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Porto Alegre, RS, Sexta - Feira, 30 de Março de 2011.
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janeiro 07, 2011
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PERSONALIDADES NA HISTÓRIA DO SUL
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Nesta página você encontrará pessoas que participaram diretamente na história dos estados da região sul do Brasil.
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Anita Garibaldi
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ANITA GARIBALDI - HEROÍNA NO AMOR, NA GUERRA E NA FAMÍLIA
Aos dezoito anos, Ana Maria de Jesus Ribeiro passa a ser Anita Garibaldi e escreve definitivamente uma nova página na história da Revolução farroupilha, a partir de agosto de 1839, quando deixou o marido, assumiu sua paixão e embarcou no navio comandado por Giuseppe Garibaldi, "o herói de dois mundos".
O primeiro encontro entre Aninha e Giuseppe Garibaldi pode ter acontecido de várias formas, segundo as diferentes versões. Garibaldi diz nas "Memórias", que estava a bordo de uma embarcação, na Barra de Laguna, desanimado, solitário, pensando nos amigos que perdera no naufrágio em Campo Bom, carecendo de "uma presença feminina". Foi quando dirigiu o "olhar à ribeira", onde no morro da Barra pôde ver "as belas jovens ocupadas nos seus diversos afazeres domésticos. Uma delas atraía-me mais especialmente que as outras..."
Garibaldi desembarcou e caminhou na direção da casa "sobre a qual havia já algum tempo fixara-se toda a minha atenção". O coração "disparava", encerrando "uma dessas resoluções que jamais esmorecem. Um homem (eu já o avistara) convidou-me a entrar".
Deparou-se então com Aninha e pronunciou a famosa frase: "Virgem criatura, tu serás minha!" O próprio Alexandre Dumas, a quem Giuseppe ditou anos mais tarde as "Memórias", anotou que "esta passagem é intencionalmente coberta pelo véu de um enigma".
Virgílio Várzea, em texto de 1919, diz que do tombadilho do navio, na Barra, "chamou-lhe vivamente a atenção uma moça alta que, à porta de uma choupana, parecia aflita e a chorar. Preocupado com o que teria sucedido à pobre criatura, mandou guarnecer um escaler e largou para a praia. Aí chegando dirigiu-se à moça, perguntou-lhe o que tinha. Ela explicou-lhe, por entre lágrimas, que estava com o marido de cama e muito mal das febres", assinala.
Por causa disso, Garibaldi "propôs-lhe levar o esposo a tratar-se no hospital de sangue que os republicanos tinham estabelecido na Laguna. Aceitou, mas sob condição de acompanhar ela ao doente, o que foi deferido", sendo Manoel transportado. "No hospital transformou-se a moça na melhor das enfermeiras, não só ocupando-se carinhosamente do marido como dos numerosos feridos dos últimos combates que aí se achavam em tratamento. Enquanto dias depois o esposo falecia. Embora esmagada por esse golpe, ela continuou a desvelar-se pelos demais enfermos com admiração e alegria geral de todos."
Nas manhãs seguintes, alegando visita a "seus marinheiros feridos", Garibaldi demorava-se "longo tempo a conversar com a enfermeira, a quem, sem saber como nem porque, se sentia preso de grande simpatia desde o primeiro momento em que a viu. Ela, a seu turno, experimentava o mesmo sentimento por ele. Era o começo de uma grande e mútua paixão".
A terceira possibilidade é levantada por Saul Ulysséa. "Conta a tradição que Garibaldi com ela se encontrara no lugar Figueirinha", onde funcionou durante muitos anos o Fórum de Laguna, próximo do Hospital de Caridade. "Existia naquele local muitas fontes de lavagem de roupa, não sendo de duvidar que Anita ali estivesse para a lavagem de sua roupa e de sua mãe." Todas essas versões, com derivações e mesmo fusões entre elas, alimentam permanentemente o mito, fornecendo matéria-prima a projetos de ficção (artes) e de resgate histórico da personagem.
Anita tinha apenas 18 anos quando participou do primeiro combate. Ela e Garibaldi deixaram Laguna no dia 20 de setembro de 1839, numa viagem que seria a de sua lua-de-mel. Com uma frota de três embarcações, seguiram até a altura de Santos (SP), onde investiram contra uma corveta imperial, passando na seqüência a ser perseguidos por uma esquadra. De volta ao Sul, buscaram abrigo nas enseadas que recortam o litoral catarinense, onde encontram duas sumacas carregadas de arroz, que foram capturadas.
Na altura da Ilha de Santa Catarina travam combate com os ocupantes do navio imperial Andorinha. Uma forte ventania causa a perda de uma das embarcações rebeldes, a Caçapava, restando o Seival e o Rio Pardo, com os quais penetram na enseada de Imbituba, onde Giuseppe organiza a defesa. O Seival é deixado na praia e seu canhão colocado sobre uma elevação, sob os cuidados do artilheiro Manuel Rodrigues. Na ocasião, Garibaldi tenta convencer Anita a desembarcar, mas ela resiste e não aceita. Quer ficar ao lado dele, não importa o que aconteça.
A batalha começou no amanhecer do dia 4 de novembro de 1839. "O inimigo, favorecido em sua manobra pelo vento", avança "em bordejos e torpedeando-nos com ferocidade", recorda Giuseppe, a bordo do Rio Pardo. "De nossa parte, combatíamos com a mais obstinada determinação, atacando de uma distância suficientemente curta para que pudéssemos nos valer das carabinas. O fogo, de ambas as partes, era dos mais assoladores", complementa.
Começaram a se acumular "cadáveres e corpos mutilados", cobrindo a ponte da escuna crivada de balas e com a mastreação avariada. "Estávamos determinados a resistir, sem rendição, até que o último de nós tombasse", amparados "pela imagem da amazona brasileira que tínhamos a bordo", armada com uma carabina, engajada no combate. Seguiram-se cinco horas de muita tensão, gritos desesperados, disparos e estrondos de canhões, até que os imperiais bateram em retirada, com um comandante baleado.
Henrique Boiteux não economiza adjetivos ao descrever Anita, "de carabina em punho, impávida ao fogo, desprezando a morte, batendo-se como o mais valente, emprestando valor àqueles que desfaleciam, animada com as faces rubras, olhar em chamas e cabelos soltos ao vento, percorrendo a bateria em uma atividade febril, excitando a todos na defesa do estandarte, símbolo do ideal pelo qual se batiam". A cena foi cantada em verso e prosa, servindo de inspiração para os artistas do lápis e do pincel, reproduzida nas capas de vários livros e publicações. Foi o batismo de fogo de Anita.
Nas "Memórias" que ditou a Alexandre Dumas, Garibaldi destacou o episódio. Enquanto "da ponte da escuna e com o sabre em punho, Anita encorajava os nossos homens, um petardo de canhão a derrubou, juntamente com dois dos nossos combatentes. Saltei sobre o seu posto, tomado pelo temor de nada mais encontrar além de um cadáver. Ela, porém, reergueu-se sã e salva. Os dois homens estavam mortos. Roguei-lhe então que descesse até o porão. 'Sim, irei mesmo até lá - disse-me ela -, mas para tirar de lá os poltrões que nele se esconderam.' Ela desceu e logo voltou, empurrando à sua frente dois ou três marujos, pejados por terem-se mostrado menos valentes que uma mulher".
Anita viveu três momentos distintos no combate ocorrido na Barra de Laguna, iniciado por volta do meio-dia de 15 de novembro de 1839, quando foi derrotada a experiência da República Catarinense. O comando da defesa ficou sob responsabilidade de Garibaldi, que posicionou seus navios num semi-círculo, dispondo uma linha de 300 atiradores em terra e seis canhões no Fortim do Atalaia, pelo lado Sul e na época bem próximo do canal. Ainda não havia o molhe de pedras, construído nas primeiras décadas deste século, nem o aterro. Cerca de 1,2 mil homens da infantaria rebelde estabeleceram-se nas margens do canal, aguardando o ataque legal.
A bordo do Itaparica, Anita pôde observar a chegada das forças adversárias, sob o comando do capitão-de-mar-de-guerra Frederico Mariath, compostas por 13 navios, com 300 praças de guarnição, 600 de abordagem e 33 bocas de fogo. Enquanto Garibaldi observava de uma colina o movimento da esquadra legal, Anita apontou o canhão e disparou o primeiro tiro, seguindo-se uma terrível batalha.
O segundo momento de Anita começa quando Garibaldi ordena que ela vá pedir reforços ao general Canabarro, estacionado nas imediações do Farol de Santa Marta. Anita cumpre a missão e retorna com ordens do comandante rebelde para retirar-se do combate e salvar armamentos e munições. Contrariado, já que pretendia incendiar a esquadra imperial, Garibaldi inicia a retirada, encarregando Anita de transportar os primeiros pertences, pretendendo com isso que ela ficasse a salvo no outro lado.
Mas ela voltou para o centro dos combates, dando continuidade a seu terceiro momento. Ela carregou o bote com armas e munições e o conduziu para o campo da Barra, gesto que repetiu cerca de 20 vezes seguidas, dando origem a diversas narrativas. Enquanto executava a missão, cruzava "sob o fogo inimigo dentro de uma pequena barca com dois remadores, dois pobres-diabos que se curvavam o quanto podiam para evitar balas e bombas. Ela, porém, de pé sobre a popa, no encruzamento dos tiros, surgia, ereta, calma e altaneira como uma estátua de Palas, recoberta pela sombra da mão que Deus naquelas horas pousava sobre mim", escreveu Garibaldi. Palas, ou Minerva, foi a deusa mitológica das artes e da sabedoria.
As forças estavam "separadas na distância máxima de quatro braças", ou quase oito metros, segundo Boiteux, ocasionando "uma tempestade de balas, de fuzilaria e de metralha, enchendo os navios de ambos os partidos de ruína e de sangue". Boiteux refere-se a um "turbilhão de fumo e fogo". A "medonha e homérica luta só se atendia à precisão dos tiros, pois o crepitar da fuzilaria e ribombar dos canhões na sua afanosa missão destruidora abafava os gritos de dor dos mutilados, as imprecações raivosas dos atingidos, as vozes de manobras dos comandantes e oficiais pelejando estes mesmos com carabinas e pistolas", assinala o historiador catarinense.
O depoimento do capitão-de-fragata J. E. Garcez Palha resume bem o cenário vivido por Anita. "Foi mais do que um combate, foi um turbilhão. Os navios avançaram com velocidade regular através de uma tempestade de balas, de fuzilaria e de metralha. Ao estampido incessante das armas misturavam-se os gritos dilaceradores dos feridos e moribundos, o sibilar do vento através do aparelho dos navios, o quebrar violento das vagas de encontro ao costado, e a voz dos comandantes e oficiais que animavam os marinheiros, pelejando eles mesmos com carabinas e pistolas."
Na ordem do dia onde narrou a batalha, Mariath informou a existência de 17 mortos e 38 feridos legalistas. Em 1860, em artigo assinado no jornal "Correio Mercantil", o militar corrigiu os números anteriores, falando em 51 mortos e 12 feridos. Não existe nenhuma estimativa do número de farroupilhas mortos no Combate da Barra. Outro ponto interessante que destaca a coragem de Anita é o fato de ela ter conseguido fugir da prisão, após o combate de Curitibanos, em dezembro de 1839, ficando durante oito dias, escondida no mato, reencontrado-se com seu marido - Giuseppe Garibaldi - já na cidade de Lages.
Indubitavelmente, a coragem da guerreira é redesenhada pela força da maternidade: em setembro de 1840, a guerreira mãe, por ocasião de um ataque em são Luis das Mostardas, conseguiu fugir, a cavalo, apenas de camisola, levando nos braços seu filho de doze dias.
Após a derrota dos Farrapos em Santa Catarina, Anita e Garibaldi fugiram para o Uruguai, atravessando o Rio Grande do Sul em cinqüenta dias, conduzindo uma tropa de novecentas reses. Naquele país Garibaldi foi convidado pelo governo para combater tropas argentinas chefiadas por Rosas, sobre quem teve vitórias que o tornaram reconhecido na Europa. Nesse tempo, Anita dedicou-se aos filhos: Menotti, Ricciotti, Teresita e Rosita e continuou apoiando o movimento revolucionário, realimentando seus ideais republicanos em reuniões políticas em sua própria casa, onde congregava um grupo de italianos republicanos.
Em 1848, Anita e os filhos partem para Itália. Lá, entre o papel de dedicada mãe e amantíssima esposa, reassume o de guerreira lutando ao lado do marido pela Independência e unificação daquele país. Em julho de 1849, Garibaldi e seus homens precisaram fugir de Roma, levando junto à tropa, por decisão dela, uma soldada grávida de cinco meses. E, depois de longa e difícil fuga, Anita gravemente doente, morreu no dia 4 de agosto de 1849 nos braços de seu grande amor, numa fazenda no nordeste de Roma.
Perseguido, Garibaldi partiu sem poder assistir ao enterro daquela que ele afirma em suas memórias, que era a dona de sua alma.
CRONOLOGIA - MOMENTOS QUE MARCARAM A VIDA DA HEROÍNA
1821 - Nascimento de Ana Maria de Jesus Ribeiro (Anita Garibaldi), em Morrinhos, na época pertencente à Laguna.
1835 - Anita casa com o sapateiro Manuel Duarte de Aguiar
- Início da Revolução Farroupilha
1839 - Manuel Duarte, parte, sozinho, de Laguna.
- Proclamação da República Catarinense, em Laguna.
- Anita conhece Giuseppe Garibaldi e parte com ele para Lages
1840 - Nasce Menotti Garibaldi, primeiro filho do casal.
1841 - Anita e Giuseppe partem para Montevidéu, no Uruguai.
1842 - Anita e Giuseppe casam, oficializando a união.
1843 - Nasce a filha Rosita Garibaldi
1845 - Nasce a filha Teresita Garibaldi
- Morre afilha Rosita Garibaldi
1847 - Nasce o filho Ricciotti Garibaldi
- Anita parte com os filhos para Gênova, na Itália.
1848 - Giuseppe parte par Itália (lutas pela unificação), levando os restos mortais da filha Rosita.
- Anita e os legendários são recebidos em Ravena, Itália, por uma procissão à luz de tochas.
1849 - Anita, grávida pela quinta vez vai a Nizza, terra natal do marido.
- Doente, Anita vai a Roma, onde lutam Giuseppe e seus guerreiros.
- No dia 4 de agosto, às 19h45, morre Anita Garibaldi, aos 28 anos, em Mandriole, na Itália.
1859 - Giuseppe recupera os restos mortais de Anita e leva-os a Nice, então pertencente à Itália.
1931 - Os ossos de Anita Garibaldi são depositados no cemitério Staglieno, em Gênova.
1932 - Os restos mortais foram levados para Roma e depositados no monumento à heroína, erguido na Praça Anita Garibaldi.
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ANTÔNIO DE SOUZA NETTO
"Bravos companheiros da 1ª Brigada de Cavalaria !
Ontem obtivestes o mais completo triunfo sobre os escravos da corte do Rio de Janeiro, a qual, invejosa das vantagens locais da nossa província, faz derramar sem piedade o sangue de nossos compatriotas, para deste modo, fazê-la presa de suas vistas ambiciosas. Miseráveis ! Todas as vezes que vis satélites se têm apresentado diante das forças livres, têm sucumbido, sem que este fatal desengano os faça desistir de seus planos infernais.
São sem números as injustiças feitas pelo governo. Seu despotismo é o mais atroz. E sofreremos calados tanta infâmia ? Não, nossos compatriotas, os rio-grandenses, estão dispostos, como nós, a não sofrer por mais tempo, a prepotência de um governo tirânico, arbitrário e cruel como o atual. Em todos os ângulos da província não soa outro eco que o de INDEPENDÊNCIA, REPÚBLICA, LIBERDADE OU MORTE. Este eco, majestoso, que tão constantemente repetis, como uma parte deste solo de homens livres, me faz declarar que proclamamos a nossa independência, para o que nos dão bastante direito os nossos trabalhos pela liberdade, e o triunfo que ontem obtivemos, sobre esses miseráveis escravos do poder absoluto.
Camaradas ! Nós que compomos a 1ª Brigada do Exército Liberal devemos ser os primeiros a proclamar, como proclamamos, a independência desta província, a qual fica desligada das demais do Império, e forma um estado livre e INDEPENDENTE, com o título de REPÚBLICA RIO-GRANDENSE, e cujo manifesto a nações civilizadas, se fará competentemente.
Camaradas ! Gritemos pela primeira vez: VIVA A REPÚBLICA RIO-GRANDENSE ! VIVA A INDEPENDÊNCIA ! VIVA O EXÉRCITO REPUBLICANO RIO-GRANDENSE !
Campo dos Meneses, 11 de setembro de 1836.
Antônio de Souza Netto, Comandante da 1ª Brigada de Cavalaria."
*Comentario: essa foi a proclamação lida pelo Tenente-Coronel Joaquim Pedro Soares, um dia apos a vitoria dos farrapos na Batalha do Seival. No dia seguinte, 12/09/1836, ocorreu outra cerimônia, que constou da lavratura e assinatura solene da ata de declaração de independência e Proclamação da República Rio-Grandense. Lá vai, na íntegra, essa ata histórica:
"Aos doze dias do mês de setembro do ano de mil oitocentos e trinta e seis, no acampamento volante da costa do rio Jaguarão Chico, achando-se a 1ª Brigada Republicana em grande parada, estando presente o Coronel comandante da mesma, oficiais e oficiais inferiores que subscrevem, por unânime vontade destes e da tropa, foi declarado que - A província do Rio Grande do Sul de agora em diante se constitiu LIVRE E INDEPENDENTE, com o título de REPÚBLICA RIO-GRANDENSE, não só por ter todas as faculdades para se apresentar entre as demais nações livres do universo, se não também obrigada pela prepotência do Rio de Janeiro, que por tantas vezes tem destruído seus filhos, ora deprimindo sua honra, ora derramando seus sangue e, finalmente, desfalcando-a de suas rendas públicas. Por todos os motivos que se declararão em uma próxima reunião da Assembléia Nacional Constituinte e Legislativa, protestam ante o ser supremo do Univerno, não embainhar suas espadas, e derramar todo o seu sangue antes de retroceder de seus princípios políticos, proclamados na presente declaração."
*Comentario: o General Netto (na época, ainda Coronel) enviou cópias para todos os cantos do Rio Grande para levar ao conhecimento do povo a independência. A Câmara Municipal de Jaguarão (na época, Serrito), em sessão extraordinária, foi a primeira a reconhecer a República Rio-Grandense.
Posto: General, Brigadeiro (general de brigada)
Arma: Cavalaria
Exército: Exército Republicano Rio-Grandense
País: República Rio-Grandense (1836/1845)
Antônio de Souza Netto foi um dos líderes da Guerra dos Farrapos (1835/1845) e proclamador da República Rio-Grandense, em 11 de setembro de 1836.
Sendo logo após promovido a general, Netto foi a principal liderança no "front" de batalha com a ausência de Bento Gonçalves - preso no Rio e, depois, na Bahia - e o único líder contrário a paz, no final da guerra, porque não aceitou a derrota, a reintegração ao Brasil e as condições desonrosas para os farroupilhas e escravos (que lutaram sob a promessa de liberdade). Netto foi o melhor cavaleiro da história do Rio Grande - e não Osório, que o Brasil retribuiu com benesses, títulos nobiliárquicos e a menção de "patrono" da Cavalaria.
O General Netto era valente e corajoso, sempre à frente da vanguarda de sua Brigada Ligeira. Representava a síntese do gaúcho, admirado pelos subordinados, era considerado o "mimo" dos farroupilhas. Inicialmente, não demostrava ser republicano, mas devido ao descaso do Brasil durante a guerra e influenciado pelos fervorosos camaradas republicanos e separatistas, tornou-se defensor da autonomia e separação do Rio Grande, das liberdades civis e da abolição aos escravos que lutaram pela República e, posteriormente, o fim total da escravidão.
Com a derrota dos farroupilhas, Netto não concordou com o acordo de paz aceito pelos seus camaradas; acreditava que o certo e decente era continuar a lutar e defender a República Rio-Grandense e os ideais de liberdade até o fim. Perdendo quase todas as suas propriedades pela causa no Rio Grande, foi viver no Uruguai em seu auto-exílio. Levou consigo mais de 200 negros,
ex-escravos, cumprindo, em parte, sua promessa de liberdade aos que lutaram pela República. Viveu por quase 20 anos em conflitos no Rio Grande, Uruguai e Argentina, participando de quase todas as guerras neste período (1845/1865), inclusive participando ativamente da política e da
possibilidade da retomada da República Rio-Grandense.
Quando visitava o Rio Grande, era normalmente visto no Campo dos Menezes, perto do Arroio Seival, relembrando o passado (local do Combate do Seival (10/09/1836) e da Proclamação no dia seguinte). Era um inimigo potencial do Brasil, pois além de estar vivendo no Uruguai, ainda era muito respeitado e admirado no Rio Grande; comentava-se de acordos para realizar o grande sonho de Artigas: a Confederação entre Uruguai, Rio Grande e as províncias rebeldes do norte da Argentina (Entre Rios, Corrientes e Santa Fé).
Certa vez, em 1864, foi representar os gaúchos insatisfeitos, que viviam no Uruguai, junto à corte imperial. Recebido pelo próprio imperador D. Pedro II, relatou os problemas da insegurança e conflitos na fronteira, afirmando que se o Brasil não tinha condições de proteger os rio-grandenses, os próprios rio-grandenses e ele (Netto) fariam isso - uma indireta clara da retomada da República
Rio-Grandense. Enquanto isso, no Rio Grande, o Império do Brasil gastava alta somas com benesses e títulos nobiliárquicos aos gaúchos imperialistas, contra a ameaça da República Rio-Grandense bradar novamente por liberdade.
Desejo de liberdade que durou até a Guerra do Paraguai. Uma vez invadido, o Rio Grande uniu-se, imperialistas e republicanos, para defender o território gaúcho. Netto estava entre eles. Comandando a Brigada Ligeira dos Voluntários Rio-Grandenses, Netto, à frente de 1.500 cavaleiros, ostentava o pavilhão tricolor da República Rio-Grandense, para desconfiança de alguns e remorsos de outros. Era a propaganda da República. Netto acreditava que o Rio Grande, após o fim da guerra, poderia voltar a ser independente ou o Brasil inteiro proclamaria a República (Confederação de Repúblicas Independentes). Comentava-se que a Tríplice Aliança era, na verdade, representada por "quatro comandos". Participou com destaque, aos 63 anos, da campanha aliada até a Batalha de Tuyuty. Ferido em combate, foi enviado ao hospital militar de Corrientes, Argentina. Faleceu, misteriosamente, em 1º de julho de 1866. Nem os familiares diretos (mulher e filhas) tiveram acesso aos dados da "causa morte". Ferido ?? Febre ?? Envenenamento ?? Não importa, o Brasil conseguiu livrar-se do seu principal inimigo no Rio Grande.
25 de maio de 1803 - 1º de julho de 1866
Túmulo onde estão, desde 1966, os restos mortais do General Netto.
Cemitério de Bagé, Rio Grande do Sul.
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SILVA GOMES
Em ninguém foi maior nem mais desinteressada do que Franscisco de Paula e Silva Gomes, a dedicação pela causa da elevação do extremo sul paulista à categoria de Província. Ele excedeu a todos os pregadores da aspiração separatista, pela constante vibração do seu patriótico idealismo realizador.
Em todas as oportunidades, — nas suas relações políticas e sociais, no Rio Grande, em São Paulo, no Rio de Janeiro sobretudo, ele trazia à baila os seus argumentos sobre as necessidades da criação de uma nova Província em Curitiba, necessidades nacionais de ordem política, econômica e militar.
Era conhecido em todo o sul e na capital do Império, e em toda a parte conceituadas a integridade do seu caráter, à elevação do seu patriotismo e a inteligência com que sabia seduzir simpatias para a causa de que se fizera o movimentador magnífico, sem par do seu porte, em nenhum tempo, entre os curitibanos.
Anos e anos a fio ele fez o comércio de gado entre as campanhas do Rio Grande e as feiras de Sorocaba, varando, vezes sem conta, campos e sertões gaúchos e paulistas em imensuráveis distâncias.
Vendido o gado, transformada a indumentária de tropeiro na de homem de sociedade, afeiçoava a longa cabeleira sob as abas largas do chapéu do Chile e ia ter com os políticos da Corte, de suas relações pessoais.
A esse tempo nenhuma tipografia havia na Comarca. Paula Gomes fazia imprimir em avulsos os seus argumentos em prol do seu absorvente ideal, no Rio de Janeiro, na “Tip. Franc. rua de S. José, 64” e os distribuía profusamente por a Comarca, por toda a Província, no Rio, em Minas e no Rio Grande do Sul.
*** O ardoroso propagandista da elevação da 5ª Comarca de São Paulo à categoria de Província, nasceu em Curitiba a 4 de Fevereiro de 1802 e faleceu em Cruz Alta, R. G. S., a 9 de Abril de 1857, assassinado por um tapuio de 16 anos que ele criara como filho e que era o piá das suas tropas.
Viu, porém, realizado o seu sonho. Mas enquanto, na Província, surgiam nomes sem nenhuma expressão galgando as posições políticas, ele prosseguia na sua vida de tropeiro, sem ambições, sereno com a sua consciência de patriota — somente pretendendo refazer pelo rude trabalho a que estava afeito, sua fortuna gasta na propaganda da causa vitoriosa.
Não conseguiu. Seu mais próximo parente o Snr. João de Paula Gomes, pai do Snr. Major Antonio França Gomes, herdou os seus bens avaliados em 36:000$000, dos quais o mais valioso era uma tropa de muares.
O violino de Paula Gomes foi entregue ao seu filho natural, "mestre" Generoso, pai do Snr. Benedito dos Santos Dinis, ambos herdeiros do talento musical do patriarca da constituição da Província.
A história, porém lhe inscreve o nome em letras refulgentes, nele resumindo todos quantos, de 1811 a 1853, tiveram parte na transformação política da Comarca meridional paulista, na auspiciosa Província do Paraná e na esplêndida realidade do Estado de hoje.
(Texto compilado de Romário Martins)
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CORREIA JUNIOR
Manoel Francisco Correia Junior foi um parnanguara dos mais ilustres do seu tempo e na causa da criação da Província um dos poucos batalhadores sinceros. Fez parte da “Sociedade Patriótica dos Defensores da Independência e da Liberdade Constitucional”, criada em Paranaguá no ano de 1826, e quando, consolidada a conquista da independência do Brasil, foi sua a iniciativa de se transformar, em 1853, essa corporação cívica em Irmandade de Misericórdia, da qual resultou a fundação do hospital local, até hoje de benemérita existência. Em 1837 fundou a loja maçônica “União Paranaguense” ao que parece a primeira criada no Paraná.
Em 1842, por ocasião da revolução paulista, Correia Junior armou, fardou e manteve à sua custa um batalhão legalista, entusiasmado pela promessa de Caxias e Monte Alegre, de que, finda a luta, a Comarca seria elevada à Província.
Após a pacificação foi ao Rio, ainda a serviço da causa da Comarca. Diz ele nas suas memórias: — “No Rio tive o desejo tolo de ser útil ao meu país. Interessei-me pela separação da Comarca de Curitiba da Província de S. Paulo, separação que supunha faria a felicidade do meu país. (Esta convicção ainda a tenho hoje, 24 de Janeiro de 1848). Parecerá aos que lerem alguns anos depois, estas memórias, que isto me trazia consideração entre os meus concidadãos. É totalmente o contrário . Invejosos me desacreditaram, parentes me perseguiram e eu me vi na dura necessidade, para salvar o meu crédito, de me pôr em lugar ermo, à face dos meus engenhos e aqui (Porto de Cima) estou trabalhando a ver se posso deixar minha família sofrivelmente educada e desembaraçada, esperando que aprenda de mim que, neste mundo, as melhores ações só trazem desgosto, e, portanto, vivendo com honra deve fazer por ser independente, visto que só o real serve e a maldade triunfa sempre das melhores, mais generosas e desinteressadas ações”.
Moreira de Azevedo referindo-se a Correia Junior diz... “viu os seus haveres abalados pelos sacrifícios que fez na qualidade de Coronel da Guarda Nacional, encarregado da defesa da Comarca, ameaçada em 1842 pelos revoltosos de São Paulo”.
João da Silva Machado, encarregado das providências militares da Comarca, de cuja elevação à Província tirou o maior e melhor partido, procurou obscurecer o valor da contribuição de Correia Junior, a ele não se referindo em suas numerosas cartas ao Presidente de São Paulo sobre a defesa da Comarca, e mesmo depois, finda a rebelião, quando remeteu duas listas de curitibanos que deviam ser condecorados por serviços prestados à defesa da ordem, naquela emergência, injustamente omitiu o nome de Correia Junior que tudo havia sacrificado naquele sentido.
E foi assim que, enquanto o advena interesseiro conquistou todas as posições que ambicionou, o parnaguara ilustre e ardoroso idealista viu perdida toda a fortuna e dele se afastaram alguns dos seus próprios parentes.
________________
*** Em todo o curso do movimento separatista da Comarca e da sua autonomia administrativa, somente aparecem três personalidades de realce, naturais dessa extensa circunscrição judiciária: FLORIANO BENTO VIANA , em 1821, MANOEL FRANCISCO CORREIA JUNIOR e FRANCISCO DE PAULA E SILVA GOMES, antes de 1842. Os demais foram oportunistas...
No momento da vitória da causa pela qual trabalharam, só existiam PAULA GOMES, CORREIA JUNIOR e Silva Machado. Os dois primeiros morreram em 1857, quatro anos depois da realização dos seus sonhos. Na política da nova Província não houve lugar para eles. Nem posições nem honrarias, mas simplesmente o esquecimento. Ambos haviam sacrificado pela causa suas fortunas. Correia Junior foi viver num velho sitio em Porto de Cima, desiludido de leais, de amigos e de parentes. Paula Gomes fez-se novamente tropeiro vadeando os campos e sertões da Vacaria a Sorocaba, morrendo numa dessas travessias.
(Texto compilado de Romário Martins)
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BENTO GONÇALVES
Bento Gonçalves da Silva, sobre cujos ombros pesou a responsabilidade imensa de toda a Revolução de 1835, nasceu na então Freguesia do Senhor Bom Jesus do Triumpho, atual município de Triunfo, a 23 de setembro de 1788, existindo ainda, naquela cidade, a casa que nasceu. Ali residiam seus pais, quando veio ao mundo, o futuro herói gaúcho, e eram eles o alferes Joaquim Gonçalves da Silva e D. Perpétua da Costa Meirelles, sendo o pai natural de Portugal e a mãe filha do Triunfo.
Fôra Bento Gonçalves destinado ao sacerdócio, mas, como relutasse em seguir a carreira eclesiástica, foi substituído por seu irmão Roberto Gonçalves, que ficou sendo o padre da família.
Educou-se o valente gaúcho nas lides campeiras, até que, em 1811, com 23 anos de idade, começou a sua carreira militar na chamada "Campanha de D. Diogo". Bento Gonçalves foi juiz de paz na Vila de Mello, (atual cidade de Melo), Uruguai, naquela época ainda Província Cisplatina, onde casou-se com D. Caetana García da Silva, filha do espanhol Narciso García, no Departamento do Cerro Largo, onde residiu até 1818, mais ou menos, sempre se correspondendo com as autoridades militares da fronteira do Rio Grande, e organizando partidas e guerrilhas contra os castelhanos, o que lhe valeu ser elevado ao posto de capitão de milícias ficando no comando de uma "partida volante da fronteira de Jaguarão".
Começou daí a destacar-se com gestos de coragem e de audácia, perante seus superiores hierárquicos, numa série de pequenos encontros. Em 1824 era promovido a Tenente Coronel e, em 1825, ao posto de Coronel, logo depois da sangrenta batalha do Sarandy, contra os Orientais. Comandando uma Brigada de Cavalaria tomou parte saliente na indecisa batalha do Passo do Rosário, em 1827. Nomeado, em 1829, Coronel de Estado Maior foi destacado outra vez para a fronteira do Jaguarão, afirmando-se dia a dia e cada vez mais o seu prestigio.
A partir da abdicação de D. Pedro I (7 de Abril de 1831), a política na terra gaúcha tornou-se áspera e violenta. É que o movimento contra D. Pedro I fora feito com esperanças de que os portugueses, adotivos, "caramurus" ou "pés de chumbo", como eram conhecidos, fossem afastados dos cargos públicos aos quais eles se haviam perdido, quais sanguessugas vorazes. O que é verdade, porém, é que no Rio Grande eles continuaram, após aquele movimento, nos cargos oficiais com acintoso menosprezo aos Rio Grandenses.
Havia dois partidos, por isso, que se degladiavam violentamente, na Província. Um formado pelos adeptos da Sociedade Defensora da Independência, que queria manter a autonomia política do Brasil e constituído, na maioria, por brasileiros natos; o outro, que era partidário da Sociedade Militar e que pretendia promover a volta de D. Pedro I ao Brasil, formado quase que só por portugueses. No desdobramento histórico desses partidos, eles tornaram-se mais tarde, respectivamente, Luzia e Saquarema, e Liberal e Conservador, durante o segundo reinado.
Para Bento Gonçalves voltava-se, naquele momento, todo o Rio Grande do Sul nas suas aspirações de liberdade. Mas, sobre o futuro chefe, pairava o olhar adunco dos retrógrados, que não tardaram em o acusar perante os grandes do Império. Chamado em 1833, à Corte, Bento Gonçalves seguiu imediatamente para o Rio de Janeiro, tendo por advogado o major Lima e Silva, seu amigo e correligionário e irmão do Regente, o qual pulverizou as mesquinhas intrigas dos inimigos do Coronel, demonstrando à Regência a falsidade das acusações que haviam movido contra o valente militar e acusando por sua vez os detentores do poder no Rio Grande. Regressou, assim, Bento Gonçalves mais prestigiado para a sua terra natal, mantido no comando de seu corpo e com uma pensão do governo em atenção aos relevantes serviços por ele prestados ao Império.
Historiar os primórdios da revolução desde as grandes agitações que sacudiram e sublevaram a alma rebelde dos continentinos até o seu evento incoercível e violento, assim como o drama e a tragédia da luta nas coxilhas esmeraldinas, seria impossível dentro das contingências de um artigo, que nem é a biografia de Bento Gonçalves, senão, apenas, uma ligeira resenha de sua vida. Basta dizer que, em tudo isto, o nosso herói era a figura central, em torno da qual desdobravam-se os destinos da revolução.
Concorrendo com o valor de seu braço e o prestigio de seu nome para o 20 de Setembro de 1835 e depondo Fernandes Braga, procurou Bento Gonçalves imediatamente prestar obediência ao Governo Imperial, mas este não o quis ouvir e ele bem andou em trazer de sobreaviso seus partidários prontos para o que desse e viesse. Não tardou, de fato, que os grandes patriotas daquele movimento vissem que o Governo Imperial apenas contemporizava com eles para logo que se visse forte persegui-los e processá-los. Então Bento Gonçalves e seus bravos companheiros de causa saíram para o campo raso das batalhas e começaram a escrever, com heroísmo inigualável, as paginas mais brilhantes da História sul-americana. No combate da Ilha do Fanfa, a 4 de Outubro de 1836, foi Bento Gonçalves aprisionado por Bento Manoel Ribeiro, que assim vibrava um profundo golpe na revolução, ferindo-a em cheio, no que ela tinha de mais caro. Os ânimos daqueles bravos inquebrantáveis não se entibiavam jamais diante dos revezes. Proclamada a República por Antonio de Souza Netto, nas margens do Seival, foi, pouco depois, escolhido Bento Gonçalves para seu presidente. E assim, enquanto o chefe revolucionário amargava os dias na fortaleza de Santa Cruz, no Rio, e, mais tarde, no Forte do Mar, na Bahia, os seus irmãos daqui o homenageavam desse modo, e, ainda mais, era ele promovido ao posto de general, por decreto do governo Farroupilha de 12 de Novembro de, 1836, por seu "merecimento, valor, acrisolado patriotismo, perícia militar e relevantes serviços que ha prestado à causa da liberdade Rio Grandense". Lançavam, deste modo, um cartel desafio aos imperiais, certos de que ele um dia ainda volveria aos pagos para novamente pôr-se à frente daquele grupo de heróis. E Bento Gonçalves, de fato, a 10 de Setembro de 1837, conseguiu evadir-se da Bahia e retornar à sua terra, assumindo outra vez, o comando da luta.
O grande combate de Rio Pardo travado a 30 de Abril de 1838, o mais importante da Guerra, com a formidável vitória obtida pelos Farrapos, veio dar-lhes muita força moral e material. A república parecia consolidar-se e o governo ia, aos poucos, se organizando. A invasão de Santa Catarina, em 1839, por Canabarro, auxiliado eficazmente por Garibaldi, foi um segundo desafio aos Imperiais.
Convocada e reunida a constituinte farroupilha, em 1842, dela, que tanto se esperava, surgiu a desavença entre os amigos da véspera e uma acirrada luta partidária, que as intrigas mais acentuaram, levou Bento Gonçalves a se demitir da Presidência da República e a entregar o comando do Exército Rio Grandense a David Canabarro num grande e nobre gesto de renúncia e desprendimento.
O duelo por ele travado com seu parente Onofre Pires, do qual resultou a morte deste, ainda mais veio desgostá-lo. Entretanto, continuava o mesmo soldado de sempre, brioso e leal. E só, no ultimo momento, em 1845, quando o último soldado seu recolheu-se ao rancho da querência distante, é que Bento Gonçalves, pobre e abandonado, despiu se, por fim, da armadura de cavaleiro andante, envolvendo-se na penumbra para morrer, dois anos mais tarde, na residência de Gomes Jardim, em Pedras Brancas, atual município de Guaíba.
Erros poderia ter esse Gaúcho de valor. Erros tiveram muitos homens da sua estatura moral e a História lhes perdoa. Mas, nós simbolizamos nele todo o decênio heróico, glorioso, memorável, inesquecível, da Guerra dos Farrapos. Foi ao aceno da sua espada sem mácula, ao seu caráter adamantino, ao seu prestigio oriundo de um passado que era uma garantia para o porvir, que os Rio Grandenses se ergueram um dia, cansados de tanto desapreço em que eram tidos por aqueles áulicos da Corte, que, como o governo de Brasília de hoje, só exigiam o nosso trabalho, a nossa coragem, o nosso sangue, os nossos recursos financeiros e humanos, sem dispensar-nos sequer a mínima consideração.
Honremos, por isso, Bento Gonçalves da Silva, cuja figura legendária é bem a encarnação de toda uma raça de titãs!
Condensado de:
Episódios e Perfis de 1835
Deoclécio
Paranhos Antunes
Ed. Livraria do Globo
Porto Alegre - 1935
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GUMERCINDO SARAIVA
Nascido em 13 de janeiro de 1852, primogênito do ex-combatente farroupilha Francisco Saraiva e Dª Propícia da Rosa, tem sido Gumercindo Saraiva um dos personagens mais injustiçados pela história oficial.
Acusado em primeiro lugar de nem ser sulista (alguns insistem em dizer que era uruguaio), foi redimido por Luís Felipe de Castilhos Goycochea, em seu livro “Gumercindo Saraiva na Guerra dos Maragatos” (Ed. Alba, Rio de Janeiro, 1943), onde foi apresentada transcrição de seu assentamento de batismo, provando definitivamente ter Gumercindo nascido em território Rio Grandense, no atual município de Arroio Grande.
Ainda criança transferiu-se com sua família para o departamento de Cerro Largo, Uruguai, onde seu pai faria fortuna, chegando a ser um dos homens mais ricos daquele país.
Quando Gumercindo, juntamente com seu irmão Aparício, atingiu a adolescência, foi enviado a Montevidéu, para estudar no colégio de Montero Vidaurreta, conhecido educador. Os pais achavam que eles poderiam ser médicos ou advogados, mas os dois logo se aborreceram e aproveitaram a primeira oportunidade para escapar da escola. A primeira que surgiu foi um levante contra o governo colorado de Lorenzo Batlle, em 1870. Essa revolução, liderada pelo caudilho rural Timoteo Aparicio, ficou conhecida como Revolución de las Lanzas, devido à arma que predominou, o que testemunhava o primitivismo da tecnologia militar disponível na época. Por conta da revolução, Gumercindo começou a acumular prestígio, chegando a ser nomeado comissário, logo após seu término, em 1872. Seria o prenúncio da carreira do homem que, anos mais tarde, seria amado por seus correligionários e odiado mortalmente por seus inimigos políticos.
Casou-se aos 21 anos e teve 4 filhos. Após o casamento, cuidou da vida familiar e do progresso da estância que morava, ainda no Uruguai, sendo muito conhecidas suas habilidades como tropeiro.
Num dia de 1875 chegou a notícia de que don Angel Muniz estava em armas novamente. Gumercindo foi nomeado tenente em um piquete de Justino Muniz, irmão de don Angel. Aparício receberia o posto de alferes. A revolução, entretanto, não passou de algumas movimentações de tropas e um ou outro entrevero com os adversários, já que o caudilho Timoteo Aparicio desautorizou o movimento armado. Logo chegou a notícia de que a revolução acabara, antes mesmo dos primeiros conflitos armados.
Gumercindo, entretanto, já era um homem marcado. Todos sabiam de sua afeição às revoluções e que era um blanco, inimigo dos colorados. Por conta disso, seus vizinhos de estância, que eram colorados, armaram um conflito de divisa de terras visando provocar algum incidente que o prejudicasse. No entrevero que se seguiu acabou atirando em um peão do vizinho. Um processo penal foi instituído com todo o júri colorado. Ante a ameaça de ser preso, Gumercindo deixa o Uruguai e vem viver em Santa Vitória do Palmar, administrar uma das estâncias de seu pai. Em seguida consegue o respeito e simpatia de seus vizinhos, principalmente por ser ativo combatente do abigeato (roubo de gado) na região.
Seu biógrafo Manuel Fonseca disse: “Gumercindo era um chefe nato, um caudilho senhoril, um cavalheiro bem apessoado, que de imediato conquistava o coração dos que se lhe aproximavam”.
Em seguida comprou suas próprias terras e logo foi nomeado delegado; o Imperador Pedro II ofereceu-lhe o título de Barão de Santa Vitória do Palmar, que ele recusou a um pretexto qualquer, mas em verdade por ser republicano, como era seu pai desde a Guerra dos Farrapos.
Julio de Castilhos em 1890, quando cogitou organizar o Partido Republicano em Santa Vitória, mandou oferecer-lhe a chefia local do mesmo, por intermédio de Assis Brasil, a qual oferta recusou por não admitir a colaboração dos antigos conservadores, seus tradicionais inimigos de longa data. Segundo alguns autores, aquela recusa foi a causa do ódio que passou a devotar-lhe Julio de Castilhos, e a causa de todas as acusações que passou Gumercindo, de então em diante.
Com a ascenção de Julio de Castilhos ao governo do Rio Grande, foi exonerado da função de delegado passando, por ser inimigo deste, a ser perseguido, tendo inclusive enfrentado processos judiciais, que culminaram com sua prisão e, em seguida uma fuga espetacular do cárcere.
Numa fase de instabilidade no governo Rio Grandense, estabeleceu-se a dualidade de poder, de um lado o federalista Joca Tavares, e do outro o castilhista Victorino Monteiro. O Rio Grande estava prestes a se convulsionar. A revolução estava próxima. Gumercindo voltou ao Uruguai para se juntar aos rebeldes, que organizavam suas tropas em Melo.
Quatrocentos cavaleiros atravessaram a fronteira no passo do Aceguá, silenciosos e graves. Gumercindo estava vestido de negro, e levava o lenço branco atado ao pescoço, assim como Aparício. Todos os demais usavam lenços vermelhos - a marca dos maragatos -, e que se transformariam também no símbolo da revolução.
Gumercindo e Aparício, entretanto, jamais colocariam aquela cor ao pescoço, mesmo que estivessem indo para uma guerra. O lenço branco, símbolo do Partido Nacional, pelo qual eles haviam dado o sangue, nunca seria trocado pelo do antigo inimigo. Os dois irmãos, ao que parece, professavam um respeito sagrado aos símbolos. Não importava que a guerra fosse em outro país, por outros motivos, talvez por outras idéias.
As batalhas se sucederam e em seguida os rebeldes, que eram doze mil, tomaram várias cidades do Rio Grande. Mas uma decisão controversa de Joca Tavares, o chefe da revolução, fez com que recuassem e voltassem ao Uruguai, depondo armas. Os orgulhosos revolucionários que haviam invadido o Rio Grande a menos de dois meses voltavam ao Uruguai humilhados e perplexos diante da decisão de seu chefe.
Mas na tensa reunião em que os rebeldes decidiram a volta ao Uruguai para reorganizar suas forças, o Coronel Gumercindo Saraiva declarou solenemente que não atravessaria a fronteira. A decisão de Gumercindo naturalmente deve ter causado mal-estar na cúpula. Afinal, o general Joca Tavares e o general Salgado sabiam o que faziam. Tinham galões, tinham feridas, tinham história. E esse castelhano quem era? São questões que dizem respeito ao amor-próprio dos caudilhos, mas havia também a questão política. Em que princípio Gumercindo Saraiva era mais atilado e reto do que qualquer outro deles? Tais questões ficavam no ar. De qualquer forma a iniciativa de Gumercindo teve que ser aceita. Na mesma noite partiu com seus quatrocentos lanceiros. O primeiro desafio seria evadir o cerco governista. Mesmo com o descrédito de muitos, conseguiu passar e, já na manhã seguinte assaltou um potreiro republicano e levou 1600 cavalos gordos. A lenda estava começando.
Logo as suas histórias começavam a percorrer o Rio Grande: um trem assaltado em Bagé, um curral incendiado em Jaguarão, fios de telégrafo sabotados em São Gabriel, a tomada de Lavras e a entrada triunfal em São Sepé.
Aparecia e desaparecia com uma velocidade desconcertante, desmoralizando as propostas de paz e as ofertas de garantias para os federalistas que depusessem as armas. Contra todos os pareceres, a guerra continuava, e tinha um nome: Gumercindo. A Divisão do Norte foi chamada para perseguir, encurralar e destroçar o contingente de Gumercindo Saraiva. Perseguiram-no dia e noite e quando pensavam que o tinham encurralado em Vacacaí Grande perderam-no num capão cerrado.
Apareceu de repente em Herval, deu um susto em Arroio Grande e depois se apresentou diante de Jaguarão e postou-se em posição de ataque. Pinheiro Machado compreendeu que Gumercindo tinha a intenção de avançar até a cidade de Rio Grande para apoiar Wandenkolk que, agora estava diante do porto de Rio Grande, com sua precária armada. Se Gumercindo pudesse dar-lhe apoio, as coisas começariam a ficar complicadas. Pinheiro Machado compreendeu que Gumercindo poderia incendiar os ânimos dos federalistas mais uma vez. Acelerou a marcha da Divisão do Norte para tomar-lhe a frente. Gumercindo parou sua marcha, esperou, depois retrocedeu. Recebera a notícia de que os federalistas já estavam recompostos, mais bem armados e tinham tornado a entrar em território gaúcho. A reunião seria em Ponche Verde, perto de Dom Pedrito. Com rapidez desmobilizou o cerco e tocou no rumo do oeste. Quando Pinheiro Machado chegou na região não encontrou mais vestígio dos federalistas. Pinheiro Machado começava a entender por que Assis Brasil, certa vez, fizera questão de aliciar o caudilho. O homem fora um tropeiro. Como ele, conhecia os atalhos.
Com a Revolta da Armada e a tomada de Desterro, atual Florianópolis, pelos revoltosos, os federalistas pensaram em uma união com esses para a derrubada de Floriano Peixoto (uma vez que esse apoiava Julio de Castilhos) e assim Gumercindo iniciou a invasão de Santa Catarina e, posteriormente, do Paraná, invadindo Curitiba em janeiro de 1894, onde estabeleceu o quartel general. Em seguida procedeu, juntamente com seu irmão Aparício, o memorável Cerco da Cidade da Lapa, onde venceu os governistas após 26 dias de batalha. Em fins de março, chegou a Ponta Grossa. Nessa cidade lançou a ordem do dia anunciando a invasão de São Paulo, na qual consta a primeira manifestação documentada da intenção da criação de um novo país constituído pelos três Estados do Sul, unidos: “a consciencia me diz que eu devo proclamar a independencia do Estado do Paraná e dos seus dois irmãos do Sul.” (Ordem do Dia nº 6 – Ponta Grossa – Paraná – 7 de abril de 1894).
Com a reorganização das tropas da ditadura de Floriano, recuou ao Rio Grande, onde, logo após reorganizar as tropas federalistas, ao fiscalizar alguns piquetes revolucionários, foi baleado por governistas tocaiados em meio a um capão de mato, num ato considerado indigno por qualquer combatente rio grandense da época. Em 10 de agosto de 1894, no Carovi, expirou, sendo sua morte um golpe na organização da revolução.
Enterrado em Santiago do Boqueirão, seu túmulo foi profanado pelos governistas que, ao saberem que se encontrava enterrado ali, o desenterraram para cortar sua cabeça e leva-la a Julio de Castilhos.
Hoje, seu corpo sem cabeça encontra-se sepultado no Cemitério Municipal de Santa Vitória do Palmar.
Acusado de atrocidades pela propaganda de guerra governista, centenas de testemunhos desmentiram tais fatos, inclusive de inimigos políticos seus. Em casos de abusos cometidos por seus comandados, punia exemplarmente, pois não aceitava que as tropas maragatas fossem consideradas violentas e não de soldados disciplinados. Quando soldados maragatos foram acusados de roubar uma coleção de moedas do Museu Paranaense, a título de ressarcimento o então General Gumercindo Saraiva doou sua espada ao acervo do Museu, onde encontra-se até hoje. Afastou seu primo do comando de uma brigada por ter recebido denúncias de que este era cruel com seus prisioneiros. Em suma, seus atos provaram ser dotado de uma retidão de caráter visível em poucos líderes da época.
Cumpre lembrar que os revolucionários Federalistas, ao ganhar as batalhas, garantiam os direitos e a vida dos adversários, como nas capitulações de Tijucas e da Lapa, onde todos os oficiais e praças florianistas foram libertados sem punição. Entretanto, as mesmas tropas governistas, quando venceram, não demonstraram a mesma grandeza; ao contrário, partiram para a retaliação e vingança, ente tantos, citamos o célebre caso do martírio do Km 65 da estrada de ferro Curitiba – Paranaguá, onde foram fuzilados o Barão do Serro Azul e outros célebres cidadãos paranaenses inocentes.
Em Desterro, atual Florianópolis, ocorreram centenas de fuzilamentos de prisioneiros inocentes, entre eles o Barão do Batovi e seu filho; muitos cidadãos catarinenses foram tirados de suas casas sem nunca terem colaborado com a Revolução, sendo assassinados também, por ordem de Floriano Peixoto e sob o comando do tristemente memorável coronel Moreira César, famoso por suas atrocidades, como foi em Curitiba o famigerado general Ewerton Raimundo de Quadros. Os fuzilamentos somente pararam quando negociada a mudança do nome da capital catarinense para Florianópolis, em triste homenagem ao verdugo dos filhos da nobre terra catarinense.
Castilhos Goycochea, Luiz Felipe – Gumercindo Saraiva na Guerra dos Maragatos – Ed. Alba – Rio de Janeiro – Brasil – 1943.
Ruas, Tabajara; e Bones, Elmar – A Cabeça de Gumercindo Saraiva – Ed Record – Rio de Janeiro – Brasil – 1997.
Dourado, Ângelo – Voluntários do Martírio – Fac-símile da edição de 1896 – Martins Livreiro Editor – Porto Alegre – 1992.
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GIUSEPPE GARIBALDI
Aventureiro, "condottieri", caudilho ou coisa equivalente, Giuseppe Garibaldi só pode ser classificado com um desses adjetivos, em que pese a qualificação. Nascido em 04 de julho 1807, em Niza, Itália (hoje Nice, França), muito jovem ainda começou a sua trajetória de aventuras. Depois de pequenas traquinadas, pontilhadas de lances de coragem, fez-se marinheiro e cruzou o Mediterrâneo com pouco mais de vinte anos. Adoece em Constantinopla, e só regressa à Pátria em 1833, onde se encontra, pela primeira vez, com Mazzini - o homem que já começava a revolucionar a Itália em nome da República. Já era Mazzini, por este tempo, o mentor do "Jovem Itália", jornal que foi a cartilha por onde leram todos os revolucionários do mundo e que teve projeção até no Rio Grande dos Farrapos. Ao lado de Mazzini, tentam, Garibaldi e outros, sublevar a Itália, mas, fracassada aquela tentativa, Garibaldi viu-se condenado à morte. Sua fuga tem lances emocionantes, preludiando já as suas futuras aventuras. A bordo do "Nantonnier" transporta-se então para a América do Sul.
No Rio de Janeiro, Garibaldi e Rosseti travam relações com Tito Lívio Zambeccari, que se achava preso, com Bento Gonçalves, na fortaleza de Santa Cruz. Obtém licença de Bento Gonçalves para fazer o corso contra os navios do Império. Consegue um pequeno barco de trinta toneladas, que batiza com o nome de. "Mazzini", em homenagem ao seu primeiro chefe. Sai barra afora e aborda, próximo do Rio, uma galeota, que aprisiona, pela qual troca o "Mazzini", que é posto a pique imediatamente. Borra o letreiro "Luiza" da galeota e escreve por cima "Farroupilha". Como corsário começava bem, pois além da galeota, encontrou nela boa presa. Ruma para o Rio da Prata e ancora em Maldonado. É recebido ali muito bem, mas Oribe manda prendê-lo, porém é avisado a tempo para fugir. Antes de fugir, tem de cobrar o produto da presa que havia vendido. Como encontra um pouco de má fé por parte do negociante, a quem havia vendido os seus artigos, empunha uma pistola e cobra-os à força, Feito isso, levanta ferros. É perseguido e combate no mar. É ferido e perde um de seus homens. Sobe o Rio da Prata e na Província de Entre Rios é tratado de seu ferimento, mas fica prisioneiro de Rosas. Seu tratamento dura seis meses. Uma vez curado, foge, mas é perseguido e preso novamente. Só depois de dois meses de prisão, obtém permissão para sair da Argentina. Afinal, depois de uma serie de peripécias, chega Garibaldi a Piratiny, capital da Republica dos Farrapos, acompanhado de Rosseti, sendo ambos fidalgamente recebidos pelo governo. Bento Gonçalves já havia se evadido da prisão e se encontrava novamente em campo.
Começa então o auxílio eficiente de Garibaldi revolução. Esse auxílio pôde ser assim resumido:
Com Bento Gonçalves vai até o rio São Gonçalo, donde retrocedem novamente para Piratiny. Enquanto seu amigo Rosseti fica ali para redigir o jornal dos Farrapos "O Povo", Garibaldi vai para Camaquã armar os lanchões "Rio Pardo" e "Republicano". Isso em 1838, logo depois da grande vitória dos Farrapos em Rio Pardo, a 30 de abril. Para comemorar a grande batalha, foi um dos lanchões batizado com o nome daquela histórica cidade. Aprisiona na Lagoa dos Patos, logo em seguida, um barco com rico carregamento.
Na estância de D. Antonia, irmã de Bento Gonçalves, repele com êxito uma surpresa de Chico Pedro. Deveria fazer uma expedição a Santa Catarina.
Acudindo Garibaldi ao chamado do governo e recebendo ordens, de estudar a possibilidade de cooperar com sua pequena esquadra para o êxito da expedição precipitada, o grande italiano, com rápido olhar de águia no espaço, compreendeu as dificuldades em que se veria para cumprir tais ordens.
Em primeiro lugar os seus lanchões estavam, por assim dizer, presos na Lagoa dos Patos. Porto Alegre estava em poder das forças imperiais, assim como Rio Grande e São José do Norte fortemente guarnecidos, bloqueando a entrada ou a saída da barra. Do Camaquã, onde se achava, o futuro herói de dois mundos não vacilou. Atravessando a Lagoa, transversalmente, foi ancorar seus navios no rio Capivari, tributário da mesma.
E ali chegando então dá a conhecer o seu gigantesco plano, que pasma os presentes: Os lanchões seriam transportados por terra, do Capivari até o Tramandaí, rio que comunica uma pequena Lagoa com o Atlântico.
Pela primeira vez na América ia-se presenciar aquele espetáculo, que só homens da fibra dos Farrapos e com um chefe da envergadura de Garibaldi podiam realizar.
Um cidadão da republica da família Abreu preparou oito rodas grandes e reforçadas de madeira de lei, ligadas duas a duas por sólidos eixos, "di forza proporzionata al peso del legni."
Prontas as rodas, vieram para a margem daquele ignorado rio cem juntas de bois, ou duzentos bois domesticados, sendo atreladas cinqüenta juntas a cada um dos lanchões. Tudo fora cuidadosamente preparado: a margem do rio suavizada; as rodas colocadas sob os lanchões dentro da água; boas cordas e boas cangas. Colocadas em frente dos barcos e solidamente atreladas, aos gritos da gauchada, conseguiram arrancar os navios do rio, depois de algum trabalho.
Do Capivari ao Tramandaí há cerca de 90 km para percorrer-se por sobre um terreno arenoso, atoleiros e banhados. Espetáculo inédito ofereciam aqueles dois barcos que assim burlavam a vigilância da Marinha Imperial e iam dar combate ao legalistas muito distante dali. Lá iam os dois navios, com Garibaldi à frente, rodas rangendo nos eixos, para novas vitórias, das quais aquele transporte era a maior.
Depois do trajeto tão difícil, foi fácil lançar os barcos no Tramandaí. Entretanto iam travar nova e tremenda luta para transpor a barra, onde só com maré alta obtinha-se quatro ou cinco pés de água. Vencida a barra do Tramandaí, estavam em pleno oceano os navios da Marinha de Guerra Rio Grandense. E, no dia seguinte, velas enfunadas, rumavam para Laguna. Mas o vento, a principio leve e suave, começara a soprar com violência, transformando-se em temporal. Desgovernada, a nau capitânia, onde se encontrava Garibaldi, estava a ponto de naufragar. Eram trinta os seus valorosos tripulantes. A custa de muitos esforços conseguiram aproximar-se uns cem ou duzentos metros da costa, quando o barco naufragou totalmente. Nadador desde a sua infância Garibaldi lutando com as ondas conseguiu salvar-se com a metade dos companheiros. Quinze haviam sido tragados pelas ondas. O outro barco, mais feliz e resistente conseguira salvar-se. Na barra do Araranguá os náufragos se reuniram a gente de Canabarro. O outro lanchão consegue chegar a Laguna, enquanto por terra, Garibaldi alcança aquele ponto e se junta novamente aos tripulantes do Seival.
Vitoriosos, proclamam a República Juliana, e Garibaldi encontra ali a sua Anita, que, daquela hora em diante, ia tornar-se sua companheira inseparável. De Santa Catarina arma três navios, o "Rio Pardo", o "Caçapava" e o "Seival" ' e vai piratear até Santos. Faz diversas presas, combate, recolhe-se a Imbituba, é atacado, torna a combater e, de noite, foge com seus companheiros no único navio que lhe restava, em direção a Laguna. Dali segue para assaltar e saquear Imaruhy, onde faz boa presa. Entretanto, as forças imperiais ameaçam a República Juliana. Novo combate se fere. Começam, por isso, os Farrapos a evacuar Santa Catarina, enquanto Garibaldi, ao lado de Anita, combate tenazmente na Lagoa. Termina assim a efêmera República Juliana. Na sua retirada, Canabarro manda para Cima da Serra uma expedição comandada pelo coronel Teixeira, da qual faz parte Garibaldi. Esta expedição bate, em Santa Victoria, as forças da divisão Cunha e entra vitoriosa em Lages. É ela, porém, derrotada logo a seguir no Mampituba, pelos imperiais.
Afinal, volta Garibaldi para o Rio Grande, onde toma parte no combate do Taquari, seguindo dali para São Leopoldo e depois para Setembrina (atual Viamão). Toma, a seguir, parte no assalto a São José do Norte, de onde são os farrapos repelidos, depois de estarem senhores da praça.
Recolhe-se depois desse insucesso a São Simão, onde Anita, a 16 de setembro de 1840, dá à luz a Menotti, seu primogênito. Aquele pequeno gaúcho faz diminuir um pouco as suas aventuras. E, em 1843, transporta-se com a família para Montevidéu, Uruguai.
Termina ali o concurso do grande aventureiro à causa dos Farrapos.
No Rio Grande, porque não dizer? Terminara Garibaldi o seu aprendizado guerreiro.
E ao voltar, pouco depois, para a Itália, em 1847, ia ser então cognominado o “Herói de Dois Mundos”, ao lado de Mazzini, Cernuschi, Sterbini e outros.
Voltou à Itália, em 1847 e integrou-se às tropas do papa e do rei Carlos Alberto. Regressou à Itália em 1848 para lutar pela independência de seu País contra os austríacos. Derrotado, perseguido e preso, perdeu também a companheira Anita (1849). Refugiou-se por cinco anos nos Estados Unidos e depois no Peru, até voltar à Europa, em 1854. Numa nova guerra contra a Áustria em 1859, assumiu oposto de major-general e neste período, dirigiu a Campanha que terminou com a anexação da Lombardia pelo Piemonte. Garibaldi comandou os célebres camisas vermelhas (1860-1861), que utilizando táticas de guerrilha aprendidas na Guerra dos Farrapos, conquistaram a Sicília e depois o reino de Nápoles, até então sob o domínio dos Bourbons.
Conquistou ainda a Umbria e Marcas, no reino sulista das Duas Sicílias, porém renunciou aos territórios conquistados, cedendo-os ao rei de Piemonte, Victorio Emmanuelle II. Liderou também uma nova expedição contra as forças austríacas, em 1862 e depois dirigiu suas tropas contra os Estados Pontifícios, convencido de que Roma deveria ser a capital do recém-criado Estado Italiano. No batalha de Aspromonte foi ferido e aprisionado, mas logo libertado. Participou depois da expedição para a anexação de Veneza.
Em sua última campanha, lutou ao lado dos franceses (1870-1871), na guerra franco-prussiana. Participou do batalha de Nuits Saint-Georges e da libertação de Dijon. Por seus méritos militares foi eleito membro do Assembléia Nacional da França em Bordéus, mas voltou para a Itália, onde elegeu-se deputado no Parlamento Italiano, em 1874 e recebeu uma pensão vitalícia pelos serviços prestados à nação. Faleceu em Capri, em 2 de junho de 1882.
Entrou na História do mundo, combatendo pelo advento da unificação, em sua terra, como já combatera nas planícies gaúchas, entre os indomáveis Farrapos, pela independência do Rio Grande. Lutava pelo que considerava certo, e não por uma ideologia fixa.
Monumento Giuseppe Garibaldi - Município de Garibaldi - Serra Gaúcha.
Bibliografia:
Dumas, Alexandre – Memórias de Garibaldi – Ed Tchê – Porto Alegre – 2002.
Paranhos Antunes, Deoclécio. - Episódios e Perfis de 1835 - Ed. Livraria do Globo -Porto Alegre – 1935.
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SEPÉ TIARAJÚ
Se as Missões Orientais fazem parte da História do Brasil, não há razão para que Sepé Tiaraju não faça como querem alguns. Sepé morreu lutando contra Espanha e Portugal; não lutou contra o país chamado “Brasil”.
Se o Brasil (Portugal) tivesse ficado com a Colônia do sacramento em vez da “região missioneira”, Sepé faria parte da história-pátria da terra Argentina, mas como o triângulo territorial dos Sete Povos veio fazer parte do Brasil, Tiaraju ganhou lugar na galeria dos campeadores brasileiros. Por acaso os Farroupilhas não fazem parte dessa galeria? - e lutaram contra o governo do Brasil. Sepé lutou por sua gente e sua terra, que depois se tornariam brasileiras, terra e gente.
Que importância tem se Tiaraju nasceu do lado de cá ou de lá do Uruguai? Por acaso Cabral, D. Pedro I, Estácio de Sá, Garibaldi, Fernão Dias Pais Lemes, Pe. Vieira, Anchieta, Tomé de Souza, Nassau e tantos outros personagens da História brasileira não nasceram do lado de lá do Atlântico?
Com referência à preocupação, de certos escritores ao enlevo dado a Sepé Tiaraju, em detrimento ao comandante maior Nicolau Neenguiru: deve-se ao fato de que Sepé vivia nos Sete Povos, enquanto que Neenguiru. residia no lado de lá do Uruguai.
Que importa conjeturar o rumo da História e suas conseqüências caso os guarani-missioneiros tivessem vencido a batalha de Caiboaté? - Nada. Suposições não fazem coisa alguma, muito menos História.
O gaúcho Mário Mattos, arranchado em Sorocaba, escreveu a macanuda "Décima de Sepé Tiaraju"; ... uma tropilha, dentre as 322 estrofes de sua obra:
“...
O que Sepé combatia
No Tratado de Madri,
Não era o tratado em si,
Do qual nem tinha noção;
Era sim, contra a expulsão
Do seu povo guarani.
Foi a ordem desumana
Resolvida no além-mar,
Sem nada considerar,
Mandando os índios embora,
Das suas terras pra fora,
Pra delas se apoderar!
Golpe baixo nas Missões,
Onde o índio progredia
E a riqueza produzia,
Mostrando ao resto do mundo
Um viver novo e fecundo,
Que ao seu redor não se via!
Com cidades e lavouras,
Oficinas, gado e estâncias,
Tinham tudo em abundância
Pois se uniram no trabalho;
O seu único atrapalho
Era do branco a ganância
Por ironia da História,
Os índios eram cristãos,
Desejavam dar as mãos
Aos brancos da mesma crença
Mas só levavam ofensas
Dos desalmados irmãos
Quem escravizava o índio
Por todo este continente,
Não podia estar contente
Vendo florir as Missões,
Pois elas davam lições, -
Mostravam que. o índio é gente.
Isso explica o tal Tratado
Entre as potências rivais;
Nele, as Cortes coloniais
Aplainavam suas questões,
Pra dar um fim nas Missões
Que já lhes eram demais
A insurreição guarani
Foi legítima defesa,
Teve heroísmo e beleza;
Só interessava aos potentados
Chamar heróis de coitados
E ignorar sua grandeza!
Quem pode entender teu gesto
De ao índio negar direito
E de chamar que foi perfeito
O invasor que o massacrou?
"Se foi luso, não errou" -
É esse o teu preconceito!
Nosso tronco é lusitano,
Mas a raiz é mestiça
Pois se criou na justiça
Como raça marginal,
E do patrão colonial,
Só vinha o mando e a cobiça.
É falso querer cobrar
De Sepé 'brasilidade'
Pois nesse tempo, em verdade,
Brasil ainda não havia:
Brasileiro não podia
Ter Pátria e nem liberdade!
Já te esqueceste, (...),
Da morte do Tiradentes
E o fim dos Inconfidentes,
Como traidores julgados
Pelas Cortes condenados,
Por se acharem diferentes?
Pretender marcar Sepé
Como súdito espanhol,
É como tapar o sol -
Só falta que me sustentes
Que era luso o Tiradentes,
Pra completar o teu rol!...
Entendo enfim que Sepé
Como súdito de sua gente; -
E que esse índio valente,
Nascido na nossa terra;
Contra a injustiça fez guerra,
Dando a vida heroicamente.
Querer negar a importância
De Tiaraju e das Missões,
É ignorar tradições
Da nossa faina campeira,
Que tem marca missioneira
Do focinho até os garrões.
..."
Na "Prosa dos Pagos", de Augusto Meyer, lê-se, que dezoito anos depois da morte de Sepé, quando Francisco João Róscio escreveu o seu Compêndio Noticioso, já constava o nome de "São Sepé" designando um rio, e que em 1787, José de Saldanha cita em notícias o mesmo rio “com suas margens pantanosas”.
Escreveu Meyer, textualmente:
"Quanto ao verdadeiro Sepé, a primeira referência que se encontra nos Documentos é uma carta do cura de São Miguel, Lourenço Balda, dirigida ao padre Tadeu Xavier Henis, em 22 de março de 1753. 'El Capitan Sepé' escreve o padre, ou 'el Capitan Josef’. Em carta de 15 de abril do mesmo ano, verificamos que o capitão Sepé já estava auxiliando a resistência contra os invasores.
No 'Documento 13’ aparece como 'Mestre de Campo del Pueblo de San Miguel'. O índio Caracará, num dos depoimentos jurados, refere-se ao 'Alferez Mayor de San Miguel llamado José Tiarayió'. O padre Tadeu, no seu admirável Diário, apresenta-o como 'uno de los mas famosos capitanes' e adiante, a propósito da prisão e fuga de Sepé, escreve: 'Joseph, celebre Capitan de los de San Miguel, que entonces mandaba la artillaria, que sabia pronunciar algunas voces de la lengua española y que era conocido de uno de los, portugueses con los medidores de tierras' ......
Disse ainda, Meyer, que se pode recompor a imagem de ser um índio valente, destro e dedicado aos padres, e que os dois episódios mais importantes em que figura a astúcia e agilidade, para traçar seu retrato, são a fuga e a morte em combate. É apenas "capitão" subordinado ao comando de "Don Nicolas Neenguiru, el principal de la Concepcion, que acababa de ser elegido Capitan General por común acuerdo de todos”, diz Tadeu Henis.
Ao subscritar a carta ao padre Miguel de Souto, quando em missão de olheiro para investigar a relação conflitiva entre os índios de outras bandas com os espanhóis, sabe-se, ora, como o cacique se identificava, por escrito:
"Envio o meu paje com notícia... a pouca gana que têm os índios de deixar seus Povos... Por essa razão viemos aqui, disse o espanhol, e estamos esperando carta do Superior. Disse o espanhol: e estamos aguardando que venha alguém falar conosco. É o que me há dito o Alcaide, segundo o que temos falado. E um índio acaba de trazer uns bois, que os tinha guardado um negro, e estes eram dos que traziam os espanhóis, Este pouco te escrevo da Estância das Éguas, de Santa Rosa, 27 de agosto.
Teu filho, quem deveras te ama. Joseph Tyarayú”.
"O ódio originário - escreve Capistrano de Abreu – torna-se hereditário; e era a estes inimigos de mais de três gerações que ingênua ou perversamente se entregavam, não a terra e a gente, mas a terra sem a gente? A gente haveria de deixar as suas igrejas que ainda hoje causam a admiração dos viajantes, suas lavouras, guas casas, suas chácaras fertilizadas indefesamente em labuta secular; tinha de emigrar em condições muito piores que da primeira vez, quando fugiram dos mamelucos, pois ao menos então estavam atreitos ao viver no mato e andavam alheios às comodidades da cultura ... ?"
Aos chefes das 700 famílias tapes-guarani que seguiram o exército de Gomes Freire, em 1757, são dados nomes portugueses, quando aldeados em N. Senhora dos Anjos (Gravataí), fazendo com que se confundissem com os povoadores brancos.
Após firmar-se outros tratados de limites, com avanços e recuos nas linhas, é que, em 1801, se conclui esta página de feitos heróicos, tal como se fossem uma saga, pelo pitoresco como se apresenta o histórico dos Sete Povos.
(Por Carlos Zatti em: “SUL” Edições ACPAI Curitiba – 1998)
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GUAIRACÁ
“Cacique geral dos Guaranis da região do Guaíra (abreviatura de seu nome). Durante o século da exploração da terra e da escravização da gente no ocidente paranaense, Guairacá foi o condutor da defesa contra os invasores dos vastos domínios guaranis.
Sua divisa de guerra, palpitante nos seus feitos heróicos, ainda hoje ecoa na imensa região dos rios que correm para o Paraná: ‘Esta terra tem dono.’
Dele disse Rondon : 'Sua figura levantou-se como um leão que domina o deserto. Nunca se submeteu ao invasor.'
A resistência dos guaranis de Guaíra durou cerca de setenta anos. Desde as invasões de origem portuguesa como as de Aleixo Garcia e Jorge Sedenho (1532-1533), e principalmente as havidas em todo o curso das incursões de conquista dos espanhóis do Paraguai, que podem ser assim cronologicamente alinhadas:
- a de Domingos de Irala;
- a de Nuflo de Chávez;
- a de Alonzo de Riquielma;
- a de Juan de Garay.
A de 1544, que o próprio Irala, governador do Paraguai, comandou, teve por motivo aparente repelir tupis do Brasil, quando tudo indica que foi a primeira investida da conquista, dado o aparato de força e autoridade que a revestiu. Com algumas perdas, os guerreiros de Irala, segundo a história parcial escrita pelos conquistadores, afugentaram as tribos rebeldes ao domínio castelhano. ‘O valor, a tática e a superioridade das armas triunfaram do número’, diz Alfredo Demersay em sua História do Paraguai.
Data dessa incursão militar de Irala na província guarani de Guairacá a primeira referência histórica da existência de um chefe indígena tão prestigioso entre os povos de sua raça, que o seu nome se confundia com o da imensa região banhada por todos os afluentes do Rio Paraná, do Paranapanema ao Iguaçu.
Reconhecendo este prestígio, Irala confirmou a denominação de Guaíra dada em honra ao maioral dos chefes guaranis à região que antes, em 1541, dom Alvar Núñez Cabeza de Vaca, governador do Paraguai, havia denominado província de Vera, quando em grande parte a percorreu, de caminho para Assunção”.
- (Nossa Gente – in Terra e Gente do Paraná)
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JOAQUIM FRANCISCO ASSIS BRASIL
Nasceu a 29 de julho de 1858 em São Gabriel.
Em 1876 ingressou na Faculdade de direito em São Paulo, formou-se em 1882.
Pregou a Liberdade e a República. Em 1879, junto com seus colegas de faculdade fundou “Clube Republicano Acadêmico” e o “Jornal “Evolução”.
Publicou diversos livros, sendo sua primeira obra editada na sua adolescência, nos 18 anos, um livro de poesias “Chispas”.
Aos 22, editou “A República Federal”. depois “Discursos”, “Histórias da República Riograndense” Em 1896. publicou “Governo Presidencial” e em 1898 a “Cultura dos Campos” em 1894 “Democracia Representativa” (do voto e da maneira de votar) “Ditadura, Parlamentarismo, Democracia”.
Foi eleito Deputado Provincial em dois biênios, 1884/1886 e I886/1888.
Em 1889, proclamada a República, foi eleito deputado à Assembléia Nacional Constituinte. Promulgada a Constituição, renunciou.
Em conseqüência do Golpe de Estado de Deodoro da Fonseca, a situação no Rio Grande do Sul ficou crítica. Júlio de Castilhos abandona o poder, foi constituída uma junta governativa, da qual Assis Brasil fez paste, assumindo o governo do Estado, tendo como objetivo:
a - fazer a sociedade recobrar o sossego perdido;
b - combate, a ditadura;
c - presidir com a maior imparcialidade a eleição que se deveria realizar.
De 1890 a 1894 foi nomeado Ministro Plenipotenciário do Brasil na Argentina.
Em 1894 foi transferido para a China. Não chegou a assumir o posto, porque o presidente Prudente de Morais lhe deu a incumbência de reatar as relações estremecidas entre Brasil e Portugal.
Em 1898 foi transferido para os Estados Unidos, ficando lá até 1903, quando o presidente Rodrigues Alves o chamou para trabalhar ao lado de Rio Branco, na questão de limites entre Brasil e Bolívia. Depois de assinado o tratado do Acre, a 17 de outubro de 1903, voltou para Washington.
Em 1905, Rio Branco removeu-o para a Argentina, onde se tornara necessária a presença de uma personalidade de prestígio para desfazer intrigas sugeridas contra nosso ministro das relações exteriores.
Em 1906 ao lado de Joaquim Nabuco, presidente do Congresso pan-americano
realizado no Rio de Janeiro, dirigiu os trabalhos como secretário geral.
Em 1907 pediu aposentadoria e dedicou-se a Granja de Pedras Altas, que estava em fase de construção.
Em 1908, fundou com seu amigo Fernando Abbott o Partido Democrático.
Em 1922, seu nome foi lançado como candidato de oposição à Borges de Medeiros. A rudeza da luta eleitoral tornou inevitável um movimento armado. Em 1923, foi assinada a paz no Castelo de Pedras Altas. A paz da Revolução de 23.
Em 1924, tendo surgido novo movimento revolucionário entre Chimangos e Maragatos, Assis Brasil exilou-se no Uruguai, ficando na cidade de Melo durante 4 anos.
Em 1927 foi eleito Deputado Federal.
Em 1928 fundou o Partido Libertador. No mesmo ano inicia a campanha em favor de Getúlio Vargas, então Presidente do Estado. Em 1930, Washington Luiz é deposto e Getúlio Vargas assume o poder. Assis Brasil assumiu ocupando a pasta de Ministro da Agricultura.
Em 1931 foi mandado a Buenos Aires em missão especial. para assumir a Embaixada do Brasil, acéfala desde a Revolução Argentina de 1930, devido ao não reconhecimento do governo do General Uriburu por parte do Presidente Washington Luiz.
Em 1933 eleito Deputado da Assembléia Constituinte foi enviado em missão extraordinária à Inglaterra, onde tomou parte da Conferência Econômica Mundial e ainda retribuiu a visita que o Príncipe de Gales fizera ao Brasil.
Durante o tempo dedicado á Pátria, Assis Brasil jamais esqueceu o campo. Em todo lugar que passou procurou algo que pudesse contribuir para o progresso e desenvolvimento da pecuária e agricultura.
Introduziu a raça Jersey no Brasil, gado para produzir leite, a raça Devon para produzir carne e ovelhas da raça Ideal para produção de lã, cavalos Árabes, inúmeras espécimes botânicos como o eucalipto.
Faleceu em Pedras Altas no dia 24 de dezembro de 1938.
Assis Brasil foi um semeador. Que gerações sigam seu exemplo.
”E na água que se aprende a nadar, e é no exercício da liberdade que se aprende a ser livre”. Joaquim Francisco de Assis Brasil
Fonte: Site Terras do Sul
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BARÃO DE MAUÁ (1813 - 1889)
Irineu Evangelista de Souza, futuro Visconde de Mauá, nasceu na região Sul, em uma família humilde. Mas foi um dos nomes de maior importância no desenvolvimento industrial do Brasil.
Pioneiro em diversos setores da economia, implantou em 1847 a primeira casa de fundição brasileira de grande porte e, em 1854, a primeira ferrovia brasileira ligando Mauá à Raiz da Serra. No Rio de Janeiro desenvolveu o primeiro trecho do Canal do Mangue, resolvendo o problema de abastecimento de água. No Amazonas contribuiu para o desenvolvimento da região criando a Companhia a Vapor do Amazonas, a exemplo do investimento no setor naval que havia feito no Sul. Também contribuiu nas áreas de energia e comunicação, instalando iluminação a gás na corte em 1854 e construindo um cabo submarino de ligação telegráfica entre o Brasil e a Europa em 1872. Mauá fez ainda diversos investimentos nos transportes, como a ferrovia Pedro II, e no setor financeiro, como o Banco Mauá Mac Gregor com filiais espalhadas pelo mundo, além da segunda filial do Banco do Brasil.
A Era Mauá representou incentivo para o capital nacional e estrangeiro. Mas foi esse mesmo capital estrangeiro que tomou conta das suas empresas quando em parceria e que as destruiu quando concorrentes. Assim o Barão e depois Visconde de Mauá foi perdendo tudo o que havia construído. Faleceu trabalhando como corretor nos negócios de café, após ter escrito sua biografia denominada "Exposição aos Credores e ao Público", na qual descrevia todos os seus empreendimentos e o seu caráter liberal.
Conhecido por sua aversão ao convívio social, Mauá causava antipatia aos senhores de engenho e ao governo, mas fazia grandes amigos nas classes mais desprotegidas, dando abrigo a escravos foragidos e ajudando prisioneiros como os da Guerra dos Farrapos, por exemplo.
Fonte: Bazar Cultural
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JÚLIO DE CASTILHOS
O monumento central da Praça da Matriz de Porto Alegre homenageia Júlio de Castilhos, que foi governador do Estado do RS no final do século XIX (1893 a 1899), e líder do positivismo no RS. Tal movimento teve, depois, influência no resto do Brasil, durante o período do presidente Getúlio Vargas, na década de 1930. O monumento em bronze (construído em 1913, na gestão do governador Carlos Barbosa) foi desenvolvido pelo escultor Décio Villares, que também fez o desenho da atual bandeira do Brasil, contendo a inscrição positivista "Ordem e Progresso"; Júlio de Castilhos nasceu em 1860, no município que tomou seu nome: Júlio de Castilhos. Diplomou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, onde tomou contato com as idéias positivistas do filósofo francês Augusto Comte. Em 1893, na revolução federalista, derrotou os "maragatos" (federalistas e monarquistas, liderados por Gaspar Silveira Martins, que usavam lenços vermelhos) como líder dos "pica-paus republicanos" (adeptos do Estado local forte e autônomo, que usavam lenços brancos).
No monumento da Praça da Matriz, a figura do estadista parece querer levantar-se para agir, depois de ler um livro, que segura na mão esquerda, indicando o caráter do homem prático (e do poder executivo, em relação ao legislativo e judiciário); no lado esquerdo do monumento, um personagem representando a coragem empunha os louros da vitória; ao fundo, a figura da prudência detém os ímpetos, apontando os perigos; no lado direito da figura de Júlio de Castilhos, uma figura representando a firmeza, de porte atlético, celebra a perseverança do líder; dominando o conjunto, uma figura representando o civismo ergue a bandeira nacional, símbolo do amor que impulsiona as grandes façanhas e conquistas.
Fonte: Terra Gaúcha
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