domingo, 30 de outubro de 2011

11088 - ATHELSTANE, REI DA INGLATERRA (924 A 939)

O que é História?
História (do grego antigo historie, que significa testemunho, no sentido daquele que vê) é a ciência que estuda o Homem e sua ação no tempo e no espaço, concomitante à análise de processos e eventos ocorridos no passado. A palavra história tem sua origem nas «investigações» de Heródoto, cujo termo em grego antigo é Ἱστορίαι (Historíai).
Estudar História significa pesquisar, investigar, indagar sobre o passado. O primeiro historiador foi Heródoto, um grego que viveu no século IV a.C., que viajou para o Egito e começou a relatar histórias daquele povo.
A ideia da História como uma ciência surgiu na Europa no século XIX. Nesse momento, surgiram os primeiros cursos que passaram a ensinar métodos de pesquisa e que documentos históricos (fontes) deveriam ser utilizados na pesquisa histórica.




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19/08/2011Histórico de monarcas ingleses


O Reino de Grã-Bretanha foi um Estado nacional da Europa Ocidental entre 1707 e 1800. Foi criado a partir da união das coroas da Escócia e Inglaterra, sob o Acto de União de 1707 (Union Act, 1707), que havia sido estabelecido para formar um único país na ilha da Grã-Bretanha. Um novo parlamento e governo foram criados em Westminster, Londres. Os dois antigos reinos partilhavam as suas monarquias, e Jaime I da Escócia passou a ser Jaime I de Inglaterra em 1603.

Em 1707 deixaram de existir ambas as monarquias, passando a existir somente uma, a Coroa da Grã-Bretanha; também deixou de existir o parlamento da Escócia e o parlamento da Inglaterra, substituídos pelo parlamento da Grã-Bretanha: parlamentares de ambas as nações tinham assento em Londres, na câmara dos comuns e na câmara dos Lordes. A representação escocesa era menor porque a sua população era menor. Sob os termos do "Union Act" a Escócia elegia 45 parlamentares para a câmara dos comuns e enviava 16 à câmara dos Lordes. O Reino da Grã-Bretanha foi suprimido após o Acto de União de 1800, pelo que a Irlanda foi anexada e criava-se o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, após o final das Revoltas Irlandesas de 1798.



Filho de Ealhmund of Kent e uma mulher desconhecida, Egbert nasceu em 770. Tinha uma meio-irmã Alburga, mais tarde reconhecida como santa. Alburga foi casada com um Ealdorman (uma espécie de Conde moderno) de Wiltshire que depois da morte deste tornou-se freira. Embora não se saiba a data e não haja dados, as vezes é suposto que Egbert casou-se com Redburga (ou Raedburh) provavelmente uma cunhada de Carlos Magno. Esta teoria reforça a tese do porque Egbert ter passado boa parte do tempo e ter laços fortes com a corte real dos Francos. Entretanto não há evidências da existência desta rainha.

O número de filhos de Egbert é incerto. Entretanto Ethelwulf que governou Kent, Essex, Surry e Sussex, era seu filho. Algumas versões da Crônica Anglo-Saxã dizem que Ethelstan era filho de Egbert, mas na verdade ele era seu neto.

Quando Cynewulf foi assassinado em 786, Egbert reclamou o trono porém Offa, rei da Mércia, apoiou Beorhtric contra Egbert. A Crônica Anglo-Saxã diz que Egbert passou três ou treze anos na França exilado por causa de Offa e Beorhtric. Na época do seu exílio, a França era governada por Carlos Magno que mantinha uma influência dos francos na Nortúmbria e era conhecido por apoiar os inimigos de Offa no sul. Beorhtric morreu em 802 e Egbert tornou-se rei de Wessex provavelmente com o apoio de Carlos Magno e do papa. Na Mércia havia oposição a Egbert, e no dia de sua posse Hwicce (que formou um reino separado da Mércia) atacou Egbert sob a liderança de Ethelmund, um Ealdorman de Hwicce. Na batalha morreram tanto Ethelmund como Weohstan, marido de Alburga.

Em 815 Egbert devastou todos os territórios dos galeses ocidentais, que provavelmente nesta época não incluiam muito mais que a Cornualha; provavelmente desde seu reinado a Cornualha pode ser considerada sujeita a Wessex.

Em 825, Egbert derrotou Beornwulf, rei da Mércia, na batalha de Ellandun. Esta batalha determinou o fim da dominação mércia sobre o sudoeste da atual Inglaterra e Egbert tornou-se o oitavo Bretwalda e primeiro rei anglo-saxão. A crônica diz que Egbert enviou seu filho Ethelwulf a Kent com uma grande tropa e segundo esta mesma crônica, Kent, Essex, Surrey e Sussex submeteram-se a Ethelwulf. Para consolidar estas conquistas, em 827 foi fundada o reino da Inglaterra.

Em 829 o rei conquistou Mércia e Eanred, rei da Nortúmbria, o aceitou como senhor depois de recusar-se a brigar contra ele em Dore (hoje um subúrbio de Sheffield). Em 830 liderou com êxito uma expedição contra os galeses e nesse mesmo ano, Mércia reconquistou sua independência sob a regência de Wiglaf, ainda que não exista certeza sobre a origem desta independência, uma rebelião ou resultado de uma concessão de Egbert a Wiglaf. Em 836 Egbert foi derrotado pelos daneses, mas em 838 ganhou uma batalha contra eles e seus aliados, os galeses do oeste em Hingston Down na Cornualha.

Egbert morreu aproximadamente no ano de 839 e foi sepultado na antiga igreja de Winchester. Vários cofres mortuários que continham os ossos dos reis de Wessex e da Inglaterra foram transferidos a Catedral de Winchester no século XI. Durante a Guerra Civil Inglesa, os soldados parlamentáres usaram os ossos de Egbert e outros reis para quebrar as janelas da igreja. Os ossos foram recolocados em cofres. Mas é impossivel destinguí-los sem um exame forense (no momento há quatro crâneos no cofre de Egbert junto a outros ossos).



Ethelwulf de Wessex (em inglês antigo: Æþelwulf, que significa 'Lobo Nobre') nasceu em 806, sendo o primogênito de Egbert de Wessex, rei de Wessex e de Mércia, e de Redburga, possívelmente uma princesa carolíngia.

Conquistou Kent em representação de seu pai em 825. Designado Rei de Kent até que sucedeu seu pai como Rei de Wessex em 839, pelo que se converteu em rei de: Wessex, Kent, Cornwall, os Saxões Ocidentais e Orientais. Foi coroado em Kingston upon Thames.

Com a morte de seu pai, o rei Egbert (junho de 839), Ehtelwulf sucedeu-lhe ao trono de Wessex e nos conquistados reinos de Essex, Sussex e Kent; entretanto, o reino de Mércia emancipou-se novamente, não podendo ser anexado a Wessex até o reinado de Eduardo, o Velho (918).

Um dos primeiros atos de Ethelwulf como rei foi dividir o reino. Deu a seu filho mais velho, Athelstan, a metade este, que incluía Kent, Essex, Surrey e Sussex (não confundí-lo com Athelsan, o Glorioso). E manteve para si a parte Oeste de Wessex (Hampshire, Wiltshire, Dorset e Devon).

Durante todo seu reinado teve que lutar contra os daneses (vikings) -os quais ian convertendo-se com o passar do tempo em uma força muito poderosa-, logrando uma extraordinária vitória na batalha de Acleah, em Surrey); assim mesmo derrotou o príncipe Cyngen ap Cadell de Gales quando invadia Mércia.

A religião sempre teve parte importante na vida de Ethelwulf. No primeiro ano de seu reinado planejou uma peregrinação a Roma. Devido ao aumento de incursões, sentiu a necessidade de apelar ao Deus dos Cristãos para que lhe ajudasse contra o inimigo "tão ágil, numeroso e profano." [Humble, Richard. The Saxon Kings. London: Weidenfeld and Nicolson, 1980. 41.]

Em 855, perto de um ano após a morte de sua mulher Osburga, Ethelwulf viajou com seu filho Alfredo a Roma. Em Roma, foi generoso com suas riquezas. Distribuiu ouro ao clero de São Pedro e ofereceu os cálices de Bendito Pedro do mais puro ouro e candelabros de prata feitos pelos saxões. [Hodgkin, RH. A History of the Anglo-Saxons. London: Oxford UP, 1935. 512.]

Em seu caminho de volta a Wessex, parou na França, na corte do rei Carlos o Calvo, o qual lhe deu a mão de sua filha mais velha, Judith Martel, de aproximadamente 12 anos. O matrimônio se celebrou em Verberie-sur-Oise, em 1 de outubro de 856.

Sua ausência foi aproveitada por seu segundo filho e herdeiro, Ethelbald, para apoderar-se do reino. No seu retorno em 856, Ethelwulf encontrou-se com uma aguda crise. Seu filho mais velho Ethelbald (Athelstan havía falecido) havía tramado uma conspiração com o Magistrado Chefe do Distrito de Somerset e com o bispo de Sherborne para opor-se à volta da regência de Ethelwulf. Havía suficiente apoio a Ehelwulf tanto para iniciar uma guerra civil como para desterrar a Ethelbald e seus conspiradores. Em vez disto, Ethelwulf entregou Wessex a seu filho e aceitou para si Surrey, Sussex e Essex . Governou até sua morte em 13 de janeiro de 860.

Se a disputa familiar tivesse continuado, podería haver arruinado a Casa de Egbert. Ethelwulf e seus conselheiros mereceram o apreço que lhes concederam por sua moderação e tolerância.

A restauração de Ethelwulf incluiu uma concessão especial às rainhas saxãs. Os saxões ocidentais não permitiam que a rainha se sentasse junto ao rei, elas não eram chamadas de rainhas, eram tratadas como simplemente "a senhora do rei." Esta restrição foi levantada para a Rainha Judith, provavelmente por seu alto grau de princesa europeia.

Morreu em 13 de janeiro de 860, aos 54 anos de idade, sendo sepultado em Steyning e logo transferido à igreja antiga de Winchester. Seus ossos reposam em um dos cofres mortuários da Catedral de Winchester.

Seu anel de ouro está ricamente decorado com símbolos religiosos, e nele está inscrito: Ethelwulf Rex, foi encontrado em Laverstock, Wiltshire, em 1780.



Ethelbald de Wessex nasceu em 834, sendo o segundo dos filhos homens de um total de 6 de Ethelwulf, rei de Wessex e de sua primeira esposa, Osburga.

A morte de seu irmão mais velho, Athelstan (851) o converteu em herdeiro da coroa.

Quando seu pai partiu em peregrinação a Roma junto com seu filho mais novo, Alfredo, depois da morte de sua esposa (855), Ethelbald aproveitou sua ausência para destroná-lo e assumir o controle de Wessex; mas quando seu pai retorna em 856, poderia depô-lo facilmente e retomar o controle do reino, ao invés disto, Ethewulf permite que Ehtelbald realmente assuma o trono.

Com a morte do pai em 13 de janeiro de 858, Ethelbald casa-se com sua madrasta, a segunda esposa de seu pai, Judith, em fevereiro de 858. Desta união, nasceu um filho, Archibald, o Jovem, mas o matrimônio foi considerado incestuoso e escandalizou a população de Wessex. Ethelbald foi obrigado a separar-se de Judith, pela influência do bispo de Winchester. Finalmente, o matrimônio foi anulado pouco antes de sua morte em 860.

Ethelbald morreu sendo impopular em 20 de dezembro de 860, aos 26 anos de idade, sendo sepultado na abadía de Sherborne, em Dorset.

Ethelbert, seu irmão, lhe sucedeu ao trono.



Etelberto de Wessex (em inglês: Æþelberht of Wessex, 835 - 865), foi o terceiro filho homem de um total de seis de Ethelwulf, rei de Wessex, e de sua primera esposa, Osburga. Reinou entre os anos 860 e 865.

Com a morte do imrão, Ethelbald, em 20 de dezembro de 860, Ethelbert lhe sucede no trono de Wessex, e como seu pai e seu irmão foi coroado em Kingston upon Thames.

Combateu, desde então, contra as invasiões danesas a Nortúmbria e Kent, ambas ao mando de Ragnar Lodbrok, o qual chegou a invadir Winchester.

Morreu em 865, aos 29 anos de idade, sendo sepultado na abadía de Sherborne, em Dorset.



Etelredo ou Ethelred de Wessex (em inglês antigo: Æþelræd ōf Ƿęsēx; c. 840 – 23 de Abril de 871) foi o quarto filho do Rei Ethelwulf de Wessex e o irmão mais velho de Alfredo de Inglaterra. Às vezes é denominado Ethelred I da Inglaterra, todavia tal denominação não seria correta, uma vez que, à época, a Inglaterra era dividida em vários reinos. Foi sucedido pelo seu irmão, Ethelbert, como Rei de Wessex e Kent em 865. Ele se casou com Wulfrida e teve dois filhos, Arthelwold e Aethelhelm.

Ethelred foi enterrado em Wimborne em Dorset. Ele foi popular e era tratado como santo, mesmo não sendo canonizado.



Nasceu na localidade de Wantage, em Dorset, no ano de 849, sendo o quinto e mais novo dos filhos varões (foram 6 no total) de Ethelwulf, rei de Wessex, e de sua primeira esposa, Osburga.

Em 855, ao morrer sua mãe, acompanhou seu pai em uma peregrinação a Roma, passando em seu regresso uma temporada na corte do rei Carlos o Calvo de França. Ethelwulf casou-se então pela segunda vez, agora com a filha do rei francês, Judith.

Ethelwulf morreu em 13 de janeiro de 858, sendo sucedido por seu segundo filho, Ethelbaldo, o qual se casou com sua madrasta, Judith.

Nada se sabe dos seguintes anos de Alfredo durante os reinados de seus dois irmãos mais velhos, Ethelbald e Ethelbert que se sucederam rapidamente. Foi até o reinado do terceiro irmão (quarto na ordem de nascimento), Etelredo I, que o jovem Alfredo começou sua vida pública e sua brilhante carreira militar contra os Vikings. Foi graças a seus êxitos militares que, segundo o cronista Asser, foi-lhe concedido o título de secundarius ou co-rei, sendo possivelmente aprovado este cargo pela Witenagemot para evitar problemas na sucessão caso o rei morresse na batalha, ainda que com ele deserdaram aos dois filhos de Etelredo.

Casou-se na localidade de Winchester, no ano de 868, com Ethelswitha Mucel, filha de Etelredo, senhor de Gainsborough e descendente dos reis da Mércia pela linha materna. Deste matrimônio nasceram seis filhos.

Em 869, lutando ao lado de seu irmão Ethelred, fez uma tentativa fracassada de livrar Mércia da pressão dos dinamarqueses. Durante quase dois anos Wessex desfrutou de uma trégua. Mas no final de 870 iniciaram-se as hostilidades, e o ano seguinte seria conhecido como o "ano das batalhas de Alfredo". Nove batalhas foram realizadas com variados desfeches, ainda que o lugar e a data de duas delas não se tenham registrado. Uma emboscada de sucesso na batalha de Englesfield (em Berkshire, 31 de dezembro de 870) foi seguida por uma grande derrota na batalha de Reading (4 de janeiro de 871), para, quatro dias mais tarde, ocorrer uma brilhante vitória na batalha de Ashdown, perto de Compton Beauchamp, em Shrivenham Hundred.

Em 22 de janeiro de 871, os dinamarqueses derrotaram novamente os ingleses em Basing, e em 23 de abril de 871 em Merton, Wiltshire, onde morreu o rei Ethelred I; as duas batalhas não identificadas talvez tenham ocorrido neste intervalo.

Com a morte de Ethelred I na batalha, Alfredo por fim sobe ao trono de Wessex, sendo coroado em Kingston-upon-Thames no mesmo dia.

Enquanto ele estava ocupado com o enterro e as cerimonias funébres de seu irmão, os dinamarqueses derrotaram o exército inglês em sua ausência em um lugar desconhecido, e uma vez mais em sua presença, em Wilton, no mês de maio. Depois de feita a paz, nos seguintes cinco anos os dinamarqueses ocuparam outras partes da Inglaterra, e Alfredo se viu obrigado a não realizar novas ações além da observação e proteção da fronteira. As coisas mudaram em 876, quando os dinamarqueses, sob um novo líder, Guthrum, regressaram ao reino e atacaram Wareham. Deste lugar, no início de 877, sob o pretexto de negociações, incursionaram até o oeste e tomaram Exeter. Ali Alfredo os bloqueou e, graças ao atraso de uma segunda frota dinamarquesa por causa de uma tormenta, os vikings tiveram que submeter-se e retirar-se para Mércia. Em janeiro de 878 os dinamarqueses voltaram à luta e fizeram um ataque repentino em Chippenham, uma praça forte a qual Alfredo estava mantendo desde o Natal, "e a maioria das pessoas foram capturadas, exceto o rei Alfred, o qual com uma pequena tropa reunida por ele consegue fugir... pelo bosque e pântano, e depois da Páscoa ele... construiu uma fortaleza em Athelney, e dessa fortaleza começa a lutar contra o inimigo" (crônica).

No meio de maio de 878, os preparativos estavam prontos e Alfredo marchou de Athelney, reunindo no caminho as forças militares de Somerset, Wiltshire e Hampshire. Os dinamarqueses, por seu lado, moveram-se para fora de Chippenham, e os dois exércitos se enfrentaram na batalha de Edington, em Wiltshire. O resultado foi uma vitória decisiva para Alfredo. Os dinamarqueses foram submetidos. Guthrum, o rei dinamarquês, e 29 de seus principais homens receberam o batismo quando assinaram o Tratado de Wedmore. Como resultado disto, a Inglaterra se dividiu em duas terras, a metade ao sudoeste nas mãos dos saxões e a metade nororiental que ficaria conhecida como Danelaw sob domínio dinamarquês. No ano seguinte (879), não somente Wessex, mas também Mércia, ao oeste de Watling Street, estavam livres do invasor.

Entretanto, por aquele tempo, ainda que a metade nororiental da Inglaterra, incluindo Londres, estivesse nas mãos dos dinamarqueses, a verdade é que a maré estava contra. Naqueles anos havia paz na ilha, mas os dinamarqueses mantiveram-se ocupados na Europa. Um ataque à região de Kent em 884 ou 885, ainda que rechaçado com êxito, animou os dinamarqueses da Ânglia Oriental a mover-se novamente. As medidas tomadas por Alfredo para reprimir as agitações culminam com a tomada de Londres em 885 ou 886, e com o tratado conhecido como paz de Alfredo e de Guthrum, pelo qual os limites do tratado de Wedmore (com o qual se confunde um pouco) foram modificados materialmente para benefício de Alfredo.

Uma vez mais e durante uma época houve calmaria, mas na primavera de 892 ou 893 a última tormenta se desata. Os dinamarqueses, encontrando sua posição na Europa cada vez mais e mais precária, cruzaram a Inglaterra em dois grupos, com o agregado de 330 homens em barcos, e trincheiraram-se em uma vasta extensão em Appledore, e outro grupo menor fez o mesmo em Haesten, ambas em Kent. O fato de que os novos invasores trouxeram suas esposas e filhos com eles são demostrações que esta não era uma simples incursão, senão uma tentativa significativa, em acordo com o povo de Nortúmbria e os dinamarqueses da Ânglia Oriental, de conquistar a Inglaterra. Alfredo, em 893 ou 894, tomou uma posição de onde poderia observar ambas as forças. Enquanto ele estava em negociações com Haesten, os dinamarqueses de Appledore exploraram e invadiram o norte, dirigindo-se até o oeste, mas foram alcançados pelo filho mais velho de Alfredo, Edmundo, sendo derrotados em Farnham, e conduzidos a um refúgio na ilha de Thorney, em Hertfordshire Colne, onde foram forçados a submeter-se. Então caíram também em Essex, e depois de sofrer outra derrota em Benfleet, a força dinamarqueses de Haesten, em Shoebury, se submeteu a seu comando.

Alfredo estava a caminho de ir auxiliar seu filho em Thorney quando viu que Nortúmbria e os dinamarqueses da Ânglia Oriental sitiavam Exeter e uma praça forte não nomeada na orelha de Devon do Norte. Alfredo imediatamente se apressa em marchar até o oeste e livra Exeter; o nome do outro lugar não foi registrado. Enquanto isso a força de Haesten põe-se em marcha sobre o vale do Tâmisa, possivelmente com a idéia de ajudar seus aliados no oeste. Mas uma força combinada sob o comando dos três grandes ealdormen (cavaleiros) de Mércia, de Wiltshire e de Somerset, os fizeram retroceder até o noroeste, finalmente sendo alcançados e bloqueados em Buttington (que alguns identificam como Buttington Tump próxima ao rio Wye, outros como Buttington perto de Welshpool). Uma tentativa de romper as linhas inglesas foi derrotada com grandes perdas no campo danês; os que escaparam refugiaram-se em Shoebury. Ali, logo de reforçar-se, fizeram um ataque repentino através da Inglaterra e ocuparam as ruínas romanas de Chester. O exército inglês não tentou um bloqueio de inverno, mas destruiu todas as fontes de provisões. No início de 894 ou 895 a falta de alimento obrigou aos dinamarqueses a retirar-se uma vez mais de Essex. Ao final desse ano e começo de 895 ou 896 os dinamarqueses tomaram seus barcos e navegaram sobre os rios Tâmisa e Lee. Um ataque direto contra as linhas dinamarquesas falhou, mas um pouco mais tarde nesse ano Alfredo obteve os meios para obstruir o rio com o fim de prevenir a saída dos barcos dinamarqueses. Os dinamarqueses viram que estavam sem saída e decidiram atacar a parte norte en Bridgenorth, sem êxito. No ano seguinte (896 ou 897), renderam-se. Alguns se retiraram a Nortúmbria, outros para Ânglia Oriental; os que não tinham nenhuma conexão com a Inglaterra se retiraram do continente. A longa campanha tinha terminado.

Uma vez terminada a luta com os dinamarqueses, Alfredo se concentrou em reforçar a marinha real, sendo construídas diversas embarcações de acordo com o gosto do rei.

Também decidiu reconstruir a organização civil, gravemente danificada durante a invasão dinamarqueses, favorecendo aos desamparados e ganhando por isso o título de "Protetor do Pobre" (Asser).

Asser também fala de maneira grandiosa sobre as relações de Alfredo com potências estrangeiras, ainda que não haja muita informação disponível a este respeito. Ele certamente manteve correspondência com Elias III, o patriarca de Jerusalém, e enviou provavelmente uma missão à Índia. As embaixadas de Roma que asseguravam a salvação das almas inglesas ao papa eram bastante freqüentes; enquanto que o interesse de Alfredo pelos países estrangeiros demonstra-se pelas inserções que ele fez em sua tradução da obra de Paulo Orósio.

Por volta do ano de 890, Wulfstan de Haithabu emprendeu uma viagem de Haithabu em Jutlândia ao redor do Mar Báltico à cidade prussiana de Truso. Wulfstan deu detalhes de sua viagem a Alfredo.

Morreu em Winchester, em 26 de outubro de 899, aos 50 anos de idade, em uma guerra (como sempre lutava na linha de frente), com uma flechada no olho. Foi sepultado na abadia de Newminster, mas logo foi trasladado à abadia de Hyde, em Winchester, onde reside atualmente sua estátua.



Eduardo, o Velho (em inglês antigo: Ēadweard se Ieldra) (n.874-877 – 17 de julho de 924) foi o segundo dos filhos homens (6 no total) de Alfredo, o Grande, rei de Wessex e de sua esposa Ethelswitha. Converteu-se no rei de Wessex após a morte de seu pai em 899.

O retrato da ilustração é imaginário e foi realizado junto com o de outros monarcas anglo-saxões por um artista desconhecido no século XVIII. O epônimo de Eduardo, "o Velho" foi usado pela primera vez no século X no escrito Life of St Æthelwold (Vida de Æthelwold) de Wulfstan, para distinguí-lo do rei posterior, Eduardo, o Mártir.

A sucessão de Eduardo ao trono de seu pai não estava assegurada, já que quando Alfredo morreu, seu primo Aethelwold, o filho do rei Aethelred I, reclamou seu direito ao trono. Tomou Wimborne, em Dorset, onde havia sido enterrado seu pai, e a igreja cristã em Hampshire, hoje Dorset. Eduardo marchou a Badbury e ofereceu combate, mas Aethelwold se recusou a deixar Wimborne. Quando viu que Eduardo estava pronto para atacar Wimborne, Aethelwold fugiu pela noite e uniu-se aos daneses em Nortúmbria, onde foi proclamado rei, ao passo que Eduardo foi coroado em Kingston upon Thames em 8 de junho de 900. No ano seguinte, tomou o título de "Rei dos Anglos e Saxões", distinguindo-se de seus predecessores que haviam sido reis de Wessex.

Em 901, Aethelwold chegou a Essex com uma frota e expulsou os daneses que então habitavam aquela região. No seguinte ano, atacou Cricklade e Braydon. Eduardo chegou com um exército e ambos os lados encontraram-se na batalha de Holme. Aethelwold e o rei danês Eohric de Ânglia Oriental foram mortos na batalha.

As relações com o norte foram problemáticas para Eduardo por vários anos mais. A Crônica Anglo-Saxã menciona que ele fez as pazes com os daneses da Ânglia Oriental e de Nortúmbria "por necessidade". Também existe uma menção da reconquista de Chester em 907, o que pode indicar que a cidade foi tomada em uma batalha.

Em 909, Eduardo enviou um exército para arrasar a Nortúmbria. No ano seguinte, os daneses da Nortúmbria tentaram atacar a Mércia, mas encontraram um exército combinado de mercianos e saxões ocidentais na batalha de Tettenhall, onde foram destruídos. Desde então, não voltaram a incursionar ao sul do estuário Humber.

Então Eduardo começou a construção de várias fortalezas em Hertford, Witham e Bridgnorth. Diz-se que também havia construído uma em Scergeat, mas esta localização ainda não foi identificada. Esta série de fortalezas manteve os daneses a distância. Também foram construídas outras fortalezas em Tamworth, Stafford, Eddisbury e Warwick.

Pode-se afirmar que Eduardo superou os logros militares de seu pai, regressando o Danelaw ao domínio saxão e reinando sobre Mércia a partir de 918 depois da morte de sua irmã Ethelfleda de Wessex (Æðelflǣd). No ano de 918, todos os daneses do sul haviam se submetido a Eduardo. Sua sobrinha Elfwynn, filha de Ethelfleda, foi nomeada sucessora de sua mãe, mas Eduardo a depôs, terminando assim com a independência de Mércia. Já havía anexado as cidades de Londres e Oxford e as terras circundantes a Oxfordshire e Middlesex.

Uma série de invasões escandinavas pelo norte, forçaram a Eduardo a entrar em várias batalhas entre o final de 918 e final de 920. Nesee momento, os escandinavos, os escoceses e os galos o chamavam "pai e senhor". Este reconhecimento de senhorio de Eduardo na Escócia levou a que seus sucessores reclamassem soberania sobre esse reino.

Eduardo reorganizou a igreja em Wessex, criando novos bispados em Ramsbury e Sonning, Wells e Crediton. Apesar disto, há pouca evidência de que Eduardo fosse particularmente religioso. De imediato, o Papa lhe enviou uma reprimenda para que pusesse maior atenção a suas responsabilidades religiosas.

Morreu liderando um exército contra a rebelião cambro-merciana, em 17 de julho de 924 em Farndon, Cheshire. Seus restos foram sepultados na igreja nova de Winchester, Hampshire, que ele mesmo havia estabelecido em 901. Depois da conquista normanda, a igreja foi substituída pela abadia de Hyde, ao norte da cidade, e o corpo do rei Eduardo foi transferido para lá.

Seu último lugar de descanso está marcado por um bloco de pedra com uma cruz inscrita, fora da abadia, em um parque público.



Ethelweard ou Ælfweard (n. 904, m. 2 de agosto de 924) era o segundo filho de Eduardo o Velho. De acordo com a Crônica Anglo-Saxônica, ele sucedeu seu pai como Rei de Wessex em 17 de julho de 924 enquanto seu meio-irmão mais velho Athelstan herdava a Mércia. Ehtelweard, que provavelmente nunca foi coroado, morreu em 2 de agosto de 924 em Oxford talvez assassinado por ordem do seu meio-irmão Athelstane que então se tornou rei de Wessex.

Quando o Rei Eduardo o velho morreu em 924, ele deixou cinco filhos de três casamentos. Edmund e Eadred eram crianças e assim excluídos de serem os sucessores. O povo da Mércia escolheu Athelstan, que provavelmente foi criado nesta corte, como o sucessor de seu pai porém os saxões de Wessex escolheram Ethelweard, filho de Eduardo com sua segunda mulher, que talvez também fosse a verdadeira escolha de Eduardo. Ethelweard morreu seis semanas após seu pai. Aparentemente Athelstan não foi reconhecido como rei até um ano após a morte de seu pai, sugerindo que houve uma considerável resistência a ele e um apoio ao outro filho de Eduardo, Edwin que era filho mais novo de Eduardo com sua segunda mulher.



Athelstane ou Athelstan ou Æþelstān (c. 895 - 27 de Outubro, 939) também chamado de "O Glorioso", foi rei da Inglaterra desde 924 a 939. Seu reinado é frequentemente deixado de lado pelos historiadores modernos, enfocando-se mais no de seu avô, Alfredo o Grande, ou no de seu sobrinho, Edgar o Pacífico. Entretanto, seu reinado foi de importância fundamental para o desenvolvimento político do século X.

Athelstane era o primogênito de Eduardo o Velho, rei de Wessex, e de Edwina que era de origem humilde. Por este motivo eles se separaram e os filhos do casal foram declarados ilegítimos. Eduardo casou-se novamente, desta vez com Elfleda, que foi declarada como rainha e sua primeira esposa.

Seu pai sucedeu ao trono de Alfredo o Grande sem nenhuma dificuldade. Sua tia, irmã de Eduardo, Ethelfleda, regeu a Mércia logo após a morte de seu marido, Ethelred. Com a morte de Ethelfleda, Eduardo rapidamente tomou o controle da Mércia e, com a morte de seu pai, Athelstane regeu os dois reinos.

Athelstane foi criado no reino da Mércia por ordem de seu pai, como uma forma de conseguir a lealdade deste rebelde país a dinastia Cerdic de Wessex. Com a morte do pai em 17 de julho de 924), Athelstane foi proclamado de imediato rei da Mércia.

Com a morte de seu meio-irmão, o rei Ethelweard de Wessex, ao que parece assassinado por ordem sua em 2 de agosto de 924), o Witenagemot o elege como novo soberano, sendo coroado em Kingston upon Thames em 4 de setembro de 924.

Durante seu reinado demostrou ser um consumado diplomático, preferindo as alianças à guerra. Em 30 de janeiro de 926 casou sua irmã, Edith, com Sihtric II Caoch, rei vikingo de York e de Nortúmbria. Entretanto, Sihtric morreu no ano seguinte (927) e Athelstane aproveitou a oportunidade de anexar a Nortúmbria. Isto o converteu no rei saxão com as maiores extensões territoriais até então; por esta razão, os demais reis britânicos se submeteram a seu mando em Bamburgh. Na Crônica Anglo-Saxônica se descreve como cada um dos reis se inclinou ante seu supremo líder: "primeiro Hywel, rei da Cornualha, e logo Constantino II, rei da Escócia, e Owain, rei de Gwent (ou Wales Medieval), e logo Ealdred de Bamburgh (uma grande vila de Nortúmbria)". O historiador Guilherme de Malmesbury adicionou o rei Owain do Reino Strahtclyde (situado em partes da atual Escócia) entre os reis submetidos.

São registrados outros eventos similares nas marchas ocidentais do domínio de Athelstan. Segundo William of Malmesbury, Athelstan submeteu os reis do norte de Bretanha (o que implica Gales) em Hereford, onde exigiu um forte tributo. A realidade de sua influência sobre Gales é sublinhada no poema galês Armes Prydein Fawr e pela aparição dos reis galeses como subreguli nas cartas de 'Αthelstan A'. De forma similar, dirigiu Gales do Oeste fora de Exeter e estabeleceu a fronteira entre a Inglaterra e a Cornualha a margem do rio Tamar.

Athelstan é considerado como o primeiro rei inglês de fato. Ele alcançou êxitos militares consideráveis sobre seus rivais, incluindo aos vikings, e estendeu seu domínio a partes de Gales e da Cornualha. Sua maior vitória, sobre uma aliança inimiga que incluiu Constantino II da Escócia, foi a batalha de Brunanburgh, no outono de 937.

Ainda que tenha estabelecido muitas alianças através dos matrimônios de suas meias-irmãs com casas reais da Europa, Athelstan nunca se casou e nem teve descendência. Entretanto, criou como a seu próprio filho Haakon, mais tarde rei da Noruega.

À medida que seu reino crescia, Athelstan se impôs novos desafios com respeito a sua administração. Até o final de seu reinado, se sabe de outro Athelstan, chamado de "meio-rei", que foi Ealdorman para a maior parte da Mércia Oriental e Ânglia Oriental. Ian Walker defende que, à medida que se incrementava o poder de Athelstan, a extensão da regência do seguinte nível da aristocracia também devia crescer. Tudo aponta para uma maior estratificação da sociedade anglo-saxã, desenvolvimento que é possível examinar desde os tempos iniciais anglo-saxões até a Conquista Normanda e mais adiante.

Um grande número de códigos legislativos foram criados durante seu reinado. Examinar cada um deles em detalhe tomaria muito tempo, mas se podem resumir dois pontos de vista sobre eles: o historiador Patrick Wormald afirmava que a lei escrita tinha pouco uso prático na Inglaterra anglo-saxã; afirmava ainda que havia pouca homogeneidade entre as leis e que a natureza esporádica delas indicava um sistema pouco coerente baseado na lei escrita. Simon Keynes, no entanto, argumentou que existe um padrão nas leis do reino de Athelstan e que estas são evidência "não de qualquer atitude casual até a publicação ou registro da lei, senão tudo o contrário".

Athelstan morreu no palácio de Gloucester, em 27 de outubro de 939, aos 44 anos, sendo sepultado na abadia de Malmesbury, em Wiltshire. Não há nada em sua tumba já que as relíquias do rei provavelmente se perderam na Dissolução dos Monastérios de 1539.



Edmundo I (921 - 26 de Maio, 946) foi Rei de Inglaterra entre 939 e 946, sucedendo ao seu irmão Athelstane. Era um dos filhos de Eduardo o Velho.

Edmundo lidou com várias revoltas e invasões dos reinos vizinhos ao que era então Inglaterra. Estabeleceu uma aliança com o rei Malcolm I da Escócia onde ficaram determinadas as fronteiras entre os dois países. Edmundo foi um defensor do cristianismo e fundou diversos mosteiros.

Em 946, Edmundo foi assassinado durante um banquete por Leofa, um homem que havia sido exilado da corte. Como os seus filhos, Edwin e Edgar, eram apenas crianças à data da sua morte, foi sucedido pelo irmão Edred.



Edred (923 - 23 de Novembro, 955) foi Rei de Inglaterra entre 946 e 955, sucedendo ao seu irmão Edmundo I. Era um dos filhos de Eduardo o Velho.

Edred sucedeu ao irmão depois do assassinato deste, visto que os sobrinhos eram apenas crianças na altura. Nunca casou e foi sucedido por um deles, Edwin.



Eduíno ou Edwin de Inglaterra (941? - 1 de Outubro, 959) foi Rei de Inglaterra de 955 a 959. Era o filho mais velho do rei Edmundo I de Inglaterra, e sucedeu ao tio Edred.

O seu reinado foi marcado por conflitos internos com os seus súbditos e a Igreja Católica. A insatisfação dos nobres, encabeçados pelo seu irmão Edgar, causou uma breve guerra civil que Edwin perdeu na batalha de Gloucester. Nos acordos subsequentes, o reino foi dividido: Edwin permaneceu senhor dos territórios a sul do Tamisa, incluíndo Wessex e Kent, enquanto que Edgar se tornou rei no Norte. Com a morte de Edwin sem descendência, a Inglaterra voltou a unir-se nas mãos de Edgar.



Edgar de Inglaterra, cognominado o Pacífico (cerca de 942 - 8 de Julho, 975) foi Rei de Inglaterra entre 959 e 975. Era o filho mais novo de Edmundo I de Inglaterra e irmão de Edwin.

Em 958, Edgar liderou uma revolta de nobres contra Edwin que acabou com a secessão dos reinos da Nortúmbria e Mércia sob o seu poder. Como acabou por suceder ao seu irmão, a Inglaterra reuniu-se sob a sua coroa. Edgar consolidou a união de reino de Inglaterra durante um reinado sem grandes conflitos internos ou externos.

Edgar casou por duas vezes e teve vários filhos, incluíndo Eduardo o Mártir e Ethelred II.



Eduardo o Mártir (cerca 962 - 18 de Março de 978) foi Rei de Inglaterra entre 975 e 978, sucedendo ao seu pai Edgar. Seu reinado começou quando curiosamente um cometa passou, isso de acordo com um amigo astrólogo era um sinal de que Deus aprovava sua coroação.

Não se sabe sua data de nascimento, mas sabe-se que quando seu pai morreu era jovem. De seus 3 irmãos Eduardo era o mais velho. Era filho de Edgar, mas não era filho da esposa de seu pai. Diz-se que sua mãe era filha de um militar no norte da Inglaterra, outros ainda dizem que era um freira que vivia nos arredores da Cornualha.

Seu reinado foi curto de 975 a 978 e não houve mudanças consideráveis durante seu governo. Seu pai tinha brigado com a Igreja, já que fechou inúmeros mosteiros beneditinos. O paganismo crescia lentamente no norte da Inglaterra. Como forma de fazer as pazes com a Igreja, o rei implantou igrejas no norte e reconstruiu alguns mosteiros.

A Europa recomeçava a traçar as antigas rotas comerciais, alguns reinos europeus já idealizavam as grandes feiras. A Inglaterra participava do mesmo plano começando a instituir, mesmo que fracamente, o comércio criando os primeiros bancos. Já a população ia começando a sair do campo e marchando para pequenas aldeias que logo se tornariam cidades, mas esta população enfrentava a miséria. No nordeste inglês as enchentes abalavam as colheitas, no leste os ventos fortes destruíam casas e mais casas. Foi um momento onde a nobreza e o clero estavam apavorados. Neste tempo a explicação dada era que a Inglaterra estava sendo punida pelos pecados de seus habitantes, o que levou multidões às paróquias.

A muitas hipóteses sobre seus assassinato, mas está registrado que o rei foi morto no Castelo de Cofrer em 978.

Palco do assassinato do rei. Foi canonizado em 1001.



Etelredo II de Inglaterra (ou Ethelred; em inglês antigo: Æþelred; c. 968 - 23 de Abril, 1016) foi Rei de Inglaterra entre 978 e 1013 e depois de 1014 a 1016. Etelredo era filho do segundo casamento do rei Edgar de Inglaterra com Elfrida e sucedeu no trono depois do assassinato do seu meio-irmão mais velho, Eduardo o Mártir.

O cognome de Etelredo, Unræd, é frequentemente escrito no inglês como "The Unready" ("O Despreparado"), mas na verdade isso é um erro de tradução. O significado real é "mau conselho" ou "sem conselho", uma brincadeira com o nome dele que significa "conselho nobre", demonstrando a reputação dele como um dos piores reis da Inglaterra.

Durante o seu reinado, Etelredo enfrentou uma invasão viking liderada por Olaf Tryggvason, um senhor da guerra norueguês. Depois de algumas derrotas, Etelredo conseguiu expulsar os vikings por meio de um enorme tributo oferecido a seus líderes. A guerra estava no entanto reaberta e, em 13 de Novembro de 1002, Etelredo ordena o massacre das comunidades vikings estabelecidas na costa de Inglaterra.

Esta atitude brutal provocou uma série de campanhas lideradas por Svend I da Dinamarca contra a Inglaterra. Em 1013, Etelredo foi obrigado a fugir para a [Normandia] para salvar a vida, regressando à Inglaterra no ano seguinte para recuperar a coroa. Apesar dos reveses militares, o reinado de Etelredo foi marcado por boas condições económicas e prosperidade, como indica a alta qualidade das moedas cunhadas durante esse período.

Etelredo foi pai de pelo menos dezesseis crianças, incluindo Eduardo o Confessor, dos seus dois casamentos: com Ælfgifu da Nortúmbria e Ema da Normandia. O sobrinho-neto de Ema Guilherme, Duque da Normandia utilizou essa relação familiar como argumento para invadir as Ilhas Britânicas em 1066.



Sueno I Haraldsson ou Svend Barba-Bifurcada (cerca 965 — 3 de Fevereiro, 1014) foi rei da Dinamarca (985-1014), rei da Noruega (1000-1014) e rei de Inglaterra (1013-1014). Na Dinamarca, Sueno sucedeu ao seu pai, Haroldo I da Dinamarca.

Sueno organizou e participou em vários ataques à costa de Inglaterra durante a década de 990, que resultaram na ordem dada por Ethelred II de Inglaterra em 1002 para massacrar as comunidades vikings estabelecidas nas Ilhas Britânicas. Em resposta, Sueno organizou uma série de invasões a partir de 1002. Em 1013, consegue uma importante vitória que obriga Ethelred II a procurar refúgio na Normandia. Com a fuga do monarca, Sueno tornou-se rei de Inglaterra, mas morreu poucas semanas depois. Foi sucedido pelo filho Haroldo II, mas foi o seu filho mais novo Canuto o Grande, quem consolidou o domínio dinamarquês na Inglaterra.



Edmundo II (c. 989 - 30 de Novembro, 1016) foi Rei de Inglaterra em 1016, sucedendo ao seu pai, Etelredo II. Ficou conhecido como "Edmundo Ironside", pelos esforços que empreendeu para conter o avanço dos vikings liderados por Canuto.

Edmundo II subiu ao trono em Londres numa altura de crise em que Canuto, o Grande havia sucedido a Sueno I na Dinamarca e grande parte de Inglaterra. Depois de algumas negociações, Canuto concedeu o reino de Wessex a Edmundo e acordaram que o que vivesse mais tempo herdaria o conjunto da Inglaterra. Como Edmundo morreu pouco tempo depois, possivelmente assassinado, Canuto tornou-se rei de toda a Inglaterra.

Edmundo II e sua esposa Ealdgyth foram pais de 2 filhos: Eduardo (mais tarde denominado Eduardo, o Exilado) e Edmundo. Os dois meninos eram ainda pequenos quando o pai morreu, e Canuto, o Grande ordenou que fossem enviados para a Suécia e ali fossem assassinados. Entretanto, eles foram secretamente enviados a Kiev, e afinal para a Hungria.



Canuto, cognominado o Grande (cerca 995 — 12 de Novembro de 1035) foi rei da Dinamarca (1018-1035), rei da Noruega (1028-1035) e rei de Inglaterra (1016-1035). Era o segundo filho de Sueno I da Dinamarca e de Gunhilda da Polônia, sendo também neto do célebre Haroldo Dente Azul.

Canuto acompanhou o pai na sua expedição vitoriosa à Inglaterra, que acabou na fuga do rei Etelredo II para o continente e na conquista do país. Sueno morreu pouco tempo depois e foi sucedido na Dinamarca por Haroldo II, irmão mais velho de Canuto, o qual ficou com as pretensões do pai à coroa inglesa. Canuto regressou à Dinamarca em 1014, mas em 1016 liderou nova invasão e conseguiu vencer Edmundo II de Inglaterra na batalha de Assadun em Outubro. Num tratado de paz assinado pouco tempo depois, as partes acordaram subsequentemente em partilhar o reino de Inglaterra, mas como Edmundo morreu em Novembro (possivelmente assassinado) Canuto foi reconhecido como único monarca inglês. Para consolidar a sua posição, Canuto casou com Ema da Normandia, viúva de Etelredo II. De seguida, Canuto reestruturou a organização política de Inglaterra e o sistema de feudos por trás da coroa inglesa. A criação dos importantes condados de Wessex, Mércia, East Anglia e Nortúmbria data do seu reinado.

Em cerca de 1018, Canuto sucede ao seu irmão Haroldo II como rei da Dinamarca e em 1028 conquista a Noruega com uma frota de cinquenta navios lançada de Inglaterra. Como regentes da Noruega nomeia a sua amante Aelfigu o o seu filho ilegítimo Haroldo, mas a experiência acaba em revolta e na restauração da linha dinástica norueguesa.

O reinado de Canuto foi marcado por um período de paz interna, à custa de um bom tratamento da Igreja e dos Mosteiros e de alguns assassinatos de opositores políticos.

Canuto morreu em 1035 e encontra-se sepultado na Catedral de Winchester. Sua intenção era ser sucedido nos seus reinos por Canuto (Harthcanute, filho de Ema), mas Haroldo tomou posse de Inglaterra e a Noruega regressou à independência.



Haroldo I Harefoot (cerca 1016 - 17 de Março, 1040) foi Rei de Inglaterra de 1035 a 1040, sucedendo ao seu pai Canuto o Grande, também rei da Dinamarca e Noruega. Haroldo era filho ilegítimo de Canuto com Aelgifu. O cognome "Harefoot" (pé de lebre) refere-se às suas capacidades invulgares para a caça.

Canuto II, como filho legítimo do casamento de Canuto com Ema da Normandia, era o sucessor designado, mas Haroldo apoderou-se de Inglaterra. Durante o seu reinado, Alfredo e Eduardo, filhos de Ethelred II de Inglaterra e líderes do ramo saxão da casa real inglesa, regressaram a Inglaterra.

Haroldo nunca casou e teve apenas um filho ilegítimo que se tornou monge. Quando morreu em Oxford em 1040 o seu irmão Canuto II estava a preparar uma invasão para recuperar a herança deixada pelo pai. A morte de Haroldo abriu-lhe o caminho mas não apagou o rancor: chegado a Inglaterra exumou o corpo de Haroldo e atirou-o para um pântano.



Canuto II de Inglaterra (Hardacanuto) (1018 — 8 de Junho 1042) foi rei da Dinamarca como Canuto III (1035 — 1042) e de Inglaterra (1040 — 1042). Era o único filho legítimo de Canuto o Grande e de Ema da Normandia, mas tinha um irmão bastardo, Haroldo.

Canuto II sucedeu ao seu pai como rei da Dinamarca em 1035, mas a intenção de Canuto era que ele lhe sucedesse também nos seus outros reinos. No entanto, a Noruega revoltou-se e proclamou como rei um membro da casa real norueguesa, e Haroldo apropriou-se de Inglaterra. Canuto II preparou-se para responder e organizou uma invasão de Inglaterra. Haroldo morreu antes que pudesse ocorrer alguma batalha e abriu caminho a Canuto para se tornar rei com a aceitação geral dos seus súbditos. Canuto depressa se tornou num rei impopular devido à sua política de aumentar os impostos. Durante o seu reinado ocorreram várias revoltas, nomeadamente em Worchester, reprimidas com violência. Como concessão, Canuto recebeu na corte Eduardo o Confessor o herdeiro de Ethelred II, muito estimado pelos populares.

Em 1042, Canuto entrou em convulsão durante um banquete de casamento e morreu pouco depois, possivelmente envenenado. Como não tinha descendência, com Canuto acabou o domínio dinamarquês em Inglaterra.



Santo Eduardo, o Confessor (cerca 1004 - 5 de Janeiro, 1066) foi o penúltimo Rei saxão de Inglaterra, entre 1042 e 1066. Era filho de Ethelred II e de Ema da Normandia.

Juntamente com o pai, o irmão Alfredo e o resto da família, Eduardo fugiu para a Normandia durante a invasão dinamarquesa de 1013. Permaneceu na corte do Duque da Normandia, Roberto I da Normandia até 1041, data em que foi convidado pelo meio irmão Canuto II a regressar a Inglaterra. No ano seguinte Canuto II morreu, possivelmente envenenado, e Eduardo subiu ao trono restaurando a dinastia saxã que se iniciara com Alfredo, o Grande. Eduardo foi coroado a 3 de Abril de 1043 na Catedral de Winchester.

O exílio na Normandia teve bastante influência no reinado de Eduardo, nomeadamente no favor que concedia aos nobres normandos em desfavor dos saxões e dinamarqueses. A discórdia entre os súbditos aumentou e Eduardo acabou por casar com Edite, filha de Godwin, Conde de Wessex, em 1045 para acalmar a situação. O pai de Edite mostrou-se inicialmente favorável, mas depois se revelou um opositor, interessado nas regalias que poderia o reinado inglês oferecer. O casamento não durou nem gerou filhos, pois de comum acordo mantiveram-se castos, já que Eduardo era extremamente religioso, mas Edite e Eduardo se tornaram profundos amigos.

Quando Eduardo morreu em 1066, o seu primo Guilherme, Duque da Normandia declarou-se seu sucessor baseado numa alegada promessa de Eduardo em lhe deixar a coroa de Inglaterra. Os nobres ingleses elegeram Haroldo II, filho de Godwin de Wessex, mas Guilherme invadiu Inglaterra com um exército de 7000 homens e derrotou-o na Batalha de Hastings.

Eduardo encontra-se sepultado na Abadia de Westminster que mandou construir.



Haroldo II Godwinson (em inglês: Harold II Godwinson; cerca 1022 - 14 de Outubro, 1066), o último Rei saxão de Inglaterra, reinou de 6 de Janeiro a 14 de Outubro de 1066. Era filho de Godwin, Conde de Wessex, um dos homens mais poderosos da Inglaterra controlada por Eduardo o Confessor e irmão, entre outros, de Tostig Godwinson e Edite de Wessex, mulher de Eduardo.

Em 1045, Haroldo foi nomeado Conde da Ânglia Oriental e nesta posição importante na hierarquia inglesa, apoiou os esquemas do pai contra os nobres normandos que então detinham a maior influência sobre o rei. Por volta de 1051 foram ambos exilados por cerca de um ano, mas depressa recuperaram as suas terras. Em 1053, Haroldo sucede a Godwin como Conde de Wessex e torna-se na Segunda figura da política inglesa.

Haroldo alcançou a fama militar ao derrotar o rei de Gwynedd Gruffydd ap Llywelyn, que saqueava o País de Gales, em 1063. Depois casou com a viúva de Gruffyd Edite de Mércia, com quem teve dois filhos, apesar de estar casado segundo o ritual dinamarquês com Ealdgyth. Em 1065, Haroldo apoiou a rebelião em Nortúmbria contra o seu irmão Tostig. A atitude valeu-lhe a confiança de Eduardo o Confessor mas destruíu a relação com o resto da sua família. Tostig foge então para a Noruega, onde se junta ao rei Haroldo III, numa aliança que se haveria de provar fatal para ambos.

Eduardo o Confessor morre no princípio de 1066 sem nenhum descendente legítimo ou ilegítimo. Haroldo II é eleito seu sucessor e coroado no dia seguinte, 6 de Janeiro, mas esta decisão não era unanimemente apoiada. Na Normandia, o Duque Guilherme não desistiu da sua pretensão e iniciou preparativos de invasão. Não seria uma ideia original, visto que na Noruega Haroldo III e Tostig Godwinson se preparavam para fazer exactamente o mesmo.

Haroldo II toma então a decisão de lidar com os noruegueses primeiro e dirige-se para o Norte. A 25 de Setembro dá-se a batalha de Stamford Bridge onde Haroldo derrota o seu irmão e o rei da Noruega, que morrem durante os confrontos. Três dias depois chegam as notícias da Invasão Normanda encabeçada por Guilherme. Com cerca de 7000 soldados inimigos à solta no Sul do país, Haroldo não perde tempo e ordena a deslocação imediata do seu exército. A marcha forçada que se seguiu foi extremamente eficiente pois cobriu uma distância de cerca de 400 km em menos de duas semanas. Causou, no entanto, uma extrema fadiga nos homens de Haroldo, que seria importante no decurso dos acontecimentos.

A 14 de Outubro Haroldo enfrentou o exército de Guilherme da Normandia na batalha de Hastings. A tapeçaria de Bayeux retrata a sua morte como resultante de uma seta cravada num olho. O resultado foi uma vitória definitiva dos normandos e a morte de Haroldo em combate. Com a sua morte terminou a linha anglo-saxónica de Alfredo o Grande e iniciou-se a dinastia Normanda.

Depois da morte de Haroldo, a coroa de Inglaterra passou para Edgar Atheling que no entanto abdicou semanas depois para Guilherme da Normandia



Edgar de Wessex (cerca 1052 - cerca 1126) foi o último Rei de Inglaterra anglo-saxão, e apenas nominalmente por poucas semanas após a morte de Haroldo II na batalha de Hastings, abdicando depois para Guilherme da Normandia. Nunca foi coroado, e passou à História como "Edgar, o Ætheling", título que designava o príncipe-herdeiro do trono anglo-saxão.

Edgar era neto de Edmundo II de Inglaterra e filho de Eduardo, o Exilado, que havia sido exilado para a Rússia com poucos meses de vida por Canuto o Grande. Eduardo acabou por ser educado na Hungria, onde casou com Agatha Arpad. Desta união nasceram Edgar Atheling e Santa Margarida, futura rainha da Escócia. Em 1057 Eduardo o Confessor descobriu os familiares que viviam na Hungria e convidou-os a regressar. Como o seu pai morreu pouco depois, possivelmente assassinado pela facção de Haroldo Godwinson, Edgar tornou-se o herdeiro presumível do Confessor.

Em 1066, Eduardo o Confessor morreu e Haroldo passa à frente de Edgar Atheling na sucessão, dado o perigo iminente de invasão e guerra. Depois da morte de Haroldo, Edgar torna-se finalmente rei com cerca de 14 anos. Mas nesta altura já Guilherme, Duque da Normandia se encontrava bem estabelecido no terreno e Edgar é forçado a abdicar no princípio de Dezembro.

Guilherme encarregou-se de Edgar e enviou-o para viver na Normandia como convidado de honra. Nos anos seguintes Edgar organizou uma revolta contra Guilherme juntamente com o rei da Dinamarca. Em 1069 invadiram Inglaterra e conquistaram York, mas o exército normando depressa recuperou o controlo da situação, obrigando Edgar a procurar refúgio na Escócia. No âmbito de um tratado entre Inglaterra e Escócia assinado em 1074, Edgar é entregue a Guilherme, que lhe perdoa novamente e o envia de volta para a Normandia.

Nos anos seguintes continuou a envolver-se na política inglesa, sem grande sucesso. Em 1099, Edgar juntou-se à Primeira Cruzada embora sem grande distinção. A última referência histórica a Edgar data de 1125.



Guilherme, o Conquistador (francês: Guillaume le Conquérant; inglês: William the Conqueror) (Falaise, Normandia, cerca de 1028 - perto de Ruão, França, 9 de Setembro de 1087), também conhecido como Guilherme I da Inglaterra (Guillaume Ier d’Angleterre; William I of England) e Guilherme II da Normandia (Guillaume II de Normandie; William II of Normandy), foi o primeiro normando rei da Inglaterra, do Natal de 1066 até a sua morte. Ele também foi duque a Normandia de 3 de julho de 1035 até a sua morte. Antes de conquistar a Inglaterra, ele era conhecido como Guilherme, o Bastardo (Guillaume le Bâtard; William the Bastard) devido à ilegitimidade de seu nascimento.

Pressionando sua reivindicação à coroa inglesa, Guilherme invadiu a Inglaterra em 1066, conduzindo um exército de normandos, bretões, flamengos e franceses (de Paris e Île-de-France) à vitória sobre as forças inglesas do rei Haroldo II de Inglaterra na batalha de Hastings. Além disso, ele também suprimiu revoltas inglesas subsequentes. Essa sequência de eventos ficou conhecida como conquista normanda da Inglaterra. Seu reinado, que trouxe a cultura normando-francesa à Inglaterra, influenciou o curso subsequente da Inglaterra na Idade Média. Os detalhes desta influência e a extensão das mudanças têm sido debatidos por acadêmicos por séculos. Além da óbvia mudança de governante, seu reinado também observou um programa de construção e fortificação, mudanças na língua inglesa, mudanças nos altos níveis da sociedade e da igreja, e a adoção de alguns aspectos da reforma da igreja continental.

Acredita-se que Guilherme tenha nascido em 1027 ou 1028 no castelo de Falaise em Falaise, Normandia, França, mais provavelmente no outono de 1028. Guilherme foi o único filho de Roberto I, duque da Normandia, assim como sobrinho-neto da rainha inglesa, Ema da Normandia, esposa do rei Etelredo II de Inglaterra e depois do rei Canuto, o Grande. Apesar de ilegítimo, seu pai o escolheu como herdeiro da Normandia. Sua mãe, Herleva, que depois se casou e teve dois filhos com Herluino de Conteville, era filha de Fulberto de Falaise. Além de seus dois meio-irmãos pelo lado materno, Odo de Baieux e Roberto, conde de Mortain, Guilherme também teve uma irmã, Adelaide da Normandia, filha de Roberto I.

A ilegitimidade afetou sua juventude. Quando criança, sua vida esteve em constante perigo por causa de seu parentesco sanguíneo por aqueles que acreditavam ter mais direito legítimo para governar. Uma tentativa contra a vida de Guilherme ocorreu enquanto ele dormia na fortaleza de Vaudreuil, quando o assassino por engano apunhalou a criança que dormia ao seu lado. Todavia, quando seu pai morreu, ele foi reconhecido como o herdeiro. Depois, seus inimigos o chamavam de "Guilherme, o Bastardo", e ridicularizavam-no como o filho da filha do curtidor, e os residentes da conquistada Alençon penduravam peles de animal nos muros da cidade para insultá-lo.

Pela vontade de seu pai, Guilherme o sucedeu como duque da Normandia aos sete anos em 1035. Conspirações de nobres rivais normandos para usurpar seu lugar custaram a Guilherme três protetores, embora não o conde Alan III da Bretanha, que foi seu último protetor. Todavia, Guilherme foi apoiado pelo rei Henrique I de França. Ele foi feito cavaleiro por Henrique aos 15 anos. Quando Guilherme chegou aos 19 anos, lidou de forma bem sucedida com ameaças de rebelião e invasão. Com a assistência de Henrique, Guilherme finalmente assegurou o controle da Normandia, derrotando barões rebeldes normandos em Caen, na batalha de Val-ès-Dunes em 1047, obtendo a Trégua de Deus, que foi apoiada pela Igreja Católica Romana. Contra os desejos do papa Leão IX, Guilherme se casou com Matilde de Flandres em 1053 na capela de Notre-Dame do castelo de Eu, Normandia. Na época, Guilherme tinha cerca de 24 anos e Matilde 22. Afirma-se que Guilherme foi um marido fiel e apaixonado, e seu casamento produziu quatro filhos e seis filhas. Em arrependimento pelo que foi um casamento consanguíneo (eles eram primos distantes), Guilherme doou a igreja de Santo Estêvão em Caen e Matilde doou a igreja da Santíssima Tridade em Saint-Étienne.

Sentindo-se ameaçado pelo aumento no poder normando resultante do casamento nobre de Guilherme, Henrique I tentou invadir a Normandia duas vezes (em 1054 e 1057) sem sucesso. Já um líder carismático, Guilherme atraiu forte apoio dentro da Normandia, inclusive a lealdade de seus meio-irmãos Odo de Bayeux e Roberto, conde de Mortain, que desempenharam funções importantes em sua vida. Depois, ele se aproveitou da fraqueza dos dois centros de poder concorrentes resultante das mortes de Henrique I e de Godofredo II, conde de Anjou, em 1060. Em 1062, Guilherme invadiu e controlou o condado de Maine, que havia sido um feudo de Anjou.

Com a morte de Eduardo, o Confessor, que não tinha filhos, o trono inglês foi ferozmente disputado por três pretendentes: Guilherme; Haroldo Godwinson, o poderoso conde de Wessex; e o rei viking Haroldo III da Noruega. Guilherme tinha uma tênue reivindicação sanguínea através de sua tia-avó Ema (esposa de Etelredo e mãe de Eduardo). Guilherme também afirmava que Eduardo, que tinha passado a maior parte de sua vida no exílio na Normandia durante a ocupação dinamarquesa da Inglaterra, tinha lhe prometido o trono quando ele visitou Eduardo em Londres em 1052. Depois, Guilherme invocou que Haroldo havia lhe jurado lealdade em 1064; Guilherme havia salvo o naufragado Haroldo do conde de Ponthieu, e juntos eles derrotaram Conan II, duque da Bretanha. Naquela ocasião, Guilherme fez Haroldo cavaleiro; ele tinha também, todavia, enganado Haroldo por tê-lo feito jurar-lhe lealdade sobre os ossos escondidos de um santo.

Em janeiro de 1066, contudo, de acordo com o último desejo de Eduardo e pelo voto do Witenagemot, Haroldo Godwinson foi coroado rei da Inglaterra pelo arcebispo de York, Aldredo.

Enquanto isso, Guilherme apresentou sua reivindicação ao trono inglês ao papa Alexandre II, que lhe enviou um estandarte consagrado em apoio. Então, Guilherme organizou um conselho de guerra em Lillebonne e em janeiro abertamente começou a reunir um exército na Normandia. Oferecendo promessas de terras inglesas e títulos, ele reuniu em Dives-sur-Mer uma imensa frota de invasão, supostamente de 696 navios. ELa transportava uma força de invasão que incluía, junto com as tropas próprias dos territórios de Guilherme (Normandia e Maine), grande número de mercenários, aliados e voluntários da Bretanha, nordeste da França e Flandres, e em menor número soldados de outras partes da França e das colônias normandas no sul da Itália. Na Inglaterra, Haroldo reuniu um grande exército no litoral sul e uma frota de navios para proteger o canal da Mancha.

Casualmente para Guilherme, sua travessia do canal foi atrasada por oito meses de ventos desfavoráveis. Guilherme conseguiu manter seu exército unido durante a espera, mas o de Haroldo foi reduzido pela diminuição dos suprimentos e queda da força moral. Com a chegada da estação de colheita, ele dispensou seu exército em 8 de setembro. Haroldo também juntou seus navios em Londres, deixando o canal da Mancha desprotegido. Então chegaram notícias que o outro candidato ao trono, Haroldo III da Noruega, aliado com Tostig Godwinson, irmão de Haroldo, tinham desembarcado a dezesseis quilômetros de York. Haroldo novamente juntou seu exército e depois de uma marcha forçada de quatro dias derrotou Haroldo da Noruega e Tostig em 25 de setembro.

Em 12 de setembro, a direção do vento mudou e a frota de Guilherme zarpou. Uma tempestade desabou e a frota foi forçada a se abrigar em Saint-Valery-sur-Somme e a novamente esperar o vento mudar de direção. Em 27 de setembro, a frota normanda finalmente estendeu velas, desembarcando na Inglaterra na baía de Penvesey, Sussex, em 28 de setembro. Guilherme então deslocou-se para Hastings, poucos quilômetros a leste, onde ele ergueu um castelo pré-fabricado de madeira para base de operações. A partir dali, ele penetrou e saqueou o interior e esperou pelo retorno de Haroldo do norte.

Guilherme escolheu Hastings supostamente porque era a ponta de uma longa península flanqueada por pântanos intransitáveis. A batalha aconteceu no istmo. Guilherme imediatamente construiu um forte em Hastings para proteger sua retaguarda contra a potencial chegada da frota de Haroldo vinda de Londres. Tendo seu exército em terra, Guilherme estava menos preocupado com deserções e poderia esperar as tesmpestades de inverno, tomar a região próxima para os cavalos e começar a campanha na primavera. Haroldo havia patulhado o sul da Inglaterra por algum tempo e apreciara a necessidade de ocupar este istmo imediatamente.

Haroldo, depois de derrotar seu irmão Tostig e Haroldo II da Noruega no norte, marchou com seu exército 388 km em cinco dias para encontrar o invasor Guilherme no sul. Em 13 de outubro, Guilherme recebeu informações de Londres sobre a marcha de Haroldo. Ao amanhecer do dia seguinte, Guilherme deixou o castelo junto com seu exército e avançou contra o inimigo. Haroldo então tomou uma posição defensiva no topo do monte Senlac (atualmente Batlle, East Sussex), a cerca de 11 km de Hastings.

A batalha de Hastings durou todo o dia. Embora os números de cada lado fossem equivalentes, Guilherme possuía infantaria e cavalaria, incluindo muitos arqueiros, enquanto Haroldo tinha apenas soldados a pé e poucos arqueiros. Ao longo da borda da colina, em formação como uma parede de escudos, os soldados ingleses no início resistiram tão efetivamente que o exército de Guilherme recuou impressionado e com grande número e vítimas. Então Guilherme reanimou suas tropas supostamente erguendo seu capacete, como mostrado na Tapeçaria de Bayeux, para sufocar os rumores de sua morte. Enquanto isso, muitos ingleses perseguiram os fugitivos normandos a pé, permitindo à cavalaria normanda atacá-los repetidamente pela retaguarda enquanto sua infantaria fingia retirada. As flechas normandas também entraram em ação, enfraquecendo progressivamente a parede inglesa de escudos. Ao anoitecer, o exército inglês fez sua última defesa de posição. Um último ataque da cavalaria normanda decidiu a batalha de maneira irrevogável porque este resultou na morte de Haroldo que, segundo as lendas, foi morto por uma flecha no olho, foi decapitado e desmembrado. Dois de seus irmãos, Gyrth e Leofwine Godwinson, também foram mortos. Ao cair da noite, a vitória normanda estava completa e o restante dos soldados ingleses fugiu amedrontado.

As batalhas daquela época raramente duravam mais que duas horas antes que o lado mais fraco capitulasse; as nove horas de duração da batalha de Hastings indicaram a determinação dos exércitos de Guilherme e Haroldo. As batalhas também terminavam ao pôr do sol independentemente de quem estivesse vencendo. Haroldo foi morto um pouco antes do pôr do sol e, como ele receberia reforços descansados antes de a batalha recomeçar na manhã do dia seguinte, ele estava certo da vitória se sobrevivesse ao ataque final da cavalaria de Guilherme.

Por duas semanas, Guilherme esperou por uma rendição formal do trono inglês, mas em vez disso, o Witenagemot proclamou o jovem Edgar Atheling rei, embora sem coroação. Dessa forma, o próximo alvo de Guilherme foi Londres, aproximando-se através dos importantes territórios de Kent, via Dover e Cantuária, inspirando medo nos ingleses. Todavia, em Londres, o avanço de Guilherme foi repelido na Ponte de Londres, e ele decidiu marchar na direção oeste e atacar Londres a partir do noroeste. Após receber reforços do continente, Guilherme cruzou o Tâmisa em Wallingford, e lá ele forçou a rendição do arcebispo Stigand (um dos principais apoiadores de Edgar), no começo de dezembro. Guilherme chegou a Berkhamsted em poucos dias, onde Edgar abriu mão da coroa inglesa pessoalmente e e o exausto nobre saxão da Inglaterra rendeu-se definitivamente. Ainda que Guilherme tenha então sido aclamado como rei inglês, ele solicitou uma coroação em Londres. Como Guilherme I, ele foi formalmente coroado no dia de Natal de 1066 na abadia de Westminster, a primeira coroação documentada ocorrida lá, pelo arcebispo Aldred. De acordo com algumas fontes, a cerimônia não foi pacífica. Alarmados por alguns barulhos vindos abadia, os guardas normandos que estavam do lado de fora incendiaram as casa vizinhas. Um monge normando escreveu depois que "à medida que o fogo se espalhava rapidamente, as pessoas dentro da igreja entraram em tumulto e em multidão fugiam para o lado de fora, alguns para combater as chamas, outros para aproveitar o momento para saquear".

Ainda que o sul da Inglaterra tenha se submetido rapidamente ao governo normando, a resistência no norte continuou por mais seis anos, até 1072. Durante os dois primeiros anos, o rei Guilherme I enfrentou muitas revoltas por toda a Inglaterra (Dover, oeste da Mércia, Exeter). Também, em 1068, os filhos ilegítimos de Haroldo tentaram uma invasão na península sudoeste, mas Guilherme os derrotou.

Para Guilherme I, a pior crise veio da Nortúmbria, que ainda não havia se submetido ao seu reino. Em 1068, com Edgar Atheling, Mércia e Nortúmbria se revoltaram. Guilherme poderia suprimi-las, mas Edgar fugiu para a Escócia onde Malcolm III da Escócia o protegeu. Além disso, Malcolm se casou com a irmã de Edgar, Margarida, com bastante exibicionismo, pressionando o equilíbrio de forças contra Guilherme. Sob tais ciscunstâncias, a Nortúmbria se rebelou, sitiando York. Então, Edgar utilizou-se também dos dinamarqueses, que desembarcaram com uma grande frota na Nortúmbria, reclamando a coroa inglesa para seu rei, Svend II da Dinamarca. A Escócia também se juntou à rebelião. Os rebeldes facilmente capturaram York e seu castelo. Todavia, Guilherme pode contê-los em Lincoln. Após lidar com uma nova onda de revoltas no oeste da Mércia, Exeter, Dorset e Somerset, Guilherme derrotou seus inimigos do norte decisivamente no rio Aire, retomando York, enquanto o exército dinamarquês jurou partir.

Guilherme então devastou a Nortúmbria entre o estuário Humber e o rio Tees, o que fou descrito como a Destruição do Norte. Esta devastação incluiu incendiar a vegetação, casas e até ferramentas de trabalho no campo. Após seu cruel tratamento, a terra não se recuperou por mais de 100 anos. A região acabou absolutamente desprovida, perdendo sua tradicional autonomia em relação à Inglaterra. Isto deve, contudo, ter evitado futuras rebeliões, colocando os ingleses sob obediência. Então, o rei dinamarquês desembarcou pessoalmente, preparando seu exército para recomeçar a guerra, mas Guilherme suprimiu esta ameaça com o pagamento de ouro. Em 1071, Guilherme derrotou a última rebelião do norte através de uma jogada improvisada, subjugando a Ilha de Ely, onde os dinamarqueses tinham se reunido. Em 1072, ele invadiu a Escócia, derrotando Malcolm, que recentemente havia invadido o norte da Inglaterra. Guilherme e Malcolm concordaram com a paz assinando o Tratado de Abernethy e Malcolm entregou seu filho Duncan como refém pela paz. Em 1074, Edgar Atheling se submeteu definitivamente a Guilherme.

Em 1075, durante a ausência de Guilherme, a Revolta dos Condes foi confrontada de forma bem sucedida por Odo. Em 1080, Guilherme enviou seus meio-irmãos Odo e Roberto para atacar Nortúmbria e Escócia, respectivamente. Finalmente, o papa protestou que os normandos estavam maltratando o povo inglês. Antes de dominar as rebeliões, Guilherme tinha se conciliado com a igreja inglesa; no entanto, ele a perseguiu ferozmente depois.

Como seria hábito de seus descendentes, Guilherme passou muito do seu tempo (11 anos, desde 1072) na Normandia, governando as ilhas através de suas ordens por escrito. Nominalmente ainda um estado vassalo, devendo sua inteira lealdade ao rei francês, a Normandia ergueu-se subitamente como uma região poderosa, alarmando os outros duques franceses que reagiram persistentemente atacando o ducado. Guilherme focou-se na conquista da Bretanha, e o rei francês Filipe I o repreendeu. Um tratado foi finalizado após sua invasão abortada da Bretanha em 1076, e Guilherme prometeu sua filha Constância ao filho do duque Hoel, o futuro Alan IV da Bretanha. O casamento ocorreu apenas em 1086, após a ascensão de Alan ao trono. Mas Constância morreu sem ter tido filhos poucos anos depois.

O filho mais velho de Guilherme, Roberto, irado por uma brincadeira de seus irmãos Guilherme e Henrique, que o molharam com água suja, foi responsável pelo que se tornaria uma rebelião em larga escala contra o governo de seu pai. Apenas com a ajuda militar adicional do rei Filipe que Guilherme foi capaz de confrontar Roberto, que estava então baseado em Flandres. Durante a batalha de 1079, Guilherme foi derrubado do cavalo e ferido por Roberto, que baixou sua espada apenas depois de reconhecê-lo. O envergonhado Guilherme retornou a Ruão, abandonando a expedição. Em 1080, Matilde reconciliou os dois, e Guilherme restaurou Roberto como herdeiro.

Odo também causou problemas a Guilherme, e foi aprisionado em 1082, perdendo suas propriedades inglesas e suas funções reais, mas retendo suas obrigações religiosas. Em 1083, Matilde morreu e Guilherme se tornou mais tirânico com seus domínios.

Guilherme iniciou muitas mudanças importantes. Ele aumentou as funções dos tradicionais condados ingleses (regiões administrativas autônomas), que ele colocou sob controle central; ele diminuiu o poder dos condes restringindo-os a um condado para cada um. Todas as funções administrativas de seu governo foram fixadas em cidades inglesas específicas, com exceção da sua corte; as instituições inglesas progressivamente se fortaleceriam, e elas se figurariam entre as mais sofisticadas da Europa. Em 1085, para se certificar da extensão de seus novos domínios e melhorar os impostos, Guilherme encarregou todos os seus conselheiros da compilação do Domesday Book, que foi publicado em 1086. O livro foi uma análise da capacidade produtiva da Inglaterra similar ao censo moderno.

Guilherme também ordenou a construção de muitos castelos, torres e castelos de colina, entre eles a fundação da Torre de Londres (a Torre Branca) por toda a Inglaterra. Isso efetivamente garantiu que as muitas rebeliões dos ingleses não ocorressem.

Sua conquista também fez com que o francês (especialmente, mas não apenas, o francês normando) substituísse o inglês como a língua das classes dominantes por aproximadamente 300 anos Enquanto que em 1066 menos de 30% dos proprietários de terras tinham nomes próprios não ingleses, em 1207 esta taxa subiu para mais de 80%. Com nomes franceses como Guilherme, Roberto e Ricardo sendo os mais comuns. Além disso, a cultura anglo-saxã original da Inglaterra se mesclou com a normanda; dessa forma surgiu a cultura anglo-normanda.

Afirma-se que Guilherme eliminou a aristocracia nativa rapidamente em quatro anos. Sistematicamente, ele despojou os aristocratas ingleses que se opunham aos normandos ou que morreram sem motivo. Assim, a maior parte das propriedades e títulos de nobreza ingleses foram entregues a nobres normandos. Muitos aristocratas ingleses fugiram para Flandres e Escócia; outros devem ter sido vendidos com escravos no continente. Alguns escaparam para se juntar à Guarda Varegue do Império Bizantino e combateram os normandos na Sicília. Embora Guilherme permitisse inicialmente aos nobres ingleses manter suas terras se eles oferecessem submissão, em 1070 a nobreza nativa tinha deixado de ser parte integrante da paisagem inglesa, e em 1086, ela mantinha controle apenas sobre 8% de suas propriedades originais. Mais de 4.000 nobres ingleses perderam suas terras e foram substituídos, com apenas dois nobres ingleses de alguma importância sobrevivendo. Todavia, para a nova nobreza normanda, Guilherme entregou pouco a pouco parcelas das terras inglesas, dispersando-a amplamente, garantindo que ninguém tentaria conspirar contra ele sem arriscar suas próprias propriedades dentro da ainda instável Inglaterra pós-invasão. Efetivamente, essa poderosa política de Guilherme o manteve como monarca.

O cronista medieval Guilherme de Malmesbury afirmou que o rei também dominou e despovoou muitos quilômetros de terras (36 paróquias), transformando-os na região da Nova Floresta para ajudar no seu estusiástico divertimento de caçar. Historiadores modernos, todavia, chegaram à conclusão de que o despovoamento da Nova Floresta foi bastante exagerado. A maior parte das terras da Nova Floresta eram terras agrícolas pobres, e estudos arqueológicos e geográficos têm mostrado que a Nova Floresta era provavelmente povoada de forma esparsa quando foi transformada em floresta real.

Em 1087, na França, Guilherme incendiou Mantes-la-Jolie (50 km a oeste de Paris), sitiando a cidade. No entanto, ele caiu de seu cavalo, sofrendo ferimentos abdominais fatais. No seu leito de morte, Guilherme dividiu sua sucessão entre seus filhos, estimulando uma disputa entre eles. Apesar da relutância de Guilherme, seu combativo filho mas velho Roberto recebeu o Ducado da Normandia, como Roberto II. Guilherme Rufo, seu terceiro filho, tornou-se o próximo rei inglês, como Guilherme II. O filho mais jovem de Guilherme, Henrique, recebeu 5.000 libras de prata, destinadas à compra de terras. Ele também se tornou o rei Henrique I da Inglaterra após Guilherme II morrer sem motivo. Ainda no leito de morte, Guilherme perdoou muitos de seus adversários políticos, inclusive seu irmão Odo.

Guilherme morreu aos 59 anos no Convento de Saint-Gervais em Ruão, a principal cidade da Normandia, em 9 de setembro de 1087. Guilherme foi sepultado na Abadia dos Homens (Abbaye-aux-Hommes), a qual ele erigira, em Caen, Normandia. Diz-se que Herluin de Conteville, seu padrasto, lealmente levou seu corpo à sepultura.

O proprietário original das terras onde a igreja foi construída reclamou que ele ainda não havia pago, exigindo 60 xelins, que Henrique teve que pagar imediatamente. Num pós-morte nada régio, achou-se que o corpo obeso de Guilherme não caberia no sarcófago de pedra porque seu corpo tinha inchado devido ao ambiente quente e à demora que se passara desde a sua morte. Um grupo de bispos pressionou o abdome do rei para forçar o corpo, mas a parede abdominal arrebentou e a putrefação banhou o caixão do rei " enchendo a igreja com um odor repugnante".

O túmulo de Guilherme está atualmente identificado por uma placa de mármore com uma inscrição em latim; A placa data do começo do século XIX. O túmulo foi profanado duas vezes, uma durante as guerras religiosas na França, quando seus ossos foram espalhados pela cidade de Caen, e depois na Revolução Francesa. Após estes eventos, apenas o fêmur esquerdo de Guilherme, algumas partículas de pele e pó de osso permeneceram na tumba.



Guilherme II (1056 - 2 de Agosto de 1100), cognominado o Ruivo, foi o segundo Rei de Inglaterra da dinastia normanda, de 1087 a 1100. Era o terceiro filho de Guilherme I e Matilde da Flandres e irmão de Roberto II, Duque da Normandia e Henrique I de Inglaterra.

Guilherme II, o ruivo, nasceu na Normandia, antes da subida do pai ao trono de Inglaterra. Era o preferido de Guilherme I, talvez devido à personalidade agressiva dos irmãos. Quando Guilherme o Conquistador morreu, deixou a Normandia a Roberto, mas a Inglaterra ficou para Guilherme II. Esta decisão desagradou tanto a Roberto, privado de parte substancial da herança, como aos nobres que tinham terras em ambas as margens do Canal. O resultado foi uma longa e crescente animosidade entre Roberto e Guilherme II que resultou em invasões mútuas e revoltas das populações. No ano de 1091, o Duque da Normandia e o Rei de Inglaterra fizeram as pazes, assinaram o tratado de Caen e acordaram mutuamente nomear-se como sucessor. O reinado de Guilherme foi difícil. Impopular junto do povo, teve de lidar com revoltas dos Condes da Nortúmbria e de Eu, com ataques do Rei da Escócia e com conflitos com a Igreja.

Guilherme morreu em Agosto de 1100, atingido por uma seta enquanto caçava em New Forest acompanhado por um grupo de nobres, e encontra-se sepultado na Catedral de Winchester. Se foi um acidente ou não, permanece por explicar, mas ninguém foi acusado ou perseguido por regicídio. Guilherme nunca casou nem teve descendência ilegítima e algumas fontes sugerem a sua homossexualidade. De qualquer forma, sem filhos o seu sucessor seria o irmão Roberto II da Normandia, de acordo com os tratados de 90. No entanto Roberto encontrava-se na altura em Cruzada na Terra Santa e não pode reclamar o trono de Guilherme II. Houve quem o fizesse por ele. Henrique, o irmão mais novo dos dois não perdeu tempo e apropriou-se da coroa.

Os historiadores do Século XII (todos eles eclesiastas), deixaram uma imagem negativa do rei, lembrando sobretudo a sua moral duvidosa, os seus maus costumes e a sua morte dramática. Os historiadores atuais reconhecem que Guilherme conseguiu manter a ordem em Inglaterra, e restaurou a paz na Normandia. Morto com apenas 40 anos de idade, não pôde mostrar a totalidade das suas capacidades.

Nascido por volta de 1060 no ducado da Normandia, ele é o terceiro filho de Guilherme o Conquistador († 1087) e de Matilde de Flandres († 1083). Ele é portanto mais novo que Roberto Courteheuse e Ricardo († antes de 1074), e mais velho que Henrique. O sobrenome de «Ruivo» vem ou da cor dos seus cabelos ou do seu tom avermelhado. Bem que esse sobrenome pouco fosse usado enquanto vivo, serve para os historiadores o distinguirem de outros Guilhermes de sua época. O monge-historiador Orderic Vital, algumas centenas de anos mais tarde, nomeia-o dessa forma ao longo de todo a sua História Eclesiática.

Guilherme o Ruivo é, tal como os seus irmãos, um aventureiro, caçador e soldado. Segundo o historiador britânico Frank Barlow, apesar de menos inteligente que seus irmãos, ele é perseverante. Durante a sua infância, leva uma educação através do monge erudita Lanfranc, na época abade da Abadia aux Hommes em Caen. Como terceiro filho do duque, poderá ter recebido um apanágio, mas confiando-o a Lanfranc, os seus pais talvez o tenham destinado à ordem. A morte de Ricardo entre 1069 e 1074, o segundo filho, transtorna os projetos do casal real: Guilherme volta para o seu pai e é nomeado cavaleiro. Observadores descrevem-no como um rapaz respeitador e bom, leal e fiel ao seu pai. as relações entre os três irmãos não são particularmente boas. Um incidente entre eles (por volta de 1078), leva a uma revolta de Roberto, frustrado por falta de dinheiro e de independência de seu pai. Enquanto que o duque de Normandia está instalado em L'Aigle, Guilherme e Henrique fazem uma visita ao seu irmão Roberto que vive numa outra casa com a sua própria comitiva. Após um jogo de dados, eles urinam de um andar acima sobre a cabeça de roberto e de seus amigos. Segue-se uma briga tão barulhenta que o duque teve de intervir e obriga os seus filhos a fazerem a paz. Na noite seguinte, Roberto, humilhado, dirige-se com os seus companheiros para rouen onde tentam tomar o castelo. Falham e o duque ordena a sua prisão. Roberto e os seus companheiros fogem então da Normandia. Em 1079, Roberto está na fortaleza de Gerberoy. Guilherme o Conquistador sitia o local, e é ferido pelo próprio filho. Mesmo que os dois homens se tenham reconciliado, este ato dramático provavelmente alterou o destino do jovem Guilherme frente a seu irmão.

Em 1080, Guilherme acompanha o seu pai e o seu irmão Roberto para a Inglaterra. Muito provavelmente participa em algumas campanhas na Escócia e no País de Gales. Nos anos seguintes, fica com seu pai em Inglaterra e nada sugere uma longa separação entre eles. Pelo contrário, desde 1083 que Roberto Courteheuse deixara a corte para procurar fortuna no Reino de França.

Em agosto de 1087, o Conquistador morre devido a uma ferida no abdómen, quando atacava Mantes. A sua sucessão é muito discutida e é muito provável que a sua primeira intenção fosse em deserdar completamente Roberto. Mas é dissuadido pelos barões do ducado, que tinham prestado homenagem a Roberto em 1066, antes mesmo da invasão da Inglaterra. O conquistador decide mesmo assim recompensar Guilherme pela sua lealdade: moribundo, envia-o para a Inglaterra para subir ao trono.

Guilherme provavelmente embarca em Touques em direção à costa inglesa. Dirige-se para Winchester onde se assegura do tesouro real. Depois junta-se ao arcebispo de Cantuária, o seu antigo tutor Lanfranc, que praticamente assume o papel de vice-rei. Este respeita os votos do Conquistador e coroa Guilherme a 26 de setembro de 1087, na abadia de Westminster; dezassete dias após a morte do rei. Para o historiador Frank Barlow, é um «golpe de Estado». Quando Guilherme o Ruivo sobe ao trono, não tem nenhuma experiência de governo nem conhece muito bem o país. Mas é ajudado por Lanfranc e assegura-se sem grandes dificuldades da submissão da administração real, dos xerifes e da nobreza ministerial. Num primeiro tempo, os barões anglo-normandos não reagem, talvez porque a maioria está na Normandia ou porque esperam pela reação de Roberto Courteheuse. Este último voltou para a Normandia desde que soubera da morte do pai, e faz-se reconhecer como duque da Normandia e conde do Maine.

Guilherme o Ruivo não hesita em distribuir o tesouro real às igrejas e xerifes dos condados, e escolhe comprar os serviços de conselheiro de Guilherme de Saint-Calais, bispo de Durham. Rapidamente, ganha o apoio da Igreja e dos barões anglo-normandos. Comete então um erro: entregar ao seu tio Odo, libertado da prisão por um moribundo Guilherme I, as suas posses na Inglaterra. Pouco agradecido, Odo organiza uma conspiração para unir a Normandia e a Inglaterra sob o único governo de seu sobrinho Roberto Courteheuse. A obrigação de obedecer a dois suseranos diferentes, e ainda por cima inimigos, colocava problemas de lealdade nos aristocratas anglo-normandos. Odo reuniu à sua volta grandes barões do reino, tais como Rogério II de Montgommery, Geoffroy de Montbray e Roberto de mortain. Os rebeldes fortificaram os castelos de Rochester, Pevensey e Tonbridge. Na primavera de 1088, lançaram uma campanha militar saqueando terras do rei e de seus aliados, e aguardam o desembarque do duque roberto. Mas este demora a embarcar, e Guilherme o Ruivo aproveita para mobilizar todas as forças disponíveis, e responde em triplicado.

Primeiro tenta dividir os seus adversários mostrando-se pronto para recompensar quem abandonar a conspiração. Rogério de Montgommery é o primeiro a aceitar. Depois, Guilherme promete ao povo inglês, no geral, restaurar as melhores leis que já conhecera, de abolir os impostos injustos e de reconsiderar os direitos à caça. Finalmente ele passa à ação militar sitiando e tomando os castelos rebeldes. A partir do fim do mês de julho, a rebelião é esmagada. O rei decide perdoar os rebeldes de forma maciça, à exceção de Odo de Bayeux, que é banido do reino. Após o conflito, ele tem de resolver o caso de Guilherme de Saint-Calais, o seu principal conselheiro que o abandonara durante a rebelião, e que se refugiara em Durham. Segue-se um debate entre o rei e o rebelde para saber se ele deveria ser julgado segundo as leis feudais ou como bispo segundo as leis canônicas. Finalmente, o rei decide retirar as posses do bispo e baní-lo do reino.

Com a ordem restabelecida no seu reino, é-lhe permitido recompensar os seus principais apoiantes na revolta. Henrique de Beaumont recebe o título de conde de Warwick, Guilherme de Warenne recebe o título de conde de Surrey, e Robert FitzHamon recebe a honra de Gloucester.

Após a derrota da rebelião, as relações entre os dois irmãos ficaram ainda mais tensas. Henrique, o irmão mais novo, decidido a herdar de pelo menos um dos dois irmãos, tenta tirar alguma vantagem da situação. A sua preferência vai para Guilherme, mas o fraco e dispendioso Roberto é o mais fácil de explorar. Assim, em 1087-1088 ele compra, com o dinheiro da herança, Avranchin e Cotentin. Por seu lado, Guilherme o Ruivo compra os serviços dos vassalos de Roberto Courteheuse e prepara a invasão da Normandia. No decorrer do verão de 1090, já corrompeu a maioria dos barões da Alta-Normandia, com fiéis centralizados em Eu. A situação no ducado começa a deteriorar-se, e apoiantes do rei iniciam uma revolta em Rouen, a capital. Henrique aproveita para se aproximar de Roberto indo ao seu socorro, e a revolta em Rouen é eliminada sem que Guilherme pudesse entrar em ação.

Em Fevereiro de 1091 Guilherme prepara a última fase do seu plano para reunir os territórios paternos. Desembarca na Normandia e instala-se em Eu. Contudo, não há nenhum confronto sério entre os exércitos. Este status quo termina no tratado de Caen que Guilherme de Saint-Calais, acabado de se reconciliar com o rei, aparentemente negoceia entre os dois irmãos. Com esse tratado, fazem as pazes e designam-se herdeiros um do outro. Guilherme mantém o condado d'Eu e o porto de Cherbourg. Em troca, Guilherme ajuda o seu irmão na recuperação dos territórios do ducado que tivera de conceder para comprar fidelidade. Os dois irmãos atacam então Henrique, senhor de Avranchin e de Cotentin, sitiam-no no Monte Saint-Michel. Derrotado, Henrique acaba por se exilar em França.

No verão de 1091 os dois irmãos atravessam a Mancha para combaterem lado a lado a invasão escocesa e resolverem os problemas do País de Gales. Juntos, reprimem a revolta galesa e depois mobilizam um exército para combater uma invasão de Malcolm III da Escócia, a nordeste do país. Dois dias antes do Natal de 1091 Roberto regressa à Normandia após nova disputa com o irmão. Aparentemente Guilherme não cedera em dar a Roberto territórios na Inglaterra e em ajudá-lo a ir à Normandia combater os seus inimigos. Em maio de 1092 Guilherme lidera um exército no nordoeste de seu reino e retoma Cumbrie, detida por um vassalo do rei da Escócia. Reconstrói a cidade de Carlisle e constrói alguns castelos para proteger a fronteira histórica com a Escócia.

Guilherme o Ruivo mantém Eu e ativa uma aliança com o conde de Flandre. Orderic Vital indica que o rei inglês tem então cerca de vinte castelos no ducado da Normandia. No Natal de 1093 Roberto Courteheuse pede-lhe para respeitar os termos do tratado de Caen sob pena de o considerar como caducado. Espera uma ajuda que não vem para reconquistar o condado do Maine. Após um encontro infrutífero entre os dois irmãos (fevereiro de 1094), Guilherme o Ruivo denuncia ele também o tratado. Roberto assegura-se do apoio militar do seu suserano, o rei Filipe I de França, enquanto que Guilherme apela ao seu irmão Henrique para ajudá-lo. Finalmente, Guilherme consegue desligar o rei de França da causa de Roberto. Nenhum dos dois lados parte para uma batalha decisiva. Guilherme regressa ao seu reino, e deixa Henrique na luta contra o seu irmão.

O governo de Guilherme o Ruivo é essencialmente a continuação da política de seu pai. Consolida a maior parte das estruturas que o seu pai improvisara e que colocara rapidamente de pé após a conquista normanda da Inglaterra. Por uma lado retoma os tradicionais poderes dos reis anglo-saxões, anterior à conquista normanda. E de outro lado, a importação do feudalismo normando assegura-lhe um melhor controlo sobre a nobreza, pois permite-lhe intervir na sucessão das honras. O poder real alarga-se em direções por vezes impopulares tais como por exemplo a constituição de florestas reais (notavelmente o New Forest). A sua presença quase contínua no reino (até 1096) é igualmente uma novidade à qual a sua administração, barões e Igreja não estão habituados.

Nos primeiros anos a sua principal preocupação é a proteção das fronteiras. Em 1091 luta contra os escoceses e os galeses (irá combater novamente os galeses em 1095 e 1097) e anexa Cumbria em 1092. Em 1091, antes de os dois exércitos se confrontarem, obtém a paz dos escoceses, e entende-se com Malcolm III da Escócia para que as relações dos dois reinos sejam idênticas às do tempo do Conquistador. Assim, Malcolm faz uma homenagem condicional a Guilherme o Ruivo e jura-lhe fidelidade. Em troca recebe o condado de Huntingdon, que já possuíra antes de 1087. Com a sua morte em 1093, Guilherme toma partido pelos filhos de Malcolm quando é o seu irmão Donald III que subiu ao trono. E é o seu protegido Edgar I que toma o controlo do reino. Também este irá reconhecer Guilherme como seu suserano.

As campanhas militares no reino e em Normandia custam bastante dinheiro, principalmente à Igreja. Sob o seu reinado, a Torre de Londres foi concluída, e manda construir o grande hall do Palácio de Westminster.

Em março de 1093, Guilherme o Ruivo fica subitamente doente quando se encontrava no País de Gales. É repatriado para Gloucester e ali fica durante toda a Páscoa. Imagina então estar a morrer, e confessa-se a Anselmo, abade de Notre-Dame du Bec. Promete mudar de vida e de começar com uma série de reformas no reino. Libera todos os seus prisioneiros e anula as dívidas. Obriga Anselmo a ser arcebispo de Cantuária, lugar vago desde a morte em 1089 de Lanfranc, e faz doações nos mosteiros. Segundo Frank Barlow, é também possível que Anselmo o tenha feito prometido casar-se. Assim que recupera a saúde, Guilherme planeia casar com Matilda da Escócia, filha de Malcolm III, então com doze anos de idade. Visita-a na abadia onde é educada, mas a abadessa convence-o de que ela teria seguido votos, e ele renuncia ao casamento. No outono do mesmo ano, Malcolm III invade a Inglaterra, mas cai numa armadilha e é morto por Robert de Montbray, conde de Northumbrie.

Em janeiro de 1095 Guilherme o Ruivo volta para a Inglaterra, depois de gastar muito dinheiro na Normandia com muito pouco resultado. Na sua ausência, uma revolta generalizada no País de Gales levou a que os senhores normandos perdessem o controlo de grande parte dos territórios conquistados. Guilherme descobre também uma conspiração para substituí-lo no trono pelo seu primo Étienne d'Aumale, sobrinho de Guilherme o Conquistador. No verão de 1095 o rei lidera um exército em Northumbrie para sitiar o castelo do instigador da conspiração: Robert de Montbray. Após a queda de Newscastle, obriga-o a refugiar-se na fortaleza de Bamburgh. Deixa aos seus tenentes a continuação do cerco e parte para o País de Gales, onde a situação piorava: os galeses tomaram Montgomery, o castelo do conde de Shrewsbury Hugo de Montgommery. Em novembro, tiveram lugar vários combates, mas os galeses não abandonavam a luta. Entretanto, Robert de Montbray, sitiado no priorado de Tynemouth, rende-se. Ao contrário do que acontecera em 1088, desta vez os rebeldes são duramente punidos. Inicia-se um processo por traição em Salisbury, no local de Old Sarum. Robert de Montbray fica preso para o resto da sua vida, o conde Guilherme d'Eu perde um duelo judicial e morre das feridas, depois de ser castrado. Vários outros são mutilados, presos, banidos ou tiveram de pagar pesadas indemnizações.

Em fevereiro de 1096 Roberto Courteheuse segue para uma cruzada. Um legado papal negoceia um acordo entre Guilherme e o duque da Normandia. Guilherme paga 10000 marcos em dinheiro para a guarda e rendas do ducado por um período de três anos. O investimento representa menos de um quarto das rendas anuais do reino. Ainda para mais, Robert poderá não regressar vivo da cruzada. Segundo o acordo, o seu irmão Henrique fica com Cotentin, Avranchin e Bessin (exceto as cidades de Caen e Bayeux) como apanágio.

Para aconselhá-lo em diversos domínios, Guilherme coloca à sua volta companheiros de campanha e amigos como Urse d'Abbetot e Robert FitzHamon, Hamon e Robert Blouet. Após as rebeliões de 1088 e 1095, retira as posses a alguns grandes barões do reino, com Odo de Bayeux, Eustache II de Bolonha e Robert de Montbray. Nomeia novos condes, pessoas de grandes famílias de barões, como Guilherme de Warenne, Henrique de Beaumont e Gautier II Giffard. Recompensa também alguns companheiros como Roger de Nonant.

A sua administração é tão eficaz que em 1096 bastam-lhe alguns meses para reunir 10000 marcos (7000 livras), necessários para a hipoteca do ducado da Normandia. E isso graças a um imposto especial. No entanto, os barões do reino julgam a pressão fiscal como excessiva. Quando de sua subida ao trono, o seu irmão Henrique julgará preferível prometer renunciar a essas práticas.

Segundo Barlow, é apesar de tudo um soberano apreciado pelos barões e pelo clero. A sua generosidade, os seus sucessos militares e a sua vontade em reunir de novo o ducado e o reino fazem com que encontre muito pouca oposição. O historiador C. W. Hollister não tem a mesma visão: sublinha a quebra entre o rei e a alta aristocracia anglo-normanda. Para apoiar a sua tese, lembra as duas conspirações contra Guilherme, em 1088 e 1095, assim como a ausência dos grandes do reino aquando da assinatura das cartas reais.

Perante a Igreja, Guilherme não mostra tanto respeito quanto o seu predecessor, nem manda construir nenhum mosteiro. Mas apesar da sua reputação anti-clero, não desdenha os conselhos de Anselmo de Cantuária, Guilherme de Saint-Calais, Wulfstan de Worcester, Robert Bloet e, nos últimos anos, de Vauquelin de Winchester. Para a administração do seu reino, mantém uma parte dos que ajudaram o seu pai, como o capelão Rainulf Flambard, que o serve com lealdade durante todo o seu reinado.

Este último torna-se um primeiro ministro antes do tempo. Flambard é encarregado das finanças, e o seu objetivo principal é o de fazer entrar no tesouro real a maior quantidade de dinheiro possível. Graças a ele, Guilherme aumenta os rendimentos, aumentando ou criando novas taxas e concedendo diretamente a si mesmo alguns benefícios eclesiásticos. Vende também abadias reais, disfarçando o preço sob a forma de uma ajuda ou de uma doação, aos candidatos de sua escolha. Todavia, tudo indica que essas práticas eram aceites pelo Clero. A nomeação de Anselmo para arcebispo de Cantuária, quando Guilherme se encontrava doente em 1093, fora talvez um dos seus raros erros. O arcebispo está em permanente conflito com ele. Censura principalmente a sua moral e a exploração que faz dos benefícios eclesiásticos. Em 1094 Anselmo vê recusada a organização de um grande concílio da Igreja inglesa, principalmente para condenar as práticas de sodomia e incesto, práticas correntes no reino.

A disputa entre os dois homens conhece o seu auge quando Anselmo reconhece o novo papa Urbano II em vez do antipapa Clemente III, quando Guilherme o Ruivo ainda não fizera a sua escolha. O rei, apelando à tradição inglesa, censura Anselmo por ter violado o seu voto de fidelidade apropriando-se de uma prerrogativa real. Anselmo responde afirmando que não tem intenção de renunciar à sua fidelidade a Urbano II. O rei, furioso, protesta afirmando que Anselmo coloca a sua lealdade ao papa acima da sua lealdade ao seu soberano. Em fevereiro de 1095 tem então lugar um concílio, em Rockingham, mas a situação manteve-se.

Por fim, Guilherme reconhece Urbano II na esperança de que este substitua Anselmo. Mas tal não acontece e, atento ao suporte do soberano inglês, ordena a Anselmo que colabore com o rei. Mas em 1097, quando Guilherme se queixa da insuficiente ajuda militar fornecida pelo arcebispo para a campanha galesa, este último compreende que a situação é insustentável e exila-se.

Quinta-feira dia 2 de agosto de 1100, Guilherme o Ruivo participa de uma caça ao veado em New Forest (no condado de Hampshire, na Inglaterra), com seus companheiros quando, no final da tarde, é morto por uma seta no coração. Já por volta de 1070 o seu irmão Ricardo perdera a vida nesta floresta, e no mês de maio de 1099 o seu sobrinho também ali tivera uma morte semelhante. Alguns anos mais tarde, o monge e historiador Guilherme de Malmesbury acusaria Gautier II Tirel, um nobre francês, de ser o responsável pela sua morte. Este participava da caça; assim que o rei foi encontrado morto, deixou a floresta e regressou precipitadamente para a França. Mas Suger de Saint-Denis, amigo e biógrafo de Luís VI de França, inocenta Tirel afirmando que este jurara em várias ocasiões não ter estado, nesse dia, em companhia do rei, nem de o ter visto. A maioria dos cronistas contemporâneos viram o evento como vingança divina para punir um blasfemo.

Alguns historiadores viram a morte do rei como uma consequência de uma conspiração fomentada pelos Clare e Henrique, o irmão do rei. A antropóloga britânica Margaret Murray evoca mesmo a feitiçaria e um sacrifício ritual para explicar a morte de Guilherme o Ruivo. Em 2005, a historiadora britânica Emma Mason apresentou uma nova tese sobre o acidente. Segundo ela, teria sido um assassinato encomendado. Para a historiadora, o rei inglês estaria a preparar a invasão da França no momento em que foi morto. Os Capetianos, particularmente Luís (futuro Luís VI), informados das intenções do rei inglês, decidem matá-lo. Para isso utilizam um agente duplo que Mason indica como sendo Raúl d'Equesnes, que acompanhava Gauthier Tirel.

Presente nessa caçada, Henrique aproveita imediatamente o drama: apodera-se do tesouro real em Winchester e faz-se coroar rei de Inglaterra na abadia de Westminster a 5 de agosto de 1100, apenas três dias após a morte de seu irmão.

A ausência de herdeiros diretos (Guilherme nunca casou e não tem filhos) e o apoio de Gilbert FitzRichard de Clare e de sua família facilitam a tomada do poder. As circunstâncias são favoráveis a Henrique, mas provavelmente fortuitas. Sugere-se que nesta data, Henrique estava desesperado e que esse «acidente» era a sua última hipótese de obter o trono, com o seu irmão Roberto Courteheuse quase a regressar da primeira cruzada onde estava desde 1096. Na realidade, o momento da morte do rei não é particularmente vantajoso. Se esse evento tivesse tido lugar quatro anos antes, Henrique teria todo o tempo de consolidar o seu poder e administração em Inglaterra, para depois anexar o ducado da Normandia. Mas em vez disso, ele tem de enfrentar a oposição dos barões do reino e a invasão de Courteheuse, de regresso da cruzada.

Guilherme o Ruivo é enterrado à pressa a 3 de agosto no coração da antiga catedral de Winchester, sob a torre. Provavelmente pouca gente assistira, e até o seu irmão Henrique estava demasiado ocupado a preparar a sucessão. A torre sob a qual foi enterrado desmorona em 1107.

O local onde se deu o acidente foi muito discutido, e dois locais foram propostos: o primeiro é um lugar denominado Canterton, onde podemos encontrar a «Rufus Stone» colocada em 1745; o segundo fica perto da aldeia abandonada de Througham.



Henrique I de Inglaterra (cerca 1068 - 1 de Dezembro 1135), cognominado Beauclerc dado seu interesse por literatura, foi Rei de Inglaterra de 1100 a 1135, sucedendo ao irmão Guilherme II Rufus. Henrique era o filho mais novo de Guilherme o Conquistador e Matilde de Flandres, irmão de Guilherme II e de Roberto II, Duque da Normandia.

Como terceiro rapaz, Henrique não foi educado para ser rei, mas sim para seguir uma carreira eclesiástica. Teve portanto uma educação cuidada e invulgar para um príncipe desta época. Foi talvez o primeiro rei normando que aprendeu a falar inglês. Na morte do pai em 1087, os irmãos Guilherme II e Roberto II receberam Inglaterra e a Normandia, respectivamente, enquanto que Henrique foi dotado com 5000 libras de prata. Diz a tradição popular inglesa, que Guilherme I notou no testamento que só não dava mais nada a Henrique, porque tinha a certeza que ele ia acabar por ficar com tudo, graças à sua maior inteligência.

Com a separação da Normandia e Inglaterra, a relação de Guilherme II e Roberto II, que nunca havia sido boa nem quando eram crianças, piorou ainda mais. Seguiram-se várias revoltas e escaramuças, até que por volta de 1090, acordaram em nomear-se herdeiro um do outro. Durante todo este período permaneceu na sombra mas em 1100, quando Guilherme II morre numa caçada, Henrique decidiu tomar uma atitude. O herdeiro era Roberto II, que se encontrava no entanto em Cruzada na Terra Santa, o que incentivou Henrique de se apropriar da coroa, sendo coroado a 5 de Agosto na Abadia de Westminster. Do seu lado tinha a população inglesa e os nobres normandos, que detestavam Roberto pelo seu lendário mau temperamento e espírito desorganizado e gastador. Para assegurar a continuação destes apoios, agora que Roberto II regressava da Palestina, Henrique tomou medidas populares relacionadas com a descentralização do poder e o édito de uma carta de liberdades e garantias do cidadão. Na política externa, Henrique consolidou os acordos com a Escócia ao casar com a princesa Matilde, filha de Malcolm III da Escócia e sobrinha de Edgar Atheling.

Quando Roberto II chega a Inglaterra em 1101 para recuperar a coroa que lhe era devida, encontra o país unido na defesa de Henrique. Roberto acaba por desistir das suas pretensões e retira-se para a Normandia, mas não em paz. Dos seus domínios continentais, Roberto inicia então uma série de manobras políticas para minar o poder de Henrique. Em 1105, Henrique atravessa o Canal da Mancha com o seu exército e invade a Normandia. No ano seguinte, derrota Roberto na batalha de Tinchebray e anexa o Ducado à coroa inglesa, concretizando a intuição testamentária do pai. Roberto foi aprisionado no castelo de Cardiff, onde viveu até ao fim da vida.

Em 1120, Henrique sofre uma tragédia pessoal e política com a morte do seu único filho legítimo, Guilherme Adelin no naufrágio do White Ship. Para evitar uma guerra civil iminente, Henrique tomou então a decisão sem precedentes de nomear a filha Matilde, viúva de Henrique V, Imperador do Sacro Império, como sucessora, forçando os nobres a jurar-lhe fidelidade.



Matilde (em inglês: Matilda ou Maud), conhecida como Imperatriz Matilda (Empress Matilda; Winchester, 7 de Fevereiro de 1102 – Ruão, 10 de Setembro de 1167) foi imperatriz consorte do Sacro Império, Condessa de Anjou e candidata ao trono de Inglaterra durante A Anarquia. Era filha de Henrique I de Inglaterra e da princesa Matilde da Escócia. Depois do naufrágio do White Ship, que vitimou o irmão Guilherme Adelin, Matilde tornou-se na única descendente legítima de Henrique I.

Matilde casou pela primeira vez em 1114 com Henrique V, Imperador do Sacro Império. O casamento não produziu descendência e Matilde ficou viúva em 1125, com apenas 23 anos. Em 1128, casou de novo com Geoffrey V, Conde de Anjou, alcunhado o Plantageneta, no âmbito da política de consolidação do poder de Henrique I no continente. Geoffrey era 11 anos mais novo e segundo crónicas da época a união não foi propriamente feliz. Nasceram no entanto três filhos: Henrique, Geoffrey e Guilherme.

Entretanto, numa decisão inédita para a época, Matilde foi nomeada sucessora por Henrique I, que obrigou seus barões a jurarem-lhe fidelidade. A escolha não era popular por Matilde ser mulher, mas principalmente por ser casada com o Conde de Anjou, a casa tradicionalmente adversária da Normandia.

Em 1135 Henrique I morreu, mas a coroa de Inglaterra foi usurpada por Estevão de Blois, primo de Matilde, que era uma personalidade mais consensual. Matilde não se conformou e iniciou uma série de manobras para alcançar a herança do pai. Como aliados encontrou o rei David I da Escócia, seu tio materno, e Roberto de Gloucester, seu irmão bastardo. O resultado foi A Anarquia, um período de guerra civil, caracterizado não por guerra aberta, mas pela falha de todas as instituições políticas que a Inglaterra viveu nos 19 anos seguintes. Em 1141, Matilde obteve o seu maior sucesso e conseguiu depôr Estevão, tornando-se não rainha, mas Senhora dos Ingleses. A vantagem foi perdida meses depois, devido à sua personalidade arrogante e à influência de Geoffrey de Anjou sobre as suas acções. Matilde conseguiu escapar sozinha ao cerco de Oxford, sumindo-se a meio da noite, mas nunca recuperou o ascendente político. Em 1147 é por fim obrigada a escapar de Inglaterra depois da morte de Roberto de Gloucester.

Matilde nunca mais regressou a Inglaterra, mas foi o seu filho Henrique Plantageneta que pôs um fim à guerra civil obrigando Estevão a nomeá-lo como sucessor no tratado de Wallingford de 1153.

Matilde morreu num auto imposto exílio político num convento em Ruão.



Estêvão (em inglês: Stephen; Blois, 1096 - Dover, 25 de Outubro de 1154), foi conde de Bolonha e o último Rei de Inglaterra da dinastia normanda entre 1135 e 1154. Era filho de Estêvão II, Conde de Blois e de Adela da Normandia, umas das filhas de Guilherme I de Inglaterra. Era portanto sobrinho de Henrique I de Inglaterra e o seu sucessor mais próximo depois da sua filha Matilde.

Estêvão sobreviveu ao naufrágio do White Ship que vitimou o herdeiro Guilherme Adelin em 1120 por ter desembarcado do navio antes da largada. Este golpe de sorte tornou-o num sério candidato à sucessão de Henrique I. O rei, no entanto, preferia ser sucedido pela filha Matilde, então casada com o Geoffrey Plantageneta, conde de Anjou, e obrigou os nobres, Estêvão incluído, a jurarem-lhe fidelidade. Mas o fato de Matilde ser mulher e casada com um angevino (Anjou era a casa tradicionalmente adversária da Normandia), fez os barões mudarem de ideias depois da morte de Henrique. Estêvão tornou-se então rei, mas a sua fragilidade governativa provocou uma revolta em 1139 e o início de uma guerra civil conhecida como a Anarquia.

Estêvão morreu em 1154, sem que a situação de instabilidade tivesse sido resolvida. A solução encontrada em 1153 (tratado de Wallingford) foi nomear como sucessor Henrique Plantageneta, filho de Matilde. Encontra-se sepultado na Abadia de Faversham, Faversham, Kent na Inglaterra.



Henrique II Plantageneta (5 de Março de 1133 – Le Mans, França, 6 de Julho de 1189) foi Conde de Anjou, de Poitiers, Duque da Normandia e Rei de Inglaterra de 1154 até à sua morte, em 1189, tendo sido o primeiro monarca da dinastia angevina, os Plantagenetas. Era filho de Matilde de Inglaterra e de Godofredo V, Conde de Anjou e sucedeu ao primo em segundo grau Estêvão I de Inglaterra no fim da Anarquia. Henrique foi apelidado com vários cognomes, entre eles "Curt Mantle", devido aos mantos curtos que preferia usar, e "FitzEmpress" numa referência à sua mãe, em dada altura Imperatriz consorte do Sacro Império.

Henrique cresceu em Anjou nos territórios do pai, acompanhando de longe a luta de sua mãe pela coroa inglesa. Foi introduzido na governação em 1150 e depressa se revelou um líder capaz. A 18 de Maio de 1152, Henrique casou com a herdeira e duquesa Leonor da Aquitânia, recentemente divorciada do rei Luís VII de França. Apesar do divórcio, Leonor conseguiu preservar a tutela do seu ducado, que passou a governar com Henrique a partir da data do casamento. Este fato fez de Henrique senhor de um território que incluía a Normandia, Anjou, Poitiers, Aquitânia e Gasconha, tornando-o tão poderoso ou mais que o próprio rei de França.

Em 1153, depois da morte de Eustáquio de Blois, herdeiro de Estêvão de Inglaterra, Henrique invadiu a Inglaterra e obrigou o rei doente a nomeá-lo como sucessor. Esta solução para o fim da guerra civil agradou às populações e no ano seguinte Henrique tornou-se rei de Inglaterra com apoio generalizado do país. Henrique depressa mostrou que não seria um monarca leniente (suave) e que os tempos da Anarquia tinham chegado ao fim. As suas primeiras medidas foram dirigidas aos nobres que se haviam tornado imprevisíveis durante a crise. Castelos construídos sem autorização real foram desmantelados e um novo sistema de colecta de impostos implementado. A administração pública melhorou significativamente com o estabelecimento de registos públicos criados pelo rei. No campo da justiça, Henrique mandou coligir o primeiro livro de leis inglês, descentralizou o exercício da justiça através de magistrados com poderes de agir em nome da coroa e implementou o julgamento por júri.

Entre as variadas iniciativas, Henrique minou o poder da Igreja Católica, determinando que religiosos que tivessem cometido crimes de direito comum fossem julgados por tribunais civis e não eclesiásticos, e estabelecendo um novo conjunto de impostos sobre as ordens religiosas. Como seria de prever, esta atitude valeu-lhe uma enorme onda de protestos, encabeçada por Tomás Becket, Arcebispo da Cantuária e seu amigo pessoal. Becket dirigiu-se a Roma para apelar ao papa ao que se seguiu um exílio de vários anos. Em 1170, Henrique e Beckett reconciliaram-se formalmente num encontro na Normandia, mas pouco depois o atrito recomeçou. Diz a tradição que Henrique perguntou: Não há ninguém que me livre deste padre turbulento?. Quatro dos seus nobres levaram o desabafo a sério e Tomás Becket foi assassinado na Catedral da Cantuária a 29 de Dezembro de 1170. Henrique chorou a morte de Becket e puniu severamente tanto os assassinos como as suas famílias. Para aligeirar a relação com o papa que o ameaçou de excomunhão, o rei doou importantes somas à ordem dos Templários e aos Cavaleiros Hospitalários e incentivou os seus súbditos a partir em cruzada para a Terra Santa, apesar de ele próprio nunca ter peregrinado ao Oriente.

Durante o seu reinado, Henrique finalizou a conquista e anexação do País de Gales e da Irlanda.

O casamento com Leonor da Aquitânia, se bem que político e com um intervalo de 11 anos entre eles, foi certamente tempestuoso. Guilherme de Poitiers, o primeiro filho do casal nasceu poucos meses depois do casamento o que indica uma relação anterior ao matrimónio. Henrique, no entanto, concebeu cerca de dez filhos ilegítimos, alguns dos quais criados pela própria Leonor junto dos filhos de ambos.

No princípio da década de 1170, Leonor abandonou Inglaterra e estabeleceu-se na Aquitânia. Os motivos permanecem desconhecidos, mas a ligação amorosa e pública de Henrique com Rosamunda Clifford, uma galesa, pode ter tido alguma influência. Na mesma altura, Henrique decidiu separar os seus territórios de forma a serem herdados pelos diferentes filhos. O resultado foi desastroso uma vez que os príncipes decidiram apropriar-se das terras antes da sua morte. Henrique o Jovem e Ricardo revoltaram-se contra o pai na Normandia e Anjou, com o apoio de Leonor, que não tinha apreciado as recentes intromissões de Henrique no Ducado da Aquitânia, e de Luís VII de França. De todos os seus filhos apenas o bastardo Godofredo, Arcebispo de York, permaneceu do seu lado e na sua estima até ao fim. Em 1173 é a própria Leonor quem inicia uma rebelião contra o rei. Henrique acabou por controlar a revolta no ano seguinte e colocou-a na prisão onde permaneceu nos 15 anos seguintes. Nesta altura, Henrique assumiu a relação com Rosamunda, que passou a receber tratamento de rainha, e equacionou o divórcio de Leonor da Aquitânia para casar sua irmã, filha de Luís com sua segunda esposa, a princesa Alice de França.

A relação com o filho Ricardo piorou ainda mais com a sua subida ao estatuto de herdeiro depois da morte do irmão mais velho. Em Julho de 1189 Ricardo, auxiliado pelo rei Filipe II de França, derrota o exército de Henrique em Chinon. Dois dias depois, Henrique morreu num castelo das redondezas, presumivelmente de ferimentos recebidos na batalha. Encontra-se sepultado na Abadia de Fontevraud em Anjou, França.



Ricardo I (Oxford, 8 de setembro de 1157 — Châlus, 6 de abril de 1199) foi Duque da Aquitânia (1168-1199), Conde de Anjou, Duque da Normandia e Rei de Inglaterra (1189-1199). Ricardo é também conhecido por vários cognomes, entre eles Coração de Leão (Coeur de Lion, Lionheart), Oc et No (sim e não em língua provençal) e Melek-Ric (Rei-Ricardo) pelos muçulmanos do Oriente Médio, que usavam a sua figura para ameaçar as crianças que se portavam mal. Ricardo foi um dos líderes da Terceira Cruzada e foi na sua época considerado como um herói.

Ricardo era o terceiro filho de Henrique II de Inglaterra e Leonor da Aquitânia, depois de Guilherme, Conde de Poitiers, que morreu criança, e Henrique o Jovem. Foi educado essencialmente pela mãe e quando Leonor decidiu separar-se de Henrique II e ir viver em Poitiers no fim da década de 1170, Ricardo acompanhou-a. Enquanto príncipe, recebeu uma excelente educação, mas sobretudo voltada para a cultura francesa. Ricardo nunca aprendeu a falar inglês e pouca ou nenhuma importância deu à Inglaterra durante a sua vida. Essa "negligência" beneficiou seu irmão João, que posteriormente, quando de sua ausência, na terceira cruzada, tentou-lhe usurpar o poder. João também foi o responsável pela Magna Carta.

Em 1168, tornou-se Duque da Aquitânia em conjunção com Leonor, no âmbito da política de Henrique II em dividir os seus territórios pelos filhos. A medida não obteve os objetivos esperados porque, em 1173, Leonor e Ricardo foram os responsáveis por uma revolta generalizada contra Henrique II que partiu da Aquitânia. O rei controlou os motins no ano seguinte, perdoando a Ricardo e Henrique o Jovem, mas encarcerando Leonor. Talvez por isso e pelo humilhante pedido de desculpas a que foi obrigado, Ricardo nunca se reconciliou totalmente com o pai. Após este episódio, Ricardo teve que lidar ele próprio com diversas revoltas da nobreza da Aquitânia que desejavam vê-lo substituído por um dos irmãos, e que suprimiu com violência.

Com a morte de Henrique o Jovem em 1183, Ricardo torna-se no inesperado sucessor do trono inglês e do Ducado da Normandia. Em 1188, com a relação dos dois que continuava péssima, Henrique II considerou que Ricardo não merecia mais a Aquitânia e tentou entregar este ducado a João Sem Terra, o seu filho mais novo. Ricardo, por sua vez, não gostou de se ver preterido pelo irmão e preparou-se para defender o seu território, pedindo ajuda a Filipe II de França. Juntos, responderam à invasão das tropas de Henrique II, que acabou por morrer pouco depois de ter sido derrotado numa batalha em 1189.

Ricardo tornou-se então rei da Inglaterra, duque da Normandia e conde de Anjou, sucedendo ao pai que detestava, sendo coroado em 3 de setembro, na Abadia de Westminster. Livre para perseguir os seus próprios interesses, Ricardo não permaneceu muito tempo na Inglaterra. Imediatamente após a subida ao trono, começou a preparar a expedição à Terra Santa que seria a Terceira Cruzada. Para tal, não hesitou em esvaziar o tesouro do pai, cobrar novos impostos, vender títulos e cargos por somas exorbitantes a quem os quisesse pagar e até libertar o rei Guilherme I da Escócia dos seus votos de vassalagem por cerca de 10,000 marcos. O único entrave era a ameaça constante que Filipe II de França representava para os seus territórios no continente, e que Ricardo resolveu convencendo-o a juntar-se também à cruzada.

A primeira paragem dos cruzados foi na Sicília em 1190, onde Ricardo e Filipe se imiscuíram na política local, saqueando algumas cidades de caminho. Foi nesta altura e por este motivo que Ricardo comprou a inimizade do Sacro Império e nomeou o sobrinho Artur I, Duque da Bretanha como seu herdeiro.

Em 1191, Ricardo e o seu exército desembarcam em Chipre devido a uma tempestade. A presença de tantos homens foi considerada uma ameaça pelo líder bizantino da ilha, e em breve os conflitos apareceram. A resposta de Ricardo foi violenta: não só se recusou a partir, como massacrou os habitantes das cidades que lhe resistiram, espalhando a destruição na ilha. Depois do cerco de Cantaras, Isaac I Comneno abdicou e Ricardo tornou-se o dono de Chipre. Foi também neste ano que casou com a princesa Berengária de Navarra, numa união a que nunca ligou e que não produziu descendência.

Em junho de 1191, Ricardo chegou à Terra Santa a tempo de aliviar o cerco de Acre imposto por Saladino. Estava já sem aliados, depois de uma série de desavenças com Filipe e o duque Leopoldo V da Áustria. A sua campanha foi um sucesso e granjeou-lhe o estatuto de herói, bem como o respeito dos adversários, mas sozinho com o seu exército não poderia nunca realizar o seu principal objectivo de recuperar Jerusalém para o controle cristão. Além disso, a influência de João na política em Inglaterra e de Filipe II, demasiado próximo agora da Aquitânia e Normandia, obrigavam um urgente regresso à Europa. No Outono de 1192, Ricardo iniciou o caminho de volta, depois de se recusar em ver sequer de longe Jerusalém.

Na viagem de regresso, Ricardo reencontrou Leopoldo da Áustria, que não lhe havia perdoado os insultos recebidos em Chipre, foi feito prisioneiro e mais tarde entregue ao imperador Henrique VI do Sacro Império. O seu cativeiro em Dürnstein, na Áustria, não foi severo e durante os quatorze meses em que foi mantido prisioneiro (dezembro de 1192 a 4 de fevereiro de 1194) Ricardo continuou a ter acesso aos privilégios que a sua condição de rei determinava. O seu resgate custou 150 000 marcos ao tesouro de Inglaterra, soma equivalente ao dobro da renda anual da coroa, o que colocou o país na absoluta bancarrota e obrigou a muitos impostos adicionais nos anos seguintes. Como prova de agradecimento a Deus pela sua libertação, Ricardo arrependeu-se publicamente dos seus pecados e foi coroado uma segunda vez. Apesar do esforço do país para o libertar, Ricardo abandonou a Inglaterra de novo ainda no mesmo ano de 1194 para lidar com os problemas fronteiriços com a França nos territórios do continente. Desta vez para não mais regressar.

Ricardo morreu como consequência de ferimentos provocados por uma flecha que o atingiu no abdómen em abril de 1199. O próprio fato de ter sido atingido naquela zona do corpo é revelador da sua personalidade. Se tivesse usado uma armadura nesse dia, não teria morrido. O seu corpo está sepultado na Abadia de Fontevraud, junto de Henrique II de Inglaterra e de Leonor da Aquitânia.

Ricardo Coração de Leão foi personagem de alguns livros de Sir Walter Scott. Apareceu em O Talismã e em Ivanhoé, sendo imortalizado e tais livros.

Uma ótima biografia sobre Richard Coeur de Lion foi escrita pela medievalista Régine Pernoud que o chama de "O Rei dos Reis da Terra".



João I de Inglaterra ou João Sem Terra (Lackland em inglês; Oxford, 24 de Dezembro de 1166 - Castelo de Newark, Nottinghamshire, 18 de Outubro de 1216) foi Rei de Inglaterra, Duque da Normandia e Duque da Aquitânia de 1199 a 1216. Quinto filho de Henrique II, não herdou nenhuma terra quando da morte de seu pai, fato que lhe deu o seu cognome. Passou à História como o rei que assinou a Magna Carta, considerado o início da monarquia constitucional em Inglaterra.

Era o mais novo entre os cinco filhos do rei Henrique II de Inglaterra e Leonor da Aquitânia e não se esperava que sucedesse ao trono. Foi, no entanto, o único dos filhos legítimos de Henrique II que não se revoltou contra o poder do pai. Talvez, como compensação, João foi nomeado Senhor da Irlanda em 1185. O seu governo foi desastroso e foi obrigado a abandonar o território poucos meses depois. Em 1188, Henrique tentou tornar João Duque da Aquitânia, em substituição de Ricardo Coração de Leão, que considerava de pouca confiança. O resultado foi catastrófico para Henrique II, que morreu durante a expedição punitiva organizada contra Ricardo.

Ricardo ascendeu ao trono e, antes de partir para a Terra Santa, nomeou como seu sucessor e herdeiro da coroa o sobrinho Artur. Entre 1189 e 1194, João foi a figura mais importante de Inglaterra durante a ausência de Ricardo, primeiro em cruzada, depois no cativeiro na Alemanha. João insurgiu-se contra Ricardo e, aliando-se de novo ao rei da França, apoderou-se da alta Normandia e da Touraine. Foi a si que coube a tarefa de reunir os 150,000 marcos necessários para pagar o resgate de Ricardo a Henrique VI, Imperador do Sacro Império. Esta soma representava na altura uma verdadeira fortuna que obrigou à imposição de impostos especiais e deixou Inglaterra na bancarrota. Talvez devido a isto, João não foi um regente popular e é frequentemente retratado como vilão em histórias como Ivanhoé ou nas lendas de Robin Hood. Ricardo, em seu regresso, concedeu-lhe o perdão e, pouco antes de morrer, proclamou-o herdeiro do trono.

João sucedeu na coroa de Inglaterra em 1199, depois da morte de Ricardo Coração de Leão numa batalha em França. Repudiou então a esposa Isabel de Gloucester e contraiu matrimônio com Isabel de Angoulême. João, entretanto, não foi aceito logo por todos os seus súditos. Na Normandia, os nobres preferiram a pretensão de Artur I, Duque da Bretanha, o seu sobrinho de doze anos.

Para resolver o problema, João invadiu o Ducado da Bretanha em 1202 e Artur I apelou para a ajuda do rei Filipe II de França e declarou-se seu vassalo. Artur foi capturado, e possivelmente assassinado, no ano seguinte, mas já era tarde demais para impedir a intervenção dos franceses. Foi denunciado por Filipe II Augusto perante a Corte dos pares por ter raptado Isabel de Angoulême. Em 1204, Filipe II invadiu e conquistou a Normandia e o Condado de Anjou. Os aliados de João Sem Terra, entre os quais o imperador germânico Oto IV, foram batidos em Bouvines (1214), sendo ele mesmo vencido em Roche-aux-Moines. João nunca conseguiu recuperar estes territórios e as possessões inglesas no continente limitaram-se a partir de então ao Ducado da Aquitânia.

Enquanto rei, João procurou reorganizar as finanças do seu país, debilitadas depois do resgate pago pela libertação de Ricardo. Uma das medidas que tomou foi instituir um novo imposto sobre os nobres que falhavam na sua obrigação de fornecer soldados e material militar à coroa. Além disso, João acabara de perder territórios para França e interferiu na escolha do Arcebispo da Cantuária, não aceitando o candidato do Papa Inocêncio III, o que lhe valeu o desagrado do Sumo Pontífice e sua excomunhão em 1211. O rei respondeu com o confisco dos bens eclesiásticos. Os nobres viram esta repreensão da Igreja como um incentivo à revolta e em breve o país encontrava-se em estado de quase guerra civil. Para não perder o valioso apoio de Roma, no entanto, o monarca, em 1213, submeteu-se ao papa e enfeudou seus reinos à Santa Sé.

Depois de fracassar na tentativa de recuperar seus domínios na França, regressou à Inglaterra. Ali enfrentou a rebelião dos barões, os quais obrigaram-no, perto de Londres em em 15 de Junho de 1215, a assinar, outorgar e jurar a Magna Carta (ou Carta Magna) aos barões e à burguesia, insatisfeitos com sua política. A Magna Carta, que que limitou o poder monárquico, era um tratado de direitos, mas principalmente deveres, do rei para com os seus súditos. Considera-se que este tratado marca o início da monarquia constitucional em Inglaterra.

João pediu ajuda ao papa, que o eximiu do juramento. O rei passou a ignorar todos os pontos do documento. Em 1216, muitos barões descontentes com o péssimo reinado de João Sem Terra, apoiaram a invasão da Inglaterra pelos franceses liderados pelo príncipe Luis VIII de França e ofereceram o trono a este. Ele foi proclamado "Rei de Inglaterra" em maio desse ano mas nunca foi coroado. Luis aceitou o cargo com grande pompa e celebração na Catedral de St. Paul, em Londres onde muitos nobres incluindo o próprio Rei Alexandre da Escócia (1214-1249) estavam presentes e juraram-lhe vassalagem. Porém havia ainda um pequeno foco de resistência a ele e após um ano e meio de guerra, a maioria dos barões rebeldes foi derrotada e Luis teve que desistir do trono da Inglaterra ao assinar, em 1217, o Tratado de Lambert. Nele, Luis concordava que ele nunca fora um legítimo Rei de Inglaterra. A morte de João Sem Terra e o apoio para o jovem Henrique III acabaria por apressar esses fatos.

João sem Terra morreu em Newark, Inglaterra, em 18 de outubro de 1216, possivelmente envenenado por um abade irritado por ele ter tentado seduzir uma freira e encontra-se sepultado na catedral de Worcester. Subiu ao trono seu filho Henrique III.



Henrique III (Winchester, 1 de outubro de 1207 — Palácio de Westminster, 16 de novembro de 1272) foi rei de Inglaterra e duque da Aquitânia entre 1216 e 1272. Até 1259 foi também duque da Normandia e conde de Anjou, embora apenas nominal, visto que estes territórios tinham sido conquistados e anexados pelo rei Filipe II de França em 1204. Henrique III era filho de João I de Inglaterra e da sua segunda mulher Isabel de Angoulême e sucedeu ao pai com apenas nove anos.

O longo reinado de Henrique foi marcado por disputas internas e assistiu à revolta de Simão de Montfort, Conde de Leicester. Apesar de cunhado de Henrique III, Leicester não lhe fez a vida fácil e foi o responsável pela convocação da primeira sessão do parlamento britânico, ao abrigo das disposições da Magna Carta. Em 1264, Henrique é derrotado em Batalha de Lewes e feito prisioneiro. No ano seguinte, por iniciativa do seu herdeiro Eduardo, é libertado e reprime com violência os últimos focos de revolta. Por volta de 1270, Henrique abdica em tudo menos no aspecto formal para Eduardo e morre em 1272 com 65 anos. Encontra-se sepultado na Abadia de Westminster em Londres.



Eduardo I de Inglaterra (17 de Junho de 1239 - 7 de Julho de 1307), cognominado Longshanks (Pernas Longas), foi um Rei de Inglaterra da dinastia Plantageneta entre 1272 e 1307. Era filho de Henrique III de Inglaterra, a quem sucedeu em 1272, e de Leonor da Provença. Durante o seu reinado, a Inglaterra conquistou e anexou o País de Gales e adquiriu controle sobre a Escócia.

Eduardo mostrou ter uma personalidade e estilo de governação bastante diferentes do seu pai, que procurava reinar por consenso e resolvendo crises de forma diplomática. A primeira prova do seu carácter forte surgiu em 1265, ainda enquanto herdeiro, quando derrotou decisivamente o rebelde Simão de Montfort, Conde de Leicester na batalha de Evesham, perseguindo depois todos os seus apoiantes e família. Suas ações garantiram uma reputação de violência e falta de misericórdia para com os seus adversários.

Em 1270, Eduardo juntou-se ao movimento das Cruzadas em parceria com o rei Luís IX de França. Como o rei francês morreu antes de realizar os planos para a conquista do Norte de África, Eduardo e o seu exército viajaram para Acre (onde acabaram por nascer dois dos seus filhos). Enquanto se encontrava na Terra Santa, Henrique III faleceu e Eduardo regressou a Inglaterra para reclamar a coroa em 1274.

Em 1282, os nobres do País de Gales, liderados pelos príncipes Llywelyn e Dafydd, revoltaram-se contra a presença inglesa. Eduardo lançou contra eles toda a sua força militar e derrotou o exército rebelde. Para além de perseguir até ao último os nobres galeses, Eduardo fortificou o país de forma a assegurar a sua posição. Sem mais família real ou aristocracia digna de tomar iniciativa, o País de Gales foi incorporado em Inglaterra em 1284 através do Estatuto de Rhuddlan.

Para financiar a sua expedição contra Gales, Eduardo impôs um novo sistema de impostos aos usurários judeus, o que deixou muitos deles na bancarrota. Quando não puderam mais contribuir, Eduardo acusou-os de falta de lealdade ao Estado e passou a persegui-los. Cerca de 300 chefes de família foram assassinados na Torre de Londres e muitos mais no resto de país. Em 1290, Eduardo expulsou os últimos judeus de Inglaterra. Os judeus só puderam regressar à Inglaterra no século XVII, após a missão bem-sucedida de Menasseh ben Israel, que pediu a Oliver Cromwell a permissão de entrada no país para os judeus neerlandeses.

Depois destes episódios contra Gales e o povo judaico, Eduardo virou as suas atenções para a Escócia, onde se vivia uma crise dinástica depois da morte da rainha-criança Margarida I da Escócia. O seu plano inicial era casar o seu herdeiro Eduardo com Margarida e assim concretizar a anexação, mas quando esta morreu com apenas sete anos, Eduardo I foi convidado pela nobreza escocesa a escolher o novo rei. Em 1291, a escolha recai sobre John Balliol, um homem extremamente impopular, o que resultou na primeira das guerras da independência da Escócia. O herói desta guerra contra Eduardo I foi William Wallace, cuja vida fantasiada foi retratada no filme Braveheart (Coração Valente em português). Após mais de dez anos de conflito, Wallace foi feito prisioneiro, condenado por traição e executado brutalmente para dar o exemplo. O efeito foi o oposto visto que os escoceses se motivaram ainda mais pela independência através do martírio de Wallace.

A vida de Eduardo I não foi melhor depois disso. Ele perdeu sua amada primeira esposa, Leonor, e seu herdeiro, Eduardo II, também não era o que ele esperava.

O plano de conquistar a Escócia acabou por fracassar. Em 1307 ele morreu em Burgh-a-Sands, Cumberland, na fronteira escocesa, a caminho de uma outra campanha contra esses últimos que, ironicamente, estavam sob a liderança de Robert Bruce, amigo de Wallace. Eduardo foi sepultado na Abadia de Westminster, em uma tumba de mármore preto, que nos últimos anos foi pintada com as palavras Edwardus Primus Scottorum malleus hic est, pactum Serva (Aqui está Eduardo I, martelo escocês. Mantenha a Fé).

Em 2 de Janeiro de 1774, a Sociedade de Antiquários abriu o caixão e descobriu que seu corpo havia sido perfeitamente preservado por 467 anos. Seu corpo foi medido em 6 pés 2 polegadas (188 cm).



Eduardo II de Inglaterra (Castelo de Caernarfon, 25 de abril de 1284 — Gloucestershire, 21 de setembro de 1327) foi rei de Inglaterra de 1307, sucedendo ao pai, a janeiro de 1327, quando foi obrigado a abdicar para Eduardo III. Era o filho mais novo de Eduardo I de Inglaterra e de Leonor de Castela e nasceu no Castelo de Caernarfon no País de Gales. Foi também o primeiro Príncipe de Gales, a partir de 1301.

Eduardo tornou-se herdeiro da Coroa com poucos meses de vida, devido à morte de seu irmão mais velho, Afonso, ainda criança. Desde cedo Eduardo I tentou educá-lo para governar, enfocando os aspectos militares. O príncipe participou de várias campanhas contra os escoceses mas, para desgosto do pai, desenvolveu o que os historiadores contemporâneos descrevem como uma personalidade fútil e extravagante. Eduardo I atribuiu tal comportamento à má influência do amigo íntimo do filho, Piers Gaveston, e exilou-o para a sua Gasconha natal.

Em Julho de 1307, torna-se o rei Eduardo II com a morte do pai durante uma campanha. A sua primeira atitude foi chamar Gaveston de novo à corte, mas depois pouco fez. Eduardo não era um homem dado à governação, preferindo os divertimentos da corte e as caçadas. Talvez devido à forte personalidade do pai, que sempre o controlou, tinha pouca confiança em si mesmo e era muito permeável à influência e à manipulação externa. Em 25 de Janeiro de 1308, casou com a princesa Isabel de França, filha do rei Filipe IV. Foi uma união condenada ao fracasso, visto que Isabel foi rapidamente ignorada pelo marido, que, de acordo com alguns indícios, parece ter sido homossexual. Apesar disso, tiveram quatro filhos.

A preferência de Eduardo II por Gaveston provocou numerosos escândalos. O rei ofereceu-lhe o Condado da Cornualha e casou-o com a sobrinha Margarida de Gloucester, provocando o ressentimento da nobreza tradicional. Os nobres exigiram o exílio de Gaveston por duas vezes e por duas vezes Eduardo obedeceu, para o chamar de volta pouco depois. Em 1312 a situação requereu medidas mais drásticas e Piers Gaveston foi assassinado. Eduardo II nada fez para vingar a sua morte e em vez disso assistiu à formação do Parlamento e à passagem do poder efectivo para um conjunto de 21 nobres.

Gaveston foi substituído por Hugh le Despenser, cujo pai, de mesmo nome, era então um político experiente que soube tirar partido da relação. Em breve a Inglaterra caíu num estado próximo da guerra civil entre o rei controlado pelos Despenser e os outros nobres. Entretanto, Roberto I da Escócia conquistava o terreno perdido para Eduardo I durante os anos anteriores, e conseguiu uma vitória significativa na batalha de Bannockburn.

Esta derrota enfraqueceu ainda mais o poder de Eduardo II e nos anos seguintes a Inglaterra foi governada por Hugh le Despenser pai, que não hesitou em mandar executar ou exilar os seus adversários políticos.

Em 1325, Isabel de França abandonou o país com o futuro Eduardo III a pretexto de uma visita ao Ducado da Aquitânia mas os seus motivos eram bem diferentes. Depressa anunciou que se recusava a entregar o herdeiro enquanto os Despenser se encontrassem em favor real. A seu lado estavam os nobres exilados que detestavam o rei e o seu favorito, em particular Roger Mortimer, Conde de March, que tinha se tornado seu amante. Em Setembro de 1326, Isabel desembarcou em Essex acompanhada por um exército, anunciando que vinha para vingar as perseguições e expulsar os Despenser do poder. De imediato obteve o apoio de muitas casas importantes e avançou para Londres com confiança. Abandonado pelos seus partidários Eduardo II fugiu da capital e refugiou-se no Castelo de Glamorgan, propriedade dos Despenser. Isabel seguiu-o e tomou o castelo, executando Hugh le Despenser pai e filho, sem contemplações. Eduardo ainda tentou fugir à mulher, mas foi capturado pouco depois e encarcerado em Kenilworth. Em 25 de Janeiro de 1327, o Parlamento reunido em Westminster obrigou-o a abdicar para o filho.

A regência de Isabella e Mortimer era precária. Em 3 de Abril, Eduardo II foi removido de Kenilworth e confiado à guarda de dois subordinados de Mortimer e, em seguida, levado para o Castelo de Berkeley, em Gloucestershire, onde acredita-se, ele foi assassinado por um agente de Isabella e Mortimer. Eduardo II foi tratado em condições sub-humanas pois esperava-se que ele não resistisse muito tempo a alguma doença e morreria de forma que parecesse natural. Mas isso não aconteceu e os regentes viam sua situação piorar a cada dia até que um dos guardas terá tido uma idéia para matá-lo sem usar venenos ou qualquer tipo de armas que deixassem à mostra uma prova que ele teria sido assassinado.

Segundo uma crónica atribuída por alguns autores a Thomas de la Moore e por outros a Geoffrey le Baker, na noite de 21 de setembro, Eduardo II terá sido surpreendido enquanto dormia e um grande colchão foi jogado sobre ele para abafar seus gritos enquanto um chifre de boi oco era introduzido em seu ânus. Por dentro do chifre, passou um ferro em brasa que queimou seu intestino e vários órgãos internos. Houve rumores que Eduardo II tinha sido morto pela inserção de um pedaço de cobre em seu reto (mais tarde, uma haste de ferro vermelho e quente, como no suposto assassinato de Edmund Ironside). A razão de usarem um chifre era para permitir ao ferro em brasa penetrar, queimar as entranhas do rei e sair sem ferir suas nádegas.

Na sequência do anúncio público da morte do rei, a situação de Isabella e Mortimer não duraria muito. Eles fizeram a paz com os escoceses no Tratado de Northampton, mas esse acordo foi extremamente impopular. Assim, quando Eduardo III assumiu o trono em 1330, ele mandou executar Roger Mortimer com base em quatorze acusações de traição, mais significativamente o assassinato de Eduardo II. Eduardo III poupou sua mãe e lhe deu um generoso subsídio, mas garantiu que ela se retirasse da vida pública sendo confinada num castelo. Ela morreu em Hertford em 23 de Agosto de 1358.



Eduardo III de Inglaterra (13 de Novembro de 1312 - 21 de Junho de 1377), conde de Chester (1312), conde de Ponthieu e de Montreuil a 2 de setembro de 1325, e depois Rei de Inglaterra e duque da Aquitânia a 25 de janeiro de 1327. Era filho de Eduardo II de Inglaterra e da princesa Isabel de França.

Eduardo nasceu em Windsor, na Inglaterra, a 13 de novembro de 1312. O reinado de seu pai ficou marcado por derrotas militares, rebeliões e corrupção da nobreza, mas o nascimento de um herdeiro masculino em 1312 permitiu manter Eduardo II no trono. Assim, no que será provavelmente uma tentativa de seu pai em restaurar a autoridade real após anos de descontentamento, Eduardo é proclamado conde de Chester com doze dias de idade, e menos de dois meses depois o seu pai fornece-lhe um conjunto de criados para a sua corte. Tem assim uma certa autonomia e pode viver como um príncipe. Tal como todos os reis de Inglaterra desde Guilherme o Conquistador, é educado na língua francesa e não conhece o inglês.

A 20 de janeiro de 1327, tendo Eduardo catorze anos, a rainha Isabel de França e o seu amante Roger Mortimer destituem o rei. Eduardo III é coroado a 1 de fevereiro na abadia de Westminster, em Londres, por Walter Reynolds, arcebispo da Cantuária, com Isabel e Mortimer como regentes. Mortimer torna-se o dirigente da Inglaterra e submete constantemente o jovem rei ao desrespeito e humilhação.

Mortimer sabe que a sua posição é precária, e mais ainda quando Eduardo e a sua esposa Filipa de Hainault têm um filho, a 15 de junho de 1330. Mortimer utiliza o seu poder para adquirir propriedades e títulos de nobreza tais como conde do País de Gales.A maioria desses títulos eram de Edmundo FitzAlan, nono conde de Arundel, leal a Eduardo II em sua luta frente a Isabel e Mortimer, executado a 17 de novembro de 1326. A ganância e arrogância de Mortimer levam ao ódio dos nobres, pelo que nem tudo está perdido para o jovem rei. A execução de Edmundo de Woodstock, irmão de Eduardo II, em março de 1330, indigna os nobres e preocupa Eduardo III que se sente ameaçado. O jovem e obstinado soberano decide governar sozinho e procura escapar ao mesmo destino que o seu pai e seu tio, e procura vingar-se das humilhações sofridas. Perto dos 18 anos, Eduardo está pronto. A 19 de outubro de 1330, Mortimer e Isabel dormem no castelo de Nottingham. Um grupo fiel a Eduardo entra na fortaleza por uma passagem secreta e surgem no quarto de Mortimer. Mortimer é preso em nome do rei e levado para a torre de Londres. Despojado de suas terras e títulos, é acusado de usurpar a autoridade real em Inglaterra. A mãe de eduardo - grávida do filho de Mortimer - suplica misericórdia ao filho, mas em vão. Sem processo, Eduardo condena Mortimer a morte. Este é enforcado a 29 de novembro de 1330. Isabel é exilada para o castelo de Rising (Norfolk) onde é provável que tenha abortado. Aos 18 anos, a vingança de Eduardo termina e ele toma o poder em Inglaterra.

Em 24 de janeiro de 1328, se casou com Filipa de Hainault, com quem teve uma ampla descendência. Ao contrário de seu pai, Eduardo III tinha uma personalidade forte, revelada logo que atingiu a maioridade.

Eduardo III dedicou o início da década de 1330 para restaurar o domínio sobre a Escócia, que aproveitara a confusão na política inglesa durante o reinado de Eduardo II e dos anos que se seguiram, para readquirir sua independência. Com a conquista da vitória assegurada na batalha de Halidon Hill, em 1333, Eduardo III voltou-se para outro conflito marcante durante a Idade Média.

Em 1328, Carlos IV de França, o último dos três filhos de Filipe IV, morreu sem deixar um descendente do sexo masculino. Como na França vigorava a lei sálica, a Coroa passou para Filipe de Valois, um primo distante, que foi coroado como Filipe VI de França. Eduardo III era sobrinho do falecido Carlos IV, pelo lado materno, e considerou a sua pretensão mais razoável que a do Conde de Valois, apesar de a lei sálica tecnicamente o excluir da sucessão. Os franceses não aceitaram essa hipótese que resultaria numa perda de independência e confirmaram Filipe VI como rei. Depois de alguns conflitos diplomáticos, Eduardo III declarou hostilidade aberta à França, iniciando assim a famosa Guerra dos Cem Anos. O início das hostilidades foi marcado pelos sucessos da batalha de Crecy (1346) e da batalha de Poitiers (1356), e pela conquista de grande parte do Norte de França. Apesar disso, Eduardo III não fez nenhuma tentativa para ir mais longe e conquistar Paris, por exemplo. Entregado o controle da frente francesa ao filho Eduardo, o Príncipe Negro, que já se mostrava um notável líder militar, Eduardo III se concentrou na guerra com a Escócia. O resultado da campanha do Príncipe Negro foi excelente: a Inglaterra venceu a França na Batalha de Poitiers e Eduardo III teve a honra de ver o rei João II de França como seu prisioneiro. As condições de resgate detalhadas no Tratado de Brétigny garantiam o pagamento de 3.000.000 de coroas para o seu reino e cerca de um terço do território francês.

Apesar de se respeitarem mutuamente, Eduardo III e o seu primogénito não tinham uma relação muito harmoniosa nem partilhavam a mesma visão de como deveria ser a política interna. O casamento do príncipe de Gales com Joana de Kent tinha sido motivo de grande ressentimento para Eduardo III. No entanto, quando Eduardo de Gales morreu, em 1376, Eduardo III chorou a sua morte e se tornou melancólico. Morreu no ano seguinte, sendo sucedido pelo neto Ricardo.

Depois da morte de Eduardo III, a sucessão do trono inglês parecia assegurada, seja por Ricardo, ainda muito jovem, seja pelo grande número de filhos que Eduardo gerou. Porém, os conflitos que em breve ocorreriam, entre os diversos ramos da sua descendência, deram origem à Guerra das Rosas, onde os seus netos, divididos entre as casas de York e Lancaster, disputaram a coroa numa sangrenta guerra civil. Durante seu reinado, foi estabelecida a Ordem da Jarreteira. Ele está enterrado na Abadia de Westminster.



Ricardo II Plantageneta (6 de Janeiro, 1367 - 14 de Fevereiro de 1400) foi rei de Inglaterra entre 1377 e 1399. Era filho de Eduardo, Príncipe de Gales e de Joana de Kent e tornou-se herdeiro da coroa e Príncipe de Gales em 1376, depois da morte prematura do pai e de um irmão mais velho. Ricardo sucedeu ao seu avô Eduardo III, mas acabou deposto pelo primo Henrique Bolingbroke, um Lancaster.

Na sua ascensão ao trono, Ricardo II tinha apenas dez anos, e como tal não poderia deter o poder real. A regência foi assegurada por um conjunto de homens fortes que incluíam o tio João de Gant, Duque de Lancaster. Em 1381, Ricardo II saltou para a ribalta da política ao negociar pessoalmente com os líderes de uma revolta popular. As suas acções prometiam um rei competente, o que acabou por não se provar. Ricardo II mostrou-se um rei vacilante, influenciável e nalgumas circunstâncias tirânico.

Em 1382, Ricardo casou com Ana da Boémia, filha de Carlos IV, Imperador do Sacro-Império. O casal foi feliz, mas a união não produziu qualquer descendência. Ricardo II casou uma segunda vez em 1394, com Isabel de Valois, filha do rei Carlos VI de França; a união não chegou a ser consumada.

Para o fim do seu reinado, Ricardo II entrou em disputa aberta com a família Lancaster, liderada por João de Gant, que tinha sido despachado para o continente como Duque da Aquitânia. Em 1398 expulsou também do país Henrique de Lancaster, seu primo, e quando o tio morreu em 1399, confiscou para a coroa todos os seus bens. Esta decisão valeu-lhe o ódio de Henrique, que invadiu a Inglaterra. Ricardo II foi deposto no mesmo ano e foi assassinado no Castelo de Pontefract, onde se encontrava sob prisão, em Fevereiro de 1400.

Ricardo II foi o último rei do ramo primogênito da dinastia Plantageneta (esta iria perdurar através dos ramos cadetes York e Lancastre por quase um século). A subida ao trono de Henrique IV foi contestada e a médio prazo degenerou na guerra das rosas.

A sua vida encontra-se retratada na peça Ricardo II de William Shakespeare.

Ricardo é o filho de Eduardo de Woodstock, o Príncipe negro, e de Joana de Kent. Eduardo, príncipe de Gales e herdeiro do trono, distingue-se como chefe militar no início da guerra dos Cem Anos, principalmente com a vitória da batalha de Poitiers, em 1356. Todavia, em 1370, apanha disenteria em Espanha no seguimento de uma campanha militar. Nunca se restabeleceu verdadeiramente e teve de voltar para a Inglaterra no ano seguinte.

Joana de Kent fora objeto de disputa entre Thomas Holland e William Montagu, que desejavam casar com ela. Holland saira vencedor da disputa. Menos de um ano após a morte deste último, Joana casa com o príncipe Eduardo. Esse casamento requer a aprovação do papa, sendo Joana e Eduardo primos, netos de Eduardo I.

Ricardo nasce a 6 de janeiro de 1367 em Bordéus, na Aquitânia, então principiado inglês cujo príncipe é, desde 1362, Eduardo. Segundo fontes da época, são apresentados três reis no seu nascimento: «o rei de Espanha, o rei de Navarra e o rei de Portugal». Esta anedota, associada ao fato de que o seu nascimento corresponde à festa da Epifania, será retomada no diptyque de Wilton, na qual Ricardo é um dos três reis que prestam homenagem a Jesus. Três dias depois, a 9 de janeiro de 1367, ele é batizado pelo arcebispo de Bordéus.

Ricardo permanece em Bordéus durante quatro anos. Quando Eduardo de Angoulême, o seu irmão mais velho, morre em 1371, deixando-o herdeiro de seu pai, ele é enviado para Londres. Em 1376 o Príncipe negro morre da doença que o assolava. Os membros da Câmara dos comuns do Parlamento recearam então que o tio de Ricardo, João de Gante quisesse usurpar o trono. É por essa razão que Ricardo é rapidamente investido com os títulos de seu pai, principalmente com o de príncipe de Gales. A 22 de junho do ano seguinte Eduardo III morre, e Ricardo é coroado rei de Inglaterra (16 de julho de 1377) com apenas dez anos. Mais uma vez, é o receio em João de Gante e suas ambições de poder que orientam a decisão dos responsáveis políticos, e a ideia de uma regência dirigida pelo tio do rei é posta de lado. Em vez de deixar o jovem rei exercer o seu poder, é decidido instaurar uma série de «conselhos contínuos», dos quais João de Gand é excluído. Este último tem, juntamente com o seu irmão mais novo Tomás de Woodstock, conde de Buckingham, uma grande influência informal nas decisões do governo. Mas são os conselheiros e amigos do rei, principalmente Simão de Burley e Aubrey de Vere, que pouco a pouco ganham o controlo dos assuntos reais com petições submetidas ao rei, provocando a desconfiança dos membros da Câmara dos comuns.

Poucas informações existem sobre a educação de Ricardo. Entre os seus mentores encontram-se os que eram próximos ao Príncipe negro, tais como Simão de Burley e Guichard d'Angle, ambos nomeados tutores de Ricardo, tal como Ricardo Abberbury, por vezes descrito como o seu "primeiro mestre". A influência real desses homens no futuro rei é objeto de diversas interpretações por parte dos historiadores. Para o historiador Anthony Steel, a escolha dos que eram próximos ao Príncipe negro para a educação de seu filho visava assegurar que este teria uma "formação à imagem de seu pai", sem realmente atingir o objetivo que se esperava. Por seu lado, Richard H. Jones sugere que Simão de Burley pôde influenciar a visão de monarquia absolutista de Ricardo, iniciando-o nas escrituras de Gilles de Roma.

No fim do seu reinado, o rei Eduardo III assinou uma trégua com Carlos V, rei da França. Quando essa trégua chega ao seu termo, Carlos V não pretende renová-la, e o início do reinado de Ricardo II fica então marcado pela retoma das ofensivas dos franceses, que saqueiam as costas da Inglaterra. A Inglaterra gozava ainda de posses no território francês, tais como Calais e Bordéus, e mantinha um tratado com o ducado da Bretanha que lhe permitia colocar tropas nos grandes portos da Bretanha e Normandia (Brest e Cherbourg). Para financiar a defesa das posições inglesas no continente, assim como operações militares em França e salvaguardar as fronteiras escossesas, o governo reclama com regularidade fundos suplementares que são obtidos sob a forma de taxas. Além de que as expedições não têm sucesso: o exército inglês, recém-chegado à Bretanha no dia seguinte à morte de Carlos V e vendo o duque da Bretanha reconciliar-se com a coroa francesa e submeter-se ao novo rei Carlos VI, é forçado a regressar à Inglaterra. O fardo cada vez mais pesado constituído pelos três impostos comunitários, entre 1377 e 1381, para financiar expedições infrutíferas, contribuíram para o descontentamento da população e para o desenvolvimento de um forte ressentimento no seio da sociedade inglesa para com a classe dirigente.

Bem que os impostos de 1381 sejam a causa direta da revolta dos camponeses, esse conflito tem a sua verdadeira origem nas profundas tensões existentes entre proprietários e camponeses. Essas tensões estão principalmente ligadas às consequências demográficas da peste que assolou o país por diversas vezes. Nessa época de descrédito da Igreja por causa do Grande Cisma do Ocidente, pregadores lollardos fazem campanhas espalhando os pensamentos de igualdade de John Wyclif - que ali encontram eco. Desde Eduardo II que a população foi massivamente treinada no manuseamento do arco longo, possuindo assim os meios para executar ações militares.

A rebelião começa em finais do mês de maio em Brentwood, no condado de Essex, e depois em Kent. A 12 de junho, camponeses juntam-se em Blackheath, perto de Londres, liderados por Wat Tyler, John Ball e Jack Straw. Acabam por entrar em Londres onde alguns habitantes aderem aos seus ideais. O hotel de Savóia de João de Gante fica reduzido a cinzas e numerosos juristas são mortos. Os rebeldes reclamam a abolição total da servidão, o que seria uma verdadeira revolução no Inglaterra medieval. O rei e os seus conselheiros refugiam-se na torre de Londres. Chegam à conclusão que são incapazes de dominar a rebelião pela força, pelo que se preparam para negociar.

Não se sabe exatamente a que ponto Ricardo, com apenas catorze anos, interveio nas deliberações, embora alguns historiadores sugiram que tenha contribuído de forma ativa. A 13 de junho o rei tenta sair da torre pelo rio mas a multidão presente em Greenwich torna impossível qualquer saída da água, e tem de regressar por onde veio. No dia seguinte (sexta-feira, 14 de junho), sai a cavalo e encontra os rebeldes em Mile End. O rei aceita então todas as exigências dos rebeldes, prometendo inclusive amnistiá-los se aceitassem voltar para as suas casas, mas isso só os encoraja e continuam a campanha de pilhagem e assassinatos. Aproveitando a ausência do rei, os rebeldes que ficaram em Londres tomam de assalto a torre de Londres e matam o Lorde chanceler, o arcebispo de Cantuária Simon Sudbury e o tesoureiro Robert de Hales, assim como outros membros do governo. Ricardo encontra-se com Wat Tyler no dia seguinte em Smithfield e repete que os desejos dos rebeldes serão executados, mas o líder rebelde não fica convencido da sinceridade do rei. Os homens do rei mantém-se recalcitrantes em aplicar todas as vontades dos rebeldes. Explode uma altercação e Guilherme Walworth empurra Tyler de seu cavalo e mata-o. A situação torna-se tensa quando os rebeldes tomam conhecimento do que se passou, mas o rei age com calma e, dizendo «Eu sou o vosso capitão, sigam-me!», afasta a multidão da cena do crime. Entretanto, Walworth reúne uma força militar para rodear o exército rebelde, mas o rei pede clemência e permite que os rebeldes se dispersem e que regressem a suas casas.

Só com a revolta dos camponeses é que Ricardo começa a ser mencionado de forma significativa nos anais. A 20 de janeiro de 1382, casa-se com Ana da Boêmia, filha de Carlos IV, rei da Boêmia e imperador do Sacro-Império romano-germânico, e de Elisabeth de Pomerania. Esse casamento tem um significado diplomático, porque nestes tempos em que a Europa está dividida pelo Grande Cisma do Ocidente, a Boêmia e o Sacro Império romano-germânico são potenciais aliados para a Inglaterra na guerra dos Cem Anos frente à França. Todavia, esse casamento não é muito popular em Inglaterra. Apesar de tudo, a aliança política não leva a nenhuma vitória militar, e Ana morre em 1304 sem deixar herdeiros a Ricardo.

Michael de la Pole interveio nas negociações para o casamento; tem a confiança do rei e começa a ganhar peso na corte e no governo à medida que Ricardo tem idade para governar. Esse filho de comerciantes ambiciosos foi nomeado Lord chanceler por ricardo (1383), e dois anos depois conde de Suffolk, o que aborrece a nobreza da época. Outro próximo ao rei foi Roberto de Vere, conde de Oxford, sobrinho de Aubrey de Vere. Surge como o favorito do rei nesse tempo. A linhagem de De Vere, bem que muito antiga, é relativamente modesta no seio da nobreza inglesa e a sua amizade com o rei também não é muito apreciada pelos outros nobres. Esse descontentamento é realçado pela nomeação em 1386 de De Vere a duque da Irlanda. O cronista Thomas Walsingham sugere que a relação entre o rei e De Vere é de natureza homossexual.

O conflito franco-inglês ainda está vivo: a frota franco-castelhana ameaça regularmente as costas inglesas. João de Gante vê ali a ocasião para fazer valerem as suas pretensões reais em Espanha. Conta com a ajuda do rei de Portugal para uma coalizão anglo-arago-portuguesa e levar uma expedição a Castela. Pede 60000 libras ao parlamento sublinhando que tal permitiria colocar um fim aos raides franco-castelhanos que perturbam o comércio no Canal da Mancha. Consegue de Urbano VI que essa expedição seja considerada como uma cruzada contra o rei clementista de Castela. O parlamento recusa por duas razões: a saída do homem forte do país logo após a revolta dos camponeses é considerada arriscada e parece mais adequado investir numa cruzada em Flandres para defender os interesses comerciais ingleses contra o avanço francês que representa o casamento de Filipe II de Bourgogne com Margarida III de Flandres: o homem forte do reino da França é o herdeiro do condado.

Enquanto que a vontade da corte é a de negociar, João de Gante e Thomas de Woodstock fazem pressão para que se organize uma campanha militar de grande escala para proteger as posses inglesas em França. Surge uma oportunidade, com uma provável revolta na Flandres. A eventualidade do derrube do conde Luís de Male durante a revolta é vista com bons olhos em Inglaterra, mesmo com a demora em intervir. Pois é extremamente delicado para o governo inglês apoiar uma rebelião quando acabara de terminar uma em Inglaterra. O jovem Carlos VI entra rapidamente em guerra, enviando as suas tropas para a Flandres: esmaga a rebelião na batalha de Roosebeke, mas ainda tem de tratar de cidades rebeldes francesas, começando por Paris, dando o exemplo de Flandres. O parlamento, preocupado com Calais, acaba por concordar com uma expedição. É de fato enviada uma cruzada urbana (o controlo de Bruges é importante para os dois papas, pois o produto fiscal do pontificado na Europa do Norte transita por ali), levado por Henrique le Despencer, bispo de Norwich, e financiado com indulgências. Os ingleses aproveitam da retirada de Carlos VI para tomarem as cidades de Bourbourg, Bergues e Gravelines. A expedição torna-se um fracasso quando os franceses planeiam uma contra-cruzada clementista e juntam um exército em Arras. O bispo de Norwich tem de regressar, e pedem-lhe contas. É-lhe instaurado um processo de impeachment.

Perante essa derrota no continente, Ricardo volta-se contra o aliado da França: a Escócia. Em 1385 o rei chefia uma expedição ao norte, mas sem sucesso, e o seu exército regressa sem sequer enfrentar as forças da Escócia. Entretanto, os escoceses reforçados por forças francesas chefiadas por João de Vienne devastam Northumberland. Ao mesmo tempo, uma simples revolta em Gand impede a invasão francesa a sul da Inglaterra. As relações entre Ricardo e o seu tio deterioram-se rapidamente. A vitória portuguesa em Aljubarrota sobre os castelhanos abre nova perspectiva a João de Gante e dá ao rei de Inglaterra a oportunidade de afastar o seu poderoso tio. A 8 de março de 1386 Ricardo II reconhece-o como rei de Castela, ficando a seu cargo conquistar esse reino. Enquanto circulam rumores de uma conspiração contra a sua pessoa, a 9 de julho João de Gante deixa a Inglaterra, encabeçando 7000 homens. Com a sua partida, Thomas de Woodstock, novo duque de Gloucester, e Richard FitzAlan, 11º conde de Arundel, tornam-se os líderes não oficiais dos opositores ao rei.

Enviando uma expedição para Castela, a Inglaterra arrisca provocar um grande conflito com a França. Carlos VI aproveita a ocasião para preparar um exército forte, e em 1386 a ameaça de uma invasão francesa ganha força. Mas nunca teve lugar, graças ao conselho do duque de Berry, tio do rei de França. Nesse ano, em outubro, no decurso de uma sessão parlamentar, Michael de la Pole, conde de Suffolk - e enquanto Lord chanceler - pede uma taxação de um nível sem precedentes, de forma a assegurar a defesa do reino. Mas o parlamente pede a demissão do chanceler como condição para responder a qualquer pedido. Assume-se que essa assembleia, que será conhecida sob o nome de «admirável parlamento», trabalhava com o apoio de Woodstock e FitzAlan· O rei rejeita essa condição. Só quando ele é ameaçado de destituição é que o rei é forçado a aceitar, deixando sair de la Pole. Este é julgado e condenado sob diversas acusações, incluindo a de má utilização dos fundos ou por fraude. Durante um ano, uma comissão é encarregada de rever e controlar as finanças reais.

Ricardo está profundamente perturbado por essa afronta feita à sua autoridade real. De fevereiro a novembro de 1387, lança-se numa grande campanha no país para obter apoio. colocando Roberto de Vere como juíz de chester, coloca as fundições para um poder militar leal no condado de Cheshire. Assegura também a legitimidade de Robert Tresilian, juíz em chefe, que apoia o rei na ideia de que o parlamento agiu na ilegalidade e com traição.

De regresso a Londres, o rei é confrontado com as acusações de Woodstock, FitzAlan e Tomás Beauchamp, acusando de traição de la Pole, de Vere, Tresilian, Nicolas Brembre e Alexandre Neville, o arcebispo de York. Acusam-nos principalmente de terem aconselhado o rei a dar Calais à França. Essas acusações não parecem ter fundamentos, mas permite aos opositores ao rei obter o apoio do povo, que não aprecia alguns dos favoritos do rei e é inclinada a acreditar nessa acusações. Ricardo procura ganhar tempo com negociações, aguardando a chegada de De Ver vindo de Cheshire com reforços militares. Os três condes unem as suas forças a Henrique, conde de Derby, filho de João de Gante e futuro rei de Inglaterra, e a Tomás de Mowbray, conde de Nottingham - esse grupo é conhecido sob o nome de "Lords Appellants". A 20 de dezembro de 1387 eles intercetam de Vere na batalha de Radcot Bridge, e obrigam-no a abandonar o país.

Ricardo não tem então mais recursos e tem de aceitar os pedidos dos seus opositores. Brembre e Tresilian são condenados e executados, enquanto que de Vere e de la Pole - que tmabém ele deixou o país - são condenadas a morte à revelia. Mas os appellants vão mais longe: cavaleiros do rei são também executados, entre os quais Burley. Conseguem assim quebrar na íntegra o círculo de favoritos do rei.

Nos meses seguintes, Ricardo restabelece, pouco a pouco, alguma autoridade real graças a três fatores. Primeiramente, falha a política agressiva externa levada a cabo pelos "Lords Appellants". Os seus esforços na construição de uma coligação contra a França não leva a nada e o Norte da Inglaterra é vítima de uma incursão escocesa. Depois, Ricardo tem agora 21 anos de idade e pode agora confiantemente reclamar o direito de governar por si mesmo. Finalmente, em 1389 João de Gante regressa a Inglaterra e uma vez as suas diferenças com o rei resolvidas, o velho homem de Estado age como moderador com os políticos ingleses. Em França, o jovem Carlos VI que também estava sob a tutoria dos seus tios, acabara de tomar o poder. Ricardo inspira-se nele e a 3 de maio de 1389, dispensa os seus tutores. Insistindo no fato de que as suas ações passadas foram unicamente determinadas pelos maus conselhos, substituiu os principais membros do governo. Tem no entanto cuidado na escolha, elegendo homens em quem os seus inimigos têm alguma confiança para não os preocupar. Desenha uma política diferente da de os appellants, procurando a paz e a reconciliação com a França, e promete que tal permitirá aliviar o fardo das taxas que pesa sobre o povo inglês. Governa em paz durante oito anos seguidos, tendo-se reconciliado com os adversários de outrora. Os eventos futuros mostrarão que ele não esqueceu o passado, principalmente a execução de Simão de Burley, algo que lhe é difícil esquecer.

Apesar de Carlos VI e seus conselheiros (ligados ao papa de Avignon) desejarem também a paz, há motivos para a tensão com a França. Em 1390 Carlos VI quer iniciar uma cruzada em Itália para colocar um ponto final no Grande Cisma, instalando Clemente VII em Roma, e para tomar Nápoles para o seu primo Luís II de Anjou, em conflito com Angevins da Hungria.

Por um lado, a Inglaterra está sob a obediência do papa de Roma, e por outro lado o controlo da Provence e o sul da Itália passaria para os Valois. O irmão do rei de França, Luís de Orléans, casado com Valentine de Visconti, vê ali a oportunidade em criar nos Estados papais um principiado à medida de suas ambições, e negoceia o apoio do seu sogro (Luís I de Orléans) nessa expedição. Ricardo II intervém e indica que se o exército francês parte para a Itália, o exército inglês atravesserá a Mancha. Isso coloca um fim aos projetos de Carlos VI. Homens tais como Léon da Arménia ou Filipe de Mézières usam as suas influências dos dois lados da Mancha para obterem a paz e uma cruzada comum contra os turcos. O encontro entre os representantes de Clemente VII e de Léon da Arménia, que devem selar uma reconciliação com uma cruzada, deverá ter lugar em Amiens, na quaresma de 1392. A 31 de março João de Gante encontra-se com o rei de França e pede-lhe que mantenha Calais, o condado de Poitou e o ducado de Guyenne (os ingleses só controlam Bordéus na Aquitânia quando tinham obtido um terço do reino de França pelo Tratado de Brétigny) e que seja pago o resgate de João o Bom.

Uma vez restabelecida a estabilidade política, Ricardo começa a negociar uma paz duradoura com a França. Uma proposta de 1393 oferece à Inglaterra a posse da Aquitânia. Contudo, a condição de que o rei de Inglaterra deveria render homenagem ao rei de França não era aceitável para o povo inglês. As negociações para a paz podem terminar quando Carlos VI apresenta os seus primeiros sintomas de loucura, deixando o governo francês numa situação de desconforto. Mas Ricardo decide não se aproveitar desses acontecimentos e assina uma primeira trégua, que deverá ser seguida por outras negociações. Enquanto que procura a paz com a França, Ricardo tem uma aproximação diferente com a Irlanda. Os territórios sob domínio inglês são ameaçados, e os senhores anglo-irlandeses pedem a intervenção do rei. A trégua com a França fornece uma boa oportunidade para intervir na Irlanda, onde a coroa inglesa tem muito pouca influência. A 7 de junho de 1394 a rainha Ana morre. Esse evento afeta profundamente Ricardo. Por fim, em outono de 1394, Ricardo parte para a Irlanda, onde fica até maio de 1395. O seu exército, composto por 8000 homens, é a maior força desembarcada na ilha. A campanha é frutífera e numerosos chefes de clãs irlandeses submetem-se à soberania inglesa. Essa operação é um dos maiores feitos do reinado de Ricardo, e contribui para reforçar a popularidade do rei em Inglaterra, mesmo que a consolidação da posição inglesa na Irlanda seja de curta duração. Com o seu regresso, Ricardo retoma as negociações com a França. Em 1396 é assinada uma trégua de 28 anos, estando bloqueados os acordos para uma eventual paz devido à visão dos dois países sobre a cidade de Calais. Esse tratado engloba o casamento de Ricardo com Isabel de Valois, filha de Carlos VI de França. Alguns receios envolvem esse casamento, pois a princesa só tem seis anos e não poderá dar um herdeiro durante alguns anos.

No final dos anos de 1390, começa o período do reino de Ricardo II que os historiadores qualificam de "tirânico". Após todo um longo reinado a compensar os seus inimigos, Ricardo reabilita os que outrora o apoiaram, nomeadamente chamou da Irlanda os juízes que afirmaram o seu direito a governar sozinho. A maioria dos outros exilados morreram no exílio, como Roberto de Vere, cujo corpo Ricardo manda repatriar para que seja enterrado na Inglaterra. O Parlamento de 1397 abre-se sobre a proposta do rei em acompanhar Carlos VI na sua campanha em Itália, para selar a amizade com a França. As Comunas, que não vêm com bons olhos essa campanha, redigem uma petição mostrando nomeadamente as grandes despesas reais. O rei, humilhado com o que ele considera como uma afronta às suas perrogativas, rejeita o conteúdo dessa petição. O rei prende Woodstock, FitzAlan e Beauchamp em julho de 1397. Não se conhece muito bem as razões dessa detenção: mesmo que uma crónica sugere uma conspiração contra o rei, nenhum indício o confirma. Talvez seja mais provável que Ricardo, sentindo-se mais forte, tenha decidido vingar-se dos acontecimentos de 1386-88 e eliminar eventuais inimigos. durante a sessão parlamentar de setembro de 1397, FitzAlan é o primeiro a ser colocado à prova. Após uma discussão com o rei, é condenado e executado. Quando é a vez de tomás woodstock, o conde de Nottingham anuncia a morte deste quando era seu prisioneiro em Calais. É provável que ricardo tenha encomendado a morte de Woodstock, evitando assim a execução de um prince de sangue. Tomás Beauchamp é também condenado a morte, mas a sua vida é poupada e é exilado. Tal também acontece com o irmão de FitzAlan, Tomás Arundel, arcebispo da Cantuária. As perseguições de Ricardo passam para a província. Enquanto se assegura de novos apoiantes em vários condados, também trata das diferentes instâncias locais que foram leais aos appellants. As multas que esses homens recebem trazem boas quantias para a coroa, mas para os cronistas, a legalidade desses procedimentos são incertos. Mas ainda persiste uma ameaça à autoridade de Ricardo: a dinastia dos Lencastre, representados por João de Gante e o seu filho Henrique de Bollingbroke, o conde de Derby. Os Lencastre não são apenas a família mais rica da Inglaterra, mas também de linhagem real, candidatos à sucessão de Ricardo, que não tem filhos. Em dezembro de 1397 explode uma briga no círculo fechado da corte, entre Henrique e Tomás Mowbray - que se tornaram respectivamente duque de Hereford e duque de Norfolk. Segundo Henrique, Mowbray teria declarado que ambos poderiam pretender a sucessão ao trono, como antigos "Lords appllants". Mowbray nega ter tido esses propósitos, vistos como traição. Um comité parlamentar decide que deverão resolver o problema através de um duelo mas, no último momento, Ricardo escolhe exilá-los: Tomás Mowbray por toda a vida, e Henrique de Bollingbroke por um período de dez anos. A 3 de fevereiro de 1399, João de Gante morre. Em vez de colocar Henrique como seu herdeiro, Ricardo prolonga o seu exílio indefinidamente e deserda-o. Sente-se então mais seguro, com Henrique a viver em Paris. Todavia os franceses, que se interessam por tudo o que possa perturbar Ricardo e a sua política de paz, não acolheram Henrique por acaso. Em maio, Ricardo deixa o país para uma nova expedição à Irlanda.

Em junho de 1399, Luís I de Orléans toma o controlo da corte de Carlos VI de França, agora louco. A política de "aproximação" com a coroa inglesa não convém às ambições políticas de Luís. É por isso que julga oportuno deixar Henrique de Bollingbroke regressar à Inglaterra. Com um pequeno grupo de ajudantes, Henrique desembarca em Ravenspurn, em Yorkshire, no final do mês de junho de 1399. Homens vindos dos quatro cantos do país aliam-se a ele. Quando encontra Henrique Percy, conde de Northumberland, que tem os seus desacordos com o rei, Bollingbroke menciona bem que o seu único objetivo é o de recuperar os seus bens. Percy decide não se meter nisso. A maioria dos cavaleiros e homens de confiança do rei seguiram-no para a Irlanda, e Henrique não encontra muita resistência ao longo da sua campanha a sul. Edmundo de Langley, duque de York, encarregado da proteção do reino durante a ausência do rei não tem outra solução que não seja a de tomar o partido de Henrique. Entretanto, o regresso de Ricardo da Irlanda sofre atrasos e só desembarca no país de Gales após o 23 de julho. Dirige-se então para Conwy onde, a 12 de agosto, encontra o conde de Northumberland para negociar. Uma semana mais tarde, Ricardo II rende-se a Henrique no castelo de Flint, com a promessa da vida salva. Os dois homens entram então em Londres, o rei prisioneiro atrás de Henrique. À sua chegada a 1 de setembro, é encarcerado na torre de Londres.

Henrique está agora firmemente obstinado em subir ao trono, mas tem de justificar essa ação. Diz-se muitas vezes que Ricardo, pela sua tirania e mau governo, se tornou ele mesmo indigno em ser rei. Todavia Henrique não é o melhor colocado na ordem de sucessão ao trono; o herdeiro é na verdade Edmundo Mortimer, que descende do segundo filho de Eduardo III, Lionel de Anvers. O pai de Henrique, João de Gante, é apenas o terceiro filho de Eduardo III. Henrique soluciona o problema sublinhando o fato de ser descendente de uma linhagem "masculina" direta enquanto que Mortimer é herdeiro do lado de sua avó. Oficialmente, é a 29 de setembro que Ricardo aceita voluntariamente ceder a coroa a Henrique. Bem que tal seja pouco provável, o Parlamento reunido a 30 de setembro aceita a demissão de Ricardo. Henrique é coroado Henrique IV de Inglaterra a 13 de outubro. O destino de Ricardo após a sua destituição não é muito clara. Ele fica na torre de Londres antes de ser levado para o castelo de Pontefract, pouco tempo antes do fim da guerra. Apesar do rei Henrique ter-lhe prometido a vida, rapidamente essa opção é posta de lado quando os condes de Huntingdon, Kent, Somerset e Rutland - retirados das posições que Ricardo lhes dera - começam a conspirar o assassínio do novo rei para recolocar Ricardo no poder. Bem que tenha sido antecipada, essa conspiração mostra os riscos para Henrique caso este deixasse Ricardo com vida. Ricardo morre captivo, por volta do 14 de fevereiro de 1400, embora existam dúvidas quanto à data exata e à causa real de sua morte. A 17 de fevereiro o corpo é levado para a catedral de Saint-Paul, antes de ser enterrado na igreja de Kings Langley, a 6 de março.

Em 1413, Henrique V decide deslocar o corpo de Ricardo para a sua última morada, na Abadia de Westminster. Ali, Ricardo tinha ele mesmo preparado um túmulo onde já se encontrava o corpo de sua esposa Ana.



Henrique IV (3 de Abril de 1367 - 20 de Março de 1413) foi rei de Inglaterra entre 1399 e 1413, o primeiro da dinastia de Lancaster. Henrique era filho de João de Gante, Duque de Lancaster, e neto do rei Eduardo III de Inglaterra. Nasceu no castelo de Bolingbroke no Lincolnshire e, de acordo com o costume da época, passou a ser conhecido como Henrique Bolingbroke.

Apesar de apoiar o primo Ricardo II de Inglaterra no início do reinado deste, depressa os dois homens entraram em conflitos. Henrique acabou mesmo expulso do país e deserdado em 1398. No ano seguinte, o seu pai morre na Aquitânia e Ricardo II confisca todos os seus bens para a coroa. Mas o monarca não era popular nem considerado competente e Henrique valeu-se disso para iniciar uma revolta aberta em 30 de Setembro de 1399. O golpe é bem sucedido e Henrique é coroado rei de Inglaterra a 13 de Outubro, na Abadia de Westminster, iniciando a dinastia de Lancaster. Ricardo II foi deposto e assassinado por precaução no ano seguinte.

Em 1380, Henrique casou com Maria de Bohun, de quem teve vários filhos e filhas. Já rei, Henrique desposou a princesa Joana de Navarra, filha do rei Carlos II, com quem não teve descendência.

O reinado de Henrique foi marcado por várias insurreições populares, nomeadamente no País de Gales e em Inglaterra. O insucesso destas rebeliões deveu-se em parte à habilidade militar do seu herdeiro, o futuro Henrique V.

O fim da vida de Henrique IV foi marcado por problemas graves de saúde devidos a uma doença de pele, possivelmente psoríase ou um sintoma de sífilis. Henrique morreu em 1413 e encontra-se sepultado na catedral da Cantuária.

A sua vida encontra-se retratada em Henrique IV, uma peça em duas partes de William Shakespeare.

Henrique IV era irmão da Rainha de Portugal, D. Filipa de Lencastre (Primeira rainha da dinastia de Avis).



Henrique V, (9 de Agosto, 1387 - 31 de Agosto, 1422), foi rei de Inglaterra entre 1413 e 1422. Fez parte da dinastia de Lancaster e era filho do rei Henrique IV Bolingbroke e de Maria de Bohun.

Henrique de Monmouth (assim conhecido por ter nascido no castelo de Gales com o mesmo nome) foi criado longe da corte, uma vez que não era descendente de um pretendente à coroa. Em 1399, o seu pai revoltou-se contra o primo Ricardo II de Inglaterra, acabando por depô-lo e subir ao trono. Esta mudança conferiu um novo estatuto a Henrique, agora herdeiro da coroa e como tal Duque da Cornualha e Príncipe de Gales. Estes títulos não eram só nominais. Henrique encarregou-se desde muito cedo da administração de Gales e em 1403, com apenas 16 anos, liderou os ingleses na batalha de Shrewsbury, que pôs fim à revolta organizada por Henry Percy. Apesar de seriamente ferido em batalha, Henrique sobreviveu e continuou no terreno, lutando até 1408 contra Owain Glyndwr, outro rebelde galês. A partir de 1410, Henrique assumiu o controle da administração, devido ao estado de saúde do pai, cada vez mais débil.

Finalmente em 20 de Março de 1413, Henrique de Monmouth sucede a seu pai como Henrique V. As suas primeiras medidas foram no sentido de pacificar os conflitos internos derivados da violenta subida ao poder do seu pai. Foram emitidas amnistias e reinstituídos como herdeiros os filhos de homens que se opuseram a Henrique IV e morreram por isso. Livre de pressões internas, Henrique dedicou-se à política externa, nomeadamente à sua pretensão à coroa de França e à resolução da guerra dos cem anos que durava já desde 1337. A campanha de 1415 foi marcada pelo sucesso da batalha de Azincourt (25 de Outubro), onde as suas reduzidas tropas derrotaram o grosso do exército francês e dos seus aliados. Em 1417, Henrique renova as hostilidades e conquista a Normandia, enquanto os franceses se encontravam divididos pelas disputas entre Armagnacs e borgonheses. Ruão cai em Janeiro de 1419 e em agosto Henrique acampa com o seu exército sob as muralhas de Paris. Em Setembro João o Temerário, Duque da Borgonha é assassinado e a capital perde qualquer esperança de salvamento. Depois de seis longos meses de negociações, Henrique é declarado herdeiro e regente de França pelo tratado de Troyes e casa com a princesa Catarina de Valois a 2 de Junho de 1420.

Tudo parecia apontar para a união pessoal com a França e Henrique retirou-se, no auge do seu poder, para Inglaterra. A visita a casa durou pouco tempo. Em 1421, o seu irmão Tomás, Duque de Clarence, morreu na batalha de Baugé e obrigou Henrique a regressar ao teatro de operações. O Inverno passado em campanha, no cerco de Meaux, enfraqueceu-lhe a saúde e o rei acabou por morrer de disenteria em Agosto de 1422. O corpo foi transladado para Londres e encontra-se sepultado na Abadia de Westminster.

Henrique V foi sucedido pelo filho homónimo, então um bebé de oito meses, longe de representar o líder forte que se desejava para manter os princípios do tratado de Troyes. Assim, quando Carlos VI de França morreu poucos meses depois, o seu filho ficou à vontade para ignorar os acordos e, apesar de deserdado, reclamar a coroa francesa. Só em 1801 os reis ingleses abdicaram dessa pretensão.

A sua vida encontra-se retratada em Henrique V, uma peça de William Shakespeare.



Henrique VI de Inglaterra (6 de Dezembro de 1421 - 21 ou 22 de Maio de 1471) foi Rei de Inglaterra entre 1422 e 1461, e depois por um breve período entre 1470 e 1471. Grande parte do seu reinado foi marcado pela guerra das rosas, entre as casas de Lencastre (à qual Henrique pertencia) e de York.

Henrique era filho do rei Henrique V de Inglaterra e da sua rainha consorte Catarina de Valois, princesa de França. Devido à morte prematura do seu pai, foi filho único e subiu ao trono com poucos meses. A regência foi assumida pelos tios João, Duque de Bedford e Humphrey, Duque de Gloucester e a sua mãe foi afastada da corte e da sua educação. Henrique foi coroado rei de Inglaterra aos oito anos de idade, na Abadia de Westminster a 6 de Novembro. De acordo com o tratado de Troyes, foi também rei de França, sendo coroado na Catedral de Notre-Dame de Paris a 16 de Dezembro de 1431. No entanto, Henrique não foi aceite pela maioria dos franceses, que reconheciam ao invés Carlos VII de França como seu monarca, e não é contabilizado como rei deste país.

A subida ao trono de Henrique representou um revés para a política externa de Inglaterra, nomeadamente na questão da guerra dos cem anos, até então governada pelo competente e agressivo Henrique V. O regente e duque de Bedford assumiu o controlo da frente francesa e obteve em nome de Henrique VI alguns sucessos, até ao aparecimento de Joana d’Arc e ao repudio do sobrinho pelos franceses. Depois da morte de Bedford em 1435, uma sucessão de erros militares e diplomáticos custou a perda dos territórios dominados pelos ingleses em França, nomeadamente o Ducado da Aquitânia (em 1449). Em 1453, depois da derrota na batalha de Chatillon, a guerra dos cem anos acaba com a derrota de Henrique VI. Ao atingir a maioridade, o rei mostrou-se um rei inseguro, pouco pragmático e muito influnciável, mais interessado em assuntos de religião que de governo. Em 1445, Henrique casou com Margarida de Anjou, uma mulher ambiciosa que depressa se tornou na verdadeira mão atrás das suas decisões. À medida que a situação em França piorava de dia para dia, aumentou também a instabilidade política em Inglaterra. Vários nobres desagradados com a personalidade do rei e com a influência de Margarida de Anjou, começaram a conspirar para a sua substituição, apoiando a casa de York nas suas crescentes pretensões à coroa. Este fato não passou despercebido a Henrique VI. Em 1453, na época em que Inglaterra perdeu definitivamente a guerra dos cem anos, o rei encontrava-se à beira da depressão e a sua incapacidade ditou a escolha de Ricardo, Duque de York como regente. Para piorar a situação, corria o rumor que o seu filho recém nascido, Eduardo de Westminster, era ilegítimo e que o rei era impotente.

Em 1455, Henrique sente-se restabelecido e retira todos os cargos a Ricardo de York. Esta decisão precipita o confronto aberto; pouco depois as forças de York e os partidários do rei deforntam-se na batalha de St Albans, considerada como o início da guerra das rosas que havia de durar até 1487. Em 1460 os York comandados por Ricardo Neville, Conde de Warwick conquistam Londres e a 4 de Março de 1461, depois da vitória na batalha de Mortimer’s Cross, Henrique VI é deposto e substituído pelo primo Eduardo de York, que se torna Eduardo IV de Inglaterra. Henrique VI é aprisionado na Torre de Londres, sem qualquer influência na vida pública, mas os seus partidários, em particular Margarida de Anjou, continuam a opôr-se aos York.

Aproveitando-se de uma zanga entre Warwick e Eduardo IV em 1466, Margarida consegue que este general se torne apoiante da causa do rei em 1470. Para selar a aliança foi celebrado o casamento entre Anne Neville (filha de Warwick) e Eduardo de Westminster, o príncipe de Gales. Warwick invadiu então Inglaterra, à frente dos lancastrianos e derrotou a casa de York em batalha. Henrique VI foi libertado da prisão e solenemente reinvestido como rei de Inglaterra a 30 de Outubro do mesmo ano. O seu regresso ao poder foi no entanto breve. As sucessivas vitórias de Warwick haviam-no tornado seguro demais para o que valia e fizeram-no tomar atitudes menos diplomáticas para com o ducado da Borgonha. Em resposta, o duque Carlos aliou-se ao exilado Eduardo IV de Inglaterra, conferindo-lhe a ajuda necessária para reaver a coroa. A casa de York venceu a batalha de Tewkesbury a 4 de Maio de 1471, onde o príncipe de Gales morreu nos confrontos. Henrique VI foi uma vez mais deposto e colocado sob prisão na Torre de Londres. Sem querer cometer os mesmos erros do passado, Eduardo IV considerou que seria uma ameaça constante e mandou matá-lo no fim do mês de Maio.

A vida de Henrique VI foi o tema principal de uma peça em três partes de William Shakespeare. Henrique foi o fundador do colégio de Eton e do King’s College da Universidade de Cambridge.



Eduardo IV de Inglaterra (28 de Abril de 1442 - 9 de Abril de 1483) foi um rei de Inglaterra da casa de York, que reinou entre 1461 e 1483, com um intervalo de alguns meses no período 1470-1471. Era filho de Ricardo, Duque de York e Cecília Neville, sendo trineto, através do bisavô Edmundo de Langley, do rei Eduardo III de Inglaterra.

Eduardo nasceu em Ruão (França), durante uma campanha da guerra dos cem anos. Talvez devido ao ambiente militar da época, o seu nascimento como primogénito do Duque de York não foi comemorado devidamente. Num documentário da BBC, levantou-se a hipótese de Eduardo ser na realidade o produto de uma relação adúltera de Cecília Neville e portanto ilegítimo. Na época, no entanto, não se questionou a sua paternidade e Eduardo foi educado como o herdeiro do Duque de York.

Em 1455, o rei Henrique VI expulsou o pai de Eduardo da corte, numa tentativa de reaver o poder perdido durante a convalescência da sua depressão. Ricardo de York não estava disposto a largar a governação sem luta e iniciou a guerra das rosas contra a casa de Lancaster, o partido do rei. Depois de alguns sucessos iniciais, assistidos pelo general Richard Neville, Conde de Warwick, que incluíram a captura do próprio Henrique VI, em 1460 o Duque de York perdeu a batalha de Wakefield contra os exércitos comandados por Margarida de Anjou. A rainha consorte não lhe perdoou a traição contra o rei e ordenou a sua execução. Com o pai morto e a sua cabeça exposta nas muralhas de York, Eduardo tornou-se Duque de York com apenas dezoito anos.

A sua inexperiência foi largamente compensada por Richard Neville, o seu mentor, que viu nele as capacidades de um líder nato, capaz de substituir Henrique VI. Enquanto Margarida de Anjou fazia campanha no Norte, Warwick tomou Londres no ano seguinte, aprisionou Henrique VI na Torre de Londres e Eduardo tornou-se rei de Inglaterra.

Eduardo mostrou-se um rei consensual e após a sua subida ao trono não houve ameaças imediatas ao seu poder. Ao contrário do seu antecessor, tinha ideias muito próprias quanto ao que fazer e não era facilmente influenciável. Nomeadamente na questão da escolha da sua mulher. Apesar dos conselhos de Warwick, que lhe diziam para encontrar a sua rainha numa casa europeia, ou, excluíndo essa hipótese, uma das suas filhas, Eduardo resolveu seguir os seus próprios desejos e casou em segredo em 1464. A escolhida era Isabel Woodville, uma viúva oriunda de uma família obscura, que de imediato saltou para a ribalta. Warwick teve dificuldade em engolir este revés, ainda para mais sabendo que perdia poder e influência a favor dos Woodville a cada dia que passava. Passado algum tempo revoltou-se e levantou um exército contra Eduardo e aprisioinou-o após a batalha de Edgecote Moor em 1469.

Warwick tornou-se então no senhor de Inglaterra em tudo menos na dignidade real. Mas a sua personalidade já lhe trouxera inimigos e a popularidade de Eduardo não lhe garantia sucesso. Em 1470 é obrigado a fugir para França e encontra refúgio em Margarida de Anjou, aí exilada desde 1461. Agora sogro de Eduardo de Westminster, o herdeiro de Henrique VI, Warwick retorna a Inglaterra e consegue derrotar os exércitos de Eduardo. Henrique VI é reposto no trono a 30 de Outubro e Eduardo é obrigado a fugir para a corte do cunhado Carlos, o Temerário, Duque da Borgonha.

Regressando a Inglaterra com o apoio de um exército borgonhês, Eduardo derrota o seu antigo aliado na batalha de Barnet em Abril de 1471 e em Maio destrói o resto das forças lancastrianas na batalha de Tewkesbury. Com Eduardo de Westminster morto e Margarida de Anjou aprisionada, apenas o frágil Henrique VI se mantinha como ameaça ao seu poderio. A situação foi resolvida com o assassinato discreto do antigo rei.

Nos anos seguintes, Eduardo encontrou problemas dentro da sua própria família, nomeadamente com os irmãos Jorge, Duque de Clarence e Ricardo, Duque de Gloucester, ambos casados com as duas filhas de Warwick. Após uma tentativa de traição em 1478, Eduardo mandou executar Clarence, diz a lenda que por afogamento dentro de um barril de vinho.

Eduardo morreu de repente em 1483 e encontra-se sepultado no Castelo de Windsor. A sua morte pôs fim a um período de paz relativa. O seu filho Eduardo V foi rapidamente deposto pelo tio Ricardo de Gloucester, cuja subida ao trono, em virtude da sua impopularidade, lançou o episódio final na guerra das rosas.



Eduardo V de Inglaterra (2 de Novembro de 1470 — 1483) foi Rei de Inglaterra da casa de York, durante o ano de 1483, apesar de nunca ter sido coroado. Era filho do rei Eduardo IV de Inglaterra e da sua consorte Isabel Woodville.

Eduardo nasceu na Abadia de Westminster, onde a sua mãe encontrara refúgio durante o exílio do pai e breve restauração de Henrique VI. Foi criado Príncipe de Gales em Junho de 1471, depois do regresso definitivo de Eduardo IV ao trono.

Em Abril de 1483, Eduardo sucedeu ao seu pai, com apenas 12 anos. Juntamente com o seu irmão mais novo Ricardo, Duque de York, foi entregue à guarda do tio Ricardo, Duque de Gloucester, que também assumiu a regência. Menos de três meses depois, Gloucester fez aprovar no parlamento uma resolução que declarava os filhos de Eduardo IV ilegítimos e portanto indignos de asceder ao trono. A decisão fundamentava-se em provas da união de Eduardo IV com uma tal Leonor Talbot, o que tornava bígamo o casamento com Isabel Woodville. Uma vez que os restantes irmãos de Eduardo IV estavam já mortos, e os filhos de George, Duque de Clarence estavam barrados de asceder ao trono pela traição do seu pai, Gloucester declarou-se rei de Inglaterra com o nome de Ricardo III.

Eduardo V e o seu irmão Ricardo foram então levados para a Torre de Londres e nunca mais foram vistos em público. O que lhes aconteceu permanece incerto e é um dos mistérios da história de Inglaterra. O mais provável é terem sido assassinados, talvez por ordens de Ricardo III, que desejava assegurar a sua condição de rei.



Ricardo III (2 de Outubro de 1452 - 22 de Agosto de 1485) foi o último Rei de Inglaterra da casa de York, entre 1483 e 1485. Era filho de Ricardo, Duque de York e Cecily Neville, sendo o irmão mais novo de Eduardo IV, Rei de Inglaterra e de George, Duque de Clarence. A sua subida ao trono foi marcada pelo desaparecimento dos seus sobrinhos (os príncipes na Torre) e iniciou uma revolta liderada por Henrique Tudor que provocou o fim da Guerra das Rosas. A sua vida foi retratada por William Shakespeare na peça Ricardo III, entre em 1592 e 1593.

Ricardo nasceu no Castelo de Fotheringay, numa altura em que o seu pai, o Duque de York, se afirmava como figura alternativa a Henrique VI, um rei fraco e influenciável. Desta disputa iniciou-se a Guerra das Rosas. Após a execução de Ricardo de York ordenada por Margarida de Anjou depois da batalha de Wakefield, o pequeno Ricardo foi entregue aos cuidados do Conde de Warwick, então um firme apoiante da facção de York. Em 1472 Ricardo casou com Anne Neville, a filha mais nova de Warwick, de quem teve o seu único descendente Eduardo de Middleham, futuro Príncipe de Gales.

Em 1461, o seu irmão mais velho sucede em depôr Henrique VI e torna-se Eduardo IV de Inglaterra. Ricardo recebe o título de Duque de Gloucester e nos anos seguintes mostra ser um leal servidor de Eduardo. Por contraste, George de Clarence nunca cessou de conspirar contra o rei e irmão e acabou executado em 1478. Ricardo acumulou o ducado com a nomeação de governador do rei para o Norte, onde se provou como líder militar de talento. A fidelidade ao rei e a competência na gerência do Norte trouxe outros benefícios e Ricardo tornou-se no nobre mais poderoso da corte.

Em Abril de 1483, Eduardo IV morre de repente, sendo sucedido pelo filho de 12 anos Eduardo V. De acordo com o seu testamento, Ricardo de Gloucester é nomeado regente da coroa e protector do jovem rei e do seu irmão de 9 anos Ricardo, o Duque de York. As disposições testamentárias de Eduardo IV não recebidas como boas notícias, principalmente pelos Woodville (os parentes da rainha consorte) que receavam ver a sua posição denegrida. Baseado em fatos concretos ou não, Ricardo foi avisado pelo Lord Hastings de uma tentativa de o isolar dos sobrinhos e afastar do poder. O Duque de Gloucester reagiu depressa. Enquanto Eduardo V regressava de Gales acompanhado pelo tio materno Anthony Woodville Conde Rivers, interceptou o cortejo e mandou prender e executar sumariamente Woodville e outros membros da família por alegada tentativa de assassinato.

A 22 de Junho de 1483, Ricardo de Gloucester faz ler uma declaração sua em que anuncia a sua intenção de se tornar rei, baseado numa alegada ilegitimidade de Eduardo V e do Duque de York. Três dias depois apresenta as provas perante o Parlamento, onde demonstra que o casamento de Eduardo IV com Isabel Woodville era bígamo, como tal nulo e sendo assim, a sua progenitura estava automaticamente barrada de aceder ao trono. O Parlamento analisou as evidências e emitiu um documento conhecido como Titulus Regius, onde excluía o direito de sucessão dos filhos de Eduardo IV. Com esta medida, e uma vez que George, o Duque de Clarence, tinha sido executado por traição, Ricardo de Gloucester tornou-se rei de Inglaterra, sendo coroado a 6 de Julho. Após a coroação de Ricardo III, Eduardo V e o Duque de York foram levados para a Torre de Londres e nunca mais foram vistos em público. A sua sorte é um dos mistérios da história de Inglaterra e Ricardo III um dos principais suspeitos de um possível assassinato.

Os métodos pouco convencionais que Ricardo III usou para subir ao trono, bem como o desaparecimento dos seus sobrinhos, lançaram rumores de usurpação e reacenderam a Guerra das Rosas. Quase de imediato, estalou uma rebelião liderada por Henry Stafford, Duque de Buckingham, o seu antigo melhor amigo e aliado, que não tendo grandes hipóteses de aspirar à coroa por si, decidiu apoiar Henrique Tudor, Conde de Richmond. Ricardo III controlou esta ameaça e Buckingham foi executado em Salisbury em Novembro, mas Tudor já se encontrava a recrutar tropas em Gales.

Em Abril de 1484, Eduardo de Middleham, Príncipe de Gales, único filho de Ricardo III morre, deixando-o sem herdeiros. Por influência de Anne Neville, Ricardo nomeia então Eduardo Conde de Warwick (filho de 10 anos do Duque de Clarence), como sucessor, mas depois da morte desta muda de ideias e escolhe antes João de la Pole, Conde de Lincoln, um homem adulto que lhe era leal.

Em Agosto de 1485, Henrique Tudor e Ricardo III defrontaram-se na Batalha de Bosworth Field, que haveria de ser a última da guerra das rosas. Ricardo III perdeu o confronto graças à união dos seus inimigos e à deserção de uma parte importante do seu contingente, liderada pelo Lorde Stanley e o Conde de Northumberland. A sua morte nesta batalha abriu o caminho para a subida ao trono de Henrique VII e início da dinastia de Tudor. Segundo Shakespeare as suas últimas palavras foram: "A horse! My kingdom for a horse!"

Ricardo III é um dos reis mais populares da história do Reino Unido, pela sua personalidade dúbia que inspira ainda hoje em dia acesos debates. Henrique VII patrocinou mais tarde John Morton, na sua biografia de Ricardo III, que basicamente se dedicava a denegrir a imagem do último dos York. Morton acusou Ricardo III de inúmeras malvadezes e lançou a acusação do assassinato dos sobrinhos. Recentemente, historiadores começaram a pôr em causa a correcção factual desta biografia escrita claramente com objectivos políticos.



Henrique VII (28 de Janeiro de 1457 - 21 de Abril de 1509) foi o primeiro Rei de Inglaterra da casa de Tudor, reinando entre 1485 e 1509. A sua subida ao poder e o seu casamento com Isabel de Iorque colocaram um fim na Guerra das Rosas e consequente instabilidade política.

Henrique nasceu em Pembroke, no País de Gales, filho de Edmundo Tudor, Conde de Richmond, de quem herdou o título, e de Margarida Beaufort, trineta de Eduardo III de Inglaterra por via de João de Gant. Seu pai morreu dois meses depois de seu nascimento. Henrique passou parte de sua vida com o tio, Jasper Tudor. Quando Eduardo IV retornou ao trono em 1471, Henrique foi obrigado a fugir para a Bretanha, onde permaneceu durante 14 anos. Através da sua mãe, Henrique podia ser considerado como candidato ao trono na confusão política da Guerra das Rosas. Por isso mesmo cresceu no exílio na Bretanha, a salvo da Casa de Iorque, que o via como ameaça.

Durante o reinado do popular Eduardo IV, a facção de Lancaster à qual Henrique pertencia pouco pode fazer para reaver o trono. No entanto, a sua morte repentina em 1483 e o golpe que levou o seu irmão o Duque de Gloucester ao trono como Ricardo III, fez renascer o conflito.

No mesmo ano, Henrique abandonou a Bretanha para unir-se à rebelião de seu primo Henrique Stafford, Duque de Buckingham contra Ricardo III; entretanto, a vitória deste último forçou Henrique a fugir precipitadamente para a Bretanha, buscando de novo o amparo do Duque da Bretanha, Francisco II. Em 1485, depois de receber apoio financeiro do duque, e assegurando um certo apoio galês, Henrique lançou uma nova rebelião ao desembarcar de novo em Gales; Ricardo III saiu ao encontro de Henrique, mas, devido à traição de certos nobres, seu exército foi incapaz de ganhar a batalha de Bosworth, na qual o próprio Ricardo III lutou com valentia e morreu em 22 de agosto de 1485.

Com Ricardo III morto no conflito, Henrique foi aclamado rei sem nenhum opositor direto. Sua luta pelo direito ao trono se baseou no fato de seu avô paterno ter se casado com Catarina de Valois viúva de Henrique V, além do que o lado da mãe (Beauforts) dizia ter o sangue real pela parte ilegítima de João de Gante, terceiro filho de Eduardo III.

A sua primeira medida foi declarar-se rei desde o dia da batalha, o que tecnicamente lhe permitia acusar e condenar todos os que lutaram contra ele por traição. Curiosamente, Henrique VII não exerceu este direito na plenitude e deixou viver alguns opositores. Para sarar as feridas entre a nobreza de Inglaterra, prometeu ainda casar com Isabel de Iorque, filha de Eduardo IV sendo portanto a herdeira da família inimiga, o que aconteceu em 18 de janeiro de 1486. Isso marcou a união das casas de Iorque e Lancaster e a Dinastia Tudor foi representada por uma rosa que unia as rosas das duas casas. Henrique VII não era no entanto um rei permissivo e grande parte do sucesso do seu reinado, relativamente pacífico, deve-se ao fato de ter mantido os seus nobres sob apertada vigilância.

Com a coroa segura, Henrique dedicou-se à reconstrução do reino, devastado pela guerra civil. Não fez nenhuma tentativa de reaver as possesões inglesas em França (como o Ducado da Aquitânia), perdidas nos episódios finais da guerra dos cem anos. Em vez disso investiu o seu tempo na reestruturação dos impostos, aumentando a carga fiscal da nobreza, e da economia em geral. Uma das medidas neste campo foi subsidiar a construção de uma frota comercial para desenvolver o comércio com o continente. A marinha inglesa provou ser uma boa aposta, como se verificou no reinado da sua neta Isabel.

Do ponto de vista diplomático, Henrique procurou restaurar as relações com França, e Escócia. Com a Espanha dos Reis Católicos, Henrique negociou o casamento de Catarina de Aragão com o seu herdeiro Artur, Príncipe de Gales. Depois da morte deste, Catarina tornou-se na mulher do seu segundo filho Henrique, então Duque de Iorque. Esta união, em particular o divórcio com que terminou, iria trazer consequências dramáticas para a história da Europa.

Henrique VII também formou uma aliança com o Sacro Império Romano, sob o reinado do imperador Maximiliano I (1493–1519) e convenceu o Papa Inocêncio VIII a editar a Bula da Excomunhão contra todos os pretendentes ao trono de Henrique VII.



Henrique VIII de Inglaterra (nascido: Henry Tudor; 28 de junho de 1491 — 28 de janeiro de 1547) foi rei de Inglaterra a partir de 21 de abril de 1509 (coroado a 24 de junho de 1509) até à sua morte. Foi-lhe concedido o título de rei da Irlanda pelo Parlamento Irlandês em 1541, tendo obtido anteriormente o título de Lorde da Irlanda. Foi o segundo monarca da dinastia Tudor, sucedendo a seu pai, Henrique VII, e pretendente ao trono francês.

Henrique VIII foi uma figura marcante na História, ficando famoso por se ter casado seis vezes e por ter exercido o poder mais absoluto de entre todos os monarcas ingleses. Entre os fatos mais relevantes de seu reinado se inclui a ruptura com a Igreja Católica Romana e seu estabelecimento como líder da Igreja da Inglaterra (ou Igreja Anglicana), a dissolução dos monastérios, e a união da Inglaterra com Gales.

Também promulgou legislações importantes, como as várias atas de separação com a Igreja de Roma, de sua designação como Chefe Supremo da Igreja de Inglaterra, as Union Acts de 1535 e 1542, que unificaram a Inglaterra e Gales como uma só nação, a Buggery Act de 1533, primeira legislação contra a sodomia na Inglaterra, a Witchcraft Act de 1542, que castigava com a morte a bruxaria, "por invocar ou conjurar a um espírito demoníaco".

Nascido em Greenwich, no Palácio de Placentia, Henrique VIII foi o sexto filho de Henrique VII e Isabel de Iorque. O seu pai, membro da Casa de Lancaster, adquiriu o trono por direito de conquista, já que o seu exército derrotou o último Plantageneta, o rei Ricardo III, e posteriormente completou os seus direitos casando-se com Isabel, filha do rei Eduardo IV.

Somente três de seus seis irmãos sobreviveram à infância: Artur, Príncipe de Gales, Margarida Tudor, rainha consorte da Escócia, e Maria Tudor, rainha consorte da França. Em 1493, com dois anos, Henrique foi nomeado Condestável de Castelo de Dover e Lorde Guardião do Cinque Ports. Em 1494, ele foi criado Duque de York. Posteriormente, foi nomeado Conde Marechal de Inglaterra e Lorde Tenente da Irlanda. A Henrique foi-lhe dada uma educação de primeira classe com professores de renome, tornando-se fluente em latim, francês e espanhol. Como era de se esperar que o trono passaria para o príncipe Artur, o seu irmão mais velho, Henrique estava preparado para uma vida na Igreja.

Em 1501 assistiu ao casamento de seu irmão mais velho, Artur, com Catarina de Aragão. O casal tinha quinze e dezasseis anos, respectivamente, na época. Os dois foram enviados por um tempo a Gales, como costumavam fazer com o herdeiro do trono e sua esposa. Em 1502, Artur, com quinze anos, faleceu com tuberculose. Em consequência disto, aos onze anos de idade, Henrique, Duque de York herdou o direito ao trono inglês, e como tal, pouco depois foi nomeado príncipe de Gales.

As negociações sobre o direito de viuvez de Catarina se arrastaram por um ano. O rei não lhe cedia o direito previsto no contrato, um terço da renda de Gales, Cornualha e Chester, porque não havia recebido a segunda parte do dote de Catarina, e os pais de Catarina não a deixavam voltar para a Espanha sem o direito garantido. Desta forma, Catarina manteve-se hostilizada pela corte em um país estrangeiro, sem bens e com uma pequena remuneração. Determinada a ser rainha da Inglaterra, Catarina aceitou o pedido de casamento do rei, que acabara de ficar viúvo. Para que não houvesse dúvida quanto à legitimidade do casamento, o rei requereu uma dispensa papal, baseada na não consumação do casamento dela com seu primogénito. Ao tomar ciência que seus herdeiros não teriam preferência sobre Henrique na coroa de Inglaterra, e com o apoio de seus pais, Catarina recusou o pedido do rei, o que lhe deixou enfurecido. O embaixador espanhol comunicou ao rei que os reis espanhóis exigiam o noivado de Catarina e o príncipe de Gales. O rei cedeu, sem intenção de honrar o compromisso firmado por uma criança de doze anos.

Para que o novo Príncipe de Gales se casasse com a viúva do seu irmão, uma dispensa papal era normalmente necessária para anular o impedimento de afinidade porque, como disse no livro de Levítico: "Se um irmão casar com a mulher do irmão, eles não terão filhos". Catarina jurou que o seu casamento com o príncipe Artur não tinha sido consumado. Ainda assim, ambas as partes inglesa e espanhola decidiram que uma dispensa papal adicional de afinidade seria prudente para eliminar qualquer dúvida sobre a legitimidade do casamento.

A impaciência da mãe de Catarina, a rainha Isabel I de Espanha, induziu o Papa Júlio II para conceder isenções sob a forma de uma bula papal. Assim, 14 meses após a morte do seu jovem marido, Catarina viu-se noiva do seu irmão ainda mais novo, Henrique.

Em 1505, Henrique VII perdeu seu interesse em manter a aliança com a Espanha, e o jovem príncipe de Gales foi obrigado a declarar que o compromisso havia sido arranjado sem seu consentimento. Porém, as negociações diplomáticas a respeito do casamento continuaram até a morte de Henrique VII em 1509. Em seu leito de morte, o rei disse ao seu filho que ele estava livre para se casar com quem quisesse. Encantado com Catarina desde a infância e certo que a segurança da Inglaterra dependia de um aliança tríplice entre Espanha, Inglaterra e o Imperador, no dia 11 de junho de 1509, com apenas dezassete anos, Henrique, casou-se com a viúva de seu irmão, Catarina de Aragão, com 23 anos. No dia 24 de junho do mesmo ano, ambos foram coroados respectivamente rei e rainha da Inglaterra na Abadia de Westminster. A primeira gravidez da rainha Catarina terminou em aborto em 1510. Logo deu à luz um bebê do sexo masculino, chamado Henrique, em 11 de janeiro de 1511, mas o bebé só viveu até 22 de fevereiro do mesmo ano.

Com sua coroação, Henrique VIII teve que enfrentar as problemáticas consequências dos impostos nobiliários estabelecidos por Richard Empson e Edmund Dudley, membros do gabinete de seu pai. Fez prender a ambos na Torre de Londres, e posteriormente os decapitou. Esta foi uma das muitas maneiras em que se diferenciou dos princípios de Henrique VII. Outra diferença se fez notória pela inclinação bélica de Henrique VIII, enquanto seu predecessor tinha favorecido políticas pacíficas.

Henrique foi um homem da Renascença e a sua corte foi um centro de inovação académica e artística e excesso de glamour, consubstanciada no Campo do Pano de Ouro. Ele era músico, escritor e poeta. A sua melhor composição musical é conhecida como Pastime with Good Company ou The Kynges Ballade. Ele também foi um jogador ávido e jogador de dados, e destacou-se no desporto, principalmente na justa, na caça e no ténis real. Ele também era conhecido pela sua forte dedicação ao cristianismo.

Durante os dois anos posteriores à ascensão de Henrique VIII, o bispo de Winchester, Richard Fox, junto a William Warham, controlou os assuntos do Estado. De 1511 em diante o poder real foi ostentado por Thomas Wolsey. Em 1511, Henrique se uniu à Liga católica, formada pelos dirigentes europeus opostos ao rei Luís XII da França. A liga incluía figuras como o Papa Júlio II, o Imperador do Sacro Império Romano, Maximiliano I, e o rei Fernando II da Espanha, com quem Henrique assinou o tratado de Westminster. Henrique uniu-se pessoalmente ao exército, e cruzou o Canal da Mancha até a França, onde tomou parte das emboscadas e batalhas.

Em 1514, Fernando II abandonou a aliança, e as outras partes fizeram paz com a França. A consequente irritação com a Espanha iniciou a discussão sobre o divórcio com a rainha Catarina. Entretanto, com a ascensão em 1515 do rei Francisco I ao trono da França, Inglaterra e França aumentaram seu antagonismo, e Henrique se reconciliou com o rei da Espanha. Em 1516 a rainha Catarina deu à luz uma menina, Maria, renovando as esperanças de Henrique de poder ter um herdeiro varão, apesar dos prévios fracassos de sua esposa.

Fernando II morreu em 1516, para ser sucedido por seu neto, (e sobrinho da rainha Catarina), Carlos V. Em outubro de 1518, Wolsey tinha elaborado o Tratado de Londres com o papado, com a ideia de conseguir um triunfo para a diplomacia inglesa, colocando a Inglaterra no centro de uma nova aliança europeia com o objetivo de repelir as invasões mouriscas na Espanha, tal como tinha solicitado o Papa.

Maximiliano morreu em 1519, e Wolsey, que era Cardeal da igreja católica, propôs secretamente o nome de Henrique como candidato para o posto de Imperador do Sacro Império Romano, apesar de publicamente parecer apoiar o rei francês, Francisco. Finalmente, Carlos da Espanha foi o eleito pelos príncipes eleitores. A rivalidade subsequente entre França e Espanha permitiu a Henrique atuar como mediador. Tanto Francisco como Carlos V tentaram gozar do favor de Henrique VIII. Depois de 1521 a influência inglesa sobre a Europa começou a minguar. Henrique entrou em uma aliança com Carlos V através do tratado de Bruges, e Francisco I foi derrotado pelo exército imperial de Carlos na Batalha de Pavia, em fevereiro de 1525. A confiança do Imperador em Henrique diminuiu no mesmo ritmo que o poder inglês sobre o continente. Henrique se mostrou contrariado em ajudá-lo a conquistar a flor-de-lis, apesar das garantias de Carlos. Isto terminou com o Tratado de Westminster, em 1527.

O interesse de Henrique nos assuntos europeus estendeu-se até o ataque contra a revolução alemã de Lutero. Em 1521, Henrique VIII chegou a escrever um pequeno livro intitulado "Defesa dos Sete Sacramentos" que fez com que Leão X lhe outorgasse o título de "Defensor da Fé" (Fidei Defensor).

Contrariamente à sua imagem popular, Henrique pode não ter tido muitas amantes e, para além das mulheres com quem se casou mais tarde, existe apenas duas amantes que são completamente indiscutíveis: Bessie Blount e Maria Bolena.

Blount deu à luz o filho ilegítimo de Henrique, Henrique FitzRoy. O menino foi feito Duque de Richmond, em junho de 1525, o que fez com que alguns imaginassem isto como um passo para a sua legitimação. Em 1533, FitzRoy casou-se com Maria Howard, prima de Ana Bolena, mas morreu três anos depois, sem sucessão. No momento da morte de FitzRoy, o rei estava tentando passar uma lei que permitiria que o seu filho ilegítimo se tornasse seu sucessor legítimo.

Maria Bolena era irmã de Ana Bolena, que mais tarde se casou com Henrique. Pensa-se que ela foi dama de companhia de Catarina numa certa altura, entre 1519 e 1526. Houve especulação de que dois filhos de Maria, Catarina e Henrique, fossem filhos de Henrique, mas isto nunca foi provado e o rei nunca os reconheceu como ele fez com Henrique FitzRoy.

Em 1510, foi comunicado que Henrique estava a ter um caso com uma das irmãs de Edward Stafford, 3.º Duque de Buckingham, Isabel ou Ana. Chapuys escreveu que: o marido da senhora que foi embora, expulsou-a e colocou-a num convento a quilómetros daqui, de forma a que ninguém pode vê-la. Henrique também parece ter tido um caso com uma das irmãs Shelton em 1535. Tradicionalmente, crê-se que se tratava de Margarida Shelton, mas pesquisas recentes levaram à alegação de que era Maria Shelton.

Há também razões para suspeitar que ele teve um caso com uma mulher desconhecida em 1534. Alison Weir alegou que, além desses cinco affairs, havia também vários outros de curto prazo e ligações secretas, a maioria deles acontecendo na mansão do rei ao longo do rio, a Jordan House.

A coroação de Henrique VIII foi a primeira pacífica da Inglaterra em muitos anos; entretanto, a legitimidade da dinastia Tudor tinha que ser posta a prova. O povo inglês parecia descontente com as regras de sucessão feminina, e Henrique sentiu que só um herdeiro masculino poderia assegurar o trono. A rainha Catarina ficou grávida pelo menos sete vezes (a última vez em 1518), mas só uma das crianças, a princesa Maria, sobreviveu à infância. Henrique tinha ficado com várias amantes, incluindo Maria Bolena e Isabel Blount, com quem tinha tido um filho ilegítimo, Henry Fitzroy, primeiro duque de Richmond e Somerset. Em 1526, quando ficou claro que a rainha Catarina não poderia ter mais filhos, Henrique começou a perseguir a irmã de Maria Bolena, Ana Bolena.

Ainda que não haja dúvidas de que a motivação principal de Henrique para se divorciar de Catarina fosse o seu desejo de ter um herdeiro homem, o rei ficou empolgado com Ana, apesar da sua inexperiência infantil e do seu pouco poder de atração. Ana, ao início, resistiu às suas tentativas de seduzi-la, e recusou-se a tornar-se sua amante como a sua irmã Maria. Ela disse: "Rogo a Sua Alteza mais fervorosamente a desistir, e para isso a minha resposta em boa parte. Eu preferiria perder a minha vida do que a minha honestidade". Esta recusa fez com que Henrique ainda ficasse mais atraído, e ele perseguiu-a implacavelmente. Eventualmente, Ana viu a sua oportunidade na paixão de Henrique e determinou que ela só iria render-se a ele se a reconhecesse como rainha. Logo tornou-se num desejo absorvente do Rei para anular o seu casamento com Catarina.

A insistente tentativa do rei em terminar o seu casamento com a rainha Catarina foi apelidada de "A questão real". O cardeal Wolsey e William Warham começaram secretamente a investigar a validade do casamento. Obviamente, a rainha Catarina tinha testemunhado que seu matrimónio com Artur, Príncipe de Gales, não havia sido consumado, e portanto isso não foi impedimento para o subsequente casamento com Henrique. Sem informar o cardeal Wolsey, Henrique apelou diretamente à Santa Sé. Enviou o seu secretário William Knight a Roma para anular a Bula de Júlio II, Bula pela qual foi permitido o casamento entre Henrique VIII e Catarina de Aragão argumentando que ela, a Bula, havia sido obtida mediante enganos, e era consequentemente nula. Além disto, pedia ao Papa Clemente VII que lhe outorgasse uma dispensa para permitir casar-se com qualquer mulher, inclusive escolhendo por grau de afinidade. Esta dispensa era necessária, já que Henrique havia previamente tido relações com a irmã de Ana Bolena, Maria. Knight encontrou-se com o Papa Clemente VII, que era praticamente prisioneiro do Imperador Carlos V. Teve dificuldades até em falar com o Papa, e quando finalmente o fez, não conseguiu os resultados que procurava. Clemente VII não estava de acordo com a anulação do matrimónio, mas concedeu a dispensa, presumindo que a mesma não teria muito efeito enquanto Henrique tivesse que permanecer casado com Catarina.

Informado do ocorrido pelo representante do Rei, o Cardeal Wolsey enviou Stephen Gardiner e Edward Fox a Roma. Talvez temendo o sobrinho de Catarina, (o Imperador Carlos V), o Papa Clemente inicialmente evitou atendê-los. Fox foi enviado de volta com uma comissão autorizando o início de um processo, mas as restrições impostas tornavam-na praticamente insignificante.

Gardiner procurou formar uma comissão executiva que decidisse com antecedência os pontos legais a discutir. Clemente VII foi persuadido a aceitar tal proposta, e permitiu ao cardeal Wolsey e ao cardeal Lorenzo Campeggio levar o caso juntos. A comissão actuou em segredo. A comissão estabeleceu que a Bula Papal autorizando o casamento de Henrique com Catarina seria declarada nula se as alegações em que se baseava se demonstrassem falsas. Por exemplo, a Bula seria nula se resultasse falso que o matrimónio havia sido absolutamente necessário para manter a aliança anglo-espanhola.

O cardeal Campeggio chegou a Inglaterra em 1528. Os procedimentos, entretanto, foram paralisados quando os espanhóis emitiram um segundo documento que presumia o outorgamento da necessária dispensa. Assegurava-se que, uns poucos meses antes de outorgar a dispensa numa Bula pública, o Papa Júlio II tinha outorgado o mesmo numa nota privada enviada a Espanha. A comissão não autorizou os cardeais Wolsey e Campeggio a determinar a validade da nota, e durante oito meses as partes discutiram sobre a sua autenticidade. Durante a primavera de 1529, uma equipa jurídica de Henrique VIII completou o sumário dos argumentos reais incluindo o Levítico 20, 21.

Enojado com o cardeal Wolsey pela demora, Henrique destituiu-o de seus poderes e riqueza. Acusou-o de "præmunire" (rebaixar a autoridade do Rei investindo a representação papal), mas Wolsey morreu pouco tempo depois. Com o Cardeal Wolsey caíram outros poderosos membros da Igreja na Inglaterra. O poder passou então para Sir Thomas More como novo Lord Chanceler, a Thomas Cranmer como novo arcebispo de Canterbury e a Thomas Cromwell como primeiro conde de Essex e Secretário de Estado da Inglaterra.

Henrique participou num encontro com o rei francês em Calais, no inverno de 1532, no qual ele contou com o apoio de Francisco I da França para o seu novo casamento. Imediatamente após retornar a Dover, na Inglaterra, Henrique e Ana fizeram um casamento em segredo. Ela logo ficou grávida e houve então um segundo casamento, que teve lugar em Londres, em 25 de janeiro de 1533. Os eventos começaram a desenrolar-se rapidamente. Em 23 de maio de 1533, Cranmer, convocou uma sessão especial da corte no Priorado de Dunstable para se pronunciar sobre a validade do casamento do rei com Catarina de Aragão, declarou o casamento de Henrique e Catarina nulo e sem efeito. Cinco dias depois, no dia 28 de maio de 1533, Cranmer declarou o casamento de Henrique e Ana como bom e válido.

Catarina foi formalmente despojada do seu título de rainha, e Ana foi coroada consequentemente rainha consorte em 1 de junho de 1533. A Princesa Maria (futura rainha Maria I de Inglaterra) foi rebaixada a filha ilegítima, e substituída como provável herdeira pela nova filha de Ana, Isabel (a futura rainha Isabel I de Inglaterra), nascida prematuramente em 7 de setembro desse ano, recebendo esse nome em honra da mãe de Henrique. Tendo perdido o título de rainha, Catarina recebeu o título de Princesa viúva de Gales; Maria deixou de ser "Princesa de Gales", para passar a ser uma simples "Lady". Catarina de Aragão morreu de em 1536 de causas ainda não muito claras (há quem diga que ela padecia de cancro ou que foi envenenada).

Esta atitude de afronta sem precedentes à Igreja Católica valeu-lhe a excomunhão, declarada por Clemente VII em 11 de julho de 1533. No seguimento da excomunhão, Henrique decidiu o rompimento com a Igreja Católica Romana, declarou a dissolução dos monastérios, tomando assim muitos dos haveres da Igreja, e formou a Igreja Anglicana (Church of England), da qual se declarou líder. Esta decisão tornou-se oficial com o decreto de supremacia (Act of Supremacy) de 1534. A recusa em jurar obediência a este decreto levou-o a condenar o humanista Thomas More, seu antigo Lord Chanceler, à morte.

O Papa respondeu a estes acontecimentos excomungando Henrique VIII em julho de 1533. Seguiu-se uma considerável agitação religiosa. Liderados por Thomas Cromwell, o parlamento aprovou várias atos que selaram a brecha com Roma na primavera de 1534. O Estatuto de restrição de apelações ("Statute in Restraint of Appeals") proibiu as apelações das cortes eclesiásticas ao Papa. Também preveniu que a Igreja decretasse qualquer tipo de regulação sem prévio consentimento do Rei. A Acta de designações eclesiásticas (Ecllesiastical Appointments Act) de 1534, decretou que os clérigos eleitos para bispos deveriam ser nomeados pelo soberano. O Ato de Supremacia (Act of Supremacy) do mesmo ano, declarou que "o Rei era o único Chefe Supremo na Terra da Igreja da Inglaterra". O Ato de Traição (Treasons Act), também de 1534, converteu em alta traição, castigada com a morte, não reconhecer a autoridade do Rei, entre outros casos. Ao Papa foram negadas todas as fontes de ingressos monetários, como o Óbolo de São Pedro.

Não aceitando as decisões do Papa, o parlamento validou o matrimónio entre Henrique e Ana Bolena com a Primeira Lei de Sucessão ("Act of Succession") de 1534. A filha de Catarina, Lady Maria, foi declarada ilegítima, e os descendentes de Ana Bolena passaram a entrar na linha de sucessão real. Todos os adultos foram obrigados a reconhecer as previsões desta lei; quem não o fizesse era condenado à prisão perpétua. A publicação de qualquer escrito alegando que o matrimónio de Henrique com Ana era inválido, resultava em uma acusação de alta traição, que poderia ser castigado com pena de morte.

A oposição às políticas religiosas de Henrique foi rapidamente suprimida. Vários monges dissidentes foram torturados e executados. Cromwell, para quem foi criado o posto de "Vice-gerente espiritual" foi autorizado a visitar mosteiros, supostamente para assegurar-se de que seguiam as instruções reais, mas na prática para fazer suas riquezas. Em 1536, uma lei do Parlamento permitiu que Henrique confiscasse as possessões dos mosteiros deficitários (aqueles com arrecadação anual de 200 libras ou menos).

O rei e a rainha não estavam satisfeitos com a vida conjugal. O casal real apreciava períodos de calma e carinho, mas Ana recusava-se a desempenhar o papel submisso esperado dela. Por outro lado, a irritabilidade constante de Henrique e Ana gostava de temperamento violento. Depois de uma falsa gravidez ou aborto em 1534, o rei viu a sua incapacidade de lhe dar um filho como uma traição. Já no Natal de 1534, Henrique estava discutindo com Cranmer e Cromwell as chances de Ana o deixar sem ter de voltar para Catarina.

A oposição às políticas religiosas de Henrique foi rapidamente suprimida, na Inglaterra. Vários monges dissidentes foram torturados e executados. Os opositores mais proeminentes incluíram John Fisher, bispo de Rochester e Sir Thomas More, ex-Lord Chanceler de Henrique, que se recusaram a prestar juramento ao rei e foram posteriormente condenados por alta traição e decapitados na Tower Hill, fora da Torre de Londres, enquanto a punição para os traidores habituais continuava a ser o enforcamento, arrastamento e esquartejamento, Henrique VIII recebendo a notícia da sentença de seu amigo Thomas Moore, altera a sentença para "apenas" a decapitação em público - dizem que Thomas Moore ao receber esta notícia comentou: "não gostaria que o Rei repetisse este benefício real aos meus amigos...". Estas supressões por sua vez, contribuíram para a maior resistência entre o povo inglês, mais notavelmente na Peregrinação da Graça ("Pilgrimage of Grace"), uma grande revolta no norte da Inglaterra, em outubro de 1536. Henrique VIII prometeu perdoar os rebeldes, recebeu-os e agradeceu-lhes por levantarem as questões à sua atenção, tendo em seguida, convidado o líder rebelde, Robert Aske, para um banquete real. No banquete, Henrique pediu a Aske para anotar o que tinha acontecido para que ele pudesse ter uma ideia melhor sobre os problemas originados devido à "mudança". Aske fez o que o rei pediu, embora o que ele escreveu, viria mais tarde a ser usado contra ele como uma confissão. A palavra do rei não poderia ser questionada (visto ele estar a representar Deus na Inglaterra, e apenas prestava contas diretamente a Ele), de modo que Aske disse que os rebeldes tinham sido bem sucedidos e que poderiam dispersar-se e ir para casa. No entanto, por Henrique ter visto os rebeldes como traidores, ele não se sentia obrigado a manter as suas promessas. Os rebeldes perceberam que o rei não estava a cumprir as suas promessas e revoltaram-se novamente mais tarde naquele ano, mas a sua força foi menor na segunda tentativa e o rei ordenou que a rebelião fosse esmagada. Os líderes, incluindo Aske, foram presos e executados por traição.

Em 1536, a rainha Ana Bolena começou a perder o favor de Henrique. Depois do nascimento da princesa Isabel, Ana teve duas gestações que terminaram em aborto ou morte da criança. Enquanto isso, Henrique começava a prestar atenção em outra cortesã, Joana Seymour. Talvez animado por Thomas Cromwell, Henrique fez que Ana fosse presa sob a acusação de bruxaria (para convertê-lo em seu marido), de ter relações adúlteras com cinco homens, de incesto (com seu irmão Jorge Bolena, o Visconde de Rochford), de injuriar o Rei e conspirar para assassiná-lo, com o agravante de traição. As acusações eram inteiramente fabricadas por Thomas Cromwell, secretário particular de Henrique VIII. A Corte que tratou do caso foi presidida pelo próprio tio de Ana, Thomas Howard, Duque de Norfolk. Em maio de 1536, Ana e seu irmão foram condenados à morte, entre a fogueira ou a decapitação, o rei escolheu que Ana fosse decapitada. Foi contratado um executor francês para executar a sentença, por ser conhecido por realizar o seu trabalho de forma a que a vítima não sentisse nenhuma dor (nesta época a guilhotina ainda não tinha sido inventada e as decapitações eram realizadas com machados especiais de cabos longos e lâminas afiadíssimas ou com uma espada). Ana recebeu, através do guarda da Torre de Londres, moedas de ouro enviadas por Henrique VIII para o pagamento do seu algoz, como era prática da época. Os outros quatro homens sobre os quais foram apontadas acusações de ter relações com Ana, foram condenados à decapitação. Lord Rochford, irmão de Ana, foi decapitado depois do julgamento. Ana também foi decapitada pouco tempo depois. O pai de Ana, que também foi acusado de conspiração e, posteriormente, preso na Torre de Londres na mesma altura, foi libertado por falta de provas, banido da corte e perdeu todos os benefícios financeiros; porém, continuou dono do seu ducado.

Um dia depois da execução de Ana em 1536, Henrique ficou noivo de Joana Seymour, uma das damas de companhia da rainha, a quem o rei tinha mostrado favor desde algum tempo. O casamento ocorreu 10 dias depois.

Em 1536, foi aprovada a Segunda Lei de Sucessão, que declarou os filhos de Henrique com a rainha Joana seriam os próximos na linha de sucessão ao trono e declarou tanto Lady Maria e Lady Isabel como ilegítimas, excluindo-as da linha de sucessão. Ao rei foi concedido poder político para determinar a linha de sucessão à sua vontade.

Em 1537, Joana deu à luz um filho, o Príncipe Eduardo, e futuro Eduardo VI. O parto foi difícil e a rainha morreu no Palácio de Hampton Court, em 24 de outubro de 1537, poucos dias depois de ter dado à luz, devido a uma infecção. Após a morte de Joana, a corte inteira guardou luto com Henrique por um período prolongado. Henrique considerou Joana como sendo a sua "verdadeira" esposa, por ter sido a única que lhe deu o herdeiro varão que tão desesperadamente desejava.

Na época de seu casamento com Joana Seymour, Henrique concedeu sua aprovação à Constituição de Gales ("Laws in Wales Act") entre 1535 e 1542, que anexou legalmente Gales com a Inglaterra, fazendo ambos um só país. A lei decretou o uso exclusivo do inglês para os procedimentos oficiais em Gales, contrariando aos numerosos falantes da língua galesa.

Henrique continuou a perseguição a seus oponentes religiosos. Em 1538, Henrique ordenou a destruição dos santuários da Igreja Católica Romana e neste mesmo ano, todos os mosteiros existentes tinham sido fechados, e suas propriedades transferidas para a Coroa.

Como recompensa por sua eficiência, Thomas Cromwell foi nomeado Conde de Essex. Abades e priores perderam seus assentos na Câmara dos Lordes, e só os arcebispos e bispos formaram a representação eclesiástica de corpo. Os "lordes espirituais", como eram conhecidos os membros do clero com lugares na câmara dos lordes, foram pela primeira vez superados em número pelos lordes temporais.

Henrique desejou casar-se novamente. Thomas Cromwell, agora Conde de Essex, sugeriu o nome de Ana de Cleves, irmã do Duque de Cleves, que tinha sido um importante aliado no caso do ataque da Igreja Católica à Inglaterra. O pintor Hans Holbein foi mandado ao Ducado de Cleves para fazer um retrato de Ana para o Rei. Depois de ver o retrato de Ana e receber descrições complementares a respeito da mesma, Henrique decidiu se casar com Ana. Quando Ana chegou a Inglaterra, Henrique achou-a pouco atraente, porém se casou com ela em 6 de janeiro de 1540.

Henrique decidiu terminar o casamento, não somente por causa de seus sentimentos mas também por considerações políticas. O Duque de Cleves tinha entrado numa disputa com o Sacro Império Romano, com o qual Henrique não queria entrar em disputa. A nova rainha, Ana, foi inteligente o bastante para não deixar Henrique pedir a anulação do casamento e alegou que o mesmo não havia sido consumado. O casamento portanto foi anulado e Ana recebeu o título de "Irmã do Rei".

Em 28 de julho de 1540, Henrique casou-se com a jovem Catarina Howard, prima de Ana Bolena. Ele estava encantado com a nova rainha. Logo após o casamento, entretanto, Catarina teve um caso com o cortesão Thomas Culpeper. Ela também empregou como seu secretário, Francis Dereham, com quem tinha tido um caso antes de se casar com Henrique VIII. Thomas Cranmer apresentou evidências das atividades extra-conjugais da rainha, a Henrique e, embora este não tivesse acreditado, mandou Cranmer conduzir investigações que acabaram resultando na implicação de Catarina. Quando interrogada, a Rainha admitiu o caso com Dereham mas alegou que foi forçada por ele a ter esta relação extra-conjugal, porém Dereham delatou o relacionamento de Catarina com Thomas Culpeper. O casamento com Catarina foi anulado rapidamente após sua execução. Como no caso de Ana Bolena, Catarina Howard pode ter sido vítima de uma acusação falsa de adultério, porém nada conseguiu ser provado.

Henrique casou-se com sua última mulher em 12 de julho de 1543, a rica viúva Catarina Parr. Ela e Henrique tiveram um casamento cheio de discussões sobre religião, ela era radical e Henrique conservador. Embora isso desagradasse ao Rei, ela sempre se salvou mostrando-se submissa. Ela ajudou a reconciliação de Henrique com suas duas filhas, Lady Maria e Lady Isabel. Em 1544, uma lei do Parlamento colocou-as de volta na linha de sucessão ao trono inglês após o príncipe Eduardo, embora elas continuassem ilegítimas.

A tirania de Henrique tornou-se mais aparente com o avanço da idade e a queda de sua saúde. Uma onda de execuções políticas, que começaram com Edmund de la Pole (o Duque de Suffolk) em 1513 e terminaram com Henrique (Conde de Surrey) em janeiro de 1547.

Nos últimos anos da sua vida, Henrique tornou-se grosseiramente obeso (com uma medida de cintura de 137 centímetros) e teve que ser transferido com a colaboração das invenções mecânicas. Ele tinha muitas dores, suportando furúnculos e possivelmente sofria de gota. A sua obesidade data de um acidente de justa em 1536 em que ele sofreu um ferimento na perna. Isso impediu-o de praticar desporto e tornou-se gradualmente ulcerada. E, sem dúvida, acelerou a sua morte, aos 55 anos de idade, ocorrida em 28 de janeiro de 1547, no Palácio de Whitehall, o que teria sido o 90.º aniversário do seu pai. Ele morreu após alegadamente proferir estas últimas palavras: "Monges! Monges! Monges!"

A teoria de que Henrique sofreu de sífilis foi promovida, cerca de 100 anos após a sua morte, mas foi ignorada pela maioria dos historiadores sérios. A sífilis é uma doença bem conhecida no tempo de Henrique, e apesar do seu contemporâneo, Francisco I da França tê-la tido, as notas deixadas pelos médicos de Henrique não indicam que o rei tinha essa doença. Uma teoria mais recente e crível sugere que os sintomas médicos de Henrique, e os de sua irmã mais velha Margarida Tudor, também são característicos da diabetes tipo II.

Henrique VIII foi sepultado na Capela de São Jorge (Castelo de Windsor), no Castelo de Windsor, ao lado da sua terceira esposa, Joana Seymour. Mais de cem anos mais tarde, Carlos I foi sepultado no mesmo jazigo.

Em pouco mais de uma década após a sua morte, todos os seus três herdeiros sentaram-se no trono inglês, e os três não deixaram descendentes. Sob a Ato de Sucessão de 1543, apenas o filho legítimo sobrevivente de Henrique, Eduardo, herdaria a Coroa, tornando-se Eduardo VI. Por Eduardo ter apenas nove anos de idade na época, ele não podia exercer o poder real. Henrique designou 16 executores para servir num Conselho de Regência até Eduardo atingir a idade de 18 anos. Os executores escolheram Eduardo Seymour, 1.º Conde de Hertford, irmão de Joana Seymour, como Lorde Protector do reino. Na falta de herdeiros de Eduardo, o trono passaria para a filha de Henrique VIII e de Catarina de Aragão, a princesa Maria e seus herdeiros. Se Maria não tivesse descendentes, a Coroa iria para a filha de Henrique e de Ana Bolena, a princesa Isabel, e seus herdeiros. Finalmente, se a linha de Elisabeth também se tornasse extinta, a Coroa deveria ser herdada pelos descendentes da irmã mais nova de Henrique VIII, Maria Tudor, Duquesa de Suffolk. Os descendentes da irmã de Henrique, Margarida Tudor - a família real de Escócia - foram excluídos da sucessão de acordo com este ato.



Eduardo VI Tudor (12 de Outubro de 1537 - 6 de Julho de 1553) foi Rei de Inglaterra e da Irlanda de 28 de Janeiro de 1547 até a sua morte. Foi o único herdeiro homem de Henrique VIII de Inglaterra a sobreviver à infância e nasceu do seu terceiro casamento com Joana Seymour. Foi o terceiro rei da Dinastia Tudor. Foi coroado aos nove anos de idade e é considerado o primeiro monarca Protestante da Inglaterra. Foi no seu reinado que se conformou a independência da Igreja Anglicana da Santa Sé e quando foi publicado pela primeira vez o Livro de Oração Comum.

Com a morte de Eduardo VI, uma disputa pela sucessão ao trono reabriu os conflitos religiosos. A protestante fervorosa e sua prima Lady Jane foi rainha por apenas nove dias; foi substituída por sua meia-irmã, a católica Maria e esta pela protestante moderada Isabel (chamada no Brasil de Elizabeth).

Eduardo nasceu no Palácio de Hampton Court, em Londres. Filho de Henrique VIII e sua terceira esposa, Jane Seymour. Doze dias após o parto sua mãe morreu de febre puerperal. Como primogênito do rei, Eduardo foi automaticamente nomeado Duque da Cornualha e como herdeiro ao trono foi também nomeado como Príncipe de Gales.

Na verdade, Eduardo não era o primeiro filho do rei, mas o primeiro filho homem. Ele tinha duas meia-irmãs mais velhas, Maria (filha de Henrique VIII com Catarina de Aragão) e Isabel (filha de Henrique VIII com Ana Bolena), que foram deserdadas pelo rei quando Eduardo nasceu. Anos mais tarde, Henrique VIII as colocou novamente na linha de sucessão porém atrás de Eduardo.

Até aproximadamente os seis anos de vida, Eduardo ficou aos cuidados de uma enfermeira e posteriormente aos cuidados de sua madrasta, a sexta esposa de Henrique VIII, Catarina Parr. Teorias dizem que Eduardo sofria de sífilis congênita. Devido à sua suposta fragilidade e à probabilidade de perder o herdeiro, Henrique VIII casa-se rapidamente de novo depois da morte da mãe de Eduardo. Porém, os três casamentos posteriores de Henrique VIII não produziram um herdeiro.

No entanto, a sua saúde não o impediu de educar-se da melhor maneira. Eduardo revelou-se num excelente aluno. Aos sete anos era fluente em Latim. Mais tarde aprendeu francês e grego, que traduzia com facilidade aos treze anos.

Henrique VIII morreu em 28 de janeiro de 1547 quando Eduardo tinha apenas 9 anos. Seu testamento nomeou 16 tutores para agir como Conselho de Regência até a maioridade de Eduardo VI. Estes tutores eram auxiliados por 12 assistentes. Estes tutores eram todos inclinados à Reforma religiosa. O Conselho imediatamente apontou o tio materno de Eduardo, Eduardo Seymour (o Conde de Hertford) como Lorde Protetor (ou Lord Protector of the Realm and Governor of the King's Person) durante a menoridade de Eduardo. Pouco antes da morte de Henrique VIII, Seymour havia sido escolhido como o Duque de Somerset.

Eduardo foi coroado em 20 de fevereiro de 1547 na Abadia de Westminster. No dia 13 de março do mesmo ano, Eduardo VI criou um novo Conselho com 26 membros, conservando todos os tutores e assistentes anteriores com exceção de Thomas Wriothesley, Primeiro Conde de Southampton (que ficou como Lorde Chanceler) e Edward Seymour, Primeiro Duque de Somerset (que ficou como Lorde Protetor). O Duque de Somerset deveria agir sob a aprovação do Conselho mas ganhou o completo controle do governo depois de obter o poder de mudá-lo quando quisesse. Somerset, portanto, tornou-se no "verdadeiro govenador" da Inglaterra.

Um dos primeiros atos de Somerset foi tentar unir a Inglaterra a Escócia. Em 1547 invadiu a Escócia. Em 1548, foi oficializada a promessa de casamento entre a futura Rainha da Escócia, Maria I com o herdeiro de França, o futuro Rei Francisco II. Essa aliança entre a Escócia e a França minou os planos ingleses, porque jamais o país se poderia opôr a uma aliança França-Escócia. Tendo o seu plano falhado, a posição política de Somerset tornou-se frágil.

Outra grande influência sobre Eduardo era o Arcebispo da Cantuária (ou Archbishop of Canterbury), Tomás Cranmer. Somerset e Cranmer começaram então a desenvolver o Protestantismo em Inglaterra, substituíndo os ritos católicos por novos, sem no entanto haver perseguições, por medo de represálias do continente maioritariamente católico. Em 1549, Cranmer publicou o primeiro Livro de Oração Comum. No mesmo ano, foi aprovado a Acta da Uniformidade estabelecendo o Livro de Oração Comum como único culto legal na Inglaterra que até então era feito em latim. A Acta de Uniformidade trouxe grande revolta, principalmente na Cornualha onde a língua era a córnica.

O Duque de Somerset recusou-se a alterar a Acta pois o inglês deveria ser a língua oficial da Igreja da Inglaterra. Protestos se intensificaram e um um exército foi armado com 3.000 homens que tentaram tomar a cidade de Exeter. A rebelião de 1549 causou a queda da popularidade de Somerset até mesmo entre o Conselho. A inflação e o custo da guerra causaram revoltas populares. Em 8 de agosto do mesmo ano, o Rei francês Henrique II declarou guerra à Inglaterra. A resposta de Somerset contra a oposição a seu Protetorado foi fugir. Entretanto, ele foi capturado por John Dudley (Conde de Warwick) e mandado para a Torre de Londres.

Com a queda de Somerset, John Dudley,o Conde de Warwick, se autoproclamou Lorde Presidente ao invés de Protetor. Ao contrário de Somerset, Warwick era um homem de ação e cheio de ambição em instalar um protestantismo inflexível e aumentar sua fortuna e poder.

O poder do Conde de Warwick (posteriormente nomeado Duque de Northumberland) foi acompanhado pela queda do catolicismo na Inglaterra. O uso do Livro de Oração Comum foi forçado com mais enfâse em todas igrejas, todos edições oficiais da Bíblia foram acompanhadas de anotações anti-católicas, os bispos fiéis a Roma foram substituídos por reformistas e começaram as perseguições e as execuções na fogueira.

Enquanto isso, Somerset que tinha concordado em submeter-se a Warwick, foi libertado da prisão e nomeado para o Conselho Privado, entrando em conflito aberto com Warwick. Tentando aumentar seu poder, Warwick convenceu ao rei em nomeá-lo Duque de Northumberland. O então recém nomeado Duque de Northumberland começou uma campanha de descrédito contra Somerset e manobrou evidências para o executá-lo por traição. Informou aos habitantes de Londres de que o Duque de Somerset pretendia destruir a cidade; a Eduardo contou que seu antigo tutor queria derrocá-lo, prendê-lo e tomar-lhe o trono. Em 1551 o Duque de Somerset foi julgado por crime de traição; foi condenado a morte e executado em janeiro de 1552.

Um dia após a execução de Somerset, o Parlamento aprovou a Acta de Uniformidade de 1552 adotando o segundo Livro de Oração Comum e condenando a prisão perpétua todos os culpados de adoração religiosa ilegal.

Em 1553, Eduardo adoeceu de tuberculose e ficou óbvio que a doença era fatal. Começou-se então a preparar a sucessão.

Como a Inglaterra caminhava protestante na época, não havia nenhum desejo que o rei fosse sucedido pela irmã mais velha, a Princesa Maria, conhecida pelo seu catolicismo militante. Warwick tampouco desejava Isabel como rainha. A terceira na linha de sucessão seria Lady Frances Brandon. Frances Brandon era filha primogênita de Maria Tudor, irmã de Henrique VIII, e Charles Brandon. Esta também não era do agrado de Warwick pois este temia que o marido de Frances, o Duque de Surffolk Henrique Grey, reclamasse a coroa em seu favor.

Como alternativa sugerida por Warwick, escolheu Joana Grey que havia se casado com seu filho mais novo Guilford Dudley. Joana era filha de Frances Brandon, duchess of Suffolk, marchioness of Dorset e Henrique Grey, portanto neta de Maria Tudor, irmã de Henrique VIII e tinha sido educada como protestante. Foi feita uma acta escrita a mão pelo próprio rei Eduardo VI deixando Joana Grey como sua herdeira e excluíndo suas irmãs Maria e Isabel, alegando ilegitimidade das mesmas. No dia 11 de junho de 1553, os Conselheiros foram obrigados a aceitar seu rascunho. E a Frances Brandon, a Duquesa de Suffolk, concordou em renunciar em favor de Joana.

Eduardo VI morreu em 6 de julho de 1553, provavelmente de tuberculose e foi sepultado na Abadia de Westminster. Sua morte foi mantida em segredo por alguns dias até a preparação da sucessão de Joana Grey. No dia 10 de julho, Joana Grey foi declarada a nova rainha da Inglaterra, porém a população desejava Maria. No dia 19 de julho, Maria chegou triunfante a Londres e Joana foi obrigada a renunciar. Assim a sucessora de fato (ou na prática) foi Maria I de Inglaterra mas a de de jure (ou de lei, de direito ou na teoria) foi Joana Grey.



Joana Grey (em inglês: Jane Grey, também conhecida como Lady Jane Grey; 1537 - 12 de Fevereiro de 1554) foi Rainha de Inglaterra por cerca de nove dias em 1553, mas nunca foi coroada. Era filha de Henrique Grey, Duque de Suffolk e de Lady Frances Brandon, uma sobrinha-neta de Henrique VIII de Inglaterra (sua mãe era filha de Maria Tudor, irmã de Henrique VIII) por via feminina, de quem herdou a pretensão ao trono. Foi casada com Lord Guilford Dudley.

Joana subiu ao trono por desejo do Rei Eduardo VI, que a deixou como Rainha ao morrer e destronou suas duas meia-irmãs (Maria I e Isabel I). Porém Joana foi retirada do trono por Maria I e depois condenada e executada por traição.

Lady Joana teve uma reputação de uma das mulheres mais cultas da sua época.

Joana nasceu em 1537 perto de Leicester, no seio de uma família aristocrata. Ela era filha mais velha de Henrique Grey, Duque de Suffolk e Marquês de Dorset, e Lady Frances Brandon. Frances Brandon era filha de Maria Tudor, irmã do rei Henrique VIII. Portanto, Joana era sobrinha-neta de Henrique VIII e prima de Eduardo VI. Ela tinha duas irmãs mais novas, Lady Catherine Grey (ou Catarina Grey) e Lady Mary Grey (ou Maria Grey). Elas receberam uma ótima educação desfrutando da influência dos Tudors.

Joana estudou latim, grego e hebraico. Através de seus professores-tutores ela se tornou devota protestante. O seu preceptor foi John Aymler da Universidade de Cambridge, que também foi responsável por parte da educação da futura rainha Isabel I de Inglaterra. Em 1546, Joana foi passar uma temporada com Catarina Parr, uma mulher considerada extremamente culta que foi a última esposa de Henrique VIII de Inglaterra. Após a morte de Henrique VIII, Catarina casou-se com Sir Thomas Seymour mas ela acabou falecendo em breve. Seymour tentou arranjar o casamento de Joana com seu sobrinho, o rei Eduardo VI, porém os planos não deram certo. Os irmãos Seymour foram acusados e executados por traição devido a ambição de John Dudley. Dudley negociou com a mãe de Joana seu casamento com o filho dele. Joana ficou alarmada com a hipótese de casar-se com alguém da família Dudley mas naquela época não havia muita chance de escolha. Em 15 de maio de 1553, Joana casou-se com Guilford Dudley, mas o casamento não foi consumado.

Em 1553, o rei Eduardo VI de Inglaterra, de apenas 16 anos, estava para morrer e não tinha descendentes, sendo a opção mais directa a sua meia-irmã mais velha, a Princesa Maria. Maria fora educada como católica pela mãe Catarina de Aragão e era claramente contra a reforma introduzida na Igreja Anglicana. Politicamente, este seria um passo atrás e os conselheiros de Eduardo VI influenciaram-no para nomear outro herdeiro. No entanto, é importante lembrar que o desejo do pai de Eduardo era que Maria herdasse o trono do irmão, caso este não deixasse filhos, como ocorreu.

A escolhida do rei, influenciado por John Dudley e seus conselheiros, foi Joana Grey, que tinha a vantagem de ser jovem e e de ter tido uma educação protestante. Outro ponto favorável a Joana era o fato de John Dudley, Duque de Northumberland ser seu sogro. Nesse caso, Joana teria como consorte o filho do duque, Guilford.

Após a morte de Eduardo VI em 6 de julho de 1553, Joana foi proclamada rainha da Inglaterra e da Irlanda em 10 de julho do mesmo ano. John Dudley tentou prender Maria, mas ela refugiou-se no Castelo de Framlingham em Suffolk.

Maria não estava disposta a abdicar da sua pretensão e contava com o apoio da população por ser filha de Catarina de Aragão, que era ainda imensamente popular. Contava ainda com a simpatia e comoção do povo que acompanhou sua juventude e viu quando foi deserdada e separada da mãe pelo rei Henrique VIII.

Nove dias depois de Joana ser declarada a nova rainha da Inglaterra, em 19 de julho, Maria chegou a Londres triunfante. O Parlamento inglês, então, declarou Maria como Rainha da Inglaterra e revogou a coroação de Joana. John Dudley foi executado em 21 de agosto e Joana e seu marido foram feitos prisioneiros com a acusação de traição na Torre de Londres.

Joana junto a Guildford Dudley foram julgados por alta traição. Seu julgamento começou em 13 de novembro de 1553 no Guildhall na City de Londres. Uma comissão foi instaurada com a lideração do Lord Mayor of London (ou o "prefeito de Londres") da época, Sir Thomas White. Nesta altura, Maria parecia inclinada a perdoar a prima e chegou a enviar-lhe o seu confessor, numa tentativa de a converter à fé católica.

No entanto, em janeiro de 1554, começou uma revolta popular contra Maria organizada por Thomas Wyatt por causa do iminente casamento de Maria I com o católico Filipe II de Espanha. Joana Grey não estava relacionada com esta rebelião, nem era a sua beneficiária, mas foi presa novamente. Alguns nobres, incluindo o pai de Joana, juntaram-se a rebelião pedindo a restauração desta como rainha. Filipe II de Espanha insistiu na execução de Joana por considerá-la uma ameaça potencial.

No dia 12 de fevereiro de 1554, Guilford foi executado em praça pública. Joana Grey recebeu uma execução privada no mesmo dia na Torre de Londres. A execução privada foi ordem de Maria, como um gesto de respeito à prima.

Joana foi executada aos 16 anos e enterrada junto a Guilford na Capela Real de São Pedro ad Vincula. No dia 19 de fevereiro o pai de Joana, Henrique Grey, foi executado por traição.



Maria foi a quinta criança nascida do primeiro casamento de Henrique VIII de Inglaterra com Catarina de Aragão e a única a atingir a idade adulta. Nasceu no palácio de Greenwich e foi batizada poucos dias depois tendo o Cardeal Thomas Wolsey como padrinho. Durante a infância, Maria mostrou ser uma criança precoce, herdando o talento artístico de seu pai e inteligência de sua mãe, porém de saúde frágil, com má visão e propensa a fortes enxaquecas. O pai concedeu-lhe a sua própria corte no Castelo de Ludlow e várias prerrogativas normalmente atribuídas ao Príncipe de Gales. A educação de Maria ficou a cargo da sua mãe e de Margarida, Condessa de Salisbury (filha de Jorge, Duque de Clarence), uma das mulheres mais cultas do seu tempo. A princesa aprendeu latim, castelhano, francês, italiano, grego, ciências, teologia e música. Aos quatro anos era já uma intérprete de harpa e alaúde, capaz de entreter uma plateia de espectadores. A questão do seu casamento foi motivo de manobras e negociações diplomáticas desde muito cedo. Entre os seus pretendentes, volúveis, de acordo com os interesses políticos do pai, contaram-se: Francisco, Duque da Bretanha e herdeiro de Francisco I de França, o seu irmão mais novo e futuro Henrique II, o próprio Francisco I e o imperador Carlos V do Sacro-Império.

Entretanto, o casamento dos seus pais encontrava-se em crise. Desde 1527, Henrique VIII procurava a sua anulação, com o objectivo de casar com Ana Bolena, que parecia mais apta para produzir um filho varão. Todos os apelos para Roma falharam, não deixando a Henrique outra alternativa senão o decreto unilateral da anulação. No início de 1533, Thomas Cranmer, Arcebispo da Cantuária, declarou o casamento com Catarina de Aragão inválido, tornando legítimo o recente casamento com Ana Bolena. Para evitar um apelo de Catarina ao Papa, a Inglaterra cortou relações com o Vaticano e Henrique VIII foi declarado chefe na nova Igreja Anglicana. Para Maria, estes eventos tiveram consequências drásticas. De princesa de Inglaterra e herdeira da coroa, passou a ser considerada filha ilegítima com direito apenas ao tratamento de Lady Mary ou Lady Maria. Com a dissolução da corte de Ludlow, Maria tornou-se aia da sua irmã recém nascida Isabel. Foi ainda afastada da sua mãe, proibida de a visitar e, em 1536, de assistir ao seu funeral. Esse tratamento a traumatizou fortemente e foi interpretado como injusto na Inglaterra e no resto da Europa, contribuíndo para a crescente impopularidade de Ana Bolena,

Com a queda de Ana Bolena em 1536, também Isabel foi declarada ilegítima, juntando-se a Maria na condição de ex-princesa. Joana Seymour, a madrasta seguinte, deu à luz ao tão desejado herdeiro: o futuro Eduardo VI de Inglaterra, afastando definitivamente, ao que parecia, Maria e Isabel como herdeiras do trono. A última mulher de Henrique VIII, Catarina Parr, conseguiu reconciliar o rei com as filhas e, em 1544, apesar de ilegítimas, Maria e Isabel foram reconhecidas pelo Parlamento como segunda e terceira na linha de sucessão. Para o fim da vida de Henrique VIII, a maioria dos privilégios de Maria foi restabelecida em troca do reconhecimento do rei como chefe da Igreja Anglicana: no entanto, ela recusou sempre converter-se e permaneceu sempre fiel à fé católica.

No reinado do irmão Eduardo VI, o Parlamento aprovou o Acto de Uniformidade, que abolia os rituais católicos em favor do novo serviço protestante. Maria pediu então excusa para assistir à missa católica, o que lhe foi recusado. Sem desistir, apelou a Carlos V, que ameaçou guerra com Inglaterra se fosse desrespeitada a liberdade religiosa de Maria. Eduardo VI e os seus regentes cederam e permitiram-lhe assistir aos serviços que desejasse, desde que fosse em privado, entretanto seu relacionamento com o rei não foi mais o mesmo e ela foi banida da corte do irmão por sua crença.

Eduardo VI morreu em 1553, enquanto Maria se encontrava ausente de Londres. O seu testamento excluía Maria e Isabel da sucessão, privilegiando Joana Grey, bisneta de Henrique VII de Inglaterra por via feminina e nora do Duque de Northumberland, o regente e conselheiro de Eduardo VI. Estas disposições contrariavam o Acto de Sucessão de 1544, que determinava que Maria deveria suceder a Eduardo, caso este morresse sem descendência. No entanto, Joana Grey foi proclamada rainha a 9 de Julho, apesar da forte contestação popular.

Maria sempre fora estimada pelo povo pelo tratamento injusto que sofrera e contava com o apoio de alguns nobres, até mesmo de alguns protestantes fiéis a dinastia Tudor. Apenas nove dias depois, o Parlamento revogava o testamento de Eduardo VI, considerado feito sob coerção, e declarava Maria Rainha de Inglaterra e da Irlanda. A nova monarca entrou em Londres a 3 de Agosto, acompanhada pela irmã Isabel, e de sua amiga Ana de cleves sob aclamação popular.

Maria foi coroada rainha na Abadia de Westminster a 1 de Outubro de 1553. O serviço foi efectuado pelo Bispo de Winchester, Stephen Gardiner, e não pelo Arcebispo da Cantuária, visto que o último era Protestante.

O primeiro Ato do Parlamento sob a direcção de Maria foi validar retroactivamente o casamento de Henrique VIII de Inglaterra com Catarina de Aragão, repondo assim a sua legitimidade.

Uma de suas acções foi mandar executar o Duque de Northumberland, que planejara o golpe. Depois, remodelou o leque de conselheiros reais, afastando todos os aliados de Northumberland. Joana Grey, o seu pai, o Duque de Suffolk e o marido Guilford Dudley foram presos mas libertados pouco depois.

A Inglaterra se encontrava em grande corrupção, a rainha chocada com tamanhos desvios ordenou a diminuição das despesas da casa real. Maria reduziu os impostos, a redução deixou a renda mais baixa que a despesa, então a rainha criou direitos aduaneiros sobre a importação de fazendas e taxou a importação de vinhos franceses. Entretanto as medidas que pretendiam ajudar aos mais pobres, provocaram a retração comercial. Maria criticou a Alta Burguesia (comerciantes ricos) por pagar baixos salários aos seus empregados, e proibiu terminantemente o salário em espécie. Porém a monarca não estava cercada de bons elementos e muitas de suas ordens não chegaram a ser cumpridas. Maria emitiu moedas de prata finas e planejou uma planta para retirar as moedas rebaixadas que vieram a ser usufruídas em 1560-61, no reinado de sua irmã Isabel Tudor, também incluiu um novo livro das taxas foi introduzido no fim de seu reinado em 1558.

Maria também teve um grande trabalho na via diplomática, em seu reinado, a Rússia entrava em contato com a Inglaterra. A rainha pela primeira vez recebeu em sua corte o embaixador russo Osep Nepeja. Em 1555, uma carta patente foi emitida à Muscovy company que dava direito de trocas exclusivas na região, expedições adicionais foram feitas em 1556, em 1568 e em 1580. Ainda nesse ramo, novas rotas de comércio para o pano inglês foram abertas em África - especialmente em Marrocos, que forneceu o açúcar e o salitre, e na Guiné, uma fonte de ouro.

Como uma Monarca da dinastia Tudor, as artes continuaram a ter grande destaque em seu reinado, Maria patrocinou artistas como Thomas Tallis e John Sheppard, Willian Roper genro de Thomas Morus escreveu uma biografia sobre seu sogro no reinado de Maria I.

Como a primeira mulher a ser coroada rainha na Inglaterra, Maria teve que lidar com o assuntos referente ao matrimônio, que lhe daria um herdeiro, continuando a dinastia. Como primeira reação, de acordo com Judith Richards em seu artigo: "Mary Tudor as Sole Quene". Maria negou, dizendo que já havia se casado com a Inglaterra, tal visão é apenas mostrada pela parte de Isabel, entretanto sua irmã, também negou a proposta de casamento. Contudo acabou aceitando a hipótese, de início parecia inclinada em aceitar Eduardo Courtenay, Conde de Devon, mas mudou de ideia quando o Imperador Carlos V sugeriu o seu filho único, o Príncipe Filipe. Tanto o Parlamento como os seus principais conselheiros imploraram que reconsiderasse a decisão, receando a perda de independência de Inglaterra face à temida Espanha católica. Maria manteve-se firme, o que iniciou uma onda de protestos populares que ameaçava revolução. O Duque de Suffolk decidiu tomar uma atitude e aliciou Isabel com a coroa, suportado pela revolta popular de Thomas Wyatt. A tentativa foi esmagada. Wyatt e Suffolk foram executados, Joana Grey também foi executada com muito pesar por parte da rainha. Após a revolta de Wyatt, a rainha mudou sua política, o conselho de Maria havia lhe urgido para que largasse a política de clemência e começasse a agir. A Princesa Isabel, como beneficiária da manobra, tornou-se num alvo de suspeita e foi presa na Torre de Londres, entretanto nada foi provado sobre o envolvimento da princesa. Filipe de Espanha exigiu primeiramente que fosse executada para eliminar futuras conspirações, mas Maria recusou assinar a ordem e em vez disso expulsou-a da corte, sob prisão domiciliar, mais tarde Filipe mudaria sua política com Isabel, já que a veria como uma possível esposa.

Maria e Filipe se casaram a 25 de Julho de 1554 na Catedral de Winchester. Nos termos do contrato, Filipe passou a ser designado como Rei consorte da Inglaterra. O seu casamento com um herdeiro estrangeiro e católico marcou o fim da popularidade da rainha junto dos ingleses orgulhosos da sua independência. Maria, no entanto, ficou extremamente feliz com a união e apaixonou-se pelo marido onze anos mais novo. Em Novembro de 1554, julgou-se grávida e mandou rezar uma acção de graças pelo fato, mas pouco tempo depois as esperanças desmoronaram. Tinha sido apenas uma gravidez psicossomática. Ao fim de cerca de catorze meses em Inglaterra, Filipe decidiu regressar a Espanha, frustrado pelo fato de Maria e seu parlamento não o deixarem governar a Inglaterra e que, ao contrário de Maria, não encontrava nenhum interesse na esposa.

A rainha dedicou-se então ao seu projecto pessoal de reverter a ruptura com Roma estabelecida pelo pai e o estabelecimento do protestantismo estabelecido pelo irmão Eduardo VI. Sua política primária de tolerância com protestantes havia sido quebrada após a revolta de Wyatt. Reginald Pole, um cardeal católico, foi nomeado conselheiro pessoal e Arcebispo da Cantuária. Juntos aboliram as reformas religiosas de Eduardo VI e deram início ao que ficou conhecido como as perseguições marianas. Nos três anos seguintes cerca de 300 pessoas foram queimadas na fogueira por heresia incluindo Thomas Cranmer (ex Arcebispo da Cantuária), Nicholas Ridley (ex-bispo de Londres) e o reformista Hugh Latimer. Estes actos, dos quais Maria não foi a única responsável moral, valeram-lhe o cognome Bloody Mary e uma crescente impopularidade junto dos ingleses. A rainha disse para seu amigo Pole, que "A punição dos hereges, deve ser feita sem pressa, deve, entretanto, aplicar a justiça para aqueles que, pela inteligência, procuram iludir as almas simples." Nos reinados seguintes, a sua memória foi vilipendiada, em parte como propaganda religiosa protestante. John Foxe escreveu um livro intitulado The Actes and Monuments of these latter and perilous Dayes, touching matters of the Church, wherein are comprehended and described the great Persecution and horrible Troubles that have been wrought and practised by the Romishe Prelates, Epeciallye in this Realme of England and Scotland, from the yeare of our Lorde a thousande to the time now present, abreviadamente The Book of Martyrs, onde basicamente transformava Maria numa vilã.

Filipe regressou à Inglaterra em 1557, depois de ter herdado a coroa de Espanha e o controle dos Países Baixos pela abdicação do seu pai, com o objectivo de convencer Maria a entrar numa guerra contra França. Maria confusa concordou, apesar da forte objecção popular, e, em resultado, as tropas inglesas foram derrotadas e a Inglaterra perdeu a posse de Calais, a última relíquia das possessões continentais inglesas, que em tempos já haviam incluído a Normandia e Aquitânia. Em resultado desta visita, Maria sofreu ainda uma última gravidez psicológica e chegou a ditar um testamento onde nomeava Filipe regente de Inglaterra durante a menoridade do herdeiro inexistente.

Em seus últimos dias Maria estava deprimida pelo abandono do marido, possíveis conspirações de sua irmã e sua baixa popularidade, passava horas e horas com os joelhos perto do queixo e andava pela corte como um fantasma.

Maria morreu em Novembro de 1558, provavelmente de cancro do útero ou dos ovários, e foi sucedida pela sua irmã a princesa Isabel, que acreditava ter conseguido converter ao Catolicismo. Foi sepultada na Abadia de Westminster, onde, mais tarde, Isabel juntar-se-lhe-ia. Na inscrição da sua tumba comum lê-se Parceiras no Trono e Sepultura, aqui descansam duas irmãs, Maria e Isabel, na esperança de uma ressurreição. conjunta.

Maria certamente é uma figura trágica, tinha uma infância dourada, até que os atos de seu próprio pai a traumatizaram profundamente. Tem uma má fama devido a propaganda protestante, já que ela foi uma rainha católica, entretanto seus atos não foram mais ou menos cruéis do que os de seu pai Henrique VIII e irmãos Eduardo VI e Isabel I. Definitivamente há muito mais no reinado de Maria Tudor do que as perseguições pelas quais ela é tão julgada, ela deu sequência a um trabalho que seria concluído brilhantemente por sua irmã depois dela.

O historiador Will Duran se refere a Maria I: "Em relação a Maria I, pode-se dizer algumas palavras complacentes. Dor, doença e muitas injustiças sofridas deformaram seu espírito. Sua clemência deu origem à crueldade só depois que conspirações tentaram retirar a sua coroa. Seguiu o conselho da igreja de confiança, que tinha sofrido perseguições e buscava vingança. Ao final, penso eu, com as performances, estava cumprindo suas obrigações para com a religião que ela amava como uma razão para sua própria vida. Ela não merece o apelido de "Blood Mary", a menos que o adjetivo seja aplicado a todos de seu tempo; adjetivo que resume o caráter de forma errada, já que havia muito amor. Embora pareça estranho, é notável que ela tem tomado a frente o trabalho do pai [Henry VIII], para separar a Inglaterra de Roma. Ela mostrou ao país que era ainda da igreja católica a pior característica que era servida. Quando ela morreu, a Inglaterra estava mais preparada do que nunca para aceitar a nova fé que ela se esforçou para destruir."



Isabel I (Greenwich, 7 de setembro de 1533 — Richmond, 24 de março de 1603), também conhecida sob a variante Elisabete I ou Elizabeth I, foi Rainha da Inglaterra e da Irlanda desde 1558 até à sua morte. Também ficou conhecida pelos nomes de A Rainha Virgem, Gloriana e Boa Rainha Bess. Filha de Henrique VIII, Isabel nasceu como princesa, mas a sua mãe, Ana Bolena, foi executada dois anos e meio depois do seu nascimento e Isabel foi declarada bastarda. Mais tarde, seu meio-irmão, Eduardo VI, deixou a coroa a Lady Jane Grey, excluindo as suas irmãs da linha de sucessão. No entanto, o seu testamento foi rejeitado, Lady Jane Grey foi executada e, em 1558, Isabel sucedeu à sua meia-irmã católica, Maria I, depois de passar quase um ano presa por suspeita de apoiar os rebeldes protestantes.

Isabel decidiu que reinaria com bons conselheiros, dependendo fortemente de um grupo de intelectuais de confiança liderado por William Cecil, barão Burghley. Uma das suas primeiras acções como rainha foi apoiar o estabelecimento da igreja protestante inglesa, da qual se tornou governadora suprema. Este Acordo Religioso Isabelino manteve-se firmemente durante o seu reinado e desenvolveu-se, tornando-se naquela que é conhecida hoje como a Igreja de Inglaterra. Era esperado que Isabel se casasse, mas apesar de vários pedidos do parlamento e de numerosas cortes feitas por vários membros de casas reais por toda a Europa, ela nunca o fez. As razões para esta decisão já foram muito debatidas. À medida que envelhecia, Isabel tornou-se famosa pela sua virgindade, criando um culto à sua volta que foi celebrado nos retratos, festas e literatura da época.

Seu reinado é conhecido por Período Elisabetano (ou Isabelino) ou ainda Era Dourada. Foi um período de ascensão, marcado pelos primeiros passos na fundação daquilo que seria o Império Britânico, e pela produção artística crescente, principalmente na dramaturgia, que rendeu nomes como Christopher Marlowe e William Shakespeare. No campo da navegação, o capitão Francis Drake foi o primeiro inglês a dar a volta ao mundo, enquanto na área do pensamento Francis Bacon pregou suas ideias políticas e filosóficas. As mudanças se estendiam à América do Norte, onde se deram as primeiras tentativas de colonização, que resultaram em geral em fracassos.

Isabel era uma monarca temperamental e muito decidida. Esta última característica, vista com impaciência por seus conselheiros, frequentemente a manteve longe de desavenças políticas. Assim como seu pai, Henrique VIII, Isabel gostava de escrever, tanto prosa quanto poesia.

Seu reinado foi marcado pela prudência na concessão de honrarias e títulos. Somente oito títulos maiores: um de conde e sete de barão no reino da Inglaterra, mais um baronato na Irlanda, foram criados durante o reinado de Isabel. Isabel também reduziu substancialmente o número de conselheiros privados, de trinta e nove para dezenove. Mais tarde, passaram a ser apenas catorze conselheiros.

A colónia inglesa da Virgínia (futuro estado americano, após a independência dos EUA), recebeu esse nome em homenagem a Isabel I.

Isabel era a única filha viva do rei Henrique VIII com sua segunda esposa, Ana Bolena, marquesa de Pembroke, com quem casou secretamente, estima-se, entre o inverno de 1532 e janeiro do ano seguinte. Nasceu no quarto das virgens, no palácio de Greenwich a 7 de setembro de 1533, entre as três e as quatro da tarde e recebeu o nome em honra das suas duas avós, Isabel de Iorque e Isabel Howard. Foi a segunda filha do rei a sobreviver até à infância e que tinha nascido dentro de um casamento. Quando nasceu, Isabel era herdeira presumível do trono de Inglaterra, visto que a sua meia-irmã mais velha, a princesa Maria, tinha perdido a sua posição como herdeira legitima quando Henrique anulou o seu casamento com a mãe desta, Catarina de Aragão, para se poder casar com Ana. O rei Henrique VIII queria desesperadamente um filho homem legitimo para garantir a sucessão da Casa Tudor. Ana tinha sido coroada com a coroa de São Eduardo, ao contrário de qualquer outra rainha-consorte, quando estava grávida de Isabel. A historiadora Alice Hunt sugeriu que tal aconteceu porque a gravidez de Ana era já visível na altura da coroação e era assumido que o seu filho seria um herdeiro masculino. Isabel foi baptizada no dia 10 de Setembro numa cerimónia no Palácio de Greenwich. Os seus padrinhos foram o arcebispo Thomas Cranmer, o marquês de Exeter, a duquesa de Norfolk e a marquesa-viúva de Dorset. Depois do nascimento de Isabel, a rainha Ana não conseguiu dar à luz um herdeiro masculino, sofrendo pelo menos dois abortos, um em 1534 e outro no inicio de 1536. No dia 2 de Maio de 1536 foi presa. Acusada de adultério, incesto e bruxaria, foi apressadamente condenada e decapitada no dia 19 de Maio de 1536.

Isabel, que tinha dois anos e oito meses de idade na altura, foi declarada ilegítima e perdeu o título de princesa. Onze dias depois da morte de Ana Bolena, Henrique casou-se com Jane Seymour, que morreu doze dias depois do nascimento do filho de ambos, o príncipe Eduardo. Isabel foi colocada na casa de Eduardo e levou o manto baptismal no seu batizado.

A primeira tutora de Isabel foi Margaret, Lady Bryan, uma baronesa que Isabel chamava de "Muggie". Lady Bryan disse que a sua pupila era "como criança, a mais gentil que alguma vez conheci na vida". No Outono de 1537, Isabel estava sob os cuidados de Blanche Herbert, Lady Troy, que foi sua governanta até à sua reforma em finais de 1545 ou inícios de 1546. Catherine Champernowne, mais conhecida pelo seu nome de casada, Catherine "Kat" Ashley, foi nomeada como governanta de Isabel em 1537 e foi sua amiga próxima até à sua morte em 1565, quando Blanch Parry a sucedeu como Camareira Mor dos Aposentos Privados". É bastante claro que fez um bom trabalho com a educação inicial de Isabel: quando William Grindal se tornou seu tutor em 1544, Isabel já sabia escrever em inglês, latim e italiano. Com Grindal, um tutor talentoso e hábil, também fez grandes progressos com francês e latim. Também se diz que sabia falar língua córnica. Após a morte de Grindal em 1548, Isabel passou a ter as suas lições com Roger Ascham, um professor complacente que acreditava que a aprendizagem devia ser cativante. Quando a sua educação formal terminou em 1550, Isabel era a mulher com a melhor educação da sua geração.

Henrique VIII morreu em 1547, quando Isabel tinha treze anos, e foi sucedido pelo meio-irmão dela, Eduardo VI. Catherine Parr, a última esposa de Henrique, casou-se pouco depois com Tomás Seymour de Sudeley, tio de Eduardo VI e irmão do Lord Protector, Eduardo Seymour, duque de Somerset. O casal levou Isabel para a sua casa em Chelsea. Foi aí que Isabel passou por uma crise emocional que alguns historiadores acreditam que a afectou para o resto da vida. Seymour, que apesar de ter quase quarenta anos, continuava a ter charme e "uma poderosa atracção sexual", começou a ter brincadeiras e a andar de cavalo com Isabel, de catorze anos. Algumas destas brincadeiras incluiam entrar no quarto dela vestido com a sua camisa de dormir, fazer-lhe cócegas e dar-lhe palmadas nas nádegas. Catherine Parr, em vez de censurar o marido pelas suas brincadeiras inadequadas, juntou-se a ele. Por duas vezes juntou-se a ele a fazer cócegas a Isabel e uma vez segurou-a enquanto ele lhe destruía o vestido preto "em mil pedaços". Contudo, quando Catherine descobriu o par abraçado, acabou com a situação. Em Maio de 1548, Isabel foi mandada embora.

Seymour continuou a conspirar para controlar a família real. Quando Catherine Parr morreu de febre puerperal depois de dar à luz no dia 5 de Setembro de 1548, Tomás voltou a centrar as suas atenções em Isabel, tendo como intenção casar-se com ela. Os pormenores sobre o seu comportamento com Isabel surgiram durante um interrogatório feito a Catherine Ashley e a Thomas Parry, o chefe da corte de Isabel. Para o rei e para o conselho, esta foi a última gota, e em Janeiro de 1549, Seymoure foi preso sob suspeita de se querer casar com Isabel e retirar o seu irmão do trono. Isabel, que estava a viver em Hatfield House, não admitiu nada. A sua teimosia exasperou o seu interrogador, Sir Tyrwitt, que disse: "Consigo ver-lhe no rosto que é culpada". Seymour foi enforcado no dia 20 de Março de 1549.

Em 1553, Eduardo morria com quinze anos, deixando um testamento que substituía o de seu pai. Contrariando o Ato da Sucessão de 1544, o documento excluía Maria e Isabel da sucessão ao trono e declarava Lady Jane Grey sua herdeira. Lady Jane ascendeu ao trono, mas foi deposta nove dias depois. Apoiada pelo povo, Maria entrou triunfante em Londres, com a meio-irmã Isabel a seu lado.

O espectáculo de solidariedade entre as irmãs não durou muito. Maria, a primeira rainha reinante indisputável do país, estava determinada a destruir a fé protestante na qual Isabel tinha sido educada e ordenou a todos que fossem à missa. Entre estas pessoas encontrava-se Isabel que teve de se conformar em público. A popularidade inicial de Maria esmoreceu quando se descobriu que esta tinha planos para se casar com o príncipe Filipe de Espanha, filho do imperador Carlos V. Começou a espalhar-se o descontentamento entre a população e muitos proclamaram Isabel como símbolo de oposição às políticas religiosas de Maria. Em Janeiro e Fevereiro de 1554 rebentaram rebeliões (conhecidas como a Rebelião de Wyatt) em várias regiões de Inglaterra e do País de Gales, lideradas por Thomas Wyatt.

Após o colapso da rebelião, Isabel foi levada para a corte e interrogada. No dia 18 de Março foi presa na Torre de Londres, onde Lady Jane Grey tinha sido executada no dia 12 de Fevereiro anterior para dissuadir os rebeldes. Aterrorizada, Isabel jurou fervorosamente a sua inocência. Apesar de ser improvável que tivesse conspirado com os rebeldes, sabe-se que alguns deles a abordaram. O confidente mais chegado de Maria, Simon Renard, embaixador de Carlos V, era a favor da ideia de que o trono nunca estaria a salvo enquanto Isabel estivesse viva e o chanceler, Stephen Gardiner, fez os possíveis para a levar a julgamento. Maria tentou remover Isabel da linha de sucessão, mas o parlamento, que tinha muitos apoiantes de Isabel, incluindo Lord Paget, não permitiu. Após dois meses na torre, Isabel foi posta em prisão domiciliar sob a guarda de Sir Henry Bedingfield. No caminho da prisão para casa, Isabel foi aclamada por multidões nas ruas.

No dia 17 de Abril de 1555, quando Maria pensava estar grávida, foi permitido a Isabel retornar à corte com o consentimento do próprio Filipe, já que este se preocupava com a possibilidade de que, no caso da morte da sua esposa durante o parto, esta fosse sucedida por Maria Stuart, que acabou por se tornar rainha da Escócia, por esta estar casada com o delfim de França, inimiga de Espanha. Quando se tornou claro que Maria não estava grávida, todos deixaram de acreditar que fosse possível a rainha alguma vez ter filhos. A sucessão de Isabel ao trono parecia assegurada. Até Filipe, que se tornou rei de Espanha em 1556, reconheceu esta nova realidade política. Quando a sua esposa adoeceu em 1558, Filipe mandou o conde de Feria consultar Isabel. Esta conversa teve lugar em Hatfield House, onde a futura rainha tinha voltado a morar em Outubro de 1555. Em Outubro de 1558, Isabel já estava a fazer planos para o seu governo. No dia 6 de Novembro, Maria reconheceu Isabel como sua herdeira legitima. Onze dias depois Isabel sucedeu ao trono, quando Maria morreu no Palácio de St. James no dia 17 de Novembro de 1558.

Isabel tornou-se rainha aos vinte e cinco anos e, ao saber da notícia da sua ascensão, terá citado a 23.ª linha do 118.º salmo em latim: "A Domino factum est illud, et est mirabile in oculis notris" ("É a vontade do Senhor e é maravilhosa a nossos olhos." No dia 20 de Novembro de 1558, Isabel declarou as suas intenções para o seu conselho e para outros nobres que tinham vindo a Hatfield jurar-lhe lealdade. O seu discurso contém o primeiro registo da sua adopção da política teológica medieval de que o soberano tem "dois corpos": o corpo natural e o corpo político:



Quando a sua procissão avançou pelas ruas da cidade na noite da sua coroação, Isabel foi muito bem recebida pelos cidadãos com orações e celebrações, a maior parte com sabor protestante. As demonstrações de apreço da rainha, abertas e graciosas, tornaram-na admirada pelos que a viram e que ficaram "magnificamente maravilhados".

Isabel foi coroada em 15 de Janeiro de 1559. Não havia um arcebispo da Cantuária na época para presidir a cerimónia. O último católico a ocupar o posto foi o cardeal Reginald Pole, que morreu poucas horas depois da rainha Maria. Como os principais bispos declinaram em participar na coroação (porque Isabel era filha ilegítima tanto sob a lei canónica quanto pela estatutária, além de ser protestante), foi Owen Oglethorpe, um bispo de menor importância, de Carlisle, quem a coroou. Já a comunhão não foi celebrada por Oglethorpe, mas pelo capelão pessoal da rainha, para evitar o uso dos ritos católicos. A coroação de Isabel I foi a última em que o latim foi usado durante a celebração, passando as celebrações posteriores a ser em inglês. Mais tarde, Isabel conseguiu convencer o capelão da sua mãe, o já citado Matthew Parker, a tornar-se arcebispo. Este aceitou, somente por lealdade e honra à memória da mãe da rainha, visto que considerava particularmente complicado servir a Isabel.

A verdadeira crença religiosa de Isabel pode nunca ser conhecida. A sua política religiosa punha o pragmatismo acima de tudo quando estava a lidar com os seus três maiores problemas. O primeiro tinha a ver com a legitimidade. Apesar de a rainha ser tecnicamente legitima na fé protestante anglicana, o fato de ser ilegitima na igreja inglesa não era tão grave como o de ter sido ilegitima na igreja católica, como muitos católicos afirmavam. Talvez o mais importante de tudo era o fato de, por ter havido uma separação de Roma, ela se sentir legitima. Por esta razão, nunca existiram grandes dúvidas de ela defenderia, pelo menos nominalmente, a fé protestante.

Isabel e os seus conselheiros estavam cientes da ameaça que a cruzada católica contra a Inglaterra representava. Assim, Isabel tentou procurar uma solução protestante que não ofendesse demasiado os católicos ao mesmo tempo que satisfizesse os desejos dos protestantes ingleses. No entanto a rainha não tolerava os puritanos mais radicais que estavam a tentar reformas mais extremas. Como resultado, o parlamento de 1559 começou a trabalhar numa lei para uma igreja baseada no estabelecimento religioso de Eduardo VI, com o monarca como líder, mas com elementos católicos, como as roupas dos padres.

O primeiro homem escolhido para tratar da questão foi sir William Cecil. O Ato da Uniformidade de 1559 requeria o uso do Livro de Oração Comum dos protestantes em serviços de igreja. O controle papal sobre a igreja da Inglaterra tinha sido restabelecido sob Maria I, mas foi anulado por Isabel. A própria rainha assumiu o título de "Suprema Governante da Igreja Anglicana", em vez de "Cabeça Suprema", já que diversos bispos e outras figuras públicas consideravam que o título era impróprio para uma mulher. O Ato de Supremacia 1559 obrigava os oficiais públicos a fazer um juramento que reconhecia o controle da Soberana sobre a igreja, cuja quebra recebia punições severas.

Muitos bispos estavam insatisfeitos com a política religiosa isabelina. Estes foram removidos da cadeira eclesiástica e substituídos por nomeados que mostravam maior subserviência em relação à supremacia da rainha. Apontou também um conselho privado inteiramente renovado, removendo muitos conselheiros católicos no processo. Sob o comando de Isabel, o facionalismo no conselho e nos conflitos da corte diminuiu bastante. Os conselheiros principais de Isabel eram sir William Cecil (lorde Burghley), secretário de estado, e Sir Nicholas Bacon, Lorde Guardião do Grande Selo. Entre os seus leais conselheiros e secretários, um se tornou notório por ter criado o primeiro serviço de espionagem da Inglaterra: sir Francis Walsingham era secretário de negócios internos e chefe do serviço de espionagem.

Logo após sua ascensão, muitos se questionaram sobre possíveis laços matrimoniais para Isabel. A razão para nunca ter se casado é imprecisa. Pode ter sentido repulsa, motivada pelos maus tratos que as esposas de Henrique VIII haviam recebido. Outra hipótese é de que tenha sido afetada psicologicamente pela suposta relação que teve com Tomás Seymour durante sua infância. Boatos da época imputavam-lhe um defeito físico que estava receosa de revelar: talvez marcas deixadas por varíola. É também possível que Isabel não desejasse compartilhar o poder da coroa ou que, dada a situação política instável, temesse a luta contra rebeliões apoiadas por facções aristocráticas, no caso de estabelecimento de matrimônio com algum representante de alguma dessas facções. Existe também a hipótese de que soubesse que era infértil. A única coisa que se sabe com certeza é que o casamento ser-lhe-ia particularmente dispendioso e custar-lhe-ia também alguma independência, já que todas as propriedades e rendas de Isabel herdadas de seu pai seriam suas somente enquanto fosse solteira.

Também é lógico entender que só tinha duas opções, ambas más: ou desposava um estrangeiro, e neste caso corria o risco de perder não apenas a independência pessoal, mas também a de seu reino, como vira suceder com sua irmã, que fizera da Inglaterra um apêndice dos interesses espanhóis; ou se casava com um súbdito, e neste caso elevava uma família de súbditos à condição de dinastia. Manter-se solteira, dizer que "tinha desposado o seu País", foi uma sábia política que lhe garantiu boas condições de governo, além de popularidade (embora nos primeiros anos do reinado a pressão fosse grande para ela contrair matrimônio), mas ao preço de não ter um sucessor de seu corpo. Na verdade, Isabel reluta até o fim em definir quem herdará o trono. Aparentemente, a sua menção mais clara à sua escolha é, no leito de morte, quando diz que "somente um rei poderá herdar o trono" que é seu, numa alusão inequívoca a Jaime VI da Escócia, que lhe sucederá como Jaime I da Inglaterra - e marcará o final da dinastia Tudor e o início da Stuart.

Na primavera de 1559 tornou-se evidente que Isabel estava apaixonada pelo seu amigo de infância, Lord Robert Dudley. Dizia-se que a sua esposa, Amy Robsart estava a sofrer de "um mal num dos peitos", e que a rainha queria casar com Lord Robert no caso de a sua esposa falecer. No outono de 1559 havia já vários pretendentes estrangeiros que estavam a competir pela mão de Isabel. Os seus enviados impacientes começaram a ter conversas cada vez mais escandalosas, dizendo que um casamento com o seu amigo não era desejado na Inglaterra: "Não existe nenhum homem que não fique indignado com ele e com ela (...) ela não quer casar com mais ninguém senão o seu favorito Robert". Amy Dudley morreu em Setembro de 1560 depois de cair de umas escadas abaixo e, apesar de ter sido provado que tinha sido um acidente, muitas pessoas suspeitaram que tinha sido Dudley a provocar a sua morte para que se pudesse casar com a rainha. Isabel considerou seriamente casar-se com Dudley durante algum tempo, contudo, William Cecil, Nicholas Throckmorton e alguns nobres conservadores mostraram que estavam completamente contra. Houve até rumores de que a nobreza se iria revoltar caso houvesse um casamento.

Apesar de existirem vários outros projectos de casamento, Robert Dudley foi visto como o principal candidato durante quase uma década. Isabel tinha muitos ciúmes dele, mesmo quando já não tinha intenções de se casar. Em 1564, Isabel fez de Dudley conde de Leicester. Este acabou mesmo por se voltar a casar, em 1578, desagradando profundamente a rainha que mostrou sempre sentir um grande ódio em relação à sua esposa. Mesmo assim, Dudley foi sempre "o centro da sua vida emocional", segundo a historiadora Susan Doran. Morreu pouco depois da destruição da armada espanhola e, depois da morte da própria rainha, foi encontrada uma carta entre os seus papéis que dizia "a sua última carta" com a letra da rainha.

Isabel manteve a questão do casamento aberto, mas frequentemente apenas o fazia como uma estratégia política, tratando-a como se fosse uma questão de política externa. Apesar de ter recusado a proposta do rei Filipe II de Espanha em 1559, negociou um casamento com o primo deste, o arquiduque Carlos da Áustria, durante muitos anos até que as relações com os Habsburgo se deterioraram em 1568. Depois Isabel considerou casar-se com um príncipe Valois francês, primeiro com Henrique, duque de Anjou, e depois, de 1572 a 1581, com o seu irmão Francisco, duque de Anjou, antigo duque de Alençon. Esta última união foi formulada devido a uma aliança planeada contra o controlo espanhol no sul da Holanda. Isabel levou a corte a sério por algum tempo e usava um brinco em forma de sapo que Anjou lhe tinha dado.

O parlamento pedia-lhe frequentemente que se casasse, mas a rainha evitava sempre dar respostas precisas. Em 1563 disse a um enviado imperial: "Se seguir a inclinação da minha natureza seria a seguinte: pedinte e solteira, muito mais do que rainha e casada". No mesmo ano, após Isabel ter adoecido de varíola, a questão da sucessão passou a ser uma questão fundamental. O parlamento instava a rainha para se casar ou escolher um herdeiro para evitar uma guerra civil após a sua morte. Ela recusou-se a fazer os dois. Em Abril prorrogou o parlamento, que não se voltou a reunir até a rainha precisar de apoio para subir os impostos em 1566. A Câmara dos Comuns ameaçou reter fundos até que a rainha se decidisse a resolver a questão de sucessão. O problema persistiu e a Casa enviou Sir Robert Bell, que "defendeu fortemente" a discussão da questão de sucessão; "mesmo na hipótese de a rainha ordenar que seja esquecida". "Pelas suas palavras: 'O senhor Bell e os seus cúmplices (...) preferiram proferir os seus discursos à casa alta para que vós, meus senhores, os consentisses, ficastes então seduzidos e na verdade tal foi bastante simples." Mais tarde nesse ano, Isabel confessou ao embaixador espanhol que, se não encontrasse outra forma de resolver a questão de sucessão sem se casar, então fálo-ia. Em 1570, algumas das figuras mais importantes do governo aceitaram em privado que Isabel nunca se casaria ou escolheria um sucessor. William Cecil já estava à procura de soluções para o problema de sucessão. Por esta razão, Isabel era frequentemente acusada de ser irresponsável. O seu silêncio fortalecia a sua própria segurança política: Isabel sabia que se nomeasse um herdeiro, o seu trono ficaria vulnerável a um golpe de estado.

Diferentes linhas de sucessão foram consideradas durante o reinado de Isabel. Uma linha possível era a de Margarida Tudor, irmã mais velha de Henrique VIII, que passava por Maria I da Escócia (Maria Stuart). A outra alternativa provável descendia de uma irmã mais nova de Henrique, Maria Tudor, duquesa de Suffolk; nesse caso, a próxima rainha seria lady Catherine Grey, irmã de Jane Grey. Uma possibilidade ainda mais remota seria a ascensão de Henry Hastings, o conde de Huntingdon, que poderia reivindicar sua descendência de Eduardo III (século XV). Cada herdeiro possível tinha alguma desvantagem: Maria I era católica, lady Grey casara-se sem o consentimento da rainha e Lorde Huntingdon, que era puritano, nem sequer tinha quaisquer pretensões de aceitar a coroa.

Em 1568 morreu Catherine Grey, a última herdeira viável ao trono inglês. Deixou um filho, mas foi considerado ilegítimo. Sua herdeira era sua irmã, lady Maria Grey. Isabel foi forçada novamente a considerar um sucessor escocês, da linha da irmã do seu pai, Margarida Tudor. No entanto Maria I (Maria Stuart), era impopular na Escócia, onde continuava aprisionada. Mais tarde, escapou de sua prisão e fugiu para Inglaterra, onde foi capturada por forças inglesas. Isabel se viu perante um dilema: enviá-la aos nobres escoceses seria considerado cruel demais; enviá-la à França torná-la-ia um trunfo poderoso nas mãos do rei francês; restaurar-lhe o trono da Escócia poderia ser visto como um gesto heróico, mas causaria grande tensão entre os escoceses; aprisioná-la na Inglaterra permitiria a participação directa de Maria em conjuras contra a rainha. Isabel escolheu esta última opção: Maria foi confinada por dezoito anos, a maior parte deles no castelo e mansão de Sheffield, sob custódia de George Talbot. Embora a peça de Schiller, Maria Stuart, traduzida ao português pelo poeta Manuel Bandeira, tenha um de seus momentos altos no dramático confronto das duas rainhas após quase dezoito anos de reclusão da escocesa, a verdade é que nunca se encontraram.

O estatuto de solteira de Isabel inspirou um culto de virgindade. Em poesia e em retratos, a rainha era representada como uma virgem ou uma deusa, ou ambos, e não como uma mulher normal. A princípio, Isabel exaltou a virtude da sua virgindade: em 1559, disse ao parlamento: "E, no final, será para mim suficiente, que uma pedra de mármore declare que uma rainha, tendo vivido e reinado em tal época, viveu e morreu virgem." Mais tarde, especialmente depois de 1578, poetas e escritores centraram-se no mesmo tema e transformaram-no numa iconografia que exaltava Isabel. Numa época de metáforas e conceitos, a rainha era retractada como se estivesse casada com o seu reino e subditos, sob protecção divina. Em 1599, Isabel falou de "todos os meus maridos, as minhas boas gentes".

A rainha encontrou uma rival perigosa em sua prima, a católica Maria Stuart, rainha da Escócia e esposa do rei francês Francisco II. A primeira política de Isabel em relação à Escócia foi no sentido de se opor à presença francesa no país.Em 1563, Isabel propôs o seu pretendente, Robert Dudley, como marido para Maria, sem perguntar a nenhum dos dois se estavam interessados. Nenhum se mostrou interessado, e, em 1565, Maria voltou a casar-se com Henrique Stuart, Lord Darnley, que tinha a sua própria pretensão ao trono inglês. O casamento foi o primeiro de muitos erros de Maria que acabou por dar a vitória aos protestantes escoceses e a Isabel. Darnley depressa se tornou odiado na Escócia e depois famoso por ter ordenado o assassinato do secretário italiano de Maria, David Rizzio. Em Fevereiro de 1567, Darnley foi assassinado por um grupo de conspiradores, quase de certeza liderados por James Hepburn, conde de Bothwell. Pouco depois, no dia 15 de Maio de 1567, Maria casou-se com Bothwell, levantando suspeitas de que também tinha participado na morte do marido. Isabel escreveu-lhe:

Temia que os franceses estivessem a planear invadir a Inglaterra e colocassem Maria, que era considerada por muitos a verdadeira herdeira da coroa, Isabel foi persuadida a enviar uma força militar para a Escócia, para ajudar os rebeldes protestantes e apesar da campanha ser absurda, o Tratado de Edimburgo que dela resultou, em Julho de 1560, acabou com a ameaça francesa no norte. Quando o seu marido morreu em 1561, Maria regressou à Escócia para tomar as rédeas do poder, o país tinha estabelecido uma igreja protestante e era governando por um conselho de nobres protestantes apoiado por Isabel. Maria recusou-se a ratificar o tratado. Enquanto isso, na França, a perseguição católica aos huguenotes deflagrou as Guerras Religiosas Francesas. Isabel, secretamente auxiliou os huguenotes. Fez a paz com a França em 1564, desistindo de reivindicar a última possessão inglesa na França continental, Calais, após a derrota de uma expedição inglesa em Le Havre. Isabel, entretanto, não abriu mão da sua reivindicação à Coroa Francesa, que tinha sido mantida desde o reino de Eduardo III durante a Guerra dos Cem Anos (século XIV). Tal pretensão foi apenas renunciada pelos monarcas britânicos no reinado Jorge III no século XVIII.

Em 1563, Isabel propôs o seu pretendente, Robert Dudley, como marido para Maria, sem perguntar a nenhum dos dois se estavam interessados. Nenhum se mostrou interessado, e, em 1565, Maria voltou a casar-se com Henrique Stuart, Lord Darnley, que tinha a sua própria pretensão ao trono inglês. O casamento foi o primeiro de muitos erros de Maria que acabou por dar a vitória aos protestantes escoceses e a Isabel. Darnley depressa se tornou odiado na Escócia e depois famoso por ter ordenado o assassinato do secretário italiano de Maria, David Rizzio. Em Fevereiro de 1567, Darnley foi assassinado por um grupo de conspiradores, quase de certeza liderados por James Hepburn, conde de Bothwell. Pouco depois, no dia 15 de Maio de 1567, Maria casou-se com Bothwell, levantando suspeitas de que também tinha participado na morte do marido. Isabel escreveu-lhe:



Estes eventos levaram rapidamente à derrota de Maria e à sua prisão no Castelo de Lochleven. Os lordes escoceses forçaram-na a abdicar a favor do seu filho, Jaime, que tinha nascido em Junho de 1566. Jaime foi levado para o Castelo de Stirling para ser criado como protestante. Maria fugiu de Lochleven em 1568 e, depois de mais uma derrota, atravessou a fronteira para Inglaterra, onde sabia que receberia apoio de Isabel. O primeiro instinto da rainha foi o de restaurar a sua prima afastada ao trono, mas no final decidiu escolher uma jogada mais segura. Em vez de arriscar entregar Maria novamente à Escócia com um exercito inglês ou para França, foi resolvido que Maria ficaria detida em Inglaterra, onde ficou presa nos dezanove anos que se seguiram.A situação dos católicos em Inglaterra incentivou-os fortemente a ver Maria Stuart como a verdadeira soberana de Inglaterra. Maria pode não ter sabido de todas as conspirações católicas que planeavam colocá-la no trono, mas desde a Conspiração de Ridolfi em 1571 (que levou o seu pretendente, o duque de Norfolk a ser decapitado) até à Conspiração de Babington de 1586, o espião de Isabel, Sir Francis Walsingham, e o conselho real conseguiram reunir provas contra ela. A príncipio, Isabel resistiu aos que pediam a morte de Maria, mas em finais de 1586 tinha sido persuadida a sanciona-la com um julgamento e execução depois de terem surgido cartas escritas por ela durante a Conspiração de Babington. A proclamação de Isabel sobre a sentença anunciava que "a referida Maria, querendo título da mesma coroa, tinha criado e imaginado dentro do mesmo reino várias coisas no sentido do sofrimento, morte e destruição da nossa pessoa real." No dia 8 de Fevereiro de 1587 Maria foi decapitada no Castelo de Fotheringhay em Northamptonshire. No seu testamento, Maria deixou a Filipe sua reivindicação ao trono inglês.

A política estrangeira de Isabel foi, em grande parte, defensiva, com a excepção da ocupação inglesa de Le Havre de Outubro de 1562 a Junho de 1563 que acabou por falhar quando os huguenotes de Isabel se juntaram aos católicos para reconquistar o porto. A intenção de Isabel tinha sido trocar Le Havre por Calais que tinha sido perdido para França em Janeiro de 1558. Foi só através das actividades das suas frotas que Isabel teve uma política agressiva. Estas acabaram por resultar numa guerra contra a Espanha que foi lutada maioritariamente no mar. A rainha tornou Francis Drake cavaleiro do reino depois da sua circumnavegação do planeta de 1577 a 1580 e ele acabou por ganhar fama pelos seus ataques a portos e barcos espanhóis. A política marítima de Isabel tinha um certo elemento de pirataria e auto-enriquecimento que a rainha pouco conseguia controlar.

Em 1580, o papa Gregório XIII enviou forças para ajudar as rebeliões de Desmond na Irlanda que, no entanto, falharam. A rebelião foi dada como terminada em 1583. Enquanto isso Portugal e Espanha formavam a União Ibérica, assim Filipe II de Espanha, I de Portugal, junto com o trono português, recebeu o comando de alto-mar. Após a ocupação e perda de Le Havre em 1562-1563, Isabel evitou expedições militares ao continente até 1585, quando enviou um exército inglês para ajudar os protestantes holandeses a lutar contra Filipe II. Estes eventos aconteceram após a morte dos seus aliados, Guilherme, o taciturno, príncipe de Orange (assassinado) e de Francisco, duque de Anjou, e a rendição de uma série de cidades holandesas a Alexander Farnese, duque de Parma, o governador espanhol da Holanda, nomeado por Filipe II. Em Dezembro de 1584 formou-se uma aliança entre Filipe II e a liga francesa católica em Joinville, reconheceu a incapacidade do irmão de Anjou, Henrique III de França, em travar o domínio espanhol da Holanda. Também aumentou a influência espanhola ao longo da costa francesa, onde a liga católica era forte, e expôs Inglaterra a uma invasão. O cerco de Antuérpia no verão de 1585, idealizado pelo duque de Parma, precisava de alguma reacção por parte de Inglaterra e dos holandeses. O resultado foi o Tratado de Nonsuch em Agosto de 1585, no qual Isabel prometia apoio militar aos holandeses. O tratado marcou o inicio da Guerra Anglo-Espanhola que durou até ao Tratado de Londres de 1604.

A expedição foi liderada pelo seu antigo pretendente, Robert Dudley. Isabel não apoiou esta alternativa desde o inicio. A sua estratégia era apoiar os holandeses no campo de batalha com o exercito inglês enquanto se começavam conversas de paz secretas com os espanhóis poucos dias depois da chegada de Dudley à Holanda, era oposta à de Dudley que não só queria lutar numa campanha activa e sabia que os holandeses também esperavam que isso acontecesse. Isabel, por outro lado, queria que ele evitasse "a todos os custos qualquer ataque decisivo contra o inimigo." Enfureceu Isabel quando aceitou o posto de governador-geral dos estados-gerais holandeses. Isabel viu esta acção como um plano dos holandeses para que ela aceitasse ser soberana do seu país, algo que ela tinha sempre recusado. Numa carta a Dudley disse:



O "comando" de Isabel era que o seu emissário lesse as suas cartas de censura publicamente, perante o conselho de estado holandês e com Dudley a seu lado. Esta humilhação publica do seu general juntamente com as suas conversas para uma paz separada com a Espanha, destruíram irreversivelmente a sua imagem entre os holandeses. A campanha militar foi fortemente dificultada pelas recusas constantes de Isabel em enviar os fundos que tinha prometido para os soldados que passavam fome. A sua pouca vontade em empenhar-se na causa, a própria incompetência de Dudley como líder político e militar e a situação caótica da política holandesa foram as razão pelas quais a campanha falhou. Dudley acabou por renunciar ao seu comando em Dezembro de 1587.

Quando o protestante Henrique IV herdou o trono francês em 1589, Isabel enviou-lhe apoio militar. Foi a sua primeira aventura arriscada em França desde a retirada de Le Havre em 1563. A sucessão de Henrique era fortemente protestada pela Liga Católica e por Filipe II e Isabel temia que Espanha tentasse retomar os portos do canal. Contudo, as campanhas inglesas que se seguiram em França foram desorganizadas e ineficientes. Lord Willoughby, ignorando amplamente as ordens de Isabel, vagueou pelo norte de França com um exército de quatro mil homens sem grandes efeitos. Retirou-se desajeitadamente em Dezembro de 1589, perdendo metade das suas tropas. Em 1591, a campanha de John Norreys, que liderou três mil homens para a Britânia, foi ainda mais desastrosa. Isabel estava mesmo pouco disposta a contribuir com os mantimentos e reforços que foram pedidos pelos comandantes. Norreys partiu para Londres para pedir pessoalmente mais apoio à rainha. Na sua ausência, o exército da Liga Católica quase destruiu o que sobrava do seu exército em Craon, no noroeste francês, em Maio de 1591. Em Julho, Isabel enviou outra força militar comandada por Robert Devereux, conde de Essex, para ajudar Henrique IV a cercar Ruão. O resultado foi igualmente desolador. Essex não conseguiu conquistar nada e regressou a Inglaterra em Janeiro de 1592. Henrique abandonou o cerco em Abril. Como era habitual, Isabel não conseguia controlar as suas tropas quando estas estavam no estrangeiro. "Onde está, ou o que fez, ou o que fará," escreveu a rainha a Essex, "ignoramos".

Em 1596, a Inglaterra se retirou por fim da França, com Henrique IV já plenamente estabelecido no trono, depois de desfeita a liga católica que a ele se tinha oposto. Isabel enviou 2 000 tropas adicionais para França depois da tomada espanhola de Calais. A Inglaterra tentou atacar os Açores em 1597, mas falhou. Algumas batalhas ainda ocorreram até 1598, quando França e Espanha fizeram finalmente as pazes. A guerra Anglo-Espanhola entrou num impasse depois da morte de Filipe II naquele ano. Em parte por causa da guerra, as tentativas ultramarinas de colonização, por parte de Raleigh e de Gilbert falharam, e os assentamentos norte-americanos se estagnaram até Jaime I negociar a paz no tratado de Londres (1604).

Apesar de a Irlanda ser um dos seus dois reinos, Isabel enfrentava uma população hostil e, por vezes, virtualmente autônoma que defendia o catolicismo e estava disposta a desafiar a sua autoridade e a conspirar com os seus inimigos. A sua política na Irlanda foi a de dar terra aos seus cortesãos e impedir que os rebeldes dessem a Espanha uma base militar para atacar Inglaterra. No decurso de uma série de rebeliões, as forças da Coroa adoptaram uma táctica de terra queimada, queimando terrenos agrícolas e matando homens, mulheres e crianças. Durante uma revolta em Munster, liderada por Gerald FitrzGerald, conde de Desmond, em 1582, cerca de trinta mil irlandeses morreram de fome. O poeta e colonista Edmund Spenser escreveu que as vitimas "chegaram a um tal estado de miséria que qualquer coração de pedra sentiria compaixão". Isabel aconselhou os seus comandantes a tratar bem os irlandeses "aquela nação rude e bárbara", mas não mostrava remorsos quando se dizia que a força e banhos de sangue eram necessários.

Entre 1594 e 1603, Isabel enfrentou o seu teste mais difícil na Irlanda durante a Guerra dos Nove Anos, uma revolta que aconteceu durante o ponto mais alto das hostilidades com Espanha, que apoiava o seu líder, Hugh O'Neill, conde de Tyrone. Na primavera de 1599, Isabel enviou Robert Devereux, segundo conde de Essex, para acabar com a revolta. Para sua frustração, o conde pouco melhorou a situação e regressou a Inglaterra, desafiando as suas ordens. Foi substituído por Charles Blount, Lord Mountjoy, que demorou três anos a derrotar os rebeldes. O'Neill rendeu-se finalmente em 1603, alguns dias depois da morte de Isabel. Pouco depois foi assinado um tratado de paz entre Espanha e Inglaterra.

Isabel continuou a manter relações diplomáticas com o czar da Rússia que tinham sido estabelecidas pelo seu falecido irmão. Escrevia com frequência a Ivan IV, em termos amigáveis, apesar de o czar se irritar com o facto de Isabel se interessar mais pelas relações comerciais entre os dois países do que por uma possível aliança militar. O czar chegou mesmo a pedi-la em casamento e, durante os seus últimos anos de reinado, pediu uma garantia de exílio em Inglaterra caso a sua posição estivesse em risco. Após a morte de Ivan, este foi sucedido pelo seu filho Feodor, que tinha uma mentalidade mais simples. Ao contrário do seu pai, Feodor não tinha interesse em manter relações comerciais exclusivamente com Inglaterra, declarando o seu reino aberto a todos os estrangeiros e dispensando o embaixador inglês, Sir Jerome Bowes, cuja impornência não suportava. Isabel enviou um novo embaixador, Dr. Giles Fletcher para pedir ao regente Boris Godunov para convenser o czar a reconsiderar a sua posição. As negociações falharam quando o embaixador de esqueceu de referir dois dos títulos de Feodor quando se dirigiu a ele. Isabel continuou a corresponder-se com o czar em cartas meio apelativas, meio reprovadoras. Propôs uma aliança, algo que se tinha recusado a fazer com o pai de Feodor, mas esta foi recusada.

O comercio e as relações diplomáticas entre Inglaterra e os estados berbéricos começou durante o reinado de Isabel. A Inglaterra estabeleceu uma relação comercial com Marrocos, opondo-se à Espanha, vendendo armamento, munições, madeira e metal em troca de açucar, mesmo apesar da proibição papal. Em 1600, Abd el-Ouahed ben Messaoud, o secretário principal do governante marroquino Mulai Ahmad al-Mansur, visitou Inglaterra como embaixador da corte de Isabel I, para negociar uma aliança anglo-marroquina contra Espanha. Isabel "concordou em vender munições a Marrocos e os dois falaram intermitentemente sobre uma operação conjunta contra Espanha". Contudo as discussões não chegaram a qualquer conclusão e ambos os soberanos morreram dois anos depois.

Também se estabeleceram relações diplomáticas com o Império Otomano através da criação da Companhia do Oriente e o envio do primeiro embaixador inglês para o império, William Harborne, em 1578. Um Tratado de Comércio foi assinado pela primeira vez em 1580. Foram enviados vários representantes de ambos os lados e foram feitas tropas epistolares entre Isabel e o sultão Murad III. Numa carta, Murad mencionou que o Islão e o Protestantismo tinham "muito mais em comum entre si do que qualquer um dos dois com o Catolicismo Romano, já que ambos rejeitam a idolatração de ícones", e pediu uma aliança entre Inglaterra e o Império Otomano. Para receio da Europa católica, Inglaterra exportava estanho e chumbo (para canhões) e munições para o Império Otomano e Isabel discutia seriamente a hipótese de participar em operações militares com Murad III quando rebentou a guerra com Espanha em 1585. Foi também nesta altura que a pirataria anglo-turca começou a prosperar.

O período que se seguiu à derrota da Armada Espanhola em 1588 trouxe dificuldades acrescidas a Isabel que durariam os quinze anos finais do seu reinado. Os conflitos com a Espanha e com a Irlanda arrastaram-se, os impostos aumentaram e a economia sofreu com fracas colheitas e o custo da guerra. Os preços subiram e a qualidade de vida desceu. Durante este período, a repressão aos católicos intensificou-se e Isabel permitiu que comissões interrogassem e vigiassem casas católicas em 1591. Para manter a ilusão de paz e prosperidade, Isabel passou a confiar cada vez mais em espiões e propaganda. Nos seus últimos anos de vida, a critica por parte dos seus súbditos demonstrou uma quebra na sua popularidade.

Uma das causas para este chamado "segundo reinado" de Isabel, foi o diferente carácter do seu governo e do conselho privado na década de 1590. Uma nova geração tinha chegado ao poder. Com a excepção de Lord Burghley, os políticos mais importantes de Isabel tinham morrido por volta desta década: o conde de Leicester em 1588, Sir Francis Walsingham em 1590, Sir Christopher Hatton em 1591. Conflitos entre facções do governo, algo que nunca tinha existido a um grande nível antes desta década, tornava-se agora na principal característica do mesmo. A forte rivalidade que existia entre o conde de Essex e Robert, filho de Lord Burghley, bem como dos seus apoiantes, pelas posições mais altas no governo deteriorou a política do país. O poder pessoal da rainha diminuía cada vez mais, como se pode verificar pelo caso de Dr. Lopez, o seu médico. Quando o conde Essex o acusou indevidamente de traição por causa de um despeito pessoal, a rainha não conseguiu impedir a sua execução, mesmo apesar de não ter concordado com a sua prisão e não acreditar na sua culpa (1594).

Nos seus últimos anos de reinado, Isabel passou a depender cada vez mais da concessão de monopólios como um sistema de financiamento sem custos em vez de pediu mais dinheiro ao parlamento durante a guerra. Contudo, esta prática levou rapidamente a uma fixação de preços que enriqueceu os membros da corte ao custo do público, algo que espalhou ressentimento por todo o país. Este problema culminou em agitação na Câmara dos Comuns durante o parlamento de 1601. No seu famoso "Discurso Dourado", dado no dia 30 de Novembro de 1601, Isabel afirmou desconhecer dos abusos e conquistou os membros do parlamento com promessas e o seu tradicional apelo à emoção.

Contudo, este período de incerteza económica e política deu origem a um florescer literário sem precedentes em Inglaterra. Os primeiros sinais de uma novo movimento literário começaram a aparecer no inicio da segunda década do reinado de Isabel com a publicação de A Anatomia do Espírito de John Lyly e The Shepheardes Calender de Edmund Spenser em 1578. Durante a década de 1590, alguns dos maiores nomes da literatura inglesa amadureceram, incluindo William Shakespeare e Christopher Marlowe. Durante este período e na era jacobina que se seguiu, o teatro inglês atingiu o seu ponto máximo.

À medida que Isabel envelhecia, a sua imagem foi mudando. Era retractada como Belphoebe (Bela Diana) ou Astreia e, depois da Armada, como Gloriana, a eterna fada rainha jovem do poema de Edmund Spenser. Os seus quadros começaram a tornar-se cada vez menos realistas e mais um conjunto de figuras enigmáticas que a faziam parecer muito mais jovem do que era. A verdade era que a sua pele tinha ficado marcada por um ataque de varíola em 1562, que a tinha deixado meio careca e dependente de perucas e cosméticos. Sir Walter Raleigh chamou-a de "uma senhora a quem o tempo tinha ultrapassado". No entanto, quanto mais a beleza de Isabel desaparecia, mais a corte a admirava.

Isabel gostava de representar esse papel, mas é possível que na última década da sua vida tenha começado a acreditar no seu próprio poder. Nessa altura, Isabel começou a gostar do jovem encantador mas petulante Robert Devereux, conde de Essex, que era enteado de Leicester e tomava muitas liberdades com ela, que a rainha perdoava. Nomeou-o repetidas vezes para postos militares, apesar de a sua irresponsabilidade aumentar cada vez mais. Após a fuga de Essex do seu comando na Irlanda em 1599, Isabel colocou-o em prisão domiciliaria no ano que se seguiu, retirando-lhe os seus monopólios. Em Fevereiro de 1601, o conde tentou convocar uma rebelião em Londres com o objectivo de prender a rainha, mas teve pouco apoio e acabou decapitado no dia 25 desse mês. Isabel sabia que a culpa era em parte dos seus erros de julgamento. Um observador escreveu em 1602 que "o que ela mais gosta é de sentar-se no escuro e por vezes derramar lágrimas de lamento por Essex".

O principal conselheiro de Isabel, Burghley, morreu no dia 4 de Agosto de 1598. O seu cargo político passou para o seu filho, Robert Cecil, que pouco depois se tornou líder do governo. Uma das suas principais tarefas foi a de preparar o país para uma sucessão sem problemas. Uma vez que Isabel não queria revelar o nome do seu herdeiro, Cecil foi obrigado a agir em segredo. Assim, começou as negociações em código com o rei Jaime VI da Escócia, que tinha direitos fortes de sucessão, embora estes não fossem reconhecidos. Cecil aconselhou Jaime a ser gentil e paciente com Isabel. O conselheiro funcionou. O tom de Jaime agradou à rainha.

A saúde da rainha permaneceu sem sobressaltos até ao outono de 1602, quando uma série de mortes dos seus amigos a fizeram entrar em depressão. Em Fevereiro de 1603, a morte de Catherine Howard, condessa de Nottingham, sobrinha da sua prima e amiga chegada Lady Knollys, algo que foi um golpe particularmente duro para Isabel. Em Março, Isabel sentiu-se doente e permaneceu num estado de "resignação e melancolia permanente". Morreu em 24 de março no palácio de Richmond, entre as duas e as três da manhã. Poucas horas depois, Robert Cecil e o conselho declararam Jaime VI da Escócia como novo rei de Inglaterra.

Com sessenta e nove anos de idade, foi monarca que governou em Inglaterra por mais tempo até sua época. Sua marca só foi superada quando Jorge II morreu com setenta e sete anos em 1760. Isabel foi enterrada na abadia de Westminster, ao lado de sua irmã Maria I. O epitáfio de seu túmulo é a inscrição latina "Parceiras no trono e na sepultura, descansamos aqui duas irmãs, Isabel e Maria, na esperança de uma ressurreição".

O testamento deixado por Henrique VIII declarava que Isabel devia ser sucedida pelos descendentes de sua irmã mais velha, Maria Tudor, duquesa do Suffolk, em detrimento dos descendentes escoceses de sua irmã mais velha, Maria Tudor. Se sua vontade fosse atendida, Isabel seria sucedida então por lady Anne Stanley. Se, entretanto, as regras da primogenitura masculina prevalecessem, o sucessor seria Jaime VI, rei de Escócia. Outros nobres podiam ainda reivindicar o trono. Incluíam-se entre estes o Sr. Edward Seymour, barão de Beauchamp (filho ilegítimo de lady Catherine Grey) e William Stanley, conde de Derby (tio de Anne Stanley).

Algumas fontes históricas referem que Isabel nomeou Jaime seu herdeiro em seu leito de morte. De acordo com uma história duvidosa, quando questionada sobre quem nomearia como herdeiro, Isabel teria respondido, "quem poderia ser além de meu primo da Escócia?". De acordo com outra, disse, "quem além de um rei poderia suceder uma rainha?". Finalmente, uma terceira lenda sugere que permaneceu em silêncio até sua morte. Não há nenhuma evidência para provar qualquer desses episódios. Em todo caso, nenhum dos herdeiros alternativos reivindicou trono. Jaime VI, o único sucessor viável, foi proclamado rei de Inglaterra com o nome de Jaime I algumas horas após a morte de Isabel. A proclamação de Jaime I abriu um precedente histórico porque foi feita, não pelo próprio monarca, mas por um Conselho de Ascensão, já que Jaime se encontrava na Escócia. Os conselhos de ascensão e não os novos monarcas continuam a fazer a proclamação dos reis na prática moderna.



Jaime I (em inglês, James I ; Edimburgo, 1566 – Theobalds House, Hertfordshire, 1625), foi rei da Inglaterra e da Irlanda (1603-1625), sendo antes disso rei da Escócia, com o título de Jaime VI (1567-1625).

Proclamado como Rei da Escócia com um ano de idade, uma série de Regentes governaram durante sua menor idade até 1578. Em 1603 sucedeu Isabel I no trono da Inglaterra e Irlanda, que morreu sem descendência. Os direitos de Jaime ao trono inglês, como descendente de Henrique VII, eram superiores aos de outros pretendentes. Regeu conjuntamente Inglaterra, Escócia e Irlanda por um período de 22 anos, até sua morte aos 58 anos. Depois da União das Três Coroas, Jaime foi o primeiro com pretensões de ser chamado como Rei da Grã-Bretanha, porém encontrou oposição nos parlamentos da Inglaterra e Escócia, que consideravam o título carente de tradição e base legal.

No início de seu reinado na Inglaterra, Jaime I enfrentou com êxito a célebre Conspiração da Pólvora em 1605 e sucessivos conflitos com o Parlamento, que lhe era hostil, especialmente no tocante ao aumento de impostos. Jaime I quis também manter a paz com a Espanha mas suas atitudes confusas causaram a guerra com esse país. Durante seu reinado, Jaime I favoreceu o anglicanismo e perseguiu católicos e puritanos. De acordo com alguns historiadores, a política absolutista de Jaime, sua irresponsabilidade financiera e os favores otorgados a seus favoritos impopulares são as bases da Guerra Civil Inglesa, durante a qual foi executado seu filho e sucessor, Carlos I.

Durante seu reinado a "Era Dourada" iniciada por Isabel I do drama e da literatura continuou com grandes escritores como William Shakespeare, John Donne, Ben Jonson e Francis Bacon, que o Rei patrocinou, contribuindo com o florescimento cultural.

Apaixonado por teologia, o Rei ordenou a tradução da Bíblia que leva seu nome, a Bíblia do Rei Jaime, que ainda até os dias de hoje, é a oficial da Igreja Anglicana. Jaime era um homem muito instruído e inteligente, segundo o Henrique IV da França, Jaime era "le plus savant fou de la chrétienté", algo como "o mais erudito tolo da cristandade". Jaime também escreveu livros como True law of free monarchies e Basilikon Doron, defendendo o "direito divino dos reis".

Jaime Carlos (James Charles) foi o único filho da rainha Maria I da Escócia e de seu segundo marido Henrique Stuart, normalmente chamado de Lord Darnley. Ele era descendente de Henrique VII embora sua avó seja Margarida Tudor, irmã mais velha de Henrique VIII. Margarida era mãe de Margaret Douglas, condessa de Lennox e mãe de Henrique Stuart, Lord Darnley. Ela também era avó de Maria I da Escócia, esta última filha de Jaime V. O reinado de Maria na Escócia foi cheio de insegurança, ela e o marido eram católicos, e lidavam com uma rebelião protestante. O casamento de Maria foi difícil, enquanto ela estava grávida, seu marido aliou-se com os rebeldes e matou o secretário particular da rainha, David Rizzio.

Jaime nasceu em 19 de junho de 1566 no Castelo de Edimburgo, e como filho mais velho do monarca tornou-se automaticamente em Duque de Rothesay e Lorde High Steward. O pai de Jaime foi assassinado em 10 de fevereiro de 1567 em Kirk o' Field na cidade de Edimburgo, talvez em vigança pela morte de Rizzio. Em 15 de maio de 1567, Maria casou-se com James Hepburn, que era um dos suspeitos da morte de Henrique Stuart, isso aumentou sua impopularidade diante da população. Em junho do mesmo ano, uma revolta protestante prendeu Maria no Castelo de Loch Leven; ela jamais veria o seu filho novamente. Ela foi forçada a abdicar em 24 de julho em favor do infante Jaime e apontar James Stewart, Duque de Moray, como regente.

Foi coroado Rei da Escócia aos 13 meses de idade como Jaime VI, na Igreja de Holy Rude, na cidade de Stirling, no dia 19 de julho de 1567. O sermão foi rezado pelo calvinista John Knox.

Em 1568, Maria I fugiu da prisão levando a um breve período de violência. James Stewart derrotou as tropas de Maria na Batalha de Langside, forçando-a fugir para Inglaterra onde foi presa pela rainha Isabel I. Em 22 de janeiro de 1570 James Stweart foi assassinado por James Hamilton de Bothwellhaugh, para ser sucedido na regência pelo avó paterno do jovem rei Jaime, Mateus Stuart, que foi fatalmente ferido no ano seguinte em um ataque de simpatizantes de Maria I. O seguinte regente, John Erskine, morreu em 28 de outubro de 1572 por causa de uma misteriosa doença depois de ir a um banquete de James Douglas (quarto Conde de Morton), o mais poderoso dos nobres escoceses, ainda mais que os próprios regentes. Morton, que sucedeu Erskine, demostrou ser o mais eficaz dos regentes de Jaime em todos os aspectos, derrotando até às famílias que continuavam apoiando a Maria I, mas fez muitos inimigos.

Sua queda não foi causada pelos partidários de Maria I, mas pelos cortesãos mais próximos do Rei, que pressionaram ao jovem monarcareales, animando-o de tomar o controle do reino em suas mãos. Morton perdeu o favor do rei com a chegada do francês Esmé Stweart, primo de Lorde Darnley, que convirteu-se rapidamente no favorito do Rei.

Morton foi acusado de participar do assassinato de Lord Darnley, pelo qual Morton foi preso, condenado e, finalmente, executado em 2 de junho de 1581. Jaime nomeou Esmé Stweart Duque de Lennox e em 8 de agosto o único Duque da Escócia. O Rei, de 15 anos de idade, permaneceria sob a influência de Esmé por mais de um ano.

Embora protestante, O Duque de Lennox era aceito pro receio pelos nobres que notaram a afeição entre ele o o rei acusando Lennox de manter relações carnais com o rei. Em agosto de 1582, na Incursão de Raid, os condes protestantes de Gowrie e Angus, respectivamente William Ruthven e Archibald Douglas, sequestraram o Rei Jaime e o prenderam no Castelo Huntingtower e forçaram Lennox a deixar a Escócia. Depois da fuga de Jaime em 1583, ele reassumiu o trono com um controle crescente. Ele aprovou as Actas Negras para afirmar a autoridade real sobre Kirk e entre 1584 e 1603 estabeleceu paz entre os lordes.

Em 1586, James assinou o Tratado de com a Inglaterra. Com a acusação de sua mãe em tentar matar a Rainha Isabel I, Jaime quebrou relações diplomáticas com a Inglaterra depois da execução da mãe. Porém durante a crise da Armada Espanhola em 1588, ele deu apoio a Isabel I como "natural filho e compatriota de seu país".

Durante sua juventude, Jaime demonstrou pouco interesse pelas mulheres e depois da perda de Lennox, ele continuou a preferir a companhia masculina. Um casamento era necessário para reforçar sua monarquia, e a escolha caiu sobre uma jovem de 14 anos, Ana de Dinamarca (nascida em outubro de 1574), filha mais nova do rei protestante Frederico II da Dinamarca. Ao partir rumo a Escócia, ela foi obrigada a parar na costa da Noruega devido a uma tormenta. Jaime foi buscá-la pessoalmente. Eles casaram-se em 23 de novembro de 1589 no Palácio Bishop em Oslo e retornaram a Escócia em maio do próximo ano. A princípio, Jaime estava fascinado por Ana, mas com o passar do tempo ele perdeu interesse por ela. Entre 1593 e 1595, Jaime esteve envolvido com Anne Murray, e depois com Lady Glamis.

Em 1597–8, Jaime escreveu dois livros, The Trew Law of Free Monarchies e Basilikon Doron (O dom real), nos quais estabeleceu a base ideológica para sua monarquia.

Em Trew Law, ele desenvolve a teoria do direito divino dos reis, onde explica que por razões bíblicas os reis são superiores a outros homens. O documento propõe uma administração centralizada e uma política absolutista, pela qual um rei deveria impor novas leis por prerrogativa real, mas também atender à tradição e a Deus.

O Basilikon Doron, escrito como livro de instrução para seu filho e herdeiro, o Henrique Stuart, na época com 4 anos, é um guia mais práctico para a arte de governar. Apesar de certas banalidades a obra foi bem escrita, e é talvez o melhor exemplo de Jaime em prosa. O conselho de Jaime sobre os parlamentos, que ele considerava só como as cortes pertencentes ao rei, o qual lembra de suas próprias dificuldades com a Câmara dos Comuns: "Não convoque o Parlamento", disse a seu herdeiro, "exceto pela necessidade de novas leis, o que deve ser raro". No Trew Law Jaime afirma que um monarca é proprietário de seus estados do mesmo modo que um senhor feudal possui seu feudo.

Em 1603, Jaime I torna-se rei de Inglaterra, retomando estas suas teorias em polêmica contra a Igreja Católica, então sob o pontificado de Paulo V, que vai mobilizar o cardeal Roberto Belarmino e o doutor Francisco Suárez em defesa da doutrina da Igreja.

Nos últimos anos de Isabel I, o ministro chefe dela, Sir Robert Cecil, manteve correspondência secreta com Jaime com a finalidade de preparar a sucessão ao trono da Inglaterra. Antes da morte, da rainha Isabel I havia no testamento de Henrique VIII que a coroa deveria ser passada a Lady Ana Stanley, descendente de Maria Tudor (irmão de Henrique VIII). Entretanto, Jaime era o único aspirante sério à coroa inglesa; os outros, incluindo o visconde de Beauchamp e Lady Ana, não tinham o suficiente poder para defender seus direitos.

Isabel morreu em 24 de março de 1603 e no mesmo dia um Conselho de Ascensão proclamou Jaime como o Rei da Inglaterra. Com medo de alguma reação contrária, Londres foi colocada em alerta mas a notícia da noemação de Jaime não causou revoltas e protestos. No dia 5 de abril, Jaime deixou Edimburgo rumo a Londres. Jaime foi coroado como rei inglês no dia 24 de julho e assumiu o nome de James I (Jaime I), na Escócia ele era chamado de James VI). Isabel I foi a última monarca da Dinastia Tudor: com James I no poder iniciava-se a Dinastia Stuart.

A ascensão de James I marca também a união da Inglaterra e Escócia mas como reinos independentes, embora eles estivessem sob o comando do mesmo monarca. James I não poupou esforços para tentar unir os dois reinos em um só reino, mas isso só foi possível com a Tratado de União de 1707, no reinado de Ana I.

Apesar da facilidade da sucessão, James I teve que lidar com duas conspirações em seu primeiro ano de regime, O Complô de Bye e de Main, que levou a prisão entre outros de Sir Walter Raleigh. James manteve o Conselho Privado (ou Privy Council) de Isabel I de acordo com os conselhos de Robert Cecil mas em breve James apoiou a inclusão de Henry Howard e seu sobrinho Thomas Howard assim como outros cinco nobres da Escócia. A introdução de Henry Howard e Thomas Howard marcando o início do poder da família Howard na Inglaterra, que atingiu seu ápice depois da morte de Cecil em 1612.

Nos primeiros anos do regime de James I, ele sofreu grande influência de Cecil (mais tarde Conde de Salisbury), que era assistido pelo experiente Thomas Egerton, que James I nomeou como Barão Ellesmere e Lord Chanceler, e por Thomas Sackville (logo Conde de Dorset), que continuou sendo seu Lord Treasurer. James I criou numerosos títulos nobiliários para recompensar e manter contentes aos cortesãos. No total, durante o reinado de James foram criados 62 novos títulos nobres, em contraste com sua antecessora, a rainha Isabel, a qual havía criado somente 8 novos títulos durante seus 45 anos de governo. James I também se envolveu em numerosos conflitos com o parlamento pois estava acostumado com um tímido parlamento na Escócia.

James I tinha gosto pessoal pela união das coroas da Escócia e Inglaterra para estabelecer uma União Permanente das Coroas sob o poder de um monarca, um plano que encontrou oposição em ambos países. Em abril de 1604, a Câmara dos Comuns recusou o pedido de James I para o título de "Rei da Grã-Bretanha". Em outubro de 1604, ele se autoproclamou o "Rei da Grã-Bretanha", embora Francis Bacon tenha lhe dito que ele não poderia usar este título em nenhum processo legal.

James teve que lidar com conflitos religiosos onde foi lhe mandado uma petição que solicitava tolerância religisosa aos puritanos. Em 1604, ele aceito que fosse feitas tradução oficial da Bíblia, que veio a ser conhecida como 'Versão do rei James' (também chamada de 'Bíblia do Rei James'). Também no mesmo ano, aumentou a caçada às bruxas proclamando a pena de morte sem benefício clerical de última ins~tância para quem invocasse espíritos do mal ou familiares. Esse mesmo ano, terminou com a guerra de vinte anos com a Espanha, conhecida como a Guerra Anglo-Espanhola, assinando o Tratado de Londres.

Em 1605, um grupo de extremistas católicos conduzidos por Robert Catesby desenvolveu um plano, conhecido como a Conspiração da Pólvora, que consistia em causar uma explosão na Câmara dos Lordes no Parlamento, em que se reuniriam o rei e os membros de ambas Câmaras do parlamento para a Cerimônia Oficial de Abertura. Os conspiradores sustituiriam Jaime I por sua filha Elizabeth, a qual, segundo eles, esperavam poder converter ao catolicismo romano e, com ela, toda Inglaterra. Um dos conspiradores, entretanto, soltou a informação dos planos da conspiração, por isso ela acabou fracassando. Guy Fawkes, o responsável por executar a conspiração, foi torturado até revelar as identidades dos outros conspiradores, todos os quais foram executados ou assassinados durante sua captura. O cuidado para o não cumprimento das normas anticatólicas por James I assegurou-lhe que não houvesse mais conspirações depois de 1605.

James I impôs direitos aduaneiros sem a aprovação parlamentar, algo que nenhum monarca havia se atrevido a fazer desde o reinado de Ricardo II. A legalidade de tal ação foi desafiada em 1606 pelo mercante John Bates; a corte do ministério da Fazenda, entretanto, ficou a favor do rei. A decisão da corte foi denunciada pelo Parlamento. As relações entre James I e o Parlamento também foram arranhadas pela negativa do parlamento ao plano do reu em permitir livre intercambio comercial entre Inglaterra e Escócia.

Na última sessão do primeiro Parlamento reunido em seu reinado (que começou em 1610), Lord Salisbury propôs um esquema chamado de o Grande Contrato, que seria uma forma de deixar a coroa livre de dívidas feudais em troca de um subsídio parlamentar anual. O plano, entretanto, fracassou devido a uma facção do parlamento. Frustrado pelos membros da Câmara dos Comuns e pelo fracasso do Grande Contrato, Jaime I dissolveu o Parlamento em 1611.

Lord Salisbury morreu em 1612; outros conselheiros mais próximos do rei, como Robert Carr, foram forçados a sair. O governo pessoal de Jaime I foi desastroso para as finanças, e um novo Parlamento teve que ser chamado em 1614 para obter a criação de novos impostos. Este parlamento, o segundo do reinado de Jaime I, ficou conhecido como o "Parlamento Inútil" porque não pode aprovar nenhuma legislação ou impor nenhum imposto. Jaime I dissolveu este Parlamento rapidamente, quando chegou a ficarr claro que nenhum progresso podería ser feito.

Depois da dissolução do Parlamento Inútil, James I governou sem parlamento durante sete anos. Empregou os serviços do negociante Lionel Cranfield, que atuou com grande astucia para aumentar o dinheiro da Coroa vendendo títulos e outras dignidades, muitas delas criadas expresamente como fonte alternativa de dinheiro.

Outra fonte de dinheiro seria o casamento do Príncipe de gales com a infanta Maria Ana da Espanha. Isto também seria um meio de manter a paz com a Espanha. Apoiado pelos Howard e outros ministros e diplomáticos pro-católicos, a proposta aliança com a maior potência católica não foi bem recebida pelos protestantes ingleses.

O início da Guerra dos Trinta Anos em 1618, logo absorveu toda Europa. Seu genro, Frederico V, Eleitor Palatino, nomeado rei da Boêmia pelos rebeldes protestantes, foi expulso do país pelo Imperador do Sacro Império Romano Germânico Fernando II em 1620, enquanto que as tropas espanholas invadiram o Baixo Palatinado. Finalmente, Jaime I convocou o parlamento em 1621 para financiar uma expedição militar em apoio ao seu cunhado. A convocação resultou em fiasco duplo já que, por um lado, os Comuns só aprovaram um financiamento insuficiente para socorrer ao Eleitor Palatino e, em novembro do mesmo ano, formularam uma petição para declarar guerra contra a Espanha, e também para que o Príncipe de Gales se casasse com uma protestante. O Rei respondeu dizendo-lhes que não deveriam interferir em assuntos de prerrogativa real ou seriam castigados e o parlamento exigiu o reconhecimento de seus direitos, incluindo o de liberdade de expressão, e autoridade para discutir qualquer matéria referente ao bem estar do reino.

Em 1623, o jovem príncipe Carlos e Buckingham decidiram ir à Espanha incógnitos para pegar a mão da Infanta pessoalmente, mas a missão provou ser um erro e uma temeridade. O governo espanhol exigiu a necessidade do Príncipe se converter ao catolicismo e passar um ano na Espanha. O Príncipe e o Duque retornaram à Inglaterra sem a Infanta, e imediatamente romperam o tratado, com grande deleite do povo britânico.

A rainha Ana morreu em 1619. Havia rumores que Jaime I pouco se afetou com sua morte porque tinha um "especial afeto romântico" com George Villiers, primeiro duque de Buckingham. Os dois se conheceram em 1614, com o rei lhe dando uma grande quantidade de honrarias, culminando com o título de Duque de Buckingham em 1623. Muito provavelmente tenha sido homossexual ou bissexual, pois outorgou títulos de nobreza, terras, pensões e jóias a seus diversos favoritos com tal generosidade que esgotou o tesouro real.

Durante o último ano de James, com o Duque de Buckingham consolidando seu controle para que Carlos fosse o próximo rei a ser coroado, o rei estava gravemente doente. Em 1625, James tinha vários ataques de artrite e gota.

Morreu em Theobalds House, em Hertfordshire, Herts, em 27 de março de 1625, aos 58 anos de idade, sendo sepultado na abadia de Westminster, Londres.



Carlos I era o segundo filho de Jaime I e Ana de Dinamarca, Carlos nasceu no Palácio de Dunfermline, em 19 de novembro de 1600. Era uma criança com problemas que foi incapaz de andar até os três anos de idade. Quando Isabel I morreu e seu pai se tornou rei da Inglaterra, Carlos deixou a Escócia aos cuidados de enfermeiras e serventes já que possuia uma saúde frágil. Ao chegar a Londres, ele foi colocado aos cuidados de Lady Carey, que lhe ensinou a caminhar e falar. Quando adulto ele não media mais que 1 metro e 62 centímetros.

Em 1603, Carlos foi nomeado como Duque de Albany na Escócia. Dois anos mais tarde foi nomeado Duque de York, por ser o segundo filho do soberano inglês (o primeiro era sempre nomeado príncipe de Gales). Quando seu irmão mais velho morreu de febre tifóide em 1612, Carlos tornou-se o herdeiro ao trono e subsequentemente nomeado como Príncipe de Gales e Conde de Chester.

Carlos foi bem influênciado pelo favorito de seu pai, George Villiers. Os dois viajaram incógnitos para a Espanha em 1623 para conseguir a mão de Maria Anna, filha do rei Filipe III. A viagem foi um desastre, os espanhóis pediram que Carlos se convertesse ao catolicismo e permanecesse na Espanha durante um ano após o casamento. Carlos não aceitou e voltou para Londres pedindo ao seu pai declarasse guerra à Espanha.

Após a morte do pai, Carlos I foi coroado em 2 de fevereiro de 1626. No mesmo ano, no dia 13 de junho, casou-se com Henrietta Maria. Em maio, no primeiro parlamento aberto, Carlos I enfrentou oposição, devido ao seu futuro casamento com a católica Henrietta, embora ele tenha concordado em seguir a política contra os "recusantes" (como eram chamados àqueles que se recusavam a aceitar a Igreja da Inglaterra). Por isso, durante seu casamento, Henrietta não esteve presente para evitar controvérsias.

Seus primeiros problemas foram em relação a Guerra dos Trinta Anos, que iniciou-se na Boêmia e espalhou-se por toda Europa. Em 1620, o cunhado de Carlos I, Frederico V, Eleitor Palatino perdeu o Palatinado para o Sacro Império Romano. Carlos I para ajudá-lo declarou guerra à Espanha, na esperança que a Espanha intercedesse em favor de Frederico. Enquanto Carlos I queria um ataque a Espanha, o parlamento preferiu um ataque naval às novas colônias espanholas no Novo Mundo.

A guerra contra a Espanha foi ruim, especialmente pela incompetência da liderança do Duque de Buckingham; entretanto, Carlos recusou-se a demiti-lo. Carlos tentou aumentar seu capital com um empréstimo forçado através de taxas. Em reunião em 1628, o parlamento adotou uma Petição de Direito, declarando que o rei não deveria usar taxações sem o consentimento do parlamento. Em 1628 o Duque de Buckingham foi assassinado, o que foi definitivo para o fim da guerra mas não para o fim dos conflitos de Carlos I com o parlamento sobre taxação e questões religiosas.

Em janeiro de 1629, Carlos abriu a segunda sessão do parlamento que havia mandado fechar temporáriamente em junho de 1628. Esperava que, depois do assassinato do duque de Buckingham, o parlamento finalmente cooperaria com ele e lhe concederia outros subsídios. Ao invés disso, os membros da Câmara dos Comuns começaram a expressar sua oposição a certos impostos do rei que não tiveram consentimento parlamentar (impostos estes chamado de tonelagem e peso). Em março, o parlamento declarou que qualquer pessoa que pagasse o tonelagem ou o peso "seria declarado um traidor das liberdades da Inglaterra, e inimigo das mesmas". Mais tarde, quando os Comuns aprovaram outras medidas desagradáveis para o rei, Carlos ordenou a dissolução do parlamento.

Entre 1629 e 1640, o reinado de Carlos I ficou conhecido como os "Onze Anos de Tirania", ou o "Reinado Pessoal". A tentativa de Carlos de governar sem o parlamento não era ilegal. Naquela época constituiu um exercício válido da prerrogativa real, ainda que se possa argumentar que o que se considerava legal em épocas anteriores pode ser tirânico aos olhos contemporâneos.

Carlos adotou uma política religiosa que, em vez dos constantes compromissos que compunham a via media anglicana, orientou-se numa direção mais conservadora do que o legado isabelino, o Elizabethan settlement, que desde Isabel I constituíra um modo de uma única Igreja estatal conseguir congregar cristãos que podiam divergir em muitos pontos, mas se mantinham unidos graças a uma razoável tolerância, ao mesmo tempo assumindo princípios mais próximos de Roma (o poder dos bispos), dos puritanos (uma liturgia bastante despojada, sem paramentos, luxo nem ouro) e do Estado (o monarca como chefe da Igreja).

Ao conferir enorme autoridade ao arcebispo William Laud, que ele nomeia para a Arcebispo da Cantuária ou Canterbury, Carlos orientou a Igreja num rumo que será visto, por muitos súditos anglicanos de tendência puritana, como pró-romano. Assim, sua política era extremamente ofensiva para a Teologia Calvinista, que até o seu advento era razoavelmente tolerada na Inglaterra (embora seu pai Jaime I tenha dito que "sem bispos, não há nobreza nem realeza") e na Escócia constituía a base mesma da Igreja oficial, a "Church of Scotland". Carlos I e Laud exigiram que a liturgia da Igreja Anglicana fosse celebrada com todas as cerimônias e vestimentas recomendadas pelo nova publicação do livro de oração comum (Book of Common Prayer). Muitos de seus súditos consideraram que esta política trazia a Igreja Anglicana demasiadamente próximo do catolicismo. Pior do que isso foi a tentativa de adotar o mesmo livro na Escócia, que levou ao "Solemn League and Covenant", firmado pela nobreza daquele país com Deus, pelo qual os escoceses prometiam lutar contra seu próprio rei até conseguirem salvar sua fé das imposições que consideravam "papistas".

As disputas em relação à interpretação do tratado da paz entre Carlos I e a igreja da Escócia conduziram a novo conflito. Para submeter os escoceses, Carlos necessitava de mais dinheiro; para isso tomou a medida arriscada de reunir o parlamento em abril de 1640. Mas o parlamento exigiu discutir vários abusos de poder durante o governo de Carlos. Já que o parlamento estava tomando força rapidamente, Carlos acabou por o dissolver em maio de 1640, menos de um mês depois de convocado; assim, este parlamento ficou conhecido como "Parlamento Curto".

Entretanto Carlos tentou derrotar os escoceses, mas faliu. O humilhante tratado de Ripon, assinado depois da Segunda Guerra dos bispos em outubro de 1640, fez com que Carlos tivesse que pagar os custos do exército escocês contra o qual acabara de lutar. Carlos tomou a medida incomum de convocar o Magnum concilium, o antigo conselho em que participavam os conselheiros hereditários do rei. O Magnum Concilium não era convocado há séculos. Neste conselho, Carlos convocou o novo parlamento, este denominado como "Parlamento Longo".

O "Parlamento longo" reuniu-se em novembro de 1640 sob a direção de John Pym, e mostrou-se tão difícil nas negociações como o "Parlamento curto", aprovando resoluções que ameaçaram a posição política de Carlos. Os membros conservadores da Câmara dos Comuns defendiam o rei, a Igreja e o governo parlamentar contra inovações na religião e a tirania dos cortesãos de Carlos.

Para evitar que o rei voltase a dissolver o parlamento de acordo com sua vontade, foi aprovado o Acto Trienal. O Acto requeria que o Parlamento fosse convocado pelo menos uma vez a cada três anos, e que, quando o rei não o convocasse, os seus membros pudessem se reunir por si mesmos. Em maio, Carlos I conssentiu o acto com a condição de que o Parlamento não poderia ser dissolvido sem sua própria autorização. Carlos foi forçado a fazer uma concessão atrás da outra. Teve que autorizar as execuções de Thomas Wentworth e de William Laud, foi forçado a declarar que alguns impostos eram ilegais, e as odiadas Cortes da Estrela e da Alta Comissão foram abolidas.

En novembro de 1641, a Câmara dos Comuns aprovou o Grand Remonstrance, que era nada menos que uma lista de denúncias contra todos os abusos de poder nos quais Carlos havia incorrido desde o princípio de seu reinado. A tensão aumentou quando os irlandeses se rebelaram contra o domínio inglês protestante e os rumores da cumplicidade de Carlos chegaram ao parlamento. Foi armado um exército para acabar com a rebelião, mas muitos membros da Câmara dos Comuns temiam que Carlos pudesse utiliza-lo mais tarde contra o mesmo parlamento. A Conta da Milícia foi pensada para poder controlar desta forma o exército do rei, mas Carlos recusou-se em dar seu conssentimento pois achava que era uma diminuição de parte importante da sua prerrogativa real.

A Câmara dos Comuns então ameaçou acusar a rainha católica, Henriqueta Maria, o que finalmente obrigou ao rei a tomar uma ação desesperada. Henriqueta convenceu Carlos a prender cinco membros da Câmara que eram os líderes da facção de anti-Stuart sob a acusação de alta traição, mas, quando o rei já havia tomado sua decisão ela incorreu no erro de contar a um amigo que por sua vez contou ao Parlamento. Carlos entrou na Câmara dos Comuns com uma força armada em 4 de janeiro de 1642, mas não encontrou seus opositores pois estes já haviam fugido. Violando o parlamento com uma força armada, Carlos I criou uma brecha permanente entre ambos os poderes. Muitos no parlamento achavam as ações de Carlos, mas outros tinham sentimentos similares em relação ao próprio parlamento. Vários membros da Câmara dos Comuns uniram-se ao partido realista, deixando os opositores do rei com uma maioria. Já não era seguro para Carlos permanecer em Londres, então esse decide marchar ao norte e levantar um exército contra o parlamento; a rainha, entretanto, parte para o exterior para arrecadar dinheiro para poder pagar o exército.

Finalmente, em janeiro de 1642, o rei vai pessoalmente a Westminster prender os líderes rebeldes, que escapam antes de ele chegar ("I see the birds are out of the cage", "vejo que os pássaros estão fora da gaiola", ele teria dito) e então começa a guerra. Carlos baseia-se em Oxford, enquanto o parlamento confia suas tropas primeiro ao conde de Essex e depois a Sir Thomas Fairfax e a Oliver Cromwell, sendo que este último terminará sendo o comandante vitorioso na guerra civil e, depois, o Lorde Protetor da República da Inglaterra (Commonwealth of England), criada após o julgamento, condenação e executação de Carlos I por alta traição. A monarquia foi derrubada e uma república (na verdade uma ditadura militar) foi estabelecida. O seu filho Carlos II de Inglaterra restauraria a monarquia em 1660.

A guerra civil inglesa não havia começado, mas ambos os lados començaram a armar-se. Depois de algumas negociações, Carlos levantou o estandarte real em Nottingham em 22 de agosto de 1642. Instalou sua corte em Oxford, desde onde teria o controle sobre o norte e o oeste da Inglaterra, enquanto que o parlamento teria o controle de Londres e do sul e este do país. Carlos levantou ao exército usando o método arcaico da Comissão do Arsenal. A Guerra Civil começou em 25 de outubro de 1642 com a batalha de Edgehill que continuou até a batalha de Naseby e inclinou o equilíbrio militar de maneira decisiva em favor do Parlamento. Seguiram-se uma grande quantidade de derrotas para os realistas, que terminaram com a corte em Oxford, de onde Carlos escapou em abril de 1646. Então entregou-se ao exército presbiteriano escocês em Newark, e foi levado próximo ao povoado de Southwell, enquanto que suas "anfitrões" decidiam que fazer com ele. Os presbiterianos finalmente chegaram a um acordo com o Parlamento e lhe entregaram a Carlos em 1647. Ele foi encarcerado em Northamptonshire, até ser levado a força para Newmarket em nome do Novo Exército Modelo.

Carlos foi levado então a Oatlands e depois a Hampton Court. Ele foi aconselhado a fugir ou ficar sob a custódia de Robert Hammond, governador parlamentar da ilha de Wight. Carlos I decidiu-se pela última opção, acreditando em Hammond como um realista, e fugiu em 11 de novembro. Hammond, entretanto, ficou contra o rei e o prendeu no Castelo de Carisbrooke.

Em Carisbrooke, Carlos I continuou tentando compactuar com os diferentes partidos para evitar um fim trágico, e eventualmente entrou em negociações com os presbiterianos escoceses, aceitando o estabelecimento do presbiterianismo tanto na Inglaterra como na Escócia. Os escoceses invadiram o país, començando a chamada Segunda Guerra Civil. Os ingleses derrotaram os escoceses, uns meses mais tarde, e a derrota final para Carlos chega na batalha de Preston (17-19 de agosto de 1648).

Em 1649, a Câmara dos Comuns cria uma corte para o julgamento de Carlos I. Era a primeira vez que um monarca seria julgado na história da Inglaterra. No dia 29 de janeiro do mesmo ano, Carlos I foi condenado a morte por decapitação. Ele foi decapitado no dia seguinte, do lado de fora da Banqueting House. O monarca foi enterrado no dia 7 de fevereiro na Capela de São Jorge (Castelo de Windsor), no Castelo de Windsor, em uma cerimônia privada.



Oliver Cromwell descendia de Catherine Cromwell (nascida cerca de 1483), uma irmã mais velha do estadista Tudor Thomas Cromwell. Apesar de ter casado, manteve o seu nome, possivelmente para manter a ligação com o seu tio famoso. Das suas crianças, Richard Cromwell (1500-1544) foi o pai de Henry Cromwell (1524 - 6 de Janeiro de 1603). As tendências extravagantes de Henry deixaram os seus herdeiros, incluindo o seu filho Robert Cromwell, Escudeiro (1560-1617) com uma herança que incluía terra mas nenhum dinheiro. Oliver nasceu do casamento de Robert Cromwell com Elizabeth Steward ou Stewart (1564 - 1654) a 25 de Abril de 1599.

Oliver nasceu em Huntingdon, no distrito de Huntingdonshire, condado de Cambridgeshire, em Ânglia Oriental. Ele foi um fazendeiro fidalgo, mas teve de vender a sua quinta e terras para pagar as dívidas acumuladas. Devoto da seita puritana radical, tornou-se um membro evangélico.

Consta que Cromwell estava a ponto de emigrar para junto de seu tio na Virginia, como fizeram muitos puritanos, mas que desistiu pouco antes de fazê-lo. Decidiu então, em 1628, concorrer por Huntingdon a uma vaga no Parlamento - que seria posto em recesso pelo rei no ano seguinte. O seu discurso inaugural foi a defesa de um democrata radical que tinha argumentado a favor do voto universal num panfleto não autorizado.

Cromwell também se destacou na defesa das gentes da região de Fens ante os proprietários ricos que pretendiam expulsá-los das suas terras.

A influência de Cromwell como comandante militar e político durante a Guerra Civil Inglesa alterou dramaticamente o panorama político das ilhas britânicas.

Tendo aderido ao exército sem qualquer experiência militar com a idade de 43 anos, ele recrutou uma unidade de cavalaria e ganhou experiência e vitórias numa sucessão de batalhas na Ânglia Oriental. Promovido a General em comando da cavalaria no exército New Model Army (Exército de Novo Tipo, assim chamado porque não se compunha de mercenários mas de pessoas que acreditavam firmemente em sua causa), ele treinou os seus homens para rapidamente se reagruparem após um ataque, tática usada inicialmente com grande sucesso na batalha de Naseby. Dessa maneira, acabou substituindo o comandante anterior do Exército, o conde de Essex, que certa vez afirmou, durante a Guerra Civil: "Se vencermos o rei cem vezes, ele ainda será o rei; mas, se ele nos derrotar uma única vez, seremos enforcados". Para Cromwell, essa frase tornava inútil todo o trabalho de luta pelos ideais parlamentares e puritanos. Com o sucesso militar veio o poder político, até que se tornou o líder político do seu tempo.

A chamada Segunda Guerra Civil Inglesa, que teve início em 1648 após a fuga de Carlos I da prisão, sugeriu a Cromwell que não seria possível obter um compromisso com o rei. Houve tentativas nesse sentido, inclusive com Cromwell se opondo aos que primeiro defenderam a deposição ou execução de Carlos I. Finalmente, o rei foi julgado, condenado à morte e decapitado, em Janeiro de 1649.

Costuma-se atribuir a Cromwell a principal responsabilidade pela condenação e morte do monarca, embora ele tenha sido julgado pelo Parlamento - ou pelo que restava deste - e houvesse 59 signatários no mandado de execução. Note-se que neste se determinava a execução do "rei de Inglaterra", ao contrário do que aconteceria no julgamento de Luís XVI, rei de França, em 1793, quando o ex-monarca será sempre referido como "Luís Capeto". Conforme observou Cromwell na ocasião, "executaremos o rei com a coroa na cabeça".

As ações de Cromwell tornaram-no muito impopular na Escócia e na Irlanda - que, embora nominalmente independentes, eram efetivamente dominadas por forças inglesas. Em particular, a supressão dos monarquistas na Irlanda em 1649 ainda é recordada entre os irlandeses.

Suas medidas contra os católicos irlandeses são consideradas por alguns historiadores como genocidas ou muito próximas disso. Na Irlanda, Cromwell é profundamente odiado.

Em Drogheda, após a tomada da cidade, o massacre de 3500 pessoas, incluindo 2700 soldados monarquistas e todos os cidadãos que portassem armas - incluindo civis, prisioneiros e padres católicos - é uma memória histórica que tem alimentado o conflito entre católicos e protestantes e entre irlandeses e ingleses nos últimos séculos. Cromwell justificou o massacre alegando que os defensores da cidade continuaram a lutar, violando as normas de combate, mesmo depois que as muralhas da cidade foram penetradas.

Na sequência da vitória, a monarquia foi abolida e, entre 1649 e 1653, o país tornou-se uma república (denominada "Commonwealth of England"), mais de cem anos antes da Revolução Francesa. .

Muitas das ações de Cromwell que se seguiram ao fim da guerra civil parecem-nos hoje pouco sábias ou hipócritas. Ele foi cruel no controle das revoltas que ocorreram dentro do próprio exército no final da guerra (ligadas a falhanços no pagamento das tropas) e mostrou pouca simpatia pelos Levellers, um movimento igualitário que contribuiu fortemente para a causa do parlamento.

A sua política externa levou a um conflito com a República dos Sete Países Baixos, em 1652 - a Primeira Guerra Anglo-Holandesa, que acabou por ser vencida pelo almirante Robert Blake, em 1654.

Uma vez que o rei estava morto, deixou de existir uma causa comum, a unanimidade dissolveu-se e as diferentes facções do parlamento retomaram o combate político. Numa repetição das ações do rei deposto que haviam contribuído para a guerra civil, Cromwell dissolveu o parlamento republicano em 1653 e tomou o controle do Estado, como Lorde Protetor perpétuo.

Em 1290, os judeus haviam sido expulsos da Inglaterra, por Eduardo I. Cromwell autorizou o restabelecimento da comunidade judaica, acedendo aos pedidos de Menasseh ben Israel (ou Manuel Dias Soeiro) rabino de origem portuguesa, estabelecido em Amsterdam.

Em janeiro de 1661, dois anos após sua morte, o corpo de Cromwell, por ordem da Câmara dos Comuns, foi desenterrado, exumado e enforcado. O cadáver passou todo o dia do 12º aniversário da morte do rei Carlos II pendurado em uma forca em praça pública. Em seguida, sua cabeça foi decapitada e exposta espetada num piquê, enquanto seu corpo decapitado era enterrado sob a forca, em Tyburn (hoje Marble Arch), em Londres.

A cabeça do ex-Lorde Protetor passou o dia em exposição até ser retirada e levada para casa por um soldado da guarda, que desapareceu com ela. A cabeça embalsamada passou de mãos em mãos por séculos, sendo inclusive vendida em 1814 como objeto, até ser finalmente enterrada nos jardins do Sidney Sussex College, em Cambridge, em 1960.



Richard Cromwell foi um político inglês (Huntingdon, Cambridgeshire, 4 de outubro de 1626- Cheshunt, Hertfordshire, 12 de julho de 1712) . Filho de Oliver Cromwell, sucede o pai, como lorde protector da Inglaterra, mas não se consegue manter no poder por mais de oito meses. Um novo Parlamento é eleito (1660) que decide pela restauração da monarquia dos Stuart. Richard Cromwell não é um líder hábil como o pai, o que ocasiona na volta da dinastia Stuart ao poder. Carlos II assume a Coroa cedendo ao domínio do Parlamento, acatando a Petição de direitos, diferente de Carlos I. A restauração estende-se pelo reinado de Carlos II (1660-1685) e de seu irmão Jaime II (1685-1688). Encontra-se sepultado na Igreja de Todos os Santos, Hursley, Hampshire na Inglaterra.



Charles Stuart (ou Carlos Stuart), o filho sobrevivente mais velho do rei Carlos I e Henrietta Maria, nasceu no Palácio de St. James no dia 29 de maio de 1630. Ele foi batizado na Capela Real no dia 27 de junho pelo Bispo Anglicano de Londres, William Laud. Ao nascer tornou-se automaticamente em Duque da Cornualha e de Rothesay; aos oito anos foi nomeado como Príncipe de Gales.

Durante os 1640s, quando Carlos ainda era jovem, seu pai brigou com forças puritanas do Parlamento na Guerra Civil. Carlos acompanhou seu pai durante a Batalha de Edgehill e, aos 14 anos, participou nas campanhas de 1645, quando foi nomeado comandante titular das forças inglesas no oeste do país. Na primavera de 1646, seu pai estava perdendo a guerra, e Carlos deixou o país, pois seria inseguro ficar ali, e foi primeiro para a Sicília, depois para Jersey, e finalmente para França.

Em 1648, durante a Segunda Guerra Civil, Carlos mudou-se para Haia, para junto de sua irmã Maria (Princesa Real e Princesa de Orange) e seu cunhado Guilherme II, com a idéia de ajudar seu pai. Entretanto, seu pai foi executado em 1649. Em Haia, Carlos teve um filho com Lucy Walter, James Scott.

Em 5 de fevereiro de 1649, Carlos II foi proclamado rei dos escoceses em Edimburgo, sob a promessa entre Inglaterra e Escócia que impediria remodelar a Igreja da Escócia a imagem da Anglicana, devendo manter-se no presbiterianismo (forma preferida pela maioria dos escoceses).

Carlos II chegou à Escócia em 23 de junho de 1650. Pelo seu abandono ao Anglicanismo, tornou-lhe impopular na Inglaterra. Foi coronado como rei dos escoceses em Scone (Perthshire), em 1 de janeiro de 1651, e depois organizou uma ofensiva contra Inglaterra, na época sob governo do Lord Protector, Oliver Cromwell. A invasão terminou com a derrota na batalha de Worcester (1651), com Carlos II fugindo logo em seguida rumo à França. O Parlamento ofereceu uma recompensa de 1000 £ pela cabeça do rei e impôs pena de morte a qualquer um que lhe prestasse ajuda.

Empobrecido, Carlos tentou reunir apoio para ir contra o Lord Protector. França e as Províncias Unidas (a atual Holanda ou Países Baixos) aliaram-se com o governo de Cromwell, forçando Carlos a recorrer a Espanha pedindo ajuda. Tentou recrutar um exército, mas fracassou devido a suas penúrias econômicas.

Mesmo com a morte de Oliver Cromwell em 1658, as oportunidades de Carlos II para recuperar a Coroa pareciam minguar. Cromwell foi sucedido pelo seu filho, Richard Cromwell, como Lord Protetor, mas este era um homem sem dom para a liderança e nem deseja de exerce-la e acabou abdicando em 1659. O Protetorado da Inglaterra foi abolido e foi estabelecido a Commonwealth. Durante o período de instabilidade civil e militar que seguiu-se, George Monck, governador da Escócia, preocupado com a ameaça do anarquismo que corria a nação, determinou que o melhor seria restaurar a monarquia. Monck e seu exército marcharam até Londres onde, com amplo apoio popular, forçaram o chamado Parlamento Largo a dissolver-se. Pela primeira vez em quase vinte anos os membros do Parlamento tiveram que enfrentar uma eleição geral.

Isto resultou em uma Câmara dos Comuns eleita com claro predomínio da facção realista. A nova assembléia, denominada Parlamento da Convenção, pouco depois de seu constituição em 25 de abril de 1660, teve notícias da Declaração de Breda (8 de maio de 1660), com a qual Carlos concordava, entre outras cosas, em perdoar muitos dos inimigos de seu pai. Como conseqüência, o Parlamento decretou de imediato que Carlos II seria o soberano legítimo desde a execução de Carlos I em 1649.

Carlos partiu para a Inglaterra, desembarcando em Dover em 23 de maio de 1660. Chegou em Londres em 29 de maio, data considerada como a oficial da Restauração. Ainda que tenha decretado uma anistia para os seguidores de Cromwell na Acta de Imunidade, não perdoou aos juízes e autoridades envolvidas no julgamento de seu pai. Alguns foram executados em 1660; outros condenados a prisão perpétua.

Em 1665, Carlos teve que lidar com grandes problemas: epidemia de peste negra e incêndio de Londres.

A peste negra (1665-1666) matou um quinto da população de Londres. Provavelmente chegou a cidade trazida pelos navios transportando algodão vindos de Amesterdão. A peste negra atingia intermitentemente a Holanda desde 1654. As áreas das docas de Londres foram as primeiras a ser atingidas pelo ataque da peste negra. Com a peste negra tomando conta de Londres, a família real e sua corte deixou a cidade rumo a Oxford. Várias medidas sanitárias foram tomadas, médicos foram contratados e detalhes de sepultamentos das vítimas foram organizados.

Em setembro de 1666, entre os dias 2 e 5, Londres foi atingida por um grande incêndio. O incêndio atingiu mais de 13.000 casas e 87 igrejas, entre elas a Catedral de St. Paul. Não se sabe exatamente o número de mortos, mas estima-se que não foi grande.

Em 21 de maio de 1662, Carlos II casou-se com a princesa Catarina de Bragança de origem portuguesa. O matrimônio não produziu descendentes. Durante o mesmo ano, Carlos vendeu Dunquerque ao rei francês Luís XIV por 40.000 £.

Agradecido pela ajuda prestada para recuperar o trono, Carlos recompensou oito nobres (conhecidos como Lordes Proprietários) com territórios na América do Norte mais precisamente em Carolina (batizada assim em homenagem a seu pai) em 1663.

As Atas de Navegação (1650), prejudicaram o comércio da Holanda e foram a causa da Segunda Guerra Holandesa (1665-1667). O conflito começou pela captura na América do Norte, por parte dos ingleses, de Nova Amsterdã (depois rebatizada com o nome de Nova York, em homenagem ao irmão de Carlos, James, Duque de York, o futuro Jaime II, mas em 1667 os holandeses fizeram um ataque surpresa contra os ingleses na parte superior do Tâmisa, onde ficava o melhor da Armada britânica. Os holandeses afundaram quase todos os navios, exceto a Nave Almirante, a qual tomaram e conduziram até a Holanda como troféu. A Segunda Guerra Holandesa terminou com a assinatura do Tratado de Breda (1667)

Em 1668, a Inglaterra aliou-se com a Suécia e com sua anterior inimiga, a Holanda, a fim de oponer-se a Luís XIV na Guerra da Devolução. Luís foi obrigado a fazer as pazes com esta Tríplice, mas manteve seus planos bélicos. Em 1670 Carlos II assinou o Tratado de Dover, pelo qual Luís XIV se comprometia a pagar-lhe 200.000 £ anuais. Em troca, Carlos concordava a ceder a Luís tropas e converter-se ao Catolicismo. Carlos Ii tentou manter o Tratado em segredo, especialmente a cláusula referente a sua conversão.

Em 1670, Carlos II concedeu à Companhia Britânica das Índias Orientais o direito capitanear exércitos e formar alianças, declarar guerra ou estabelecer a paz e a exercer a jurisdição tanto civil como criminal nas zonas nas quais a companhia operava.

Em 1672, Carlos II assinou a Declaração de Indulgência, na qual manifestava sua intenção de suspender todas as leis que penalizavam os católicos e a outros dissidentes religiosos. No mesmo ano, ele apoiou abertamente a França católica (a epóca governada por seu primo Luís XIV) e iniciou a Terceira Guerra Anglo-Holandesa.

O Parlamento (contrário a conceder tolerância religiosa aos católicos) opôs-se à Declaração de Indulgência e negou-se a financiar a Guerra Anglo-Holandesa, obrigando Carlos a firmar a paz em 1674.

Em 1678, Titus Oates, um antigo clérigo anglicano, denunciou falsamente uma "conspiração papal" para assassinar o rei e substituí-lo pelo Duque de York. A histeria anticatólica estendeu-se pela população com vários supostos conspiradores, e numerosos inocentes foram executados. Carlos II ordenou a seu Primeiro Ministro, Thomas Osborne, o Conde de Danby, que investigasse o caso. Posteriormente, ainda em 1678, o Conde Danby foi submetido a uma moção de censura pela Câmara dos Comuns sob a acusação de alta traição. A fim de salvar o Conde Danby do julgamento, Carlos decidiu dissolver o Parlamento em janeiro de 1679. O novo Parlamento, constituído em março de 1679, resultou ser francamente hostil ao rei. Danby foi forçado a se demitir, mas recebeu o perdão real.

Outro problema político que Carlos II enfrentou foi referente a sucessão ao trono. O Parlamento se opunha à perspectiva de um monarca católico. Anthony Ashley Cooper, Conde de Shaftesbury, propôs uma Lei de Exclusão, que pretendia tirar Jaime,o Duque de York, da linha sucessória. Alguns quiseram inclusive oferecer a coroa ao protestante James Scott, Duque de Monmouth, um dos filhos ilegítimos de Carlos. Dentre os que opunham a Lei de Exclusão formaram o Partido Tory (ou Partido Conservador), enquanto que os que apoiavam se coverteram no Partido Whig (Partido Liberal). Temendo que a Lei fosse aprovada, Carlos II dissolveu o parlamento em dezembro de 1679.

Carlos morreu repentinamente vítima de uremia em 6 de fevereiro de 1685. Antes de morrer converteu-se ao catolicismo e recebeu a unção dos enfermos. Ele foi sucedido pelo irmão, o Duque de York.



Jaime nasceu no Palácio de St. James, Londres, em 14 de outubro de 1633, sendo o terceiro filho homem (mas segundo a chegar a vida adulta) do Rei Carlos I e de Henriqueta Maria. James foi educado pelos tutores, junto com seu irmão Carlos (futuro rei Carlos II) e com os dois filhos de George Villiers (o Duque de Buckingham). Como segundo filho do soberano inglês, desde o momento de seu nascimento foi chamado de Duque de York, sendo nomeado formalmente em 1644.

Durante a Guerra Civil Inglesa, a qual seu pai enfrentou as forças do Parlamento, Jaime permaneceu na cidade de Oxford, local repleta de realistas.

Quando Oxford foi tomada em 1646, Jaime foi confinado no Palácio St. James sob vigilância parlamentar. Em 1648, Jaime conseguiu escapar do palácio e chegar a Haia disfaraçado. Quando Carlos I foi executado pelos rebeldes em 1649, os monarquistas proclamaram seu irmão mais velho como rei, com o nome de Carlos II. Em 1651, Carlos foi coroado en Scone (Escócia) como Rei da Escócia e Irlanda. Embora reconhecido como rei pelos parlamentos da Escócia e Irlanda, não pode ascender ao trono da Inglaterra, por isso teve que fugir para a França, onde encontrou refúgio. Jaime também buscou refúgio na França, servindo no exército francês sob o comando de Henrique de La Tour d’Auvergne, Visconde de Turenne. Ao lado de Turenne, Jaime lutou na fronda. Em 1656, quando Carlos II fez aliança com a Espanha (uma inimiga da França), Jaime foi expulso da França. Logo depois uniu-se ao exército espanhol sob o comando de Luís II, príncipe de Condé e lutou contra a França. Durante seus serviços na exército espanhol Jaime tornou-se amigo dos dois irmão católicos irlandeses, Peter e Richard Talbot.

Depois da morte de Oliver Cromwell em 1658 e o subsequente colapso da Commonwealth em 1660, Carlos II foi coroado como Rei da Inglaterra em 29 de maio de 1660. Depois da coroação do irmão, Jaime foi nomeado Duque de Albany na Escócia. Ao retornar a Inglaterra, Jaime provocou controvérsia ao anunciar seu casamento com Anne Hyde, filha do ministro chefe de Carlos II, Edward Hynne. Ninguem espera que um príncipe fosse se casar com uma plebéia. Anne engravidou de Jaime e ele lhe prometeu casamento. No dia 3 de setembro de 1660, Jaime casou-se oficialmente com Anne Hyde em Londres. O primeiro filho de Jaime nasceu em menos de dois meses após o casamento, mas morreu na infância. Ao todo, eles tiveram oito filhos, sendo que só duas sobrevieram: Maria e Ana e ambas se tornaram rainhas da Inglaterra posteriormente. Em 1671, Anne morreu provavelmente de câncer no seio.

Jaime foi designado Grande Lorde Almirante e como tal comandou a Marinha Real durante a Segunda (1665-1667) e Terceira Guerra Anglo-Holandesa (1672-1674). Depois de sua captura pelos ingleses em 1664, o território holandês de Nova Holanda foi rebatizada em homenagem a Jaine como Nova York, afinal Jaime era o Duque de York. Fort Orange foi chamada de Albany em sua homenagem, por ele ser também o Duque de Alabny. Jaime York também dirigiu a Real Campanhia Africana, que participou no comércio de escravos.

Jaime e sua mulher Anne Hyde converteram-se ao catolicismo em 1668 ou 1669 embora tenham mantido isso em segredo por algum tempo. Em 1673, com medo da crescente influência católica na corte, o Parlamento introduzem o novo Ato de Prova, meio pelo qual se obligava a todos os funcionários civis e militares a tomar um juramento no qual foram requeridas rechaçar não somente a doutrina de Transubstanciação senão também denunciar certas práticas da Igreja Católica como "superstições e idolatrias", além de recebir a comunhão da Igreja da Inglaterra.

Jaime recusou-se a realizar tais ações e renunciou a seu cargo de Grande Lorde Almirante e com isso sua conversão ao catolicismo ficou evidente. O Rei Carlos II opôs-se a conversão de Jaime e exigiu que suas duas filhas (Maria e Ana) crescessem sob influência protestante. Mas Carlos II permitiu que Jaime se casasse com uma católica. Viúvo desde 1671 casou-se novamente agora com a princesa católica Maria de Módena ainda em 1673. Muitos ingleses, descrentes do Catolicismo, olhavam para Maria com desconfiança, acusando-a de ser uma agente do Papa.

Em 1677, Jaime relutante permitiu que sua filha Maria se casasse com o príncipe protestante, Guillerme III de Orange (que era também seu sobrinho). Apesar da concessão, os medos de un monarca católico persistiram, intensificando-se pelos problemas de gravizez da esposa de Carlos II, Catarina de Portugal que não lhe produzia herdeiros.

Um fanático clérico anglicano, Titus Oates, acusou falsamente Jaime e outros nobres de um "Complô Papista", no qual teria como objetivo assassinar ao rei Carlos II e colocar Jaime no trono. O complô criou uma histérica reação anticatólica em todo o reino. Jaime decidiu prudentemente sair da Inglaterra rumo a Bruxelas. Em 1680 foi designado como Alto Lorde Comissionado da Escócia e tomou como residência o palácio de Holyrood em Edimburgo.

Na Inglaterra, algumas tentativas por parte de Lord Shaftesbury e outros para excluir a Jaime da linha de sucessão. Alguns inclusive propuseram que a corona passasse ao filho ilegítimo de Carlos II, James Scott, Duque de Monmouth. Quando em 1679, a Lei de Exclusão estava para ser sancionada, Carlos II decidiu dissolver o Parlamento. A crise da Lei de Exclusão contribuiu para o desenvolvimento do sistema político bipartidário inglês; os Whigs eram favoráveis a lei, enquanto oos Tories eram seus opositores. Dois novos Parlamentos foram abertos em 1680 e 1681, mas foram dissolvidos pela mesma razão.

Depois da dissolução do Parlamento de 1681, não foi chamdado outro. Carlos, cuja popularidade era muito alta nesse momento, permitiu que Jaime voltasse a Inglaterra em 1682. O Complô de Rye House de 1683, uma conspiração protestante que tinha como consigna assassinar Carlos e a Jaime, fracassou completamente, mas serviu para aumentar a simpatia popular do rei e seu irmão. Jaime voltou com influência no governo, convertendo-se no líder do partido Tory. Seu irmão o recolocou no posto de Grande Lorde Almirante em 1684.

Carlos II morreu sem descendentes legítimos, em 6 de fevereiro de 1685, e converteu-se ao catolicismo em seu leito de morte; foi sucedido por seu irmão, que reinou a Inglaterra e Irlanda como Jaime II e a Escócia como Jaime VII. Ele foi coroado na Abadia de Westminster em 23 de abril de 1685 sem sua esposa a qual não pode assistir à ceremônia "oficial" por sua religião. Mas um dia antes, em 22 de abril, foi coroado junto a sua esposa segundo os rituais católicos no Palácio de Whitehall.

Em um começo não houve muita oposição aberta ao novo soberano e muitos conservadores anglicanos inclusive o apoiaram. O novo Parlamento que abriu em maio de 1685 parecia favorável a Jaime II, concedendo-lhe uma generosa renda.

Jaime teve que combater a Rebelião Monmouth conduzida pelo filho ilegítimo de Carlos II, James Scott, Duque de Monmouth. James Scott se auto-proclamou rei em 20 de junho de 1685, mas foi derrotado logo na Batalha de Sedgemoor. Monmouth foi executado na Torre de Londres pouco depois (15 julho). Apesar da falta de ajuda popular a Monmouth, Jaime começou a desconfiar de seus súbditos.

Seus juízes (o mais notável dos quais foi Jorge Jeffreys) castigaram aos rebeldes de manera brutal. Os chamados "Juízes Sangrentos" de Jeffreys fizeram que o público visee o rei como um governante cruel e bárbaro. Para proteger-se contra outras rebeliões, Jaime II tentou estabelecer um poderoso exército. Ao colocar católicos romanos em altos cargo de vários regimentos entrou em conflito com o parlamento. O Parlamento entrava em recesso em novembro de 1685, não voltando a reunir-se outra vez durante o reinado de Jaime II.

A tensão religiosa se intensificou em 1686. No caso Godden vs. Hales, uns juízes da Corte da Câmara do Rei foi forçada por Jaime II a declarar que este poderia ser dispensado das restrições religiosas impostas pelo Ato de Prova. Aproveitando a dispensa otorgada, Jaime II permitiu que algunos católicos romanos ocupassem os cargos mais altos do reino. Ele recebeu em sua corte o Nuncio Papal Ferdinando d'Adda, o primeiro representante de Roma em Londres desde o reinado de Maria I. O confessor jesuíta do rei, Eduardo Petre, era um objeto especial da ira dos protestantes. Estas políticas fizerma o rei perder ajuda de seus antigos aliados, os Tories.

Jaime pediu a suspensão de Henrique Compton, o anticatólico bispo de Londres, enquanto que outros anglicanos em cargos políticos foram despedidos. Na Declaração de Indulgência de 1687, Jaime II suspendeu as leis que castigavam os católicos romanos e outros dissidentes religiosos. Não está claro se Jaime publicou a Declaração para ganhar a ajuda política dos dissidentes ou se ell de verdade estava defendendo a liberdade de religião. Jaime II também dissolveu definitivamente o Parlamento em 1687, para reducir o poder da nobreza.

O rei também provocou a oposição por suas políticas em referência a Universidade de Oxford. Ele ofendeu os anglicanos permitindo que os católicos obtivessem posições importantes na Christ Church e na University College, dois dos maiores colégios de Oxford. Despidiu aos protestantes do Magdalen College, colocando católicos em seus lugares. Jaime acreditou ao Nuncio Papal e lhe concedeu cargos governamentais a quatro bispos católicos.

Em abril de 1688, Jaime II re-editou a Declaração de Indulgência, subsequentemente ordenando aos cléricos anglicanos lê-la em suas igrejas. Quando o Arcebispo de Canterbury, William Sancroft, e seis outros bispos (conhecidos como "Os sete bispos") fizeram uma petição pedindo a reconsideração da política religiosa do rei, eles foram presos. O medo público aumentou quando a rainha Maria deu à luz um herdeiro católico, James Francis Edward em 10 de junho do mesmo ano. Enquanto a única possibilidade de sucessão de Jaime era suas duas filhas protestantes, anglicanos moderados viam a política pró-Católica como uma temporária aberração; o nascimento do príncipe abria a possibilidade de uma dinastia católica permanente. Ameaçados pela dinastia católica, muitos portestantes influentes entraram em negociação com Guilherme, o Príncipe de Orange, desde quando souberam da gravidez da rainha e com o nascimento do príncipe suas convicções foram reforçadas.

Em 30 de junho de 1688, um grupo de nobres protestantes, mais tarde conhecido como "Os Sete Imortais", convidaram o príncipe de Orange para vir à Inglaterra com um exército. Em setembro, ficou claro que Guilherme iria invadir a Inglaterra. Acreditando que seu exército era adequado, Jaime II recusou a ajuda de Luís XIV de França. Quando Guilherme chegou em 5 de novembro de 1688, muitos políticos protestantes, juntaram-se a ele, assim como a filha de Jaime II, princesa Ana. Jaime ficou furioso e desisitiu de atacar o exército invasor, apesar de o seu ter superioridade numérica. Em 11 de dezembro, Jaime tentou fugir para a França, mas foi capturado em Kent. Com o desejo de fazer de Jaime um mártir, Guilherme deixou-o fugir em 23 de dezembro. Jaime foi recebido pelo seu primo e aliado, Luís XIV, com um palácio e pensão.

O Parlamento declarou que como Jaime tinha fugido, ele tinha efetivamente abidicado do trono, e assim o trono estava vazio. Para preencher sua vaga, a filha de Jaime, Maria foi declarada Rainha e esta deveria governar juntamente com seu marido, Guilherme, que se otrnaria rei. O parlamento inglês foi seguido pelo escocês em 11 de abril de 1689. O parlamento aprovou a Lei de Direito e acusou Jaime II de abuso de poder por entre outras coisas, ter suspendido o Acto de Prova, prender os Sete Bispos por somente fazer uma petição, e a imposição de punições cruéis. A Lei também exlcuía a ascensão católica ao trono inglês.

Com a ajuda das tropas francesas, Jaime chegou à Irlanda em março 1689. O Parlamento Irlandês não seguiu o exemplo inglês, pelo contrário, declarou que Jaime ainda permanecia como Rei. O Parlamento Irlandês aprovou um Ato que dava liberdade religiosa a todos católicos e protestantes na Irlanda. Jaime trabalhou para erguer um exército na Irlanda, mas foi derrotado na Batalha de Boyne em 1 de julho de 1690. Jaime novamente fugiu para a França e jamais retornou a Inglaterra, Escócia ou Irlanda.

Na França, Jaime viveu no Castelo de Saint-Germain-en-Laye. A rainha e alguns aliados fugiram junto com Jaime. Alguns tentaram restaurar Jaime no trono assassinando Guilherme III em 1696, mas a trama falhou e fez Jaime se tornar menos popular. Luís XIV ofereceu a Jaime o Reino da Polônia o que ele rejeitou, pois ainda tinha esperanças de voltar ao trono inglês.

Jaime II morreu de hemorragia cerebral em 16 de setembro de 1701 no Castelo Saint-Germain-en-Laye. Seu corpo foi enterrado na Capela de Santo Edmundo na Igreja de Ingleses Beneditinos na Rua St. Jacques, Paris.



Maria, nascida no Palácio St. James em Londres em 30 de abril de 1662, era a filha mais velha de Jaime, na época Duque de York (e mais tarde rei Jaime II da Inglaterra) e sua primeira mulher, Anne Hyde. O tio de Maria foi também rei da Inglaterra, Carlos II; seu avô paterno, Edward Hyde, serviu por um longo período como conselheiro chefe de Carlos II. Embora sua mãe tenha tido oito filhos, somente Maira e sua irmã Ana sobrevieram até a idade adulta.

O Duque de York converteu-se ao Catolicismo em 1668 ou 1669, mas tanto Maria e Ana permaneceram protestantes por exigência do na época rei da Ingalerra, Carlos II. A mãe de Maria morreu em 1671; seu pai casou-se novamente em 1673 com a católica Maria de Módena, também conhecida como Mary Beatrice d'Este.

Aos 15 anos, Princesa Maria tornou-se noiva do protestante, Guilherme, o príncipe de Orange. Guilherme era filho de sua tia, Maria Henriqueta Stuart (uma das filhas de Carlos I), e Príncipe Guilerme II de Nassau. A princípio, Carlos II opôs-se a aliança com a Holanda; ele preferia que Maria se casasse com o herdeiro do trono francês, o delfim Luís; mas sob pressão do parlamento inglês e como uma aliança com a França católica não era politicamente favorável, ele aprovou a união. Pressionado pelo parlamento, o Duque de York concordou com o casamento. Os primos, Maria e Guilherme, casaram-se em Londres em 4 de novembro de 1677.

Maria foi à Holanda, onde ela morou com Guilherme. Embora ela fosse devotada ao marido, o casamento foi infeliz; engravidou três vezes mas terminando em aborto em natimorto, a falta de um filho foi uma das maiores infelicidades da vida de Maria. Devido a sua personalidade, Maria era muito popular entre os holandeses, mas seu marido era frio e mantinha um caso com Elizabeth Villiers, uma das damas de companhia de Maria.

Após a morte de Carlos II sem deixar herdeiros legítimos em 1685 o Duque de York torna-se rei sendo coroado com Jaime II de Inglaterra e Irlanda, e como James VII na Escócia. Jaime II, o pai de Maria, tinha uma polêmica política religiosa; suas tentativas de garantir a liberdade religiosa aos não anglicanos não foi bem recebida por muitos.

Mutios políticos e nobres protestantes entraram em negociações com o marido de Maria em 1687. Quando Jaime fez a Declaração de Indulgência sua popularidade caiu mais ainda. O medo entre os protestantes aumentou mais ainda quando a mulher de Jaime II, deu à luz um menino, James Francis Edward em junho de 1688. Para os protestantes, diferentemente de Maria e Ana, o menino poderia crescer sob influência católica.

Em 30 de junho, os Sete Imortais secretamente pediram que Guilherme viesse a Inglaterra com um exército. A príncipio, Guilherme ficou relutante; ele tinha ciúmes da posição de Maria como herdeira ao trono inglês e temia que ela ficasse mais poderosa que ele. Maria, entretanto, convenceu seu marido dizendo não se importar muito com o poder político. Guilherme concordou em invadir a Inglaterra alegando que o faria por um parlamento livre. Ele chegou à Inglaterra em 5 de novembro. Sem apoio, Jaime II não foi capaz de salvar seu trono. Em 11 de dezembro, o rei derrotado fogiu mas foi capturado. Na sua segunda tentativa de fuga em 23 de dezembro, Jaime escapou para a França.

Em 1689, uma Convenção Parlamentar foi feita para determinar um apropriado curso da ação. Guilherme de Orange sentia-se inseguro; ele desejava reinar como Rei, ao invés de uma função de mero consorte da rainha. O único precedente de uma monarquia conjunta aconteceu no século XVI: quando a rainha Maria I casou-se com o príncipe espanhol Filipe, porém ele só permaneceu como rei durante a vida de Maria I. Guilherme, entretanto, queria permanecer como rei mesmo depois da morte de sua mulher. Embora uma declaração desse somente a ela o poder, Maria permaneceu leal ao marido recusando tal declaração.

Em 13 de fevereiro de 1689, o Parlamento aprovou a Declaração de Direito, na qual julgou que Jaime, por ter fugido em 11 de dezembro de 1688, tinha abidicado do trono, chegando a conclusão que o trono tinha se tornado vazio. O parlamento então ofereceu a coroa a Guilherme e Maria como monarcas conjuntos. A declaração não só excluia James Francis mas também como a todos seus descendentes e a todos católicos.

O Bispo de Londres, Henry Compton, coroou Guilherme e Maria na Abadia de Westminster em 11 de abril de 1689. Normalmente, a cerimônia de coroação era feita pelo Arcebispo da Cantuária (também conhecido como Arcebispo de Canterbury) mas o Arcebispo da época, William Sancroft, embora anglicano, recusou-se a reconhecer a validade da destronação de Jaime II. No mesmo dia da coroação, o Parlamento da Escócia declarou que Jaime não era mais seu rei. A coroa escocesa foi oferecida a Gulherme e Maria e em 11 de maio, eles a aceitaram.

Mesmo depois desta declaração escocesa houve um certo apoio a Jaime II na Escócia. John Graham, Visconde de Dundee, juntou um exército e venceu a Batalha de Killiecrankie em 27 de julho de 1689, porém perdeu a decisiva Batalha de Dunkeld.

Em dezembro de 1689, o Parlamento aprova o mais importante documento constitucional na história da Inglaterra, a Bill of Rights. Esta medida confirma muitas das já feitas na Declaração de Direito anteriormente; estabelece restrições na prerrogativa real; declara entre outras coisas que o Soberano não pode suspender leis aprovadas pelo Parlamento, elevar taxas sem o consentimento parlamentar, interferir nas eleições parlamentares.

O Bill of Rights também estabeleceu que o próximo na linha de sucessão ao trono inglês. Primeiro seria qualquer filho de Guilherme III e Maria I e caso eles não tivessem filhos seria Ana, irmã de Maria I, ou qualquer filho desta. E por último qualquer filho de Guilherme III com um casamento após a morte da rainha.

Inicialmente, Guilherme III permaneceu ausente da Inglaterra, primeiro brigando contra os Jacobitas na Irlanda. Enquanto Guilherme estava ausente, Maria II governou o reino. Sua primeira ação foi mandar prender seu próprio tio, Henry Hyde, por tramar a restauração de Jaime II. Em 1692, ela demitiu e prendeu o influente John Churchill, 1° Duque de Marlborough pelas mesma acusações do seu tio; a demissão de um modo diminuiu a popularidade de Maria II e arranhou o relacionamento com sua irmã, Ana que era bem próxima da mullher de Churchill.

Embora Guilherme tivesse vencido os irlandeses jacobitas em 1692, ele continuou em campanhas, no geral, ficando fora entre a primavera e o outono de cada ano. Enquanto o marido estava fora, Maria II agia sob os conselhos dele e enquanto ele estava na Inglaterra, ela não interferia em questões políticas deixando tudo na mão do marido.

Maria II morreu de varíola no Palácio de Kensington em 28 de dezembro de 1694 e foi enterrada na Abadia de Westminster. Até a sua morte, o compositor Henry Purcell foi contratado para escrever uma música para seu funeral, intitulada Music for the Funeral of Queen Mary.



Guilherme III de Inglaterra, II da Escócia (A Haia, 14 de Novembro de 1650 — Hampton Court, 8 de Março de 1702) foi rei de Inglaterra e rei da Escócia entre 1689 e a sua morte. Guilherme foi também Príncipe de Orange e estatuder dos Países Baixos.

Educado como protestante, foi rei de Inglaterra e Irlanda a partir de 13 de Fevereiro de 1689, e rei da Escócia a partir de 11 de Abril de 1689, em conjunto com a mulher Maria II de Inglaterra. Ele recebeu a coroa de Inglaterra, Escócia e Irlanda no seguimento da Revolução Gloriosa, durante a qual o seu tio e sogro Jaime II de Inglaterra, foi deposto.

Guilherme de Orange, único filho de Guilherme II e Mary Henrietta Stuart (a princesa Mary de Orange, filha do rei Carlos II da Inglaterra), nasceu em Haia, Holanda. Oito dias antes de nascer, seu pai morreu de varíola sendo assim Guilherme tornou-se príncipe soberano de Orange, França no momento de seu nascimento.

No dia 13 de agosto de 1651, o hoge raad (ou conselho supremo) estabeleceu a guarda compartilhada de Guilherme entre Mary (sua mãe), Amélia von Solms-Braunfels (sua avó paterna) e Frederico Guilherme I de Brandemburgo. Frederico foi escolhido como um ponto neutro entre as duas mulheres. Mary, a mãe de Guilherme, mostrou pouco interesse em seu filho, às vezes sendo ausente por anos e gastando a maior parte de seu tempo desfrutando o luxo da corte francesa; ela ficava alheia à sociedade holandesa, o que afetou até sua compreensão em relação à língua holandesa.

A educação de Guilherme ficou por conta de vários holandeses e alguns descendentes ingleses. Em abril de 1656 um pregador calvinista, Cornelis Trigland, foi escolhido para instruir o príncipe na religião do estado, o Calvinismo. Em 1659, Guilherme foi mandado por sete anos para a Universidade de Leiden sob a tutoria do professor de ética Hendrik Bornius embora oficialmente nunca tenha sido considerado como estudante desta universidade. Guilherme também aprendeu a língua francesa e mostrou uma pequena inclinação pela leitura de grandes filósofos, literatura clássica e artes e, principalmente, pela pintura, arquitetura e jardinagem.

Em 1660, a república das sete províncias unidas dos países baixos, sob a orientação de Johan de Witt e Cornelis de Graeff, resolveu cuidar da educação de Guilherme com a finalidade de assegurar habilidades necessárias a serem usadas em uma futura função governamental. Em 23 de dezembro de 1660, a mãe de Guilherme morreu de varíola em Londres e em seu testamento designou que o rei Carlos II da Inglaterra passasse a ser o guardião legal de Guilherme. Carlos delegou que a responsabilidade por Guilherme passasse à avó paterna dele, Amélia, mas abriu espaço para que pudesse dar conselhos políticos a Guilherme sempre que achasse necessário.

Em 1666, quando Guilherme completou 16 anos, o Estado Geral das Províncias Unidas lhe deu oficialmente uma sala no governo, ou como Guilherme mesmo chamou, ele foi feito um Menino do Estado. Isto supostamente foi feito para preparar Guilherme para o governo da nação, ainda que este papel não tenha sido especificado. Três anos mais tarde quando seu tempo na sala do governo terminou, Guilherme voltou à vida privada.

Guilherme obteve o cargo de estatúder da Holanda, Zelândia, Utrecht, Gueldres e Overijssel. As cinco províncias, entretanto, suspenderam o cargo de estatúder depois da morte de Guilherme II. Durante a "Primeira Era de estatúderes", o poder de fato esteve nas mãos de Johan de Witt. Em 1667, quando Guilherme III chegou à idade de 18 anos, o partido pró-Orange tratou de restaurar o príncipe no poder assegurando a ele os cargos de estatúder e de capitão geral. Para prevenir a restauração da influência da Casa de Orange, De Witt, Andries de Graeff e Gaspar Fagel procurou a emissão do Decreto Eterno (ou Decreto Perpétuo), que declarou que o Capitão-Geral ou Almirante General dos Países Baixos não podería servir como estatúder em nenhuma província. Além disto, a província da Holanda suprimiu o cargo de estatúder (outras províncias seguiram seu exemplo).

O ano de 1672 provou ser calamitoso para os Países Baixos, chegando a ser conhecido como o "ano do desastre". Os Países Baixos foram invadidos pela França, por ordem de seu rei Luís XIV, que tinha a ajuda da Inglaterra (Terceira guerra Anglo-Holandesa), Münster, e Colônia. O exército francês tomou rapidamente a maioria dos Países Baixos. Witt falhou ao não poder assegurar paz com a França, e foi derrocado. Logo, ele e seu irmão, Cornelis de Witt, foram assassinados brutalmente por uma multitão enojada em Haia. Hoje, a maioria dos historiadores assumem que Guilherme esteve implicado no assassinato. A vitória para o partido de Orange era completa; o Decreto Eterno era declarado nulo, e Guilherme foi eleito estatúder da Holanda, Zelândia e Utrecht. Também o designaram Capitão-General e Almirante General dos Países Baixos. Gueldres e Overijssel, que tinham um parente de Guilherme como estatúder, não elegeram Guilherme para este cargo até 1675.

Guilherme III continuou lutando contra os invasores da Inglaterra e França, aliando-se com a Espanha. Depois que o almirante Michiel de Ruyter derrotou a Marinha de Guerra Real Inglesa, Guilherme assinou a paz com a nação que mais tarde governaria, a Inglaterra, em 1674. Para consolidar sua posição, ele se comprometeu com sua prima Maria, a filha de Jaime, duque de York (futuro Jaime II). O matrimônio foi celebrado no palácio de St. James, em Londres, em 4 de novembro de 1677; a união foi infeliz e infrutuosa, pois a princesa perdeu 3 crianças que teve. Chegando`a conclusão que uma guerra com a Inglaterra e os Países Baixos seria desvantajosa, o rei Luís XIV da França assinou a paz em 1678. Luís, entretanto, continuou sua agressão, fazendo com que Guilherme III se unisse à Liga de Augsburgo (uma coligação Anti-Francesa que também incluiu o Sacro Império Romano Germânico, Suécia, Espanha e vários estados alemães) em 1686.

Em 1685, o sogro de Guilherme subiu ao trono inglês como Jaime II, um católico que era impopular nos seus reinos protestantes. Guilherme procurou conciliar com Jaime, que ele esperava que se unisse a Liga de Augsburgo, enquanto ao mesmo tempo tentava não ofender o partido protestante da Inglaterra. Mas antes de 1687, chegou a estar claro que Jaime II não se uniria à Liga. Para ganhar o favor dos protestantes ingleses, Guilherme expressou sua desaprovação às políticas religiosas de Jaime II. Vendo Guilherme como amigo, muitos políticos ingleses começaram a negociar com ele uma invasão armada a Inglaterra.

Guilherme a princípio foi contrário ao projeto da invasão à Inglaterra. Enquanto isso, na Inglaterra, a segunda esposa de Jaime II, a rainha Maria de Módena, deu à luz um filho, James Francis Edward Stuart, que logo foi colocado como o primeiro na linha de sucessão ao invés da esposa de Guilherme. A cólera pública também aumentou devido ao juizo de sete bispos que opuseram em público às políticas religiosas de Jaime II e solicitaram que elas fossem reformadas.

Guilherme ainda estava relutante em invadir, crendo que os ingleses não reagiriam bem a um invasor estrangeiro. Em 30 de junho de 1688, os bispos foram absolvidos e um grupo formado por figuras políticas conhecidas como os "Sete Imortais" fazem uma petição, enviando a Guilherme um convite formal à invasão. Guilherme começou a fazer os preparativos para a invasão; suas intenções eram de conhecimento público para setembro de 1688. Com um exército holandês, Guilherme chegou em Brixham, no sudoeste da Inglaterra, a 5 de novembro de 1688. Ele chega a terra no navio "Brill" conduzida por um pescador local, Peter Varwell, para proclamar "as liberdades da Inglaterra e da religião protestante que mantería". Guilherme levou consigo 15.500 soldados e 4.000 cavalos. Os oficiais protestantes desertaram do exército inglês (o mais notável deles foi John Churchill, 1.° Duque de Marlborough, o comandante mais eficaz de Jaime II), e os nobres influentes do país declararam sua ajuda para o invasor. Ainda que a invasão e a derrocada subsequente de Jaime II se conheça comummente como a Revolução Gloriosa, foi na realidade um golpe de estado.

Jaime II, a princípio, tentou resistir a Guilherme, mas viu que os seus esforços eram em vão. Ele enviou representantes para negociar com Guilherme, mas fugiu secretamente em 11 de dezembro. Um grupo de pescadores o capturou; trazido de novo a Londres, conseguiu com êxito escapar na segunda tentativa, em 23 de dezembro. Na realidade, Guilherme permitiu que Jaime II fugisse do país, porque ele não desejava que Jaime II fosse feito mártir para a causa católica.



Ana nasceu no St.James Palace em Londres, foi a segunda filha de Jaime II e Anne Hyde. Por conta de uma infecção ocular, a princesa foi para a França, onde viveu com sua avó até 1670. Com a conversão de seu pai ao catolicismo, Maria e Ana foram forçadas a tornarem-se anglicanas.

Próxima de se tornar rainha, Ana se deparou com a Guerra de Sucessão Espanhola, a guerra que movimentava todos os Estados da Europa. A Inglaterra entrara na guerra a fim de estabilizar o poder francês na Europa, visto que se o candidato francês se tornasse rei da Espanha e França, a França se tornaria a maior nação do continente. Como uma de suas primeiras ações, Ana organizou as frotas e o ataque. Seu marido foi apontado por ela como chefe das frotas.

Como o sistema que vigorava na Inglaterra era a monarquia parlamentar, Ana fez o possível para estabelecer amizades com o máximo de parlamentares influentes. Como forma disso, ela estabelecia majestosos jantares e oferecia presentes caros - uma grande jogada para que se tornasse mais ativa na participação política. Estava sempre presente nas reuniões parlamentares, mesmo as com menos importância.

Seu marido, o Principe Jorge faleceu em 1708, com suspeita de pneumonia. A rainha ficou completamente arrasada com o acontecido.

Foi um assunto em que a Rainha mais se ocupou durante o seu reinado. Expandiu o território das 13 colônias (na América do Norte), e decretou a exploração de alguns produtos na Geórgia e Virgínia. E conquistou o Suriname em 1710. Sendo um grande passo para a economia inglesa, já que muitos produtos tropicais foram exportados.

O pirata Barba Negra deu o nome a seu navio de Queen Anne's Revenge (Vingança da Rainha Ana), homenagiando a rainha.

Ana morreu devido à gota. Embora já tivesse sofrido da doença anteriormente, fora medicada com remédios turcos que a curaram na época. Infelizmente, a doença retornou e acabou tirando-lhe a vida. Ela está enterrada na Abadia de Westminster.



Jorge I da Grã-Bretanha (28 de Maio 1660 – 11 de Junho 1727) foi Príncipe de Hanôver desde 23 de janeiro de 1698 até sua morte, e rei da Grã-Bretanha e da Irlanda desde 1 de agosto de 1714 até sua morte. Ele era também o Erzbannerträger (logo Arquitesoureiro) e Príncipe-Eleitor do Sacro Império Romano Germânico. Jorge I, o primeiro monarca da casa de Hanôver da Grã-Bretanha e Irlanda, não falava inglês de maneira fluente; em seu lugar, falou sempre seu alemão nativo, e por isto se pôs ao ridículo ante seus súditos britânicos. Durante seu reinado, o poder da monarquia diminuiu; desenvolveu-se o moderno sistema de governo por Gabinete. Durante os últimos anos de seu reinado, o poder de fato esteve nas mãos de seu Primeiro Ministro, sir Robert Walpole.

Em 1714 sucedeu à rainha Ana I da Grã-Bretanha, morta sem descendentes. Seus direitos à coroa baseavam-se no fato de ser, por sua mãe Sofia de Hanôver, bisneto de Jaime VI Stuart (1566-1625) Rei da Escócia de 1567 a 1625, que se tornou Jaime I de Inglaterra e Irlanda em 1603.

Jorge I (em inglês: George I e em alemão: Georg Ludwig von Hannover) nasceu na localidade de Leineschloss, em Osnabrück, em 28 de maio de 1660, sendo o primogênito dos 7 filhos do príncipe alemão Ernesto Augusto de Brünswick-Luneburgo, e de Sofia de Wittelsbach, princesa do Palatinado. O duque Jorge de Brünswick-Luneburgo, como então era conhecido, era o herdeiro do território alemão de seu pai.

Em 21 de novembro de 1682, na localidade de Celle, Jorge casou-se com sua prima, Sofia Dorotéia de Brünswick-Luneburgo, que era a única filha do irmão mais velho de seu pai. Deste matrimônio nasceram 2 filhos.

Mas o matrimônio foi infeliz e um total fracasso; Jorge preferiu a companhia de sua amante, Ermengarda Melusina de Schulenburg, a quem mais tarde nomeou duquesa de Munster e de Kendal na Grã-Bretanha.

Sofia, enquanto isso, tinha seu próprio interesse romântico no jovem conde sueco Felipe Christoph de Königsmarck. Ameaçada com o escândalo de uma fuga da princesa, a corte de Hanôver ordenou aos amantes desistir de seus planos, e Jorge apareceu como o autor intelectual de um plano para assassinar Königsmarck. O conde foi assassinado em julho de 1694, e seu corpo foi jogado em rio. O assassinato parece ter sido cometido por quatro cortesãos de Jorge, um dos quais afirmou que, para cometer o crime, lhe pagaram a enorme soma de 150.000 talentos de prata, que naquele tempo era 100 vezes o salário anual do ministro mais bem pago de qualquer corte.

O matrimônio de Jorge e Sofia foi desfeito em 1694, com a acusação de que Sofia havia "abandonado" a seu marido. Com o consentimento de seu próprio pai, Sofia foi presa por ordem de Jorge no Castelo de Ahlden em sua natal Celle, outorgando-lhe o título de princesa de Ahlden. Não lhe foi permitido ter contato com seus filhos e com seu pai, e foi lhe proibido casar-se novamente. Entretanto ela recebeu uma renda, e criados, e permissão para andar em sua carruagem fora do castelo, sempre sob supervisão. Sofia morreria em Ahlden em 1726, depois de 32 anos de reclusão.

Em 23 de janeiro de 1698, Ernesto Augusto morreu, deixando como único herdeiro todos seus territórios a Jorge, a exceção do Principado-Bispado de Osnabrück. (o Príncipe-bispo não era um título hereditário; em seu lugar, alternaram-se no título protestantes e católicos). Jorge então converteu-se no Duque de Brunswick-Lüneburg (também conhecido como Hanôver, depois capital de seus estados), e logo obteve o título de Archbannerbearer e, finalmente, obteve o título de Príncipe-Eleitor do Sacro Império Romano-Germânico.

Pouco depois de Jorge possuir os estados de seu pai, o Parlamento da Inglaterra aprova o Ato de Estabelecimento (1701), que converte a mãe de Jorge, Sofia, em herdeira do trono britânico e se o monarca reinante, Guilherme III e sua cunhada, a futura rainha Ana I, morrerem sem descendência. A sucessão foi estipulada desta maneira porque Sofia era a parente protestante mais próxima da família real britânica; numerosos católicos com parentescos hereditários superiores foram deixados de lado. Na Inglaterra, os Tories se opuseram a permitir que um estrangeiro subisse ao trono, enquanto que os Whigs eram favoráveis a um sucessor protestante sem importar com a nacionalidade. Jorge, segundo se diz, mostrou-se relutante em aceitar o plano inglês, mas seus conselheiros de Hanôver lhe sugeriram que aceitasse, de modo que suas possessões alemãs chegariam a ser mais seguras.

Entretanto, a Guerra de Sucessão Espanhola começou. Nesta luta discutia-se o direito de Felipe, neto do rei francês Luis XIV, em acender ao trono espanhol de acordo com o testamento do rei espanhol Carlos II. O Sacro Império Romano Germânico, as Províncias Unidas da Holanda, Inglaterra, Hanôver e muitos outros estados alemães se opuseram ao direito de Felipe de suceder ao rei espanhol, porque temiam que a França chegaria a ser muito poderosa, se também controlasse a Espanha.

O Parlamento inglês tinha designado Sofia como herdeira sem consultar aos estados da Escócia (o Parlamento Escocês). Em 1703, os estados aprovaram uma lei que declarava que elegeriam a um sucessor da rainha Ana entre os descendentes protestantes dos últimos monarcas escoceses -os Stuarts-. Este sucessor não seria o mesmo indivíduo que sucederia ao trono inglês, a menos que numerosas concessões políticas e econômicas fossem feitas pela Inglaterra. Em 1704, Ana deu seu consentimento à lei, que se converteu no Ato de Seguridade. O Parlamento Inglês aprovou várias medidas para que o comércio Anglo-Escocês fosse restringido e desta maneira abalar a economia escocesa. Em 1707, o Ato de União foi aprovado; uniu a Inglaterra e Escócia em uma só entidade política, o reino da Grã-Bretanha. A linha de sucessão estabelecida pelo Ato de Estabelecimento foi conservada. A casa de Hanôver não era inteiramente aceita por muitos escoceses, como se veria mais adiante pelas rebeliões durante o reinado de Jorge I.

A Guerra de Sucessão Espanhola continuaria até 1713, quando terminou de maneira indecisa com a ratificação do Tratado de Utrecht. Felipe pode conservar o trono espanhol, mas teve que renunciar à sucessão do trono francês.

A mãe de Jorge, Sofia, morreu em 8 de junho de 1714 somente algumas semanas antes da Rainha Ana I da Grã-Bretanha (1 de agosto de 1714). Conforme o Ato de União de 1707, Jorge converteu-se em rei da Grã-Bretanha. Ele não chegou à Grã-Bretanha até 18 de setembro; durante sua ausência, o Lord Chefe da Justiça do Reino actuava como regente. Foi coroado na Abadia de Westminster em 20 de outubro.

Desde sua ascensão, a prática referente as dignidades dos príncipes foi mudada. Antes da casa de Hanôver, as únicas dignidades na casa real eram a de Príncipe de Gales (concedido ao herdeiro do trono) e a de Princesa Real (concedido à filha mais velha do soberano). Os outros membros da família real somente eram conhecidos com o tratamento de "Lord" e "Lady". Jorge I, entretanto, impôs a prática alemã, onde a dignidade principesca era mais comum. Pelo tanto, os filhos e netos dos soberanos na linha masculina converteram-se em príncipes e princesas com o tratamento de "Alteza Real", e os bisnetos de reis na linha masculina lhes nomeou príncipes e princesas com o tratamento de "Alteza".



Jorge II da Grã-Bretanha nasceu em Schloss Herrenhausen, em Hanôver, no dia 30 de outubro de 1683, sendo o primogênito do Duque Jorge Luís (Jorge I da Grã-Bretanha). A acusação de adultério que perseguiu sua mãe - que nunca pode ser comprovada, diferente da de seu pai - provocou o divórcio. Sofia foi aprisionada no Castelo de Alhden, e jamais viu seus filhos novamente. Após esta terrível ação, Jorge nunca mais perdoou seu pai por ter aprisionado sua mãe.

Seu reinado começou em 11 de junho de 1727, entretanto os conflitos familiares continuavam: agora com seu filho Luis Fernando. Seu plano era enviar seu filho para uma das colónias britânicas para que fosse exilado, porém o plano fora esquecido. Jorge fora coroado, devidamente, na Abadia de Westminister em 4 de julho.

Era esperado que Jorge II demitisse Sir Robert Walpole, que influenciou o reinado do seu pai. Persuadiu muitos políticos para que aceitassem o Ato de Estabelecimento como válido. A posição de Sir Robert Walpole era segura. Ele era o mestre de política interna, e exerceu um certo controlo sobre a política externa de Jorge II. Enquanto Jorge estava impaciente por uma guerra na Europa, Walpole foi mais cauteloso. Assim, em 1729, Jorge II foi encorajado a assinar um tratado de paz com a Espanha.

O Ato de Estabelecimento estabelecia que a coroa britânica iria passar para a avó de Jorge Augusto, a eleitora Sofia de Hanôver, onde então, o monarca reinante, Guilherme III e sua cunhada, Princesa Ana, morreu sem descendência. Nos termos da presente lei, Jorge Augusto foi naturalizado em 1705. Ana, que foi promovida para o trono inglês em 1702, admitiu-o na Ordem da Jarreteira em 1706. Além disso, ele foi nomeado Duque de Cambridge, e mais tarde, nesse mesmo ano, Conde de Milford Haven, Visconde de Northallerton e Barão de Tewkesbury.

Jorge II casou-se com a princesa Carolina de Brandenburg-Ansbach, de quem teve oito filhos.



Jorge nasceu ao dia 4 de Junho de 1738 na Norfolk House em Londres. Era neto do rei Jorge II da Grã-Bretanha e fruto do casamento entre Frederico, Príncipe de Gales e Augusta de Saxe-Gota. Como Jorge nascera prematuro, havia poucas chances de que ele sobrevivesse. O príncipe foi batizado no dia do seu nascimento como George William Frederick pelo então Bispo de Oxford. Teve como padrinhos o rei Frederico I da Suécia e a Rainha da Prússia.Em 1808 ele mandou escoltar D.João e a corte portuguesa, que fugia da invasão francesa pelas tropas de Napoleão, para o Brasil.

O seu filho (futuro Jorge IV), então regente, tinha apenas uma filha (a princesa Carlota), casada com o Príncipe Leopoldo e morreu no parto de um bebê natimorto. A tragédia foi das mais desconcertantes. O caleidoscópio real subitamente se movimentara. A sucessão ao trono, que parecia um assunto tão satisfatoriamente resolvido, agora se tornava uma questão duvidosa e urgente.

Jorge III era um homem lunático, velho e totalmente impenetrável às impressões do mundo exterior. De seus sete filhos, o mais jovem já tinha ultrapassado a meia idade, e nenhum tinha descendência legítima. O horizonte era incerto. Parecia altamente improvável que o príncipe regente, ainda que se divorciasse da esposa, voltasse a se casar e fosse pai novamente.

Jorge III tinha sete filhos e cinco filhas. Destas, duas eram casadas e sem filhos. As três princesas solteiras já tinham bem mais de 40 anos. Os filhos homens, com exceção do mais novo, eram casados e não tinham filhos. Então dois deles resolveram abandonar suas esposas e se casar novamente, a fim de gerar herdeiros para a coroa.

O duque de Kent escolheu a irmã do príncipe Leopoldo, viuvo da sua sobrinha Carlota. A nova Duquesa de Kent era viúva e mãe de duas filhas, portanto comprovadamente fértil, e contava ainda com o fato do príncipe Leopoldo ser muito popular na nação. O duque foi morar no pequeno e empobrecido país de sua nova esposa, mas quando esta ficou grávida, ele tomou o cuidado de levá-la a Londres para o nascimento do bebê. Aquela criança tinha que ser inglesa. No dia 24 de maio de 1819, nasceu no Palácio de Kensington, a pequena princesa Vitória, batizada Alexandrina Vitória.

O seu tio, Duque de Clarence, o outro filho do rei determinado a produzir um herdeiro, tinha sido pai de uma menina dois meses antes do nascimento de Vitória, porém a criança viveu pouco. Era natural que eles tivessem outros filhos, e também o Duque de Kent pretendia aumentar a família, arrebatando assim da pequena princesa a sua reduzida chance na sucessão.

Em pouco tempo, com a morte do rei, do duque de Kent e a improvável gravidez da duquesa de Clarence, a criança gorducha e sem muita importância na linha de sucessão na época do seu nascimento, foi reconhecida pelo Parlamento como herdeira presumida do trono da Inglaterra.



Jorge IV do Reino Unido (12 de Agosto de 1762 – 26 de Junho de 1830), da Casa de Hanôver, foi Rei do Reino Unido e de Hanôver de 1820 até à sua morte. Antes de subir ao trono, Jorge IV foi regente do seu pai Jorge III, o Louco devido à instabilidade mental que este sofria, causada pela doença crónica porfíria.

As Guerras Napoleónicas desenrolaram-se nos períodos da sua regência e reinado. Jorge IV foi um monarca extravagante em termos de gostos pessoais e relações familiares, nomeadamente com a mulher, a princesa Carolina de Brunswick. A relação dos dois era má a ponto de Jorge IV a impedir de entrar na cerimónia de coroação e resultou numa única filha, a Princesa Carlota de Gales, que casou com o Duque Leopoldo de Saxe-Coburg (futuro Rei dos Belgas), e morreu no parto sem deixar descendentes em 1817. A morte da princesa provocou uma corrida pela sucessão. Foi sucedido pelo irmão.

Jorge nasceu no Palácio de St. James, em Londres. E como primogênito do monarca reinante, recebeu imediatamente os títulos de Duque da Cornualha e Duque de Rothesay. Mais tarde recebeu os títulos de Príncipe de Gales e Conde de Chester.



William Henry nasceu em 21 de agosto de 1765 no Palácio de Buckingham. Filho do rei Jorge III e da Rainha Charlotte, Guilherme era o terceiro de 15 irmãos, sendo também o terceiro na linha de sucessão ao trono. Como filho do monarca reinante, Guilherme foi educado em casa durante a maior parte da sua infância e, ao atingir a idade de 13 anos, ingressou na Royal Navy para servir ao seu país. Especula-se que George Washington tramou o sequestro de Guilherme durante a Guerra de Independência, mas o plano veio a falhar, pois o príncipe possuia guardas pessoais, o que dificultaria a ação dos sequestradores.

Após alguns anos de serviço, Guilherme foi promovido a Tenente e passou a comandar o HMS Pegasus. No comando de um dos mais importantes navios da Marinha Real, Guilherme navegou até o Caribe, onde teria sido hospedado por Horatio Nelson. Em 1788, o príncipe foi transferido para a embarcação HMS Andromeda e no ano seguinte foi transferido para o HMS Valiant, onde assumiu o posto de Almirante.

Guilherme desajava tornar-se um Duque como os seus irmãos mais velhos, mas seu pai inicialmente recusou concede-lo um Ducado. O príncipe então, para pressionar seu pai, declarou-se interessado em fazer parte da Casa dos Comuns, algo inaceitável para um nobre da época. Em resposta, o rei o concedeu os títulos de Duque de Clarence e Conde de Munster no ano de 1789.

O então Jorge, Príncipe de Gales, irmão mais velho de Guilherme, era o regente do Reino enquanto o rei Jorge III se recuperava da loucura. Em 1820, o rei falecido foi sucedido pelo Príncipe de Gales que assumiu com o título de Jorge IV do Reino Unido e Guilherme passou a ser o 2º na linha de sucessão.

O Duque de Iorque faleceu em 1827 e Guilherme, com mais de 60 anos, tornou-se o herdeiro presuntivo. Naquele mesmo ano, o primeiro-ministro George Canning o apontou como Lorde do Almirantado.

O rei Jorge IV faleceu em 26 de junho de 1830 aos 67 anos, mas como não deixou herdeiros legítimos, foi sucedido pelo irmão Guilherme, Duque de Clarence. Guilherme, ao assumir o trono, defendia a retomada de um governo mais antigo, totalmente oposto ao de seu irmão, que não se esforçava em esconder o prazer que tinha pelo luxo da corte. Guilherme era mais reservado e aparentemente equilibrado do que Jorge, sendo, por isso, mais popular entre o povo. Pouco tempo após sua ascensão, Guilherme já havia assumido importantes responsabilidades com o primeiro-ministro, mostrando-se ágil e competente e conquistou ainda mais o apoio popular após fazer de seu filho primogênito Conde de Munster, mesmo sendo um ato incomum.

Após a finalização oficial do reinado de Jorge IV, Guilherme convocou eleições gerais para o Parlamento. Os Tories, apoiados pelo Duque de Wellington, perderam muitos votos para os Whigs, liderados por Charles Grey, fazendo com que Wellington fosse cassado do Parlamento. Quando os Comuns votaram a primeira reforma parlamentar, o ministério de Grey solicitou ao rei uma dissolução completa do parlamento, o que iria resultar em outras eleições gerais. Guilherme, a princípio, não demonstrou nenhuma aprovação aos pedidos de Grey, mas as pressões dos parlamentares o levaram a conduzir uma sessão legislativa no próprio parlamento. Guilherme, então, vestiu os trajes cerimoniais e portando a coroa, dissolveu o parlamento declarou novas eleições, favorecendo aos reformistas. Contudo, os Lordes não aceitaram a dissolução. Após a rejeição de uma nova reforma, a agitação popular cresceu em todo o país.

Todos os filhos legítimos de Guilherme IV com sua consorte Adelaide de Saxe-Meiningen nasceram e morreram antes de sua ascensão ao trono. Por conseguinte, foram denominados como Príncipe / Princesa de Clarence com o estilo de Sua Alteza Real.



Em 1817, a princesa Carlota Augusta de Gales morreu ao dar à luz um natimorto, causando uma crise de sucessão no Reino Unido. Carlota era a única filha do Príncipe Regente (futuro Jorge IV, filho mais velho de Jorge III do Reino Unido, que agia como regente devido à doença do pai) e da esposa renegada, Carolina de Brunswick. O nascimento fora tido como milagroso visto que alegadamente os pais não tiveram relações sexuais mais de três vezes durante o casamento, daí que o nascimento de um eventual outro filho do príncipe Jorge fosse, no mínimo, improvável.

Assim, a linha directa de sucessão ao trono britânico foi subitamente extinta. Jorge III tinha 12 filhos, mas nenhum neto legítimo que pudesse herdar a coroa. As cinco filhas eram solteiras ou estéreis e nenhum dos filhos era casado, à excepção do segundo, Frederico, duque de York, que também não tinha filhos.

Este acontecimento provocou uma "corrida" ao casamento por parte dos príncipes solteiros. O terceiro filho, Guilherme, Duque de Clarence casou com a princesa Adelaide de Saxe-Meiningen. Deste matrimónio resultaram duas filhas, Carlota (1819) e Isabel (1820), ambas mortas antes dos dois anos, e vários abortos espontâneos, o último de gémeos em 1821, depois do qual se tornou óbvio que não teriam mais filhos.

O quarto filho do Jorge III, Eduardo, Duque de Kent casou por sua vez com Vitória de Saxe-Coburgo-Saalfeld, viúva do duque de Leiningen e mãe de dois filhos, Carlos e Feodora, que era também irmã de Leopoldo de Saxe-Coburgo-Gota, viúvo da princesa Carlota Augusta. Deste casamento nasceu em 1819 uma menina, baptizada Alexandrina Vitória. Depois das sucessivas mortes das primas Clarence, do pai apenas alguns meses depois e já em 1830 de Jorge IV, Vitória tornou-se herdeira presumível do trono britânico.

O pai de Vitória, o príncipe Eduardo, duque de Kent, casou-se com a mãe dela, a princesa Vitória, no dia 30 de Maio de 1818, no Palácio de Ehrenburg, em Coburgo. Para que não houvesse dúvidas sobre a validade deste casamento, foi realizada uma segunda cerimónia, em Inglaterra, no Palácio de Kew, no dia 11 de Junho do mesmo ano, no mesmo dia em que o irmão mais velho, o príncipe Guilherme, se casou com a princesa Adelaide de Saxe-Meiningen.

O pai da futura rainha já estava bastante endividado antes do casamento, mas depois a sua situação económica começou a agravar-se ainda mais. Como Eduardo discordava das visões políticas do seu irmão, o príncipe-regente, este recusou-se a ajudá-lo e, por isso, os pais de Vitória tiveram de deixar Inglaterra e passaram a viver na Alemanha. Poucas semanas depois, Vitória soube que estava grávida e o duque percebeu imediatamente a importância que tinha o fato de a criança nascer em Inglaterra, por isso, com a ajuda de alguns amigos, conseguiu juntar dinheiro suficiente para a viagem quando a duquesa já estava grávida de sete meses. Chegaram ao seu destino no dia 24 de Abril de 1819 e instalaram-se no Palácio de Kensington. Foi aí que a futura rainha Vitória nasceu, um mês depois, no dia 24 de Maio, às quatro e um quarto da manhã.

Foi baptizada numa cerimónia privada no dia 24 de Julho pelo arcebispo da Cantuária, Charles Manners-Sutton, no salão da cúpula no Palácio de Kensington. Os seus padrinhos foram o czar Alexandre I da Rússia (representado na cerimónia pelo seu tio, o duque de Iorque), o seu tio, o príncipe-regente, a sua tia, a rainha Carlota de Württemberg (representada pela princesa Augusta)e a avó materna de Vitória, a duquesa-viúva de Saxe-Coburgo-Saalfeld (representada pela princesa Maria, duquesa de Gloucester e Edimburgo). Os seus pais quiseram chamá-la Vitória Jorgina Alexandrina Carlota Augusta, mas o irmão mais velho do duque, o príncipe-regente, insistiu que três dos nomes desaparecessem. Então acabou por ser baptizada apenas de Alexandrina Vitória, em honra do czar Alexandre I e da sua mãe.

Vitória estava no quinto lugar de sucessão, a seguir ao seu pai e aos seus três irmãos mais velhos. O príncipe-regente estava separado da sua esposa e a esposa do duque de Iorque, a princesa Frederica Carlota da Prússia, tinha cinquenta e dois anos, por isso não havia muitas hipóteses de os filhos mais velhos do rei terem herdeiros. Ambas as filhas nascidas ao duque de Clarence (em 1819 e 1820) tinham morrido antes dos dois anos de idade. O avô e o pai de Vitória morreram em 1820, com apenas uma semana de diferença e o duque de Iorque morreu em 1827. Após a morte do rei Jorge IV em 1830, Vitória tornou-se herdeira presumível do seu tio Guilherme IV do Reino Unido. O Ato de Regência de 1830 incluía uma clausula especial que tornava a duquesa de Kent, mãe de Vitória, regente caso Guilherme morresse antes de a princesa atingir a maioridade. O rei Guilherme desconfiava da capacidade da duquesa em ser regente e, em 1836, declarou na sua presença que queria viver até ao 18º aniversário de Vitória para que fosse evitada uma regência.

Mais tarde na sua vida, Vitória descreveu a sua infância como "bastante melancólica". A sua mãe era muito protectora e, por isso, Vitória foi criada isoladamente, longe de outras crianças da sua idade, e seguindo o chamado "Sistema Kensington", um conjunto de regras e protocolos elaborados desenvolvido pela duquesa e o seu mordomo ambicioso e dominador, Sir John Conroy, que, segundo alguns rumores possivelmente errados, era o amante da duquesa. O sistema impedia-a de se encontrar com pessoas que a sua mãe e Conroy considerassem indesejáveis (um grupo que incluía grande parte da família do seu pai), e estava direccionado no sentido de a tornar fraca e dependente deles. A duquesa evitava a corte pois chocava-se com o facto de ela ser frequentada pelos filhos ilegítimos do rei, e talvez para mostrar a moralidade de Vitória insistindo que a sua filha evitasse qualquer forma de indecência sexual. Vitória partilhava o quarto com a sua mãe, estudava com tutores privados seguindo um horário regular e passava as suas horas de lazer a brincar com as suas bonecas e um king charles spaniel chamado Dash. Aprendeu francês, alemão, italiano e latim, mas falava inglês em casa.

Em 1830, a duquesa de Kent e Conroy levaram Vitória até ao centro de Inglaterra para visitar Malvern Hills, parando em aldeias e grandes casas de campo pelo caminho. Em 1832, 1833, 1834 e 1835 foram feitas viagens semelhantes. Para grande irritação do rei Guilherme, Vitória foi recebida com muito entusiasmo em todas as paragens. Guilherme viu estas viagens como ambições reais e temia que as pessoas começassem a ver Vitória como a sua rival em vez de a verem como sua herdeira. Vitória não gostava destas viagens. A ronda constante de aparições públicas deixava-a cansada e doente e tinha pouco tempo para descansar. A princesa opôs-se a estas viagens, argumentando que o rei não gostava delas, mas a sua mãe ignorou as suas queixas por ciumes e forçou a filha a continuar. Enquanto estava em Ramsgate, em Outubro de 1835, Vitória apanhou uma febre grave, mas Conroy ignorou-a, afirmando que as suas queixas não passavam de fingimentos infantis. Enquanto Vitória estava doente, Conroy e a duquesa tentaram fazer com que ela nomeasse Conroy como seu secretário privado, mas a princesa recusou. Enquanto adolescente, Vitória resistiu a muitas tentativas persistentes por parte da sua mãe e Conroy para nomeá-lo para seu funcionário. Quando se tornou rainha, acabou por bani-lo da sua presença, mas Conroy manteve-se na casa da sua mãe.

Em 1836, o irmão da duquesa, Leopoldo, que se tinha tornado rei dos belgas em 1831, começou a fazer planos para casar a sua sobrinha Vitória com o seu sobrinho Alberto de Saxe-Coburgo-Gota. Leopoldo, a mãe de Vitória e o pai de Alberto (o duque Ernesto I de Saxe-Coburgo-Gota) eram irmãos. Leopoldo convenceu a sua irmã a convidar os seus parentes de Coburgo para a visitarem em Maio de 1836, com o objectivo de apresentar Vitória a Alberto. Contudo, Guilherme IV não aprovava nenhum tipo de união de membros da sua família com os Coburgos e preferia que a sua sobrinha se viesse a casar com o príncipe Alexandre dos Países Baixos, segundo filho do príncipe de Orange. Vitória sabia dos vários planos de casamento e dava a sua opinião sobre a parada de príncipes elegíveis que lhe iam sendo apresentados. Segundo o seu diário, Vitória sempre gostou da companhia de Alberto. No fim da visita, escreveu: "[Alberto] é extremamente bonito, o seu cabelo é da mesma cor do meu, os seus olhos são grandes e azuis e tem um lindo nariz e uma boca muito doce com bons dentes. Mas o charme do seu rosto é a sua expressão, que é muito agradável." Por outro lado, achava Alexandre "muito simples".

Vitória escreveu ao seu tio Leopoldo, que sempre considerou o seu "melhor e mais gentil conselheiro", para lhe agradecer pela "perspectiva de grande felicidade para a qual contribuiu na pessoa do querido Alberto (...) ele tem todas as qualidades que seriam desejáveis para me deixar perfeitamente feliz. É tão sensível, tão gentil, e tão bom e amoroso. Além do mais tem o exterior mais agradável e encantador que se pode ter." Contudo, aos dezassete anos, apesar de estar interessada em Alberto, Vitória não estava pronta para se casar. Os dois lados não avançaram com um noivado formal, mas assumiram que a união iria acontecer a seu tempo.

Vitória fez dezoito anos a 24 de Maio de 1837, evitando-se assim uma regência. No dia 20 de Junho de 1837, Guilherme IV morreu aos setenta e um anos de idade e Vitória tornou-se rainha do Reino Unido. No seu diário escreveu: "Fui acordada às seis da manhã pela mamã que me disse que o Arcebispo da Cantuária e Lord Conyngham estavam aqui e queriam ver-me. Saí da cama e fui até à minha salinha-de-espera (vestida só com a minha camisa de dormir) e sozinha, e vi-os. Lord Conyngham informou-me depois de que o meu pobre tio, o rei, já não existia, e tinha dado o seu último fôlego doze minutos depois das duas da manhã e, consequentemente, sou rainha." Os documentos oficiais do seu primeiro dia de reinado referiram-se a ela como Alexandrina Vitória, mas o primeiro nome foi retirado a pedido da rainha e não voltou a ser usado.

Desde 1714 que o soberano da Grã-Bretanha tinha também partilhado o trono com o reino de Hanôver, na Alemanha, mas como este tinha em vigor uma lei sálica que impedia a sucessão de mulheres ao trono, Vitória não o pôde herdar, passando para o irmão mais novo do seu pai, o seu tio pouco popular, o duque de Cumberland e Teviotdale, que se tornou no rei Ernesto Augusto I de Hanôver. Foi também ele o seu herdeiro presumível até ela se casar e ter um filho.

Na altura em que sucedeu ao trono, o governo era liderado por um primeiro-ministro liberal, Lord Melbourne, que se tornou uma influência poderosa para Vitória que não tinha experiência política e contava com ele para pedir conselhos. Charles Greville achava que o viúvo Melbourne, que nunca tinha tido filhos, "gostava muito dela, como gostaria de uma filha se tivesse tido alguma", e é provável que Vitória também o visse como uma figura paternal. A sua coroação aconteceu no dia 28 de Junho de 1838 e Vitória tornou-se na primeira soberana a residir no Palácio de Buckingham. Herdou as propriedades dos ducados de Lancaster e Cornualha e passou a receber 385.000 libras por ano. Sendo prudente a nível financeiro, conseguiu pagar as dívidas do seu pai.

No inicio do seu reinado, Vitória foi popular, mas a sua reputação sofreu um golpe durante uma intriga da corte em 1839 quando a barriga de uma das damas-de-companhia da sua mãe, Lady Flora Hastings, começou a crescer anormalmente, causando rumores de que esta tinha ficado grávida, fora do casamento, de Sir John Conroy. Vitória acreditou nos rumores. Odiava Conroy e desprezava "aquela odiosa Lady Flora", uma vez que esta tinha conspirado com Conroy e a duquesa de Kent no sistema Kensington. A principio, Lady Flora recusou submeter-se a um exame médico nua, mas em meados de Fevereiro finalmente cedeu e descobriu-se que ela ainda era virgem. Conroy, a família Hastings e os conservadores organizaram uma campanha na imprensa afirmando que a rainha tinha ajudado a espalhar rumores falsos sobre Lady Flora. Quando Lady Flora morreu em Julho, a autópsia revelou que ela tinha um grande tumor no fígado e tinha sido essa a causa do crescimento da barriga. Em aparições públicas, Vitória era assobiada e chamada de "Mrs. Melbourne".

Em 1839, Melbourne demitiu-se quando os radicais e os conservadores (Vitória odiava ambos os partidos) votaram contra uma lei que suspendia a constituição da Jamaica. A lei retirava poder político aos donos de plantações que estavam a resistir à abolição da escravatura. A rainha deu ordens a um conservador, Sir Robert Peel, para formar um novo governo. Nesta altura era normal o primeiro-ministro nomear membros da casa real, que eram normalmente os seus aliados políticos e patrocinadores. Muitas das damas-de-quarto da rainha eram esposas de liberais e Peel esperava conseguir substitui-las por esposas de conservadores. Durante aquela que ficou conhecida como a crise do quarto, Vitória, aconselhada por Melbourne, foi contra a sua substituição. Peel recusou-se a governar com as restrições impostas pela rainha e acabou por se demitir, deixado que Melbourne voltasse ao seu antigo cargo.

Apesar de ser rainha, Vitória tinha de continuar a viver com a sua mãe com quem não se dava bem por causa do sistema Kensington e da sua dependência contínua em Conroy, simplesmente pelo fato de ser solteira. A sua mãe vivia em aposentos afastados no Palácio de Buckingham e Vitória recusava-se a vê-la muitas vezes. Quando a rainha se queixou a Melbourne, dizendo-lhe que a proximidade da mãe lhe tinha causado "tormento durante muitos anos", o primeiro-ministro simpatizou com ela, mas disse que tal podia ser evitado com um casamento, algo a que Vitória chamou de "uma alternativa chocante". Estava interessada na educação que Alberto estava a receber para o preparar para o seu futuro papel como seu marido, mas resistiu a apressar o casamento.

Vitória continou a elogiar Alberto após a sua segunda visita a Inglaterra em Outubro de 1839. Alberto e Vitória gostavam um do outro e a rainha pediu-o em casamento no dia 15 de Outubro de 1839, apenas cinco dias depois da sua chegada a Windsor. Casaram-se a 10 de Fevereiro de 1840, na Capela Real do Palácio de St. James, em Londres. Vitória estava completamente apaixonada. Passou a primeira noite de casamento de cama com uma dor de cabeça, mas escreveu no seu diário:

"NUNCA, NUNCA passei uma noite assim!!! O MEU QUERIDO, QUERIDO, QUERIDO Alberto (...) o seu grande amor e afecto fizeram-me sentir num paraíso de amor e felicidade que nunca pensei alguma vez sentir! Segurou-me nos seus braços e beijamo-nos uma e outra e outra vez! A sua beleza, a sua doçura e gentileza - como posso agradecer vezes suficientes ter um marido assim! (...) ser chamada por nomes ternurentos, que nunca me chamaram antes - foi uma bênção inacreditável! Oh! Este foi o dia mais feliz da minha vida!"

Alberto tornou-se um conselheiro político importante, bem como o companheiro da rainha, substituindo Lord Melbourne como a figura dominante e influente na primeira metade da sua vida. A mãe de Vitória foi despejada do palácio e enviada para Ingestre House em Belgrave Square. Após a morte da princesa Augusta em 1840, a mãe de Vitória recebeu as casas de Clarence e Frogmore. Com a ajuda de Alberto, a relação entre mãe e filha começou a melhorar aos poucos.

Durante a primeira gravidez de Vitória em 1840, nos primeiros meses de casamento, Edward Oxford de dezoito anos tentou assassiná-la quando a rainha estava numa carruagem com o príncipe Alberto a caminho da casa da mãe. Oxford disparou duas vezes, mas ambas as balas falharam o alvo. Foi julgado por alta traição e considerado culpado, mas foi depois libertado por se considerar que estava louco. Depois do incidente, a popularidade de Vitória aumentou, fazendo com que a crise do quarto fosse esquecida. A sua primeira filha, que também recebeu o nome Vitória, nasceu no dia 21 de Novembro de 1840. A rainha detestava estar grávida, achava que a amamentação era repugnante, e achava que os recém-nascidos eram feios. Mesmo assim ainda viria a ter mais oito filhos com Alberto.

A casa de Vitória era maioritariamente governada por aquela que tinha sido a sua governanta durante a sua infância, a baronesa Louise Lehzen. Lehzen tinha tido uma grande influência em Vitória, e tinha-a apoiado contra o sistema Kensington. Contudo, Alberto achava que Lehzen era incompetente e que o seu desgoverno ameaçava a saúde da sua filha. Após uma zanga entre Vitória e Alberto por causa deste assunto, Lehzen foi reformada e a sua relação próxima com Vitória acabou.

Um dos filhos de Vitória, o segundo mais novo, Leopoldo, foi o primeiro descendente de Vitória a sofrer de hemofilia B e duas das suas cinco filhas, Alice e Beatriz, descobriram, depois de ter filhos, que eram portadoras do gene defeituoso. Os descendentes reais que sofriam da doença incluíam os seus bisnetos, o czarevich Alexei da Rússia, Afonso, príncipe das Astúrias, e o infante Gonçalo de Espanha. A presença da doença nos descentes da rainha, mas não nos seus antepassado, levou a especulações nos dias de hoje, afirmando que o verdadeiro pai de Vitória não era o duque de Kent, mas sim um hemofílico. Não existe nenhuma prova documentada sobre a presença de hemofílicos na família da mãe de Vitória e como os homens apenas sofrem a doença, mas não a podem transmitir, essa teoria foi desvalorizada. É mais provável que tenha havido uma mutação espontânea, visto que o pai de Vitória era já bastante velho quando a concebeu e a hemofilia aparece mais frequentemente em crianças nascidas de pais mais velhos. Cerca de 30% dos casos de hemofilia aparecem por mutações espontâneas.

No dia 29 de Maio de 1842 Vitória estava a andar de carruagem na zona de The Mall, em Londres, quando John Francis lhe apontou uma pistola, mas não disparou. No dia seguinte, Vitória foi pelo mesmo caminho, mas mais depressa e com mais segurança numa tentativa premeditada de provocar Francis a tentar disparar novamente e, assim, ser apanhado em flagrante. Tal como era esperado, Francis disparou, mas foi travado por um polícia vestido à paisana e condenado por alta traição. Em 3 de Julho, dois dias depois da sentença de morte de Francis ser mudada para transporte para uma das colónias inglesas para o resto da vida, outro homem, John William Bean, também apontou uma pistola à rainha, mas esta estava apenas carregada com papel e tabaco. Oxford achou que estas tentativas tinham sido inspiradas pela sua experiência em 1840. Bean foi condenado a dezoito meses de prisão. Em 1849 houve um ataque semelhante, desta fez executado pelo irlandês William Hamilton que disparou uma pistola carregada com pólvora contra a carruagem de Vitória quando esta passava por Constitution Hill, em Londres. Em 1850 a rainha chegou mesmo a ser ferida quando foi atacada por Robert Pate, um antigo oficial do exército, possivelmente louco. Enquanto Vitória estava a andar de carruagem, Pate atingiu-a com a sua bengala, destruindo-lhe o chapéu e deixando-lhe negras na cara. Tanto Hamilton como Pate foram condenados a um transporte de sete anos para colónias britânicas.

O apoio que Melbourne tinha no parlamento enfraqueceu ao longo dos anos do reinado de Vitória e, nas eleições de 1841, os liberais saíram derrotados. Robert Peel tornou-se primeiro-ministro e as damas-de-quarto que estavam associadas a liberais foram substituídas.

Em 1845 a Irlanda sofreu uma praga nas plantações de batata. Nos quatro anos que se seguiram, mais de um milhão de irlandeses morreram e outro milhão emigrou num período que ficou conhecido como "A Grande Fome". Na Irlanda, Vitória passou a ser chamada de "Rainha da Fome". Vitória doou £2,000 para ajudar a aliviar a fome, uma quantia superior a qualquer outra doação feita na época por um só indivíduo, e também apoiou o empréstimo Maynooth a um seminário católico na Irlanda, apesar da oposição por parte dos protestantes. A história de que ela teria dado apenas £5 para ajudar os irlandeses e de que no mesmo dia tinha dado a mesma quantia a um abrigo para cães foi um mito que se gerou no final do século XIX.

Em 1846, o governo de Peel enfrentou uma crise que envolvia a revogação das leis do milho. Muitos conservadores opuseram-se à revogação, mas Peel e outros conservadores, a maioria dos liberais e a rainha apoiaram-na. Peel demitiu-se em 1846, após a revogação ter passado com maioria absoluta e foi substituído por Lord John Russell.

A nível internacional, Vitória centrou as suas atenções na melhoria das relações entre a França e o Reino Unido. Visitou e recebeu muitas vezes a família real francesa, os Orleães, alguns dos quais eram parentes dos Coburgos por casamento. Em 1843 e 1845, Vitória e Alberto ficaram no Castelo d'Eu com o rei Luís Filipe I. Vitória foi a primeira monarca briânica a visitar um monarca francês desde o encontro no campo do pano de ouro em 1520. Quando Luís Filipe retribuiu a visita em 1844, tornou-se no primeiro soberano francês a visitar um soberano britânico. Luís Filipe foi deposto pelas revoluções de 1848 e foi para o exílio em Inglaterra. No ponto mais alto da vaga revolucionária no Reino Unido em Abril de 1848, Vitória e a família trocaram Londres pela segurança de Osborne House, uma propriedade privada na Ilha de Wight que a rainha tinha comprado em 1845 e renovado. As manifestações por parte dos cartistas e dos nacionalistas irlandeses não conseguiram encontrar apoio a nivel nacional e as perturbações morreram sem grandes problemas. A primeira visita da rainha à Irlanda em 1849 foi um sucesso, mas não teve nenhum impacto duradouro no crescimento do nacionalismo irlandês.

O governo de Russell, apesar de ser liberal, não agradava à rainha. Ofendia-se particularmente com o secretário dos assuntos estrangeiros, Lord Palmerston, que agia muitas vezes sem consultar o governo, o primeiro-ministro ou a rainha. Vitória queixou-se a Russel de que Palmerston tinha enviado despachos oficiais para líderes estrangeiros sem o seu conhecimento, mas Palmerston ficou com o seu posto e continuou a agir por sua própria iniciativa, apesar das repetidas chamadas de atenção da rainha. Só viria a ser despedido em 1851, quando anunciou que o governo britânico apoiava o golpe de estado do presidente Louis-Napoleon Bonaparte em França sem consultar o primeiro-ministro. No ano seguinte, o presidente Bonaparte foi declarado rei Napoleão III, numa altura em que a administração de Russel tinha já sido substituída pelo governo minoritário de curta duração liderado por Lord Derby.

Em 1853, Vitória deu à luz o seu oitavo filho, Leopoldo, com a ajuda de um novo anestésico, o clorofórmio. Vitória ficou tão impressionada com o alívio que lhe deu da dor do parto que o voltou a usar em 1857, na altura do nascimento da sua última filha, Beatriz, apesar de membros do clero se terem oposto por considerarem que ia contra os ensinamentos da bíblia, assim como membros da classe médica que achavam o medicamento perigoso. Vitória pode ter sofrido de depressão pós-parto depois de muitas das suas gravidezes. Existem cartas escritas por Alberto para Vitória onde este se queixava da sua falta de auto-controlo. Por exemplo, cerca de um mês depois do nascimento de Leopoldo, Alberto queixou-se numa carta sobre a sua "histeria contínua" por causa de "um assunto sem importância".

No inicio de 1855 o governo de Lord Aberdeen, que tinha substituído o de Derby, foi criticado devido ao mau uso de tropas britânicas durante a Guerra da Crimeia e caiu. Vitória falou com Derby e Russell no sentido de formar um novo governo, mas nenhum dos dois teve apoio suficiente e Vitória foi forçada a nomear Palmerston como o seu novo primeiro-ministro.

Napoleão III, que desde a Guerra da Crimeia se tinha tornado no maior aliado britânico, visitou Londres em Abril de 1855 e, de 17 a 28 de Agosto do mesmo ano, Vitória e Alberto retribuíram a visita. Napoleão encontrou-se com o casal em Dunquerque e acompanhou-os até Paris. Visitaram a Exposição Universal (uma sucessora da Grande Exposição organizada pelo príncipe Alberto em Londres em 1851) e a sepultura de Napoleão I em Les Invalides (na qual os seus restos mortais só tinham sido restituídos em 1840), e foram os convidados de honra de um baile com mil e duzentos convidados no Palácio de Versailles.

No dia 14 de Janeiro de 1858 um refugiado italiano que vivia na Grã-Bretanha tentou assassinar Napoleão III com uma bomba feita em Inglaterra. Isto causou uma crise diplomática que desestabilizou o governo e fez com que Palmerston se demitisse. Derby regressou a este posto. Vitória e Alberto estiveram presentes na abertura de uma nova base no porto militar francês de Cherbourg no dia 5 de Agosto de 1858, numa tentativa por parte de Napoleão III de assegurar à Grã-Bretanha que as suas preparações militares estavam direccionadas para outro lugar. Quando regressou a Inglaterra, Vitória escreveu a Derby, reprimindo-o pelo fraco estado da marinha real britânica em comparação com a francesa.

Onze dias depois da tentativa de assassinato em França, a filha mais velha de Vitória casou-se com o príncipe Frederico Guilherme da Prússia em Londres. Os dois eram noivos desde 1855, quando a princesa real Vitória tinha apenas catorze anos. O casamento foi atrasado pela rainha e pelo príncipe Alberto até a noiva completar dezessete anos. A rainha e o príncipe Alberto esperavam que a sua filha e genro fossem responsáveis pela liberalização do crescente reino prussiano. Vitória sentiu "o coração doente" por ver a sua filha deixar Inglaterra para passar a viver na Alemanha. "Faz-me arrepiar", escreveu ela à filha numa das suas frequentes cartas, "quando olho para todas as tuas doces, felizes e inocentes irmãs e penso que vou ter de as deixar também - uma à uma." Quase um ano depois, a princesa Vitória deu à luz o primeiro neto da rainha Vitória, o futuro kaiser Guilherme II da Alemanha.

Em Março de 1861 a mãe de Vitória morreu a seu lado. Quando leu os documentos deixados por ela, Vitória compreendeu que a sua mãe a tinha amado profundamente; ficou destroçada e culpou Conroy e Lehzen por a terem afastado "maldosamente" da sua mãe. Para distrair a esposa durante este período de sofrimento intenso, Alberto substitui-a em grande parte dos seus deveres, apesar de ele próprio estar doente com problemas crónicos no estômago. Em Agosto, Vitória e Alberto visitaram o seu filho, o príncipe Eduardo de Gales, que estava a participar em manobras do exército em Dublin e passaram alguns dias em Killarney. Em Novembro, Alberto ficou a saber de rumores de que Eduardo teria dormido com uma actriz na Irlanda. Horrorizado, Alberto foi até Cambridge, onde o seu filho estava a estudar, e confrontou-o. No inicio de Dezembro Alberto estava muito mal. William Jenner diagnosticou-o com febre tifóide e o príncipe morreu no dia 14 de Dezembro de 1861. Vitória ficou devastada. Culpou o seu filho Eduardo pela morte do marido. Disse que Alberto tinha sido "morto por causa daquele assunto horrível". Entrou em luto e usou roupa preta durante o resto da sua vida. Evitou aparições públicas e raramente foi a Londres nos anos que se seguiram. O seu isolamento fez com que passasse a ser chamada de "viúva de Windsor".

O isolamento auto-imposto por Vitória do público fez com que a sua popularidade diminuísse e encorajou o crescimento do movimento republicano. A rainha tratava dos seus assuntos de governo oficiais, mas escolheu ficar nas suas residências no Castelo de Windsor, Osborne House e a propriedade privada na Escócia, o Castelo de Balmoral, que tinha comprado com Alberto em 1847. Em Março de 1864, um protestante colocou um cartaz nas grades do Palácio de Buckingham que dizia: "esta propriedade está à venda em consequência da falência do negócio do seu antigo ocupante". O seu tio Leopoldo escreveu-lhe para a aconselhar a aparecer em público. A rainha concordou em aparecer nos jardins da sociedade real de horticultura em Kensington e dar um passeio numa carruagem aberta por Londres.

Ao longo da década de 1860 Vitória começou a depender de um criado escocês, John Brown. Começaram a surgir rumores caluniosos de que os dois tinham uma relação e até de que se tinham casado em segredo e os jornais começaram a chamar a rainha de Mrs. Brown. A história da sua relação foi o tema principal do filme Mrs. Brown, de 1997, onde a rainha foi interpretada por Judi Dench. Existe também um quadro de Edwin Landseer que mostra a rainha e Brown e se encontra em exposição na Royal Academy e Vitória publicou um livro, "Leaves from the Journal of Our Life in the Highlands", que fala muito de Brown e no qual a rainha elogiou muito o seu criado.

Palmerston morreu em 1865 e, depois de um breve governo liderado por Russell, Derby voltou ao poder. Em 1866 Vitória esteve presente na abertura do parlamento pela primeira vez desde a morte de Alberto. No ano seguinte apoiou a aprovação da lei de reforma de 1867 que duplicava o número do eleitorado, estendendo o direito de voto a vários trabalhadores urbanos, embora a rainha fosse contra o direito de voto para mulheres. Derby demitiu-se em 1868, para ser substituído por Benjamin Disraeli que encantou a rainha. "Toda a gente gosta de elogios," disse ele, "e quando uma pessoa entra em contacto com a realeza, deve aplicá-los com uma pinça." Cumprimentava-a sempre com a frase "we authors, Ma'am", e elogiava-a. O governo de Disraeli durou apenas alguns meses e, no final do ano, o seu rival liberal, William Ewart Gladstone, foi nomeado primeiro-ministro. Vitória gostava muito menos dele e chegou-se mesmo a queixar que ele falava com ela como se fosse "uma reunião politica em vez de uma mulher."

Em 1870 o sentimento republicano britânico teve um ponto alto, alimentado pelo isolamento de Vitória e pela criação da Terceira República Francesa. Foi realizado um comício republicano em Trafalgar Square onde foi exigida a retirada de Vitória e vários membros radicais do governo discursaram contra ela. Em Agosto e Setembro de 1871, a rainha esteve gravemente doente com um abcesso no braço, que Joseph Lister conseguiu tratar com sucesso graças ao seu novo spray de ácido carbólico anti-séptico. Em finais de Novembro de 1871, no ponto mais alto do movimento republicano, o príncipe de Gales contraiu febre tifóide, a doença que tinha matado o seu pai, e Vitória temeu que o seu filho fosse morrer. À medida que se aproximava o décimo aniversário da morte do seu marido, a saúde de Eduardo parecia não dar sinais de melhoria e a preocupação de Vitória continuou. Para alegria de todos, Eduardo conseguiu sobreviver. Mãe e filho estiveram presentes numa parada pública em Londres e um grande serviço de acção de graças na Catedral de São Paulo no dia 27 de Fevereiro de 1872 e o sentimento republicano começou a esmorecer.

No último dia de Fevereiro de 1872, dois dias depois do serviço de acção de graças, Arthur O'Connor (sobrinho-neto de um deputado irlandês) apontou um pistola sem balas à carruagem aberta de Vitória quando esta estava a atravessar os portões do Palácio de Buckingham. Brown, que estava ao lado da rainha, agarrou-o e o rapaz foi condenado a doze meses de prisão. Graças a este incidente, a popularidade da rainha aumentou ainda mais.

Após a revolta dos sipais, em 1857, a Companhia Britânica das Índias Orientais, que tinha vindo a governar grande parte da Índia, foi dissolvida e a possessões e protectorados britânicos no país foram incorporados formalmente no Império Britânico. A rainha tinha uma visão relativamente balançada sobre o conflito e condenou as atrocidades cometidas por ambos os lados. Escreveu sobre o seu "sentimento de horror e arrependimento pelo resultado desta guerra civil sangrenta", e insistiu, incentivada por Alberto, que devia ser anunciada uma proclamação oficial afirmando que a transferência de poder da companhia para o estado "devia mostrar um sentimento de generosidade, benevolência e tolerância religiosa". Por ordem da rainha uma referência que ameaçava a "diminuição de religiões nativas e costumes" foi substituída por uma passagem que garantia a liberdade religiosa.

Nas eleições de 1874, Disraeli voltou ao poder e o seu governo passou uma lei de regulação de culto público em 1874 que retirava os rituais católicos da liturgia anglicana, algo que Vitória apoiou. A rainha preferia missas curtas e simples e gostava mais da doutrina da igreja presbiteriana escocesa do que inglesa. Também foi este primeiro-ministro que fez passar a lei que deu o título de Imperadora da Índia a Vitória no dia 1 de Maio de 1876. O novo título foi proclamado no Delhi Durbar no dia 1 de Janeiro de 1877.

Em 14 de Dezembro de 1878, aniversário da morte de Alberto, a segunda filha de Vitória, a princesa Alice, que se tinha casado com o grão-duque Luís IV de Hesse, morreu de difteria em Darmstadt. Vitória achou que a coincidência das datas era "quase incrível e muito misteriosa". Em Maio de 1879, tornou-se bisavó pela primeira vez aquando do nascimento da princesa Feodora de Saxe-Meiningen, filha da sua neta Carlota da Prússia, e completou o seu "pobre e triste 60º aniversário". Sentia-se "velha" pela "perda da minha querida filha".

Entre Abril de 1877 e Fevereiro de 1878, Vitória ameaçou que ia abdicar do trono cinco vezes quando estava a pressionar Disraeli a condenar a Rússia pelas suas acções na Guerra Russo-Turca, mas as suas ameaças não tiveram qualquer impacto nem acabaram com o Congresso de Berlim. A política estrangeira expansionista de Disraeli, que Vitória apoiava, levou a conflitos como a Guerra Anglo-Zulu e a Segunda Guerra Anglo-Afegã. "Se quisermos manter a nossa posição como uma grande potência", escreveu a rainha, "temos de estar preparados para ataques e guerras, num lugar ou outro, CONTINUAMENTE." Vitória via a expansão do Império Britânico como civilizacional e beneficial, protegendo os povos nativos das potências mais agressivas ou de governantes cruéis: "Não é nosso costume anexar países," disse ela, "a não ser que sejamos obrigados e forçados a fazê-lo." Para desalento de Vitória, Disraeli perdeu as eleições de 1880 e Gladstone voltou ao poder como primeiro-ministro. Quando Disraeli morreu no ano seguinte, Vitória chorou e mandou erguer uma placa na sua sepultura dizendo: "colocada pela sua muito grata soberana e amiga, Vitória R.I."

No dia 2 de Março de 1882 Roderick Maclean, um poeta reconhecido que teria ficado ofendido por Vitória se ter recusado a receber um dos seus poemas, disparou contra a rainha quando a sua carruagem estava a deixar a estação de comboios de Windsor. Dois estudantes de Eton College bateram-lhe com os seus guarda-chuvas até o poeta ser detido pela polícia. Vitória ficou furiosa quando Maclean foi ilibado por insanidade, mas ficou tão feliz com as demonstrações de lealdade depois do ataque que disse que "valeu a pena ser alvejada só para ver como uma pessoa é amada".

Em 17 de Março de 1883 Vitória caiu alguns degraus em Windsor, o que a deixou presa a uma cadeira-de-rodas até Julho. A rainha nunca recuperou completamente desta queda e sofreu de reumatismo até ao fim da sua vida. John Brown morreu dez dias depois do acidente e, para consternação do seu secretário privado, Sir Henry Ponsonby, a rainha começou a trabalhar numa biografia laudatória do seu fiel criado. Ponsonby e Randall Davidson, decano de Windsor, que tinham visto os primeiros esboços, aconselharam Vitória a não publicar o trabalho, afirmando que iria causar rumores de que os dois tinham tido um caso amoroso. O manuscrito foi destruído. No inicio de 1884 Vitória publicou o livro "More Leaves from a Journal of a Life in the Highlands", uma sequela do seu primeiro livro, que dedicou ao seu "criado pessoal devoto e fiel amigo, John Brown". Um dia depois do primeiro aniversário da morte de Brown, Vitória soube através de um telegrama que o seu filho mais novo, Leopoldo, tinha morrido em Cannes, vitima de um ataque de hemofilia. Vitória lamentou a morte daquele que era "o mais querido dos meus filhos". No mês seguinte, a filha mais nova de Vitória, Beatriz, conheceu e apaixonou-se pelo príncipe Henrique de Battenberg no casamento da sua sobrinha, a princesa Vitória de Hesse e do Reno, com o irmão mais velho de Henrique, Luís de Battenberg. Beatriz e Henrique queriam casar-se, mas a principio Vitória foi contra a união, uma vez que queria manter Beatriz em casa para lhe fazer companhia. Um ano depois acabou por ser derrotada e Henrique e Beatriz prometeram que continuariam a viver por perto e a fazer-lhe companhia.

Vitória ficou feliz quando Gladstone se demitiu em 1885, depois do seu orçamento ser derrotado. A rainha achava que o seu governo tinha sido "o pior que alguma vez tive", e culpava o antigo primeiro-ministro pela morte do general Gordon em Cartum. Gladstone foi substituído por Lord Salisbury. No entanto, o governo deste durou apenas alguns meses e Vitória foi obrigada a chamar novamente Gladstone a quem se referia como sendo "meio maluco e, na verdade, não passa de um homenzinho ridiculo de muitas maneiras." Gladstone tentou fazer passar uma lei que dava à Irlanda um governo próprio, mas, para alegria de Vitória, esta foi reprovada. Nas eleições seguintes, o governo de Gladstone perdeu para o de Salisbury e o poder voltou a mudar de mãos.

Seguindo um costume que manteve ao longo de sua viuvez, Vitória passou o Natal de 1900 na Osborne House, na Ilha de Wight. O reumatismo nas suas pernas impedia-a de andar e a sua visão estava muito afectada por cataratas. Ao longo do inicio de Janeiro, sentia-se "fraca e mal", e em meados do mês escreveu no seu diário para dizer que se sentia "sonolenta (...) tonta [e] confusa". Morreu lá, devido à degradação da sua saúde, na terça-feira, dia 22 de Janeiro de 1901, às seis e meia da noite, com 81 anos de idade. No leito da sua morte, ela estava acompanhada de seu filho, o futuro rei Eduardo VII, e seu neto mais velho, o imperador alemão Guilherme II.

Em 1897, Vitória tinha escrito as instruções para o seu funeral, que queria que fosse militar, já que ela era filha de um soldado e chefe do exército, e a cor dominante seria o branco e não o preto. No dia 25 de Janeiro, o rei Eduardo VII, o kaiser Guilherme II e o príncipe Artur, duque de Connaught, ajudaram a levar o caixão. A rainha estava vestida de branco e com o seu véu de casamento. A seu pedido foram também colocadas várias fotografias e objectos da sua numerosa família e criados no caixão pelo médico e pelas criadas que a vestiram. Uma das camisas de dormir de Alberto foi colocada a seu lado, juntamente com um molde de gesso da sua mão e uma fotografia e madeixa de cabelo de John Brown foram escondidos do lado esquerdo, debaixo de um ramo de flores. Várias jóias foram enterradas com Vitória, incluindo a aliança da mãe de John Brown que este lhe tinha dado em 1883. O seu funeral realizou-se no Sábado, dia 2 de Fevereiro de 1901, na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor e, depois de dois dias de velório, foi enterrada junto de Alberto no Mausoléu de Frogmore, no Grande Parque de Windsor. No momento em que foi enterrada, começou a nevar.

A Rainha Vitória morreu na Ilha de Wight, em um de seus palácios. Foi realizado um de seus desejos para seus últimos momentos: ter um funeral militar, já que era a chefe das forças armadas e da marinha do Império. O caixão foi coberto por cetim branco e transportado no iate real até a base de Portsmouth, atravessando 15 quilômetros de um corredor formado por couraçados e cruzadores. Oito destróieres pintados de preto para o evento, acompanharam o iate e as pessoas a bordo ouviam a Marcha Fúnebre de Chopin, que ressoava pelo mar e era tocada por bandas nas embarcações. No dia seguinte, o caixão foi transportado de trem até Londres e podia ver multidões, sob forte chuva, em todas as estações que passava. A procissão em Londres seguiu lentamente até à estação de Paddington. No cortejo, montados em cavalos, o rei de Portugal e o arquiduque Franz Ferdinand e o imperador alemão.

Vitória já reinava há 63 anos, sete meses e dois dias, o mais longo reinado de uma monarca britânico até então, tendo ultrapassado o seu avô, Jorge III.

A morte de Vitória pôs fim ao poder da Casa de Hanôver no Reino Unido. Como o marido dela pertencia à Casa de Saxe-Coburgo-Gota, seu filho e herdeiro Eduardo VII foi o primeiro monarca britânico desta nova casa.



Eduardo nasceu às 10:48 da manhã em 9 de Novembro de 1841 no Palácio de Buckingham. Sua mãe era a Rainha Vitória, a única filha de Eduardo Augusto, Duque de Kent e Strathearn, e neta do Rei Jorge III. Seu pai era o Príncipe Alberto de Saxe-Coburgo-Gota, primo-irmão e consorte de Vitória. Foi cristianizado Alberto Eduardo (a partir de seu pai e de seu avô materno), na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor, em 25 de Janeiro de 1842. As pessoas mais íntimas ligadas a ele o chamavam de Bertie.

Como filho mais velho de um soberano britânico, ele foi automaticamente titulado Duque da Cornualha, Duque de Rothesay, Conde de Carrick, Barão Renfrew, Senhor das Ilhas e Príncipe da Escócia. Como filho do Príncipe Alberto, ele também detinha os títulos de Príncipe de Saxe-Coburgo-Gota e Duque da Saxônia. A rainha Vitória conferiu-lhe o título de Príncipe de Gales e Conde de Chester em 9 de Dezembro de 1841. Recebeu o título de Conde de Dublin (17 de Janeiro de 1850) e tornou-se cavaleiro da Ordem da Jarreteira (9 de Novembro de 1858) e da Ordem do Cardo-selvagem (24 de Maio de 1867). Em 1863, ele renunciou seus direitos de sucessão ao ducado de Saxe-Coburgo-Gota em favor de seu irmão, o Príncipe Alfredo.

A Rainha Vitória e o Príncipe Alberto determinaram que seu filho mais velho teria uma educação que o prepararia para ser um modelo de monarca constitucional. Aos sete anos, Bertie foi envolvido num rígido programa educacional projetado por seu pai e sob a supervisão de vários tutores. No entanto, diferente de sua irmã mais velha, o Príncipe de Gales não excedeu em seus estudos. Ele tentou satisfazer as expectativas de seus pais, mas sem resultado. Ele não era um aluno diligente, e seus verdadeiros talentos eram seu charme, sua sociabilidade e sua diplomacia. Observadores de sua juventude o consideraram um garoto amimalhado, preguiçoso e, às vezes, cruel.

O Príncipe de Gales esperava possuir uma carreira na Armada Britânica, mas isso não foi permitido porque ele era o herdeiro ao trono. Ele serviu brevemente o regimento Grenadier Guards em 1861; contudo, era largamente uma sinecura. Ele avançou do cargo de tenente para coronel numa questão de meses. Em outubro de 1859, ele matriculou-se como um estudante que ainda não havia colado grau em Christ Church, na Universidade de Oxford (onde ele conheceu Lewis Carroll e assinou seu livro de autógrafos, mas recusou-se a posar para uma fotografia). Em 1861, transferiu-se para Trinity College, Cambridge, mas nunca recebeu um grau.

Em sua juventude, ele ganhou a fama e reputação de playboy. Em dezembro de 1861, seu pai morreu de febre tifóide, apenas duas semanas depois de visitá-lo em Cambridge. O príncipe Alberto tinha repreendido seu filho depois que um último caso com uma atriz se tornou matéria para jornais. A rainha, em luto inconsolável (que a acompanhou pelo resto da vida), culpou Bertie pela morte do pai. Ela achava seu filho frívolo, indiscreto e irresponsável.

Uma vez viúva, a rainha Vitória retirou-se efetivamente da vida pública, mas pouco tempo depois da morte do príncipe consorte, ela arranjou para seu filho uma noiva: a Princesa Alexandra da Dinamarca, a filha mais velha do Rei Cristiano IX da Dinamarca. Eles se casaram na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor, em 10 de Março de 1863.

Eduardo e sua esposa estabeleceram Marlborough House como residência londrina e Sandringham House, em Norfolk, como um refúgio campestre. Eles se entretinham numa escala pródiga. Eduardo era um caçador bastante entusiasmado e ordenava que todos os relógios de Sandringham estivessem adiantados meia hora, para prolongar seu passatempo. Isso criou a famosa tradição do Sandringham Time, que durou até 1936, quando foi abolida por Eduardo VIII.

O casamento encontrou desaprovação em certos círculos porque a maioria das relações parentescas de Vitória eram alemãs, e a Dinamarca estava em forte desacordo e em total desarmonia com a Alemanha, por causa dos territórios Schleswig e Holstein. Após o casamento de seu filho, a rainha expressou uma certa ansiedade sobre o estilo de vida que levavam e tentou dar ordens a eles. Vitória inclusive decidiu os nomes de seus netos.

Eduardo tratava seu casamento com indiferença: mantinha casos com várias amantes, entre as quais a atriz Lillie Langtry e a socialite Jennie Jerome (mãe do primeiro-ministro Winston Churchill). Outras amantes foram: Daisy Greville, Condessa de Warwick, a atriz Sarah Bernhardt, a dançarina La Belle Otero e a rica humanitária Agnes Keyser. Lord Charles Beresford começou a ter um caso com Daisy Greville, Condessa de Warwick, ao mesmo tempo que Eduardo, o que causou o fim da amizade entre ambos. Agnes Keyser, que nunca foi casada, detinha, segundo o livro Edward VII's Last Loves: Alice Keppel and Agnes Keyser, de Raymond Lamont-Brown, uma ligação emocional com Eduardo que outras amantes nunca tiveram. Ela preferia se encontrar privativamente com o príncipe e tornou-se a mais favorita das amantes dentro dos círculos da realeza. Eduardo ajudou Keyser e sua irmã a fundar um hospital para oficiais militares.

Sua esposa, Alexandra, estava ciente de todos os casos extraconjugais do marido e até os aceitava, desde que não fosse vista com as amantes do marido. O príncipe e Lord Randolph Churchill discutiram somente no início do envolvimento de Eduardo com a esposa de Churchill (Jennie Jerome), mas a amizade durou até a morte de Lord Churchill em 1895. Jennie também era amiga de Alexandra, que gostava de sua companhia.

Sua última amante "oficial" foi a cortesã e matrona da sociedade Alice Keppel (Eduardo mantinha relações com Keppel e Keyser simultaneamente). Alexandra permitiu que Alice ficasse ao lado da cama de Eduardo (que solicitou isso escrevendo num papel), no seu leito de morte em 1910, embora não gostasse dela. Há rumores de que Alice era uma das poucas pessoas que sabiam como lidar e como por um fim nas mudanças imprevisíveis de humor do príncipe. Uma das bisnetas de Alice Keppel, Camilla Parker Bowles, tornou-se amante e segunda esposa de Carlos, Príncipe de Gales, cujo trisavô é Eduardo VII, muitas gerações depois chamado também de Eduardo Honrado, oriundo de sua habilidade comunicativa e entusiasta.

Quando a Rainha Vitória morreu em 22 de Janeiro de 1901, o Príncipe de Gales, aos 59 anos, tornou-se rei, tendo sido o segundo homem mais velho a ascender ao trono britânico (o recordista é Guilherme IV, que assumiu com 64 anos). Para a surpresa de todos, ele escolheu reinar com o nome de "Eduardo VII", ao invés de Alberto Eduardo, como sua mãe havia requerido (nenhum rei britânico ou inglês até hoje reinou com um nome composto). O novo rei declarou que escolheu "Eduardo" para honrar os seus seis predecessores e que ele não desejava minguar a posição de seu pai. A rainha Vitória não queria que nenhum de seus sucessores usasse o nome de seu finado marido para reinar. Alguns observadores, notando que Eduardo VII acendia cigarros em lugares onde sua mãe sempre havia proibido fumar, pensaram que sua rejeição pelo nome Alberto como um nome reinante era uma confirmação de que ele estava finalmente livre das sombras de seus pais.

Eduardo VII e a Rainha Alexandra foram coroados na Abadia de Westminster em 9 de Agosto de 1902. Sua coroação originalmente havia sido marcada no dia 26 de Junho daquele ano; porém, o rei desenvolveu uma Apendicite. Graças à descoberta da Anestesiologia nos 50 anos anteriores, ele pode realizar uma operação, feita por Sir Frederick Treves. Duas semanas depois foi anunciado que o rei estava fora de perigo. Treves foi honrado com a dignidade de um baronete, e a cirurgia de apêndice entrou para o mainstream médico pela primeira vez na história.

Como rei, os principais interesses de Eduardo VII foram negócios navais e militares. Fluente em francês e em alemão, ele fez várias visitas a bordo. Uma das mais importantes foi a visita que fez à França na primavera de 1903, como convidado do presidente Émile Loubet.

Eduardo VII, através de sua mãe e de seu sogro, estava relacionado com muitos monarcas europeus e ganhou o apelido de "Tio da Europa". Wilhelm II da Alemanha, Nicolau II da Rússia, Ernesto Luís, Grão-Duque de Hesse e Carlos Eduardo, Duque de Saxe-Coburgo-Gota eram seus sobrinhos. Vitória Eugênia da Espanha, a Princesa Herdeira Margarida da Suécia, a Princesa Marie da Romênia e a Imperatriz Alexandra Feodorovna da Rússia foram suas sobrinhas. Haakon VII da Noruega era seu genro e seu sobrinho. Jorge I da Grécia e Frederico VIII da Dinamarca eram seus cunhados. Alberto I da Bélgica, Carlos I de Portugal, Manuel II de Portugal, Fernando I da Bulgária, Guilhermina dos Países Baixos e Ernesto Augusto, Duque de Brunswick eram seus primos. As relações voláteis com seu sobrinho, Wilhelm II, exacerbaram em tensões entre Alemanha e Grã-Bretanha na década anterior à Primeira Guerra Mundial.

Em 6 de Maio de 1910, Eduardo VII foi acamado, com Bronquite. Ele fumou seu último cigarro do dia e então começou a sofrer ataques cardíacos e morreu às 11:45 da noite no Palácio de Buckingham. Eduardo VII foi um bom sucessor, mas apenas reinou por nove anos. Ele garantiu que seu filho e sucessor, Jorge V, estivesse melhor preparado para o trono. Seu corpo está enterrado na Capela de São Jorge (Castelo de Windsor), no Castelo de Windsor.



George nasceu em 3 de Junho de 1865 na Marlborough House, Londres. Quando nasceu, seu pai Eduardo, e sua mãe, Alexandra, ainda eram os príncipes de Gales. Era neto da Rainha Vitória, por parte de pai, e do rei Cristiano da Dinamarca. Como neto da rainha reinante, recebeu o título de "Sua Alteza".

O então príncipe, foi batizado no Castelo de Windsor em 7 de Julho de 1865 pelo próprio Arcebispo da Cantuária. Como filho mais novo do Príncipe de Gales, não havia expectativa de que Jorge se tornasse rei um dia, já que seu irmão, o Príncipe Alberto Victor, era o segundo na linha de sucessão ao trono. Devido à pouca diferença de idade entre Jorge e seu irmão, ambos foram educados juntos. O Príncipe de Gales apontou John Neale Dalton como tutor para os seus filhos. Em 1877, com apoio do pai, os dois irmãos iniciaram seu serviço militar a bordo do navio HMS Britannia. Jorge serviu como almirante na Marinha Real até 1879 sob os cuidados do seu tutor.

Depois do serviço militar, Jorge e seu irmão visitaram algumas colônias britânicas no Caribe e Oceania, o Japão e o estado da Virgínia, nos Estados Unidos.

Como marinheiro, Jorge serviu vários anos sob os comandos de seu tio, Alfredo, Duque de Saxe-Coburgo-Gota, em Malta. Lá Jorge se apaixonou por sua prima, Maria de Edimburgo. Sua avó (Rainha Vitória), seu pai e seu tio aprovaram imediatamente a relação e o possível casamento entre os dois. Entretanto, a Princesa de Gales e a Duquesa de Edimburgo se opuseram ao casamento entre os dois. Mais tarde Maria, influenciada por sua mãe, não aceitou se casar com o Príncipe e se tornou rainha consorte da Romênia.

Em 1891, Alberto Victor ficou noivo da Princesa Maria Vitória de Teck, mas veio a falecer de pneumonia seis semanas depois. Com a morte de Alberto Victor, Jorge foi feito o segundo na linha de sucessão ao trono e teve de abandonar o serviço militar para cuidar das suas responsabilidades como herdeiro do trono. A Rainha Vitória ainda era favorável ao possível casamento entre a Princesa de Teck e o futuro rei e propôs isto ao seu neto. Maria aceitou casar-se com o futuro rei. A cerimônia teve lugar no Palácio de St. James em 6 de julho de 1893. O casamento foi uma felicidade geral para a família real e para os noivos.

Em 1892, a Rainha Vitória concedeu a Jorge os títulos de Duque de Iorque e Conde de Inverness. Após seu casamento com Maria de Teck, Jorge recebeu o tratamento de Sua Alteza Real, o Duque de York.

Seguindo a tradição da época, os Duques de York se mudaram para a York Cottage, em Norfolk. Jorge e Maria optaram por uma vida comum às pessoas de classe média e longe do cotidiano da realeza. Durante o período em que residiu em Sandringham, Jorge ficou conhecido como um grande colecionador de selos e foi responsável pela maior coleção de selos do Reino Unido e da Comunidade das Nações. O biógrafo Randolph Churchill relatou que Jorge era um pai rigoroso e exigente.

Como detentores do Ducado de York, Jorge e Maria de Teck desempenharam várias funções públicas em nome da Coroa britânica e após a morte da Rainha Vitória em 22 de janeiro de 1901, o pai de Jorge herdou o trono com o nome de Eduardo VII do Reino Unido, deixando ao filho mais velho o Principado de Gales. Junto com o título de Príncipe de Gales, Jorge também herdou o de Ducado de Rothesay e o Ducado da Cornualha e foi intitulado Sua Alteza Real, o Duque de Cornualha e de York. Em 1901, Jorge e Maria realizaram uma viagem estatal em nome do Império Britânico a todos os países da Comunidade Britânica, que incluiam África do Sul, Canadá e Nova Zelândia.

Em 9 de Novembro de 1901, Jorge foi investido oficialmente Príncipe de Gales e Conde de Chester. Eduardo VII desejava que seu filho estivesse preparado para as futuras funções que lhe caberiam e para prepará-lo para o papel de rei, Eduardo permitiu o acesso de Jorge aos assuntos de Estado e o apontou para exercer as funções em nome do Reino.

Em 6 de Maio de 1910, Eduardo VII morreu e o então Príncipe de Gales assumiu o trono como Jorge V do Reino Unido. Jorge também concedeu a Maria de Teck, sua esposa, tratamento real e o título de Sua Majestade, a Rainha. A coroação teve lugar na Abadia de Westminster, no dia 22 de Junho de 1911. No mesmo ano da coroação, o casal real seguiu viagem para o Delhi Durbar para receberem os títulos de Imperador e Imperatriz da Índia.

O período mais notável do reinado de Jorge foi o período correspondente à Primeira Guerra Mundial. Entre 1914 e 1918 a Grã-Bretanha estava em ferrenha guerra com a Alemanha, entretanto, o Kaiser alemão Guilherme II, que representava um inimigo para o povo britânico, era primo do rei. Outro fato controverso era a família da Rainha Maria de Teck, que pertencia a Casa Real de Württemberg. Como o avô do rei era o príncipe Alberto de Saxe-Coburgo-Gota, os descendentes da rainha Vitória I herdaram o nome alemão. O rei entrou com um decreto real e mudou o nome da Casa de Saxe-Coburgo-Gota para Casa de Windsor, aboliu todos os títulos germânicos para aliviar as tensões decorrentes do sentimento antigermânico vivido durante a guerra, naquele ano, o Parlamento britânico aprovou a Lei de Privação dos Títulos que autorizava o Conselho Privado a investigar "todas as pessoas que beneficiam de qualquer dignidade ou título como Alteza ou Príncipe britânico que, durante a presente guerra, suportou armas contra Sua Majestade Real ou seus aliados, ou que tenham se juntado aos inimigos de Sua Majestade". Nos termos dessa lei, um decreto do Conselho, de 28 de março de 1919, aboliu, formalmente todos os títulos germânicos, e exilou alguns membros da família real britânica que deram apoio ao inimigo do povo britânico, o maior exemplo é o do Príncipe Carlos Eduardo, neto da rainha Vitória que havia herdado o ducado alemão de Saxe-Coburgo-Gota.

Por fim, todos os descendentes do rei abandonaram os títulos e nomes alemães, passando a utilizar somente os nomes ingleses. Em algumas famílias, Jorge modificou os sobrenomes para dar ênfase à Guerra. Jorge modificou também o nome de seu primo, que era conhecido como Louis Alexander de Battenberg, para Louis Mountbatten.

Quando o czar Nicolau II da Rússia, primo de Jorge V, foi derrubado pela Revolução Russa, o Governo Britânico ofereceu abrigo ao czar e sua família, mas Jorge temeu que o sentimento russo pudesse alcançar o Reino Unido e decidiu expulsar a família Romanov. O czar e sua família retornaram para a Rússia e foram assassinados pelos revolucionários bolcheviques em 1918. No ano seguinte, a mãe de Nicolau, Maria Feodorovna e outros membros da família imperial russa foram resgatados da Criméia por navios britânicos.

Cerca de dois meses após o final da Guerra que assolou a Europa, o filho mais novo do rei, Príncipe João morreu depois de 13 anos de saúde frágil. O rei foi informado da morte pela rainha.

Durante e após a Guerra, muitos estados monárquicos foram derrubados por revolucionários. O primeiro Império a cair foi a Rússia, seguida pela Áustria, Alemanha, Grécia e Espanha. Todos esses soberanos que foram destronados tinham parentesco com o Rei do Reino Unido e em 1922, quatro anos após o final da guerra, navios britânicos foram enviados para a região da Grécia com a missão de resgatar os ex-monarcas Príncipe André da Grécia e Dinamarca e Princesa Alice de Battenberg e seus filhos. (Um de seus filhos era Filipe da Grécia e Dinamarca, o futuro marido de uma neta de Jorge V).

Jorge também tomou partido nas turbulências políticas da Irlanda. Durante a Greve Geral de 1926, o rei posicionou-se contra os manifestantes, chamando-os de "revolucionários" e chegou a incentivar os governantes irlandeses a tomarem medidas eficazes para com a greve.

Em 1932, Jorge tornou-se fez a primeira transmissão por rádio da Royal Christmas Message (Mensagem Real de Natal), convencido pelos seus conselheiros de que este seria o desejo do povo. Ao mesmo tempo em que aumentava sua popularidade no Reino unido, Jorge mantinha-se preocupado com a política externa e alertou a Embaixa Britânica na Alemanha acerca do crescimento do Partido Nazista e do Fascismo. Á altura da celebração dos seus 25 anos de reinado, em 1935, havia-se tornado um rei muito amado, respondendo á adulação da multidão: "Não compreendo porquê, afinal de contas, sou um fulano bastante normal."

A relação de Jorge com seu herdeiro, Príncipe Eduardo acabou por deteriorar-se nos últimos anos do seu reino. Jorge estava sinceramente decepcionado com o suposto envolvimento de Eduardo com mulheres casadas. O rei aparentava uma certa preocupação quanto à ascensão de Eduardo ao trono. Enquanto não era muito amigo de seu herdeiro, Jorge tinha muito carinho pelo seu segundo filho, Jorge Alberto e adorava sua neta, a quem apelidou de "Lilibet". (mais tarde Isabel II do Reino Unido) Em cartas trocadas entre membros da família real, o rei expressou sua preocupação com a ascensão de Eduardo ao trono e confessou várias vezes que preferia que o trono coubesse ao seu segundo filho:

>"Após a minha morte, o 'menino' vai arruinar-se dentro de 12 meses."



A Primeira Guerra Mundial e as relações com o seu herdeiro não serem das melhores foram das principais causas da deterioração da saúde do monarca. Além disso o fumo exagerado também agravou os problemas de saúde de Jorge. Há um certo tempo Jorge já sofria de enfisema pulmonar, bronquite, doença pulmonar obstrutiva crônica e pleurisia, todas decorrentes do uso de tabaco. Em 1928, o rei ficou muito doente e durante dois anos foi representado em suas funções reais por seu filho mais velho, Eduardo. O rei decidiu ir para a localidade de Bognor Regis, em West Sussex para descansar e tentar se recuperar. Após a sua ida para West Sussex, Jorge nunca se recuperou completamente, apesar da esperança dele e do povo.

Na noite de 15 de janeiro de 1936, o rei recolheu-se aos seus aposentos em Sandringham House queixando-se de um resfriado. Com o passar dos dias o rei foi ficando mais fraco e frágil e foi diagnosticado com perda da consciência. O médico pessoal da Família Real Britânica, Lord Bertrand Dawson já havia perdido as esperanças de que o rei voltaria ao normal. A enfermeira revelou que o rei teria dito "God damn you!" (Deus almadiçoe você) para ela após a aplicação de sedativos. Foi reconhecido oficialmente que o rei Jorge V não resisitiu e veio a falecer às 23:55 da noite de 20 de janeiro de 1936.

Jorge V foi velado em Westminster Hall. Algumas testemunhas do velório admitiram que a Coroa Imperial de Jorge V caiu sobre o ataúde onde jazia o corpo. O futuro rei Eduardo VIII viu a coroa cair e ficou profundamente perturbado e preocupado com o ocorrido, chegando a sugerir que aquilo seria um mal presságio.

Jorge foi sepultado na Capela de São Jorge no Castelo de Windsor.



Edward Albert nasceu em 23 de Junho de 1894 no White Lodge em Londres, sendo o primogênito do Rei Jorge V e da Rainha Maria de Teck e neto do então Príncipe Eduardo de Gales e da Princesa de Gales. Foi batizado sob o nome de Edward Albert Christian George Andrew Patrick David um mês após seu nascimento em homenagem ao seu tio, Príncipe Alberto Victor e também herdou o nome de seu bisavô paterno, Cristiano IX. Os outros nomes foram acrescentados em homenagem aos santos patronos do Reino Unido: São Jorge, Santo André, São Patrício e São David. Apesar do grande nome, o príncipe era chamado pela família e amigos apenas de David.

Como de comum às classes altas da época, os pais de Eduardo se distanciaram da sua educação e o príncipe e seus irmãos foram criados por babás, já que seus pais tinham de se dedicar ao serviço real. Certa vez, os pais de Eduardo descobriram que este vinha sofrendo abusos por parte da babá, que lhe dava beliscões se este não obedecesse. A partir de então, seu pai, sempre disciplinado, mostrou-se mais amoroso e sua mãe mais presente no cotidiano do príncipe.

Inicialmente, Eduardo estudou com professores particulares em casa. Após a morte da Rainha Vitória em 1901, seus pais viajaram pelos Territórios Britânicos por mais de nove meses, mas Eduardo e seus irmãos permaneceram na Inglaterra sob os cuidados de seus avós, Eduardo e Alexandra. Após o retorno de seus pais, Eduardo ficou sob os cuidados de Frederick Finch e Henry Hansell até sua adolescência.

Hansell tentou influenciar Eduardo a entrar na escola mais cedo, entretanto o rei não o permitiu. Eduardo ingressou no Colégio Naval Osborne em 1907, mas não se adaptou ao colégio e foi transferido para o Royal Navy College em Devon, onde permaneceu por dois anos. Eduardo recebeu os títulos de Duque da Cornualha e Duque de Rothesay quando da ascensão de seu pai ao trono e mais tarde ele foi investido Príncipe de Gales.

Como filho mais velho de Jorge V, Eduardo (conhecido por David em família) foi feito Príncipe de Gales em 1911 depois da ascensão do pai à coroa.

Quando estourou a Primeira Guerra Mundial em 1914, Eduardo havia alcançado a idade mínima para servir em combate e fez questão de lutar pelo Rei e por seu país. Eduardo se ajuntou aos Grenadier Guards como soldado, mas Lord Kitchener temeu que o príncipe fosse capturado e não permitiu seu ingresso na guerra. Mesmo sem poder combater, Eduardo se fez presente nas linhas de combate sempre que foi possível e chegou a receber a Militar Cross em 1916, tornando-se muito popular entre os soldados.

Como Príncipe de Gales, Eduardo representou o seu pai, o Rei Jorge V, em várias ocasiões. Eduardo deu atenção especial às regiões mais pobres e esquecidas da Grã-Bretanha e organizou cerca de 16 caravanas pelo Reino Unido para visitar estes lugares entre 1919 e 1935. Em 1924, o Príncipe doou o Troféu Prince of Wales para a National Hockey League. Como herdeiro do trono britânico, Eduardo mostrou-se muito determinado e empenhado e desenvolveu imensa popularidade entre os militares.

Em 1930 Eduardo conheceu Wallis Simpson, uma americana em processo de divórcio por quem se apaixonou. A relação amorosa não foi aceita pela Família Real, que se recusou receber Eduardo na presença dela e resultou num afastamento de Eduardo do pai e irmãos.

O Rei Jorge V veio a falecer em 20 de Janeiro de 1936 e o então Príncipe de Gales assumiu o trono com o título de Eduardo VIII. Já no dia seguinte à proclamação de sua ascensão ao trono, Eduardo apareceu com sua consorte, Wallis Simpson, na sacada do Palácio de St. James para cumprimentar a multidão que ali se aglomerava, quebrando um dos protocolos da proclamação de sua ascensão. Eduardo causou mal-estar nos círculos governamentais com gestos interpretados como críticas pessoais ao Governo. Ao visitar as vilas carentes de mineração de carvão, o rei percebeu que "algo precisava ser feito" para aqueles mineiros. Esta citação provocou incômodo por parte dos políticos de Londres, causando mais tensão entre Eduardo e os políticos do seu governo.

Em 16 de julho de 1936 Eduardo sofreu um atendado de morte por parte de um irlandês insatisfeito chamado Jerome Brannigan, que cavalgava nas redondezas do Palácio de Buckingham à espera do monarca. Entretanto, alguns policiais notaram a arma e detiveram-no. Durante a apuração do caso, Brannigan alegou que uma "potência estrangeira" o incumbira de assassinar o rei.

Entre Agosto e Setembro de 1936, Eduardo e Wallis Simpson cruzaram o Mediterrâneo Oriental a bordo do iate a vapor Nahlin. Já em Outubro, era claro que o rei estava ansioso para resolver a questão do divórcio da sua amada. Os preparativos tradicionais foram iniciados, incluindo a coroação de Sra. Simpson como Rainha Simpson. Contudo, as leis religiosas e constitucionais que vigoram na Inglaterra impediram que o casamento ocorresse na Abadia de Westminster.

Desde que fora proclamado Rei, Eduardo manifestou a sua intenção de casar com Mrs. Simpson assim que o divórcio dela fosse declarado. A ideia provocou uma onda de protestos da família real, dos políticos e da Igreja Anglicana. Após ver a sua sugestão de realizar um casamento morganático ser rejeitada pelo Primeiro-ministro Stanley Baldwin, Eduardo VIII tomou uma decisão drástica. Em Dezembro do mesmo ano, anunciou a sua abdicação, argumentando que seria incapaz de carregar o peso da coroa sem o apoio da mulher que amava.

Eduardo assinou o Instrumento de Abdicação em 10 de Dezembro de 1936 em Fort Belvedere na presença de seus quatro irmãos: Duque de York, Duque de Gloucester e o Duque de Kent. A coroa passou então para o seu irmão mais novo, Jorge VI, e Eduardo tornou-se Duque de Windsor, revertendo à sua condição de Príncipe do Reino Unido.

A 3 de Junho de 1937 Eduardo casou-se com Wallis Simpson numa cerimônia privada na França, à qual faltou a Família Real Britânica. A relação com a família permaneceu tensa com a recusa de reconhecimento da nova Duquesa de Windsor. A simpatia de Eduardo para com o regime Nazi e a visita que fez em 1937 a Adolf Hitler não contribuíram para a melhoria das relações com a família.

Em 12 de Dezembro de 1936, o recém-coroado Jorge VI declarou perante o Conselho Privado que pretendia readmitir seu irmão no sistema de honras britânico e lhe ofereceria o título de Duque de Windsor. Esta dádiva de Jorge VI foi reconhecida como uma perfeita manobra política, já que como Duque, Eduardo não poderia ser membro da Câmara dos Comuns ou da Câmara dos Lordes. No entanto, uma Carta-patente de 1937 atribuiu-lhe o tratamento de Sua Alteza Real, porém sua esposa e seus filhos não seriam detentores do tratamento de realeza.

A negação dos estilos "Sua Alteza Real" e "Sua Alteza" para Wallis Simpson e a negação de contribuição financeira governamental para o casal causou sérios conflitos com a Monarquia. O casal foi impedido de estabelecer residência nas Ilhas Britânicas e, em contra-partida, Eduardo obrigou a Coroa a pagar uma soma avultada pela devolução da propriedade de Sandringham House e do Castelo de Balmoral, que eram sua propriedade pessoal enquanto filho mais velho de Jorge V. A família real tentou ao máximo impedir o retorno de Eduardo ao Reino Unido.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo britânico manteve Eduardo sob discreta vigilância, por considerá-lo simpatizante da Alemanha nazista. Essa simpatia teria ficado evidente durante a visita que os Windsor fizeram a Berlim, em 1937, ocasião em que foram pomposamente recepcionados por Adolf Hitler. Para Winston Churchill, ele era "bem conhecido por ser um defensor do nazismo" e poderia se tornar "um centro de intriga".

Para mantê-lo distante da Europa, nomearam-no governador das Bahamas, cargo que ele julgou humilhante, por entender que as Bahamas eram uma "colônia de terceira classe".

Os aliados ficaram desconfiados do duque, a ponto de o presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt ordenar uma vigilância disfarçada sobre o casal, durante sua visita a Palm Beach (Flórida), em Abril de 1941. O duque Karl Alexander de Württemberg teria convencido o FBI que a duquesa fora amante do então embaixador alemão em Londres, Joachim von Ribbentrop, e ainda mantinha contato com ele, em segredo.

Anos mais tarde, o Duque admitiu, em suas Memórias, que tinha alguma admiração para com os alemães, mas negou qualquer envolvimento em favor dos nazistas: "O Führer me impressionou como uma figura ridícula, com uma postura teatral e suas reivindicações explosivas".

Após a guerra, o casal rejeitado pela Família Real, retornou à França e passou a residir na Rue du Champ d'Entraînement, em Paris. O governo francês isentou o casal a pagar imposto de renda pela casa próxima ao Bosque de Bolonha. Eduardo teve o apoio da Embaixada Britânica.

O Duque e a Duquesa assumiram o papel de celebridades e eram considerados como parte da sociedade francesa nas décadas de 1950 e 1960. O casal era conhecido pelas belas festas e viagens luxuosas a Nova Iorque. Em 1953, o Duque de Windsor foi convidado para a cerimônia de Coroação da sua sobrinha, a futura Rainha Elizabeth, mas o casal decidiu permanecer na França e acompanhar a cerimônia pela televisão.

A Família Real nunca aceitou o casamento de Eduardo com a Duquesa de Windsor e a Rainha Maria se recusou a receber o casal no Reino Unido. No entanto, o Duque de Windsor esteve presente no funeral de seu irmão, Jorge VI. Somente em 1965, o casal retornou a Londres e foram visitados pela Rainha, acompanhada da Princesa Real e da Duquesa de Kent.

Em 1960, a saúde do Duque deteriorou-se e em Dezembro de 1964, Eduardo sofreu uma cirurgia para remover um aneurisma na aorta abdominal e, no ano seguinte, foi diagnosticado com um descolamento de retina. No final de 1971 o Duque, que era fumante, foi diagnosticado com câncer de garganta, sendo submetido a radioterapias. A Rainha Elizabeth esteve com ele em 1972, durante uma visita de Estado à França.

Em 28 de maio de 1972, o Duque veio a falecer em sua casa em Paris aos 77 anos de idade. Seu corpo foi trasladado para a Grã-Bretanha, velado no Castelo de Windsor e sepultado na Frogmore House.

Durante sua vida, Eduardo tentou, em vão, obter para sua esposa o título de "Alteza Real".



Albert Frederick Arthur George nasceu em 14 de dezembro de 1895 em Sandringham House durante o reinado de sua bisavó, a Rainha Vitória. Seu pai era Jorge, Duque de York e sua mãe era Maria de Teck. O dia de seu nascimento se deu no aniversário de morte do Príncipe Alberto e seu pai não tinha idéia de como noticiar os familiares do nascimento de um herdeiro naquele dia. O então Príncipe de Gales escreveu uma carta aos Duques de York informando que a rainha havia ficado um tanto desconfortada com a notícia.

Alguns dias depois do nascimento de Jorge VI, a rainha e o Príncipe de Gales solicitaram ao casal que o nome da criança fosse nada mais que Albert. Não contrariando as "ordens reais", o menino foi batizado de Albert Frederick Arthur George três meses depois. Como bisneto da rainha reinante, Albert foi intitulado de Sua Alteza, Príncipe Alberto de York desde seu nascimento e foi apelidado de "Bertie" pelos familiares. Entretanto, sua avó materna, a Duquesa de Teck não gostou do nome dado ao menino e sugeriu que a criança tivesse "pelo menos" o sobrenome dela. Alberto era o quarto na linha de sucessão ao trono, após seu avô, seu pai e seu irmão mais velho, Eduardo VIII do Reino Unido.

Albert frequentemente sofria de problemas de saúde relacionados ao seu lado emocional. Seus pais eram geralmente um tanto distantes da educação e do cotidiano dele. Albert aprendeu a escrever com a mão direita embora fosse naturalmente canhoto e como consequência desenvolveu uma gagueira contínua durante muitos anos, o que foi contado no cinema, através do filme "O Discurso do Rei" no qual ele foi interpretado pelo ator Colin Firth. Albert também sofria de problemas estomacais gravíssimos.

Com a morte da Rainha Vitória em 22 de janeiro de 1901, o então príncipe de Gales assumiu o trono com o título de Eduardo VII, o Duque de York se tornou o Príncipe de Gales e Albert se tornou o terceiro na linha de sucessão real.

Em 1909 Albert ingressou no Royal Naval College de Osborne como cadete e depois foi transferido para o Britannia Royal Naval College, em Dartmouth. Após a morte de Eduardo VII em 1910, o Duque de York assumiu o trono como Jorge V do Reino Unido e seu filho mais velho se tornou o Príncipe de Gales, fazendo com que Albert se tornasse o segundo na linha de sucessão ao trono.

Albert foi condecorado aspirante em Setembro de 1913 e no ano seguinte já ingressara na Primeira Guerra Mundial, sendo apelidado de "Mr. Johnson". Albert lutou a bordo do HMS Collingwood durante a Batalha da Jutlândia entre 31 de maio e 1 de junho de 1916 que resultou na vitória das forças britânicas. Após essa batalha, Albert se manteve afastado em decorrência de uma crise de úlcera.

Em Fevereiro de 1918, Albert foi nomeado Oficial da Royal Naval Air Service e mais tarde foi transferido da Royal Navy para a Royal Air Force, permanecendo lá até 1918.

Em Outubro de 1919, Albert foi para o Trinity College em Cambridge para estudar História e Economia. Em 4 de junho de 1920, Albert foi condecorado Duque de Iorque e Conde de Inverness. Algum tempo mais tarde, ele passou a exercer seus deveres reais em nome de seu pai. Uma das maiores dificuldades de Albert foi sua timidez, o que fazia-o parecer menos importante que seu irmão, Eduardo.

Como de costume na época, os nobres só poderiam se casar com outros membros da nobreza, porém Alberto não deu muito crédito a esta tradição de família que perdurava já há séculos. Em 1920, o príncipe conheceu a jovem Lady Elizabeth Bowes-Lyon, filha de Sir Claude Bowes-Lyon e da Condessa Cecilia Bowes-Lyon. Imediatamente os dois já estavam determinados a se casarem.

Embora Lady Elizabeth fosse descendente dos Reis Roberto I da Escócia e do Rei Henrique VII, ela foi considerada uma plebéia. Ela rejeitou a proposta de casamento por duas vezes e hesitou por quase dois anos, alegadamente porque ela estava relutante em fazer os sacrifícios necessários para se tornar um membro da família real. Alberto e Elizabeth se casaram no dia 26 de abril de 1923. A cerimônia na Abadia de Westminster seria transmitida pela recém-criada BBC, porém os clérigos recusaram a proposta. Após o casamento, Lady Elizabeth foi intitulada Sua Alteza Real, a Duquesa de York.

Em 20 de janeiro de 1936, o rei Jorge V morreu, e Príncipe Eduardo ascendeu ao trono como Eduardo VIII. Como Eduardo não tinha filhos, Alberto foi o herdeiro presuntivo do trono até o seu irmão solteiro ter filhos legítimos, ou morrer. Jorge V teve sérias preocupações sobre Eduardo, dizendo: "Peço a Deus que meu filho mais velho nunca se casar e que nada vai ficar entre Bertie e Lilibet e o trono." Menos de um ano depois, em 11 de dezembro de 1936, a Coroa entrou num período de crise; o Príncipe Alberto relutou em assumir o trono com a abdicação de seu irmão, Eduardo VIII, que abdicou do trono para casar com sua amante, a americana Wallis Simpson, divorciada por duas vezes.

Eduardo tinha sido avisado pelo primeiro-ministro Stanley Baldwin que ele não poderia permanecer como Rei e se casar com uma mulher divorciada com dois ex-maridos vivos. Eduardo escolheu a abdicação, não querendo assim abandonar os seus planos de casamento. Assim, o Príncipe Alberto tornou-se rei, uma posição que ele estava relutante em aceitar. Um dia antes da abdicação, foi a Londres para ver sua mãe, a rainha Maria de Teck. Ele escreveu em seu diário: "Quando eu lhe disse o que tinha acontecido, eu fiquei cabisbaixo e chorei como uma criança."

O cortesão e jornalista Dermot Morrah alegou que havia uma especulação quanto à oportunidade de a Coroa passar de Alberto (e seus filhos) e seu irmão, Príncipe Henrique, Duque de Gloucester, para o seu irmão mais novo, Príncipe Jorge, Duque de Kent. Esta parece ter sido sugerida pelo facto do Príncipe Jorge ser, naquela época, o único irmão com um filho.

Alberto assumiu o título de Rei Jorge VI, para salientar a continuidade com o pai e restaurar a confiança na monarquia. O início do reinado de Jorge VI foi tomado por questões em torno do seu antecessor e irmão, cujos títulos, tratamentos e posição eram incertos. Ele tinha sido apresentado como Sua Alteza Real o Príncipe Eduardo para a transmissão da abdicação, mas por abdicar e renunciar à sucessão, Eduardo tinha perdido o direito de ostentar títulos e tratamentos reais, incluindo o de Sua Alteza Real. Na resolução do problema, o primeiro ato como rei foi conceder ao seu irmão o título de Sua Alteza Real o Duque de Windsor, mas a carta-patente de criação do ducado impediu qualquer mulher ou filhos de possuir títulos e tratamentos reais. Jorge VI também foi forçado a comprar as residências reais do Castelo de Balmoral e Sandringham House do Príncipe Eduardo, Duque de Windsor, já que estes eram propriedades privadas e não passavam para Jorge VI automaticamente. Três dias após a sua subida ao trono, no seu 41.º aniversário, ele investiu sua esposa, a nova rainha, com a Ordem da Jarreteira.

A coroação de Jorge VI aconteceu no dia 12 de maio de 1937, a data inicialmente prevista para a coroação de Eduardo. Em uma ruptura com a tradição, a rainha Maria de Teck, participou na cerimônia como uma demonstração de apoio ao seu filho. Não houve nenhuma cerimónia realizada no Delhi Durbar, como havia ocorrido para o pai, pois o custo seria um fardo para o governo da Índia.

O estresse da II Guerra Mundial tinha afetado a saúde do rei, exacerbado pelo fumo pesado e o posterior desenvolvimento de câncer de pulmão, entre outras doenças, incluindo a arteriosclerose. Cada vez mais a sua filha, a Princesa Elizabeth, herdeira presuntiva, assumia os deveres reais, por a saúde do seu pai estar deteriorada, havendo rumores de que ela deveria assumir o trono como Princesa regente, pois ela já tinha um filho e uma filha.

A viagem à Austrália e à Nova Zelândia foi adiada devido ao rei ter sofrido um bloqueio arterial na perna direita, que foi operado em março de 1949. A viagem atrasou-se e foi re-organizada pela princesa Elizabeth e seu marido, Príncipe Filipe, tomando o lugar do rei e da rainha. O rei estava bem o suficiente para abrir o Festival da Grã-Bretanha em maio de 1951, mas em setembro de 1951, ele sofreu uma pneumonia em seu pulmão esquerdo, que foi removido após a descoberta de um tumor maligno. Na abertura do Parlamento, em Novembro, o discurso do rei foi lido pelo Lord Chancellor Simonds. A sua mensagem de Natal de 1951 foi gravada em várias partes, e em seguida, editada em conjunto.

Em 31 de janeiro de 1952, apesar dos conselhos de pessoas próximas, ele foi ao aeroporto para ver a princesa Elizabeth, que estava partindo para a sua viagem à Austrália via Quénia. Em 6 de fevereiro, Jorge VI morreu de uma trombose coronária durante o sono em Sandringham House, em Norfolk, com 56 anos. Sua filha Elizabeth voou de volta para a Inglaterra, como Rainha Elizabeth II.

O seu funeral aconteceu no dia 15 de fevereiro, foi sepultado na cidade no Castelo de Windsor, na Capela de São Jorge (Castelo de Windsor) em Windsor. Em 2002, os restos mortais da sua viúva, a rainha-mãe Elizabeth Bowes-Lyon, e as cinzas de sua filha, a Princesa Margaret, foram enterradas ao lado dele.

"Nunca poderíamos ter imaginado (não o tendo visto) que um homem elevado por nós e extraordinariamente favorável a nós, acima de qualquer outro súbdito desta terra, iria, de forma tão desprezível, romper com as nossas ordens numa causa que toca a nossa honra tão de perto (...) e por isso o nosso prazer expresso e comando é que, tendo todos os atrasos e desculpas esgotado, cumpra o dever da sua aliança, obedeç-lhe e cumpra o que quer que o portador de tal lhe ordene fazer em nosso nome. Se de aqui em diante não o fizer, irá sofrer a penalidade máxima."


"Como pôde fazer pior escolha para a sua honra do que na pressa que teve em casar-se com tal sujeito que, além de outros notórios defeitos, foi acusado em praça pública do assassinato do seu falecido marido, além de alguma culpa também lhe tocar, apesar de acreditarmos que essa parte seja falsa."


"Meus senhores, a lei da natureza faz-me lamentar a minha irma; o fardo que caiu sobre mim deixa-me assombrada e, contudo, considerando que sou uma criatura de Deus, ordenada a seguir a Sua escolha, irei, de hoje em diante entregar-me, desejando do fundo do meu coração que possa ter a ajuda da Sua graça para ser um pilar da Sua vontade divina nesta função que me foi confiada. E como não sou mais que um corpo naturalmente considerado, apesar de pela Sua permissão, um corpo político para governar, desejo que todos vós (...) me ajudeis, para que eu, com o meu governo, e vós, com o vosso serviço, possamos prestar um bom serviço a Deus todo poderoso e dar algum conforto à nossa posterioridade na terra. Tenho intenção de tomar todas as minhas decisões através de bons conselhos e boa consulta."
Postado por RHBJ Marcadores: Histórico de monarcas ingleses
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