sexta-feira, 1 de abril de 2011

10236 - LINGUA GREGA

LINGVA

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Origem e evolução da língua grega e do alfabeto
O grego, assim como muitas outras línguas extintas e "vivas" da Europa e da Ásia Ocidental, faz parte da grande "família" das línguas indo-européias. Ao lado do sânscrito, a língua grega é uma das mais antigas da família.

A família indo-européia
As populações que hoje chamamos de "indo-européias" chegaram ao sudeste europeu e à Ásia Ocidental no final do Neolítico ou no início do Bronze Antigo. A mistura entre sua língua, o indo-europeu primitivo, e a língua falada pelas populações locais[1] originou diversos idiomas. Alguns deles existiram somente na Antiguidade; outros existem até hoje.

grego
português
francês
espanhol
italiano
inglês
alemão
latim
sânscrito πατήρ
pai
père
padre
padre
father
vater
pater
pitá
Quando se diz que uma determinada língua é da família indo-européia, significa que o vocabulário, a estrutura gramatical básica e outros fenômenos linguísticos têm grandes semelhanças entre si. Do ponto de vista do vocabulário, por exemplo, comprovar a origem indo-européia de uma determinada língua é simples; basta comparar as palavras dos vocabulários.

Veja, no quadro ao lado, como a comparação entre a palavra "pai" em línguas "vivas" (grego, português, francês, espanhol, italiano, inglês, alemão) e em línguas "mortas" (latim e sânscrito). A despeito das variações fonéticas — /fa/, /pa/ e /va/, entre outras —, o parentesco é evidente.

Quem eram, exatamente, os indo-europeus? Diversos conhecimentos sobre a cultura indo-européia antiga foram recuperados a partir do estudo das línguas mais velhas da família, mas ainda não foi possível atribuir nenhum achado arqueológico ao hipotético povo indo-europeu original, antepassado dos demais.

A origem do grego antigo
Alguns eruditos acreditam que em tempos remotos, talvez por volta de -2200, existia um único dialeto, o grego comum, do qual os demais derivaram; outros sustentam que nunca existiu, historicamente, um dialeto grego único. Um forte argumento a esse favor é o fato de que a cultura grega daquela época, resultado da mistura de diversas populações do Neolítico e da Idade do Bronze, era bastante diversificada.

A língua grega guarda resquícios dessa mistura populacional. Os filólogos detectaram, entre outras coisas, que certas palavras terminadas em -ssos/-nthos e usadas para nomear lugares são estruturalmente diferentes do padrão indo-europeu que caracteriza o resto da língua grega, e devem ter sido incorporadas antes de -2200: Tirintos (nome de cidade), Parnassos (nome de montanha), Kefissos (nome de rio)...

Os dialetos gregos
O termo "grego antigo" engloba, na realidade, diversas variantes dialetais: o micênico, o árcado-cipriota, o eólico, o dórico, o iônico e o ático eram os dialetos mais importantes. Sua existência está bem documentada durante o Período Arcaico e o Período Clássico, mas é altamente provável que esses regionalismos tenham se desenvolvido muito tempo antes.

O dialeto mais antigo deve ter sido, naturalmente, o correspondente ao grego falado pelos mínios durante o Heládico Médio, mas não há nenhuma prova disso. O mais antigo dialeto documentado por inscrições é o dialeto micênico (século -XV); o segundo mais antigo é, aparentemente, o árcado-cipriota, que tem vários graus de parentesco com o dialeto micênico. Devido à dominância econômica e intelectual de Atenas durante o Período Clássico, o dialeto ático difundiu-se por todo o mundo grego e os demais dialetos perderam progressivamente sua importância.

Durante o Período Helenístico, os gregos falavam já um dialeto "comum", conhecido por koiné (gr. κοινὴ διάλεκτος, ver D.H. Isoc. 2), derivado do dialeto ático. O dialeto comum, às vezes chamado de dialeto alexandrino, tornou-se a língua comum de todo o mundo mediterrâneo, helenizado pelas conquistas de Alexandre III da Macedônia, e foi utilizado durante muitos séculos, inclusive durante o Período Bizantino. O grego moderno deriva dele.

A origem da escrita
Durante milênios, a língua grega era apenas falada e as comunidades que a utilizavam transmitiam oralmente os elementos culturais. Muito antes, no Oriente Médio, os sistemas de escrita haviam se desenvolvido desde o IV milênio a.C., e após alguns milênios essa importante inovação foi adotada pelos gregos.


pictograma egípcio
-2700/-2460


linear B micênico
-1400/-1300


letras fenícias
séc. -XI Os primitivos sistemas de escrita, usados pelos sumérios, acadianos, egípcios e outros povos, eram sofisticados e, ao mesmo tempo, complexos. Baseavam-se em grande quantidade de sinais pictográficos (ideogramas), e cada sinal representava tanto o objeto concreto como o conceito subjacente. O pictograma egípcio ao lado, por exemplo, era usado para representar tanto "escriba" como "escrita".

Os sistemas pictográficos orientais logo foram simplificados e surgiram os silabários, onde cada sinal representava o som de uma sílaba. Exemplos orientais são o hitita, da Ásia Menor, e a escrita linear A, de Creta. A primeira escrita da Grécia foi, exatamente, um silabário, conhecido por linear B. O sistema foi certamente desenvolvido pelos micênios, inspirados pela escrita linear A dos minóicos da ilha de Creta.

No Oriente Médio, por volta de -1700 (ou, talvez, -1900), apareceram as primeiras inscrições alfabéticas. Nesses primitivos alfabetos, como o proto-sinaítico e o ugarítico, cada sinal representava um som, mas somente os sons consonantais. Os intensivos contatos comerciais entre os gregos e os fenícios da sírio-palestina, no século -IX ou -VIII, ensejaram o contato dos gregos com o alfabeto consonantal dos fenícios.

Os gregos logo adaptaram os sinais fenícios aos sons de sua língua, e fizeram ademais uma importantíssima inovação: aproveitaram os sinais fenícios que "sobraram" e utilizaram-nos para representar os sons vocálicos. O alfabeto grego, plenamente desenvolvido no início do Período Arcaico, foi o primeiro "alfabeto verdadeiro", completo, com sinais que representavam tanto as consoantes como as vogais. Todos os alfabetos ocidentais, inclusive o alfabeto latino, que você lê neste momento, derivam dos primeiros alfabetos gregos.

Notas
É possível que, durante a Idade do Bronze, tenha ocorrido com o indo-europeu primitivo o mesmo que se deu com o latim vulgar no início da Idade Média. Durante a permanência de Roma nos territórios conquistados, o latim vulgar, usado pelos soldados e pelo povo romano, teve contato prolongado com as diferentes línguas faladas pelos povos dominados. Essa combinação deu origem, com o tempo, às numerosas línguas neolatinas (ou românicas): o italiano, o provençal (falado numa região da França), o francês, o espanhol, o catalão (falado em regiões da França e Espanha), o português e o romeno.
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Textos recomendados
D. Diringer, A escrita, trad. A. Luiz, Lisboa, Verbo, 1985.
Referências
Consulte a bibliografia geral da área.
RIBEIRO JR., W.A. Origem e evolução da língua grega e do alfabeto. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. Disponível em www.greciantiga.org/arquivo.asp?num=0044. Consulta: 01/04/2011.
Monografia nº 0044. Criação: 19/03/1998.
Atualizada em 24/09/2006.
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