segunda-feira, 29 de outubro de 2012

OR QUE O NÍVEL ELEVADO DE REJEIÇÃO À MATEMÁTICA

MATEMÁTICA: POR QUE O NÍVEL


ELEVADO DE REJEIÇÃO?

Franciele Tatto1

Ivone José Scapin2

RESUMO: Descobrir as causas internas e externas da rejeição que muitos

alunos enfrentam ao estudar a Matemática é o objetivo da pesquisa

“Matemática: Por que o nível elevado de rejeição?”. Após a revisão teórica

na História da Matemática e na área da Psicanálise e realizadas algumas

entrevistas com professores, alunos e pais bem sucedidos nesta disciplina,

bem como, com outros que apresentam dificuldades, já é possível apontar

algumas destas causas e levantar algumas alternativas de intervenção, a

fim de modificar o atual contexto desfavorável à aprendizagem da

Matemática.

PALAVRAS-CHAVE: Matemática, rejeição e causas.

ABSTRACT: To discover the internal and external causes of the rejection

that many pupils face when studying the Mathematics is the objective of

the research “Mathematics: Why the high level of rejection”. After the

1 Bolsista do projeto PIIC/URI e acadêmica do curso de Matemática da URI – Campus

de Frederico Westphalen/RS. mat06838@al.fw.uri.br

2 Orientador do projeto – Mestre em Educação Brasileira – UFSM – Professor da

Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI – Campus

de Frederico Westphalen.

revision theoretical in the History of the Mathematics and the area of the

Psychoanalysis and carried through some interviews with successful

teachers, pupils and parents in the it disciplines, as well as, with others that

present difficulties, already is possible to point some of these causes and

to raise some alternatives of intervention, in order to modify the current

unfavorable context to the learning of the Mathematics.

KEY-WORD: Mathematics, rejection and causes.

INTRODUÇÃO

No convívio com os alunos, percebe-se, empiricamente, o fenômeno

da rejeição que ocorre quando se deparam com a disciplina de

Matemática. Em todos os níveis de ensino, desde o aluno que ingressa

nos primeiros anos, até o ensino superior, encontramos esta rejeição na

afirmação de que a Matemática é difícil.

Seguidamente, estudantes escolhem profissões, nas quais,

necessariamente, não envolva o raciocínio matemático. Os professores já

têm presente esta situação de dificuldade e procuram, através da ação

pedagógica, incentivar, criar métodos novos e diversificar ações no sentido

de reverter esta situação. Porém, há uma idéia já pré-concebida de que a

Matemática é uma matéria difícil, que exige muito esforço e que poucos

realmente aprendem. Há um bloqueio inconsciente no uso do raciocínio

mental e, conseqüentemente, com a Matemática, como ciência que exige

raciocínio e reflexão.

Desta forma, a pesquisa surgiu da necessidade de descobrir as causas

internas, não aparentes, enraizadas nos contextos familiares, escolares ou

sociais, que requerem um estudo minucioso de elementos intervenientes

na aprendizagem. Assim, como é necessário buscar elementos dispersantes,

nos meios de comunicação, costumes e provérbios, aparentemente

inofensivos. Pesquisar em todo o contexto do aluno as variáveis que

colaboram na formação da atitude de rejeição, porque elas não se

manifestam claramente, mas estão disseminadas nas ações e contribuem

para uma atitude final de rejeição. Descobrir a causa anterior ao

discernimento que estruturou um comportamento posterior, solidificou e

se apresenta como uma atitude de rejeição. Sem a compreensão desta

causa, dificilmente haverá mudança de atitude frente à Matemática.

Opresente trabalho está dividido em cinco partes para uma melhor

compreensão.

Com relação a primeira parte, busca-se encontrar na História da

Matemática algumas das causas desta rejeição. Causas que podem ter

sido passadas de geração para geração de forma inconsciente ou

consciente.

Asegunda parte versa sobre as causas que a Psicanálise aponta.

Causas relacionadas com a própria pessoa, ou com o meio em que ela

vive.

Aterceira parte busca encontrar as causas desta rejeição que podem

estar relacionadas, indiretamente, com a influência da mídia sobre a pessoa.

Aquarta parte constitui-se na análise das entrevistas realizadas com

professores, pais e alunos bem sucedidos e com outros que apresentam

dificuldades, a fim de encontrar as causas da rejeição à Matemática.

Por fim, constituindo-se a quinta e última parte do trabalho,

apresentamos as considerações finais, ou seja, algumas das causas da

rejeição à Matemática, que puderam ser concluídas a partir do estudo

realizado e também são sugeridas algumas alternativas de intervenção que

podem ser tomadas, para que ocorra uma intenção no atual contexto

desfavorável à aprendizagem da Matemática.

1 HISTÓRIA DA MATEMÁTICA

Através da análise realizada na História da disciplina em questão é

possível perceber que ela não surgiu por acaso, mas sim da necessidade

que o homem encontrou em desenvolver a agricultura e a pecuária durante

oNeolítico (idade da pedra polida - 10000 a.C.).

Como a sociedade foi ficando cada vez mais complexa, a cultura se

acumulou, assim a Matemática foi se desenvolvendo ainda mais, mas

sempre com um sentido prático, ligada ao dia-a-dia.

No desenvolvimento da Matemática surgiram grandes nomes, que

desenvolveram um papel muito importante, como Pitágoras e Platão, mas

também existiram outras pessoas que tentaram desenvolver a Matemática

nesta época, só que não obtiveram sucesso devido às dificuldades que

tinham com a mesma e, conseqüentemente, não gostaram dela. Com isso,

muitos desistiram de tentar e optaram por estudar outros ramos de

conhecimento, outras ciências. Assim, constatamos que desde o surgimento

da Matemática, muitos tinham problemas com ela.

No século VI a.C., a Aritmética e a Geometria começaram a ser

tratadas como ciências, então, nesta época começaram a aparecer os

filósofos de Pitágoras (pessoas que pretendiam pertencer ao Instituto de

Pitágoras - nesta época a Matemática era vista com caráter religioso).

Para o candidato pertencer ao Instituto de Pitágoras era obrigado a

passar a noite em uma caverna que havia nas proximidades da cidade,

onde se lhe fazia crer que existiam monstros e se davam aparições. Aqueles

que não tivessem coragem para suportar as impressões fúnebres da solidão

e que se recusassem a entrar na caverna, ou que saíssem antes do

amanhecer, eram julgados incapazes para a iniciação e despedidos. A

prova moral era mais séria. Bruscamente, sem preparação prévia, o

candidato (o discípulo) era trancado em uma cela, onde deveria descobrir

o sentido de um dos símbolos pitagóricos, por exemplo: “Que significa o

triângulo inscrito em círculo?” ou “Por que é que o dodecaedro

compreendido na esfera é a cifra do universo?”. O candidato passava

doze horas trancado nesta cela tentando decifrar o seu problema, sem

outra companhia a mais que um vaso com água e pão seco. Após as doze

horas ele era conduzido a uma sala, com a presença de todos os noviços

reunidos, que nessa circunstância, tinham ordem de zombarem sem piedade

do infeliz, o qual, aborrecido e com fome, parecia um criminoso. Irritado

pela gozação, humilhado por não ter podido decifrar o enigma

incompreensível, deveria fazer um esforço enorme para conter-se.

Alguns choravam de raiva; outros, fora de si mesmos,

partiam com furor a ardósia, cobrindo de injúrias a

escola, o mestre e os seus discípulos. Pitágoras

aparecia então e dizia, cheio de calma, ao moço, que

tendo ele suportado tão mal a prova do amor-próprio,

lhe pedia para não voltar mais a uma escola, de que

fazia uma opinião tão má, e na qual a amizade e o respeito

do mestre deveriam constituir virtudes elementares. O

candidato expulso retirava-se envergonhado,

tornando-se por vezes um inimigo irredutível da

ordem.(SCHURÉ, 1986, p. 55).

Assim como os candidatos pitágoricos, muitos alunos hoje passam

por provas, as quais têm a finalidade de avaliá-los, para daí promovê-los

à série seguinte ou reprová-los. Neste contexto, pode-se compreender

Pitágoras como sendo ele um dos primeiros colaboradores para o mito

da dificuldade da Matemática, já que sua doutrina foi reformulada, em

outra posição pedagógica. Além disto, Pitágoras pode ser considerado

um dos primeiros professores, iguais a muitos que ainda existem, os quais

têm por objetivo, passar ao aluno a idéia de que a Matemática é só eles

que sabem e que se o aluno quiser aprender também, terá que se esforçar

muito e ser muito bom, desenvolvendo nele certa aversão à disciplina.

2 PSICANÁLISE

Segundo a Psicanálise que surgiu com Sigmund Freud, no final do

século XIX, nada acontece por acaso: o que chamamos de Determinismo

Psíquico. Isto significa que não existe uma descontinuidade na vida mental

do ser humano. Há sempre uma causa para cada pensamento, para cada

memória revivida, para cada sentimento e para cada ação, assim como há

uma causa para a rejeição à Matemática.

Segundo Freud, o homem vive em busca do prazer, tudo o que ele

faz é em busca disso, caso algo que ele faça não lhe proporcione prazer,

passa, então, a rejeitá-lo:

“... o curso tomado pelos eventos mentais está

automaticamente regulado pelo princípio de prazer, ou

seja, acreditamos que o curso desses eventos é

invariavelmente colocado em movimento por uma

tensão desagradável e que toma uma direção tal, que

seu resultado final coincide com uma redução dessa

tensão, isto é, com uma evitação de desprazer ou uma

produção de prazer.” (1969, p. 17, v. 18).

Assim, estudar e utilizar a Matemática pode oferecer ou não prazer.

Em caso de não proporcionar prazer, levará a pessoa a não gostar dela, a

rejeitá-la.

Muitos fatores podem proporcionar prazer ao aluno que estuda

Matemática, como por exemplo, uma aula motivadora, conteúdos práticos,

apoio familiar, etc.

A motivação pode ser ativada e regulada pela pessoa

(intrínseca) ou pelo ambiente (extrínseca). Quando

ativada por motivos internos (curiosidade, fome, fadiga,

medo) é auto-regulada. Quando motivada por fatores

externos (dinheiro, elogios, notas, críticas), é regulada

pelo ambiente. (OLIVEIRA; CHADWICK, 2001, p. 62).

A motivação para aprender é um fator de grande importância.

Quanto mais motivado o aluno, mais disposição terá para aprender e

melhores serão seus resultados. Uma parte importante dessa motivação

reside no interesse do aluno naquilo que está aprendendo. Por isso, muitos

especialistas em aprendizagem enfatizam a importância do significado e

dos conteúdos para o aluno. Por exemplo, em uma aula, onde é ensinado

ao aluno a divisão de um polinômio de grau cinco por um polinômio de

grau quatro, situação esta, não presente no quotidiano do aluno, situação

que ele não pode perceber e nem aplicar no seu dia-a-dia, fará com que

ele perca o interesse pela matéria. Assim, torna-se importante que o aluno

aprenda algo que tenha realmente valor para sua vida. Nessas

circunstâncias, ele aprende melhor e passa a gostar mais, caso contrário,

não somente perderá o interesse, mas, provavelmente, desenvolverá

aversão ao conteúdo e, conseqüentemente, à matéria (Matemática).

Oprofessor é o elemento fundamental para assegurar um ambiente

em que os alunos desenvolvam sua motivação intrínseca. O professor é

responsável por conduzir os alunos de maneira que a aula se torne

agradável, motivadora, ligada ao dia-a-dia do aluno, etc. Para isso ele

deve estar sempre em constante aperfeiçoamento, dominar o conteúdo,

gostar realmente do que está fazendo, ser um desafiador, ter uma boa

formação, estar sempre aberto ao diálogo, entre outros, pois quando os

alunos aprendem devido à sua curiosidade, ao seu interesse, ao desejo de

enfrentar novos desafios, eles ficam satisfeitos com o processo educacional

e passam a gostar e se interessar mais pela aula, pelo conteúdo e pela

matéria.

Quanto mais intrínseca a motivação, mais poderosa. Mas é inevitável

reconhecer que os interesses não são inatos - a pessoa não nasce gostando

de Álgebra ou Geometria. Muitos interesses não vêm formados desde o

berço, são desenvolvidos em contato com o mundo, sobre tudo por meio

da família, especialmente pelos pais e familiares mais próximos que

convivem no ambiente quotidiano.

Freud, seguramente o primeiro teórico do desenvolvimento da

personalidade, destaca a importância dos primeiros anos de vida na

formação e estruturação da personalidade. Neste, a personalidade da

pessoa já se apresenta bem formada e nos anos seguintes acontece a

elaboração desta estrutura. Em suas pesquisas tratava de levar os seus

pacientes à vivência de sua primeira infância. As vivências ali ocasionadas

eram decisivas para a formação posterior de doenças. Para Freud, “os

cinco primeiros anos da vida são decisivos na formação da personalidade.”

(apud, HALL; LINDZEY, 1973, p. 66). Os desejos reprimidos ou

frustrações na infância permanecem de forma latente, muitas vezes

inconscientes, que se manifestam posteriormente em comportamentos

inadequados. O bebê necessita de um ambiente protetor por parte dos

que são mais próximos, para realizarem experiências positivas. “De início,

observou-se apenas que os efeitos das experiências presentes tinha que

ser a algo passado... as pistas conduziram ainda mais para trás, à infância

e aos seus primeiros anos.” (FREUD, 1974, p. 27, vol. 6).

Assim, a criança, assimilando o ambiente em que vive, realiza a

identificação, incorporando à sua personalidade os papéis exercidos pelos

pais ou outras pessoas próximas, a estruturação final da personalidade

representa o acúmulo de diversas identificações. Durante os primeiros

anos a criança identifica-se com outros, conforme seu desejo. As

identificações não acontecem apenas a nível de atos, mas também a nível

de desejos, interesses, frustrações, desejos, traumas e comportamentos

almejados, na maioria das vezes de forma inconsciente, o que dificulta

ainda mais o seu conhecimento. “Mas o impulso desejoso continua a existir

no inconsciente à espreita de oportunidades para se revelar, concede a

formação de um substituto do reprimido... para lançar à consciência.”

(FREUD, 1969, p. 37, vol. 7).

As experiências positivas ou negativas no convívio familiar e escolar

no uso dos números, ou mesmo o próprio descaso pode marcar

indelevelmente a criança e estruturar um sentimento de rejeição que se

manifesta conscientemente no momento que ingressa na escola. Determina

um comportamento de rejeição, antes do discernimento pessoal. Por

exemplo, quando uma criança, antes mesmo de ingressar em uma escola,

ouve os pais, irmãos ou amigos mais velhos falar que a Matemática é

difícil e que não gostam dela, esta criança mentaliza isto inconscientemente

e, quando inicia sua vida escolar e tem seus primeiros contatos com a

Matemática, ao encontrar obstáculos e dificuldades, torna aquela idéia

que ela tinha, inconscientemente, mentalizada sobre a Matemática

consciente e passa, então, a concluir como seus pais, irmãos ou amigos,

que a Matemática é realmente difícil, desenvolvendo um sentimento de

rejeição a ela.

Arejeição à Matemática pode estar relacionada aos mecanismos

de defesa, pois como cita Braghirolli:

...o indivíduo frustado pode reagir com inquietação,

agressão, apatia, fantasia, estereotipia e regressão. Mas

há outras formas de se tentar resolver os problemas

ligados aos conflitos, frustrações e ansiedades. São

os mecanismos de defesa. São assim chamados, porque

visam proteger a auto-estima do indivíduo e eliminar o

excesso de tensão e ansiedade. (...) A principal função

dos mecanismos de defesa é ajudar-nos a manter a

ansiedade e a tensão em níveis que não sejam tão

dolorosos para nós. (..) Segundo Freud os mecanismos

de defesa são inconscientes. (et al., 1995, p. 195).

Assim, o aluno para reduzir esta frustação quanto à Matemática

que pode ocasionar esta rejeição, ele passa a utilizar os mecanismos de

defesa, mais especificamente ao mecanismo da projeção ou transferência.

A projeção é o ato de atribuir a uma outra pessoa, animal ou objeto as

qualidades, sentimentos ou intenções que se originam em si próprio. É um

mecanismo de defesa através do qual os aspectos da personalida de de

um indivíduo são deslocados de dentro deste para o meio externo. Assim,

se o aluno não tem um bom relacionamento com o professor, ou seja, não

gosta do professor de Matemática, ele pode projetar, transferir este

sentimento de rejeição, de não gostar do professor, para o que o professor

gosta e faz, ou seja, da aula e da matéria (Matemática).

3 INFLUÊNCIAS DA MÍDIA

Adificuldade de aprender Matemática é uma constante, desde o

ensino fundamental até o ensino superior. Um número elevado de alunos

sente forte rejeição e se predispõe a não lidar prazerosamente com as

disciplinas que exigem reflexão, raciocínio. Alguns até escolhem profissões

nas quais a Matemática não esteja presente, antes mesmo de conhecer

suas aptidões e interesses.

A escola e os professores têm presente esta situação e,

freqüentemente, adotam posturas criativas e atitudes inovadoras no intuito

de dar uma resposta adequada a esta situação.

Os pais, interessados no crescimento pessoal de seus filhos, sugerem

atitudes, até enérgicas como solução. Os meios de comunicação alardeiam

cursos e técnicas mirabolantes para aprender Matemática com sucesso e

sem muito esforço. Os técnicos preparam cursos, metodologias e atividades

de incentivo com o objetivo de minimizar o desconforto dos pais,

professores e dos próprios alunos.

Contudo, este esforço, este excesso de estímulos externos não

consegue fazer mudança de atitude no aluno. Apenas um reduzido número

de alunos gostam e tem sucesso no estudo da Matemática.

Os estímulos internos, os meios de comunicação e as técnicas,

usadas em abundância, plasmam a memória da passividade. Concursos,

testes e maratonas priorizam o uso da memória, realçando fatos, dados,

cifras, nomes que devem ser retidos e expostos. Até escolas priorizam e

louvam alunos que apresentam facilidades e desenvoltura na memorização.

Observando noticiários, enquetes e conversas nota-se, claramente,

que falam sobre a escalação de times, de esportes mais variados, nomes

de craques, fatos, partidas, marcas, escores, recordes, interessantes sim,

mas tudo exige retenção de memória.

Ouve-se música com seus ritmos e letras decoradas, sem saber o

que elas significam ou sua funcionalidade. Cultiva-se a moda, sabe-se os

nomes dos astros e estrelas, das músicas e bebidas. É a cultura do externo,

da memória, dos estímulos em detrimento do raciocínio, da reflexão.

Aprender e acompanhar os fatos, sabê-los de cor é mais agradável e não

exige relacionar, aplicar, concluir.... Assim, passamos a aceitar tudo o que

nos é imposto, o que nos é transmitido pela mídia e pela sociedade, sem

fazer qualquer análise. Desenvolvemos a nossa capacidade de

memorização, desprezando a análise, a valorização do raciocínio e

passamos a aceitar a realidade que a mídia cria, como cita Pedrinho

Guareschi:

A conclusão a que chegamos é a de que uma coisa

existe, ou deixa de existir, na medida em que é

comunicada, veiculada. É por isso, conseqüentemente,

que a comunicação é duplamente poderosa: tanto

porque pode criar realidades, como porque pode deixar

que existam pelo fato de serem silenciadas. (1993, p.

14).

Sendo assim, quando o aluno se depara com situações que exigem

raciocínio, como é o caso da Matemática, devido a toda essa passividade

que é desenvolvida, principalmente pela mídia, o aluno passa a criar uma

certa acomodação, desenvolvendo, então, a atitude de rejeição à disciplina,

pois ela exige entendimento e raciocínio e não memorização, que é o que

ele sabe e tem facilidade de fazer.

4 ABUSCA DAS CAUSAS DESTA REJEIÇÃO NA PRÁTICA

Durante o desenvolvimento desta pesquisa, também foram realizadas

algumas entrevistas com alunos, professores e pais, cujos alunos e filhos

têm baixo índice de rendimento na Matemática, bem como pais e alunos

que realmente conseguem trabalhar com os conceitos matemáticos de

modo prazeroso, para constatar quais são as causas que levam algumas

pessoas a gostar e outras não da Matemática.

Após a coleta de dados, foi realizada uma confrontação dos dados

recolhidos dos alunos que apresentam dificuldades com os que são bem

sucedidos, bem como de seus pais e contexto, e à luz da base teórica,

utilizando-se a fenomenologia comparativa, a qual busca as causas e as

consequências estudando o fenômeno (fato), estudando a rejeição em si

(a origem).

Durante as entrevistas alguns alunos disseram que não gostam da

Matemática, pois nas aulas aprendem conteúdos que nunca vão ocupar,

conteúdos que não têm aplicação prática, assim podemos observar o

quanto é importante que o professor relacione os conteúdos matemáticos

à prática, para que desperte no aluno maior interesse em estudar

Matemática.

Alguns alunos afirmam que nunca foram bem em Matemática, sempre

tiveram dificuldades e por isso não gostam dela, já outros alunos afirmam

que gostam porque sempre foram bem. Ao analisar o histórico escolar

destes alunos, pôde-se observar que realmente os que disseram que nunca

foram bem, tinham notas baixas em Matemática desde os primeiros anos

da sua vida escolar e os alunos que disseram que sempre foram bem,

tinham desde os seus primeiros contatos com a Matemática, boas notas.

Assim, podemos constatar que as primeiras experiências com a Matemática

pode ser um fator de grande influência, pois se o aluno desde o início está

tendo notas baixas ele pode se julgar incapaz, desmotivado a aprender,

pois não consegue atingir bons resultados.

Outros alunos falam que não gostam da Matemática porque não

gostam do professor, por ele não animar e motivar as aulas, ou ainda por

outros motivos. Assim, podemos observar a transferência do não gostar

do professor para o não gostar da matéria que ele ensina, Matemática.

Durante as entrevistas alguns alunos admitiram que não gostam da

Matemática devido a alguns conteúdos exigirem raciocínio, eles preferem

outras disciplinas que basta apenas decorarem alguns conceitos para irem

bem em provas e trabalhos, demonstrando assim que o excesso do uso

do uso memória, pode levar o aluno a criar uma certa acomodação,

fazendo com que ele não goste de situações que exijam raciocínio e não

apenas memorização.

Alguns dos professores entrevistados afirmam que os alunos não

têm interesse em aprender, ou ainda, que não têm o apoio dos pais, o que

émuito importante para que o aluno estude e que em geral eles se esforçam

para motivar os alunos.

Nas entrevistas com pais, o caso que mais chamou a atenção foi

um em que o pai era professor de Matemática e o filho não gostava da

Matemática, ao questionar o pai e o filho, pôde-se perceber que o pai

cobrava muito do filho, quanto à Matemática, ele esperava que seu filho

fosse melhor aluno de Matemática da turma e para isso obrigava o filho a

estudar muito, não deixando um tempo para o filho se divertir, descansar,

etc.

Em algumas entrevistas foi possível observar casos onde os pais

não gostavam da Matemática e o filho também. Nestes casos ocorre uma

transferência, onde o filho para agradar os pais passa a não gostar do que

eles também não gostam. Também os pais neste caso, ao falar que a

Matemática é difícil ou que ela tem conteúdos inúteis, passam para o filho,

inconscientemente, esta idéia que o filho poderá torná-la consciente a partir

do momento em que se deparar com qualquer dificuldade na Matemática.

Através das entrevistas pôde-se observar que em alguns casos desta

rejeição pode existir mais de uma causa, já em outros apenas uma, sendo

que estas causas podem estar mais ou menos presentes. Assim, através

das respostas dadas nas entrevistas foi possível constatar que realmente

as causas da rejeição podem estar ligadas diretamente com o meio em

que o aluno vive, ou seja, com os pais, professores e amigos, pois estes

influenciam o aluno, tanto de maneira consciente como de maneira

inconsciente.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após realizar diversas leituras, entrevistas e análises, pôde-se

concluir e constatar que as causas da rejeição à Matemática são ou estão

relacionadas à idéia pré-concebida de que a Matemática é difícil pelas

experiências negativas passadas, à falta de interesse e a uma auto-imagem

negativa que o aluno tem de si próprio, à falta de apoio familiar, à falta de

motivação devido aos conteúdos não terem uma aplicação prática, à falta

de incentivos de alguns professores e à formação não específica, ao

relacionamento humano em conflito, ao condicionamento, à passividade e

ao uso da memória em detrimento do raciocínio, podendo estas causas

ser extrínsecas ou intrínsecas aos alunos.

Apartir destas causas, foi possível fazer uma análise, onde se pôde

levantar algumas alternativas de intervenção que, principalmente, os

professores podem tomar para que haja uma atitude de mudança quanto

esta rejeição frente aos conhecimentos matemáticos:

• fazer uma reflexão e uma auto-avaliação da nossa prática

pedagógica e estar sempre em formação contínua;

• conhecer a realidade sócio-econômica dos alunos. A baixa

escolaridade dos pais e o meio, podem ser fatores de influência e de

decissão para a continuidade da escolaridade dos filhos;

• conhecer e entender os condicionamentos psíquicos, mecanismos

de defesa, experiências negativas, persuasão do meio ditados inofensivos

para não reforçá-los nos alunos;

• desafiar o aluno a superar o comum, propondo criatividade, arrojo

e superação;

• detectar e combater as lacunas de aprendizagem existentes na

turma e em particular, em cada aluno;

• adequar as estratégias, materiais e metodologias à realidade de

cada turma e da comunidade em que estão inseridas;

• estabelecer conexões matemáticas entre os novos conceitos e os

que já foram estudados, assim como com a História da Matemática;

• promover laços de afetividade entre o professor e o aluno que

ajudarão o aluno a aproximar-se do professor de Matemática e

conseqüentemente da Matemática;

• fazer a ligação entre a Matemática teórica e a Matemática prática.

Portanto, é possível que se faça uma intervenção nas mesmas, sendo

que o principal agente para que isso ocorra, é o professor. Assim, é

necessário que haja, principalmente uma mudança na forma de educar,

uma mudança que desperte no aluno o interesse e a motivação em aprender

aMatemática, para que ele possa, assim, despertar o gosto pela mesma.

PRINCIPAIS REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRAGHIROLLI, Elaine Maria et al. Psicologia Geral. Porto Alegre:

Vozes, 1990.

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FREUD. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1969.

GUARESCHI, Pedrinho A. (org). Comunicação & Controle Social.

Petrópolis: Vozes, 1993.

HALL, Calvin Springer; LINDZEY, Gardner. Teorias da Personalidade.

São Paulo: EPU, 1973.

OLIVEIRA, João Batista Araújo; CHADWICK, Clifton. Aprender e

Ensinar. São Paulo: Global, 2001.

PARRA, Cecilia. (org). Didática da Matemática: Reflexões

Psicopedagógicas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

SCHURÉ, Édouard. Os Grandes Iniciados: Pitágoras. São Paulo:

Martin Claret Ed., 1996.

TENÓRIO, Robinson Moreira. Aprendendo Pelas Raízes: Alguns

Caminhos da Matemática na História. Salvador: Centro Editorial e Didático

da UFBA, 1995.

Recebido em abril de 2004

Aprovado em junho de 2004     COPYRIGHT AUTOR DO TEXTO.

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