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Resumo londres e paris no século xix?
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Uma Idéia de Metrópole no Século XIX1
Ricardo Marques de Azevedo
FAU - Universidade de São Paulo
RESUMO
Nos séculos XVII e XVIII consolidam-se as cidades capitais das soberanias absolutistas. Com a Revolução Industrial, a migração de camponeses e as agitações políticas, em fins do século XVIII e inícios do XIX algumas dessas cidades, principalmente Londres e Paris, alçam-se à condição de metrópoles. Este artigo procura mostrar como em Paris - a mais cosmopolita das cidades na época - inauguram-se novos comportamentos, modas, modos e até mesmo uma nova gestualidade. Aponta também as representações que na literatura e nas ciências humanas se elaboram sobre esse novo modo de vida no qual certos vanguardistas de inícios deste século vislumbram a germinação de uma nova sensibilidade.
Palavras-chave: metrópole, urbanismo, século XIX.
ABSTRACT
In XVII and XVIIIth Century the capital cities of absolutist sovereignities are consolidated. After Industrial Revolution, the countrymen migration and political disturbance, at the end of the XVIII and beggining of XIXth Century some of these cities, specially London and Paris, raise to a metropolis condition. This article attempts to show how in Paris - the most cosmopolitan city at that time - new behaviors, fashions, manners and even new gestures emerge. The text also names the representations which in litterature and human sciences are elaborated on this new way of life on which certain avant-gardists from the beggining of this Century glimpse the germination of a new sensibility.
Keywords: metropolis, urbanism, 19th century
Le civilisé des villes imenses revient a l'état
sauvage, c'est-à-dire isolé, parce que le
mécanisme social lui permet d'oublier la
nécessité de la communauté et de perdre le
sentiment du lien entre les individus,
autrefois réveillés incessamment par le
besoin. Tout perfectionnement du
mécanisme social rend inutiles des acts, des
maniéres de sentir, des aptitudes à la vie commune2.
Paul Valéry
O urbanismo barroco configura lugares, assinala hierarquias e designa atributos. Para isto, figura articulações, distribui geometrias, condiciona percursos e enfatiza perspectivas. Cada conjunto urbano - pense-se, por exemplo, na Piazza di San Pietro em Roma, ou nas Place Dauphine e Place Royale em Paris, ou ainda nos palácios de Versailles e do Escorial - compõe uma totalidade acabada, na qual as relações estão meditadamente controladas, subordinando-se à unidade. A cidade é assim concebida como conjugação precisa de lugares singulares. As praças reais emblematizam - pela estátua, pela disposição urbana, pela composição - a providente soberania. No entanto, quando princípios destronam príncipes, diz Sylviane Agacinsky, referindo-se ao revolucionário Anacharsis Cloots:
É necessário que a razão governe: mas, onde está ela? Ela está no homem universal. Onde está esse homem? Ele está em Paris. A razão habita a cidade3.
A Paris da Grande Revolução não é apenas a capital da França, mas a capital do universo, dos Direitos do Homem, a Cosmópolis4. É-lhe atribuída a missão de fazer reinar a Razão, conduzindo-a a toda parte. Assim, ela deixa de ser um território encravado na França e permeado de particularismos, para centrar um espaço genérico. No imaginário de Cloots, decapitado o derradeiro Rei, -" Louis Dernier" -, é a Capital, que, por ser Razão, realiza Poder: ela alegoriza a transição do territorial, como agenciamento de localidades, para o universal do espaço, vazio a ser operado pelas ponderações da Razão.
A soberania - que no absolutismo fora personificada no monarca - é postulada então como emanada do povo e em seu nome exercida: não mais relações de suserania, mas volições direcionadas em funções eletivas, não em pessoas conotamente ungidas. Correlatamente, em vez da convenção, pela qual o príncipe qualifica sítios singulares, postula-se um código de posturas, que consolide os preceitos da urbanidade, assinalando a cidadania. Este horizonte, prefigurado no século XVIII5, define-se quando, a partir do Império napoleônico, formulam-se normatizações crescentemente rigorosas e uniformes que regulam procedimentos e usos urbanos. Estabelecem-se, também durante o XIX, gradativamente, legislações que regulamentam padrões de estabilidade, salubridade e higiene para as construções assim como controles sobre mecanismos de especulação da renda fundiária, prenunciando o que virá a se constituir, a finais do século, na disciplina do planejamento urbano. Esta então, arvorando-se amparada pela positividade das ciências, pauta-se em conhecimentos principalmente econométricos, sociológicos e antropológicos para estipular índices, coeficientes, gabaritos... ao mesmo tempo em que consolida em códigos, normas, permissões e restrições. O operar do planejador, diferentemente da prática do urbanista, tem por pressuposto a homogeneidade, característica da categoria espaço, no qual, refletidamente, dispõem-se objetos.
Enquanto no campo, sendo as atividades pontuadas pelas estações do ano, pela incidência solar nos dias, pelas fases lunares, pelos ciclos das chuvas, os fluxos temporais variam, nas cidades - desde que ordenações dos mosteiros, como o repicar e replicar dos sinos, são transplantadas para a vida citadina - a regulagem do tempo é crescentemente condicionada pela impessoalidade da marcação rígida: horários de trens, abertura e encerramento de comércio e serviços, trocas de guarda e turnos, fechamento de periódicos, programação de espetáculos, encontros acordados, enfim, pontualidades, compromissos6, e no século XIX, a par da proliferação de relógios públicos, um novo acessório sublinha a elegância dos cavalheiros, o de bolso. Não por isso o fortuito é abolido. A indiferença e o desenraizamento cosmopolitas das grandes cidades tornam-nas espaço dos que perderam, ou deixaram evanescer, os referentes de seu lugar, o que explica, em parte, esse modo abstrato do metropolitano. Quem se amolda sem dificuldade a qualquer situação - prontidão, disponibilidade e adaptabilidade - não está mais estreitamente vinculado às peculiaridades, hábitos e tradições de um locus7.
É com a tensão das metrópoles que atua a personagem em permanente alerta, atento às contínuas mudanças e reviravoltas, pois é aí que celeremente se anacronizam velhos privilégios e se prescrevem novas proscrições. Estes circuitos passam a assimilar inércia cinética e a instituir aceleradamente. Lucien Chardon, dito de Rubempré - protagonista n'As ilusões perdidas - recém-chegado à grande cidade, escreve à sua irmã:
Uma das particularidades de Paris é que nela não se sabe realmente como o tempo passa. A vida aqui é de uma assombrosa rapidez8.
A observação de Lucien, que é chavão desde fins do século XVII, antecipa sua vida novelesca em Paris, na qual experiência a alternância veloz e voraz de sucessos e fracassos. As ciências humanas e a literatura do século XIX e dos inícios do XX insistem na associação da celeridade da vivência nas grandes cidades com a indiferença cosmopolita, com o comportamento cerebrino. Robert Musil:
No campo os deuses ainda descem até os homens, pensou ele (Ulrich), a gente é alguém, mas na cidade, onde há mil vezes mais acontecimentos, não somos capazes de relacioná-los conosco: e assim a vida começa a tornar-se essa notória abstração9.
Na metrópole transvertem-se, quer a fisionomia, quer a fisiologia urbanas. O marcante ali é a multidão, o choc em meio à refrega do tráfego. Na moção multitudinária, as individualidades se dissolvem na viscidez do fluxo humano e as personalidades se suprimem no manadio ruidoso, embora calado, dos deslocamentos. Georg Simmel constata o inusitado da situação das pessoas que - como ilustra Honoré Daumier - apáticas, nos ônibus, trens e bondes, permanecem "durante minutos e até horas inteiras, olhando-se face a face, sem se dirigir a palavra"10. Ambientado na província, Friedrich Engels, peão em Londres, resta atônito no anonimato:
Até a própria multidão das ruas tem, por si só, qualquer coisa de repugnante, que revolta a natureza humana. (...) Esta indiferença total, este isolamento insensível de cada indivíduo no seio de seus interesses particulares, são tanto mais repugnantes e chocantes, quanto é maior o número destes indivíduos confinados neste reduzido espaço11.
Nas vastas cidades, onde estranhos se encontram, diz Richard Sennett,
há um problema de platéia que mantém um parentesco com o problema de platéia que um ator enfrenta no palco12.
Nelas, pois, o representar é uma exigência do cotidiano e, como toda representação supõe códigos, sinais discriminam ou identificam as condições sociais que as personagens pretendem ostentar. Particularmente, pelas modas, continuamente renovadas, afere-se a atualização de cada um no que se refere às convenções: o démodé nunca é o antigo13, mas aquilo que acabou de passar e, segundo as coerções do consumo, quando mais presto for o processo de obsolescência, mais eficazmente far-se-ão segregações: esta ordem de convenção, - as modas - vazando dos círculos aristocráticos, amplia-se e se aprofunda no século XIX14.
Walter Benjamin, com sensibilidade para as pequenas, significativas mudanças nos modos metropolitanos, flagra o assomo de inovações técnicas, acionadas por gesto brusco, que vão do riscar do fósforo ao disparo do fotógrafo, bem como a produção de novos estímulos visuais como a seção dos classificados nos jornais e, mais tarde, réclames, affiches... Entre outros exemplos relevantes, considerem-se também os jornais, com folhetins, artigos de crítica artística15, literária e teatral, colunas de casos policiais e notas de mexericos; as exposições nacionais e as universais; os magazines e as passagens comerciais; os parques e jardins de uso público, nos quais se faculta a cada um o isolamento. Todas estas inovações pressupõem grandes concentrações humanas, pois assimilam comportamentos coletivos. Nas grandes cidades, desde o século XVIII, consolidam-se instituições, cujos procedimentos transtornam os modos de vida e que, mais tarde, difundem-se em outros locais. Configuram-se lá também novos mecanismos de observação e de confinamento de pessoas, classes, usos e ocupações, enquanto se disciplina uma nova ordem urbana16, vígil e policiada. Prodigalizam-se, outrossim, proibições, restrições e separações, transformando em delituosos ou suspeitos atos até então corriqueiros e, ao mesmo tempo, uniformiza-se a processualística cível e criminal com uma minuciosa taxonomia de culpas e contravenções e suas respectivas sanções17. À concepção isonômica do espaço, corresponde a formulação de dispositivos panópticos, a partir dos quais se exerce a espreita constante e impessoal. A polícia - no sentido que os séculos XVII e XVIII conferiram à palavra - nas cidades cosmopolitas, esmera-se em arremedar, de certo modo, a ordem impositiva da empresa capitalista18. Numas e noutra, o imponderável e o aleatório devem ser expurgados; as expectativas necessitam subordinar-se a um dado grau de previsibilidade; as marginalidades, quando não alijadas, precisam ser controladas; a regra e a regularidade são impostas; os fins explicitam os meios e tudo há de ser estimado e contabilizado.
Contudo, os diligenciadores da ordem irão sempre se surpreender com a extraordinária resistência que o urbano opõe aos mecanismos de controle e condicionamento. Nas amplas cidades secretam-se agrupamentos que germinam continuamente estratégias para se furtar à vigilância e à imposição de comportamentos. Contra a ductilidade, que direciona atos e gestos na empresa, nas metrópoles confluem conjuras, conluios e conspirações e ressumam continuamente processos de territorialização de grupos, seitas, tribos: zonas de meretrício, tráfegos de tráfico, sinais secretos, pontos de encontro, seduções ocasionais, sistemas informais de comunicação etc, cartografias de inteligibilidade seletiva. O fascínio que exercem as grandes cidades decorre em parte do fato de nelas se mesclarem a transparência dos olhares panópticos e a opacidade das rebeldias: visadas radiais ou varreduras reticulares não violam as invisibilidades, os pontos cegos proliferantes nos avessos e interstícios.
A perspicácia de Charles Baudelaire flagra dispersas nas sinuosidades da metrópole variadas personificações do moderno19: o snob, o apache, o flâneur20, o dândy21 e uma passante, que se apresentam nos caffés, boulevards, cabarets e galeries. A ribalta de Paris incorpora, pois, outros atores, outros figurinos, outros cenários e até outra iluminação. Do cimo da colina o poeta contempla, atento, "la ville en son ampleur, hôpital, lupanars, purgatoire, enfer, bagne", e percebe "plaisirs que ne comprennent pas les vulgaires profanes"22.
Assim Charles Baudelaire enuncia o sentimento peculiar à sua época:
A velha Paris já não há mais (a forma de uma cidade muda mais rápido, oh, que o coração de um mortal)23.
Antes mesmo que a fisionomia do novo estivesse configurada, o velho desmorona por toda parte24. O século XIX foi estigmatizado pela persistente ambigüidade de as coisas e modos ainda não serem o que se presumia viriam a ser enquanto já haviam deixado de ser o que até então houveram sido25. É um tempo em que, questionando-se quanto à especificidade que postula, em se a não discernindo, disto se ressente. No estranhamento que perpassa a época na Europa, imbricam-se prognósticos auspiciosos e acídias nostálgicas - nestas e naqueles, a indeterminação na qual a angústia germina. Entretanto, o ceticismo com os tempos, a descrença com o século - que se iniciara com a lembrança de Thermidor, quando, para muitos, baldaram-se os anseios que a Grande Revolução fez emergir e que, após os fulgores de um Império provisoriamente invencível, desaguou em uma Restauração timorata e estulta - dá vezo a que correntes saudosistas, já prenunciadas desde o século XVIII, revigorem-se, aspirando idílicos reencontros com o gótico, com o campo e a pastagem e com a produção artesanal. Adversos a esse tempo de refluxo e inquietação, alguns idealizam programaticamente a retroação à permanência e à consistência que atribuem serem próprias aos costumes da baixa Idade Média: imaginário tempo de subida fé cristã e de hábitos regrados, no qual o artesão é amor de sua obra. O sentimentalismo nostálgico que impregna a poética de Nazarenos, Lyonenses e Pré-rafaelistas, assim como o socialismo estetizante propalado por William Morris, anelando a restauração dos encantos da artesania, abominam, rejeitando-a liminarmente, a indústria. Como outras visões de um outro, o exótico, o arcaico ou o longínquo interessam, quer se trate de mouros, egípcios, chineses ou persas, etruscos ou celtas. Os revivalistas anuindo que a perfeição - ética e estética - se dera naquela época ideada - ora desejada rediviva - fosse ela o pio medievo ou a bela antigüidade, onirizando arquétipos prístinos, os saudavam26. Como a história compreende não apenas o passado, mas também o perdido, instalam-se museus de História e Arqueologia que, acumulando aquele, remetem a este. Na soledade difusa anela-se por reencontros jubilosos - outrora, alhures... - que balizem parâmetros ou valores para esse século que, esteticamente, perdera-se, ou ainda, nunca se encontrara.
A natureza que, para os renascentistas, recolhia em si a memória da ordem, que emergira do caos e o sobrepujara, será tomada, ou como prolífica mutabilidade - o pitoresco do século XIX - na qual o espírito exausto encontra alento, desencobrindo, empaticamente, reflexos de sua infindável variabilidade anímica; ou como sede de potências irrefreáveis, o desmedido e a tormenta - o sublime do XIX - que subjuga a alma, inerme e inânime, aterrada pelo poder dos elementos. Como conforto ou como terror, a natureza, esvaída de identidade, é encarada, desde então e talvez irremediavelmente, como exterior ao homem. Para o gosto pitoresco, a cidade só se reduzida à ruína pode reconciliar-se com a natureza27, daí a exaltação do cavernoso e do tempestuoso como sensações exacerbadas e obscuras forças naturais: forças estas constitutivas no homem, porém emasculadas na domesticação social.
Se, ao se afastar do estado de natureza, a espontaneidade se esvanecera e, ao mesmo tempo, a civilidade se tornara progressivamente vã e hipócrita, como ainda indigitar bases críveis para uma felicidade factível? Jean-Jacques Rousseau, retoricando sobre as ciências e as artes28, condena-as por nefastas à probidade dos costumes, atingindo este ponto de vista ressonância em volições que almejam, pela formulação de utopias regressivas, a restauração da sã ignorância e da naturalidade do bom selvagem ou, pelo menos, do camponês devoto a cultivar sua gleba. É lugar comum da época ver as grandes cidades, com seus esplendores e misérias, como o mais alto estádio da degradação moral e da deliqüescência espiritual e acusar o intelectualismo, as ambições, a concupiscência na vida cosmopolita como indícios deste estado. Os anseios de restabelecimento de tempos ou lugares outros e o enevoamento das Luzes sintomatizam o mal estar impregnado desde inícios daquele século, que rápida e avidamente instabilizava valores e hábitos tidos por assentes em séculos passados. A melancolia, a nostalgia29, denunciam resistência aos novos modos, nos quais Baudelaire desvela núncias do moderno.
Debuxa-se assim uma imagem das metrópoles pela qual são vistas como multiformes e ambíguas - focos de sedução e de sedição - agregando sans culottes, que em sua ira elevam barricadas memoráveis; nelas, cultivam-se conhecimentos e cultuam-se letras e artes, que, entretanto, são muita vez superficiais, afetadas e artificiosas; cobiça-se riquezas e ostenta-se luxos, que constituem, para uns, um fim em si, para outros, meio para a proliferação de paixões. Enfim, diz-se que nas metrópoles pululam personagens astuciosas, inescrupulosas, calculistas e desprovidas de sentimentos, enquanto ali os cidadãos tornam-se progressivamente cerebrinos e enfastiados. Lá, também, temível, grela a turbação oclocrata, que intimida propriedades e instituições.
Na busca da superação das desigualdades e contra este modo de vida factício, utopistas, desde positivistas, como Saint-Simon, a delirantes, como Charles Fourier, elaboram complicadas propostas de eugenia social a ser promovida, em parte, pela justa distribuição de coisas e gentes em lugares pertinentes: a Razão, que nas Luzes combateu os preconceitos das místicas, criam eles, desviara-se, pois o saber não superou os desequilíbrios. Cumpria pois reinseri-la, abrangente, para, por ela, em uma espécie de profilaxia social, mitigar as moléstias da cidade.
Nas dilatadas concentrações urbanas decimonônicas geram-se novos e agravam-se antigos males. Apesar das inúmeras tentativas de coibir o inchamento das grandes cidades, a tumorosa expansão da malha urbana vazou a epiderme de muralhas. O crescimento, conduzido por interesses especulativos e sem qualquer coordenação urbanística, induziu a ampliação dos percursos e implicou em gravosas dificuldades nos deslocamentos. Ademais, o trabalhador contratado, não estando mais fixado pela corporação, via-se freqüentemente constrangido a labutar extensos périplos entre morada e trabalho, enquanto a burocracia e o comércio, concentrando-se, mobilizam vastos contingentes. A crônica registra - valendo-se de metáforas tomadas da patologia - e as gravuras de Gustave Doré a agudizam, a agitação febril do trânsito em Paris ou Londres, com carruagens, carroças, montarias e pedestres em insanável convulsão. A desobstrução do curso de mercadorias, coisas e gentes, assim como o estabelecimento de sistemas de transportes públicos, explicitam o empenho de, minorando os transtornos na circulação, viabilizar a ampliação da massa expropriável de mais valia relativa.
As áreas centrais sofrem um intenso adensamento, o que tematiza as questões relativas à habitabilidade e à higiene. Conforme a descrição publicada em 1849 - pouco antes, portanto, do 2º Império e das intervenções promovidas pelo Barão de Haussmann - Paris, observada do outeiro de Montmatre por outro olhar menos agudo que o de Baudelaire, é:
Uma congestão de casas apiloadas em qualquer parte do vasto horizonte. O que você observa? Acima, o céu está sempre encoberto, mesmo nos dias mais belos.(...) Olhando para isto, imaginamos se esta é Paris, e, tomados por um medo súbito, hesitamos em penetrar neste vasto dédalo onde já se acotovelam mais de um milhão de homens, onde o ar viciado de exalações insalubres se eleva, formando uma nuvem infecta que obscurece quase por completo o sol. A maior parte das ruas desta maravilhosa Paris nada mais é senão condutos sujos e sempre úmidos de água pestilenta. Encerradas entre duas fileiras de casas, as ruas nunca são penetradas pelo sol, que apenas roça o topo das chaminés. Uma multidão pálida e doentia transita continuamente por essas ruas, os pés nas águas que escorrem, o nariz no ar infectado e os olhos atingidos, em cada esquina, pelo lixo mais repulsivo. Nessas ruas moram os trabalhadores mais bem pagos. Também há ruelas, que não permitem a passagem de dois homens juntos, cloacas de imundície e de lama onde uma população enfraquecida inala cotidianamente a morte. São estas as ruas da antiga Paris, ainda intactas. A cólera flagelou-as duramente em sua passagem, tanto que se esperava não estarem mais lá se esta retornasse, mas a maior parte delas ainda permanece no mesmo estado, e a doença poderá voltar30.
Neste labirinto, as barricadas são quase invencíveis, pois a tropa pouco pode contra um inimigo, que desaparece no fragor do confronto para ressurgir adiante, ou atrás, ainda mais aguerrido. As pedras, arrancadas do pavimento e arremessadas do piso, das janelas ou dos telhados, municiam a rebelião, enquanto a milícia não alcança fixar alvos. Em Paris e em Lyon os levantes são soezes na primeira metade do século XIX e, apesar da brutalidade da repressão, constituem motivo sólido para o receio, disseminado entre autoridades e proprietários, quanto à ação daquelas populações perigosas. Assim, enquanto as ações urbanísticas dos séculos XVII e XVIII tiveram, sobretudo, finalidades representativas ou embelezadoras, as do XIX - cujo cabal exemplo consiste, como se sabe, nas reformas de Haussmann - acrescentam a estes fins o do saneamento de um adversário interno e, menos explicitadamente, os da circulação e da higienização.
Atendendo, com a defasagem de uma centúria, aos desideratos do abade Marc-Antoine Laugier31 - trancher, tailler - o centro velho de Paris é quase inteiramente destruído - remanescendo apenas monumentos isolados e áreas intersticiais - e reconstruído com a abertura de boulevards largos e retilíneos, - apropriados ao trânsito de viaturas e de tropas -, com edifícios ataviados de elevações regulares em ambos alinhamentos, desenhando uma unidade simétrica, axialmente orientada para fugas alegorizadas em marcos urbanos. As construções ordenam o olhar. Lembra Benjamin que os contemporâneos apodam este empreendimento de "embellissement stratégique"32. Várias praças e logradouros são abertos e edificações mnemonizadoras construídas: a Opéra de Garnier, as Bibliotecas de Labrouste, os Palais, as Gares, os Halles... enquanto antigos monumentos, como a Catedral de Notre Dame, são preservados e ressaltados pela eliminação das adjacentes infestações edilícias. Alguns bosques, antes reservados à caça, são franqueados ao público, como os Bois de Boulogne e de Vincennes, e parques são recuperados, segundo o gosto do paisagismo pitoresco, como o Parc Monceau e o Parc des Buttes-Chaumont. Ao mesmo tempo, passagens são cobertas, conformando galerias, e abertos os primeiros Magasins, alterando escalas. A par destas renovações, são rasgadas em toda parte canalizações de esgoto e de águas pluviais; recebendo um sistema de iluminação, de início a gás e, mais tarde, elétrico, a cidade dá conotação literal ao antigo epíteto, Ville-lumière; também, com a implantação de ramais ferroviários, logo complementados com a rede de metrô, traça-se um reticulado, a um tempo subterrâneo e superficial, de meios coletivos de transporte. O quadro destas intimoratas intervenções é uma intensa especulação imobiliária. As demolições e o encarecimento dos imóveis e aluguéis expelem a população carenciada - como é usual nos processos de renovação urbana - do centro para a periferia de Paris, cercando nos arrabaldes um cinturão vermelho de bairros operários33. A Paris da renovação é, mesmo para seus antigos habitantes, uma fisionomia estrangeira34.
As cidades medievais - e, genericamente, as provincianas - eram suficientemente diminutas para que suas atividades e estamentos compartilhassem os mesmos territórios: lá, habitação, comércio e ofícios confinam-se mutuamente e se confundem espacialmente. Nas praças, mercados, gravita a população citadina, que, em efemérides, soma-se à rural e, juntas, celebram festividades e cerimônias religiosas. Estas intrincadas conjugações dão às pequenas cidades um aspecto variado e caprichoso, em uma aparente desordem, só sentida pelo forâneo: justifica-se e se evidencia assim o radical comum em hábito e em habitante, pois, habitar é também estar habituado. Distintamente, no ordenamento das metrópoles, tende-se a promover a especialização dos espaços segundo a concentração de funções e de atividades, enquanto os abastados passam a demandar separações e exclusividades no desfrute de parcelas específicas dos espaços urbanos: as amplas reformas urbanas e o zoneamento só se tornam possíveis com interveniência, que é a violência do Estado. Aparece em cena, então, novo personagem, o planejador instrumentalizado e impositivo, investido da missão de repor, previdente e providente, a urbanidade. Não se trata mais - como em Santo Agostinho - da proposição de cidades ideais que decalquem no orbe terrestre a urbe celeste; nem de enunciados metafísicos - como em Filarete ou em Luca Pacioli - que traduzam em números, proporções e posições uma cosmologia assentada: o planejador afirma o técnico que, embasado na positividade da ciência, opera a cidade, discriminando funções e segregando espaços. É, pois, patente a relação recíproca da centralização do poder político e da intervenção planejada. Nestas circunstâncias, as cidades, mormente as maiores, deixam de ser configuradas como entidades simbólicas e representativas, e passam a ser operadas como um mecanismo. Desse modo, produz-se uma imagem para a cidade, similar à máquina, que viria a ser tão cara às vanguardas construtivas. Referindo as teorizações de Henri Lefebvre35, diz-se que as cidades, em vez de serem cuidadas qual obras, são tratadas como produtos e, deixando de se constituírem em fins, degradam-se em meios para a produção e a circulação de bens e serviços.
A metrópole é tomada, pois, como o situs abstrato da abstração. Se a angústia e o tédio resultam da indeterminação nadificadora do nada, é lá que tudo se dissolve, fundindo-se no fluxo dos eventos: o eu valeryano, mencionado na epígrafe, está solitário em ambiente indiferente. Na terceira década deste século, certas vanguardas positivas projetam formações urbanas que, coadunando-se com os modos de sociabilidade metropolitanos, sustenham, com planos urbanísticos, o alegado desamparo. Piet Mondrian - contestando a visão negativa que, desde o século XVIII, formou-se sobre a azáfama das grandes cidades - vislumbra na abstração e na impessoalidade peculiar ao caráter metropolitano a constituição de um Stijl original, nos quadros de uma sensibilidade específica:
O artista genuinamente moderno vê a metrópole como um viver abstrato convertido em forma: ela lhe é mais próxima do que a natureza e tem maiores possibilidades de excitar nele o senso de beleza... é por isso que a metrópole é o lugar que está desenvolvendo o temperamento artístico matemático vindouro, é o lugar de onde emergirá o novo estilo36.
A caracterização da personalidade do metropolitano por Simmel em 190337 - que vê na "intensificação da vida nervosa" e na internalização da economia monetária a etiologia da atitude blasée - é paradigmática para o pensamento do urbano no século e, em 1938, o sociólogo norte-americano Louis Wirth reconhece na indiferença e no ar blasé instrumentos para a imunização contra "exigências pessoais e expectativas de outros"38. Não tardará que se veja na impessoalidade uma conotação moral de desumanização39 e que, novamente, idealize-se a afetividade como atributo exclusivo da vida no campo ou na pequena cidade. Contra a pregnância romântica, que desconfia da superficialidade teatral da vida metropolitana, as vanguardas construtivas dão positividade à abstração cerebral da metrópole, antevendo nela o germe de uma vida, enfim, racional. Ludwig Hilberseimer:
(A grande cidade - Großstadt) expressa a composição da atual situação econômico-social. Procura libertar-se de tudo o que não é espontâneo; aspira a uma redução ao essencial, à maior economia de energia, à extrema possibilidade de tensão, à exatidão definitiva; corresponde ao modo de vida do homem contemporâneo, é a expressão de uma nova disposição de ânimo, não de caráter subjetivo-individual, mas objetivo-coletivo40.
NOTAS
1 Este texto é uma versão revista do capítulo A metrópole de minha tese de doutorado Metrópole e abstração, produzida sob a orientação do Prof. Dr. Leon Kossovitch e defendida junto ao Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo em maio de 1993.
2 VALÉRY, Paul. Cahier B - 1910. Paris, 1930, pp. 88-89 (Pléiade II, p. 588). Apud: BENJAMIN, Walter. "Sur quelques thèmes baudelairiens". In Œuvres II, poésie et révolution. Trad. M. de Gandillac. Paris, Les Lettres Nouvelles, 1971, p. 250.
3 AGACINSKI, Silvanie." Chefs-lieux". In La ville inquiète: le temps de la réfletion. Paris. Gallimard, 1987, p. 193.
4 Il est essentiel pour l'harmonie universelle d'avoir une capitale commune où toutes les lumières divergentes viennent se rectifier, où tous les caractères viennent se coordonner, où tous les goûts viennent s'épurer, où toutes les opinions viennent se combiner, où tous les préjugés viennent échouer, où tous les égoïsmes viennent se broyer, se confondre dans l'intérêt du genre humain. C'est ici que l'homme du département devient l'homme de la France, que l'homme de la France devient l'homme de l'univers. CLOOTS, Anacharsis. Procès de Louis Dernier In Écrits revolutionaires. Champ Libre, 1979, p. 260, apud: AGACINSKI, Silvanie. op. cit., p. 205.
5 Se se considerar a arquitetura em grande, nota-se que (...) se tem olhado para as coisas com olhos de pedreiro, quando teria sido necessário ver tudo com olhos de filósofo. É por isso que as cidades nunca foram convenientemente estruturadas com vistas ao bem-estar dos seus habitantes; nelas somos eternamente vítimas dos mesmos flagelos, da imundície, do ar impuro e duma infinidade de acidentes que um plano judiciosamente pensado faria desaparecer. PATTE, Pierre. Memórias sobre os mais importantes objetivos da arquitetura, 1769. Apud: CHAUNU, Pierre. A civilização da Europa das Luzes. Trad. M. J. Gomes, Lisboa, Estampa, vol. II, 1985, p. 118.
6 The relationships and affairs of the typical metropolitan usually are so varied and complex that without the strictest punctuality in promisses and services the whole structure would break down into an inextricable chaos. (...) Thus, the technique of metropolitan life is unimaginable without the most punctual integration of all activities and mutual relations into a stable and impersonal time schedule. SIMMEL, Georg. The metropolis and a mental life. Trad. Kurt Wolff, In COUSINS, Albert N. & NAGPAUL, Hans (orgs.). Urban man and society: a reader in urban sociology. New York, Alfred A Knopf, 1970, p. 138.
7 De acordo com o emprego francês registrado em 1738, cosmopolita é um homem que se movimenta despreocupadamente em meio à diversidade, que está à vontade em situações sem nenhum vínculo nem paralelo com aquilo que lhe é familiar. SENNET, Richard. O declínio do homem público: as tiranias da intimidade. Trad. L. A. Watanabe, São Paulo, Companhia das Letras, 1988, p. 32.
8 "Une des particularitès de Paris est qu'on ne sait réellement pas comment le temps passe. La vie y est d'une effrayante rapidité." BALZAC, Honoré de. Illusions perdues. Paris, Gallimard, 1974, p. 208.
9 MUSIL, Robert. O homem sem qualidades. Trad. L. Luft e C. Abbenseth. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1989, p. 462.
10 SIMMEL, Georg, Apud: BENJAMIN, Walter. Sobre alguns temas em Baudelaire. Trad. H. K. Silva, A. Brito e T. Jatobá. In A modernidade e os modernos. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1975, p. 68.
11 ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora em Inglaterra. Trad. A. C. Torres, Porto, Afrontamento, 1975, p. 56.
12 "É provável que existam tantos modos diferentes de se conceber o que é uma cidade quantas são as cidades existentes. O mais simples diz que uma cidade é um assentamento humano no qual estranhos irão provavelmente se encontrar. Para que essa definição seja verdadeira, o assentamento deve ter uma população numerosa, heterogênea; a concentração populacional deve ser um tanto densa, as trocas comerciais entre a população devem fazer com que essa massa densa e díspar interaja. Nesse ambiente de estranhos cujas vidas se tocam, há um problema de platéia que guarda um parentesco com o problema de platéia que um ator enfrenta no palco."
SENNETT, Richard, op. cit.; p. 58.
13 "D'autre part, intervient dans ces images de souhait l'aspiration insistante à prendre ses distances par rapport à ce qui est vieilli c'est-à-dire ici le passé plus récent. Ces tendances renvoient l'imagination, sous l'impulsion du neuf, au plus ancien passé." BENJAMIN, Walter. op. cit., p. 125.
14 "Foi ao longo da segunda metade do século XIX que a moda, no sentido moderno do termo, instalou-se. Certamente nem tudo então é absolutamente novo, longe disso, mas, de maneira evidente, apareceu um sistema de difusão desconhecido até então e que se manterá com uma grande regularidade durante um século." LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. Trad. M. L. Machado. São Paulo, Companhia das Letras, 1989, p. 69.
15 A publicação dos Salons, de Diderot a Baudelaire, constitui importante contribuição para a formação de um público (e um mercado) para as artes.
16 "No século dezenove, a Inglaterra tornou-se uma sociedade policiada e não um Estado policial. As enérgicas tentativas para criar um novo "padrão básico" de ordem urbana e estreitar os limites do comportamento tolerado em público não devem ser vistas como uma simples questão de supressão brutal e de repressão a cada passo. (...) houve um esforço (...) para criar um novo tipo de ordem urbana mediante uma execução mais sistemática das leis e constante pressão da vigilância." STORCH, Robert D. O policiamento do cotidiano na cidade vitoriana. Trad. C. M. Azevedo. In Revista Brasileira de História. São Paulo, ANPUH/Marco Zero, vol. 5, nº 8/9, set. 1984/ abril 1985, p. 29.
17 A esse respeito, bem como em relação aos dispositivos panópticos, veja-se FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Trad. L. Vassalo, Petrópolis, Vozes, 1977.
18 Weber assinala que:" la premisa mas general para la existencia del capitalismo moderno es la contabilidad racional del capital como norma para todas las grandes empresas lucrativas", e arrola as pré-condições da constituição dessas empresas. WEBER, Max. História económica general (cap. IV- Origen del capitalismo moderno). Trad. M. Sanchez Sarto, 3ª ed., México, Fondo de Cultura Económica, 1961, p. 237.
19 "Aqui poderíamos fazer uma distinção, feita originalmente por Stephen Spender, entre o moderno e o modernista. O moderno como uma questão de período e fase histórica, o modernismo como uma questão de arte e técnica, uma tendência específica da visão. Baudelaire é o primeiro moderno, o primeiro a aceitar a posição desclassificada, desestabelecida do poeta, que não é mais o celebrador da cultura a que pertence, o primeiro a aceitar a miséria e a sordidez do cenário urbano moderno - mas não é um modernista." HOUGH, Graham. "A lírica modernista". In BRADBURY, Malcolm e McFARLANE, James (orgs.). Modernismo: guia geral 1890-1930. Trad. D. Bottmann, São Paulo, Companhia das Letras, 1989, p. 255.
20 "La foule est son domaine, comme l'air est celui de l'oiseau, comme l'eau celui du poisson. Sa passion et sa profession, c'est d'épouser la foule. Pour le parfait flâneur, pour l'observateur passionné, c'est une immense jouissance que d'élire domicile dans le nombre, dans l'ondoyant, dans le mouvement, dans le fugitif et l'infini. Être hors de chez soi, et pourtant se sentir partout chez soi; voir le monde, être au centre du monde et rester caché au monde, tels sont quelques-uns des moindres plaisirs de ces esprits indépendants, passionnés, impartiaux, que la langue ne peut que maladroitement définir." BAUDELAIRE, Charles. "Le peintre de la vie moderne". In Écrits sur l'art. (tome II); édition établie, présentée et annotée par Yves Florence, Paris, Ed. Gallimard et Librairie Générale Française, 1871, pp. 145-146.
21 "El dandy es una creación de los ingleses que mantenían la batuta en el comercio mundial. En manos de las gentes de la bolsa londinense estaba la red comercial que abarcaba todo el globo terráqueo; sus mallas percebían las contraccciones más variadas, frecuentes e insospechadas. El comerciante tenía que reaccionar ante ellas, pero no hacer de sus reacciones un espetáculo. Los dandys adoptaron para la puesta en escena por su parte la oposición que en él se producía. Desarollaron el ingenioso entrenamiento que era necesario para realizarlo. Unieron la reacción rápida como el rayo con gestos y mímica relajados, fláccidos incluso." BENJAMIN, Walter. "El Paris del segundo imperio en Baudelaire". In Poesia y capitalismo: iluminaciones II. Trad. J. Aguirre, Madrid, Taurus, 1980, p. 115.
22 BAUDELAIRE, Charles. Épilogue In Petits poèmes en prose (Le spleen de Paris). Paris, Garnier-Flamarion, 1967, p. 171.
23 "Le vieux Paris n'est plus (la forme d'une ville - Change plus vite, hélas! que le cœur d'un mortel)." BAUDELAIRE, Charles. Le cygne In As flores do mal. Trad. I. Junqueira (edição bilíngüe), Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1985, p. 326.
24 "De cette époque datent passages et intérieurs, halls d'exposition et panoramas. Ce sont les reliques d'un monde rêvé. L'utilisation au réveil des éléments oniriques est le pont-aux-ânes de la pensée dialectique. C'est pourquoi la pensée dialectique est l'organe du réveil historique. Chaque époque ne rêve pas seulement de la prochaine, mais en rêvant elle s'efforce de s'éveiller. Elle porte en elle sa propre fin et comme Hegel déjà l'a reconnu elle développe cette fin par les voies de la ruse. Avec l'écoulement de l'économie marchande nous commençons à reconnaître, avant même qu'ils tombent, que les monuments de la bourgeoisie sont des ruines." BENJAMIN, Walter. op. cit., p. 138.
25 "Toute la maladie du siècle vient de deux causes: le peuple qui a passé par [17]93 et par 1814 porte au cœur deux blessures. Tout ce qui était n'est plus; tout ce qui sera n'est pas encore." MUSSET, Alfred de. La confession d'un enfant du siècle; Apud: NUNES, Benedito. "A visão romântica". In GUINSBURG, J. (org.). O romantismo.2ª ed, São Paulo, Perspectiva, Stylus, 1985, p. 69.
26 "El objetivo, el punto de referencia histórico es mucho menos importante siempre que el movimiento espiritual del revival: lo obtenido al final del viaje hacia atrás en el tiempo será siempre patria y exilio, extravío y recuperación de la propia identidad. La cultura romántica opone al conocimiento científico el conocimiento estético, el" sentimiento" de la naturaleza, pero también - y por la misma razón - opone a la historia, en tanto que ciencia, el historicismo estético, el "sentimiento" de la história, el revival. ARGAN. Giulio Carlo. "El revival". In ARGAN, G. C. et alii. El pasado en el presente. Trad. R. Arqués, Barcelona, Gustavo Gili, 1977, pp. 14-15.
27 "Una obra arquitéctonica de Palladio puede ser elegante en grado sumo... Si deseamos dotarla de una belleza pintoresca... debemos demoler la mitad, mutilar la otra mitad y arrojar los miembros mutilados alrededor en montones. En resumen, debemos transformar un edificio delicado en una áspera ruína." GILPIN, William. Three essays to which is added a poem, on landscape painting; Apud: KLINGENDER, Francis D. Arte y revolución Industrial. Trad. P. Salsó, Madrid, Cátedra, 1983, p. 125.
28 "Or le résultat de cet examen est que le beau temps, le temps de la vertu de chaque peuple, a été celui de son ignorance; et qu'à mesure qu'il est devenu savant, artiste, et philosophe, il a perdu ses mœurs et sa probité, il est redescendre à cet égarde au rang des nations ignorantes et vicieuses qui font la honte de l'humanité. Si l'on veut s'opiniâtrer à y chercer des différences, j'en puis reconnoître une, et la voici: c'est que tous les peuples barbares, ceux mêmes qui sont sans vertu, honnorent cepedant toujours la vertu, au lieu qu'à force de progrès les peuples savants et philosophes parvinnent enfin à la tourner en ridicule et à la mépriser." ROUSSEAU, Jean-Jacques. Dernière response a M. Bordes In Œuvres de Jean-Jacques Rousseau. Paris, Chez Lefèvre Librairie, 1819, p. 112.
29 "La notion de nostalgie s'est développée en Europe au moment de l'essor des grandes villes; simultanément, des voies de communication très améliorées rendaient plus aisés les mouvements de population. Mais, à la mème époque, la cellule sociale du village, les particularités provinciales, les coutumes locales, les patois gardaient encore toute leur importance. L'écart différentiel était grand entre le millieu villageois et les conditions qu'un adolescent rencontrait dans la grande ville ou à l'armée. Le milieu villageois, fortement structuré, exerçait un rôle formateur. Le désir du retour avait donc un sens littéral, il était orienté dans l'espace géographique: il visait une réalité localisée. Il est évident que le déclin de la notion de nostalgie coïncide avec le déclin du particularisme provincial: les rituels locaux, les structures `arriérées' ont pratiquement disparu en Europe occidentale. Le regard vers le village natal n'a plus lieu d'être un tourment, le retour n'a plus aucun effet curatif." STAROBINSKI, Jean. Le concept de nostalgie. Paris, Gallimard, 1966, pp. 113-114.
30 CHEVALIER, Louis. Labouring classes and dangerous classes in Paris during the first half of the nineteenth century. Trad. F. Jellinek. New Jersey, Princeton University Press, 1973, pp. 155-156.
31 "Il n'y a point de ville qui fournisse aux imaginations d'un Artiste ingénieux un aussi beau camp que Paris. C'est une fôret immense, variée par des inégalités de plaine et de montagne, coupée tout au milieu par une grande rivière, qui se divisant en plusieurs bras, forme des isles de différente grandeur. Supposons qu'il lui soit permis de trancher et de tailler à son gré; quel parti ne tirera-t-il pas de tant d'avantageuses diversités? Que d'heureuses pensées, que d'ingénieux tours, quelle variété d'expressions, quelle abondance d'idées, que de rapports bisarres, que de contrastes spirituels, quel feu, quelle hardiesse, quel fracas de composition! On dira sans doute que l'invention et le plan seroient à pure perte par la difficulté, l'impossibilité même de l'exécution. Eh pourquoi la chose seroit-elle impossible? Combien de villes de province, avec de ressources très médiocres, ont eu le courage de projetter une réédification sur nouveau plan, espérant en venir à bout à force de temps et de patience? Pourquoi désespéroit-on de donner à Paris an embellissement si convenable? Dans la Capitale d'un grand royaume comme la France, les ressources sont infinies. Il n'y a qu'à commencer, le temps acheve tout." LAUGIER, Marc-Antoine. Essai sur l'architecture. Paris, Duchesne, 1755, pp. 224-225 (edição fac-símile: Bruxelles: Pierre Mardaga, 1979).
32 BENJAMIN, Walter. op. cit., p. 137.
33 "Haussmann concepisce la Metropoli, a differenza della città, come terreno della lotta di classe. (...) La Metropoli non esprime più, allora, il dominio di una classe che cerca di" sintetizzarsi" con il suo opposto, secondo lo schema della tradizionale ragione dialettica, ma di una classe che vuole potere: che si impone direttamente e constantemente ripete la propria violenza." CACCIARI, Massimo. Metropolis: saggi sulla grande città di Sombart, Endell, Scheffler e Simmel. Roma, Officina Edizioni, 1973, pp. 27-28.
34 Rouanet, na citação abaixo, reitera o entendimento comum, formulado acerca das reformas de Hassmann: "A haussmanização, que desfigura a velha Paris e faz os citadinos sentirem-se alienados em sua cidade, coincide com o apogeu do capital financeiro, sob Napoleão III. Ela alimenta uma especulação desvairada, e a bolsa substitui as formas tradicionais do jogo. Às fantasmagorias do espaço, que constituem a experiência do flâneur, correspondem as fantasmagorias temporais do jogador. Durante os trabalhos, os operários se refugiam nos subúrbios, expulsos pelos aluguéis altos. O verdadeiro objetivo das obras de Haussmann, que se auto-intitulava artiste-démolisseur era facilitar o transporte das tropas, das casernas aos bairros populares, e impedir, pela largura das avenidas, a construção de barricadas. Mas durante a Comuna elas reapareceram, mais sólidas que nunca." ROUANET, Sérgio Paulo. "As passagens de Paris". In As razões do iluminismo. São Paulo, Companhia das Letras, 1987, p. 89.
35 "Cette ville (anterior à industrialização) est elle-même œuvre, et ce caractère contraste avec l'orientation irréversible vers l'argent, vers le commerce, vers les échanges, vers les produits. En effet, l'œuvre est valeur d'usage et le produit valeur d'échange. L'usage éminent de la ville, c'est-à-dire des rues et des places, des édifices et des monuments, c'est la Fête (...). LEFEBVRE, Henry. Le droit à la ville suivi de espace et politique. Paris, Éditions Anthropos, 1972, p. 12.
36 MONDRIAN, Piet. De Stijl; Apud: BANHAM, Reyner. Teoria e projeto na primeira era da máquina. Trad. A. M. G. Coelho. São Paulo, Perspectiva, 1975, p. 241.
37 SIMMEL, Georg. op. cit.
38 "They (os cidadãos) are, to be sure, dependent upon more people or satisfactions of their life-needs than are rural people and thus are associated with a greater number of organized groups, but their dependence upon others is confined to a highly fractionalized aspect of other's round of acticity. This is essentially what be meant by saying that the city is characterized by secondary rather than primary contacts. The contacts of the city may indeed be face to face, but they are nevertheless impersonal, superficial, transitory, and segmental. The reserve, the indifference, and the blasé outlook which urbanites manifest in their relationship may thus be regarded as devices for immunizing themselfs against the personal claims and expectations of others." WIRTH, Louis. "Urbanism as a way of life". In COUSINS, Albert N.et NAGPAUL, Hans (orgs.). Urban man and society: a Reader in urban Sociology. New York, Alfred A Knopf, pp. 146-147.
39 ORTEGA Y GASSET, José. La deshumanización del arte In La deshumanización del arte y otros ensayos estéticos. 4ª ed., Madrid, Revista de Occidente, 1956.
40 HILBERSEIMER, Ludwig. La arquitectura de la gran ciudad. Trad. P. M. Devesa, Barcelona, Gustavo Gili, 1979, p. 98.
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