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Reportagem |
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edição 73 - Novembro 2009 |
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Calígula, um maluco no poder |
Que o terceiro imperador
romano tenha sido um sanguinário, ninguém duvida. Suas famosas crises de
epilepsia, porém, explicam pouco ou nada desse perfil. Para conhecê-lo,
é preciso falar de suas origens familiares e do ambiente depravado que o
cercava. |
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COLEÇÃO PARTICULAR/© THE BRIDGEMAN ART LIBRAY/KEYSTONE |
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O aspecto assustador e o
desequilíbrio mental do terceiro imperador de Roma inspiravam medo e
terror na população Caligula Caesar, gravura, artista da escola
italiana, 1596 |
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A história não foi complacente com
Calígula, o detentor de um reinado tão curto quanto violento no primeiro
século de nossa era, em Roma. Ele permaneceu no poder de março de 37
até seu assassinato, em janeiro de 41. Foi o terceiro imperador romano,
membro da dinastia júlio-claudiana, iniciada por Augusto.
A reputação de louco feroz, capaz de incríveis crueldades, foi
construída ao longo de apenas quatro anos de poder, um período curto
demais para fama tão arraigada, mas nada indica que ele fosse diferente
do que ainda hoje se diz do personagem. O próprio nome Calígula
tornou-se sinônimo de atrocidade.
Cabe, contudo, buscar a fonte primordial: a obra A vida dos doze
césares, do escritor e historiador Caio Suetônio (69-c.141), que não foi
contemporâneo de Calígula, mas ótimo observador dos costumes romanos.
Outros historiadores, como Filo (30-50 d.C.), Josefo (37-92 d.C.) e Dião
Cássio (data imprecisa do século II), também citaram o imperador em
suas obras. Especificamente no caso de Calígula, Suetônio é de longe o
mais influente entre os quatro, mesmo que se apontem frequentemente
imperfeições em sua obra.
Para conhecer o monstro da antiga Roma, parece uma boa opção desistir de
buscar refúgio atrás das crises de epilepsia de Calígula e de algumas
insanidades a ele atribuídas. Doenças física e mental explicam uma
parte, talvez pequena, da biografia. A outra parte passa necessariamente
por sua origem familiar, o ambiente depravado no qual cresceu e,
sobretudo, o estado das instituições do Império.
Até porque na Antiguidade a epilepsia simplesmente não era compreendida
como hoje. Era um estigma na vida do paciente e uma mancha em sua
biografia. Foi preciso que nascessem homens como os escritores Fiodor
Dostoievski e Gustave Flaubert ou um teórico e político como Vladimir
Lenin, todos epiléticos, para que o mundo passasse a ver a doença de
outra forma. A percepção de que doença e crueldade não caminham juntas
certamente nem passava pela cabeça dos historiadores antigos. |
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