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È ÚTIL O ESTUDO DE FILOSOFIA EM NOSSA VIDA PRÁTICA?

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A filosofia é útil?

Publicado em 2 de agosto de 2009 por D.

É comum ouvir em sala de aula alguns alunos dizerem: “que isso vai ser útil pra minha vida?“. Quando ouço esse tipo de comentário, penso imediatamente: o aluno quer realmente saber isso que está me perguntando? Ele quer mesmo que eu mostre no que a filosofia pode lhe ser útil e se eu conseguir mostrar ele irá mesmo começar a estudar a filosofia com vontade e dedicação? Ou será que o aluno está me perguntando isso apenas para me provocar, pois no fundo ele próprio já construiu a idéia de que aquilo que estou lhe ensinando é inútil e nada que eu lhe diga vai fazê-lo mudar de opinião? E com base nessa opinião o aluno simplesmente vai deixar de prestar atenção nas aulas, vai colar se possível, não fará as atividades pedidas, quando fizer será de qualquer jeito, não se preparará com dedição para as provas e assim por diante?



Suponhamos que realmente o aluno queira saber se a filosofia pode lhe ser útil ou não na sua vida. O aluno está interessado, curioso nesse assunto. Não tem conseguido dormir por conta desse problema sério. Ótimo! Então vamos lá. Primeiro de tudo: o que queremos dizer com utilidade, útil? O que é isso? Segundo, só aprendemos o que é útil? (nem definimos ainda o que é útil, hein). Terceiro, só devemos estudar o que é útil? Como respondemos a essas questões?



É útil passar horas e horas sem qualquer controle no orkut, no msn, ou vendo televisão ou batendo papo com os amigos, ou com namorada ou namorado? Qual a utilidade disso para a vida de alguém? Desenvolver suas capacidades de interação? Desenvolvimento afetivo? Aprender a socializar? Obter informações sobre a vida de outras pessoas (seres humanos) e com base nessas evitar os erros e ser uma pessoa melhor? É essa a utilidade de se ouvir uma fofoquinha? É por esse motivo? São por esses motivos que perdemos horas de nosso dia fazendo essas atividades ou por que elas nos dão prazer? Elas nos dão prazer imenso. Por isso fazemos isso. Engraçado que quando chegamos na sala de aula cobramos utilidade das disciplinas, não é? Passamos o dia fazendo o que nos dá prazer e quando chegamos em sala queremos utilidade! Os inúteis em busca da utilidade? Não faz sentido, não é mesmo?



Bom, mas vamos deixar isso de lado e fingir que a realidade é outra.



Quando ouço meus alunos falar em utilidade procuro pensar o que querem dizer com isso. Geralmente, costumam usar outra frase: “pra que que eu quero saber disso? de que isso me servirá?“. O aluno acredita que ser útil significa servir para alguma coisa. Servir para fazer algo. Como um manual de instruções (quantos alunos lêem manuais de instrução, hein?!), que lhe serve para aprender a instalar um aparelho de DVD, por exemplo. Precisamos saber qual objetivo que o aluno procura. No caso do DVD o objetivo é colocá-lo para funcionar para assistir DVD’s. No caso do aluno e sua vida qual é o objetivo? Para qual objetivo os conhecimentos aprendidos na escola podem lhe servir? Inúmeros. Realmente, inúmeros. Por exemplo, o aluno pode aprender a escrever de maneira excelente (lendo livros e praticando bastante, levando para a professora ou professor de português toda semana um texto, ou uma poesia) e com isso fazer cartinhas de amor belíssimas para aquelas pequenas lindas que ele deseja conquistar. Com português o aluno pode fazer uma ótima redação, ou uma carta de apresentação para um emprego. Pode aprender um número imenso de palavras e dominar a rima e com isso se tornar um grande rapper, ou um ótimo compositor. Pode ainda aprender a ler jornais muito bem e se informar sobre o que acontece. Pode ensinar outras pessoas a ler e a escrever. Poderá se tornar um grande escritor, ou jornalista. Ser um grande corretor de textos. Ou um blogueiro de sucesso (blogueiro é aquele que escreve em blogs). Ou alguém que é capaz de escrever um protesto do seu bairro sobre a falta de água, ou a falta de luz, ou sobre o aumento da violência. Ou alguém que é capaz de escrever a história do bairro, ou da sua família, etc. Vejam que utilidades não faltam. Basta saber o fim, o objetivo.



No caso da filosofia, os objetivos a serem alcançados podem ser outros. A filosofia te ajuda a pensar melhor. O que isso significa? Com a filosofia você fica mais atento a como as pessoas usam as palavras e os conceitos. Vejam só o que estou fazendo com o conceito de utilidade. Estou tentando entender o que as pessoas querem dizer com isso e quais as conseqüências de se dizer isso (bom, isso supondo que o que estou fazendo aqui tem algo de filosófico, não é? isso pode ser falso). Pensar melhor, então significa estar mais atento ao uso dos conceitos. Por exemplo, o conceito de política. Será que política é sempre algo ruim? Política é sinônimo de podridão, corrupção, lixo? Desde que foi inventada (aliás ela foi inventada ou sempre existiu?) foi com o objetivo de ser algo podre que todos detestassem? Existirá outro tipo de política? Como deveria ser a política? Política é somente aquilo que os políticos fazem? Quais os objetivos da política? Por que não podemos acabar de vez com esse troço? Será que seria ruim não ter mais política? Qual é a origem da palavra política? Que tipos de política que existem? Em todo país é igual?; Ao nos colocarmos essas perguntas e tentar respondê-las estamos pensando sobre o conceito de política. Isso nos ajuda a formar uma opinião sobre conceito de política. Nos ajuda a pensar melhor sobre isso, a entender melhor, a ser críticos quando lemos a palavra política.



Qual o objetivo de aprendermos uma matéria em sala de aula? Geralmente, o único objetivo, infelizmente, é ir bem nas provas. É essa a utilidade. Apenas essa, para a maioria dos alunos. Depois no terceirão ou nos cursinhos de pré-vestibular o objetivo de se estudar é passar no vestibular. Essa é a utilidade. Imaginem só se a utilidade de se aprender um assunto seja não a prova, não o vestibular, simplesmente, mas conhecer melhor as coisas. Não seria muito mais interessante? E MAIS! Vamos imaginar que conhecer melhor as coisas fosse tão prazeroso quanto as horas infinitas que passamos no MSN, orkut, ou com os amigos ou namorando, ou na frente da TV? Não seria fantástico? Além de aprendermos muito mais e com muito mais prazer tenho certeza que nosso desempenho nos vestibulares e provas aumentaria muitíssimo e tudo isso nos faria pessoas muito mais interessantes e inteligentes, não acham?



Podem ler aqui também sobre utilidade da filosofia. Textos bons e nem tão bons assim:



http://filosofafi.blogspot.com/2008/03/para-que-filosofia.html Dona Marilena no seu Convite à Filosofia.



Pra que serve a filosofia? Simon Blackburn – http://criticanarede.com/html/fa_10excerto.html



De onde surge a filosofia? Colin McGinn http://aartedepensar.com/leit_mcginn.html



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educação, Filosofia, prazer, utilidade

« O que é ciência? Algumas causas do insucesso escolar »Uma resposta

Leandro Damasio, em 25 de agosto de 2009 às 2:15 am disse:

Realmente não é fácil quantificar a utilidade do estudo da filosofia. Mais difícil ainda é negar essa utilidade. Então, não estudemos tanto para uma função específica, mas, sim, com prazer estético e contemplativo, que por si vale mais do que qualquer utilidade.



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