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Por Cássio Lignani
Em 17 de fevereiro de 1600, Giordano Bruno foi queimado vivo depois de dois julgamentos e seis anos de cárcere em Roma. Condenado à fogueira por heresia, Giordano Bruno morreu como símbolo de um tempo de mudança. Seus livros foram queimados, mas suas idéias se perpetuaram. A condenação de Bruno não só evidenciou o desespero da Igreja Católica frente às reformas religiosas que aconteceram em toda a Europa no século XVI, mas também propagandeou involuntariamente as idéias heréticas que haviam sido condenadas.
Rebelde por natureza, Bruno ingressou na ordem dominicana de onde acabou fugindo por insubordinação para se tornar, a partir de 1576, um “sábio errante”, como o designa o escritor norte-americano Richard Morris, em seu livro Uma breve história do infinito – dos paradoxos de Zenão ao universo quântico.
Em 1579, depois de ter vivido em várias cidades italianas, Bruno se mudou para França onde obteve um doutorado em teologia pela Universidade de Toulouse. Viveu também em Paris e na Inglaterra, tendo lecionado em Oxford. Trabalhou em algumas universidades da Alemanha e, em 1591, voltou a Veneza para trabalhar como tutor de Mocenigo, um rico comerciante.
O filme Giordano Bruno (1973), de Giuliano Montaldo, se inicia justamente nesse período. Bruno já é um filósofo conhecido em grande parte da Europa e se hospeda na casa de Mocenigo, em Veneza. Os dois se desentendem e Bruno é denunciado aos inquisidores. Nessa ocasião, é realizado o primeiro julgamento, interrompido pela Santa Inquisição Romana, que exigia a extradição do prisioneiro a Roma.
No filme, alguns traços históricos podem ser remarcados de forma muito interessante, como as diferenças entre a República de Veneza e Roma, centro do poder papal. A autoridade do papa era reconhecida por todos os reinos católicos, mas controlava administrativamente apenas o centro da península itálica – embora a Igreja Católica fosse um dos pilares de vários monarcas europeus. Quando o senado veneziano vota em favor da extradição de Giordano Bruno, fica evidenciado o enfraquecimento da autonomia de Veneza, que, no século XVI, já estava em decadência como as outras cidades mercantes do Mediterrâneo, a ponto de o senado decidir conforme fosse mais conveniente para suas relações com a Santa Sé.
A extradição de Giordano Bruno, mesmo depois de ter abjurado em troca de sua liberdade, é uma ação política que retrata o momento pelo qual passava Veneza, antecipando sua dependência do Papa. Nesse ponto, o filme acerta, pois refaz bem o contexto político e mostra que Bruno morreu não só por suas idéias, mas também como um sacrifício “diplomático” de Veneza.
Fora a questão de poder entre as cidades italianas, Giordano Bruno foi condenado à fogueira por oito heresias destacadas de seus livros durante o segundo julgamento, em Roma. Entre elas está a crença no sistema heliocêntrico, mas também está a crença na reencarnação e no universo infinito. Sobre Bruno, Richard Morris também diz que “embora fosse um copernicano ardoroso, Bruno não era um cientista e contribuiu pouco ou nada para o desenvolvimento da astronomia.” No entanto, isso não exclui a importância de suas idéias nem anula sua contribuição ao desenvolvimento do conhecimento humano.
O filme Giordano Bruno é interessante – conta com trilha sonora de Enio Morricone –, mas não é uma obra-prima cinematográfica. Parece que houve a preocupação em colocar nos diálogos sempre uma frase de efeito, e algumas cenas são demasiadamente melodramáticas. Apesar disso, é válido assistir por sua relevância histórica. A morte de Giordano Bruno não foi só mais uma atrocidade resultante da incompatibilidade entre a verdade filosófica e religiosa, mas representou também a vergonha de Veneza ao entregar um livre-pensador à Santa Inquisição de Roma.
Giordano Bruno
Diretor: Giuliano Montaldo
Ano: 1973
Cássio Lignani é jornalista do Laboratório Aberto de Interatividade para a Disseminação do Conhecimento Científico e Tecnológico (LabI) da UFSCar.
Adilson de OliveiraMárcia TaitRoberto L. BaronasSilvio R. DahmenUFSCar - Universidade Federal de São Carlos . Rodovia Washington Luís (SP-310), Km 235, São Carlos-SP, CEP:13565-905
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