quinta-feira, 29 de março de 2012

RAÍZES DO POVO BRASILEIRO

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Postado por Redação em Artigo Semanal, principal | 9 comentários



Jan 6, 2011
“As manifestações folclóricas são o mais cristalino

traço de genialidade e brilho do povo brasileiro”

(Luiz da Câmara Cascudo)


Delúbio Soares (*)

A matriz de nossa cultura vem das raízes do povo. É no Brasil profundo, das entranhas de nosso sofrido e adorado país, dos seus valores e da sabedoria infinda de sua gente, que as artes plásticas, a música, a arquitetura, a literatura, a poesia, buscam a inspiração e encontram o fermento para a criação do que de melhor nós temos.


Heitor Villa-Lobos é tão conhecido em todo o mundo quanto no Brasil. Tocado da Filarmônica de Berlim à Royal Britânica, regidas por nomes como Von Karajan ou Gustavo Dudamel, o brasileiro levanta platéias e encanta gerações. Gênio, comparável e comparado aos maiores compositores eruditos europeus, buscou nas cantigas de roda e no folclore de nosso interior, na alma do caipira e do seu trenzinho, a matéria-prima de sua produção fantástica.

Oscar Niemeyer, o maior arquiteto da atualidade em todo o mundo, o discípulo de Le Corbisieur que superou o mestre, buscou numa taba de índios de nossa Amazônia a inspiração para algumas de suas obras mais impactantes, como a Oca, do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, além de vários edifícios nos cinco continentes, onde se destaca o traço arrebatador do gênio que nos orgulha e nos alegra na plenitude de seus 103 anos.


Os painéis de Portinari, outro gênio que o Brasil doou ao mundo, adornam os salões de entrada do majestoso edifício das Nações Unidas, no coração de Nova York. Agora estão de volta ao Brasil para um cuidadoso trabalho de restauro por profissionais brasileiros. Antes, em iniciativa das mais felizes, foram colocados à disposição dos olhos e dos corações de nossa gente, em exposição pública. Filas serpentearam pelo centro do Rio de Janeiro, debaixo de sol e de chuva, em plena virada do ano, para que homens e mulheres, crianças e idosos, pudessem se deleitar com as cores vivas e os traços miraculosos do maior de nossos pintores. Portinari, coberto de glória em seu país e de admiração internacional, jamais deixou de ser o “Candinho”, menino pobre e de olhos vivos, que passeava descalço pelas ruas de sua pequenina Brodósqui, e buscou no povo do interior, nos sertanejos que fugiam da seca, nas crianças que soltavam pipas e balões de São João, a inspiração para sua obra monumental que a todos nós orgulha e extasia.

A arte brasileira, depois da Semana de Arte Moderna de 1922, com o rompimento com o conservadorismo acadêmico e a arte sem compromissos com a realidade do Brasil e seu povo, passou a buscar nas raízes da nacionalidade, no interiorzão do país, a fonte geradora de sua melhor fase. E a arte popular, com o folclore rico e poderoso que vem do coração e das tradições de nossa gente, é base de nossa cultura.


Já escrevi sobre uma das lembranças de minha infância, a Festa do Dia de Reis, com o bailado invadindo as ruas do interior goiano, a alegria mais pura e cristalina brotando do coração dos meus conterrâneos, a hospitalidade dos vizinhos em receber a visita da Bandeira do Divino ou do Estandarte dos Santos Reis. É uma tradição que vem do século XVI e foi trazida pelos portugueses colonizadores. Mas era mais formal e menos alegre, tingida com as cores sóbrias e algo conservadoras de um europeísmo que não tinha razão de ser. O que fez o nosso caipira? Deu ao Dia de Reis a alegria e o ritmo que lhe faltavam, incorporando à cantoria e às vestimentas a dança, a comida, a bebida e um gingado expressivo e gracioso que vem da senzala – herança dos nossos irmãos negros vindos da África como escravos – com a congada e a catira.

Vale recordar o que escrevi faz mais de um ano sobre essa surpreendente e belíssima festa que me hipnotizava na infância e que, ainda agora, com meio século de vida, trago no coração: “Em Goiás e Minas Gerais estão suas manifestações mais belas, que ainda guardam os traços profundos de fé, esperança e alegria que impressionaram tanto o botânico austríaco Johan Pohl, quanto o celebrado naturalista francês Saint-Hillaire, que perambularam pelos sertões goianos no século XIX e registraram para a posteridade as surpreendentes comemorações que presenciaram em mais de um lugarejo. (…) A Procissão do Fogaréu em Goiás Velho, as cavalhadas em Pirenópolis e Jaraguá, a festa do Divino Pai Eterno, em Trindade, reúnem milhões de goianos e de brasileiros de diversos Estados, em demonstrações impecáveis de fé e alegria”.



Quando, em seu discurso de posse perante o Congresso Nacional, Dilma Rousseff reafirma seus compromissos com a cultura nacional e a coloca como uma das prioridades de seu governo, nossa presidenta eleva a questão cultural a seu merecido patamar, potencializando um trabalho já iniciado pelo presidente Lula. Um país sem memória ou sem cuidados para com seu patrimônio artístico, cultural e histórico, é uma terra fadada a não conhecer o êxito na posteridade. E Dilma mostrou seu comprometimento e sua decisão de incentivar tão importante segmento de nossa vida.



Meu Estado natal é pródigo em manifestações folclóricas, como a Procissão do Fogaréu, a Folia de Reis, a Festa do Divino, as Cavalhadas e eventos que marcam o calendário cultural e turístico de Goiás de norte a sul, de leste a oeste. Não há Município, por menor que seja, onde por iniciativa de sua população e muitas vezes sem a ajuda oficial, onde tais festas não se revistam de impressionante beleza plástica, com uma profusão de sons e de cores que fascinam e alegram, além de trazerem em seu bojo a reafirmação da profunda fé religiosa e da perpetuação de nossa cultura e de suas melhores e mais genoínas tradições populares.

(*) Delúbio Soares é professor

www.delubio.com.br

www.twitter.com/delubiosoares

companheirodelubio@gmail.com

9 comentários
Antonio Correia Lima / Fevereiro 1, 2011
OK E OBRIGADO, VEJA POSTAGEM NO BLOG DA PONTA DA SERRA


Amaury Cardoso / Fevereiro 1, 2011
Prezado Delúbio,

Cumprimentando-o, parabenizo pelo artigo.

Saudações,

Amaury Cardoso

Visite o blog: http://www.amaurycardoso.blogspot.com


Iraci Scopel / Fevereiro 1, 2011
Muito bem, Delúbio. Parabéns pelo bom gosto.
Scopel


Pechtoll / Fevereiro 1, 2011
Bom dia….Camarada

Agradeço pelo envio do artigo. Em se falado de manifestações culturais, recomendo a leitura do livro Jurupari de Paulo Freire – um músico renomado – da ed. Vai Ouvindo – Você, com certeza ira gostar.

Um abraço.

Pechtoll.


Marlene Furtado da Silva / Fevereiro 1, 2011
Companheiro Delubio parabens pelo o artigo muito bom, tenha uma ótima semana abraço

Marlene Furtado


JORNAL PÁGINA ABERTA / Fevereiro 2, 2011
Soaresdelúbio,

Parabéns por mais um artigo fantástico sobre a nossa utópica cultura!

Alvesnilo


Samantha Vasconcelos Guerra / Fevereiro 2, 2011
Ser Buriti Alegrense:

01= É ser bem humorado de bem coma vida.

02=É gostar de um boi nelore na invernada e uma terra de cultura repleta de bacurís.

03=ser decidido e valente lutando pelo sucesso.

04=Ter apelido, gostar de esportes, e de uma cerveja estupidamente gelada.

05=Ser solidário, fazer uma boa rodinha, e ser um bom contador de causos.

06=gostar de rock, musica romantica, classica, mais depois da terceira dose, ama de paixão uma musica sertaneja.

07=Ser politico, hospitaleiro e as vêzes muito encrenqueiro.

08=É gostar de uma comida apimentada e (se possível uma boa galinhada).

09=carona e uma boa farra é conosco mesmo.

10=A principal caracteristica é amar sua terrra sobre todas as cidades, enfim, ser Buriti Alegrense é um estado de Espírito!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!.

autor= Luiz Carlos Naves

Buriti Alegre= branco. para identificão (do zé naves), porque tem outros brancos.

(atenção não fiquem com inveja, pois nossa cidade sempre esteve de portas abertas para receber nossos amigos visitantes)

um abraço carinhoso e saudações buriti alegrenses.

Goiânia entre tantos apelidos (luiz buriti)


Wagner Percussor Campos / Fevereiro 2, 2011
É MUITO BOM O RECONHECIMENTO DE NOSSAS RAIZES. PARABÉNS COMPANHEIRO, MUITO BOA MATERIA.


Carlos Sena / Fevereiro 2, 2011
Bacana Delubio. Goiás poderia gerar renda suficiente para viver de cultura, assim como já faz a Bahia e o Rio. Recomendo a leitura do Jadir Pessoa, que você já deve conhecer, os livros que falam de folia de reis são Saberes em Festa: festa. “Tendo sido formado por uma fabulosa mistura de povos milenares e festeiros, como o indígena, o europeu e o negro vindo à força da mãe África, o Brasil não poderia fugir a essa universalidade da festa. Fazemos festa por todos os motivos e, quando não os temos, inventamos”.

A dimensão educativa da festa expressa-se, especialmente, numa ambigüidade que lhe é intrínseca: a festa visa marcar em cada membro do grupo social os seus valores, as suas normas, as suas tradições; ao mesmo tempo em que se transforma sempre num grande balcão, numa grande demonstração das inovações, das mudanças, das novas descobertas, das novas concepções e, porque não dizer, da fecundidade das transgressões. Festejar ou simplesmente festar, como dizemos num genuíno “goianês”, é, antes de tudo, aprender o quanto temos de riqueza e de sabedoria a preservar e, ao mesmo tempo, o quanto temos a aprender com as transformações da história, com a lenta mudança das mentalidades. Quem vai à festa tem a possibilidade de aprender que o que se sabe ainda não é tudo para se continuar a viver e a reproduzir as condições de sobrevivência. Há que se abrir para o novo que cedo ou tarde acaba chegando e preenchendo nossos espaços vitais, até mesmo os de nossa habitação. Mas na festa também se pode aprender que o novo, por mais irremediável que seja, precisa ser integrado à herança que recebemos, que foi e, em muitos casos, ainda permanece sendo reconstituída, reproduzida e ensinada por abnegados artistas e sábios conservadores da cultura popular. A festa popular é o grande e fecundo momento a nos ensinar que a arte de viver e de compreender a vida que nos envolve está na perfeita integração entre o velho e o novo. Sem o novo, paramos no tempo. Mas sem o velho nos apresentamos ao presente e ao futuro de mãos vazias (Pessoa, 2005, p.39).


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