Colherada CulturalHome Artes Moda Literatura Teatro e Dança Cinema TV Gastronomia Música Mr. Fork Especiais As Colheres Comentários (0) Compartilhar via web Enviar para um amigo Imprimir texto não-lançamento“Noturno do Chile” faz crítica a política e literaturaAutor mescla divagações imaginárias e fatos reais por Estela Cotes - 8 de setembro de 2009O glamour por trás de um grande nome da literatura não está só nos números que saltam das prateleiras das livrarias. Mas principalmente nas rodas de literatos que se frequenta. Esse é cenário que circunda a trajetória do padre, crítico literário e poeta Sebastián Urrutia Lacroix, protagonista de "Noturno do Chile" (Companhia das Letras, 118 páginas), escrito pelo chileno Roberto Bolaño. O autor, morto em 2003 por cirrose hepática, está ganhando reconhecimento entre os escritores contemporâneos. Nos Estados Unidos, no ano passado, teve mais de 75 mil cópias vendidas em um mercado em que os estrangeiros não costumam ganhar tanto destaque.
Utilizando a ingenuidade e a pretensão de Sebastián que almejava a perfeição e a aprovação de suas produções escritas, Bolaño faz reflexões sobre a atuação literária da atualidade, principalmente na América Latina. O olhar do narrador funciona como um prisma periférico das situações que se passam na casa de Farewell, também crítico literário, e de María Canales. As confissões são feitas em um diário de memórias escrito entre momentos de delírio e lucidez, por alguém à beira da morte. O ritmo e o estilo de Bolaño conduzem ao tempo do narrador. No início, frases curtas, imperativas e, ao longo do único parágrafo do livro, sentenças longas exacerbadamente reflexivas, causam certo desconforto e exigem entrega total do leitor. Entre personagens fictícios – o “mentor” intelectual Farewell e a sinistra dupla de empresários Sr. Oidem e Oidó – além de nomes reais como Pablo Neruda – ganham crítica sutil. A construção da narrativa do autor chileno traz histórias individuais que parecem não se encontrar em um primeiro momento, mas no decorrer da leitura se encaixam ao propósito do tema, seja política, literatura ou drogas.
As considerações sobre política, no entanto, ficam claras no momento em que Sebastián retorna de um período de trabalho na Europa, para um Chile às vésperas de um golpe militar. A ingenuidade e a busca pelo reconhecimento levam o padre a aceitar o convite de dar aulas sobre marxismo ao general Augusto Pinochet. O padre começa a frequentar as reuniões na casa da famosa escritora María Canales e descobre, posteriormente, que os porões da construção eram usados para torturar perseguidos políticos. De certa forma, Bolaño atua como alter-ego do personagem. O autor cresceu no México e retornou ao Chile no começo dos anos 1970, entusiasmado com o governo do presidente socialista Salvador Allende. Em 1973, já com a ditadura estabelecida, ele é preso e exilado. A obra trata da América Latina e do mundo por uma perspectiva ingênua, como a de um “homem de Deus” e, ao mesmo tempo, irônica e oblíqua de um poeta. Palavras-chave: Roberto BolañoJulio CortázarPablo Nerudacompanhia das letrasÚltimos comentáriosNenhum comentário para exibir, seja o primeiro a escrever um!
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