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A mancha de sangue está se espalhando na Amazônia
13/02/2012 - 07:38
CARTA CAPITAL
São Paulo
Abandonada à própria sorte e sob ameaças constantes, Laisa Santos Sampaio lembrou, no auditório da Organização das Nações Unidas (ONU) na quinta-feira 9, de como a Amazônia brasileira é manchada de sangue, da falta de incentivo para os povos que vivem da floresta e dos perigos do novo código florestal.
Em seu discurso na ONU, Laisa pediu que a presidente Dilma Rousseff não sancione o novo Código Florestal, aprovado no Senado no fim do ano passado/FELIPE MILANEZ
Irmã de Maria do Espírito Santo e cunhada de José Cláudio Ribeiro, ela foi até Nova York, na sede da organização, receber um prêmio pelos seus familiares, assassinados brutalmente em 2011 por conta de seu ativismo, na cerimônia Heróis da Floresta. Fora dos holofotes, no entanto, Laisa teme pela sua própria vida, como mostrou reportagem de CartaCapital.
“Eu estou aqui porque assassinaram minha irmã Maria e meu cunhado José Cláudio. Isso porque eles defendiam a floresta e a vida na floresta. Na Amazônia, têm se intensificado casos de assassinatos de pessoas que, como eles, defendem a vida na floresta”, disse ela. O casal lutava há anos contra a ação de madeireiros em Nova Ipixuná, no Pará, onde viviam em assentamento.
Em maio do ano passado, depois de denunciar ameaças em eventos internacionais, como o TedxAmazônia, os dois foram mortos a tiros. Para Laisa, a mancha de sangue na Amazônia continua se espalhando.
Em seu discurso, Laisa pediu que a presidenta Dilma Rousseff não sancione o novo Código Florestal, aprovado no Senado no fim do ano passado.
O projeto de lei concede anistia a desmatadores e reduz áreas de preservação nas florestas.
“Votado pela Câmara dos Deputados, não favorece o povo que vive e defende a floresta. Essa mesma Câmara que vaiou no momento em que foi anunciado o assassinato de Maria e José Cláudio”, disse ela. “Por baixo do desmatamento há muita gente sendo morta”, frisou.
“Maria e José Cláudio não só defendiam a floresta, mas mostraram na prática como viver dignamente da floresta, respeitando a dinâmica e todas as espécies existentes. Não é utopia”, ressaltou.
Para a ativista, faltam políticas que incentivem a atividade econômica sustentável na floresta, como o extrativismo praticado pelo seu irmão e cunhada, que sobreviviam da coleta de castanhas. Ao contrário, os incentivos, segundo ela, são para a criação de gado e para grandes projetos como as hidrelétricas, que deixam impactos sociais e ambientais.
A situação, diz, é urgente: “A vida do castanheiro é a vida da castanheira. A Floresta e o povo da Floresta estão sendo mortos”. Na cerimônia, o brasileiro Paulo Adário, do Greenpeace, também foi premiado.
A íntegra do discurso:
“Eu estou aqui porque assassinaram minha irmã Maria e meu cunhado José Cláudio. Isso porque eles defendiam a floresta e a vida na floresta. Na Amazônia tem se intensificado casos de assassinatos de pessoas que como eles defendem a vida na floresta. A Amazônia é manchada de sangue. E essa mancha continua se espalhando. Mas nossa situação torna-se cada vez mais grave porque o Novo Código Florestal Brasileiro votado pela Câmara dos Deputados, não favorece o povo que vive e defende a floresta Essa mesma Câmara que vaiou no momento em que foi anunciado o assassinato de Maria e José Cláudio A presidenta Dilma não deve aprovar essa lei Por baixo do desmatamento há muita gente sendo morta.
Maria e José Cláudio não só defendiam a floresta mas mostraram na prática como viver dignamente da floresta, respeitando a dinâmica e todas as espécies existentes.
E sobre essa vida na floresta eles deram exemplos Na educação, ensinando as crianças De que se pode ganhar mais com a floresta do que vendendo ou queimando ela Deram exemplo prático em suas vidas Não é utopia. Faltam políticas públicas de apoio para pessoas como nós que vivem e sabem produzir respeitando a natureza isso é rentável. Mas falta incentivo para esse povo. Incentivo só há para a criação do gado e para a retirada da floresta. E esses grandes projetos para a Amazônia. Como as usinas hidrelétricas.
Lá só deixam o estrago. E o dinheiro vai para a mão dos poderosos. Gera tanto impactos ambientais, quanto impactos sociais. Quantas populações tradicionais deixaram de existir. E vão viver a vida na cidade, onde sua vida é destruída. O protetor da natureza é quem vive no meio dela. A vida das pessoas que vivem na Amazônia precisa ser salva. E a situação é urgente. A vida do castanheiro é a vida da castanheira. A floresta Amazônica é viva, é viva de gente. A Floresta e o povo da Floresta estão sendo mortos.”
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