quarta-feira, 3 de novembro de 2010

5835 - HISTÓRIA DO CHILE

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A História do Chile é, em vários aspectos, muito semelhante à de outros países da América latina, que por trezentos anos foram explorados pela Espanha; e ao mesmo tempo possui características bem peculiares.


La MonedaLa Moneda O movimento de Independência do Chile entre 1817 e 18, liderado por Bernardo Oâ??Higgins, libertou o país da dominação secular espanhola, porém colocou o novo país na órbita do imperialismo inglês, uma vez que, a partir da década de 20 as oligarquias conservadores assumiram o controle político do país, apoiada pela Igreja Católica, preservando portanto os privilégios da elite criolla. Nesse sentido, a vida econômica do país continuou a basear-se no latifúndio agrário e pecuarista na região sul e na exploração mineral na região norte.

A sociedade era formada por uma grande massa de trabalhadores assalariados e por uma pequena elite, sendo parte ligada ao latifúndio e parte ao setor exportador e financeiro. Essa elite manteve o poder político até 1881, quando foi substituída por uma nova elite, caracterizada porém por uma postura liberal e nacionalista, destacando-se o governo de Juan Manuel Balmaceda ( 1886-91) que realizou importantes reformas sócio econômicas e acabou por ser derrubado após uma pequena guerra civil. O "Parlamentarismo Chileno" (1891 1925) tornou-se então a fórmula política para que os conservadores mantivessem o poder.

A eleição do Presidenta da República deveria ser confirmada pelo Congresso Nacional. A primeira metade do século XX conheceu momentos de desenvolvimento industrial e urbano, aproveitando-se das Guerras Mundiais e ao mesmo tempo aumento da dívida externa, da inflação e da dependência em relação ao capital internacional. Desde a década de 20 era o imperialismo norte americano quem detinha maior influência sobre a economia do país e controlava principalmente a exploração de minério ( em especial o cobre).

Ao mesmo tempo o êxodo rural e o crescimento de atividades urbanas remodelaram a sociedade, originando um proletariado mais significativo, assim como uma maior camada média. Essas mudanças foram acompanhadas no terreno político com a formação de novos partidos políticos e sindicatos, tanto de esquerda como liberais nacionalistas. Apesar de não ter havido no Chile um líder populista tradicional, a situação política era bem semelhante à de outros países: Polarização.

De um lado as forças populares em conjunto com a classe média empobrecida e de outro as elites do campo e da cidade apoiadas no capital estrangeiro e pela Igreja Católica. Essa situação é bastante evidente após a Segunda Guerra Mundial, quando a partir da Doutrina Truman inicia-se a Guerra Fria, percebida na América Latina com a criação do TIAR em 1948. O primeiro reflexo dessa nova situação foi a aprovação da Lei da Defesa da Democracia ( chamada Lei Maldita), de 1948, que serviu para promover perseguições políticas `a líderes sindicais e de partidos de esquerda. Mesmo com as perseguições, a organização popular tendeu a se fortalecer: em 1951 formou-se a Frente do Povo ; em 1953 foi fundada a Central Única dos Trabalhadores e em 1956 foi formada a FRAP ( Frente de Ação Popular). Essas novas organizações refletiam a situação de decadência econômica do país, fruto da queda das exportações e da maior inflação. Na década de 60 desenvolveu-se uma nova alternativa política, o Partido Democrata Cristão - PDC - que atraiu as camadas urbanas, inclusive parte do proletariado.

O Governo do PDC a partir de 1964 foi marcado pelo projeto desenvolvimentista, apoiado em empréstimos externos, e pelo início de uma reforma agrária. No entanto, as superficialidades das medidas de Eduardo Frei descontentaram a maioria da sociedade, sendo queo próprio PDC dividiu-se em duas grandes facções ao passo que as camadas populares do campo e da cidade, apoiando as organizações de esquerda organizaram a Unidade Popular, que disputou e venceu as eleições de 1970, levando o socilaista Salvador Allende ao poder.

Fonte: www.historianet.com.br

História do Chile
Em 1542 o conquistador espanhol Pedro de Valdivia chegou nas costas do Chile e fundou a cidade de Santiago. Porém antes dessa conquista, o território estava habitado por diversos povos com organizações e sistemas de vida que se adequavam ao clima e a geografia da região. Seguindo em direção norte-sul esses habitantes primitivos se reuniam em grupos como os Aymaras, os Atacamenhos, os Changos, os Diaguitas, os Incas, os Mapuches ou Araucanos, os Canoeros, os Patagones e os Polinésicos.

Durante os primeiros anos os espanhóis dividiram as terras, organizaram os indígenas e se dedicaram em trazer o maior número de colonos possíveis para consolidar sua presença no território. Ao avançar para o extremo sul os espanhóis encontraram os Mapuches ou Araucanos, povo guerreiro que colocaram grande resistência à dominação espanhola. Durante trezentos anos, índios e ibéricos disputaram com duras batalhas o domínio da região. Essa situação chegou ao fim em 1599, quando os índios destruíram todas as fundações espanholas ao sul de Concepción.

Devido à forte influencia do povo mapuche, os espanhóis decidiram se instalar num território menor que compreende o que atualmente conhecemos como Copiapó e Conceição. Ali se dedicaram à agricultura e a explorarão de minerais. Durante o século XVII e a metade do século XVIII, as únicas cidades estabelecidas como tais eram Santiago, La Serena e Conceição. Mais tarde, com o aumento da população, foram fundados novos centros urbanos como Copiapó, Rancagua, Curicó e Talca. Esse assentamento de mais habitantes facilitou a realização de importantes avanços nas áreas de educação e cultura.

1810-1829 A INDEPENDÊNCIA
No começo do século XIX, acontecimentos como a Revolução Francesa e a independência dos Estados Unidos incrementaram os sentimentos de independência de muitos países. No caso do Chile, depois da invasão da Espanha por Napoleão e a queda do rei Fernando VII, em 1810, os crioulos estabeleceram em Santiago uma Junta Nacional de Governo para dirigir a Colônia em nome do monarca. Isso foi considerado uma rebelião e começou uma luta entre crioulos e o Exercito Espanhol enviado desde o Reinado de Peru. Em 1814, depois de fracassado esse primeiro intento de independência, a ajuda argentina, materializada na campanha do general José de San Martín, foi traduzida na vitória de Chacabuco e Maipú, que marcaram o fim do domínio espanhol no Chile.

Entre 1818 e 1829 nenhum dos governos chilenos conseguiu dar continuidade e estabilidade ao país, pois as resistencias contra o governo autoritário de Berbardo de O' Higgins primeiro, e as lutas entre liberais e conservadores, depois, impediram que fosse criando um marco de estabilidade e convivência.

1829-1861 A ORGANIZAÇAO DA REPÚBLICA
A guerra civil de 1829 significou o triunfo dos conservadpres sobre os liberais. A partir desse momento se construiu um Estado forte, centralizado, autoritário e unificado, no qual o poder civil e as instituições se impuseram sobre o caudilhismo regional e militar.

O desenho desse sistema, refletido na Constituição de 1833, teve em Diego Portales seu homem forte, quem, apesar de não ser presidente, deixou sua marca, incluso quando foi assassinato em 1837. A estabilidade chilena se prolongou até 1891 e transformou o país numa potencia regional principalmente depois da guerra contra a Confederação Peruana Bolivianana, na que as tropas chilenas derrotaram ao protetor da confederação, o mariscal Andrés de Santa Cruz. Esse sistema, de características autoritárias, não variou durantes os governos de Joaquín Prieto (1831-1841), Manuel Bulnes (1841-1851) e Manuel Montt (1851-1861) que proporcionaram o progresso e a institucionalização do país.

1861-1891 O PERÍODO LIBERAL
A divisão dos grupos conservadores nos anos 50 proporcionou a trasição a um sistema mais liberal e menos autoritário, no qual o parlamento foi cobrando , progressivamente, mais importância, reduzindo o poder presidencial. Assim, entre 1861 e 1891, os diferentes governos introduziram uma legislação leiga, potenciaram a chegada de inversões estrangeiras e estabeleceram um marco mais liberal de governo.

Além disso, a Guerra do Pacífico (1879-1883) confirmou a supremacia militar do Chile sobre seus vizinhos, já que o exército chileno, além de derrotar a Bolívia e Peru, anexou a provincia boliviana de Antofagasta e as peruanas de Tacna e Arica. Tudo isso lhe permitiu o controle sobre o salitre, que se converteu no pilar fundamental onde se apoiou a economia chilena até os anos 20.

1891-1920 A REPÚBLICA PRESIDENCIAL
A guerra civil de 1891 que enfrentou ao presidente José Manuel Balmaceda e às forças que apoiavam a supremacia do Congresso sobre o executivo acabou com a derrota de Balmaceda e deu início a três décadas de estabilidade política e de domínio dos partidos e profunda debilidade dos diferentes governos que se sucederam.

Com uma economia baseada na exportação do salitre, foi formando-se uma classe obreira e uma ampla classe média que durante este período estiveram alheias ao sistema político, ao menos até o triunfo de Arturo Alessandri, em 1920.

1920-38 CRISE E RECUPERAÇÃO
Quando o salitre deixou de ser um produto demandado internacionalmente a economia chilena veio abaixo e com ela a estabilidade política e social. As tentativas de Alessandri de impulsionar um governo popular fracassaram (1920-25) e deram passo à experiência de uma ditadura militar e corporativa de Carlos Ibáñez do Campo (1927-31) que não pôde sustentar-se depois do impacto das crises do 29. Depois da experiência breve de uma República Socialista em 1932, Alessandri regressou à presidência (1932-38) e apoiado nos setores conservadores e no cobre, o novo pilar da economia chilena, conseguiu outorgar ao país um período de estabilidade política e econômica.

1938-1952 ÉPOCA DA FRENTE POPULAR
Uma coligação de radicais, socialistas e comunistas conseguiu o triunfo sobre os setores conservadores, em 1938. Dirigidos pelo asa mais moderada, os radicais, implementaram uma série de medidas de caráter social e de intervenção estatal na economia. A ruptura da coligação devido às medidas anticomunistas dos radicais e as divisões no seio do socialismo, unido ao forte desgaste do governo afetado por diversos casos de corrupção conduziram ao final do regime da Frente Popular.

1952-1973 A CRISE DA DEMOCRACIA
Os governos que sucederam à Frente Popular não foram capazes de parar a deterioração social e político pelo que atravessava o país. Nem as medidas de corte populista de Ibáñez do Campo (1952-1958), nem as ortodoxas e conservadoras de Jorge Alessandri (1958-1964) nem as reformistas de Eduardo Frei Montalva (1964-70) impediram que a situação fosse piorando progressivamente e radicalizando-se o panorama político. O triunfo de Salvador Além em 1970 aprofundou as reformas que deram um giro socializante que conduziu à estatização da economia. Os confrontos sociais e as pressões dos setores mais conservadores da sociedade chilena ante as decisões do governo de Além sumiram ao país numa profunda crise, que degenerou num ambiente de pré-guerra civil e acentuou os confrontos políticos.

1973-90 O REGIME DE PINOCHET
O golpe do 11 de setembro de 1973 clausurou o regime democrático mais antigo da América Latina e transformou radicalmente ao país. Baseado num sistema autoritário desde o ponto de vista político, que se plasmou na Constituição de 1980, o regime encabeçado por Augusto Pinochet introduziu uma série de medidas econômicas de tintura liberal que abriram a economia chilena ao exterior e atraíram os investimentos estrangeiros. A oposição ao regime aumentou nos anos 80, mas a repressão e o apoio social com o que contava o regime prolongaram a permanência no poder de Pinochet até 1990, quando abandonou a presidência devido à derrota que sofreu no referendum de 1988.

1990-2005 A ÉPOCA DE LA CONCERTACIÓN E DA RESTAURAÇÃO DEMOCRÁTICA
La Concertación, uma coligação de socialistas, democratacristianos e radicais, manteve-se no poder desde 1990, durante as presidências de Patricio Aylwin (1990-94), Eduardo Frei Ruiz-Tagle (1994-2000) e Ricardo Lagos (2000- ). Estes governos se caracterizaram por liberar e democratizar o regime implantado pelo pinochetismo, criar medidas de caráter social e por manter o modelo econômico herdado da ditadura. Chile se converteu, nestes anos, num exemplo de estabilidade política, crescimento econômico e redução das diferenças sociais.

Fonte: www.ciberamerica.org

História do Chile
No dia 11 de setembro de 1973, as Forças Armadas chilenas (60 mil homens) comandadas pelo o general Augusto Pinochet, com o apoio dos Carabineiros (30 mil homens), deu um dos mais violentos golpes militares da história latino-americana. O Presidente Salvador Allende, eleito dois anos e dez meses antes, viu-se sitiado no Palácio de La Moneda pelas tropas e pela aviação golpista. Percebendo a inutilidade da resistência e para evitar mais derramamento de sangue, Allende matou-se.

Com este gesto dramático encerrou-se tragicamente a experiência da implantação do socialismo pela via democrática-parlamentar numa sociedade de tradição ocidental. Para o Chile iniciava-se uma longa ditadura militar que só encerrou-se 17 anos depois quando, em 1990, na onda mundial das democratizações, o general Pinochet, derrotado num plebiscito, retirou-se do poder; cedant arma, togae, determinado que as armas cedessem o poder à toga, devolvendo a presidência a um político eleito pelo povo.

A vitória da Unidade Popular
"Passeava o povo suas bandeiras rubras e entre eles na pedra que tocaram estive na jornada fragorosa e nas altas canções da luta... isolados eram como troços partidos duma estrela.....Juntos na unidade feita em silêncio eram o fogo, o canto indestrutível.." - Pablo Neruda - Canto Geral,XI,XIV, 1950

O cenário político chileno quase nunca sintonizou-se com o dos seus vizinhos. Nem com os argentinos nem com os peruanos ou bolivianos. O Chile até 1973 sempre teve um perfil partidário europeu, desconhecendo a existência de partidos populistas, como também ferozes ditaduras militares. Entre os chilenos imperou quase sempre uma situação marcadamente ideológica, onde cada classe social ajustava-se a um partido: os ricaços e os grandes fazendeiros agrupavam-se no conservador Partido Nacional, a classe média na Democracia Cristã, e os operários e os intelectuais dividiam-se entre os socialista e os comunista.

Em 4 de setembro de 1970, depois de varias tentativas anteriores fracassadas, as esquerdas conseguiram unir-se, lançando um candidato em comum à presidência da república: Salvador Allende, um senador militante do Partido Socialista chileno. Para alcançar o objetivo 6 partidos integraram-se na Unidade Popular (os mais importantes eram o partido socialista, o comunista, o radical e o MAPU, uma dissidência da democracia cristã). Como um aliado inconveniente da UP, mantido à distância, existiam os extremistas do MIR (Movimiento de la Izquierda Revolucionária), uma agrupação guevarista que advogava "a luta armada". Allende não recebeu a maioria consagradora (36,2%), sendo confirmado pelo Congresso chileno pelo voto da Democracia Cristã.

A via chilena para o socialismo
"Eu quero terra, fogo, pão, açúcar, farinha, mar, livros, pátria para todos, por isso ando errante..." Pablo Neruda - Canto geral, XIII,XV

O primeiro ano de governo da UP foi o da aplicação do Plano Vuskovic que estimulou uma alta salarial que chegou a 55%, adotada para expandir a industria nacional que operava com enorme capacidade ociosa. Conjugaram-na com um aumento dos gastos públicos que atingiu a 66% a mais do que o governo anterior. A idéia era de que a ampliação do mercado consumidor - formado por trabalhadores bem remunerados - induziria os empresários a investirem na produção. Ao mesmo tempo os socialistas esperavam que o bom padrão de vida que ofertavam aumentaria as bases políticas do que chamavam de "a via chilena para o socialismo". Com a adesão da classe média pensavam em atingir a estabilidade necessária a sua sobrevivência. Esta linha de ação contava com o apoio dos socialistas-allendistas e dos comunistas de Luís Corvalán, os mais moderados integrantes da frente, mas não com o do influente senador Carlos Altamirano que, apesar de militar entre os socialistas, defendia a "via leninista", ou "insurgente," para tomar o poder.

Passados doze meses do Plano Vuskovic verificou-se que os investimentos na economia não se realizaram. Um dos motivos deveu-se a que os extremistas estimularam os trabalhadores chilenos a apropriarem-se das fábricas, recorrendo a um sofisma legislativo chamado de "resquícios legais", afim de "criar o poder popular". No campo a situação não diferiu. Uma onda de invasões de terras levou à paralisação da agricultura e a uma alta geral dos gêneros alimentícios, estimulando o crescimento do mercado negro.

Simultaneamente, Allende nacionalizou a mineração e outros setores considerados fundamentais para chegar-se ao socialismo, o que abriu contra ele um outro fronte de luta com as multinacionais.

Entre 1972-73 a economia chilena literalmente parou. A tensão social aumentou enormemente e os conflitos entre os operários e os outros setores sociais se ampliaram. A escassez geral, as filas, o mercado negro, fizeram com que as classes médias abandonassem qualquer simpatia que anteriormente tivessem pelo regime ou pelo ordenamento democrático. O resultado político disto foi a passagem da Democracia Cristã para a oposição extremada, golpista. As classes médias ao voltarem suas costas para Allende, estimularam sua derrubada.

Síntese do Programa Geral da UP

1- Política de redistribuirão de renda (no Chile 2% da pop. detinham 46% da renda)

2- Nacionalização da grande industria, especialmente da mineração de cobre

3 -Ampliação e expansão da reforma agrária

4- Aproximação diplomática e econômica com os países socialistas e comunistas

Chile: a derrubada da democracia (de Allende a Pinochet)
As forças da oposição
"O delicado sátrapa conversa com taças, pescoços e cordões de ouro. O pequeno palácio brilha com um relógio e os rápidos risos enluvados atravessam às vezes os corredores e se reúnem às vozes mortes e às bocas azuis frescamente enterradas." Pablo Neruda - Canto Geral, VI, 1950

Uma das razões mais amplas do fracasso da "via chilena para o socialismo" deveu-se ao quadro mundial de então. Vivia-se em plena Guerra Fria e os Estados Unidos engajado na Guerra do Vietnã não podiam aceitar tranqüilamente a existência de um regime socialista na sua área de influência (*). Esta foi a razão de Henry Kissinger, assessor do presidente Richard Nixon, ter dito que o governo americano "não podia ficar parado aguardando um pais tornar-se comunista devido a irresponsabilidade do seu povo". Além disso a política das nacionalizações e estatizações adotada pela UP (O Estado chegou a controlar 60% da economia nacional) feria os interesses das grandes corporações americanas, como no caso da ITT, um empresa telefônica e de comunicações que passou a pressionar o governo Nixon "a tomar providências".

Não demorou muito para que o Chile se encontrasse submetido a um bloqueio informal (como Allende denunciou num dramático discurso na ONU). Não conseguindo empréstimos internacionais e nem bons preços para o cobre, o seu principal produto de exportação. A estratégia americana foi sufocar gradualmente a economia chilena até que um levante das Forças Armadas pusesse fim a "via chilena para ao socialismo", ou como disse o embaixador americano em Santiago: "não permitiremos que nenhuma noz nem mesmo um parafuso venha a enriquecer o Chile de Allende". Richard Nixon no seu despacho ao Departamento de Defesa fora enfático: "Há uma chance em dez, mas salvem o Chile, façam a economia guinchar!"

Entrementes o quadro latino-americano que o cercava também era hostil a Allende. Nos anos de 1970, na América do Sul inteira, apenas o Chile, a Colômbia e a Venezuela mantinham Estados de Direito com governantes eleitos pelo povo. Solidariedade e simpatia socialista ele só obteve de Fidel Castro cujo auxilio prático era nenhum. O Brasil, a Argentina, o Paraguai, a Bolívia, o Peru, o Equador e logo o Uruguai, encontravam-se ocupados por regimes militares. Também pesou na derrubada de Allende, o sucesso econômico do ditadura do general Médici (1969-74) que fez com que o Brasil tivesse um crescimento entre 9 a 11% anuais, estimulando com seu exemplo, de Estado Autoritário, anti-comunista e antidemocrático, a que os militares chilenos arriscassem implantar um modelo similar.

Mas o fator fundamental que levou ao golpe militar foi o quadro interno. O descalabro econômico que atingiu o governo da UP fez com que a inflação saltasse para patamares desconhecidos na história do Chile (em 1971 a inflação foi de 22,1%: em 1972 aumentou para 163,4%, e, no ano do golpe, em 1973, atingiu o clímax com 381,1%), fazendo com que O PNB sofresse, neste tempo, uma queda de 9,0 (positivo) para - 4,2 (negativo).

As próprias bases políticas da UP manifestaram o seu desconforto com a greve da mina El Teniente e o protesto estudantil demonstrado contra a ENU (Escola nacional Unificada: um plano do Ministro da Educação que visava um padrão comum, baseado em valores socialistas, para toda a educação, e que foi apontado como uma tentativa de doutrinar os estudantes). Neste clima de enfrentamento, tanto a esquerda extremista como a extrema-direita do "Patria y Libertad" mobilizaram-se. Os integrantes do MIR fizeram chegar ao Chile armas soviéticas vindas de Cuba, enquanto os direitistas articulavam-se com a CIA (a agencia americana gastou U$ 12 milhões de dólares financiando greves, especialmente a dos caminhoneiros) e com setores militares. Por toda a parte multiplicavam-se os atentados e assassinatos, e as greves gerais não paravam de eclodir.

(*) Segundo o livro de William Blum "Killing Hope", o envolvimento direto dos E.U.A. com a política chilena começou na administração do presidente John Kennedy. Desde que Allende perdera a eleição de 1958 por apenas por 3% dos votos, os americanos não podiam mais depender "da providência ou da democracia". Para tanto criou-se um comitê, um em Washington e o outro em Santiago, para coordenar as eleições de 1964. O candidato dos americanos, o democrata-cristão Eduardo Frei recebeu U$ 20 milhões de dólares para vencer Allende (o resultado foi 56% a 39%). Em 1970, para derrubar Allende, a CIA criou o Projeto Fulbert que abarcou um amplo conjunto de atividades que iam de apoio a assassinatos seletivos e fomentar greves, a contatar políticos e militares direitistas para articularem um golpe de estado.

O Pinochetaço
"Cada povo com suas dores, cada luta com seus tormentos, mas vinde aqui dizer-me se entre os sanguinários, entre todos os desmandados déspotas, coroados de ódio, com cetros de látegos verdes, foi algum como o do Chile?" Pablo Neruda - Canto Geral, V, 1950

Em agosto de 1973, um mês antes do desenlace, com a intermediação do arcebispo do D. Raúl Silva Henríquez, tentou-se um último acordo entre as duas principais lideranças civis do pais, o presidente Salvador Allende e o líder da Democracia Cristã, o senador Patrício Aylwin. Mas a esta altura era tarde. A classe média, o empresariado e os proprietários em geral, havia rompido com a UP, apostando suas esperanças num golpe salvador que contaria com irrestrito apoio dos E.U.A.. Reflexo disto era a aberta campanha feita pela imprensa, liderada pelo jornal El Mercurio (que inicialmente chegou a apoiar a UP) que exigia a imediata saída de Salvador Allende: "Renuncie! Hagalo por Chile"; sua manchete do dia 6 de setembro de 1973 dizia tudo.

Os militares atiçados por todos os lados finalmente puseram-se em marcha. O general Pinochet chegara ao comando supremo depois da renúncia do general oficialista Carlos Prats, um militar constitucionalista que se negou a participar de qualquer golpe (Prats foi assassinado pela DINA, a policia secreta pinochetista, uns anos depois no seu exílio em Buenos Aires).

Em poucas horas as Forças Armadas conseguiram submeter o governo da UP. Allende, resistindo só no palácio presidencial, era o retrato vivo do isolamento em que se encontrava o seu regime nos seus dias finais. Abandonado diplomaticamente pelo mundo ocidental, desprezado pelos governos militares seus vizinhos e impotente em deter as forças golpistas dentro do seu próprio pais, só lhe restou cair como mais um mártir da democracia: "Eu não resignarei" disse ele, "estou pronto para resistir sejam quais forem os recursos mesmo que custe a minha vida, isto servirá de lição nesta ignominiosa história destes que têm a força mas não a razão."

A violência com que o golpe se deu deveu-se em grande parte à enorme tensão social porque o país passou depois ter sofrido por quase três anos de uma terrível pressão coletiva que, diga-se, começou antes mesmo da confirmação de Allende. Dois dias antes a sua posse, em 22 de outubro de 1970, o general René Schneider, então comandante supremo, foi assassinado para tumultuar a ascensão do socialista ao poder (a morte do general constitucionalista, considerado demasiadamente "neutro" pelos americanos, foi articulada pela CIA que forneceu as armas para um grupo de extrema-direita, chefiado pelo general da reserva Roberto Viaux).

Morto Allende, foi a vez das suas bases sofrerem o peso da repressão. Lideres sindicais, políticos, intelectuais, ativistas e militantes das diversas organizações esquerdistas, foram detidos e levados presos para o Estado Nacional de Santiago. Lá, depois de identificados, muitos foram sumariamente fuzilados, torturados ou mutilados pelos militares. Nas ruas das principais cidades os suspeitos, por vezes, eram passados pelas armas. A tortura rotinizou-se. A vida da população sofreu uma alteração brusca. Severos toques de recolher eram acompanhados de batidas policiais por quarteirões inteiros. A formação prussiana dos militares chilenos revelou sua eficiência e crueldade ao procederam com os caídos e os derrotados.

Não satisfeitos em liquidar com a oposição interna, o general Pinochet estimulou a execução da Operação Condor (com a colaboração dos militares, argentinos, uruguaios, bolivianos e paraguaios, com participação dos brasileiros limitadas à trocas de informações) que implicou na eliminação física dos seus adversários no exterior (além do General Carlos Prats, foi morto Orlando Letelier, um ex-embaixador chileno exilado em Washington D.C.). A violência da ditadura do general Pinochet (atribui-se a ela a morte ou o desaparecimento de 3.197 pessoas e mais um número incerto, mas bem maior de torturados) fez com que o seu nome fosse mundialmente associado ao terror estatal sem contemplação, a um fabricante de tormentos, tornado-se, como diria Pablo Neruda (morto no próprio dia do golpe), num dos "Bruxos da América", os que " matam os metais da ressurreição, fecham as portas e entrevam a morada das aves deslumbradoras".

O Chile, que durante muito anos foi apontado como uma raridade na América do Sul devido a sua estabilidade política (os militares fizeram uma curta intervenção em 1924-5), passou a ser visto durante uns tempos como um vasto campo de concentração, bem longe do que Neruda dizia idilicamente do seu pais ser "uma longa pétala de mar, com vinho e neve".

Conclusões
O regime militar chileno destacou-se dos suas congêneres sul-americanas por ser eminentemente personalista. Foi acima de tudo a ditadura de Pinochet. Apesar dele não depender de nenhum partido civil, o Partido Nacional devotou-lhe amplo apoio. Ideologicamente poderíamos defini-lo como de direita tradicionalista-católico, inspirado no regime do general Franco da Espanha (1936-1975), marcadamente antidemocrático e anti-comunista. O general teve a seu favor o amplo apoio dos Estados Unidos que chegaram a lhe enviar, em 1975, uma equipe de economistas do MIT, os Chicago’s boys, seguidores de Milton Friedman, o economista neoliberal que orientou a desmontagem do estado intervencionista existente desde os anos de 1930.

O sucesso econômico do regime Pinochet é que faz com que ele ainda mantenha uma boa base de apoio e simpatia interna, especialmente entre as classes médias superiores e os ricos, permitindo-lhe adotar a estratégia do abandono gradual do poder desde que ele foi eleitoralmente derrotado num plebiscitos. Ao transmitir o poder a Patrício Aylwin ele garantiu para a si mesmo o cargo de senador vitalício, o que impede que os atingidos pela repressão e seus familiares encontrem um modo legal de processá-lo (*).

Mas isto não impediu que sua pessoa fosse internacionalmente apontada como mais um cruel ditador latino-americano, do porte dos grandes tiranos do continente, um "sangrador da pátria", um homem que chega ao poder escalando sobre os cadáveres do seu próprio povo, escorregando no sangue dos seus conterrâneos.

(*) Ao fazer uma viagem para Londres em 1998, para um tratamento de saúde, o general Pinochet foi detido pela justiça inglesa, atendendo uma solicitação de um juiz espanhol que deseja sua extradição para que responda, num tribunal da Espanha, pelo desaparecimento de cidadãos daquele país desaparecidos no Chile depois do golpe de 1973.

Fonte: educaterra.terra.com.br
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