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Internacional publicado em 30/03/2011 às 05h57:
Fukushima faz Japão reviver
o trauma da bomba atômica
Para especialistas, só o tempo dirá o tamanho real do problema causado pela radiação
Do R7Texto:
Madeleine Pradel/25.03.2011/AFP
Sunao Tsuboi tinha 20 anos quando sofreu queimaduras terríveis provocadas pela bomba de Hiroshima; a atual crise nuclear está forçando muitos sobreviventes desse desastre a reviver os horrores que a radiação pode causar. Na imagem, ele mostra uma fotografia de si próprio e de outros estudantes em 6 de agosto de 1945, poucas horas após o bombardeio
PublicidadeO acidente com a usina nuclear de Fukushima fez o Japão reavivar um trauma que completa 66 anos neste ano. Duas semanas após sofrer o impacto de um terremoto de 9 graus na escala Richter, o país que sobreviveu a duas bombas atômicas no fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) agora luta contra o relógio para evitar grandes vazamentos radioativos na central nuclear.
Enquanto técnicos lutam para conter a radiação e evitar uma tragédia, os japoneses relembram o drama causado pelas bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos em Hiroshima e Nagazaki, no capítulo final do maior conflito bélico do Século 20, que mataram instantaneamente mais de 200 mil pessoas.
Mas a população da terra do sol nascente convive ainda com o fantasma de duas tragédias mais recentes. Especialistas dizem que, a partir das informações que se tem até agora, algumas características técnicas da atual crise nuclear japonesa se parecem a desastres como o de Three Mile Island, nos Estados Unidos (1979) e como de Chernobyl, na Ucrânia (1986).
Segundo os analistas ouvidos pelo R7, apenas nas próximas semanas é que será possível saber ao certo o real tamanho do problema e compará-lo com esses famosos acidentes. Enquanto as cidades japonesas atingidas pela bomba atômica foram reconstruídas poucos anos depois do ataque americano, Chernobyl permanecerá sendo uma cidade-fantasma pelos próximos 150 anos. Só o tempo dirá o que acontecerá com Fukushima.
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Radioatividade da bomba foi menor que a de Chernobyl
Segundo José Willegaignon de Amorim de Carvalho, físico-chefe do setor de medicina nuclear do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), "uma bomba atômica é uma arma de guerra, tem a função de destruição em massa, proporcionada pela liberação de uma grande quantidade de energia em um curto período de tempo, enquanto que o acidente ocorrido no Japão é gerado pela liberação de substâncias radioativas no ar por falha na contenção dessas no núcleo dos reatores".
- De acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica, o nível de radiação nas proximidades das usinas não é considerado preocupante, por outro lado, até agora, não foram divulgados oficialmente valores das taxas de radiação ou potenciais de contaminação pela poeira radioativa disseminada ou aquela existente na proximidade das usinas, sendo difícil avaliar até o momento qualquer tipo de impacto sobre a saúde de seres humanos .
Já para Mujidi Kazimi, professor do Departamento de Ciência Nuclear e Engenharia do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), dos Estados Unidos, a bomba de Hiroshima devastou a cidade, mas a radioatividade foi menor do que a liberada na usina de Chernobyl.
- [A usina de] Fukushima liberou muito menos radiação do que a da usina na Ucrânia, e a reabitação deverá ser possível. Aliás, relatórios indicam que animais selvagens estão voltando à vizinhança de Chernobyl. Assim, um reexame sobre as condições e reabitação na área podem acabar com a proibição que existe hoje ou ao menos estabelecer um prazo para o fim da proibição.
Acidente em Chernobyl foi muito mais grave
Seu colega no MIT, Michael Short, especialista em energia nuclear, concorda e acrescenta que o acidente em Chernobyl foi causado por uma reação nuclear, quando os níveis de energia no reator aumentaram 600 vezes em cerca de quatro segundos, provocando uma fissão – choque entre partículas que se converte em imensas quantidades de energia – que chega a ser até 200 vezes maior que a série de reações químicas que aconteceram em Fukushima.
Albert Vasiliyev, diretor do centro de segurança ecológica da agência nuclear russa (Rosatom), disse que comparar Japão e Ucrânia é completamente equivocado.
Ele explica que, em Chernobyl, o que aconteceu foi uma explosão total no reator 4, provocada por falha humana durante um procedimento de teste. O caso japonês é bem diferente, principalmente porque as explosões em Fukushima não foram atômicas.
- Não tem nada a ver com Chernobyl, e em termos de escala também é incomparável. Em Chernobyl, o reator foi levado a uma situação de emergência por falha humana. Mas em Fukushima não houve e nem deve haver uma explosão do reator.
- Além disso, um fogo que levou dias em Chernobyl, alimentado pelo carbono no núcleo do reator, queimou e liberou isótopos pesados [substâncias mais radioativas], enquanto os incêndios até agora em Fukushima foram bem menores, com liberação de isótopos leves [menos radioativos].
Até agora, os últimos relatórios divulgados sobre Fukushima indicavam que a gravidade do acidente, antes no nível 4, subira para 5 no último dia 18 de março, mesmo nível atingido na usina americana de Three Miles Island, em1979. Só para se ter uma ideia, em Chernobyl foi de nível 7, considerado muito alto para seres humanos.
Segundo a escala da Agência Internacional de Energia Atômica, o nível 4 indica acidente com efeito local, o 5, com efeito mais amplo, o 6, um acidente sério, e o 7, um grande acidente.
Consequências diretas
Rodney Ewing , geoquímico e especialista em rejeitos nucleares da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, diz que ainda é cedo para saber o impacto da tragédia sobre a população japonesa. Só depois que os níveis de radiação forem confirmados é que se poderá adotar uma das seguintes saídas: ou isolar a área, como foi feito em Chernobyl, se for comprovado que a radiação é nociva para as pessoas, ou retirar o núcleo do reator, como foi feito em Three Mile Island.
- Neste momento, ainda não está claro o que será feito. Acho que é demasiado cedo para tomar tal decisão, mas há uma gama de possibilidades. Em Three Mile Island, nos Estados Unidos, o núcleo foi recuperado e agora está em um tonel de armazenamento no Idaho National Laboratory, provavelmente destinado à eliminação geológica. Em Chernobyl, o núcleo derretido foi deixado no local encoberto por uma gigantesca quantidade de concreto.
Segundo os cientistas, se não houver mais liberação de radioatividade no país e a situação atual for estabilizada, talvez a população de Fukushima possa voltar à região, mesmo que seja criada uma zona de exclusão na vizinhança mais próxima dos reatores.
De qualquer forma, de acordo com os níveis finais de radiação, serão necessários muitos anos para entender as consequências desse tipo de acidente na saúde das pessoas, acrescenta Ewing.
- Ainda há estudos em andamento sobre a saúde dos japoneses que foram expostos à radiação liberada pelas duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki.
Com informações da France Presse
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