A Conquista da Lua e seus outros usos
A CONQUISTA DA LUA
Quando começou a segunda metade do século XX, o incansável espírito do homem enfrentava seu maior desafio. Na Terra, ele já havia cruzado as ultimas fronteiras, escalado o Everest, explorado as desoladas vastidões polares, descido as profundezas oceânicas. Restava-lhe apenas uma única direção para prosseguir em sua caminhada infindável em busca da aventura e do conhecimento, para cima, em direção ao espaço, para longe, para a conquista da Lua e dos mundos distantes. Iniciando a maior de suas aventuras, o homem escolheu a Lua como seu primeiro objetivo. De certa forma, a escolha estava feita já desde a época das cavernas. Para seu velho ancestral, o Pithecanthropus, meio homem, meio macaco, que pela primeira vez deixava a posição curvada e erguia os olhos para cima, pálida e brilhante nas noites sem nuvens, a Lua se apresenta como uma tentação irresistível, quase como um objetivo a ser atingido por força do destino. No começo, os obstáculos colocados entre o homem e o caminho do céu são fantásticos e aparentemente insuperáveis. Durante milênios é preciso se arrastar pela terra, dominar o fogo, os metais, a explosão, criar a base para dar o grande salto. E durante milênios o homem viaja pelo espaço apenas através da imaginação e da poesia, através de deuses e heróis que sua fantasia inventa para substituí-lo provisoriamente na viagem inevitável. Mas chega um momento em que a lua dos deuses aproxima-se bruscamente de um homem. Este momento é o ano de 1610. e o homem Galileu Galilei, natural de Pádua, Itália.
A NOVA LUA FEIA
As noites dos dias 24 e 25 de abril de 1610, na casa do Duque de Bolonha, foram extremamente agitadas. No terraço, um grupo de homens olhava com extremo interesse através de um longo tubo apontado para o céu. O principal matemático de Roma, o Padre Clavius, especialmente convidado para examinar as estranhas visões proporcionadas pelo tubo, olhou três vezes pela abertura do curioso instrumento e três vezes sacudiu a cabeça, incrédulo. Outro sábio oficial, o Padre Cremonini, professor de filosofia em Pádua, não quis sequer olhar. Só o Duque, o Sereníssimo, não teve uma recusa tão radical. Afastou a vista da lente com uma fisionomia de perplexidade e olhou para Galileu Galileu, o dono do aparelho, como quem procura explicações. Com 46 anos, acostumado a lidar com teólogos e nobres que enchiam os meios científicos da época, Galileu repetiu o que já havia dito no seu livrinho publicado um mês antes, Sidereus Núncios, ( O Mensageiro das Estrelas ). Sim, a Lua lisa e esférica dos filósofos da época era falsa. A Lua verdadeira era a que eles estavam vendo pela primeira vez daquele terraço --- esburacada, coberta de montanhas e vales profundos, sem a poesia de sua imagem tradicional,mas muito mais humana , pela primeira vez também, acessível ao homem. O instrumento estranho era a luneta, um tubo com uma lente em cada extremidade, comprado de um holandês que o exibia como curiosidade na feira anual de Frankfurt (Alemanha). Galileu multiplicara sua capacidade de aumentar os objetos vistos a distancia, de sete para quase mil vezes. Os amigos do Duque tinham pelo menos alguns motivos históricos para não acreditar no que viam. Naquela primeira metade do século XVII, salvo na mente de raros pensadores muitos audaciosos e pouco divulgados, o universo ainda era uma engrenagem complicada, que alguns teólogos de muita imaginação e pouco senso pratico resumiam a um grupo de esferas de cristal transparente, girando em torno da Terra pôr obra e graça divinas. A Lua, os planetas e as estrelas estavam colocados a essas esferas celestes, da mesma estranha distribuído em outras esferas interiores a Terra. Galileu e seu instrumento quebravam a harmonia do mundo das esferas de vidro. Era como se o universo explodisse numa multiplicação. Descobri miríades estrelas jamais vistas antes. Milton, poeta inglês, autor de The Paradise Lost ( O Paraíso Perdido ), compreendeu o milagre e escreveu ( sobre Galileu ), Perante seus olhos, de súbito, negro, ilimitável, sem fronteira, sem dimensões...
DA TEORIA A PRATICA
Antes de subir ao céu pela escada teórica estendida pôr Galileu, Kepler e Newton, os homens teriam de superar intricados problemas práticos. Quem primeiro começou a resolvê-los foi um humilde professor primário nascido em 1857 na aldeia de Ijewski, Rússia. Praticamente, todos os principais matemáticos do vôo espacial foram escritos pró Konstantin Eduardovitch, em 1880. Não e sem razão que os soviéticos lançariam sua primeira Lua artificial ( 4 de outubro de 1957 ) alguns dias depois do centenário do nascimento deste mestre tímido e parcialmente surdo. Sempre acreditei que não só a terra mas também o universo inteiro são a herança da humanidade . Vivendo isolado nos confins da Rússia czarista, Tsiolkowski teve de inventar ate o que já havia sido inventado. Os livros eram poucos e praticamente inexistentes. Tive de trabalhar sozinho, muitas vezes na direção errada. Freqüentemente inventei e descobri coisas já conhecidas, Em 1880 desenvolveu uma teoria sobre o comportamento dos gases e enviou a sociedade de Químicos de Petersburgo. Cálculos e teoria estavam perfeitos. Mas Dimitri Mendeleyev, químico famoso ( fez a tabela de classificação dos elementos da natureza ), devolveu-lhe o trabalho explicando-lhe que um francês havia descoberto a mesma coisa, 24 anos antes. Tsiolkowski foi o primeiro a recomendar o uso de foguetes a reação no vôo cósmico ( antes, ninguém aceitava que um jato emitido no vácuo pudesse empurrar o foguete para a frente ). Sugeriu que as naves espaçais voltassem a Terra pôr corredores de regresso. Os foguetes não se queimarão como os meteoritos que chegam do espaço, se forem colocados em trajetória especial que reduza suas velocidades mais lentamente. Descreveu as vantagens dos foguetes de vários estágios o aproveitamento da energia do Sol durante as viagens espaciais, o uso de uma mistura de oxigênio e hidrogênio líquidos como combustível e construiu o primeiro túnel aerodinâmico ( de vento ) para testar formas de foguetes. Antes, eu trabalhava umas vezes dentro de casa e outras no próprio telhado, quando soprava vento forte. Lembro-me de que uma vez fiquei tão excitado que rolei do telhado para o chão, sem dar pôr isso. Tudo que sugeriu estava correto. Se não viu o homem chegar a Lua foi porque a tecnologia estava atrasada em relação a ele. Com a revolução Russa, os bolcheviques não o incomodaram. Deram-lhe até mais condições de trabalhoso primeiro dia de maio de 1933 seu discurso na Praça Vermelha em Moscou foi irradiado para todo o país , Durante quarenta anos pesquisei os princípios da propulsão a foguete, sempre acreditando firmemente que o vôo interplanetário seria possível num futuro não muito distante. As idéias persistem, só os tempos mudam. Hoje estou convencido que muitos de vocês serão testemunhas de um vôo interplanetário. No dia 19 de setembro, dois anos depois , morreu. Cinco dias antes havia escrito uma carta a Stalin emocionado com o reconhecimento publico de seus trabalhos ,( Sinto que não morreu), dizia. Robert Hutchings Goddard, americano nascido em Worcester, Massachusetts. Contrariamente a Tsiolkowski, cujos trabalhos foram principalmente teóricos, Goddard, que era professor de física experimental, sempre gostou de transformar idéias em coisas praticas. Objetivo até os limites da exaustão, foi o primeiro homem a estudar os foguetes sem utopias. Não podemos ficar apenas sonhando com viagens impossíveis. Temos que fazer testes, uns depois dos outros, passo a passo, até que um dia tenhamos sucesso, custe o que custar. A vida de Goddard é cheia de ironias. Seu professor de física no Caltech ( Califórnia Institute pf Technology ), o chinês Hsue Shentsien, foi expulso dos EUA durante a cruzada anticomunista do Senador McCarthy e atualmente chefia o programa de foguetes chineses, contra os quais os americanos vão gastar, numa rede de antimísseis, 40 bilhões de dólares. Depois de sua morte, o Departamento de Defesa dos EUA daria a sua vida, Esther Goddard ( ao mesmo tempo sua secretaria, fotografa e arquivista ), 1 milhão de dólares. Pagava o uso que a NASA- Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço, dos EUA - fez de suas patentes, mais de duzentas , cobrindo praticamente todos os setores da Astronáutica. Como Newton, Goddard era um gênio solitário, gostava de navegar estranhos mares de pensamentos, sozinho. Tinha uma aversão quase patológica pelos jornais e pela publicidade que, nos Estados Unidos, ao contrario da Europa e da Rússia, durante muito tempo consideraram as viagens espaciais uma preocupação de loucos. Morreu esquecido e amargurado, de uma infecção na garganta. Soubera através dos jornais que tudo o que imaginara fora construído, com muito pessoal e dinheiro, pelos alemães. Chegou a examinar os foguetes V-2 que os americanos haviam capturado na Guerra e trazido para os EUA juntamente com a equipe de Von Braun. Depois disso, viveu apenas duas semanas, ate 10 de agosto de 1945 . Quando os militares que controlaram o trabalho dos alemães nos seus primeiros dias nos EUA interrogaram Von Braun sobre os segredos dos foguetes, ele respondeu, Porque vocês não perguntaram ao Dr Goddard . Os americanos começavam a se arrepender da morte obscura do seu gênio solitário
NA BOCA DO RIO PEENE
Antigamente, na ilha de Usedom, na parte onde o rio Peene se encontra com o mar, havia uma colônia de pescadores. Os barcos a vapor não paravam pôr Peenemùnde, '' a Boca do Peene '', um lugarejo isolado com apenas umas trintas famílias, vivendo dos peixes do frio mar Báltico. Em 1939, maquinas e tratores de engenheiros militares desalojaram os pescadores de suas casas e no lugar ergueram misteriosas construções. No dia 3 de outubro de 1942, embora a ilha conservasse seu ar parado e nevoento, no rosto do pessoal que invadira Peenemunde três anos antes havia apreensão e expectativa. A razão disso tudo era um objeto de 15 metros de altura- semelhante a uma enorme e gorda flecha de metal, apoiada sobre quatro grandes asas- que parecia ouvir nervosamente o som monótono de um alto-falante repetindo cadenciado uma estranha contagem invertida. Quem descreve as atividades incomuns daquele dia é o General Walter Dornberg , chefe das instalações da ilha. Durante muitos anos tínhamos trabalhado para aquele momento e, quando ele chegou, deu a impressão de não ser real. Cada minuto parecia durar mais de sessenta segundos e os números 3...2...1 chegaram mais lentamente que todos. No momento em que a contagem chegou a zero , vi uma nuvem de fumaça e centenas escapar do foguete. Com um rugido assustador monstro de metal levantou-se de sua base e tomou o caminho do céu , diminuindo de tamanho enquanto mergulhava rapidamente para o Norte. Acompanhei o brilho das chamas desaparecendo a distancia. Foi uma visão inesquecível. Dornberg saiu da sala blindada de onde comandara a experiência e foi encontrar-se com Wernher Von Braun, diretor técnico dos trabalhos. Não me envergonho de dizer que chorava de alegria, diz o General, e Von Braun ria quase descontroladamente , com os olhos cheios de água. Toda Peenemunde comemorava o sucesso do foguete A-4, que na sua versão militar ( como uma carga de 1 tonelada de explosivos ) seria conhecido como bomba V-2 (V de Vergeltung, vingança) . Pela primeira vez na historia da tecnologia, um foguete percorria 360 Km, subindo a uma altura de 100 000 metros. Este terceiro dia de outubro de 1942 marca o começo de uma nova era nos transportes, a da viagem espacial, Dornberg diria. Perto dos pequenos foguetes de 3 metros construídos pessoalmente por Goddard e quatro auxiliares em sua oficina, a V-2, fita pôr uma equipe com mais de cem especialistas, quase 2 000 técnicos e 5 000 trabalhadores, era um projeto do futuro. Mas, naquele momento, o futuro estava mais para o lado de Hitler que das viagens espaciais. Dornberg enquanto a guerra durar, nossa missão mais urgente será o aperfeiçoamento deste foguete como arma. O desenvolvimento de suas possibilidades para a conquista do espaço é uma tarefa para os tempos de paz .
A Guerra antes das estrelas- Quando a primeira V-2 subiu vitoriosamente de Peenemunde, Von Braun tinha trinta anos e metade de sua vida ele passara estudando os foguetes. Filho de uma família de aristocratas alemães, a Guerra o obrigou a conciliar sonhos com obrigações patrióticas. Fora das horas de trabalho em Peenemunde, estudava astronomia, pensando nas futuras viagens pelo espaço. Durante o serviço, se esforçava para convencer os lideres nazistas da importância militar de sua maquina, única forma de obter dinheiro para aperfeiçoá-la. No dia 29 de junho de 1943, Hitler, que não acreditava na V-2 na época das fáceis vitórias do Exercito nazista, visitou as instalações da ilha de Usedom para sentir as possibilidades da nova arma. Os oficiais de Peenemunde ficaram encabulados com a presença autoritária do Fuhrer e respondiam sua perguntas desajeitadamente em palavras rápidas confusas. Von Braun foi o único ( segundo um relatório posterior da GESTAPO ) a manter a calma e durante trinta minutos deu todas as explicações pedidas pelo ditador. Uma semana depois, Hitler mandou Chamá-lo, junto com Dornberg. Enquanto os aviões da Royal Air Force despejavam toneladas de bombas sobre Berlim, num porão da Chancelaria alemã, Von Braun apresentava filmes da V-2 e dava explicações sobre novos foguetes e planos para sua produção em serie. Dornberg ainda lembrou vagamente ao Fuhrer possíveis usos mais nobres da nova tecnologia. Quando começamos a aperfeiçoar os foguetes, não pensávamos em atribuir-lhe um papel militar tão terrível. Nós sonhávamos... Hitler interrompeu-o bruscamente, Eu sei que vocês não pensavam nisso. Mas eu pensei. Em seguida, autorizou a produção da bomba.
1950 VON BRAUN CONTRA SERGEI KOROLYEV
Vejam este Von Braun , Ele sempre quis ser o Colombo do espaço. Pensava em viagens espaciais, ano em armas, quando vendeu a idéia da V-2 a Hitler. E esta tentando vender aos EUA um projeto de viagens espaciais, disfarçando em método para a dominação do mundo. Na foto Cabo Canaveral trabalhando a noite.
OS FILHOS DA V-2
Os foguetes espaciais de russos e americanos aproveitam a experiência dos construtores da bomba V-2, o primeiro grande foguete moderno ( 15 m de altura, empuxo de 25 toneladas, equivalente a potência de 6 000 caminhões de 180 cavalos ). Na URSS, versões da V-2, equipadas com instrumentos de pesquisa, foram lançados entre 1947 e 1952. Em 1949, Sergei Korolyev construiu o Pobeda T-1, balístico de 800 km de alcance, na linha da bomba alemã. Do T-1 vieram o T-2 ( míssil intermediário, alcance 4 000 km ) e o T-3, intercontinental ( 8 000 km ), disparado em 1957 pela primeira vez. O Sputnik I foi lançado um desses foguetes T-3. Desde 1962, os satélites da serie Cosmos são colocados em orbita por ele, que tem três estágios. O foguete que colocou o primeiro astronauta em órbita (1961) é o RD-107, que ainda lança 75 por cento dos satélites soviéticos .Tem 45 m de altura, empuxo de 600 toneladas (20 milhões de cavalos e potência de 500 000 Volkswagens 1 300). No Ocidente são conhecidas quatro versões do RD-107. A mais recente, lançadora das naves Soyuz é duas vezes mais potente que o foguete em que subiu Gagárin, pode colocar 30 toneladas em órbita terrestre e lançar 17 toneladas na direção da Lua. Por seu lado, os americanos tem os próprios construtores das V-2, Wernher Von Braun e mais 115 especialistas . Várias V-2 foram lançadas nos EUA, inclusive o histórico W AC Bumper em 1949 (veja a pagina 33) . O Viking foi a V-2 de fabricação americana. Serviria de primeiro estagio para o Vanguard, lançador de satélites da Marinha, de triste história inicial. Do Vanguard derivaram o intercontinental Titan I e suas versões lança-satélites Titãs II e III. O correspondente americano do Pebeda é o Redstone, de Von Braun. O Júpter-Cé um Redstone com três estágios extras. Colocou em órbita o primeiro satélite , americano, o Explorer, Da mesma linha é o Júpiter intermediário ( alcance 3 800 km ). O Saturno tem os tanques de combustível do Redstone e do Júpiter, reunidos na forma de cachos. O Saturno 5, versão maior, pode colocar 125 toneladas em órbita terrestre ou 42 em torno da Lua.
COMO CHEGAR A 28.800 km/h
Na segunda metade de 1957, depois de mais de sessenta anos de pesquisa, os construtores de foguetes estavam em condições de construir o primeiro objeto que deixaria a Mãe Terra . O grande problema havia sido criar uma máquina que desse a um objeto 28 800 km/h a velocidade necessária para a missão espacial mais simples, ficar girando em torno da Terra. Os foguetes funcionam na base da ação da reação, uma velha lei descoberta por Newton, em linguagem simples, ela pode ser traduzida assim, dentro de um barco, se uma pessoa joga fora um tijolo numa direção, o barco se desloca na direção oposta. Nos foguetes, se os gases ( resultantes da queima de combustível mais oxidante) são jogados para baixo, o veículo sobe. Por justos motivos físicos ( a lei de conservação da energia, por exemplo ) e mesmo por uma questão de bom senso, o foguete não pode ganhar velocidade maior do que a dos gases que joga para baixo. Como então obter os 28 800 km/h, se os propelentes, mesmo os mais modernos ( veja na tabela ao lado o propelente usado pelo maior foguete atual, o Saturno ), saem dos bocais de exaustão no máximo a 13 600 km/h. A solução é o foguete de vários estágios, o primeiro leva como carga útil um segundo estagio e o solta quando consumiu todo o seu combustível e chegou ao máximo de velocidade (10 000 km/h), o segundo larga o terceiro estagio a 20 000 km/h e este põe a carga em órbita a 30 000 km/h. Neste exemplo, as velocidades e o peso do foguete são aproximados, mas refletem bem a situação real. De um modo geral, para cada estagio, a distribuição de peso é 80 por cento para o combustível, 15 por cento para a carcaça e 5 por cento para a carga útil.
1957 A LUA DE METAL NASCE NO ORIENTE
Era uma simples esfera de alumínio, extraordinariamente polida,de 58centímetros de diâmetro e 83 quilos de peso, com dois pares de antenas flexíveis de 2,4 e 2,9 metros. Viajava sobre quase todos os países, a 28 800 km/hora, emitindo o bip-bip de um monótono aviso eletrônico e anunciando ao mundo o início da nova Era Espacial. Seu nome, Sputnik, Pequeno Companheiro, uma lua da terra feita pelo homem.
No dia 4 de outubro de 1957, Wernher Von Braun almoçava em Huntsville, Alabama, com Neil McElroy, recem-nomeado Secretario de Defesa dos EUA, quando um telefonema interrompeu sua argumentação de que os americanos se estavam atrasando perigosamente na partida para o espaço. Para compreender a agitação que se apossou de Von Braun depois de atender ao chamado telefônico, é preciso acompanhar acontecimentos espetaculares que se desenvolviam desde o começo de setembro, em pleno outono soviético nas geladas planícies de Kasaquistão. Naquela ocasião, o grupo de Sergei Korolyev, engenheiro-chefe dos projetistas de foguetes soviéticos, movera-se para as novas instalações da base espacial de Baikonur, recém-construida a 2 000 quilômetros de Moscou. Lá , no topo de um enorme foguete de três estágios, os técnicos colocaram uma esfera de alumínio extraordinariamente polida, de 58 cm de diâmetro e 83 quilos de peso, com dois pares de antenas de 2,4 e 2,9 m. Estas finas e longas orelhas da esfera foram depois pressionadas contra o nariz cilíndrico do foguete e cobertas por uma ogiva protetora. Pacientemente, durante vários dias, Korolyev e seus amigos testaram toda a parte elétrica do conjunto. Depois, empurraram lentamente o foguete através das portas gigantescas da oficina de montagem e, sobre um pesado guindaste ferroviário, o levaram até a rampa de lançamento, 1 quilometro distante. Na posição vertical, o monstro mecânico foi alimentado de combustível por vagões tanques. As 8 horas da manha , os meticulosos preparativos estavam terminados e apenas Segei Korolyev, silencioso e concentrado, permanecia próximo da rampa de lançamentos. Os alto-falantes avisaram o fim da contagem decrescente, Tri, dva, odin, natchinai, zhar. Os sons agudos da partida dos motores romperam a semi escuridão da fria manha da estepe,como anunciando ao mundo o inicio de uma nova era. Primeiro, as chamas dos motores despertos surgiram sob o foguete. Depois, todos eles rugiram violentamente, como numa surda trovoada. O longo corpo branco do veiculo foi envolvido parcialmente por fumaça e labaredas. E, lentamente, confiantemente, o foguete subiu. Para o alto, depressa, cada vez mais alto, mais depressa. Algumas horas depois, a Rádio de Moscou anunciava ao mundo a noticia fantástica, a Terra tinha um novo companheiro no céu, feito pela mão do homem, o Sputnik 1.
1961 SEU NOME ERA ÍURI GAGARIN
Exultante, acima de todos os homens, mais leve que todos os homens, o ícaro moderno sobrevoava seu novo domínio, livre da força gravitacional que amarrava todos os seus semelhantes aquela diminuta ilha no cosmo. A seus pés estava a Terra dos mortais comuns, uma esfera de luz envolvida por um estreito cinto de tênues cores azuis . A transição do azul terrestre para o preto do cosmo é suave, e maravilhosa Y a v kharachom nastroyeniyi. Machina rabotayét. (ÍURI GAGÁRIN). Três anos e meio depois do primeiro Sputnik, o espaço cósmico já fora visitado por 93 luas metálicas e tornava-se uma paisagem familiar para quase duas dezenas de ratos, coelhos, cães e macacos, que o haviam penetrado em naves cada vez mais pesadas e complexas. Mas o céu esperava ainda um visitante muito especial que vinha anunciando sua visita durante toda a sua historia, o homem. Na primeira semana de abril de 1961, um jovem major soviético de nome Íuri Alekseyevich Gagárin deixou seu pequeno apartamento de três cômodos no quinto andar de um edifício reservado para pilotos militares, em Moscou, e despediu-se mais demoradamente que de costume de sua mulher Valentna e de suas filhas, Yelena, de um ano, e Galya, de quatro semanas de idade. Vaznia sluzba, Missão importante, ele disse a Valentina, no tom misterioso que ela compreendia vagamente. Depois, viajou num avião militar para a estepe gelada da cidadezinha de Baikonur, a 2 000 km de Moscou. Valentina ficou esperando as noticias da missão importante. Depois iria saber que seu marido partira para a visita espacial que toda a humanidade esperava longamente.
1968 A LUA E SEUS HOMENS
Doze anos depois de iniciada a Idade Cósmica, 47 espaçonaves, com nomes de Luana e Zond, Ranger , Surveyor, Orbiter e Apollo, se haviam aproximado deste mundo desolado ( 23 delas desceram na sua superfície ). Com seu auxílio e de seus possantes telescópios, os homens mediram e apalparam o árido corpo celeste, fotografaram detalhes escondidos e minúsculos de sua epiderme torturada. Insatisfeitos, partiriam para pisar em sua superfície deserta, morta, para dominar o que um dia os seduziu como um pálido disco de prata no céu, e depois continuou a atraí-los, mas já como um mundo em ruínas, um globo calcinado, um cadáver no caminho da noite.
Na manhã de 20 de julho de 1969 o mundo conteve a respiração para ver Neil Armstrong dar os primeiros passos de um ser humano em outro corpo celeste. A Humanidade realizava sua maior façanha desde os Descobrimentos: conquistava a Lua. Depois dele, outros 11 astronautas caminhariam pelo satélite. Mas a árida paisagem lunar não trouxe as grandes revelações científicas previstas e seu encanto foi pouco a pouco desaparecendo. Menos de quatro anos após a primeira pegada humana na Lua, a "Apollo 17" fazia a última viagem tripulada ao satélite. Agora, 30 anos depois, a Lua volta a atrair a atenção dos cientistas, desta vez como base para uma conquista ainda mais ousada: um vôo tripulado para Marte.
Um porto seguro para aventuras por outros mundos
Mas o que a Lua tem a oferecer para uma missão desse tipo? Aparentemente, nada. Nenhuma atmosfera, nenhuma forma de vida, nenhuma fonte de energia ou alimento e quase nenhuma gravidade. Mas, para Doug Cook, diretor do Escritório de Exploração do Centro Espacial Johnson, em Houston, Texas, não há lugar melhor para se testar o equipamento e a tripulação de uma futura missão a Marte. Segundo ele, a Lua é perto da Terra o suficiente para permitir um eventual resgate da equipe e oferece condições ainda piores que as do planeta vermelho. Se as coisas funcionarem na Lua, diz ele, funcionarão em Marte.
- Quando você constrói equipamentos cruciais, precisa ter certeza que funcionarão. Buscamos oportunidades para testá-los em lugares como a nova estação espacial ou a Lua. Ela nos permitiria ainda desenvolver técnicas de pouso e ocupação - disse Cook.
O projeto de Cook de exploração da Lua tem algo que sempre faltou: uma utilidade concreta. O esforço americano que culminou no pouso da "Apollo 11" fora lançado oito anos antes pelo presidente John Kennedy. O objetivo era fazer algo que desse aos americanos a primazia na corrida espacial, uma vez que os russos haviam lançado o primeiro satélite artificial ("Sputnik", em 1957), o primeiro ser vivo (a cadela Laika, no "Sputnik II", no mesmo ano) e o primeiro ser humano no espaço (Yuri Gagarin, em 1961).
O primeiro pouso encerrava o objetivo principal da missão: ir até a Lua, fincar a bandeira americana e voltar. Durante duas horas e meia Armstrong e seu colega Edwin Aldrin tiraram fotos, instalaram os poucos aparelhos científicos que levaram e colheram amostras do solo. Depois, foi hora de voltar para casa e saborear a vitória inquestionável.
Nostalgia e sonhos de ganhar dinheiro com turismo no espaço
Com exceção do quase trágico acidente com a "Apollo 13", as missões seguintes à Lua foram um sucesso. Graças a elas, temos certeza que o satélite é um pedaço da Terra e que suas rochas são tão antigas quanto as nossas. Mas o interesse por sua exploração diminuiu à medida que as viagens deixaram de ser novidade. Depois da "Apollo 17", as alunissagens foram abandonadas.
Para comemorar os 30 anos do "grande passo para a Humanidade", a Nasa vem desenvolveu atividades especiais Para Comemorar o aniversário do lançamento do foguete Saturno V com o módulo lunar. A principal atração foi uma palestra ontem com Aldrin, que, aos 69 anos, vive até hoje de sua grande aventura e é presidente da Starcraft Entrerprises, que pretende explorar o turismo espacial. Outros quatro astronautas do projeto Apollo conversaram com o público. Para dar um tom ainda mais nostálgico, foi realizado um show com artistas que eram sucesso no fim dos anos 60.
No dia 20, a celebração deixa de lado o passado e volta para o espaço. O ônibus espacial "Columbia" vai colocar em órbita o telescópio "Chandra", cujo nome é uma homenagem ao falecido astrônomo Subrahmanyan Chandrasekar, especialista em buracos negros.
Material editado a partir do original A CONQUISTA DA LUA (Acima) - Edições VEJA, uma publicação da revista VEJA, da Editora Abril. Texto de Roberto Pereira e Raimundo Rodrigues Pereira
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