quinta-feira, 13 de setembro de 2012

RENÉ DESCARTES






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Trabalhos de Filosofia - 11º Ano













Biografia de René Descartes



Autores: Joana Pereira



Escola: [Escola não identificada]



Data de Publicação: 21/02/2009



Resumo do Trabalho: Trabalho sobre a vida e obra de René Descartes, realizado no âmbito da disciplina de Filosofia (11º ano).

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Biografia de René Descartes

















VIDA



René Descartes nasceu no ano de 1596 em La Haye, cidade que hoje se denomina La Haye-Descartes em sua homenagem.



Com oito anos, entrou no colégio jesuíta Royal Henry-Le-Grand em La Flèche, onde permaneceu durante nove anos. Nesta instituição foi aluno do Padre Estevão de Noel, que lia Pedro da Fonseca nas aulas de Lógica. Apesar de todos os professores o apoiarem por admirarem as suas capacidades intelectuais, Descartes acaba por demonstrar, num dos seus contactos com Mersenne e na sua obra Discurso sobre o Método, uma certa decepção com o modo de ensino da altura. Acabou por afirmar que a filosofia leccionada não conduzia a nenhuma verdade indiscutível, ou seja, objectiva, já que nela não se encontrava nenhum facto sobre o qual não se discutisse. Acrescentou que eram as matemáticas que mais lhe agradavam, sobretudo devido à certeza e à evidência dos seus raciocínios. No entanto prosseguiu com os seus estudos graduando-se em Direito em 1616 pela Universidade de Poitiers.



No entanto, Descartes nunca exerceu Direito e, em 1618, alistou-se no exército do Príncipe Maurício de Nassau com a intenção de seguir uma carreira militar. A escola militar era, para ele, um complemento na sua educação. Conheceu o duque Isaack Beeckman, tornando-se seu amigo. A ele dedicou o Compendium Musicae, um pequeno tratado sobre música. Foi também nesta altura que escreveu Larvatus prodeo.



Em 1619, viajou para a Dinamarca, Polónia e Alemanha, onde, no dia 10 de Novembro, teve uma visão em sonho de um novo sistema matemático e científico. Três anos depois retornou a França e passou os anos seguintes em Paris e noutras partes da Europa. Em 1628, incentivado pelo cardeal De Bérulle, compôs as Regras para a Direcção do Espírito e partiu para os Países Baixos onde morou até 1649. Em 1629 começou a redigir o Tratado do Mundo, uma obra de Física, que aborda a sua tese sobre o heliocentrismo. Porém, em 1633, quando Galileu é condenado pela Inquisição, Descartes abandona seus planos de publicá-lo.



Em 1637, publicou três pequenos tratados científicos: A Dióptrica, Os Meteoros e A Geometria, mas foi o prefácio destas obras, o Discurso sobre o método, que originou o seu futuro reconhecimento. Anos depois, em 1641, surgiu a sua obra filosófica e metafísica mais grandiosa: As Meditações Sobre a Filosofia Primeira, com os primeiros seis conjuntos de Objecções e Respostas. Em 1642, lançou a segunda edição das Meditações, que incluía uma sétima objecção, feita pelo jesuíta Pierre Bourdin, seguida de uma Carta a Dinet.



Em 1643 começou sua extensa correspondência com Isabel da Boémia. Posteriormente publicou Os Princípios da Filosofia, obra que resume os princípios filosóficos que formam a "ciência", e explicou o movimento dos planetas e a propagação da luz. Segundo ele, todos estes factos dependiam da existência da atmosfera. Em 1647 foi premiado com uma pensão pelo Rei de França e começou a trabalhar na Descrição do Corpo Humano. Em 1649 dirigiu-se à Suécia, por convite da Rainha Cristina. No mesmo ano, o seu Tratado das Paixões, dedicado à Princesa Elisabete da Boémia, com quem mantinha uma de amizade, foi publicado.



René Descartes morreu de pneumonia no dia 11 de Fevereiro, 1650 em Estocolmo, Suécia, onde estava trabalhando como professor a convite Rainha. Como um católico num país protestante, ele foi enterrado num cemitério de crianças não baptizadas, em Adolf Fredrikskyrkan. Depois, o seu corpo foi levantado e transportado para França, onde foi enterrado na Igreja de Sant Genevieve-du-Mont em Paris. Durante a Revolução Francesa o seu corpo foi novamente desenterrado, a fim de ser deslocado para o Panthéon ao lado de outras grandes figuras francesas.



Em 1667, a Igreja Católica Romana colocou as suas obras no Index Librorum Prohibitorum - Índice dos Livros Proibidos.



Teoria do Conhecimento – Discurso do Método



Racionalismo



Podemos definir o racionalismo como a corrente filosófica que considera a razão o caminho mais correcto para atingir a verdade absoluta. Já dizia Hegel "Tudo o que é racional é real e tudo o que é real é racional". Os racionalistas apoiam a doutrina de que a experiência que nos é dada pelos sentidos é insuficiente para atingirmos o conhecimento. No racionalismo crê-se que o conhecimento apenas é verdadeiro se for logicamente necessário e universalmente válido. O conhecimento matemático tem origem na razão através das suas noções científicas. De facto não negam a existência do conhecimento empírico, que se baseia na experiência, mas consideram-no como uma simples opinião, desprovida de qualquer valor científico. O conhecimento, assim entendido, supõe a existência de ideias ou essências anteriores e independentes de toda a experiência.



Dúvida



Segundo Descartes, a verdade e a certeza apenas se inserem na razão. A estratégia utilizada por esta última, para apresentar uma forma de validade universal para o conhecimento, consistia no recurso à dúvida. Ao nos colocarmos numa posição em que duvidamos totalmente dos factos, possivelmente vamos poder extrair uma ideia que foi capaz de resistir à incerteza mais rígida da nossa atitude, que é denominada por dúvida metódica. René inicia sempre a sua desconfiança nos dados dos sentidos, na medida em que estes últimos nos iludem para a realidade. Mediante do uso excessivo e extremo da dúvida fecha a razão ao mundo dos sentidos, referindo a primeira como a única forma de se atingir o real conhecimento. Descartes chega até a duvidar da própria matemática, explanando a hipótese do indivíduo da antroposfera ter sido criado por um “génio maligno” que nos ilude sempre que pensamos ter atingido um verdade clara e distinta. Devido a esta última afirmação Descartes interroga-se: “Haverá alguma coisa acerca da qual podemos ter total certeza?”. É através desta questão que nos norteamos para a primeira certeza: cogito ergo sum – penso logo existo. Esta última declaração está imune ao génio maligno.



Racionalismo inatista



Descartes defende uma determinada posição do racionalismo: o racionalismo inatista. Este tipo de racionalismo defende que existem três tipos de ideias: as inatas, as adventícias e as factícias. As ideias adventícias são aquelas que nos chegam a partir dos sentidos, as factícias são provenientes da nossa imaginação, uma combinação de imagens fornecidas pelos sentidos e retidas na memória cuja combinação nos permite representar, imaginar coisas que nunca vimos. A grande questão, porém, é saber se todas as nossas ideias se podem explicar destes dois modos. Será o triângulo uma ideia adventícia? Como explicar então a sua perfeição? Será uma ideia factícia? Como explicar nesse caso a sua universalidade? E a ideia de Deus? Como explicar que seres finitos e imperfeitos como os homens, possam ter a ideia de um ser infinito e absolutamente perfeito?



A resposta que Descartes considera correcta diz que, para além das ideias adventícias e factícias, os homens possuem ideias inatas, ideias que, nascidas connosco, são como que a marca do criador no ser criado à sua imagem e semelhança. Estas ideias inatas, claras e distintas, não são inventadas por nós mas produzidas pelo entendimento sem recurso à experiência. Elas subsistem no nosso ser, num lugar profundo da nossa mente, e somos nós que temos a liberdade de as pensar ou não. Representam as essências verdadeiras, imutáveis e eternas, razão pela qual servem de fundamento a todo o saber científico.



“(...) quando começo a descobri-las, não me parece aprender nada de novo, mas recordar o que já sabia. Quero dizer: apercebo-me de coisas que estavam já no meu espírito, ainda que não tivesse pensado nelas. E, o que é mais notável, é que eu encontro em mim uma infinidade de ideias de certas coisas que não podem ser consideradas um puro nada. Ainda que não tenham talvez existência fora do meu pensamento elas não são inventadas por mim. Embora tenha liberdade de as pensar ou não, elas têm uma natureza verdadeira e imutável.”Méditations Métaphysiques, “Méditation cinquième”, p. 97-99.



Quais são então as ideias inatas? Fundamentalmente os conceitos matemáticos e a ideia de Deus. Num texto dirigido à princesa Elisabeth, Descartes escreve: “A primeira e a principal [das ideias inatas] é que há um Deus de quem todas as coisas dependem, cujas perfeições são infinitas, cujo poder é imenso, cujos decretos são infalíveis...”



Como diz Koyré: “Do desmoronamento das suas primeiras certezas, Descartes apenas salvará as que não dependem da filosofia: a crença em Deus e na Matemática.”



O Método



Descartes quis estabelecer um método universal, inspirado no rigor matemático e nas suas "longas cadeias de razão".



1. - A primeira regra é a evidência: isto é, não admitir "(…) nenhuma coisa como verdadeira se não a reconheço evidentemente como tal". Dito de outra forma, evitar toda "precipitação" e toda "prevenção", preconceitos, e tomar apenas como verdadeiro o que for claro e distinto, isto é, o que "(…) eu não tenho a menor oportunidade de duvidar". Por conseguinte, a evidência é descrita como algo que não se pode duvidar, é o que resiste a todos os assaltos da dúvida, apesar de todos os resíduos, o produto do espírito crítico. Não, como diz bem Jankélévitch, "(…) uma evidência juvenil, mas quadragenária".



2. - A segunda é a regra da análise: "dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas forem possíveis".



3. - A terceira é a regra da síntese: "concluir por ordem meus pensamentos, começando pelos objectos mais simples e mais fáceis de conhecer para, aos poucos, ascender, como que por meio de degraus, aos mais complexos".



4. - A última é a dos "desmembramentos tão complexos... a ponto de estar certo de nada ter omitido".



Se este método se tornou muito célebre, foi porque os séculos posteriores viram nele uma manifestação do racionalismo.



Descartes procurava estabelecer regras universais para resolver problemas de toda natureza. Isto é notado claramente em A Geometria, quando estabelece um método que, segundo ele, resolve todos os problemas de geometria. Esse método é aplicado na resolução do problema de Pappus pela primeira vez. A resolução desse problema é considerada a base para o desenvolvimento da Geometria Analítica.



Matemática



Descartes foi um dos mais grandiosos matemáticos de todos os tempos. Teve grande importância no desenvolvimento da geometria.



Como já referimos, foi no decorrer do ano de 1637 que concluiu o Discurso do Método, obra que foi publicada acompanhada por três anexos, o um dos quais A Geometria. Escrita com a intenção de ilustrar matematicamente as considerações filosóficas gerais do Discurso do Método relativamente ao método científico, A Geometria é a única obra matemática publicada pelo filósofo e matemático, ocupando uma centena de páginas.



Descartes trabalhou em diversas áreas da matemática, salientamos as seguintes:



. Geometria analítica;



. Álgebra geométrica;



. Classificação das curvas;



. Identificação de cónicas;



. Normais e tangentes;



Foi Descartes que, imaginando o sistema de coordenadas de um ponto, construiu as bases da Geometria Analítica. Em homenagem a esse facto, denominam-se ainda hoje cartesianos os referenciais em que se representam graficamente as funções.



Notas Finais



Pedro da Fonseca (1528 — 1599) nascido em Proença-a-Nova foi um filósofo e teólogo jesuíta português que era conhecido, na sua época, como o "Aristóteles Português". As suas obras principais foram nas áreas da lógica e da metafísica.



Marin Mersenne (1588 – 1648) foi um monge francês que se notabilizou pelo seu esforço no desenvolvimento de teorias e pelos seus diversos contactos com filósofos e cientistas.



João Maurício de Nassau-Siegen (1604 – 1679) foi um militar holandês e destacado líder político na Guerra dos Oitenta anos. Tornou-se príncipe de Orange em 1618, sucedendo o irmão Felipe Guilherme.



Isaac Beeckman (1588 – 1637) foi um filósofo, matemático, e cientista holandês. Na sua época foi considerado um dos homens com mais qualificações intelectuais, já que possuía estudos em diferentes áreas. Ajudou Descartes em diversas descobertas matemáticas.



Compendium Musicae é uma obra de Descartes, na qual o autor indaga as relações matemáticas que determinam a ressonância, o tom e a dissonância musical, um tópico evidentemente de acordo com sua inclinação pitagórica de então.



Pierre De Bérulle (1575 – 1629) f oi um cardeal e teólogo francês. Escreveu o Discurso sobre a abnegação interior. Em 1611, estimulado por São Francisco de Sales, fundou a Sociedade do Oratório, destinada à educação do clero.



Princesa Isabel Stuart da Escócia (1596 -1662) foi a filha mais velha de Jaime VI dos Escoceses, I de Inglaterra e Irlanda, e da sua rainha consorte Ana da Dinamarca. Deste modo, era irmã de Carlos I da Inglaterra e prima de Frederico III da Dinamarca.



Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831) foi o último filósofo clássico famoso, autor de um esquema dialéctico no qual o que existe de lógico, natural, humano, e divino, oscila perpetuamente de uma tese para uma antítese, e de volta para uma síntese mais rica.



Alexandre Koyré (1882/1892 - 1964), foi um filósofo francês de origem russa que escreveu sobre história e filosofia da ciência.



Vladimir Jankélévitch (1903 – 1985), foi um filósofo e músico francês.











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