MATEMÁTICA: POR QUE O NÍVEL
ELEVADO DE REJEIÇÃO?
Franciele Tatto1
Ivone José Scapin2
RESUMO: Descobrir as causas internas e externas da rejeição que muitos
alunos enfrentam ao estudar a Matemática é o objetivo da pesquisa
“Matemática: Por que o nível elevado de rejeição?”. Após a revisão teórica
na História da Matemática e na área da Psicanálise e realizadas algumas
entrevistas com professores, alunos e pais bem sucedidos nesta disciplina,
bem como, com outros que apresentam dificuldades, já é possível apontar
algumas destas causas e levantar algumas alternativas de intervenção, a
fim de modificar o atual contexto desfavorável à aprendizagem da
Matemática.
PALAVRAS-CHAVE: Matemática, rejeição e causas.
ABSTRACT: To discover the internal and external causes of the rejection
that many pupils face when studying the Mathematics is the objective of
the research “Mathematics: Why the high level of rejection”. After the
1 Bolsista do projeto PIIC/URI e acadêmica do curso de Matemática da URI – Campus
de Frederico Westphalen/RS. mat06838@al.fw.uri.br
2 Orientador do projeto – Mestre em Educação Brasileira – UFSM – Professor da
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI – Campus
de Frederico Westphalen.
revision theoretical in the History of the Mathematics and the area of the
Psychoanalysis and carried through some interviews with successful
teachers, pupils and parents in the it disciplines, as well as, with others that
present difficulties, already is possible to point some of these causes and
to raise some alternatives of intervention, in order to modify the current
unfavorable context to the learning of the Mathematics.
KEY-WORD: Mathematics, rejection and causes.
INTRODUÇÃO
No convívio com os alunos, percebe-se, empiricamente, o fenômeno
da rejeição que ocorre quando se deparam com a disciplina de
Matemática. Em todos os níveis de ensino, desde o aluno que ingressa
nos primeiros anos, até o ensino superior, encontramos esta rejeição na
afirmação de que a Matemática é difícil.
Seguidamente, estudantes escolhem profissões, nas quais,
necessariamente, não envolva o raciocínio matemático. Os professores já
têm presente esta situação de dificuldade e procuram, através da ação
pedagógica, incentivar, criar métodos novos e diversificar ações no sentido
de reverter esta situação. Porém, há uma idéia já pré-concebida de que a
Matemática é uma matéria difícil, que exige muito esforço e que poucos
realmente aprendem. Há um bloqueio inconsciente no uso do raciocínio
mental e, conseqüentemente, com a Matemática, como ciência que exige
raciocínio e reflexão.
Desta forma, a pesquisa surgiu da necessidade de descobrir as causas
internas, não aparentes, enraizadas nos contextos familiares, escolares ou
sociais, que requerem um estudo minucioso de elementos intervenientes
na aprendizagem. Assim, como é necessário buscar elementos dispersantes,
nos meios de comunicação, costumes e provérbios, aparentemente
inofensivos. Pesquisar em todo o contexto do aluno as variáveis que
colaboram na formação da atitude de rejeição, porque elas não se
manifestam claramente, mas estão disseminadas nas ações e contribuem
para uma atitude final de rejeição. Descobrir a causa anterior ao
discernimento que estruturou um comportamento posterior, solidificou e
se apresenta como uma atitude de rejeição. Sem a compreensão desta
causa, dificilmente haverá mudança de atitude frente à Matemática.
Opresente trabalho está dividido em cinco partes para uma melhor
compreensão.
Com relação a primeira parte, busca-se encontrar na História da
Matemática algumas das causas desta rejeição. Causas que podem ter
sido passadas de geração para geração de forma inconsciente ou
consciente.
Asegunda parte versa sobre as causas que a Psicanálise aponta.
Causas relacionadas com a própria pessoa, ou com o meio em que ela
vive.
Aterceira parte busca encontrar as causas desta rejeição que podem
estar relacionadas, indiretamente, com a influência da mídia sobre a pessoa.
Aquarta parte constitui-se na análise das entrevistas realizadas com
professores, pais e alunos bem sucedidos e com outros que apresentam
dificuldades, a fim de encontrar as causas da rejeição à Matemática.
Por fim, constituindo-se a quinta e última parte do trabalho,
apresentamos as considerações finais, ou seja, algumas das causas da
rejeição à Matemática, que puderam ser concluídas a partir do estudo
realizado e também são sugeridas algumas alternativas de intervenção que
podem ser tomadas, para que ocorra uma intenção no atual contexto
desfavorável à aprendizagem da Matemática.
1 HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
Através da análise realizada na História da disciplina em questão é
possível perceber que ela não surgiu por acaso, mas sim da necessidade
que o homem encontrou em desenvolver a agricultura e a pecuária durante
oNeolítico (idade da pedra polida - 10000 a.C.).
Como a sociedade foi ficando cada vez mais complexa, a cultura se
acumulou, assim a Matemática foi se desenvolvendo ainda mais, mas
sempre com um sentido prático, ligada ao dia-a-dia.
No desenvolvimento da Matemática surgiram grandes nomes, que
desenvolveram um papel muito importante, como Pitágoras e Platão, mas
também existiram outras pessoas que tentaram desenvolver a Matemática
nesta época, só que não obtiveram sucesso devido às dificuldades que
tinham com a mesma e, conseqüentemente, não gostaram dela. Com isso,
muitos desistiram de tentar e optaram por estudar outros ramos de
conhecimento, outras ciências. Assim, constatamos que desde o surgimento
da Matemática, muitos tinham problemas com ela.
No século VI a.C., a Aritmética e a Geometria começaram a ser
tratadas como ciências, então, nesta época começaram a aparecer os
filósofos de Pitágoras (pessoas que pretendiam pertencer ao Instituto de
Pitágoras - nesta época a Matemática era vista com caráter religioso).
Para o candidato pertencer ao Instituto de Pitágoras era obrigado a
passar a noite em uma caverna que havia nas proximidades da cidade,
onde se lhe fazia crer que existiam monstros e se davam aparições. Aqueles
que não tivessem coragem para suportar as impressões fúnebres da solidão
e que se recusassem a entrar na caverna, ou que saíssem antes do
amanhecer, eram julgados incapazes para a iniciação e despedidos. A
prova moral era mais séria. Bruscamente, sem preparação prévia, o
candidato (o discípulo) era trancado em uma cela, onde deveria descobrir
o sentido de um dos símbolos pitagóricos, por exemplo: “Que significa o
triângulo inscrito em círculo?” ou “Por que é que o dodecaedro
compreendido na esfera é a cifra do universo?”. O candidato passava
doze horas trancado nesta cela tentando decifrar o seu problema, sem
outra companhia a mais que um vaso com água e pão seco. Após as doze
horas ele era conduzido a uma sala, com a presença de todos os noviços
reunidos, que nessa circunstância, tinham ordem de zombarem sem piedade
do infeliz, o qual, aborrecido e com fome, parecia um criminoso. Irritado
pela gozação, humilhado por não ter podido decifrar o enigma
incompreensível, deveria fazer um esforço enorme para conter-se.
Alguns choravam de raiva; outros, fora de si mesmos,
partiam com furor a ardósia, cobrindo de injúrias a
escola, o mestre e os seus discípulos. Pitágoras
aparecia então e dizia, cheio de calma, ao moço, que
tendo ele suportado tão mal a prova do amor-próprio,
lhe pedia para não voltar mais a uma escola, de que
fazia uma opinião tão má, e na qual a amizade e o respeito
do mestre deveriam constituir virtudes elementares. O
candidato expulso retirava-se envergonhado,
tornando-se por vezes um inimigo irredutível da
ordem.(SCHURÉ, 1986, p. 55).
Assim como os candidatos pitágoricos, muitos alunos hoje passam
por provas, as quais têm a finalidade de avaliá-los, para daí promovê-los
à série seguinte ou reprová-los. Neste contexto, pode-se compreender
Pitágoras como sendo ele um dos primeiros colaboradores para o mito
da dificuldade da Matemática, já que sua doutrina foi reformulada, em
outra posição pedagógica. Além disto, Pitágoras pode ser considerado
um dos primeiros professores, iguais a muitos que ainda existem, os quais
têm por objetivo, passar ao aluno a idéia de que a Matemática é só eles
que sabem e que se o aluno quiser aprender também, terá que se esforçar
muito e ser muito bom, desenvolvendo nele certa aversão à disciplina.
2 PSICANÁLISE
Segundo a Psicanálise que surgiu com Sigmund Freud, no final do
século XIX, nada acontece por acaso: o que chamamos de Determinismo
Psíquico. Isto significa que não existe uma descontinuidade na vida mental
do ser humano. Há sempre uma causa para cada pensamento, para cada
memória revivida, para cada sentimento e para cada ação, assim como há
uma causa para a rejeição à Matemática.
Segundo Freud, o homem vive em busca do prazer, tudo o que ele
faz é em busca disso, caso algo que ele faça não lhe proporcione prazer,
passa, então, a rejeitá-lo:
“... o curso tomado pelos eventos mentais está
automaticamente regulado pelo princípio de prazer, ou
seja, acreditamos que o curso desses eventos é
invariavelmente colocado em movimento por uma
tensão desagradável e que toma uma direção tal, que
seu resultado final coincide com uma redução dessa
tensão, isto é, com uma evitação de desprazer ou uma
produção de prazer.” (1969, p. 17, v. 18).
Assim, estudar e utilizar a Matemática pode oferecer ou não prazer.
Em caso de não proporcionar prazer, levará a pessoa a não gostar dela, a
rejeitá-la.
Muitos fatores podem proporcionar prazer ao aluno que estuda
Matemática, como por exemplo, uma aula motivadora, conteúdos práticos,
apoio familiar, etc.
A motivação pode ser ativada e regulada pela pessoa
(intrínseca) ou pelo ambiente (extrínseca). Quando
ativada por motivos internos (curiosidade, fome, fadiga,
medo) é auto-regulada. Quando motivada por fatores
externos (dinheiro, elogios, notas, críticas), é regulada
pelo ambiente. (OLIVEIRA; CHADWICK, 2001, p. 62).
A motivação para aprender é um fator de grande importância.
Quanto mais motivado o aluno, mais disposição terá para aprender e
melhores serão seus resultados. Uma parte importante dessa motivação
reside no interesse do aluno naquilo que está aprendendo. Por isso, muitos
especialistas em aprendizagem enfatizam a importância do significado e
dos conteúdos para o aluno. Por exemplo, em uma aula, onde é ensinado
ao aluno a divisão de um polinômio de grau cinco por um polinômio de
grau quatro, situação esta, não presente no quotidiano do aluno, situação
que ele não pode perceber e nem aplicar no seu dia-a-dia, fará com que
ele perca o interesse pela matéria. Assim, torna-se importante que o aluno
aprenda algo que tenha realmente valor para sua vida. Nessas
circunstâncias, ele aprende melhor e passa a gostar mais, caso contrário,
não somente perderá o interesse, mas, provavelmente, desenvolverá
aversão ao conteúdo e, conseqüentemente, à matéria (Matemática).
Oprofessor é o elemento fundamental para assegurar um ambiente
em que os alunos desenvolvam sua motivação intrínseca. O professor é
responsável por conduzir os alunos de maneira que a aula se torne
agradável, motivadora, ligada ao dia-a-dia do aluno, etc. Para isso ele
deve estar sempre em constante aperfeiçoamento, dominar o conteúdo,
gostar realmente do que está fazendo, ser um desafiador, ter uma boa
formação, estar sempre aberto ao diálogo, entre outros, pois quando os
alunos aprendem devido à sua curiosidade, ao seu interesse, ao desejo de
enfrentar novos desafios, eles ficam satisfeitos com o processo educacional
e passam a gostar e se interessar mais pela aula, pelo conteúdo e pela
matéria.
Quanto mais intrínseca a motivação, mais poderosa. Mas é inevitável
reconhecer que os interesses não são inatos - a pessoa não nasce gostando
de Álgebra ou Geometria. Muitos interesses não vêm formados desde o
berço, são desenvolvidos em contato com o mundo, sobre tudo por meio
da família, especialmente pelos pais e familiares mais próximos que
convivem no ambiente quotidiano.
Freud, seguramente o primeiro teórico do desenvolvimento da
personalidade, destaca a importância dos primeiros anos de vida na
formação e estruturação da personalidade. Neste, a personalidade da
pessoa já se apresenta bem formada e nos anos seguintes acontece a
elaboração desta estrutura. Em suas pesquisas tratava de levar os seus
pacientes à vivência de sua primeira infância. As vivências ali ocasionadas
eram decisivas para a formação posterior de doenças. Para Freud, “os
cinco primeiros anos da vida são decisivos na formação da personalidade.”
(apud, HALL; LINDZEY, 1973, p. 66). Os desejos reprimidos ou
frustrações na infância permanecem de forma latente, muitas vezes
inconscientes, que se manifestam posteriormente em comportamentos
inadequados. O bebê necessita de um ambiente protetor por parte dos
que são mais próximos, para realizarem experiências positivas. “De início,
observou-se apenas que os efeitos das experiências presentes tinha que
ser a algo passado... as pistas conduziram ainda mais para trás, à infância
e aos seus primeiros anos.” (FREUD, 1974, p. 27, vol. 6).
Assim, a criança, assimilando o ambiente em que vive, realiza a
identificação, incorporando à sua personalidade os papéis exercidos pelos
pais ou outras pessoas próximas, a estruturação final da personalidade
representa o acúmulo de diversas identificações. Durante os primeiros
anos a criança identifica-se com outros, conforme seu desejo. As
identificações não acontecem apenas a nível de atos, mas também a nível
de desejos, interesses, frustrações, desejos, traumas e comportamentos
almejados, na maioria das vezes de forma inconsciente, o que dificulta
ainda mais o seu conhecimento. “Mas o impulso desejoso continua a existir
no inconsciente à espreita de oportunidades para se revelar, concede a
formação de um substituto do reprimido... para lançar à consciência.”
(FREUD, 1969, p. 37, vol. 7).
As experiências positivas ou negativas no convívio familiar e escolar
no uso dos números, ou mesmo o próprio descaso pode marcar
indelevelmente a criança e estruturar um sentimento de rejeição que se
manifesta conscientemente no momento que ingressa na escola. Determina
um comportamento de rejeição, antes do discernimento pessoal. Por
exemplo, quando uma criança, antes mesmo de ingressar em uma escola,
ouve os pais, irmãos ou amigos mais velhos falar que a Matemática é
difícil e que não gostam dela, esta criança mentaliza isto inconscientemente
e, quando inicia sua vida escolar e tem seus primeiros contatos com a
Matemática, ao encontrar obstáculos e dificuldades, torna aquela idéia
que ela tinha, inconscientemente, mentalizada sobre a Matemática
consciente e passa, então, a concluir como seus pais, irmãos ou amigos,
que a Matemática é realmente difícil, desenvolvendo um sentimento de
rejeição a ela.
Arejeição à Matemática pode estar relacionada aos mecanismos
de defesa, pois como cita Braghirolli:
...o indivíduo frustado pode reagir com inquietação,
agressão, apatia, fantasia, estereotipia e regressão. Mas
há outras formas de se tentar resolver os problemas
ligados aos conflitos, frustrações e ansiedades. São
os mecanismos de defesa. São assim chamados, porque
visam proteger a auto-estima do indivíduo e eliminar o
excesso de tensão e ansiedade. (...) A principal função
dos mecanismos de defesa é ajudar-nos a manter a
ansiedade e a tensão em níveis que não sejam tão
dolorosos para nós. (..) Segundo Freud os mecanismos
de defesa são inconscientes. (et al., 1995, p. 195).
Assim, o aluno para reduzir esta frustação quanto à Matemática
que pode ocasionar esta rejeição, ele passa a utilizar os mecanismos de
defesa, mais especificamente ao mecanismo da projeção ou transferência.
A projeção é o ato de atribuir a uma outra pessoa, animal ou objeto as
qualidades, sentimentos ou intenções que se originam em si próprio. É um
mecanismo de defesa através do qual os aspectos da personalida de de
um indivíduo são deslocados de dentro deste para o meio externo. Assim,
se o aluno não tem um bom relacionamento com o professor, ou seja, não
gosta do professor de Matemática, ele pode projetar, transferir este
sentimento de rejeição, de não gostar do professor, para o que o professor
gosta e faz, ou seja, da aula e da matéria (Matemática).
3 INFLUÊNCIAS DA MÍDIA
Adificuldade de aprender Matemática é uma constante, desde o
ensino fundamental até o ensino superior. Um número elevado de alunos
sente forte rejeição e se predispõe a não lidar prazerosamente com as
disciplinas que exigem reflexão, raciocínio. Alguns até escolhem profissões
nas quais a Matemática não esteja presente, antes mesmo de conhecer
suas aptidões e interesses.
A escola e os professores têm presente esta situação e,
freqüentemente, adotam posturas criativas e atitudes inovadoras no intuito
de dar uma resposta adequada a esta situação.
Os pais, interessados no crescimento pessoal de seus filhos, sugerem
atitudes, até enérgicas como solução. Os meios de comunicação alardeiam
cursos e técnicas mirabolantes para aprender Matemática com sucesso e
sem muito esforço. Os técnicos preparam cursos, metodologias e atividades
de incentivo com o objetivo de minimizar o desconforto dos pais,
professores e dos próprios alunos.
Contudo, este esforço, este excesso de estímulos externos não
consegue fazer mudança de atitude no aluno. Apenas um reduzido número
de alunos gostam e tem sucesso no estudo da Matemática.
Os estímulos internos, os meios de comunicação e as técnicas,
usadas em abundância, plasmam a memória da passividade. Concursos,
testes e maratonas priorizam o uso da memória, realçando fatos, dados,
cifras, nomes que devem ser retidos e expostos. Até escolas priorizam e
louvam alunos que apresentam facilidades e desenvoltura na memorização.
Observando noticiários, enquetes e conversas nota-se, claramente,
que falam sobre a escalação de times, de esportes mais variados, nomes
de craques, fatos, partidas, marcas, escores, recordes, interessantes sim,
mas tudo exige retenção de memória.
Ouve-se música com seus ritmos e letras decoradas, sem saber o
que elas significam ou sua funcionalidade. Cultiva-se a moda, sabe-se os
nomes dos astros e estrelas, das músicas e bebidas. É a cultura do externo,
da memória, dos estímulos em detrimento do raciocínio, da reflexão.
Aprender e acompanhar os fatos, sabê-los de cor é mais agradável e não
exige relacionar, aplicar, concluir.... Assim, passamos a aceitar tudo o que
nos é imposto, o que nos é transmitido pela mídia e pela sociedade, sem
fazer qualquer análise. Desenvolvemos a nossa capacidade de
memorização, desprezando a análise, a valorização do raciocínio e
passamos a aceitar a realidade que a mídia cria, como cita Pedrinho
Guareschi:
A conclusão a que chegamos é a de que uma coisa
existe, ou deixa de existir, na medida em que é
comunicada, veiculada. É por isso, conseqüentemente,
que a comunicação é duplamente poderosa: tanto
porque pode criar realidades, como porque pode deixar
que existam pelo fato de serem silenciadas. (1993, p.
14).
Sendo assim, quando o aluno se depara com situações que exigem
raciocínio, como é o caso da Matemática, devido a toda essa passividade
que é desenvolvida, principalmente pela mídia, o aluno passa a criar uma
certa acomodação, desenvolvendo, então, a atitude de rejeição à disciplina,
pois ela exige entendimento e raciocínio e não memorização, que é o que
ele sabe e tem facilidade de fazer.
4 ABUSCA DAS CAUSAS DESTA REJEIÇÃO NA PRÁTICA
Durante o desenvolvimento desta pesquisa, também foram realizadas
algumas entrevistas com alunos, professores e pais, cujos alunos e filhos
têm baixo índice de rendimento na Matemática, bem como pais e alunos
que realmente conseguem trabalhar com os conceitos matemáticos de
modo prazeroso, para constatar quais são as causas que levam algumas
pessoas a gostar e outras não da Matemática.
Após a coleta de dados, foi realizada uma confrontação dos dados
recolhidos dos alunos que apresentam dificuldades com os que são bem
sucedidos, bem como de seus pais e contexto, e à luz da base teórica,
utilizando-se a fenomenologia comparativa, a qual busca as causas e as
consequências estudando o fenômeno (fato), estudando a rejeição em si
(a origem).
Durante as entrevistas alguns alunos disseram que não gostam da
Matemática, pois nas aulas aprendem conteúdos que nunca vão ocupar,
conteúdos que não têm aplicação prática, assim podemos observar o
quanto é importante que o professor relacione os conteúdos matemáticos
à prática, para que desperte no aluno maior interesse em estudar
Matemática.
Alguns alunos afirmam que nunca foram bem em Matemática, sempre
tiveram dificuldades e por isso não gostam dela, já outros alunos afirmam
que gostam porque sempre foram bem. Ao analisar o histórico escolar
destes alunos, pôde-se observar que realmente os que disseram que nunca
foram bem, tinham notas baixas em Matemática desde os primeiros anos
da sua vida escolar e os alunos que disseram que sempre foram bem,
tinham desde os seus primeiros contatos com a Matemática, boas notas.
Assim, podemos constatar que as primeiras experiências com a Matemática
pode ser um fator de grande influência, pois se o aluno desde o início está
tendo notas baixas ele pode se julgar incapaz, desmotivado a aprender,
pois não consegue atingir bons resultados.
Outros alunos falam que não gostam da Matemática porque não
gostam do professor, por ele não animar e motivar as aulas, ou ainda por
outros motivos. Assim, podemos observar a transferência do não gostar
do professor para o não gostar da matéria que ele ensina, Matemática.
Durante as entrevistas alguns alunos admitiram que não gostam da
Matemática devido a alguns conteúdos exigirem raciocínio, eles preferem
outras disciplinas que basta apenas decorarem alguns conceitos para irem
bem em provas e trabalhos, demonstrando assim que o excesso do uso
do uso memória, pode levar o aluno a criar uma certa acomodação,
fazendo com que ele não goste de situações que exijam raciocínio e não
apenas memorização.
Alguns dos professores entrevistados afirmam que os alunos não
têm interesse em aprender, ou ainda, que não têm o apoio dos pais, o que
émuito importante para que o aluno estude e que em geral eles se esforçam
para motivar os alunos.
Nas entrevistas com pais, o caso que mais chamou a atenção foi
um em que o pai era professor de Matemática e o filho não gostava da
Matemática, ao questionar o pai e o filho, pôde-se perceber que o pai
cobrava muito do filho, quanto à Matemática, ele esperava que seu filho
fosse melhor aluno de Matemática da turma e para isso obrigava o filho a
estudar muito, não deixando um tempo para o filho se divertir, descansar,
etc.
Em algumas entrevistas foi possível observar casos onde os pais
não gostavam da Matemática e o filho também. Nestes casos ocorre uma
transferência, onde o filho para agradar os pais passa a não gostar do que
eles também não gostam. Também os pais neste caso, ao falar que a
Matemática é difícil ou que ela tem conteúdos inúteis, passam para o filho,
inconscientemente, esta idéia que o filho poderá torná-la consciente a partir
do momento em que se deparar com qualquer dificuldade na Matemática.
Através das entrevistas pôde-se observar que em alguns casos desta
rejeição pode existir mais de uma causa, já em outros apenas uma, sendo
que estas causas podem estar mais ou menos presentes. Assim, através
das respostas dadas nas entrevistas foi possível constatar que realmente
as causas da rejeição podem estar ligadas diretamente com o meio em
que o aluno vive, ou seja, com os pais, professores e amigos, pois estes
influenciam o aluno, tanto de maneira consciente como de maneira
inconsciente.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após realizar diversas leituras, entrevistas e análises, pôde-se
concluir e constatar que as causas da rejeição à Matemática são ou estão
relacionadas à idéia pré-concebida de que a Matemática é difícil pelas
experiências negativas passadas, à falta de interesse e a uma auto-imagem
negativa que o aluno tem de si próprio, à falta de apoio familiar, à falta de
motivação devido aos conteúdos não terem uma aplicação prática, à falta
de incentivos de alguns professores e à formação não específica, ao
relacionamento humano em conflito, ao condicionamento, à passividade e
ao uso da memória em detrimento do raciocínio, podendo estas causas
ser extrínsecas ou intrínsecas aos alunos.
Apartir destas causas, foi possível fazer uma análise, onde se pôde
levantar algumas alternativas de intervenção que, principalmente, os
professores podem tomar para que haja uma atitude de mudança quanto
esta rejeição frente aos conhecimentos matemáticos:
• fazer uma reflexão e uma auto-avaliação da nossa prática
pedagógica e estar sempre em formação contínua;
• conhecer a realidade sócio-econômica dos alunos. A baixa
escolaridade dos pais e o meio, podem ser fatores de influência e de
decissão para a continuidade da escolaridade dos filhos;
• conhecer e entender os condicionamentos psíquicos, mecanismos
de defesa, experiências negativas, persuasão do meio ditados inofensivos
para não reforçá-los nos alunos;
• desafiar o aluno a superar o comum, propondo criatividade, arrojo
e superação;
• detectar e combater as lacunas de aprendizagem existentes na
turma e em particular, em cada aluno;
• adequar as estratégias, materiais e metodologias à realidade de
cada turma e da comunidade em que estão inseridas;
• estabelecer conexões matemáticas entre os novos conceitos e os
que já foram estudados, assim como com a História da Matemática;
• promover laços de afetividade entre o professor e o aluno que
ajudarão o aluno a aproximar-se do professor de Matemática e
conseqüentemente da Matemática;
• fazer a ligação entre a Matemática teórica e a Matemática prática.
Portanto, é possível que se faça uma intervenção nas mesmas, sendo
que o principal agente para que isso ocorra, é o professor. Assim, é
necessário que haja, principalmente uma mudança na forma de educar,
uma mudança que desperte no aluno o interesse e a motivação em aprender
aMatemática, para que ele possa, assim, despertar o gosto pela mesma.
PRINCIPAIS REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRAGHIROLLI, Elaine Maria et al. Psicologia Geral. Porto Alegre:
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Ensinar. São Paulo: Global, 2001.
PARRA, Cecilia. (org). Didática da Matemática: Reflexões
Psicopedagógicas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
SCHURÉ, Édouard. Os Grandes Iniciados: Pitágoras. São Paulo:
Martin Claret Ed., 1996.
TENÓRIO, Robinson Moreira. Aprendendo Pelas Raízes: Alguns
Caminhos da Matemática na História. Salvador: Centro Editorial e Didático
da UFBA, 1995.
Recebido em abril de 2004
Aprovado em junho de 2004
COPYRIGHT AUTOR DO TEXTO.
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