segunda-feira, 28 de junho de 2010

1268 - HISTÓRIA DO LIVRO

ISSN 1678-8419 última atualização em: quarta-feira, 11 de novembro de 2009 09:58:39




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Cultura

Uma pequena grande história do livro

Izaura da Silva Cabrali

publicado em 11/11/2009

The small great history of the book


RESUMO
O artigo traz uma reflexão sobre as diversas formas que livro adquiriu ao longo dos tempos e nem por isso jamais deixou de ser lido, então, mesmo com o advento de novas tecnologias, o livro não vá deixar de ser lido por milhares de pessoas no mundo todo.

Palavras-chave: livro, leitura, história.


ABSTRACT

The article brings a reflection on the diverse forms that book acquired throughout the times and nor therefore never it left of being read, then, exactly with the advent of new technologies, the book does not go to leave all of being read by thousand of people in the world.

Key-Words: book, reading, history.




Quando entramos em uma livraria e ficamos folheando um livro, dificilmente nos pegamos pensando na maneira como ele foi feito. É mais comum ficarmos curiosos sobre quem escreveu o livro, quem ilustrou a história que está sendo contada, quem fez as fotos. Ao pensarmos uma história da forma do livro, vemos que ela está sempre relacionada ao uso que o leitor pretende lhe dar. Esta resenha examina, de maneira sucinta, as características dos impressos, sem levar em conta, os seus conteúdos literários, que podem revelar os aspectos culturais que envolveram a leitura e a forma do livro ao longo dos tempos. 2

Há cerca de 5.500 anos, em Sumer, na Mesopotâmia (Ásia), o homem inventou o alfabeto. E isso significava que ele já estava pronto para escrever e registrar os seus pensamentos e suas descobertas, por isso começou a utilizar as tabuletas. Segundo Manguel, “as tabuletas mesopotâmicas eram geralmente blocos de argila quadrados, às vezes oblongos, de cerca de 7,5 centímetros de largura; cabiam confortavelmente na mão”. Para o autor, um livro consistia “de várias dessas tabuletas, mantidas talvez numa bolsa ou caixa de couro, de forma que o leitor pudesse pegar tabuleta após tabuleta numa ordem predeterminada.” Ainda convém salientar, que “ é possível que os mesopotâmicos também tivessem livros encadernados de modo parecido ao dos nossos volumes.”3

Em 1450 d. C., com a produção do papel na Europa, Gutenberg apresenta o primeiro exemplar impresso da Bíblia, inaugurando a era do livro manufaturado industrialmente. Foi quando os livros começaram a ganhar a forma como conhecemos hoje. Mas até isso acontecer, o homem escreveu em pedras, ossos e tabuletas, também chamadas de tijolos de argila e em muitos outros materiais. Como exemplo, podemos citar a obra Epopéia de Gilgamesh, que até hoje pode ser conhecida, porque parte do livro de tabuletas de argila, escrito há mais de 4.000 anos, resistiu ao tempo.

Segundo Litton, a pedra, a principal fonte de inscrições, sobreviveu no Antigo Oriente. Nela foram esculpidos as leis e os convênios. Também, na Antiguidade, foram usados tijolos de argila cosida como material de escrita, especialmente, no Oriente Próximo, onde sua utilização era favorecida pelo clima. Nas escavações de Nínive e da Babilônia, descobriram-se muitas bibliotecas de placas de argila, nas quais se havia guardado importantes textos de toda natureza.4

Em razão da durabilidade, os antigos gregos e romanos utilizavam placas feitas de uma grande variedade de materiais, incluindo o marfim e o bronze. Por isso os romanos gravaram em bronze, nos anos 450 e 451 a.C. a célebre Lei das Doze Tábuas. Mas, outro metal também muito empregado para escrever, durante a antiguidade foi o chumbo.5

Além disso, podemos citar uma curiosidade que eram os “quipos”, cordões ou cordas de diferentes cores, com que fazendo nós, os índios do Peru pré-colombiano supriram a falta da escrita. Os cordões tingidos de amarelo significavam ouro, os de cor verde referiam-se a grão, os brancos, a dinheiro, os vermelhos, a soldados. Essa foi a forma que esta civilização utilizou para transmitir seu pensamento.6

Depois disso, o homem começou a utilizar o papiro, planta comum no Egito, que era umedecida e ligeiramente assada, para ficar com uma consistência grudenta. Logo suas fibras eram trançadas e colocadas para secar, produzindo um papel rústico. Nele era anotada a contabilidade do reino egípcio. Muitas cartas e livros também foram escritos em papiro.

No século II a.C. há o desenvolvimento do pergaminho para fixação do material escrito. Ele era produzido do couro de animais – raspado, lavado, esticado e seco. O processo de preparação de couros para serem usados como material de escrita aperfeiçoou-se de maneira notável, por obra de Eumenes II ( 197 – 158 a.C.), rei de Pérgamo, Ásia Menor. Desde então, fala-se da “carta pergamena” ou “pergaminho” (isto é, proveniente de Pérgamo)7. A arte de preparar o couro passou logo à Grécia e dali à Itália, de onde se difundiu a toda Europa, tendo os monges parte principal nessa difusão.

Já, nos séculos II e III d.C. o pergaminho torna-se o material preferido para fixação de textos escritos, substituindo definitivamente o papiro. Nessa época, também, os livros em forma de rolo perderam o seu lugar, pois o homem teve a idéia de costurar vários pedaços de pergaminho, formando livros razoavelmente parecidos com os de hoje. Nas folhas de couro se escrevia de um lado e de outro, assim como no papel se escreve. Sobre isso Darton nos diz que: “a própria página como unidade do livro data apenas do século III ou IV d. C.” . Para ele, “antes disso, para ler um livro, era preciso desenrolá-lo”. Essa mudança facilitou a leitura porque “depois que as páginas reunidas (o codex) substituíram o rolo (volumen), os leitores podiam ir e voltar com mais facilidade ao longo os livros, e os livros passaram a ser divididos em segmentos.” 8Nas folhas de couro se escrevia de um lado e de outro, assim como no papel se escreve hoje.

No século IV, e até o aparecimento do papel na Itália, oito séculos depois, segundo Manguel, o pergaminho foi o material preferido em toda Europa para fazer livros. Não só era mais resistente, como também mais barato, uma vez que o leitor quisesse livros escritos teria que importá-los do Egito a um custo considerável.9

Por falar em papel... Esse material tão comum em nossos dias foi uma invenção dos chineses, no ano 105. Dos chineses o segredo do papel foi passado para os árabes em 793, até que chegou aos europeus em 1270, com a construção do primeiro moinho na Itália. Surgindo o papel, surgem também os primeiros livros com o formato que conhecemos hoje, porém escritos à mão. Em razão disso, gastava-se um tempo enorme para fazê-los, por isso os livros eram muito caros. Nos séculos XIII e XIV aparecem as primeiras universidades européias, desenvolvendo assim, o comércio das obras escritas, produzidas manualmente pelos copistas. Nessa época se estabelece uma nova relação com o livro, mais fácil e mais ágil, que, segundo Chartier, foram “favorecidas por certas transformações do manuscrito (por exemplo, a separação das palavras). 10“.

Em 1450, o alemão Johann Gutenberg deu forma à tão sonhada máquina da impressão: o prelo. Ele aperfeiçoou uma prensa de espremer uvas para criar a máquina, que funcionava assim: uma alavanca girava uma rosca de madeira, que abaixava uma tábua, que apertava o papel úmido que estava colado sobre as letras, que arrumadas em palavras e frases sujas de tinta iam imprimindo as páginas uma a uma. Acontecia como se para cada página fosse preparado um grande carimbo. Para suportar tantas impressões as letras eram fabricadas de metal e repetidas várias vezes, pois, por exemplo, para uma página seriam necessários vários “as” ao longo do texto. Segundo Manguel, “ entre 1450 e 1455 Gutenberg produziu uma Bíblia com 42 linhas por página” e foi “o primeiro livro impresso com tipos.11”

Em 1476, William Caxton funda a primeira tipografia na Inglaterra e, desde então, a indústria tipográfica começa a expandir-se em toda a Europa. É nessa época que acontece, em 1550, a fixação da forma do livro, incluindo capa, título, nome do autor e demais características gráficas.

Outro marco na história do livro é a publicação em Roma, do Index Librorum Prohibitorum, pelo Papa Pio IV, estabelecendo a censura religiosa a determinadas leituras. Em 1605, quando na Europa moderna, já estão funcionando mais de 250 tipografias é publicada uma das obras clássicas mais lidas, traduzidas e publicadas na história do livro, El hengenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha de Miguel de Cervantes, tematizando a febre da leitura de novelas de cavalaria nessa época.

No século XVIII, com a expansão da alfabetização e da imprensa entre a população, cresce o público leitor, sobretudo entre a classe burguesa ascendente. Há, então, uma expansão do romance. Assim, acontece no início do século XIX um barateamento do custo da produção do livro e dos jornais, graças à industrialização do papel. A imprensa se expande, assim como o romance de folhetim. O público feminino se consolida e em 1857, Madame Bovary, de Gustave Flaubert, é publicada, obra cuja protagonista é iludida pelos enredos folhetinescos das novelas lidas na adolescência.

A escolarização da população infantil torna-se obrigatória e a literatura de massa começa a se expandir, nos séculos XIX e XX. Tornam-se importantes pesquisas no âmbito da Sociologia da leitura. Surgem propostas teóricas e aplicadas de alfabetização popular e começam a serem difundidas as teorias sobre o efeito da leitura e a emancipação do leitor. No final do século XX e XXI, o computador trouxe consigo uma nova forma para o livro, expandindo a tecnologia digital e as redes de comunicação virtual. Aparece o cd-rom, a multimídia e o e-book. É, essa, uma época de grandes discussões sobre o futuro do livro, da leitura e da literatura.

Das tabuletas mesopotâmicas ao computador, formas que apenas guardaram os registros que o homem pretendia que permanecessem por um curto ou longo tempo disponíveis a um leitor, ele próprio, ou outros. Através desta pequena cronologia da história da forma do livro vemos que todas as modificações que foram ocorrendo, caminharam junto com a evolução da escrita e a popularização da leitura. Hoje, uma mesma obra, chega até nós de diversas formas, via internet, via periódicos, via uma edição mais barata, produzida com menos custos de impressão, via fotocópia, etc. Em virtude disso, podemos dizer que a era em que vivemos , em relação ao acesso às várias formas do livro, é privilegiada.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS




CHARTIER, R.Práticas da leitura. Trad. Cristiane Nascimento. Estação Liberdade: São Paulo, 1996.

DARNTON, R. O beijo de Lamourette. Companhia das letras: São Paulo, 1990.

LITTON, Gaston. O livro e sua história. Trad. Maria Elvira Strang. McGraw-Hill: São Paulo, 1975.

MANGUEL, Aberto. Uma história da leitura. Companhia das letras: São Paulo, 2001.

ZILBERMAN, Regina. Fim do livro, fim dos leitores? Senac: São Paulo, 2001.



1 Licenciada em Letras/UNISC, Mestre em Letras-leitura e cognição/UNISC, Professora de Língua Portuguesa, Literatura e Língua Espanhola do Instituto Estadual de Educação Ernesto Alves. E-mail: iza-cabral@hotmail.com.

2 ZILBERMAN, Regina. Fim do livro, fim dos leitores? Senac: São Paulo, 2001. Esta resenha se baseará na cronologia feita por esta autora para uma história do livro nesta obra citada.

3 MANGUEL, Aberto. Uma história da leitura. Companhia das letras: São Paulo, 2001. p. 149.

4 LITTON, Gaston. O livro e sua história. Trad. Maria Elvira Strang. McGraw-Hill: São Paulo, 1975, p. 15, passim.

5 Ibid, p. 15-16, passim.

6 Ibid, p. 16-17, passim.

7 Ibid, p. 17, passim.

8 DARNTON, R. O beijo de Lamourette. Companhia das letras: São Paulo, 1990, p. 170.

9 MANGUEL, Alberto. p. 150-151, passim.

10 CHARTIER, R. Práticas da leitura. Trad. Cristiane Nascimento. Estação Liberdade: São Paulo, 1996, p. 82.

11 MANGUEL, Alberto, p. 158.



i Licenciada em Letras pela UNISC, Mestre em Letras/Leitura e cognição pela UNISC, professora de Língua Portuguesa, Literatura e Língua Espanhola do Instituto Estadual de Educação Ernesto Alves. E-mail: iza-cabral@hotmail.com.







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Izaura da Silva Cabral é professora de língua portuguesa e língua espanhola do Instituto Estadual de Educação Ernesto Alves, graduada em Letras/Espanhol (UNISC), Mestre em Letras, leitura e cognição (UNISC).

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