sexta-feira, 30 de março de 2012

NATUREZA DO BRASIL

SETEMBRO, 2003 . MEIO AMBIENTE 1A
Parceiros amigos da natureza
MEIO AMBIENTE
Conhecer para preservar
Da chegada de Cabral até os dias de
hoje, os brasileiros construíram um
país de enormes riquezas. Mas, para
isso, pagaram um alto preço: o
desgaste ambiental. Os danos recaíram
especialmente na Mata Atlântica,
explorada desde o início da colonização,
com a extração do paubrasil.
Neste fascículo, você vai saber
por que e como salvar o que sobrou
desse grande ecossistema, que
garante melhor qualidade de vida a
70% da população brasileira e já
ganhou o título de “campeão mundial”
em biodiversidade.
O homem
e a natureza
no Brasil
5
Destaque e guarde
FASCÍCULO
Este fascículo e os anteriores podem ser encontrados no site: www.novaescola.com.br
Ilustrações: Michele Iacocca
O comércio (e o contrabando)
do pau-brasil no século XVI foi
tão intenso que deixou marcas
profundas nas matas brasileiras.
Tanto que nossa árvore-símbolo
hoje está quase desaparecida.
2A MEIO AMBIENTE . SETEMBRO, 2003
No rastro dos ciclos econômicos
O Brasil conheceu uma série de ciclos
econômicos ambientados em diferentes
regiões. O primeiro, na Mata
Atlântica, foi a extração do pau-brasil,
no século XVI. Hoje, plantas como
a árvore que deu nome ao país estão
quase desaparecidas.
Um século depois, no ciclo da canade-
açúcar, vieram os canaviais, devastando
a chamada Zona da Mata, sobretudo
em Pernambuco e na Bahia.
No século XVIII,
a busca do ouro
destruiu largos
trechos do Cerrado
– ecossistema
que abrangia 2
milhões de quilômetros
quadrados
do Brasil Central
– e da Mata
Atlântica. A mineração
causou danos indiretos como o
desmatamento do terreno para a agricultura
e a pecuária. Essa atividade
até hoje contribui para o assoreamento
e a poluição dos rios, devido ao
uso, no garimpo, do mercúrio, um
metal nocivo ao ser humano.
Os séculos XIX e XX assistiram à expansão
dos cafezais, o que resultou na
erosão de terras da Mata Atlântica e
do Cerrado, em São Paulo, Minas Gerais
e Paraná.
Na passagem do século XIX para o século
XX foi a vez do extrativismo da
borracha, ambientado na Amazônia.
Hoje, os brasileiros geram riqueza nos
mais diversos ecossistemas – e causam
danos ambientais a todos eles.
Não por acaso, a destruição foi
maior na Mata Atlântica, cenário de
todos os ciclos econômicos, à exceção
do da borracha. Esse ecossistema,
que chegou a abranger 15% do
território brasileiro, perdeu mais de
92% de sua formação original. No
entanto, mais de 100 milhões de brasileiros
vivem em seus domínios. Esse
é um dos fatores que tornam urgente
sua salvação.
Quatro paisagens
Muita gente pensa que Mata Atlântica
é apenas a floresta litorânea de onde se
extraía, no século XVI, o pau-brasil.
Mas não é bem assim. Ainda encontrada
em 17 estados brasileiros, ela apresenta
quatro paisagens diferenciadas.
A mais ameaçada é a das florestas como
as do interior de São Paulo, abatidas
para a expansão dos cafezais. Segue-
se a floresta à beira do sertão nordestino.
A terceira paisagem mais devastada
é a mata de araucária dos estados
do sul. Paradoxalmente, o setor
mais preservado é a vegetação litorânea,
vítima da expansão dos canaviais
nordestinos nos séculos XVI e XVII
mas ainda encontrada do Rio Grande
do Sul ao Rio de Janeiro.
Na época do descobrimento, essas formações
se estendiam num contínuo, do
Sul ao Nordeste. Hoje, elas estão fragmentadas,
ilhas verdes junto a metrópoles,
pastagens e plantações. E a
ameaça continua: loteamentos clandestinos,
turismo predatório, extração ilegal
do palmito e de plantas ornamentais
raras (orquídeas, por exemplo) podem
destruir os remascentes da Mata
Atlântica. Impedir esse atentado ambiental
é dever de todos os brasileiros.
5. Meio Ambiente – Conhecer para preservar
Moagem de cana
em engenho do
século XVII
Ecossistema
é o conjunto de
elementos vivos
(plantas, animais,
bactérias e
fungos) que se
relacionam entre
si e com
elementos nãovivos
(água,
minerais) de
forma a viver
com autonomia
num determinado
ambiente.
Hercules Florence
Parceiros amigos da natureza
SETEMBRO, 2003 . MEIO AMBIENTE 3A
ser protegido por todos, inclusive pelo
poder público – e nem por isto a situação
se resolveu. A recuperação, em especial,
tem preço alto: são necessários
de 6 a 8 mil dólares para recuperar
cada hectare de Mata
Atlântica destruído. Ou seja,
mostra-se bem mais viável preservar
a floresta remanescente.
Veja algumas propostas para isso:
• valorizar as unidades de conservação
existentes e criar outras, em regiões
críticas. Essas unidades de conservação
incluem parques nacionais, estações
ecológicas, reservas biológicas,
florestas nacionais, reservas extrativistas,
áreas de preservação ambiental
e reservas particulares do patrimônio
natural.
• incentivar o ecoturismo, que tem tudo
a ver com a paisagem belíssima
da Mata Atlântica. Mergulhos, trilhas
ecológicas e escaladas são algumas
das atividades exploradas nesse
tipo de turismo que aproxima as pessoas
ao patrimônio natural da região
e alivia o estresse da vida moderna.
Por que salvar a Mata Atlântica
Não faltam razões para salvar a Mata
Atlântica. Seus mananciais abastecem
as cidades e comunidades do interior.
Sua presença contribui para regular o
clima, a temperatura, a umidade e as
chuvas, proporcionando melhor qualidade
de vida à 70% da população brasileira.
Além disso, a Mata Atlântica é campeã
em biodiversidade de espécies animais
e vegetais. E só esse aspecto justificaria
a preservação. Um hectare de floresta
no nordeste dos Estados Unidos contém
10 espécies de árvores, enquanto
um hectare da Mata Atlântica abriga
450 espécies.
Existem no ecossistema brasileiro:
• mais de 10 mil espécies de plantas
(5 mil endêmicas);
• aproximadamente 1 milhão e 600 mil
espécies animais, incluindo insetos;
• 261 espécies de mamíferos (73 endêmicas);
• 620 espécies de pássaros (160 endêmicas);
• 260 espécies de anfíbios (128 endêmicas).
Nessa intrincada rede de vida, encontram-
se centenas de plantas medicinais,
muitas das quais ainda não são conhecidas
ou suficientemente pesquisadas.
E também inúmeras espécies de árvores
frutíferas (pinheiro-brasileiro, palmito,
jabuticaba, araticum, araçá etc).
Como salvar a Mata Atlântica
Conhecemos a resposta: recuperar e
preservar é a saída. E também sabemos
que não é fácil. A Constituição de
1988 tornou a Mata Atlântica patrimônio
nacional, isto é, um ambiente a
Biodiversidade
é o conjunto
de espécies
que vivem e
interagem em
determinado
ambiente.
Endêmicas
Espécies
animais e
vegetais que
vivem apenas
numa região.
Parceiros amigos da natureza
4A MEIO AMBIENTE . SETEMBRO, 2003
Este exemplar é parte integrante da revista ESCOLA, edição 165. Não pode ser vendido separadamente. Proibida a reprodução total ou parcial desta obra.
1997, essas ações envolvem o chamado
“seqüestro de carbono”: o tanto
que as empresas emitem de gás carbônico
deve ser restituído à natureza em
forma de preservação ambiental. Para
as multinacionais, é muito mais barato
conservar florestas ameaçadas de extinção
do que produzir sem gerar poluição.
Para a Mata Atlântica, pode ser
uma saída.
Iniciativas bem-sucedidas
Também é importante conhecer e divulgar
as ações de mais de 200 Ongs
(organizações não-governamentais),
reunidas na chamada Rede de Ongs da
Mata Atlântica, assim como apoiar
pesquisas sobre estratégias de conservação
da biodiversidade e projetos de
conservação em andamento.
Previstas na Conferência de Kyoto, em
IDÉIAS PARA A SALA DE AULA
lhas, flores e sementes das árvores,
para colecioná-las em um álbum,
com o nome científico, o nome popular,
as características e propriedades
de cada uma delas, e em que condições
elas se desenvolvem melhor (sol,
sombra, muita água, pouca água...).
Se houver uma praça bonita ou um
jardim público, vale fazer placas
com os nomes científicos e populares
de cada uma das árvores e espetá-las
na terra, em frente a cada árvore.
Vocês estarão prestando um bom
serviço à comunidade, que, com certeza,
vai agradecer.
Uma lista das dez mais
Peça que os estudantes elaborem
uma lista das dez maiores conseqüências
do desenvolvimento econômico
em sua região, com destaque para
aquelas que podem acarretar impacto
ambiental. Faça a turma compreender
que, quando uma região começa
a prosperar, tende a receber um
grande número de pessoas. Com isso,
aumentam o consumo e a produção
de alimentos, a geração de lixo etc.
Árvore de quê?
Conhecer é o melhor caminho para
preservar – isso você já sabe. Que
tal, então, levar sua turma a uma
excursão pelo bairro, ou até mesmo
pelo município, para identificar as
árvores locais? Inclusive para descobrir
se existem algumas espécies
endêmicas.
Na hora de identificar cada uma delas,
vale recorrer a moradores, jardineiros,
ao pessoal que trabalha no
horto da prefeitura. Durante a pesquisa,
os alunos podem colher fo3


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