quarta-feira, 15 de agosto de 2012
O PRIMEIRO AUTOMÓVEL NO RIO DE JANEIRO
O PRIMEIRO AUTOMÓVEL NO BRASIL
SANTOS DUMONT MAIS UMA VEZ PIONEIR0
O NORTE NO COMEÇO DO SÉCULO
PRIMEIRO AUTOMÓVEL DO RIO DE JANEIRO
PRIMEIRO AUTOMÓVEL DE MINAS
PRIMEIRO AUTOMÓVEL DE MARANHÃO
AS PRIMEIRAS CARTEIRAS DE MOTORISTA
PRIMEIRA CORRIDA DE AUTOMÓVEIS DA AMÉRICA DO SUL
O PRIMEIRO AUTOMÓVEL NO BRASIL
O Brasil é um dos primeiros países do mundo a conhecer um protótipo do automóvel. Em 1871, antes de Amédée Bollée, na França, dedicar-se à fabricação de veículos, a Bahia recebia um carro que se auto-movia.
A Bahia tem, entre outras, duas primazias: foi a primeira capital do Brasil e ganhou o primeiro automóvel brasileiro.
A cidade de Salvador era uma cidade importante, rica e “chique” que é como se dizia na época. As famílias mais destacadas usavam a cadeira de arruar ou os corcéis, que eram tratados com carinho especial – quando o Sr. Francisco Antonio Pereira Rocha importou seu “automóvel”.
Eis como era o monstro: uma máquina enorme, pesada e barulhenta, parecia com os atuais rolos compressores de pavimentação, mas com uma quinta roda na frente, responsável pela sua direção. Era movido a vapor e estava ligado a um carro destinado a acomodar os passageiros, que, na sua roupa mais elegante, levantavam a cabeça, soberbos do progresso de sua viatura.
O carro rodou por Salvador, para espanto do povo que enchia as ruas para ver a novidade. Um dia alguém desafiou o Dr. Rocha, dizendo que aquele monstrengo só andava no plano. Queria ver se subia ladeira.
O homem pulou na defesa de seu automóvel. O outro teimou. Então foi fechada uma aposta: iria à praça do Mercado, subiria a Ladeira da Conceição da Praia e chegaria à Praça do Palácio.
A notícia correu célere. Todo mundo tomou conhecimento da aposta, e muitas apostas mais surgiram, uns defendo o carro do Dr. Rocha, outros achando que ele, tão pesado e sem nada que o puxasse, não agüentaria a ladeira.
No dia combinado, o Dr. Rocha montou no veículo. O povo comprimia-se ao redor do monstrengo. O bicho resfolegou e começou a andar. Encaminhou-se para a Ladeira. Um momento de ‘suspense”. Parece que o bicharoco nem deu pela mudança de nível: foi subindo vagarosa mas firmemente. Quando despontou na Praça do Palácio, o povo que estava nas janelas e enchia a rua, prorrompeu em aplausos.
O Dr. Rocha ganhou a aposta e muita popularidade. Não se falou noutra coisa durante muito tempo.
Umas das coisas que mais impressionaram o baiano, no caso do automóvel primitivo, foi o fato de ele ter as rodas cobertas de borracha. Tanto assim que logo surgiu uma quadrinha popular, que ficou no folclore baiano muito tempo. Dizia ela:
“Havemos de ver dos dois
O que aperta ou afrouxa:
Do Lacerda o “parafuso”
Ou a “borracha” do Rocha
O parafuso do Lacerda é o ascensor da época ligando a Cidade Baixa à Cidade Alta. A borracha do Rocha é o primeiro automóvel de rodas de borracha, do Dr. Francisco Antonio Pereira Rocha.
O fim da primeira excursão do carro brasileiro foi melancólico: de volta de uma excursão ao Rio Vermelho, à margem do Dique, partiu-se uma peça do veículo.
Os passageiros não tiveram outro recurso senão voltar de trole: vieram para a cidade num dos troles da “Trilhos Centrais”.
Segundo algumas informações, não confirmadas, o automóvel a vapor do Dr. Rocha teria ido ao Rio Grande do Sul.
Se isso é verdadeiro, foi a velha caranguejola arrancar mais aplausos e espantos. Agora nos pampas.
SANTOS DUMONT MAIS UMA VEZ PIONEIRO
O primeiro automóvel de motor a explosão que o Brasil ganhou foi um presente de Santos Dumont. O brasileiro apaixonado por mecânica estava em Paris quando surgiram os primeiros carros. Interessou-se imediatamente pela novidade. Não era fácil, em 1890, adquirir um carro: é ele que confessa no seu livro “Meus Balões”. Teve que percorrer várias usinas procurando o melhor. Acabou, em 1891, comprando um Peugeot. Foi um dos primeiros fregueses da grande fábrica francesa.
Santos Dumont trouxe esse carro para o Brasil. Menos para andar, do que para estudá-lo.
Quem sabe o que aprendeu Santos Dumont daquele motor, naquele novo veículo? O que deverá a aviação a esse primeiro motor Peugeot?
Há um documento na prefeitura de São Paulo no qual Henrique, irmão de Santos Dumont é o automobilista pioneiro da capital bandeirante.
Não conseguimos apurar se esse carro é o mesmo que o “Pai da Aviação” trouxe, ou se Henrique importou outro.
Se Santos Dumont, nas suas experiências, não destruiu o Peugeot, o carro é o mesmo.
No ano seguinte ele voltaria a Paris e não levaria carro algum na sua bagagem.
Mas de qualquer forma credite-se a Henrique, morador em São Paulo, o pioneirismo do carro bandeirante.
Henrique, irmão de Alberto, era o primogênito da família. Por ter nome idêntico ao pai, alguns autores fazem confusão e citam o pai de Santos Dumont como o possuidor do primeiro carro paulistano. Mas era o filho, mesmo, porque em 1901 o chefe da família já havia falecido.
Há um documento onde ficou firmado o pioneirismo de Henrique Santos Dumont em automóvel a explosão na cidade de São Paulo: é o requerimento que faz, datado de 1901, ao governador da cidade requerendo baixa do lançamento do imposto sobre seu automóvel.
Eis as razões do peticionário:
“...o suplicante sendo o primeiro introdutor desse sistema de veículo na cidade, o fez com sacrifício de seus interesses e mais para dotar a nossa cidade com esse exemplar de veículo “automobile”; porquanto após qualquer excursão, por mais curtas que sejam, são necessários dispendiosos reparos no veículo devido à má adaptação de nosso calçamento pelo qual são prejudicados sempre os pneus das rodas. Além disso o suplicante apenas tem feito raras excursões, a título de experiência, e ainda não conseguiu utilizar de seu carro “automobile” para uso normal, assim como um outro proprietário de um “automobile” que existe aqui também não o conseguiu”.
Por esse documento ficamos sabendo que existia um segundo carro na cidade de São Paulo, em 1901. Depois de demoradas pesquisas acreditamos que o nome de seu possuidor tenha sido o Conde Álvares Penteado.
Além do mérito histórico dessa petição do Dr. Henrique Santos Dumont o documento tem uma outra característica: é a primeira reclamação de um dono de automóvel ao poder público contra as más estradas e as ruas em péssimo estado de conservação.
Mais de 100 anos depois, em muitas cidades do Brasil ainda é atual o sentido da petição do Dr. Santos Dumont: as ruas continuam péssimas e são as responsáveis maiores pelo estrago dos veículos.
Pena que requerimento idêntico tenha a característica do primitivo: inócuo.
O NORTE NO COMEÇO DO SÉCULO
O norte do Brasil também recebia automóveis. Já vimos o pioneirismo da Bahia no caso do automóvel do Rocha. Agora, no início do século, Salvador recebe outro carro. Este, já um verdadeiro automóvel. Não mais um “rolo compressor”.
A marca do carro é “Clément”, francês. O motor é Panhard & Levassor. O ano de fabricação, 1895.
Chegou em Salvador em fevereiro de 1900 e foi importado pelo Dr. José Henrique Lonat. Fez, como seu antecessor a vapor, muito sucesso.
Por volta de 1902 a 1904, Manaus, a bela capital da borracha passava por um surto de progresso entusiasmante. Casas nasciam do dia para a noite, ruas novas eram abertas a todo instante, avenidas eram rasgadas sobe as melhores condições de urbanismo. Palácios, pontes de aço, porto flutuante, Ópera de Paris, banhos de champanha, havanas acesos com notas de conto de réis, etc.
Uma febre de progresso provocada pelo vírus da borracha. Os filhos das famílias ricas preferiam ir estudar na Europa e não no Rio de Janeiro – pois tinham mais ligações com a França e a Inglaterra do que com a própria capital do seu país.
Também nessa época chegou o automóvel em Manaus. Era francês, de marca “Ranault”, tipo “double-phaeton”, aberto.
Foi importado pelo engenheiro Dr. Antonio de Lavandeyra, que era o diretor-presidente local da “Manaus Harbour Limited”, a companhia inglesa que construía o porto flutuante da capital do Amazonas.
E São Luis do Maranhão, outra florescente capital do Norte, ao que nos consta, esperou quase 20 anos depois de Manaus para receber seu primeiro automóvel: era um Willys-Knight que ali aportou em 1920.
Importou-o o engenheiro Luiz Rodolpho Cavalcanti de Albuquerque Filho, que ali executava vários trabalhos profissionais e que também construíra o porto flutuante de Manaus e viria, anos mais tarde, ser um dos diretores do Touring Club e vice-presidente do Automóvel Club do Brasil, no Rio de Janeiro.
PRIMEIRO AUTOMÓVEL DO RIO DE JANEIRO
O primeiro automóvel mesmo, de motor a explosão, do Rio, foi de Fernando Guerra Duval, então estudante de engenharia, irmão de Adalberto Guerra Duval embaixador do Imperador na corte do Tzar da Rússia. Algumas publicações consignam Guerra Duval como “artista”. Não é verdade: ele foi engenheiro, formado pela Escola Politécnica. Seus contemporâneos afirmam que de artista ele possuía apenas o temperamento.
O carro de Guerra Duval era um “Decauville” e aqui circulou em agosto de 1990. Seu motor a gasolina, era de 2 cilindros. Na falta do combustível, Guerra Duval ia às farmácias e comprava benzina.
O carro era aberto, sem capota. O escapamento era livre e fazia muito barulho. Em lugar do volante, a direção era em forma de guidon de bicicleta.
O carro de Guerra Duval foi um sucesso no Rio e adjacências. Porque ele não circulou apenas na Capital. Andou também em Petrópolis – onde foi numa prancha da Estrada de Ferro, pois não havia estrada – e causou espanto aos veranistas da pacata e fria Cidade Imperial.
PRIMEIRO AUTOMÓVEL DE MINAS
O primeiro automóvel que circulou em Minas pertenceu ao Sr. João Pinheiro. Fazia o trajeto entre Caeté e Sabará – perto do antigo Curral d’el Rei, onde se riscavam as ruas da nova cidade, nascida Capital e que se chamou Belo Horizonte.
O trecho Caeté-Sabará, foi, também, a primeira estrada rodoviária de Minas Gerais – construída pelo próprio João Pinheiro exclusivamente para passar o seu automóvel.
A data desse evento não é segura: enquanto alguns dão 1902, o engenheiro Odilon Dias Pereira afirma ter sido em 1905.
Uma coisa é certa: a estrada não foi construída por capricho, nem o automóvel foi comprado para gozo pessoal. João Pinheiro adquiriu o carro e fez a estrada para transportar as produções da Cerâmica Nacional, de Caeté, para Sabará.
A distância entre Caeté e Sabará era de 20 quilômetros e o automóvel de João Pinheiro cobria o percurso em quatro horas, fazendo uma média de 5km por hora!
PRIMEIRO AUTOMÓVEL DO MARANHÃO
Pesquisar a história dos automóveis é muito interessante, mas quando descobrimos a história dos automóveis no Brasil é melhor ainda. Notório antigomobilista maranhense, Fernando Silva vive às voltas com a história dos automóveis, de sua cidade São Luis e do estado do Maranhão. Fernando nos enviou o texto digitalizado da obra em sua 3ª. edição assinada pelo jurista, escritor, membro e ex-presidente da AML Dr. Jomar Moraes do ‘Dicionário-Histórico Geográfico da Província do Maranhão’ tendo como autor original da obra Dr. Cesar Augusto Marques, doutor em medicina, professor de matemática e membro Instituto Histórico Geográfico e Etnográfico do Brasil, já falecido. Rendemos as nossas homenagens a estes senhores que preservam a história.
Obra: ‘Dicionário-Histórico Geográfico da Província do Maranhão’
Lançamento da 3ª. Edição: Dia 05 de maio de 2009 na Academia Maranhense de Letras
Imagens digitalizadas: Fernando Silva (acervo pessoal)
Abaixo o texto transcrito:
‘O automóvel foi introduzido no Maranhão em 1905, graças ao comerciante e industrial Joaquim Moreira Alves dos Santos, maranhense de espírito progressista, a quem a nossa terra natal deve outras iniciativas muito úteis. Naquele ano ela mandou buscar um automóvel Phaeton, de 4 lugares, do fabricante inglês Speedwel , equipado com motor francês De Dion Bouton, monocilíndrico e para gasolina. O carro chegou a São Luis em novembro. Mais tarde vieram dois outros automóveis, um dos quais para este mesmo maranhense e outro para nosso conterrâneo comerciante José da Cunha Santos Guimarães. Ainda do primeiro decênio do séc. XX é o aparecimento do primeiro auto-ônibus para passageiros, iniciativa de uma empresa organizada pelo primeiro desses maranhenses.’
(Primeiro Automóvel do Maranhão - Colaboração: www.antyqua.com.br)
AS PRIMEIRAS CARTEIRAS DE MOTORISTAS
Os primeiros carros que aqui chegaram eram conduzidos por leigos que, por iniciativa própria, puxando esta alavanca, empurrando aquele pedal, mexendo aqui, fuçando ali – conseguiram por o veículo em movimento e levá-lo pelas acanhadas ruas do Rio.
O motorista habilitado só apareceu em 1906 – embora o decreto nº 858, de 15 de abril de 1902, exigisse exame de condutores de automóveis.
A primeira comissão examinadora de candidatos a condutores de veículos era constituída de engenheiros da Prefeitura. Os que lavraram os primeiros termos de habilitação de motoristas cariocas foram os Drs. Afonso de Carvalho, Aníbal Bevilacqua e Arthur Miranda Ribeiro.
O primeiro exame para motorista foi realizado no dia 08 de janeiro de 1906. Foram aprovados os seguintes examinados: Manuel Borges (Panhard & Levassor); Ernani Borges (Decauville); Francisco Leite de Bettencourt Sampaio Jr. (Darracq); Carlos Inglez de Souza (Darracq) e José de Almeida.
No dia 19 de janeiro, houve mais três “diplomados”: Engenheiro José Augusto Pereira Preste; João Vasques Martins e Honório Guimarães Moniz.
A 7 de fevereiro seguinte houve novo exame. Ficaram habilitados: João Vieira da Silva Borges e Felisberto Caldeira.
É interessante frisar que Felisberto Caldeira foi cocheiro dos carros dos presidentes Campos Salles e Rodrigues Alves e o primeiro “chaffeur” do Palácio do Catete.
Daí por diante os exames se sucediam habitualmente duas vezes por mês.
Pouco a pouco o Rio foi tendo motoristas, amadores e profissionais, habilitados pela seção competente da prefeitura.
Modelo de Carteira de Motorista emitida pela Pref. de Curitiba em 1913
PRIMEIRA CORRIDA DE AUTOMÓVEL DA AMÉRICA DO SUL
A primeira corrida oficial de automóvel da América do Sul realizou-se em São Paulo, em 26 de julho de 1908, entre São Paulo e Itapecerica, num percurso de 80 quilômetros.
Não houve acidentes, apesar da poeira e do terreno áspero e acidentado. O vencedor foi o desportista Dr. Silvio Penteado, com seu Fiat de 40HP. Em Santo Amaro, o carioca Gastão de Almeida leva 5 minutos de vantagem sobre os outros competidores da categoria D. Mas o reservatório de óleo do seu Dietrich-Lorraine cai a seis quilômetros da chegada. Então, Silvio Álvares Penteado o ultrapassa e consegue chegar em primeiro lugar, sob um tempestade de aplausos.
Eis o percurso: do Parque Antártica, em São Paulo, até Itapecerica os carros tinham que atravessar a Consolação, Av. Paulista, Arco Verde, Pinheiros, Botequim, Pirajussura, M. Boi passando por fora de Itapecerica, e voltando por M. Boi Mirim, Santo Amaro e indo sair na Av. Paulista.
Fonte de pesquisa: Livro Rodas da editora GB.
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