sábado, 5 de novembro de 2011

11613 - O TERREMOTO DE LISBOA

1 - teste de nota de rodapé






MAREMOTO ARRASA OCEANO ÍNDICO E SUL DA ÁSIA


Fernando Fernandes

Início do artigo | Parte 2

O grande terremoto de Lisboa

Philosophes trompés qui criez: "Tout est bien"
Accourez, contemplez ces ruines affreuses
Ces débris, ces lambeaux, ces cendres malheureuses,
Ces femmes, ces enfants l'un sur l'autre entassés,
Sous ces marbres rompus ces membres dispersés.

Filósofos equivocados que bradais: "Está tudo bem",
Acorrei, contemplai estas ruínas assustadoras,
Estes restos, estes despojos, estas cinzas infelizes,
Estas mulheres, estas crianças empilhadas umas sobre as outras,
Os membros dispersos sob os mármores quebrados.

(fragmento do Poeme sur le desastre de Lisbonne, escrito pelo filósofo Voltaire em 1756)


O grande terremoto de Lisboa, com magnitude de 9,0 na escala Richter, iniciou-se com um tremor surdo e destrutivo, pontualmente às 9h40 da manhã (hora local) do dia 1° de novembro de 1755. Logo depois veio o choque maior, que em questão de segundos transformou a capital portuguesa num monte de ruínas.

O epicentro do terremoto foi em algum lugar no fundo do oceano, ao largo da costa portuguesa. Mais que terremoto, foi um maremoto. Assim, enquanto a cidade sentia os efeitos das ondas de acomodações geológicas em profundidade, sofria também com tsunamis que varriam toda a costa do país.


Sir Charles Lyell, autor de The Principles of Geology
Tudo começou, conforme o relato de Sir Charles Lyell, em sua clássica obra The Principles of Geology (1830), quando se ouviu um som como se fosse o de um "trovão subterrâneo". Imediatamente a seguir, um violento choque pôs abaixo a maior parte daquela cidade. Nos primeiros sessenta segundos após o terremoto aproximadamente mil pessoas já haviam perecido. O mar primeiro recuou, deixando seca a orla litorânea. Em seguida, avançou de repente, elevando-se "mais de cinqüenta pés acima de seu nível costumeiro" e tragando tudo o que encontrava pela frente.

O terremoto aconteceu num dia santificado (o feriado de Todos os Santos), quando a maioria dos 250 mil habitantes de Lisboa lotava as igrejas e conventos, fato que tornou ainda mais terrível a extensão do desastre. O choque do terremoto foi seguido pela queda quase imediata de igrejas e conventos lotadas de fiéis, além de quase todos os edifícios públicos de Lisboa e mais de um quarto das construções residenciais. O que se manteve de pé não teria destino melhor: duas horas depois do primeiro abalo, focos de incêndio ardiam por toda parte, e com tal violência que se estenderam por mais três dias, destruindo quase tudo o que ainda restava.


Uma ilustração de Lisboa publicada dois anos após o terremoto: J. P. Le Bas, Praça da Patriarcal après le tremblement de terre de 1755, in Recueil des plus belles ruines de Lisbonne, Paris, 1757

Uma enciclopédia americana de 1831 descreve o terremoto com palavras eloqüentes: "O terror de povo estava além de qualquer descrição. Ninguém chorou; o sofrimento estava além das lágrimas. O povo corria em todas as direções, delirante de horror e assombro, batendo nos próprios rostos e peitos, a chorar e a gritar: 'Misericórdia! É o fim do mundo!' As mães esqueceram-se de suas crianças, e corriam carregando crucifixos. Infelizmente, muita gente correu às igrejas para pedir proteção, mas era em vão que se expunha o sacramento: imagens, sacerdotes, e as pessoas foram enterrados em uma ruína comum."

Como decorrência do terremoto, do maremoto e dos incêndios, morreram em Portugal aproximadamente 60 mil pessoas, um terço delas apenas em Lisboa, onde cenas terríveis se repetiam por toda parte. A cidade tinha um novo cais todo revestido de mármore, obra suntuosa e cara. Muitos lisboetas que sobreviveram ao primeiro choque, crendo que estariam mais seguros em campo aberto, correram para o novo cais, onde pensavam escapar dos desabamentos e das chamas. Todavia, repentinamente o cais afundou no mar e as fendas abertas no chão tragaram toda a multidão ali refugiada. Nenhum corpo jamais voltou à superfície.

Tsunamis varreram toda a região em torno, atingindo as áreas costeiras da França e matando 10 mil pessoas no litoral do Marrocos. Ondas de terremotos e tsunamis se espraiaram por regiões longínquas, a ponto de se fazerem sentir na Groenlândia e nas ilhas do Caribe. Ondas gigantescas provocaram destruição em praias espanholas e no porto de Cádis. O terremoto destruiu também uma parte considerável de Argel, no norte da África, e foi sentido na Noruega e na Suécia, sem falar na Ilha da Madeira e nos Açores, em pleno Atlântico.

O mapa do terremoto de Lisboa mostra Plutão, planeta significador de fenômenos coletivos acima do controle humano e de perdas repentinas, colado ao Ascendente, em Sagitário. Plutão rege Escorpião na casa 12 - algo incontrolável, que vem das profundezas, que tem origem desconhecida e chega sem se fazer notar. O regente do Ascendente é Júpiter, colado no Meio-Céu e também em conjunção com a Lua. Um Júpiter em tal situação, num signo refinado como Libra e na posição mais destacada da carta, não parece sugerir um evento destrutivo. Contudo, o dispositor de Libra, Vênus, encontra-se em exílio em Escorpião (signo de Marte e Plutão) e em quadratura com Netuno, o planeta das profundezas oceânicas. Netuno está na casa 8, tradicionalmente associada à morte. O regente desta mesma 8 é a Lua, que aparece, como vimos, junto ao Meio-Céu e a Júpiter.


Terremoto de Lisboa em 1755 - Primeiro tremor - 1° de novembro de 1755, 9h40 LMT - Lisboa, Portugal - 38n43, 09w08.

Portanto, os regentes dos dois principais pontos da carta - o Ascendente e o Meio-Céu, Júpiter e Vênus - estão indissoluvelmente ligados, nesta carta a significadores de morte e destruição - Plutão, Netuno, casas 8 e 12. É a transformação súbita e impiedosa que alcança um dos maiores centros de civilização na Europa. O Júpiter no Meio-Céu do mapa do terremoto parece dizer exatamente isso: uma capital orgulhosa e aristocrática, acostumada a séculos de poder e domínio, chegara a seu momento decisivo. Como afirma o ditado popular, quanto maior a altura, maior a queda.

Dois maremotos e os mesmos significadores


Atalhos de Constelar 79 - janeiro/2005


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