sexta-feira, 19 de novembro de 2010

6179 - HISTÓRIA DO URUGUAI

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História do Uruguai
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Índios do Rio da Prata segundo o diário de viagem de Hendrick Ottsen, 1603.O registo da história do Uruguai se inicia com a chegada dos primeiros europeus à área no início do século XVI. Tanto a Espanha como Portugal procuraram colonizar o futuro Uruguai. Portugal tinha por base a Colônia do Sacramento (na margem oposta a Buenos Aires, no rio da Prata), enquanto a Espanha ocupava Montevidéu, fundada no século XVIII e que veio a se tornar a capital do futuro país.

O início do século XIX viu o surgimento de movimentos de independência por toda a América do Sul, incluindo o Uruguai, cujo território constituiu parte da Banda Oriental do Uruguai (isto é, "faixa a leste do rio Uruguai"), cujo território foi disputado pelos estados nascentes do Brasil, herdeiro de Portugal, e das Províncias Unidas do Rio da Prata, atualmente República Argentina, com capital em Buenos Aires, herdeira do Vice-reinado do Prata da Espanha.

O Brasil sob domínio de Portugal, havia ocupado a área em 1811 e a anexado em 1821 (ler Incorporação da Cisplatina em História do Brasil). Mas uma nova revolta iniciou-se a 25 de Agosto de 1825. O Uruguai se tornou uma nação independente com o Tratado de Montevidéu, de 1828. As negociações para a independência tiveram o auxílio de George Canning, então chefe do Foreign Office ou Ministério do Exterior britânico, para consolidar a livre navegação do rio da Prata. Foi José Artigas, entretanto, a pessoa capaz de aglutinar internamente as expectativas uruguaias de independência, cabendo-lhe o mérito da independência.

A partir daí, o país experimentou uma série de presidentes eleitos e nomeados e entrou em conflitos com estados vizinhos, flutuações e modernizações políticas e econômicas e grandes fluxos de imigrantes, provenientes especialmente da Europa. Os militares tomaram o controle da administração em 1973 e o governo civil só regressou em 1985, um ano depois de vastos e violentos protestos contra os regimes militares na América do Sul, inclusive no Uruguai.


Bandeira do Uruguai.


Índice [esconder]
1 Período pré-descobrimento
2 Descobrimento
2.1 Descoberta do Rio da Prata
2.2 Expedição de Juan Díaz de Solís
2.3 Expedição de Sebastião Caboto
3 Colonização
3.1 Primeiras vilas
3.2 Introdução do gado
3.3 Fundação da Colônia do Sacramento
3.4 Fundação de Montevidéu
3.5 Luta pela independência
4 República
4.1 A Guerra Grande de 1839-1852
4.2 A Guerra da Tríplice Aliança
4.3 Desenvolvimento sócio-econômico até 1890
4.4 Século XX
4.5 O Uruguai contemporâneo
5 Referências
6 Ligações externas


[editar] Período pré-descobrimento

Mapa com as diferentes etnias indígenas que habitavam a região do Rio da Prata antes da chegada dos colonizadores europeus.O Uruguai é, atualmente, o único país da América do Sul que não apresenta população indígena sobrevivente. Entretanto, o primeiro registro arqueológico de evidência humana na região do atual território uruguaio data de 8.000 anos atrás. Estes povos antigos caçavam animais e coletavam plantas para sobreviver, desenvolvendo ferramentas de pedra mais sofisticadas entre 4.000 e 8.000 anos atrás. Neste período, também desenvolveram o uso do arco e flechas.[1]

Os principais vestígios das civilizações pré-históricas uruguaias são os chamados cerritos de indios, montes de terra e pedras existentes próximos da fronteira com o Brasil, desde La Coronilla, no departamento de Rocha, até as margens do Negro, em Tacuarembó e Cerro Largo. Apesar de descobertos no século XIX, a investigação minuciosa dos cerritos de indios começou somente em 1986, por três equipes formadas pelo Ministerio de Educación y Cultura e docentes, e alunos da Facultad de Humanidades y Ciencia de la Educación.[2]

Atualmente, sabe-se que as mais antigas destas construções foram erguidas em 3000 a.C. e as mais recentes datam de meados do século XVIII. Estima-se que existem mais de mil cerritos de indios no território uruguaio. Provavelmente tais construções eram utilizadas em rituais fúnebres, já que, em seu interior, foram encontrados esqueletos e crânios apresentando marcas que sugerem a retirada do couro cabeludo. Perto de alguns esqueletos, foram encontradas boleadeiras, punções feitas de osso de lobo-marinho, pedras de quartzo, esqueletos de cães e mandíbulas de raposas. As dimensões dos cerritos variam de meio metro a 7 m de altura e chegam a ter 35 metros de circunferência na base. Atualmente, credita-se estas construções à tribo dos guenoas.[2]

Outras etnias indígenas também habitaram o Uruguai ao longo dos tempos, como os arechanes, os guaianases, os yaros, os mboanes, os chanás, os tapes, os mbiás, os minuanos, os guaranis e os charruas. Os arechanes ocupavam a região dos atuais departamentos de Rocha, Treinta y Tres e Cerro Largo e muito provavelmente se estenderam até parte de Rivera e Tacuarembó, em sua parte oriental. Os guaianases se assentaram na margem esquerda do Rio Uruguai, em Artigas e Salto, e provavelmente em Paysandú e Río Negro, além de parte de Rivera e Tacuarembó. Alguns restos arqueológicos permitem localizá-los em San José e até o arroio Solís Grande. Os yaros ocupavam a margem esquerda do Rio Uruguai, entre os rios Negro e San Salvador, mas também ao norte, chegando à região do Salto.[3]

Os mboanes habitavam a costa oriental do Uruguai, ao norte do Rio Negro, na região dos departamentos de Paysandú e Salto. Foram absorvidos pelos charruas no começo do século XVIII. Os chanás localizavam-se desde o norte de Salto Grande até a costa do atual departamento de Colonia. Os minuanos, nativos das planíces do norte do Rio Paraná e Entre Ríos, atravessaram a margem oriental do Rio Uruguai por volta de 1630, onde se uniram aos charruas. Em sua extensão, chegaram às lagoas Mirim e dos Patos.[3]

Os guaranis eram antropófagos e estavam situados no litoral e em ilhas do estuário do Prata. Ao que parece, seu território estendia-se até as proximidades do arroio San Juan, toda a margem esquerda do Rio Uruguai e a boca do arroio Santa Lucía. Os tapes ocupavam a região ao leste da Coxilha de Sant'Ana, limite natural entre Brasil e Uruguai, de onde invadiram o solo uruguaio pelo noroeste. Pertenciam ao grupo guarani, eram semi-sedentários e cultivavam a terra, ainda que também praticassem a caça e a pesca.[3]

Os charruas eram a principal etnia indígena do território uruguaio e a que mais ofereceu resistência aos europeus. Consistiam em uma pequena tribo nômade caçadora-coletora que ocupava uma área ao norte do Rio da Prata, entre os rios Uruguai, Ibicuí e Negro. Foram encaminhados para o sul pelos guaranis do Paraguai. Eram uma tribo guerreira extremamente feroz, que tinha o hábito de atacar os povos pacíficos das planícies, queimando suas casas e matando seus habitantes.[4]

[editar] Descobrimento

Baía de Montevideu.O primeiro europeu a ter alcançado a região do Rio da Prata teria sido o italiano Américo Vespúcio em 1501, a bordo de um navio português,[5] embora alguns autores contestem esta hipótese. Vespúcio estava convencido da existência de um estreito ao sul do recém-descoberto continente americano, possibilitando a passagem para o Oriente.

[editar] Descoberta do Rio da Prata
Ao tomar conhecimento da descoberta do "Mar do Sul" por Vasco Núñez de Balboa em 1513, o rei português D. Manuel envia a expedição comandada por Estevão Fróis e João de Lisboa para verificar onde terminava a parte sul do continente americano, além de averiguar a existência do suposto estreito que conduziria ao oceano recém-descoberto pelos espanhóis.

No início de 1514, Estevão Fróis e João de Lisboa partiram de Portugal com duas caravelas e uma tripulação de setenta homens. Ultrapassando os limites do domínio português no continente, determinado pelo Tratado de Tordesilhas, e entrando em terras espanholas, chegaram ao local que parecia ser a boca do tão procurado estreito. Avistaram um cabo e batizaram-no de Cabo de Santa Maria, situado próximo à atual Punta del Este. A expedição havia descoberto a foz do Rio da Prata.[6]

Estevão Fróis e João de Lisboa foram também os primeiros europeus a terem contato com os charruas, os quais apresentaram vários objetos de metal e um machado de prata aos exploradores. O machado foi levado à Portugal e oferecido a D. Manuel como prova da existência de metais preciosos naquela região inexplorada. Ainda em 1514, houve a incursão de D. Nuno Manoel e Cristóvão de Haro na região.[7]

[editar] Expedição de Juan Díaz de Solís
Tratando de reivindicar as terras que julgava ser suas por direito, a coroa espanhola enviou o navegador Juan Díaz de Solís para localizar o estreito anunciado pelos portugueses. Solís é oficalmente reconhecido como o descobridor do Uruguai.[8]

Nascido em Lebrija, província de Sevilha (algumas fontes afirmam que Solís nascera em Portugal e posteriormente naturalizara-se castelhano), tornou-se piloto-mor da Casa de Contratação das Índias após a morte de Vespúcio. Em 8 de outubro de 1515, partiu de Sanlúcar de Barrameda, à frente de três caravelas, com uma tripulação de sessenta homens. Após breve escala na ilha de Tenerife, seguiu o contorno da América do Sul e, em 2 de fevereiro de 1516, chegou a uma península, no atual departamento de Maldonado, que fora por ele batizada de Puerto de Nuestra Señora de la Candelaria. O porto natural recebeu este nome em virtude da data comemorativa à Nossa Senhora da Candelária.[9] Solís também descobriu a Isla de Lobos, nomeando-a San Sebastián de Cádiz.[10]

Ainda em fevereiro, a tripulação chegou ao estuário do Rio da Prata. Confundindo com um braço de mar de baixa salinidade, batizou-o com o nome de Mar Dulce (mar doce).[11] A expedição fez escala na ilha Martín García, que fora assim denominada em homenagem de Solís ao tripulante de mesmo nome que falecera à bordo, o qual foi sepultado na ilha.[12]

Rumando em direção à margem oriental do Rio Uruguai, as caravelas permaneceram ancoradas próximo à costa, enquanto Solís embarcava em um pequeno bote com alguns de seus homens: o contador Pedro de Alarcón, o feitor Francisco de Marquina e mais seis marinheiros. Ao desembarcar pela primeira vez em solo uruguaio, em uma região atualmente conhecida como Punta Gorda, no departamento de Colonia, Solís e seu grupo foram atacados por indígenas, sendo mortos e devorados. A tripulação que permaneceu nos navios decidiu retornar imediatamente à Espanha. Francisco de Torres, cunhado de Solís, assumiu o comando, rebatizou o Rio da Prata de Rio de Solís e regressou ao seu país-natal com duas das embarcações no dia 4 de setembro de 1516.[13] A caravela restante naufragou próximo à Ilha de Santa Catarina durante o retorno, tendo sobrevivido onze tripulantes, dentre os quais, o português Aleixo Garcia, futuro descobridor do Paraguai.[14]

Em sua rota de circunavegação do globo, o capitão português Fernão de Magalhães chega à costa uruguaia em janeiro de 1520, contornando o Cabo de Santa Maria. No dia 10 do mesmo mês, avistou uma colina, a qual batizou de Montevidi, lugar onde seria fundada a cidade de Montevidéu.[15] Sua expedição descobre as terras do atual departamento de Soriano.[16]

[editar] Expedição de Sebastião Caboto
A segunda expedição de Cristóvão Jacques no continente penetrou o estuário do Rio da Prata em 1521, descobrindo o Rio Paraná.[17] Entretanto, foi Sebastião Caboto o primeiro europeu a explorar os rios Paraná e Uruguai, em 1527.[18] A viagem de Caboto, que partira da Europa em 1526 originalmente em direção às Ilhas Molucas, foi alterada quando encontrou os náufragos da expedição de Juan Díaz de Solís em sua passagem pela Ilha de Santa Catarina. Tomando conhecimento da riqueza do rei do Império Inca e da aventura de Aleixo Garcia, Sebastião Caboto decidiu subir o Prata e entrar pelo rio Paraná adentro. Fundou, ainda em 1526, o primeiro estabelecimento espanhol em solo uruguaio: o Forte de San Salvador, na confluência dos rios Uruguai e San Salvador, destruído pelos charruas em 1529.[19] Na região, Caboto encontrou um grumete sobrevivente do massacre que culminou com a morte de Solís, dez anos antes: Francisco del Puerto. Em 1528, a armada de Diego García de Moguer penetra o Rio da Prata e une-se a Caboto no Rio Paraguai. A hostilidade crescente dos nativos impulsionou a desistência de ambos em chegar ao reino inca. Decidiram então retornar à Espanha.

Em 3 de dezembro de 1530, a frota de Martim Afonso de Sousa é enviada para explorar a região do Prata, [20] partindo de Lisboa com um galeão, duas naus, duas caravelas e 400 homens a bordo. Após meses no Brasil, Martim Afonso seguiu em direção ao sul, naufragando na entrada do estuário do Rio da Prata em 21 de outubro de 1531.

Em 1538, a frota de Alonso Cabrera tentou por diversas vezes entrar pelo Rio da Prata; porém, fortes ventos então ocorridos acabaram por arrastar as naus para o litoral sul de Santa Catarina, onde atracaram no porto de São Francisco (atual Laguna). Quatro meses depois, Alonso Cabrera rumou novamente em direção do Rio da Prata, deixando dois dos missionários no Brasil.[21]

[editar] Colonização
[editar] Primeiras vilas
A feroz resistência por parte dos índios, em combinação com a escassez de ouro e prata, limitaram a colonização do território uruguaio, então conhecido como Banda Oriental, durante os séculos XVI e XVII. Em 1552, o governador-geral do Rio da Prata Domingo Martínez de Irala enviou um grupo de colonos e 120 soldados comandados pelo capitão Juan Romero com a missão de estabelecer um porto para os navios que navegavam pelo estuário. Romero desembarcou na costa oriental, atual departamento de Colonia, e estabeleceu um povoado na desembocadura do arroio San Juan, que foi batizado de Villa de San Juan, próximo da Ilha de São Gabriel. Contudo, o povoado foi constantemente atacado pelos charruas, o que levou ao seu abandono pelos colonos dois anos após a fundação.

Em outubro de 1572, o adelantado Juan Ortiz de Zárate partiu de San Lúcar de Barrameda com cinco navios, 200 soldados, 300 colonos, 4000 vacas e igual número de ovelhas, 500 cabras e 300 equinos, com os quais fundaria uma cidade e povoaria as terras conquistadas. Chegou ao Rio da Prata em novembro de 1573, desembarcando no Porto de São Gabriel, onde foi construído um forte. A relação com os indígenas, inicialmente amistosa, foi abalada quando Zárate tentou subjugá-lo, originando um ataque dos charruas, liderados por Zapicán. Diante do cerco dos nativos, os espanhóis solicitaram o auxílio do capitão Rui Díaz de Melgarejo, vindo do Brasil, e de Juan de Garay, que se encontrava na recém-fundada cidade de Santa Fé (hoje Argentina).[22] Garay desembarca no local com 22 soldados de infantaria e 12 ginetes.

Em 1574, os espanhóis dizimaram os indígenas no Combate de San Salvador, nas proximidades das ruínas onde estava anteriormente localizado o forte de mesmo nome. Neste combate, lutaram cerca de mil indígenas e morreram 200, incluindo os caciques Zapicán, Abayubá, Tabobá, Magalona e Yandinoca. Foi a primeira vitória militar dos espanhóis sobre os nativos uruguaios. No local, correspondente à atual cidade de Dolores, no departamento de Soriano, foi fundada a primeira vila do Uruguai, batizada como Zaratina del San Salvador, capital da província de Nueva Vizcaya,[22] território atualmente formado por Argentina, Paraguai, Uruguai e pelo estado do Rio Grande do Sul (Brasil). O assentamento de Zaratina foi abandonado en 1576, sucumbindo pelas sucessivas emboscadas dos indígenas.

[editar] Introdução do gado
Em 1603, o governador da província do Rio da Prata Hernando Arias de Saavedra deu indício à introdução do gado bovino e equino nas planícies do Uruguai, promovendo o desenvolvimento econômico da região. Em 1611, Saavedra transformou a região em Vacaria del Mar. O desenvolvimento do gado na Banda Oriental, especialmente por parte dos portugueses que haviam invadido o sul do Brasil, teve influência direta na colonização do território que acabaria sendo a República Oriental do Uruguai.

O cabildo de Buenos Aires começou a outorgar autorizações para efetuar a exploração do gado existente na Banda Oriental, sob a modalidade dos chamados faeneros, grupos de vinte e trinta ginetes. Estes cruzavam o Rio da Prata desde Buenos Aires com um grupo de peões e, acampando temporariamente, dedicavam-se à captura do gado, do qual extraíam o couro e a gordura e postermente começaram a preparar a carne mediante da salga, o que permitiu sua conservação desidratando-a sob a forma de charque.

A abundância dos produtos obtidos pelos faeneros fez com que as costas da margem oriental do Rio da Prata começassem a ser frequentadas por mercadores piratas de origem variada — ingleses, franceses e holandeses — que contrabandeavam o couro obtido pelos faeneros, burlando monopólio que a Espanha aplicava em suas colônias. O couro era transportado para os mercados do Brasil, das Antilhas e da Europa, onde alcançavam excelentes preços.

[editar] Fundação da Colônia do Sacramento
O principal registro da influência da abundância de gado na Banda Oriental como determinante de sua colonização foi a atividade dos portugueses provenientes do Brasil. Primeiramente, foram os mamelucos, que incursonavam nas pradarias do norte da Banda Oriental — cuja fronteira não estava claramente delimitada e abarcava boa parte do atual estado do Rio Grande do Sul — com os mesmos fins de capturar e extrair o couro do gado. Portugal, a partir da colonização do Brasil, vinha praticando uma política territorial expansiva, dirigida a ultrapassar os imprecisos limites que havia fixado o Tratado de Tordesilhas.

O primeiro povoado de caráter permanente em solo uruguaio foi fundado pelos espanhóis em 1624, em Soriano, perto do Rio Negro. Em 1679, o governador da capitania do Rio de Janeiro Manuel Lobo organizou uma expedição marítima ao Rio da Prata, desembarcando na Ilha de São Gabriel, onde fundou, no final de janeiro de 1680, um forte na atual cidade de Colonia, batizando-na Nova Colónia do Sacramento. Os portugueses estabeleceram guarnições militares nas proximidades das ilhas San Gabriel e Martín García.

O estabelecimento português na Colônia do Sacramento — situada em frente a Buenos Aires — rapidamente converteu-se em um importante centro comercial; ali, os portugueses conduziam mercadorias contrabandeadas provenientes do Rio de Janeiro, especialmente açúcar, aguardente, tabaco e escravos, que eram trocados pelo charque e pela prata proveniente do Peru.

[editar] Fundação de Montevidéu
Montevidéu foi fundada pelos espanhóis nos primórdios do século XVIII, para servir como fortaleza militar, tendo o seu porto rapidamente passado a ser um centro comercial capaz de competir com Buenos Aires.

A história da primeira parte do século XIX uruguaio molda-se ao sabor das lutas existentes entre o Reino Unido, Espanha, Portugal e as forças coloniais, pelo domínio da região compreendendo a Argentina, o Brasil e o Uruguai. Em 1806 e 1807, o exército britânico tentou cercar Buenos Aires no decorrer da sua guerra com Espanha, como resultado, no início de 1807, Montevidéu estava ocupada por uma força britânica composta por 10.000 homens, que apenas saiu a meio do ano, quando foi atacar Buenos Aires.

[editar] Luta pela independência

Liga Federal das províncias aliadas sob a proteção de artigasEm 1811, é nomeado Vice-rei e Capitão Geral da região, Xavier de Elio, gerando insatisfação devido a uma série de medidas adotadas por ele. Em fevereiro se dá o "grito de Asencio" e um capitão chamado José Gervasio Artigas, ao retornar de Buenos Aires, aonde fora oferecer seus serviços torna-se líder dos autonomistas. Em 18 de maio de 1811, os autonomistas tomam o país, exceto Montevidéu. Elio solicita e recebe apoio da Corte portuguesa instalada no Brasil que lhe envia o exército "pacificador" sob o comando de Diogo de Souza.

Em 23 de setembro junta-se a ele o governo de Buenos Aires. Artigas levanta o cerco a Montevidéu e refugia-se no interior, até o rio Ayuí, e junto com ele vão os habitantes da área rural. No começo de 1812 as tropas portuguesas se retiram.

Sem conseguir vencer Artigas, que tinha obtido já o alliance da província de província de Entre Ríos, em 1814 seus inimigos iniciam mediações em favor da paz. Montevidéu é conquistada em 20 de junho de 1814 por Carlos María de Alvear, general enviado por Buenos Aires. Este quando retorna, abre caminho para a sublevação do Lado Oriental sob o comando de Artigas, o qual terminaria seus dias exilado devido à oposição dos escravocratas portugueses e dos comerciantes de Buenos Aires y de Montevideo, tornando-se, no entanto, um herói nacional do Uruguai. [23]

Em 1821, a Província Oriental del Rio de la Plata, o atual Uruguai, passou a ser parte do Brasil e portanto também colónia de Portugal, sob o nome de Província Cisplatina. Em 1825 forma-se o chamado "grupo dos 33 Orientales" contra a ocupação luso-brasileira que logo se transforma em um pequeno exército e invade a província vindos de Buenos Aires. Após a tomada de Montevidéu em 14 de junho, instala-se um governo provisório que vota a independência do Brasil a 25 de Agosto de 1825 (depois de numerosas revoltas em 1821, 1823 e 1825), mas decidiu aderir a uma federação regional com a Argentina.

Esta federação regional derrotou o Brasil depois de 500 dias de combates. O Tratado de Montevideu, datado de 1828 e patrocinado pelo Reino Unido, criou o Uruguai como estado independente, sendo a primeira constituição do recém-formado país adoptada a 18 de Julho de 1830. No resto do século XIX vários presidentes foram eleitos para lidarem com os conflitos com os Estados vizinhos, as flutuações políticas e económicas e um grande afluxo de imigrantes, oriundos sobretudo da Europa.

[editar] República
[editar] A Guerra Grande de 1839-1852

José Fructuoso Rivera.
Manuel Oribe.
José Gervasio Artigas.O espectro político no Uruguai ficou dividido entre dois partidos, os conservadores Blancos ("brancos", Partido Nacional) e os liberais Colorados ("vermelhos"). Os Colorados eram liderados por Fructuoso Rivera e representavam os interesses económicos de Montevideu, enquanto que os Blancos eram liderados por Manuel Oribe e representavam os interesses dos agricultores e promoviam o proteccionismo. Os grupos herdaram os nomes das cores das braçadeiras que usavam, inicialmente os Colorados eram azuis, mas depois de a braçadeira esbater ao Sol adoptaram o vermelho.

Os partidos uruguaios associaram-se às facções políticas que guerreavam na vizinha Argentina. Os Colorados eram a favor dos exilados liberais, Unitarios, muitos dos quais tinham buscado refúgio em Montevideu, enquanto o líder Blanco, Manuel Oribe, era um amigo próximo do ditador argentino, Juan Manuel de Rosas. Oribe ficou ao lado de Rosas quando a marinha francesa bloqueou Buenos Aires em 1838, o que levou os Colorados e os exilados Unitarios a procurarem ajuda francesa contra Oribe e, a 15 de Junho de 1838, um exército liderado por Fructuoso Rivera, derrubou o presidente que refugiou-se na Argentina.

Os Unitarios formaram um governo exilado em Montevidéu e, com o apoio secreto dos franceses, Rivera declarou guerra a Rosas em 1839. Este conflito iria durar treze anos e ficar conhecido como a Guerra Grande.

Em 1840, um exército de Unitarios exilados tentou invadir o norte da Argentina vindos do Uruguai mas com pouco sucesso. Dois anos depois o exército argentino invadiu o Uruguai a favor de Oribe. Tendo tomado o controlo da maior parte do país, embora não tenham conseguido capturar a capital. O cerco de Montevideu começou em Fevereiro de 1843 e iria durar nove anos e captar as atenções e a imaginação do mundo inteiro. Alexandre Dumas, filho comparou-o com uma nova guerra de Tróia.


Rio da Prata.Os Uruguaios cercados pediram ajuda aos estrangeiros residentes, tendo-se formado uma legião francesa e outra italiana. A italiana era liderada por Giuseppe Garibaldi, que estava a leccionar matemática em Montevideu quando a guerra estalou, Garibaldi foi ainda nomeado chefe da marinha uruguaia e esteve envolvido em muitas actos famosos durante a guerra, nomeadamente a batalha de San Antonio, que o fez obter uma reputação de nível mundial como formidável líder de guerrilha.

O bloqueio argentino a Nova Zelândia foi ineficaz pois Rosas tentou não interferir com o trânsito internacional de navios no Rio da Prata. Mas em 1845, quando o acesso ao Paraguai foi bloqueado, o Reino Unido e a França aliaram-se contra Rosas, capturaram a sua frota e iniciaram um bloqueio a Buenos Aires, enquanto o Brasil se aliava à Rosas. Rosas conseguiu negociar acordos de paz com a Grã-Bretanha (em 1849) e com a França (em 1850), tendo esta última concordado em retirar a sua legião se as tropas de Rosas saíssem do Uruguai.

Oribe manteve um cerco pouco apertado à capital. Em 1851, o caudilho argentino Urquiza virou-se contra Rosas e assinou um pacto com os exilados Unitarios, os uruguaios Colorados e com o Brasil, que também passou a posicionar-se contra Rosas. Urquiza, com o apoio do exército brasileiro sob o comando do Duque de Caxias, entrou no Uruguai,El Loco Juliow, que derrotou Oribe e levantou o cerco a Montevideu, seguidamente derrubou Rosas na Batalha de Monte Caseros, a 3 de Fevereiro de 1852. Com Rosas derrotado e exilado a Guerra Grande chegou finalmente ao fim.

[editar] A Guerra da Tríplice Aliança
Em 1855, um novo conflito estalou entre os partidos, e atingiu o seu ponto alto durante a Guerra da Tríplice Aliança (ou Guerra do Paraguai). Em 1863, o general dos Colorados Venancio Flores organizou um levantamento armado contra o presidente Blanco, Bernardo Prudencio Berro. Flores saiu vitorioso, com o apoio do Brasil e da Argentina, que lhe cederam tropas e armas, enquanto Berro forjou uma aliança com o líder paraguaio Francisco Solano López. Quando o governo de Berro foi derrubado, em 1864, com o apoio brasileiro, López declarou guerra ao Brasil.

O resultado foi a Guerra da Tríplice Aliança, um conflito de cinco anos onde o Uruguai, o Brasil e a Argentina combateram o Paraguai, em que Flores acabou por sair vencedor, mas perdendo 95% das suas tropas. Flores não saboreou a sua vitória pírrica por muito tempo, pois foi assassinado em 1868, no mesmo dia que o seu rival Berro.

Ambos os partidos estavam conscientes do caos. Em 1870 chegaram a um acordo para definir as esferas de influência de cada um: os Colorados controlariam Montevideu e a região costeira, já os Blancos controlariam o interior com os seus espaços agrícolas. Além disto, os Blancos receberam meio milhão de dólares para os compensar pela perda de Montevideu. Contudo a figura do caudilho foi difícil de apagar do Uruguai e os feudos políticos continuaram.

[editar] Desenvolvimento sócio-econômico até 1890

Ponte General Artigas que liga o Uruguai à Argentina sobre o Rio Uruguai.Depois da Guerra Grande, houve um aumento assinalável da imigração, sobretudo de Espanha e Itália, em 1860 os imigrantes representavam 48% da população, e 68% em 1868. Na década de 1870 entraram no Uruguai mais de 100.000 europeus, pelo que em 1879 viviam cerca de 438.000 pessoas no Uruguai, um quarto das quais em Montevideu.

Em 1857 o primeiro banco abriu, três anos depois iniciou-se a construção de um sistema de canais e em 1860 a primeira linha de telégrafo foi instalada e construíram-se ligações ferroviárias entre a capital e a província.

A economia viveu um acelerado crescimento depois da Guerra Grande, sobretudo na criação e exportação de gado. Entre 1860 e 1868, o número de ovelhas passou de três para dezassete milhões, devendo-se o aumento sobretudo aos novos métodos trazidos pelos imigrantes europeus.

Montevidéu tornou-se um grande centro económico, graças ao seu porto natural tornou-se um entreposto para mercadorias da Argentina, do Brasil e do Paraguai. Também as cidades de Paysandú e Salto, ambas situadas no Rio Uruguai, viveram um desenvolvimento semelhante.

[editar] Século XX
José Batlle y Ordóñez, presidente nos períodos 1903-1907 e 1911-1915, lançou as bases do Uruguai actual, fazendo grandes reformas políticas, sociais e económicas, como o estabelecimento da intervenção governamental em vários sectores da economia, o lançamento de um sistema de segurança social e a criação de um executivo plural. Algumas destas reformas foram continuadas pelos seus sucessores.

Em 1951, os governantes decidiram substituir o cargo de presidente por um conselho administrativo, como forma de evitar um golpe militar. Quinze anos depois, o mandato presidencial é restituido em um referendo realizado no mesmo dia das eleições gerais, vencidas pelo Partido Colorado.

No final da década de 1950, em parte devido ao decréscimo da procura no mercado mundial por produtos agrícolas, o Uruguai começou a registar problemas económicos, onde se inclui a inflação, desemprego em massa e uma queda abrupta do nível de vida dos trabalhadores uruguaios, o que levou ao aparecimento de protestos estudantis e conflitos laborais.

Os Tupamaros, um movimento de guerrilha urbana, formaram-se no início da década de 1960, inicialmente assaltavam bancos e distribuíam comida e dinheiro nos bairros pobres, posteriormente passaram a atacar as forças de segurança e a executar raptos políticos. Destas acções resultou o embaraço e depois a destabilização do governo.

O Office of Public Safety (OPS) dos Estados Unidos da América começou a operar no Uruguai no ano de 1965. O OPS trouxe à polícia e aos serviços secretos uruguaios novas técnicas de policiamento e interrogatório. O chefe dos serviços secretos policiais, Alejandro Otero, reportou em 1970 a um jornal brasileiro que o OPS, sobretudo o responsável do OPS no Uruguai, Dan Mitrione, instruiu a polícia uruguaia como torturar suspeitos, sobretudo com aparelhos eléctricos.

O presidente Pacheco Areco declarou o estado de emergência em 1968, seguida de uma ainda maior suspensão das liberdades civis em 1972 pelo seu sucessor, o presidente Juan Maria Bordaberry, que colocou o exército a combater as guerrilhas. Depois de derrotarem os Tupamaros, os militares tomaram conta do poder, em 1973, levando o Uruguai a deter, em pouco tempo, a maior taxa per capita de presos políticos do mundo.

Em 1984 estalaram protestos massivos contra a ditadura militar. Após uma greve geral de vinte e quatro horas, iniciaram-se conversações e as forças armadas anunciaram um plano para devolver o poder à sociedade civil. Nas eleições de 1984, o líder Colorado, Julio María Sanguinetti ganhou a presidência do país e cumpriu as suas funções entre 1985 e 1990. O primeiro mandato de Sanguinetti implementou reformas económicas e consolidou a democracia depois dos anos que o país esteve dominado sobre a repressão militar.

[editar] O Uruguai contemporâneo

Imagem de Montevidéu na actualidadeAs reformas económicas de Sanguinetti visavam atrair o investimento e capital estrangeiro e tiveram algum sucesso na estabilização da economia. Para a promoção da reconciliação nacional e facilitar o retorno ao funcionamento democrático das instituições, Sanguinetti conseguiu aprovar por plebiscito uma controversa amnistia geral aos líderes militares acusados de violações dos direitos humanos durante a ditadura, e acelerou a libertação dos antigos guerrilheiros.

As eleições de 1989 foram vencidas por Luís Alberto Lacalle, do Nacional, que governou no perído de 1990 a 1995. Lacalle, além de fazer o Uruguai aderir ao Mercosul em 1991, empreendeu grandes reformas estruturais liberalizando e privatizando a economia, apesar de algum sucesso económico, estas medidas deram origem a uma grande oposição política, que chegou a conseguir anular algumas das reformas por referendo.

Nas eleições de 1994 Sanguinetti voltou a ser eleito, embora sem maioria no parlamento, tendo por isso o Colorado e o Nacional encetado uma coligação governamental. As reformas económicas continuaram e o sistema eleitoral, a segurança social, a educação e a segurança pública foram também revistos. A economia cresceu de forma estável durante a maior parte do mandato até que os baixos preços das mercadorias e dificuldades económicas nos maiores mercados para os quais o Uruguai exportava conduziram a uma recessão em 1999 que continuou até 2002.


Encontro do presidente uruguaio Tabaré Vázquez com o argentino Néstor Kirchner.As eleições de 1999 decorreram-se sob as alterações introduzidas pela revisão constitucional de 1996. Primárias em Abril decidiram candidatos únicos para cada partido e as eleições decorridas em Outubro determinaram a representação para a legislatura. Como nenhum candidato obteve maioria, em Novembro houve uma segunda volta na qual Jorge Batlle Ibáñez do Colorado e com o apoio do Nacional, derrotou Tabaré Vázquez o candidato da Frente Amplio. Os partidos vencedores continuaram a sua coligação legislativa, pois isoladamente não conseguiam ultrapassar os 40% da Frente Amplio, esta coligação acabou em Novembro de 2002, quando os blancos se retiraram dos seus ministérios, embora continuassem a apoiar os colorados na maioria dos temas.

O mandato de Batlle foi marcado pela recessão e incerteza económica, pela desvalorização do real no Brasil em 1999, os surtos de febre aftosa em 2001 e finalmente com o colapso político-económico da Argentina. O desemprego elevou-se para perto dos vinte por cento, o valor real dos salários diminuiu e o peso desvalorizou-se, tendo sido relegados para a pobreza quase quarenta por cento dos uruguaios.

Com o piorar das condições económicas a opinião pública virou-se contra as políticas económicas de mercado comum, adoptadas pelo governo de Batlle e os seus antecessores, levando à rejeição em plebiscito das propostas para a privatização da companhia estatal de petróleo em 2003 e da companhia estatal de água em 2004.

Em 2004 os uruguaios elegeram Tabaré Vázquez como presidente, dando à Frente Amplio, a maioria nas duas câmaras do parlamento. O governo comprometeu-se a continuar os pagamentos da dívida externa do Uruguai e também prometeu combater fortemente os problemas generalizados da pobreza e do desemprego.

A construção de uma fábrica de papel em Fray Bentos - o maior investimento da história do país, feito pela empresa finlandesa Botnia, de 1,7 bilhões de dólares - às margens do rio Uruguai provocou grande tensão entre o governo dos dois países ao longo de 2006. A Argentina levou representação contra a instalação da indústria ao Tribunal Internacional de Haia em 2006; todavia, a decisão favoreceu o Uruguai. Moradores da localidade argentina de Gualeguaychú, localizada na outra margem do rio, bloquearam por diversas vezes a ponte que une os dois países, alegando prejuízo ambiental e turístico diante da poluição gerada no processamento da celulose. [24]

Referências
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↑ a b Los perros no llegaron a Uruguay con los colonizadores La República, acessado em 5 de julho de 2010
↑ a b c FIGUEIRA, José Joaquín. Breviario de Etnología y Arqueología del Uruguay. Montevidéu: Imprenta Gaceta Comercial, 1965; p. 48.
↑ The Phrenological Journal and Miscellany, Volume 9. Edimburgo, 1834-6, p.139-140
↑ LOZANO, Pedro. Historia de la Conquista del Paraguay, Rio de la Plata y Tucuman. BiblioBazaar, 2008. ISBN 0-559-79968-3
↑ O Pau-brasil Tribuna do Norte, acessado em 1º de fevereiro de 2010
↑ PIAZZA, Walter F. A Ilha de Santa Catarina e o seu Continente na Luta pela Hegemonía Portuguesa e na Fixação da Cultura Lusitana no Brasil Meridional. Novos Estudos Jurídicos, Itajaí: Univali, 2000.
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↑ a b Juan Ortiz de Zárate MECDigital, 6 de julho de 2010
↑ POMER, Leon. As independências na América Latina. Brasília: Brasiliense, 1981. ISBN 85-11-02001-2
↑ Declaração de Kirchner agrava crise com Uruguai
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