ de produzir o número depeças calculado para a jornada em razão do tempo atribuídopara cada tarefa. FORDISMO: os trabalhadores são dispostos numa linhamobilizada por uma cadência fixa (esteira) que impõe o ritmo detrabalho.Paralelamente, foram desenvolvidas máquinasespecializadas, com peças e produtos estandartizados quefacilitam a formação dos operários.
1) divisão de tarefas;2) separação entre concepção / execução;3) volume crescente de produto para um mesmo efetivo;4) controle ³¶pelo alto´ e tempo imposto pela cadeia;5) regulação de preços e salários pela oferta de massa;6) direção autoritária: estatismo, burocracia e Estado-providência.³RIGIDEZ´
KAN-BAN (Niponismo ou Toyotismo)Sistema adaptado à produção, em séries restritas,de produtos variados.O trabalhador do posto posterior recolhe, quandonecessita, as peças no posto de trabalho antecedente,onde o incremento da fabricação só ocorre pararealimentar a produção que é vendida.³FLEXIBILIDADE´.
Ocorre tanto em relações intra-empresas como inter-empresas (terceirização).1) polivalência no trabalho horizontal;2) polifuncionalidade na relação vertical;3) razão da diminuição de efetivos para uma mesmaquantidade de produto;4) auto-controle do anterior pelo posterior ³sob os olhos´;5) regulação pela demanda diversificada;6) negociações contratuais descentralizadas com atores³autônomos´. Neoliberalismo e ³democracia salarial´.
A flexibilidade afeta desde a regulação econômica esociopolítica até a divisão social do trabalho!Deve-se observar que mesmo existindo grupos semi-autônomos ou ³ilhas de montagem´, tais unidades nãorecebem nenhuma prerrogativa para tomar iniciativas eexercer responsabilidades.Pelo contrário, ³nova maneira de tirar partido da linhade montagem clássica com fluxo contínuo e fracionamentodo trabalho´ (p. 39).
Destaca a importância de estímulos para que sejamatingidos os objetivos através do trabalho e que maior deverá ser o estímulo quanto mais difícil for o trabalho.Por isso a evolução do trabalho não implicaobrigatoriamente num evolucionismo social, mas emavanços e retrocessos (Ex: a Revolução Industrial na 1ªfase.Crítica a PierreLévy?). ARevolução Tecnológica(informacional) tem amesma magnitude daquela damáquina-ferramenta, ouainda da descoberta, no neolítico, doinstrumento.
Trata-se da passagem do HOMO FABER (H. Arendt?)para o HOMEM DAS LINGUAGENS: dosCOMPORTAMENTOS AUTOMÁTICOS, diretamente ligados ànatureza do homem; evolui-se para COMPORTAMENTOMA UINAL, envolvendo séries operatórias adquiridas pelaexperiência e educação; para chegar ao COMPORTAMENTOLINGUÍSTICO, lúcido e consciente, onde a linguagem operade modo preponderante. A ³mão´ deixa de ser o motor, que passa a ser o ³cérebro´essencial à atividade comunicativa. A organização social e do trabalho idealizada por Marxnunca imaginou tamanha evolução (ainda que tenha cogitadoa fábrica ³totalmente automatizada´).
A AUTOMAÇÃO proporcionada pelos sistemaseletrônicos é capaz de prever, antecipar e corrigir asdisfunções e, até mesmo, mudar a programação.Ex: comando automático dos aviões (que tambémcaem!)Mas até isso mostra a importância daCONSCIÊNCIA REFLEXIVA PARA TOMADAS DEDECISÃO!
Os imperativos da rentabilidade possuem papelpredominante no espaço da produção, o que limita aflexibilidade e o fluxo de informações à relação PRODUÇÃO XRENTABILIDADE.Mesmo as cooperativas de artesãos sucumbem a esta lógicade ³MONETARIZAÇÃO´ que produziu: ruptura das cadências por ³STOCKS TAMPONS´; rotatividade dos postos e das tarefas; ampliação das tarefas (às vezes todas na oficina!).
Surge a figura do ³gerente de produção´, queadministra e aloca o pessoal, assumindo sua gestão.Raramente, porém, esse profissional teráacesso àinformaçãoque lhe permitaparticipar do processodecisório, diagnosticando os incidentes e otimizando ofuncionamento.Começa aqui a pressão para ultrapassar as divisõeshierárquicas e substituí-las por gradações flexíveis DEMOCRATIZAÇÃO E TRANSPARÊNCIA (semelhançacom o Judiciário!).
Dificuldade em µcolocar equivalência¶ quando se tratade informação, conhecimento científico e cultural. Ex.Coquille Saint-Jacques (p. 205) ± ³3 milhões depesquisadores não controlam 5 bilhões de homens!´(Latour, p. 210).Nos EUA, a pesquisa é financiada em 47% peloscontribuintes (Bay-DoleAct, de 1980).O pesquisador brasileiro não existiria semfinanciamento público! (98%)Para Bourdieu: ³a representação cognitiva, tomadacomo modelo epistemológico, é exclusivamenteperceptiva, discursiva e simbólica´ (p. 218).
O modelo ³turbilhonário´ da inovação, em oposição aomecanicista, aponta aberturas, circulação da informação,articulação, adaptação e flexibilidade, sublinhando o modelo do³envolvimento´ e a dimensão coletiva e ativa da inovação: deve-separtilhar as informações entre os que as concebem e seususuários (MIT ± p. 224).³A referência mítica ao mercado como norma suprema dotrabalho das redes tecno-científicas se mostra incapaz de dar conta do divórcio entre o horizonte a curto prazo do lucro e darentabilidade, e do horizonte a longo prazo da inovação.´ (p. 225) A crítica ao dogma mercantil único pede novos critérios, comindicadores que reflitam melhor a qualidade do trabalho,produtividade, tempo de concepção, tempo para levar ao mercado,preservação do meio-ambiente, emissão de carbono e outroscritérios não-mercantis de qualidade!
É possível superar a divisão entre os queproduzem e os que pensam a produção?Como fica essa divisão na relação internacional?
Três objeções na ordem mundial:1) Divisão PAÍSES RICOS X PAÍSES POBRES ± hoje, Brasile Coréia do Sul possuem indústria de alta tecnologia eexportam mão de obra qualificada, indicando uma novadivisão mundial do trabalho.2) As MULTINACIONAIS introduziram filiais no TerceiroMundo onde a complexidade das tarefas e a remuneraçãosão equivalentes aos EUA (México/Brasil).3) Os altos índices de DESIGUALDADE e INFORMALIDADEno trabalho, outrora característicos do Terceiro Mundo, sãohoje uma tendência em TODOS os países capitalistas, namesma forma que o neoliberalismo e a flexibilização dasrelações formais de trabalho.
O UE DISTINGUE O CENTRO DA PERIFERIAÉ O CONTROLE DAS INFORMAÇÕESESTRATÉGICAS e ³a revolução da informaçãoexacerba o debate sobre sua significação e seuuso social´ (p. 237).
Questionamento radical da divisão milenar entre ³escribas´ e ³obreiros´:DANIELBELL: na sociedade ³PÓS-INDUSTRIAL´ haveria aSUBSTITUIÇÃO da produção industrial pela informação e da experiênciaprofissional pela ciência, dos operários pelos engenheiros, com³centralidade do saber teórico, tanto gerador da inovação quanto das idéias-matrizes que inspiram a coletividade´.RICHTA: descreve uma SUBSTITUIÇÃO: ³a ciência impregna oconjunto do processo de produção, tornando-se progressivamente a forçaprodutiva central da sociedade e, praticamente, o fator decisivo docrescimento das forças produtivas.´P/LOJKINE, ³as premissas da revolução informacional, no contextoatual de crise e reestruturação capitalistas, discutem a idéia de umasubstituição da produção pela informação, defendendo a tese de umainterpenetração complexa entre indústria e serviços, concepção efabricação, ciência e experiência e, conseqüentemente, entre assalariadosda produção e assalariados da concepção.´ (p. 238)
Tais características dão ênfase à polifuncionalidadecaracterística do trabalho informacional, onde o tempo detrabalho é uma mescla entre atividades produtivas eimprodutivas integradas à produção. Agestão de informações se torna uma função central parao desenvolvimento do trabalho, zelando pela relação entreprestadores e clientes, numa nova confusão de papéis.³De um lado, abrem-se ofícios operários às competências³relacionais´; de outro, ao contrário, parece-se dar marcha-à-ré no processo, procurando dividir, parcelarizar o trabalhocomplexo dos serviços, para melhor mensurá-lo com osparâmetros do trabalho simples.´ (p. 288)
Novamente, coexistem tendências contraditórias: arecomposição enriquecedora de atividades relacionais voltadaspara contados com os usuários; e tentativas de estandartização edesqualificação dos trabalhos considerados mais rotineiros,menos relacionais. A longo prazo, com a revolução informacional, vem à tonauma tendência irreversível para abrir todas as atividadesprodutivas às funções de serviços e todas as atividades deserviço às funções produtivas.Contudo, a lógica de mercado permanece dominante, com atendência de eliminação do trabalho vivo para economizar pessoal, com a intensificação do trabalho e as reduções maciçasde pessoal que bloqueiam as capacidades inovadoras eparalisam os esforços para melhorar a circulação da informação.(p. 290)
No ensino, a mesma tendência: de um lado, oschefes dos processos de projetos, arquitetos desistemas e de redes informacionais egressos de grandesescolas de engenharia; de outro lado, os técnicossuperiores e egressos de pequenas escolas, submetidosa uma certa estandartização de tarefas em gabinetes deprogramação e grandes escritórios de projetos, sofrendouma perda da sua autonomia, e desvalorização do seuestatuto, onde o desemprego cresce mais rapidamente.Percebe-se uma crise de identidade que se reflete emgrandes incertezas que pesam sobre as qualificaçõesdas gerações futuras.
O operário profissional experimenta, principalmente asensação do µroubo do seu saber¶ e da sua µdesqualificação¶;tendo se tornado técnico mediante a qualificação no própriotrabalho, está convencido de que a informatização nada lheoferecerá de positivo. Surge a política deliberada depromover a concorrência entre duas gerações de operários ede técnicos, onde os novos técnicos são vistos comoµprivilegiados¶, µganhadores das mutações tecnológicas¶. (p.294)Contudo, são µtécnicos especialistas¶ semresponsabilidades e com ínfimas chances de se tornaremdiretores, pois sua formação não lhes ensinou a comunicar.Desse ³desencanto entre os jovens diplomados´ cresce oindividualismo que se reflete na baixa adesão ao movimentosindical.
As causas dessa desmobilização política cada vezmaior em todo o mundo são apontadas como:1) O esgotamento das utopias e dos projetos políticos quemobilizaram os operários e os trabalhadores ao longo dedois séculos;2) A incapacidade do movimento operário ocidental emsuperar no seu interior a delegação de poder e ahierarquia piramidal na divisão entre a esfera dasreivindicações sociais e a esfera administrativas;3) A falta de capacidade de construir, autonomamente,regras de gestão diversas daquelas da rentabilidade e dolucro.
³Somos todos nós, conscientemente ou não, usuários dasNovas Tecnologias da Informação, que devemos buscar a u to n omi aecooperaçãocontra oin d i v i d u al ismoestéril dos quequerem manter o monopólio da formação e das informaçõesestratégicas, quando o próprio controle da informação exige amobilização detodasas inteligências.´ (p. 309)Enquanto dirigentes empresariais, assalariados e cidadãosestiverem persuadidos de que a tomada de decisõesestratégicas (na economia e na política) é um problema da elite,assistiremos a uma aceleração das crises informacionais eorganizacionais provocadas pelas Novas Tecnologias daInformação.
O estoque informacional não pode ser geridocomo um capital, porque a máxima acumulação deinformações não produz a riqueza, mas a asfixia. Aolongo do tempo mostra-se ineficaz, na medida em quenão se partilha e não se faz circular as informações,reproduzindo o círculo vicioso dos surdos (osdirigentes) e dos mudos (os executores).É preciso mudar as regras do jogo. Contudo, elesainda não sabem como fazê-lo.
LOJKINE, Jean. A Revolução Informacional.Trad. De José Paulo Netto. 3ª ed. SãoPaulo: Cortez, 2002.
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Resenha do texto de Jean Lojkine utilizada para debater o processo eletrônico no judiciário e o acesso à justiça. Autor: Cláudio E. R. F. e Silva
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