domingo, 3 de outubro de 2010

5646 - HISTÓTIA DA BOLÍVIA

por CLAYTON MENDONÇA CUNHA FILHO

Cientista Social, integrante do Observatório das Nacionalidades – UFC
TERÁN, Néstor Taboada. Tierra Mártir – Del socialismo de David Toro al socialismo de Evo Morales. La Paz: Plural Editores, 2006 (106 p.)





Tierra Mártir, um retrato histórico da Bolívia
Clayton Mendonça Cunha Filho*



Localizada praticamente no coração geográfico da América do Sul, a República da Bolívia sempre foi para nós, brasileiros, uma grande desconhecida, apesar da proximidade e da extensa fronteira compartilhada. E se a recente eleição à presidência do indígena e líder camponês, Evo Morales Ayma, trouxe o país ao centro das atenções, também aumentou consideravelmente a incógnita sobre o mesmo.

Escrito em janeiro deste ano pelo premiado escritor boliviano Néstor Taboada Terán, ainda no calor da vitória eleitoral, Tierra Mártir é um pequeno ensaio histórico de fácil e agradável leitura que ajuda a jogar luzes sobre a esfinge vizinha. Centrado basicamente na história da exploração e marginalização social dos povos originários e nas lutas populares e contra-revoluções que se seguiram no país, o livro aborda diversos momentos importantes da contraditória história boliviana. Como a vitória eleitoral do escritor indígena Franz Tamayo ao fim da Guerra do Chaco (1932-1935), anulada pelo exército em um golpe de Estado que levaria ao poder o general David Toro, que declararia a Bolívia Estado socialista e seria derrubado pelo coronel Germán Busch, que implantaria um regime de inspiração nazi-fascista. Ou a Revolução Nacional Boliviana de 1952, que contou com efetiva e decisiva participação popular e serviria de inspiração aos rebeldes cubanos de 1959, mas que foi rapidamente cooptada pelos EUA através da figura do líder que a encabeçaria, Victor Paz Estenssoro. Passa, ainda, pela guerrilha liderada por Che Guevara no país na década de 1960 e que resultaria em sua captura e morte, até chegar ao surgimento do líder Evo Morales e sua recente eleição à presidência.

A narrativa de Terán não possui nenhuma pretensão de neutralidade. O autor deixa claro desde o início que analisa a história de seu país a partir de seu ponto de vista particular e não se abstém de dar sua opinião acerca dos personagens históricos analisados, o que, em geral, não chega a prejudicar a objetividade dos fatos analisados no livro, exceção feita apenas, provavelmente, ao momento em que Terán começa a abordar a história de Evo Morales e de sua ascensão à presidência. Nesse momento, o autor cai numa mistificação excessiva da figura de Morales, num messianismo que enxerga nele “el Salvador, el Supermán nativo” (p.78) cuja vitória eleitoral decreta que “ahora comienza la revolución em Bolívia” (p.90).

Mas se essa abordagem teleológica da figura de Evo Morales por parte do autor constitui uma grave falha na análise sociológica da situação boliviana atual, não torna o livro menos interessante. Talvez muito pelo contrário. O livro constitui uma excelente e acessível introdução à história da Bolívia em sua primeira parte e um retrato histórico fidedigno do momento boliviano atual, em que o presidente eleito converteu-se numa espécie de superstar e receptáculo de todas as esperanças de redenção nacional, em um fenômeno que nós brasileiros conhecemos muito bem com a eleição de Lula em 2002. E encarado assim, como um retrato histórico de um momento particular e determinado, o relato de Néstor Taboada Terán pode certamente ser bastante útil a outros pesquisadores interessados em se aprofundarem no estudo do país.



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