Nelson MandelaOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.Ir para: navegação, pesquisa Nelson Mandela
10º presidente da África do Sul
Mandato 27 de abril de 1994
a 16 de junho de 1999
Vice-presidente Frederik Willem de Klerk
Thabo Mbeki
Antecessor(a) Frederik Willem de Klerk
Sucessor(a) Thabo Mbeki
19º Secretário-geral do Movimento Não-Alinhado
Mandato 3 de setembro de 1998
a 14 de junho de 1999
Antecessor(a) Andrés Pastrana
Sucessor(a) Thabo Mbeki
Vida
Nome completo Nelson Rolihlahla Mandela
Nascimento 18 de julho de 1918 (94 anos)
Mvezo, Cabo Oriental
África do Sul
Nacionalidade Sul-Africano
Alma mater University of Fort Hare
University of London External System
University of South Africa
Primeira-dama Winnie Madikizela-Mandela; Graça Machel
Cônjuge Evelyn (1944-1957), Winnie (1957-1996), Graça Machel (1998-presente)
Partido Congresso Nacional Africano
Religião Metodista
Profissão Advogado
Residência Joanesburgo
Assinatura
Filhos Madiba; Makaziwe (2); Makgatho; Zenani; Zindziswa
ver
Nelson Rolihlahla Mandela GColIH • GCL (Mvezo, 18 de julho de 1918) é um advogado, ex-líder rebelde e ex-presidente da África do Sul de 1994 a 1999, considerado como o mais importante líder da África Negra, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1993,[1] e Pai da Pátria da moderna nação sul-africana.[2]
Até 2009 havia dedicado 67 anos de sua vida a serviço da humanidade - como advogado dos direitos humanos e prisioneiro de consciência, até tornar-se o primeiro presidente da África do Sul livre, razão pela qual em sua homenagem a ONU instituiu o Dia Internacional Nelson Mandela no dia de seu nascimento, como forma de valorizar em todo o mundo a luta pela liberdade, pela justiça e pela democracia.[3]
Nascido numa família de nobreza tribal, numa pequena aldeia do interior onde possivelmente viria a ocupar cargo de chefia, abandonou este destino aos 23 anos ao seguir para a capital Joanesburgo e iniciar atuação política.[4] Passando do interior rural para uma vida rebelde na faculdade, transformou-se em jovem advogado na capital e líder da resistência não-violenta da juventude em luta, acabando como réu em um infame julgamento por traição, foragido da polícia e o prisioneiro mais famoso do mundo,[5] após o qual veio a se tornar o político mais galardoado em vida, responsável pela refundação de seu país - em moldes de aceitar uma sociedade multiétnica.[6]
Criticado muitas vezes por ser um pouco egocêntrico e por seu governo ter sido amigo de ditadores que foram simpáticos ao Congresso Nacional Africano, a figura do ser humano que enfrentou dramas pessoais e permaneceu fiel ao dever de conduzir seu país, suprimiu todos os aspectos negativos.[7]
Foi o mais poderoso símbolo da luta contra o regime segregacionista do Apartheid, sistema racista oficializado em 1948, e modelo mundial de resistência.[1][8] No dizer de Ali Abdessalam Treki, Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, "um dos maiores líderes morais e políticos de nosso tempo".[9]
Índice [esconder]
1 Contexto histórico
1.1 Contexto étnico e geográfico
1.2 Contexto familiar
2 Infância e adolescência
2.1 Ritual de circuncisão
2.2 Término da formação elementar
3 Experiência universitária e fuga para Joanesburgo
4 A Liga Jovem e primeiro casamento
5 Na linha de frente contra o apartheid
5.1 Divórcio, novo casamento; o Julgamento por Traição
6 Mandela empunha a “Lança de uma Nação”
6.1 Viagem pela África: o "Pimpinela Negro"
6.2 Prisão do foragido
7 O Julgamento de Rivonia
8 O prisioneiro 46664
9 Negociando a liberdade
9.1 Soltura
10 A refundação da África do Sul
10.1 Tensão pré-eleitoral
10.2 Mandela durante a presidência
10.3 Críticas
11 Aposentadoria e saúde
11.1 A tragédia na Copa
12 Homenagens
13 Impacto cultural
13.1 Filmes
14 Bibliografia
15 Notas
16 Referências
17 Ligações externas
Contexto históricoAo longo do tempo ocorreu a interiorização sul-africana dos bôeres (descendentes de colonizadores holandeses, franceses e alemães), entrando inevitavelmente em choque com os diversos grupos negros bantos, a quem chamavam de cafre (infiel, em árabe) - povos xhosa, zulus, tswanas, ngunis e sothos, que habitavam a região. A partir de 1795 chegaram os ingleses e passaram a dominar cada vez mais áreas, até que a descoberta de ouro e diamantes os levou ao inevitável choque com os bôeres na disputa pelas riquezas minerais.[10]
No começo do século XX a África do Sul era uma colônia britânica, resultado do Tratado de Vereeniging que pusera fim à Guerra dos Bôeres (1899-1902); nela eram reconhecidos o inglês e o holandês como idiomas oficiais (o africâner só seria reconhecido após 1925) e a metrópole incentivara a imigração de chineses e indianos, marginalizando inda mais a população negra.[11] Em 1906 ocorreu a Rebelião de Bambata, na Província de Natal, com a morte de cerca de 4 mil zulus. Em 1910 foi aprovada a Lei de União, no qual a Colônia do Cabo, Natal, Transvaal e o Estado Livre de Orange compuseram a então chamada União Sul-Africana, na qual os africânderes gozavam relativa autonomia administrativa; os então denominados territórios de Basotolândia (atual Lesoto), Bechuanalândia (atual Botsuana), Suazilândia e Rodésia (atual Zimbábue) permaneceram sob domínio britânico.[10]
Em 1912 foi fundado o Congresso Nacional Africano por nacionalistas negros, movimento formado principalmente por bantos para fazer frente às novas leis segregacionistas; era, contudo, composto pela elite negra (profissionais liberais, religiosos e intelectuais), em bases cristãs e não-revolucionárias.[10]
Recebiam as crianças negras uma educação eurocêntrica, nos moldes da cultura britânica. Sobre isto Mandela declarou que aprendiam "a ser ingleses negros".[6]
Em 1948 a situação política deu uma forte mudança e radicalização, com a ascensão ao poder do Partido Nacional, com o domínio dos africânderes no governo: é institucionalizada a segregação e a subjugação dos não-europeus, no sistema que foi denominado de Apartheid; as pessoas eram separadas por sua raça, num sistema jurídico que excedia em muito as regras adotadas nos estados sulistas dos Estados Unidos, com as leis de Jim Crow.[11]
Em 1963, ano da prisão de Mandela no Julgamento de Rivonia, a África do Sul possuía 17 milhões de habitantes dos quais 20% eram brancos (3.250.000 pessoas), 68,3% negros (11.640.000 pessoas), sendo o restante da população formada por 1.650.000 mestiços e 520.000 asiáticos.[11]
Contexto étnico e geográfico
Mapa situando os primeiros anos de Mandela, em Cabo Leste.A nação Xhosa situa-se no interior do Transkei, entre Cabo e Natal; no século XIX foi denominada "reserva nativa" após as guerras entre os ingleses e os povos naturais do lugar; Mandela faz parte do povo Thembu, e do clã dos Madiba.[12]
Sobre sua aldeia natal ele escreveu, na autobiografia, que "era um lugar distante, um pequeno distrito afastado do mundo dos grandes eventos, onde a vida corria da mesma forma como há centenas de anos."[12][nota 1]
Na África do Sul, até sua libertação em 1990, viveu Mandela em 3 das províncias em que se divide o país:
Nasceu Nelson Mandela na atual província sul-africana de Cabo Leste, numa vila chamada Mvezo, no Transkei.[13] Passou parte da infância na vila de Qunu (a mesma onde construiu uma casa, depois de liberto). Viveu, a partir dos nove anos, na vila real de Mqhekezweni e depois em Engcobo e Fort Beaufort, onde concluiu os estudos secundários; mudou-se, finalmente, para Alice (Porto Elizabeth), onde ingressa na faculdade.[14]
Mqhekezweni - "o Grande Lugar", a "capital" do reino de Jongintaba, na verdade nada mais era do que um povoado composto por uma dúzia de rondavels e uma grande horta.[15]
Após a faculdade muda-se para Gauteng, onde mora nos subúrbios de Joanesburgo: Soweto e Alexandra. Em Kliptown assina a Carta da Liberdade; em Pretória fica preso e tem casa em Rivonia.[14]
No KwaZulu-Natal participa da Conferência Africana em Pietermaritzburgo e é preso em Howick (1961-62).[14]
Finalmente, na província de Cabo Oeste, passa a maior parte do tempo nas prisões da Ilha de Robben, na Cidade do Cabo e em Paarl.[14]
Contexto familiar
O rei Jongintaba, tio e tutor de Mandela.Mandela era um dos treze filhos de Nkosi Mphakanyiswa Gadla Mandela com Nosekeni Fanny,[13] a terceira esposa de seu pai.[6] Na sua casa moravam também muitos outros meninos, e dependentes da família.[4] Seus pais eram analfabetos.[16]
Muito influenciaram o jovem Mandela seu primo Alexander Mandela e sua sobrinha, que apesar disto era bem mais velha que ele, Phathiwe Rhanugu, que certamente foram os primeiros de seu clã a se tornarem professores.[4]
Tão popular quanto o regente Jongintaba, seu tio, era o reverendo Matyolo, da Igreja Metodista - no plano espiritual sendo mesmo superior àquele, ambos exercendo fascínio pelo poder e respeito que tinham, não somente entre os próprios negros como também com aos brancos.[4]
Somente mais tarde é que a figura dos chefes tribais foi mesmo questionada por Mandela, como agentes cooptados pelo governo branco. Também os missionários exerciam um papel na dominação, mas Mandela mais tarde registraria que "sempre considerei perigoso subestimar a influência dessas duas instituições sobre o povo, e, por essa razão, pedi repetidamente que tivessem cautela ao lidar com elas."[4]
Seu pai certa feita foi acusado de deixar fugir um boi e, recebendo a citação da justiça dos brancos, recusou-se a comparecer porque somente reconhecia a justiça tribal.[6] Ele era um chefe local e conselheiro do regente.[17] Sobre ele Mandela se recorda que era "orgulhoso e rebelde, com um senso obstinado de justiça que também detecto em mim".[6]
Mandela foi preparado pela família para ocupar um cargo de chefia tribal, deveria ter aceito um casamento arranjado, em que a noiva ser-lhe-ia indicada sem mesmo conhecê-la. Ele fugiu desse destino e, mais tarde, conjecturou que, se o tivesse aceito, "...hoje seria um chefe muito respeitado, sabe? Teria uma barriga bem grande, muitas vacas e carneiros."[4]
Infância e adolescência
O rei Bambata, que chefiou uma rebelião em 1906 - um dos heróis que povoaram a infância de Mandela.Recebe o nome de Rolihlahla Dalibhunga Mandela (em Xhosa: [xoˈliːɬaɬa manˈdeːla]); seu primeiro nome significa, em xhosa, algo como "agitador" - o que pode ser considerado profético[6] - já que a expressão quer dizer, no idioma natal zulu: "aquele que ergue o galho de uma árvore".[nota 2][18]
A educação inicial que recebera era, sobretudo, oral e aprendia não de modo sistemático, mas perguntando aos mais velhos. Desta forma cresceu observando os costumes, os tabus, os rituais. Aos cinco anos de idade começou a seguir outros meninos nas lidas do campo, longe dos pais, cuidando do gado.[4]
Naqueles tempos, após o jantar, era costume ter a mãe ou uma das tias a narrar velhas histórias, mitos, fábulas ancestrais.[4] Ouvia então contarem de reis lendários e heróis, como Dingane, Bambata ou Makana.[17]
Em 1925 passa a frequentar a escola primária existente na vila próxima de Qunu. É lá que recebe o nome "Nelson"[13], em homenagem ao Almirante Horatio Nelson,[18] dado por sua professora chamada Mdingane, atendendo ao costume de dar nomes ingleses a todas as crianças que frequentavam a escola; esta consistia num único cômodo, com teto de zinco e chão de terra.[19]
Era seu melhor amigo o filho do regente, chamado Justice.[17]
Aos nove anos de idade seu pai morre (1927), e Mandela é enviado para a vila real de Mqhekezweni,[17] aos cuidados do regente do povo Tembu, Jongintaba Dalindyebo.[13] Ali frequenta a escola, vizinha à residência real.[17]
Ritual de circuncisão
Um rondavel, habitação típica do povo de Mandela e comum no sul da África.A circuncisão era um rito de passagem dos jovens Tembu, e contava com a presença do próprio regente Jongintaba.[17] Mandela tinha dezesseis anos de idade quando o Regente decidiu que já era a hora de ele e Justice passarem pelo ritual.[12]
Em janeiro de 1934,[12] num isolado vale às margens do rio Mbashe, num grupo com outros 25 rapazes, membros da elite tribal, Mandela foi levado para a cerimônia pública de circuncisão, realizada pelo especialista neste rito, intitulado ingcibi, usando uma assegai - lança com ponta de ferro.[17]
Nos dias antes do ritual os jovens brincavam, conversavam entre si; na noite que antecedeu à cerimônia as mulheres das aldeias vizinhas apareceram para cantar e tocar, enquanto os jovens a ser iniciados dançavam.[12]
Ao meio-dia da data aprazada o ancião ingcibi surgiu finalmente com a assegai, para realizar o corte do prepúcio;[12] uma vez feito o corte o jovem gritava "Ndiyindoda", que significa "eu sou um homem"; Mandela acreditava que não gritou a palavra com força suficiente, como os demais garotos, achando que não fora corajoso o suficiente.[17]
Os jovens eram então depilados[17] e tinham seus corpos pintados com tinta branca feita com ocre, simbolizando pureza,[12] e eram cobertos com mantas sobre os ombros;[17] à meia-noite procediam ao sepultamento de seus prepúcios pois, de acordo com o costume, isto evitaria que feiticeiros usassem a carne para fins malignos. No plano sagrado, estavam enterrando ali sua juventude e, da mesma forma, quando terminava o isolamento, as cabanas eram queimadas para simbolizar a destruição de seus últimos laços com a infância.[12]
Durante a cerimônia o chefe Meligqili proferiu um discurso em que explicava que aquele ritual, que os daria a masculinidade, era na verdade um rito vazio, uma promessa ilusória, pois não iriam ter qualquer força, nenhum poder, nenhum controle sobre seus destinos, já que todos eram escravos no próprio país.[12]
Mandela registrou no seu diário a impressão daquela experiência: "Em uma semana a ferida cicatrizou, mas sem anestesia a incisão era como se chumbo derretido estivesse correndo nas minhas veias."[17]
Término da formação elementarMandela sempre estudou em escolas wesleyanas:[20]
Escola preparatória Clarkebury Boarding Institute, um colégio exclusivo para alunos negros da elite, dirigido pelo reverendo branco Cecil Harris,[21] que lhe permite uma visão mais ampla do mundo, para além dos horizontes rurais em que vivia, e Mandela acredita que irá cumprir os desígnios do Regente em se tornar um conselheiro real.[12]
Esta era uma instituição antiga e altamente conceituada na Thembulândia, pertencente à mais antiga missão wesleyana do lugar. Para a ocasião o Regente mandou sacrificar uma ovelha, na véspera de sua ida ao colégio, e houve canto e dança para comemorar. No dia seguinte o Regente levou-o até o colégio onde advertiu-lhe a tratar com respeito ao diretor, que gozava de consideração junto aos chefes locais. Foi então apresentado ao diretor Harris, que declarou tomaria providências para que o jovem trabalhasse no jardim, já que o trabalho manual após as aulas era obrigatório; estendeu a mão a Mandela que, com certo temor, tocou na mão de um branco pela primeira vez em sua vida.[12]
Mandela adaptou-se tão bem no colégio interno que concluiu em dois anos o curso de três.[12]
colégio Healdtown, um internato[22] em Fort Beaufort, distante cerca de 250 km do palácio real; ali amplia inda mais seus horizontes, fica amigo de Zacarias Molete que, por ser um Sotho, lhe pareceu ousado ao se aventurar tão longe de sua tribo.[12]
Mandela venceu ali, em 1938, um concurso de composição Xhosa, e se emociona quando o poeta e cantor Krune Mqhayi que, vestido com um kaross de leopardo, empunhando zagaias nas mãos, recitou seu poema em que louvava o povo xhosa.[12][23] Mandela graduou-se em Healdtown naquele ano.[12]
Experiência universitária e fuga para Joanesburgo
Mandela, em 1937.Fundada em 1916, Fort Hare foi a primeira universidade da África do Sul a ministrar cursos para negros. Lá os professores repetiam aos alunos: "Agora que vocês estão na Fort Hare, serão líderes de seu povo." e realmente muitos de seus alunos saíam de lá para um emprego, com renda garantida e alguma influência; apesar disto, não se ensinava como enfrentar o preconceito, a opressão racial.[24]
Era uma instituição pequena e quando Mandela lá ingressou, em 1939, tinha somente 150 alunos. Era dirigida pelo escocês Alexander Kerr; apesar de preparar os futuros chefes tribais, acabou se tornando uma incubadora de líderes revolucionários.[25] Para que pudesse frequentar a faculdade, o rei Jongintaba mandou-lhe fazer um terno, o primeiro que teve.[26]
Ali fez muitos amigos com quem mais tarde formaria o núcleo de comando do Congresso Nacional Africano, a exemplo de Oliver Tambo.[12] Foi, ainda, ali que travou contato com a cultura clássica ocidental; chegou a interpretar John Wilkes Booth, assassino de Abraham Lincoln, numa peça lá encenada.[27] Certa vez descobriu que um de seus amigos não havia feito a circuncisão e chegou a reagir "até mesmo com repulsa"; só mais tarde foi que venceu o preconceito juvenil, a aceitar os outros como iguais e não julgá-los segundo seus próprios costumes.[28]
No primeiro ano estudou Inglês, Antropologia, Política, Administração Nativa, e Direito Romano e Dutch. Começou a praticar esportes, como a corrida e o boxe.[12]
Quando estava no segundo ano, Mandela participou de uma manifestação contra a baixa qualidade da comida; assim, em protesto, boicotaram a eleição do conselho de estudantes. Apesar disto, alguns alunos votaram e Mandela acabou eleito; confrontado com tal escolha, Mandela consultou seu sobrinho K. D. Matanzima, mais velho que ele e já veterano na instituição; este o aconselhou a não assumir o cargo estudantil, embora o reitor Kerr houvesse-lhe dado duas únicas opções: assumir o cargo ou sair da faculdade. Mandela saiu, levando junto o primo Justice.[25]
Retornando a Mqhekezweni o rei, quando informado do ocorrido, se enfurece.[25] Jongintaba então concerta-lhes um casamento, segundo o costume; Mandela e Justice fogem então para Joanesburgo - não porque as esposas arranjadas fossem feias, mas justamente porque, imbuídos da cultura branca que o próprio rei lhes proporcionara, almejavam um casamento romântico, em que conhecessem primeiro as pretendentes.[29] Tinha para vestir apenas um terno que, ao fim de cinco anos tinha mais remendos do que tecido original.[26]
Edifício sede de Fort Hare.Na capital passou os primeiros anos de modo errante; trabalhou como vigia numa mina, e foi despedido; era visto pelas famílias que o abrigavam como "imprestável", até que finalmente teve seu primeiro encontro com Walter Sisulu, em 1941, e que mudaria definitivamente sua vida.[25] Sobre este encontro Sisulu diria, mais tarde: "Queríamos ser um movimento de massa, e então um dia um líder de massa entrou no meu escritório."[30]
Até então morava no subúrbio de Alexandra, verdadeira favela apesar de algumas boas construções, estudando à noite; passava muitas dificuldades, minimizadas pela amizade feita com Zacariah Molete, filho de um dono de mercearia, ligado à Igreja Metodista, e que lhe dava comida às vezes. Ali, contudo, adaptou-se à vida urbana e às mazelas da supremacia branca.[31]
Em 1941 o chefe Jongintaba lhe faz uma visita, na qual não falam do passado e sim do futuro, num momento feliz de reencontro; o rei veio a falecer no ano seguinte.[32]
Sisulu consegue-lhe emprego de assistente na banca de advogados judeus Witkin, Sidelsky & Eidelman[13] - únicos então que contratariam um negro para esse trabalho.[25] Continua os estudos, no curso por correspondência de Bacharelado em Artes (BA) pela Universidade da África do Sul, em 1942, mesmo ano em que frequenta informalmente as reuniões do CNA.[13] Bacharelando-se em 1943, ingressa no curso jurídico da Universidade de Witwatersrand, onde se gradua.[25]
Mais tarde, junto a Oliver Tambo, inauguram o primeiro escritório advocatício negro do país. Nas lidas jurídicas descobre como a justiça pendia para os brancos, e as leis eram parcialmente aplicadas.[25]
Foi apenas em Joanesburgo, quando já não era mais tratado como um garoto da nobreza tribal, e sim como mais um negro pobre do interior, que Mandela se conscientizou do abismo que separava brancos e negros no país. Foi este choque que provocou-lhe a reação de lutar contra o racismo. E o fez ingressando no Congresso Nacional Africano.[33]
A Liga Jovem e primeiro casamento
Mandela e Evelyn, em 1944 no casamento de Walter Sisulu e Albertina.[nota 3]No ano de 1944 Mandela se casou com Evelyn Mase, uma jovem parenta de Walter Sisulu. Com ela viria a ter 4 filhos: uma menina chamada Makaziwe, morta aos nove meses de idade - e outra, que também recebeu o mesmo nome, apelidada Maki, e dois garotos: Madiba Thembekile (Thembi) e Makgatho (Kgatho).[35]
Esta união duraria 12 anos, e terminaria de forma bastante traumática para as duas famílias.[35] Em 1946 tiveram o primeiro filho, Thembi; em 1947 nasce a primeira filha, Makaziwe, que morre aos 9 meses de idade; o casal teria ainda mais dois filhos, na década seguinte.[32]
Junto a Sisulu, Oliver Tambo e outros, ainda em 1944, criam a Liga Juvenil do CNA, com sigla em inglês ANCYL. Tencionam mudar a postura subserviente do partido face aos brancos, e lançam o manifesto "Um homem, um voto" - onde denunciam que 2 milhões de brancos dominam a 8 milhões de negros, além de deterem 87% do território.[6]
Em 1948 foi eleito secretário nacional da ANCYL, e executivo nacional do CNA, pelo Transvaal.[13]
Mandela começa a tornar-se cada vez mais popular, até que em 1949 passa a integrar o Conselho Executivo do CNA. Mas no ano anterior, 1948, a vitória da extrema-direita branca no governo do país com o Partido Nacional vai levar à construção de um regime segregacionista como nunca se vira antes na história.[6]
Na linha de frente contra o apartheid
O ator Canada Lee, que conheceu Mandela no "Clube Internacional".No ano de 1949 o governo aprova o regime legal segregacionista, que dá o nome de apartheid. Em 1951 Mandela é eleito presidente da ANCYL e no ano seguinte presidente do CNA na província de Transvaal, o que o coloca como vice-presidente nacional da instituição.[13]
Neste período é secretário do Johannesburg International Club, um dos poucos lugares em que se podiam reunir pessoas de várias nacionalidades; ali encontra-se com atores americanos, como Canada Lee e Sidney Poitier. O cargo de secretário foi em seguida ocupada pelo inglês Gordon Goose, casado com uma judia, Ursula, que era cega, e se tornaram grandes amigos de Mandela; certa feita, por impedimento do esposo, Mandela foi buscá-la no trabalho e, por conta da cegueira, ela deu-lhe o braço - um negro com uma mulher branca, fato que despertou a ira dos brancos, que o hostilizaram.[36]
No ano de 1950 novas leis segregacionistas são impostas pelo governo, numa ação que levou à tomada de terras de negros, mestiços e indianos; num claro exemplo desta ação, mais de cinquenta mil negros moravam em Sophiatown, em Joanesburgo, e foram todos desalojados em 1953.[32]
Em 1951 Sisulu propõe sejam aceitos não-negros no CNA, e Mandela inicialmente se posiciona contrário à ideia.[32]
A 26 de junho de 1952 tem início a Campanha de Desafio, com o Dia do Protesto e Mandela torna-se seu porta-voz e chefe nacional;[13] por todo o país os negros são convidados a usarem os espaços reservados aos brancos - em banheiros, escritórios públicos, correios, etc. - resultando na prisão de Mandela por dois dias, junto a outros companheiros de luta, como o indiano Yusuf Cachalia.[32]. É preso em várias ocasiões e passa vários dias encarcerado; finalmente é condenado, junto a outros dezenove companheiros, com base na Lei de Repressão ao Comunismo, a uma pena de nove meses de trabalhos forçados, que é suspensa por dois anos; recebe também neste ano a primeira de várias ordens de interdição, proibindo-o de participar de atividades políticas.[13]
Foi também em 1952 que abriu o escritório advocatício Mandela & Tambo,[13] sociedade que durou até 1958.[6] Ali atendem a centenas de casos, na defesa dos interesses de clientes negros.[32] Diria, mais tarde, que "o regime do apartheid tinha dado à lei e à ordem má reputação."[37] Apesar disto a Suprema Corte rejeitou um pedido da Transvaal Law Society para negar-lhe o direito de advogar.[38]
Em 1953, em Sophiatown, Mandela profere um discurso em que pela primeira vez diz que os tempos da resistência passiva haviam passado. Sisulu empreende uma viagem ao exterior e seu amigo lhe pede para, passando pela China, conseguir o apoio daquele país para a luta. Mas no CNA a ideia é rechaçada, especialmente por Moses Katane, para quem o momento não havia chegado. Katane é convencido, mas a executiva, especialmente o Chefe Luthuli, se opõe com firmeza, mantendo a diretiva da não-violência.[39]
Em 1954 no CNA, sob a presidência do Chefe Albert Luthuli, um zulu, junto a Mandela e Walter Sisulu, é criado o Congresso do Povo, com o objetivo de unir todos os não-brancos, vitimados pelo sistema racista que se instalara no país.[32]
Em junho de 1955 ocorreu uma reunião do Congresso do Povo, num local perto de Soweto, Kliptown. Mandela e Sisulu, ainda sob a ordem de restrição que os proibia se deslocarem, foram para o local, onde cerca de três mil pessoas acorreram para o encontro; a polícia interveio, de forma não-violenta; Mandela e Sisulu conseguem retornar a Joanesburgo, sem que tenham sido capturados.[32]
Em setembro daquele ano a ordem de restrição de Mandela expirou, e ele então empreende viagem de duas semanas ao Transkei, revendo parentes e amigos, e procurando ampliar as bases do ANC, com palestras em vários lugares; a polícia tenta impedi-lo, mas desta feita Mandela a desobedece.[32]
Divórcio, novo casamento; o Julgamento por Traição
Mandela queima um passe obrigatório, em 1960.Seu empenho na luta redunda no fim de seu casamento com Evelyn ainda em 1955,[6] ela era completamente avessa à política e se queixava da falta de tempo do marido para a casa e os filhos (Makaziwe nascera dois anos antes); o divórcio ocorre no ano seguinte.[32] Apesar de separados de fato, continuaram a morar juntos numa casa pequena, em Soweto; ela se tornara testemunha de Jeová e passava grande parte do tempo a ler a Bíblia; seu filho Madiba certa feita questionara por que não passava as noites em casa, e Mandela respondera que milhões de crianças precisavam dele, no país; o sucesso que tinha na causa, não ocorria em casa.[22] Mais tarde ela deu entrevistas à imprensa branca onde distorceu os reais motivos da separação, segundo o próprio Mandela.[40]
No dia 5 de dezembro de 1956, sua casa é invadida pela polícia, revistando-a por 45 minutos e apreendendo papéis; o líder é levado preso, na frente da mulher e dos filhos; outras 144 pessoas foram detidas no mesmo dia.[32]
Em 1957, quando tem início a tramitação do Julgamento por Traição, Mandela é um advogado bem sucedido e divorciado, tornara-se um bon vivant: frequentava restaurantes, andava num carro americano importado; foi do carro que, neste ano, viu Winifred Zanyiwe Madikizela parada num ponto de ônibus, em seu uniforme de enfermeira, e ficou com sua imagem gravada na memória - poucos dias depois, coincidentemente, ela lhe apareceu no escritório, para tratar de uma causa. Começaram a sair e um dia ele mandou que fosse à costureira, para experimentar o vestido de noiva que mandara fazer: não houve um pedido de casamento. Ela tinha 22 anos e ele dezesseis a mais que ela.[22]
Em 1958 o Julgamento tem entra na sua fase judicial e Mandela é o advogado dos réus, em parceria com Duma Nokwe;[32] Mandela e Winnie se casam durante um recesso de 6 dias no Julgamento, numa cerimônia onde o sogro, em discurso, brincou que a filha se unia a um "prisioneiro". Poucos dias depois da união Mandela entrou para a clandestinidade, e via a esposa em encontros furtivos, que precisavam ser adrede planejados, com máxima segurança.[22]
O princípio da não-violência continuara a nortear o CNA, o que resguardou a entidade de acusações por parte do governo de apoiar ações armadas. Mas a evolução dos eventos, com ataques mortais por parte do apartheid, no ano de 1960, levaram o Chefe Luthuli a autorizar que Mandela levasse a cabo a constituição de um movimento de resistência pelas armas.[41]
Em 8 de abril de 1960 o CNA foi proibido e Mandela fica preso até o ano seguinte, quando passa para a clandestinidade.[38]
Mandela empunha a “Lança de uma Nação”
Pintura retratando o Massacre de Sharpeville, em 1960.O Umkhonto we Sizwe – "Lança de uma Nação" - também conhecido pela sigla "MK", foi criado em 1961 como braço armado do CNA, tendo Mandela como primeiro comandante em chefe.[42] Era a resposta do movimento ao Massacre de Sharpeville, no entendimento de que o apartheid não mais poderia ser combatido com a não-violência.[6]
Segundo o próprio Mandela a instituição não poderia ser o começo de um militarismo; a organização deveria ser uma força militar totalmente subordinada a um órgão político central. O treinamento militar seria paralelo ao político, de forma a ficar bem definido que a revolução servia para tomar o poder, e não para habilitar atiradores.[43]
O líder passa a ostentar uma barba, ao estilo do guerrilheiro Ernesto Che Guevara, a vestir uniforme camuflado e dá início à campanha armada.[6] Vivendo na clandestinidade, evita ser encontrado; seu esconderijo ficava próximo à casa de Gordon Goose e Ursula, e por diversas vezes Mandela visitava-os, à noite.[36]
"Nós adotamos a atitude de não violência só até o ponto em que as condições o permitiram. Quando as condições foram contrárias, abandonamos imediatamente a não violência e usamos os métodos ditados pelas condições. - declararia, mais tarde.[44]
Viagem pela África: o "Pimpinela Negro"
Selo de 1988 da extinta URSS, mostra Mandela na fase revolucionária.Em 1962 Mandela vai a Londres, onde adquire livros sobre guerra e guerrilha[nota 4], e junta-se a Oliver Tambo; ambos têm encontros com vários políticos e, dali, percorrem vários países africanos; na Libéria, em 25 de abril, encontra-se com o Presidente Wlliam Vacanarat Shadrach Tubman, que se compromete a ajudar a causa; vai à Nigéria, a Botsuana (onde pela primeira vez se viu em meio ao ambiente selvagem africano, com leões rugindo do lado de fora do rondavel em que dormia), à Etiópia.[43]
Em Adis Abeba tem aulas de “demolição”, com o tenente Befekadu; lá se encontra com o imperador Haile Selassie, figura que muito o impressionou pela pompa de chefe de estado, como também por sua posição face aos brancos; “Mas ver brancos fazendo mesuras a um monarca negro foi muito interessante”, declarou.[43]
Passou dois meses recebendo treinamento militar dos etíopes; aprende a atirar, em alvos fixos e móveis, que aperfeiçoou-lhe as lições iniciais recebidas em Oujda.[43]
No Egito visitou com curiosidade as relíquias da antiga civilização, preocupado em contrapor a propaganda branca de que a cultura africana não é tão rica quanto a europeia; mas ficou um tanto decepcionado na visita a um museu, após falar com um curador: “saí com o mesmo conhecimento do assunto do que antes de entrar no museu”.[43]
Impressão diversa teve, contudo, no Marrocos, onde ficou fascinado pelas estratégias das lutas dos argelinos contra os franceses, que eventualmente poderiam ser utilizadas pelo MK. As ideias de Mandela passavam pela construção de um exército revolucionário, capaz de conquistar o apoio popular, instalar escolas de doutrinação, coordenação adequada da guerrilha, oportunidades psicológicas das ações, etc.[43]
Enquanto seguia seu périplo pelo continente, na África do Sul a polícia continua a caçada para sua prisão; Mandela recebe da imprensa o apelido de Pimpinela Negro,[45], numa alusão ao Pimpinela Escarlate, personagem fictício criado pela baronesa Orczy.[46]
Prisão do foragidoMandela retorna de seu périplo internacional após alguns meses[nota 5], especialmente para relatar aos líderes do CNA e do MK sobre seu aprendizado.[11]
Estava com Walter Sisulu quando foram detidos, em 5 de agosto de 1962; julgados por descumprirem a ordem de restrição a partir de 22 de outubro, onde Mandela comparece vestindo os trajes tribais, são condenados enfim a 7 de novembro: ele a uma pena de cinco anos de prisão, Sisulu a seis.[32]
A 11 de julho de 1963, estando ele detido, a polícia invade o esconderijo situado em Rivonia.[32] Ali Mandela estivera escondido, disfarçado, na Liliesleaf Farm.[nota 6] Além das prisões de membros do proscrito CNA, são apreendidos papéis e anotações comprometedoras de Mandela.[32]
Mesmo já detido e sentenciado, Mandela irá tomar parte em novo julgamento - desta feita por acusações ainda mais graves.[32]
O Julgamento de RivoniaVer artigo principal: Julgamento de Rivonia
"Nos outros países africanos, vi brancos e negros se misturando de forma pacífica e alegre em hotéis e cinemas, usando o mesmo transporte público e morando nos mesmos bairros. Voltei para casa para relatar essas experiências aos meus colegas. Cumpri meu dever com o povo e com a África do Sul. Tenho certeza que o futuro mostrará que sou inocente e que os criminosos que deveriam estar neste tribunal são os homens do governo."
Mandela (entrevista em 1962)[47]
Em entrevista concedida em outubro de 1962, Mandela declarou que saíra do país sem passaporte, uma das acusações pelas quais respondia, porque seria inútil solicitar tal documento, já negado a vários outros ativistas; segundo declarou então, havia recebido convite para uma palestra no exterior e decidira aceitá-lo.[47]
Mandela declarou, diante do tribunal, que aquele era "um julgamento das aspirações do povo africano".[5]
A casa na Fazenda Liliesleaf, Rivonia, onde foram presos os companheiros de Mandela.Em sua defesa declarou-se inocente das acusações que ali se faziam - mas culpado por lutar pelos direitos humanos, por liberdade, por atacar leis injustas e na defesa de seu povo; admitiu ter feito sabotagens - algo que poderia ter omitido - desafiando o governo a enforcá-lo. Falou por quatro horas, concluindo: "Durante a minha vida, dediquei-me a essa luta do povo africano. Lutei contra a dominação branca, lutei contra a dominação negra. Acalentei o ideal de uma sociedade livre e democrática na qual as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal para o qual espero viver e realizar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer".[48]
Em 11 de junho de 1964 Mandela recebe uma pena de prisão perpétua.[6]
O prisioneiro 46664
46664, o número de Mandela, na Ilha Robben.Enviado para a prisão da Ilha Robben, lá ocupa a cela com número 466/64, que tem as dimensões reduzidas de 2,5 por 2,1 metros, e uma pequena janela de 30 cm
Na prisão ficou privado das informações do mundo exterior, pois lá não eram permitidos jornais.[49] Contudo, aprendeu a pensar a longo prazo, e procurava passar esta forma de raciocínio aos mais jovens, que cobravam dele respostas imediatistas às autoridades.[50]
A mãe de Mandela o visitara em 6 de março de 1966 e depois, no ano seguinte, em 9 de setembro; em ambas as ocasiões o filho instara sem sucesso, como também já fizera com a esposa Winnie, para que ela fosse morar na casa deles, em Joanesburgo, onde teria mais recursos de saúde do que no campo. Após esta última visita, ele teve a sensação, durante a despedida, de que era a última vez que veria a velha senhora, então com 78 anos de idade; de fato, Nosekeni Fanny veio a falecer em 26 de setembro de 1968.[51] Sua mãe se fora acreditando que o filho fosse um criminoso, pois ela nunca entendera sua luta, fato que o entristecia.[52]
A pedreira da Ilha Robben.Durante seu cárcere, segundo testemunhou Ahmed Kathrada, Mandela só perdeu a calma em duas ocasiões, quando os guardas ofenderam a moral de Winnie.[53] Ali resolveu que precisava aprender a língua e a cultura africâner, algo que seus companheiros passando a estudar o idioma e a treiná-lo com os guardas.[54]
Em 1969 um carcereiro foi até sua cela informar-lhe que seu filho mais velho, Thembi, havia morrido num acidente automobilístico.[55] No dia seguinte Mandela estava junto aos demais prisioneiros, trabalhando na pedreira: tinha que mostrar aos companheiros de cárcere e aos guardas que o drama pessoal não o tinha inutilizado.[55] Entretanto é de se observar que Thembi, apesar de morar na Cidade do Cabo, jamais fora visitar o pai na prisão, apesar da proximidade.[56] Após esta notícia, escreve em 24 de julho ao segundo filho, Makgatho, observando que ele agora era o mais velho e responsável por manter a união familiar, com a perda do irmão; insiste para que o jovem invista na educação: "As questões que hoje agitam a humanidade exigem mentes treinadas".[57]
O pequeno claustro de Mandela, na ilha Robben.Em 1976 Soweto se rebela, resultando numa feroz repressão que causa centenas de mortos; aumenta o isolamento internacional da África do Sul, a partir de então.[6]
As visitas da esposa Winnie eram raras: de 1958 até 1985 ela sofreu por vinte e quatro vezes prisões, ordens de restrição, banimento e proibições - como em 1974, onde ficou banida na vila de Brandfort. A piorar esse isolamento familiar, Mandela não teve permissão de ver suas filhas Zinzi e Zenani enquanto elas tinham de 2 a 16 anos.[58]
Em agosto de 1982 o regime assassina, com uma carta-bomba, sua companheira de lutas, Ruth First, que estava exilada em Moçambique; Mandela descreveu o momento: "...me senti quase totalmente sozinho. Perdi uma irmã, uma companheira de luta. Não é consolo saber que ela vive mesmo depois de morta."[59]
No mesmo ano Mandela foi transferido, junto a outros companheiros, para a Prisão de Pollsmor, de segurança máxima; seis anos depois foi novamente transferido, desta feita para um presídio de segurança mínima - a Prisão de Victor Verster, onde passou a morar numa cabana no complexo penitenciário.[60]
A mudança para Pollsmoor foi um avanço considerável: situado num agradável subúrbio da Cidade do Cabo, lá a família poderia visitá-lo mais facilmente. Ele e os companheiros Sisulu, Kathrada, Raymond Mhlaba e Andrew Mlangeni passaram a ocupar juntos uma imensa cela, no pátio fizeram uma horta.[61]
Enquanto isso, em 1985, o CNA empreendeu uma campanha para tornar o país ingovernável[nota 7]; o presidente Botha chegou a declarar aos seu povo que precisavam "adaptar-se ou morrer". Neste mesmo ano Mandela precisou operar da próstata e foi levado ao Hospital Volks, no Cabo. Na volta, foi conduzido pelo próprio comandante do presídio, que informou-lhe de que não mais retornaria para a cela comum, e ficaria isolado dos demais. Mandela não protestou e, segundo disse mais tarde, aproveitou o isolamento para fazer algo que iria contrariar a todos - ao CNA e os companheiros de cárcere: negociar com o governo; iria agir por conta própria, sem consultar ninguém.[61]
Escreveu então ao ministro da Justiça, Kobie Coetsee, informando sua disposição - mas teve de esperar por mais de um ano por uma resposta, que veio somente em julho de 1986: resolveu mandar um recado ao diretor, que precisava vê-lo e, uma vez na sala, disse que queria falar com o ministro. O diretor ligou ao gabinete ministerial e Mandela foi convidado a ir até a casa de Coetsee. Lá, informou que queria tratar diretamente com Pik Botha.[61]
Só depois é que teve atendido o desejo de falar aos companheiros; não pôde fazê-lo com todos ao mesmo tempo, só individualmente lhe permitiram falar; então encontrou-se primeiro com Sisulu, depois Mhlaba e Kathrada, e todos rejeitaram a ideia. Em seguida foi a vez do CNA, dirigido por Oliver Tambo no exílio, em Lusaka (Zâmbia), que lhe cobrou explicações, temeroso.[61]
Mesmo prisioneiro Mandela foi homenageado mundo afora: em junho de 1983 recebe o doutorado em Direito por seu "compromisso altruísta para com os princípios de liberdade e justiça" pelo City College de Nova Iorque; neste mesmo ano é feito cidadão honorário da cidade grega de Olímpia.[62]
Negociando a liberdade
Mandela e a nova bandeira da África do Sul: de prisioneiro a responsável pela refundação de um país.Já em 1984 o governo pressionou Winnie com a proposta de soltar Mandela e seus companheiros, desde que todos assumissem o compromisso de viverem exilados no bantustão de Umtata; da prisão ele escreveu à mulher, em tons firmes: "Você sabe perfeitamente bem que passamos essa última parte de nossa vida na prisão exatamente porque nos opomos à ideia mesma de assentamentos separados, que nos torna estrangeiros em nosso próprio país, e que permite ao governo perpetuar a opressão até os dias de hoje. Pedimos ainda que desista desse plano explosivo e esperamos sinceramente que seja a última vez que venha a nos aborrecer com isso."[63]
Sem saída, o governo se vê obrigado a negociar com o CNA, e tem em Mandela o interlocutor perfeito: distante do radicalismo de outros líderes, tem nível superior e é um aristocrata, além de saber falar o africâner.[6]
Inicialmente ele se recusa a falar com o então presidente, Pieter Willem Botha, quando este lhe oferece a saída do cárcere, pois Mandela se recusava a reconhecer os bantustões, para ele um fator que impedia a união do país. Em fevereiro de 1985 emite uma dura declaração, em que se lê: "Quem deve renunciar à violência é o Botha. Que diga que vai acabar com o apartheid".[6]
Apesar disto em novembro daquele ano tem um primeiro de uma série de encontros com o ministro da Justiça, que se repete de modo constante e esparsado. A situação não é uniforme, mesmo no CNA, onde o líder zulu Mangosuthu Buthelezi o apoia publicamente mas, por apoiar os bantustões, lhe faz oposição por trás.[6]
As eleições entre os brancos de 1987 voltam a conduzir o Partido Nacional ao poder (com 82% do eleitorado), mas apesar desse apoio ao instalador do apartheid, as negociações de Botha seguem seu curso - e Mandela é levado para fora da prisão em viagem através do país, num carro blindado, para que o conheça depois de duas décadas encarcerado; ninguém o reconhece, pois sua última foto fora publicada em 1962.[6]
Em agosto de 1988 é acometido por tuberculose e sofre a nova transferência - desta feita para uma prisão onde ocupa um bangalô, com direito a um cozinheiro particular e até com piscina; é feito principal interlocutor para o fim do regime.[6]
Em 1989 Botha o recebe em sua casa, e ambos descobrem ter muito em comum, os dois na casa dos setenta anos. Pouco tempo depois, contudo, a saúde do presidente decai, e Frederik de Klerk assume seu lugar nas negociações.[6]
Soltura
Mandela e de Klerk: os adversários se cumprimentam.Em 11 de fevereiro de 1990 Mandela finalmente é solto. Uma multidão o aclama, respondendo quando no gesto de luta ergue o punho fechado. Tem fim o longo cárcere, e ele iria depois registrar o momento: "Quando me vi no meio da multidão, alcei o punho direito e estalou um clamor. Não havia podido fazer isso desde há vinte e sete anos, e me invadiu uma sensação de alegria e de força."[6]
Os passos de Mandela ao sair da prisão de Victor Vester, atualmente renomeada para Drakenstein, foram perpetuados na sua entrada, com uma estátua em bronze de 3m de altura em que o líder aparece com o braço direito erguido e o punho fechado, inaugurada em 2008.[64]
Nos encontros públicos que então realizaram mais tarde Mandela gritava "Amandla!" ("Poder!), ao que a multidão respondia - "Awethu!" ("Para o povo!"); mas seus discursos não eram mais inflamados, e sim conciliadores, para a decepção dos setores mais radicais.[6]
As inovações que encontrou fora da prisão foram-lhe um choque; ao ter sido preso, em 1958, não havia sequer televisão no país; ficou surpreso por ser possível usar o telefone dentro de um avião - tinha que enfrentar um ritmo de vida que não conhecia.[65]
A 22 de Abril de 1991 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
Em julho de 1991 é eleito presidente do CNA, e passa a empreender viagens a vários países (inclusive ao Brasil[66]), mostrando-se desde então verdadeiro estadista.[6]
Em julho de 1992 um referendo entre os brancos dão ao governo, com mais de 68% de votos, o aval para as reformas e permitem a realização de uma futura constituinte.[6]
A refundação da África do Sul"Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor de sua pele, da sua origem ou da sua religião. Para odiar, é preciso aprender. E, se podem aprender a odiar, as pessoas também podem aprender a amar."
Mandela[67]
A eleição de Mandela foi um marco divisório na história do país, que saiu do regime draconiano para a democracia plena, elegendo o primeiro governante negro; seu governo seria para reconciliar oprimidos e opressores, uns com os outros e consigo mesmos.[5][6]
Na vida particular Winnie acabou expondo seus erros e, apesar da complacência de Mandela com sua infidelidade, ela se recusara a abandonar o namorado.[68] O casal separara-se de fato desde abril de 1992,[69] "por motivos pessoais", segundo Mandela declarou então; ainda naquele ano Winnie fora julgada pela morte de um rapaz[nota 8] e pelo desvio de verbas do time de futebol que dirigia.[nota 9][58]
Numa entrevista à revista Essence Winnie chegou a declarar que tinha um "marido desertor"[nota 10], e a matéria que então se fez aventou-se que ela tinha um romance com o advogado Dali Mpofu.[58]
Já durante 1993 e também nos anos seguintes Mandela cortejava Graça Machel, de modo secreto, pois seu divórcio somente ocorreria em 1996.[70] Mandela encontrara-se com ela em três ocasiões, e ela se apresentara discreta e educada; foi somente em Maputo, onde ela foi Ministra da Educação e Cultura por catorze anos que ele a viu de modo diferente: firme, competente e impositiva.[71]
Em 1993 ele e de Klerk são agraciados com o Prêmio Nobel da Paz.[6] Em seu discurso assinalou: "O valor deste prêmio que dividimos será e deve ser medido pela alegre paz que triunfamos, porque a humanidade comum que une negros e brancos em uma só raça humana teria dito a cada um de nós que devemos viver como as crianças do paraíso".[72]
Tensão pré-eleitoral
Mandela com Bill Clinton, nos Estados Unidos: mesmo antes de ser eleito, o líder tem postura de estadista.[6]Os dias que antecederam o pleito presidencial no final de 1993 eram bastante tensos. Por um lado grupos de extrema direita representavam ameaça constante e, por outro, no seio do próprio CNA, setores questionavam a autoridade de Mandela para conduzir o país.[73]
Foi neste contexto que o comunista Chris Hani, chefe do MK, procurava acirrar os ânimos. Uma guerra racial parecia iminente.[73]
No dia 10 de abril Mandela estava em visita à sua terra natal no Transkei quando recebeu a notícia do assassinato de Hani. Tudo levava a crer que os ânimos, já exaltados, explodissem em revoltas. Mandela, e não o presidente de Klerk, foi à televisão naquela noite, pedir calma à nação.[73]
Hani fora morto por um imigrante polonês, branco, que fora preso porque uma mulher também branca memorizou a placa do carro usado pelo criminoso. Em sua fala Mandela declarou, ressaltando: “Um homem branco, cheio de preconceito e ódio, veio ao nosso país e cometeu um ato tão hediondo que nossa nação inteira agora oscila à beira do desastre” – completando – “Uma mulher branca, de origem bôer, arriscou sua vida para que pudéssemos conhecer esse assassino e fazer justiça.” [73]
O Mandela de oratória bombástica da juventude cedera lugar ao futuro presidente da África do Sul livre e democrática, um país onde não mais nenhuma raça seria reconhecida, pois todos seriam tratados de forma igual.[73]
Winnie lançou-se candidata ao parlamento, e chegou a declarar na sua campanha, sobre Mandela, que "nosso amor um pelo outro nunca foi abalado".[nota 11][58]
A eleições ocorrem em 26 a 28 de abril de 1994. Mandela (e o CNA com suas 34 facções) obtém 62% dos votos, seguido pelo Partido Nacional (20%) e os zulus (com 10%)[6]
Mandela durante a presidênciaVer artigo principal: Governo Nelson Mandela
Mandela com o diplomata congolês Emmanuel Dungia, em 1997.Dando seguimento à proposta de proporcionar a transição para a democracia multirracial, o governo Mandela teve sua maior realização na criação da Comissão da Verdade e Reconciliação - encarregada de apurar, mas não punir, os fatos ocorridos durante o apartheid; também empenhou-se em assegurar à minoria branca um futuro no país.[7]
Para simbolizar os novos tempos adota um novo hino nacional, que mescla o hino do CNA (Nkosi Sikolele Africa - Deus bendiga a África) com o africâner (Die Stein); também uma nova bandeira é criada, unindo os símbolos das duas instituições anteriores: a bandeira oficial dos brancos, em vigor desde 1928 passou a incorporar as cores da bandeira do CNA - plasmando assim a união de todos os povos da nova nação que surgia - aprovados pela nova Constituição interina.[6]
Somente a uma pessoa Mandela demonstrava desprezo como a de Klerk - ao líder zulu Mangosuthu Buthelezi, a quem considerava um aliado perigoso, capaz de levar o país a uma guerra civil, se isto lhe conviesse. Muitos ficaram surpresos, então, quando o nomeou seu Ministro do Interior; o presidente queria manter o adversário bem próximo, sob sua vigilância - apesar de considerá-lo volúvel e indigno de confiança.[74] Também nomeara Winnie para compor o gabinete, mas a demitiu em 1995.[75]
A 20 de Novembro de 1995 foi agraciado com o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique.
No meio do mandato finalmente tem fim seu casamento de 38 anos com Winnie, com o divórcio sendo declarado em 20 de maio de 1996. Mandela acusava a esposa de cometer "infidelidade descarada"[nota 12], o que não foi contestado,[69] e que fora um "homem solitário", no casamento;[76] o advogado dela argumentou que Mandela se deixava levar pelos detratores de Winnie, ao que ele rebateu: "Eu nunca fui influenciado por aqueles que são meus inimigos." Winnie dispensou seu advogado e pediu adiamento ao juiz Frikkie Eloff, que negou-o, decretando o divórcio; a partilha ficou para depois, ela pedia a metade dos bens do casal; a opinião pública ficou dividida - entre os que esperavam uma reconciliação, chocados com o fim daquela união, e os que se diziam solidários ao presidente.[69] Foi o fim do casal-símbolo da luta antiapartheid.[76]
Ainda em maio foi aprovada a nova Constituição, para entrar em vigor a partir de fevereiro de 1997. Em março os africâneres, que haviam participado da coalizão, deixam o governo, encerrando assim a fase de transição para o novo regime.[6]
O relacionamento com Graça Machel, o segredo mais "mal guardado" do país, teve coroamento com o casamento em cerimônia privada no palácio presidencial, após a forte pressão exercida publicamente pelo arcebispo emérito Desmond Tutu, que co-celebrou o ritual presidido pelo arcebispo metodista Mvume Dandala; assistido por pequeno grupo de amigos e políticos, o enlace foi confirmado publicamente em pronunciamento do vice-presidente Thabo Mbeki. Pelo fato de ser moçambicana, Machel não teve completa aceitação do povo conservador sul-africano.[76]
Em julho de 1995 cria a Comissão da Verdade e Reconciliação sem poderes judicantes, sob presidência do arcebispo Tutu, que conclui seus trabalhos recomendando fossem processados Botha, Buthelezi e Winnie.[6]
Em julho de 1998 Mandela ordena uma intervenção militar no Lesoto, que vivia uma situação de anarquia, com saques e lutas, após eleições gerais em maio daquele ano, atitude esta considerada controversa.[77]
A 16 de junho de 1999 tem fim seu mandato,[6] e Mandela fez seu sucessor em Thabo Mbeki, então com 55 anos, um experiente deputado e seu protegido.[78]
Críticas
Winnie Madikizela, uma das principais críticas de Mandela.Dentro do CNA existia a percepção que o governo Mandela foi uma oportunidade perdida para se proceder a uma maior distribuição de renda; Mandela estaria mais preocupado com a "reconciliação" do que com reformas.[68]
Em 2010 Winnie, que havia tido seus delitos expostos em 1997 na Comissão da Verdade dirigida por Desmond Tutu,[75] atacou Mandela, dizendo que ele não foi o único que sofreu (durante o apartheid): "ele foi para a prisão como um jovem revolucionário, e olha como saiu.[nota 13] e que o ex-marido decepcionara os negros sul-africanos, mantendo-os na pobreza e fazendo os brancos ainda mais ricos, desdenhando o fato de ter ido receber o Nobel de mãos dadas com de Klerk. Concluiu, dizendo que Mandela hoje é uma corporação, destinada a sair mundo afora para arrecadar dinheiro.[79]
Para os setores capitalistas o governo Mandela manteve as expectativas do mercado, desagradando os seus aliados do CNA, e segmentos que sempre o apoiaram dos sindicatos e dos comunistas, procedendo a lentas mudanças na distribuição de renda, além de manter o país no curso democrático.[78]
Muitos no país reprovam a forma como Mandela protegeu os amigos de conduta suspeita, que tiveram rápido crescimento de suas fortunas pessoais.[6]
O renomado escritor sul-africano André Brink, contudo, faz uma leitura positiva em artigo publicado logo ao fim do mandato, e coloca Mandela como o maior nome do século XX; comparando-o a outros expoentes - como Gandhi ou Martin Luther King Jr., acentua que esses morreram sem que tivessem ocasião de experimentar o exercício do poder; outros, como Eisenhower ou Churchill, que se destacaram em momentos de guerra, não o fizeram durante a paz. Apesar dos erros, como a invasão do Lesoto de 1998, o recrudescimento do racismo (de brancos e de negros), a corrupção e outros, ele deve ser visto como a pessoa que realmente conseguiu irmanar a todos, a ponto de tornar-se um ícone sagrado para o mundo.[5]
Aposentadoria e saúde
Graça Machel e Mandela, numa visita de Sri Chinmoy em 2011.Quando deixou a presidência, Mandela declarou que iria partir para uma tranquila aposentadoria.[80]
Em 2001 a próstata voltou a lhe dar problemas, desta feita sendo diagnosticado um câncer; tem início o tratamento.[72] No ano seguinte, ao ver a forma equivocada pela qual seu sucessor, Mbeki, tratava o avanço da epidemia de AIDS no país, deixa a tranquilidade da vida familiar para se manifestar publicamente, contrariando o presidente, que se negava a distribuir os remédios antivirais por não aceitar uma ligação entre o vírus HIV e a doença.[80] Mandela chegou a declarar publicamente que tivera três parentes vítimas da AIDS, e abraçou publicamente Zackie Achmat, um aidético.[81]
Em 2002, com a iminência da Invasão do Iraque, Mandela resolveu agir e tentou, sem sucesso, contatar o presidente estadunidense George W. Bush, mesmo recorrendo à intercessão de seu pai, ou dos assessores Condoleezza Rice ou Colin Powell; a partir de então passou a criticar as pretensões dos Estados Unidos em se tornarem "polícia do mundo", e o primeiro-ministro britânico Tony Blair de ter-se transformado num Ministro do Exterior dos Estados Unidos. Numa outra frente, também procurou contatar o ditador Saddam Hussein, mas este se encontrava sem querer revelar sua localização; apesar disto, Mandela criticou o ditador iraquiano, minimizando o embaraço com os dois países.[81]
Em 2003 Winnie e seu secretário Addy Moolman foram condenados a cinco anos de prisão, culpados em 43 de 58 acusações de fraude e roubo em razão de empréstimos bancários que nunca foram pagos.[82]
Quando completou 85 anos, em 2004, Mandela disse que iria se aposentar.[72] Em 6 de janeiro do ano seguinte morreu seu segundo filho - Makgatho, com pouco mais de 50 anos, mais uma vítima da AIDS na família.[83]
Ainda em 2000 Mandela foi procurado pelo milionário britânico Richard Branson e pelo músico e ativista Peter Gabriel para a criação de uma entidade que viesse a congregar estadistas de renome que não estejam mais ativos em suas funções públicas, com o objetivo colaborar na solução de problemas mundiais; em 18 de julho de 2007, data do octogésimo nono aniversário de Mandela, em Joanesburgo, foi fundada a organização The Elders, em cerimônia presidida pelo arcebispo Tutu; Mandela, por motivos de saúde, não pôde estar presente.[84]
Em 2011, estava em férias na Cidade do Cabo quando foi internado, segundo nota do CNA, para "exames de rotina".[85] Tivera uma infecção respiratória aguda e ficou internado cerca de 48 horas no Milpark, em Joanesburgo, de onde saiu para continuar o tratamento em casa. Sua internação causara grande comoção, forçando o presidente Jacob Zuma, que se encontrava na Suíça, a pronunciar-se pedindo calma à população.[86]
Em fevereiro de 2012 nova internação, desta vez por sentir fortes dores abdominais. Mandela voltou a residir em Qunu, sua terra natal, em julho de 2011, e teve de ser levado a Joanesburgo para exames.[87]
A tragédia na Copa
O Soccer City, na noite de abertura do Mundial 2010.A realização da primeira Copa do Mundo de futebol no continente africano criou uma grande expectativa da aparição do nonagenário Mandela na cerimônia de abertura do evento, como o grande anfitrião do país-sede.[88].[89]
A imprensa mundial, cobrindo em peso o evento, teria no líder e na festa a imagem que selaria de forma definitiva o surgimento da nova era na África do Sul, e o esquecimento dos tempos difíceis.[89]
A Seleção, apelidada de “Bafana-Bafana” pelos torcedores, há alguns anos vinha sendo treinada pelos técnicos brasileiros Joel Santana e Carlos Alberto Parreira, e deixara a condição de equipe frágil para alimentar a esperança de classificar-se para as fases seguintes do torneio, depois de jogar a partida de abertura contra o México, no mesmo Soccer City, o estádio onde Mandela fizera seu principal discurso após a libertação.[89]
Mandela estivera presente na cerimônia de escolha do país-sede, em Zurique, quase sete anos antes, e segurou a taça do mundo quando a África do Sul fora confirmada.[90] Até a véspera do grande dia especulava-se sobre a presença ou não de Mandela, que foi assegurada pelo seu neto, Mandla “Chief” Mandela.[91]
Contudo, na manhã da sexta-feira, dia 11 de junho de 2010, a bisneta de Mandela, Zenani, veio a falecer, vítima num acidente automobilístico; a garota de apenas 13 anos de idade retornava de um show em comemoração à Copa, em Soweto, quando o veículo acidentou-se. Foi a única vítima fatal. Com o luto o líder deixou de comparecer.[92] Uma nota oficial, publicada por sua fundação, justificou sua ausência: “Mandela soube da trágica morte de Zenani nesta manhã. Assim, não seria apropriado que ele comparecesse pessoalmente à cerimônia. Sabemos que o povo sul-africano e as pessoas do resto do mundo serão solidárias com o senhor Mandela e sua família. Madiba estará com vocês, mas em espírito.”[93] O funeral de Zenani foi a última aparição pública de Mandela durante o desenrolar do campeonato.[94]
A competição seguiu e, mesmo com a eliminação da seleção dos “Bafana”, sua presença na partida final era esperada. O Presidente da FIFA, Joseph Blatter declarou, em 8 de julho, que “Esperamos que ele possa aparecer, mas ninguém pode dizer se ele conseguirá ficar até o fim do jogo”;[90] o neto Mandla, contudo, queixou-se publicamente da pressão que a entidade estava fazendo sobre a família para que Mandela lá estivesse: “Estamos sofrendo intensa pressão da Fifa pedindo que meu avô vá ao jogo. Mas a decisão é só dele. Depende de como ele acordar e de como se sentir pela manhã. Meu avô fará 92 anos na semana que vem, e o jogo acontecerá à noite. Eles querem que ele entregue o troféu ao campeão depois da partida, o que pode acontecer depois das 23 horas. Seria exigir muito dele.”[94]
No começo da gélida noite de domingo da final da copa, às 19h 13, o locutor anunciou a entrada de Mandela no gramado; ladeado pela esposa Graça Machel e sentados num carrinho elétrico, ele acenou para o público numa aparição que durou 3 minutos; contrariando a expectativa de Joseph Blatter de que ele deveria entregar a taça ao campeão, Mandela despediu-se do dirigente na entrada dos vestiários, com seu sorriso "inimitável".[95]
Até fevereiro de 2012 esta foi a última aparição pública do líder.[87]
Homenagens
Estátua de Nelson Mandela em Londres.Mandela é homenageado por todo o mundo, de diversas maneiras e de seguida estão listados alguns prémios e condecorações, para além do Nobel.
A Índia concedeu-lhe sua mais alta condecoração, em 1990, com o prêmio Bharat Ratna.[96] Em 1993 foi o primeiro agraciado com o Prêmio Fullbright,[97] em reconhecimento ao seu papel no entendimento entre os povos, recebendo 50 mil dólares.[98]
Sobre uma estátua sua, a ex-mulher Winnie declarou: "Eles puseram uma enorme estátua dele bem no meio de uma importante área branca de Joanesburgo. Não aqui [em Soweto] onde derramamos nosso sangue."[nota 14][79]
Outras formas de homenagem também se fizeram: recebeu a Ordem de St. John, da rainha Isabel II, a Medalha presidencial da Liberdade de George W. Bush; em 2001 tornou-se cidadão honorário do Canadá e também um dos poucos líderes estrangeiros a receber a Ordem do Canadá.[99]
Em 2003 deu apoio à campanha de arrecadação de fundos contra a AIDS chamada 46664 - número que lembra a sua matrícula prisional.[99]
Em novembro de 2006 foi premiado pela Anistia Internacional com o prêmio Embaixador de Consciência em reconhecimento à liderança na luta pela proteção e promoção dos direitos humanos.[99]
Em junho de 2008 foi realizado um grande show em Londres em homenagem aos seus 90 anos, onde participaram vários cantores mundialmente conhecidos.[100]
Em fevereiro de 2012 o Banco Central da África do Sul anunciou, numa coletiva de imprensa capitaneada pelo presidente do país Jacob Zuma, e a diretora do Banco Gill Marcus, que a efígie de Mandela irá ilustrar todas as cédulas de Rand. Na data Zuma frisou: "Com este modesto gesto, queremos expressar nossa gratidão (...). Estas notas permitirão que nos recordemos do que conquistamos ao tentar alcançar uma sociedade mais próspera".[101]
Impacto culturalA vida de Nelson Mandela ensejou a produção de inúmeros filmes, livros, documentários.
Sua imagem, por exemplo, foi indevidamente usada pelo Partido dos Trabalhadores do Brasil, para exaltar a futura candidata Dilma Rousseff, então ministra, na eleição presidencial de 2010, sendo então denunciado pelo procurador-geral Roberto Gurgel, que declarou à época: "No esforço para exaltar seu nome, valeu até a comparação com o líder sul-africano Nelson Mandela".[102]
De quadrinhos a filmes, Mandela enseja uma farta produção cultural.FilmesDentre os filmes que tratam diretamente de Nelson Mandela tem-se:
Mandela: Son of Africa, Father of a Nation (Island Pictures, Joanesburgo, 1995[103]), documentário de Jonathan Demme nomeado ao Oscar.[104]
Invictus, é um tributo a Mandela, feito por Clint Eastwood, em 2010; o ator Morgan Freeman interpreta-o, num elenco que também conta com Matt Damon, e fala do momento de união nacional proporcionado pela final do campeonato mundial de rúgbi de 1995.[105]
Reconciliação: o Milagre de Mandela[nota 15], documentário de 2010 de Michael Henry Wilson, que retrata a transição para o fim do apartheid.[106]
Goodbye Bafana, obra do diretor dinamarquês Bille August, de 2007, conta a vida do carcereiro James Gregory que, por saber falar xhosa, fora encarregado pelo regime de espionar Mandela na prisão.[107]
Terrorist Nelson Mandela, de Peter Kosminsky, procura retratar como se processou a mudança do jovem Mandela chefe do MK, para se tornar o líder que permitiu a transição pacífica na África do Sul.[108]
Remember Mandela! (Villon Films, Vancouver, 1998)[103]
Madiba: The Life and Times of Nelson Mandela (CBC, Canadá, 2004)[103]
BibliografiaInúmeras obras retratam a biografia do líder,[109] algumas versando somente sobre certos períodos de sua vida. Dentre as principais publicadas contam-se:
Longo Caminho para a Liberdade (Long Walk to Freedom), autobiografia (colaboração de Richard Stengel)[110]
Mandela: The Authorized Portrait, de Mike Nicol, uma obra que aparenta ser hagiográfica pois se inicia com depoimentos elogiosos feitos por Bill Clinton, Desmond Tutu, Tony Blair, Sidney Poitier e Bono mas que, contudo, expõe nuances e momentos verdadeiramente marcantes da vida do líder, que se confunde com a história da nação.[111]
Young Mandela,[nota 16] por David James Smith, publicado em 2010, revela aspectos negativos da sua vida; nela levanta a hipótese de que teria batido na primeira mulher, Evelyn - além de praticar adultério, tendo ao menos um filho fora do casamento; conta que seu primeiro filho, morto em acidente, nunca o visitou na prisão, apesar de morar na Cidade do Cabo; fala de como Mandela, morando em casa de um amigo comunista - Arthur Goldreich - que tomava aulas de equitação, enquanto ele disfarçava-se de jardineiro em sua rica fazenda (chamada de Liliesleaf Farm) - não diminui contudo a grandiosidade do líder.[56]
Conversas que tive comigo (vide referências),[nota 17] relatos autobiográficos selecionados pela Fundação Nelson Mandela, também de 2010, traz inúmeras anotações feitas pelo ex-presidente sul-africano, especialmente feitas durante seu período na prisão da Ilha Robben, alguns trechos de entrevistas, em que atua como ghost-writer seu biógrafo anterior, Richard Stengel.[109] O livro é prefaciado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e dedicado à sua bisneta recém-falecida, Zenani Zanethemba Nomasonto Mandela.[112] Aborda momentos pessoais e traz algumas revelações verdadeiramente surpreendentes, como a imagem de Garfield no bloco pessoal de notas de Mandela.[109]
Mandela: A Critical Life, por Tom Lodge, um cientista político sul-africano, que procura traçar um retrato do líder distante dos relatos "santificadores", aproximando-o mais da figura humana com erros e acertos; nesta obra dá destaque como sua personalidade foi moldada sobre preceitos vitorianos, pela ética cavalariana e a criação na sociedade real do Transkei - traçando uma ligação clara entre o jovem impetuoso e o veterano que sai da prisão, sem pontos repentinos de mudança.[111]
Outras biografias: "Nelson Mandela: a biography" (Peter Limb - 2008 - 144 páginas)[103]; "Nelson Mandela" (Coleen Degnan-Veness, 2007)[32]; "The Early Life of Rolihlahla Madiba Nelson Mandela" (Jean Guiloineau, Bekerley, North Atlantic Books, 1998)[103]
Quadrinhos e cartuns
Em 28 de outubro de 2005 a Fundação Nelson Mandela editou uma série de revistas em quadrinhos em nove volumes, contando a vida do líder, para distribuição gratuita nas escolas.[113]
"The Mandela Files", coleção de cartuns feitos por Zapiro (pseudônimo do cartunista Jonathan Shapiro, 2009)[114]
"The Madiba Legacy Series", série com coletâneas de cartuns sobre Mandela (Fundação Nelson Mandela, Joanesburgo, 2005-2006)[103]
Cronologia de Mandela (1918 – 2010)[Expandir]
Notas1.↑ Livre tradução para "was a place apart, a tiny precinct removed from the world of great events, where live was lived much as it had been for hundreds of years."
2.↑ Uma livre tradução para: "he who pulls up the branch of a tree".
3.↑ Diversos livros, como o de Coleen Degnan-Veness (vide referências) trazem uma fotografia em que Mandela aparece ao lado de Batshaka Cele, uma parenta de sua segunda esposa (Winnie), como sendo Evelyn, o que ensejou um desmentido oficial de sua Fundação.[34]
4.↑ Dentre as obras que mais o influenciaram estavam “A Revolta”, de Menahen Begin, “Estrela Vermelha sobre a China”, de Edgar Snow; leu as obras de Mao Tsé-Tung, de Clausewitz, Deneys, sobre a resistência francesa aos nazis, sobre Filipinas, etc. [43]
5.↑ Mandela visitou Londres, Tanzânia, Etiópia, Egito, Tunísia, Marrocos, Mali, Guiné, Serra Leoa, Libéria, Gana e Senegal nos primeiros meses de 1962.[32]
6.↑ Embora de propriedade do industrial, arquiteto e artista comunista Arthur Goldreich, Liliesleaf estava formalmente registrada em nome de outra militante comunista, Vivian Ezra.[11]
7.↑ A política terrorista do CNA conhece um crescimento a partir de 1985; aumentam os atentados com carros-bomba e os confrontos nos subúrbios; de setembro de 1984 a dezembro de 1985 ocorrem 700 mortes e neste último ano somaram-se mais de duas centenas de atentados, tornando difícil ao governo o controle da situação interna do país.[6]
8.↑ Segundo declarou anos depois, na Comissão da Verdade e Reconciliação o assassino, integrante do time de futebol de Winnie declarou que matara o rapaz, chamado Seipei, a mando dela.[6]
9.↑ O Mandela Futebol Clube, verdadeira milícia particular de Winnie.[6]
10.↑ "deserting husband, no original
11.↑ Livre tradução para: "Our love for each other has never been dented".
12.↑ "brazen infidelity", no original.
13.↑ Livre tradução para: Mandela did go to prison and he went in there as a young revolutionary but look what came out.
14.↑ Livre tradução para: They put that huge statue of him right in the middle of the most affluent white area of Johannesburg. Not here [in Soweto] where we spilled our blood.
15.↑ O documentário teve título original "Reconciliation: Mandela's Miracle"
16.↑ ”Jovem Mandela”, em livre tradução
17.↑ Título da edição em português do Brasil; o original em inglês traz o título “Conversations with Myself”
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11.↑ a b c d e Kenneth S. Broun. Saving Nelson Mandela: The Rivonia Trial and the Fate of South Africa. [S.l.]: Oxford University Press, 2012. 232 p. ISBN 0199740224. Página visitada em fevereiro de 2012.
12.↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q Mac Maharaj, Ahmad M. Kathrada (org.). Mandela: the authorized portrait. [S.l.]: Andrews McMeel Publishing, 2006. p. 20. ISBN 0740755722
13.↑ a b c d e f g h i j k Mandela (2010), op. cit., Apêndice A: Cronologia, págs. 384-387
14.↑ a b c d Mandela (2010), op. cit., Apêndice B, pág. 388 e 389
15.↑ Stengel (2011), op. cit., pág. 79-80
16.↑ Mandela (2010), op. cit., pág. 341
17.↑ a b c d e f g h i j k Richard Stengel (tradução: Douglas Kim). Os Caminhos de Mandela: lições de vida, amor e coragem. [S.l.]: Editora Globo S.A., 2010 (5ª reimpressão, 2011). p. 31-41 (Cap. I: Coragem não é ausência de medo). ISBN 9788525046086
18.↑ a b André Brink, Henry Russell. Let freedom reign: the words of Nelson Mandela. [S.l.]: Interlink Books, 2010. p. 10. ISBN 1566568005
19.↑ Stengel (2011), op. cit., pág. 50
20.↑ Mandela (2010), op. cit., pág. 227
21.↑ Nelson Mandela's Leadership Lessons. [S.l.]: New Word City, 2010. ISBN 1936529653
22.↑ a b c d Stengel (2011), op. cit., pág. 180-194
23.↑ South African History Online. Timeline: Nelson Mandela 1930 - 1939 (em inglês). SAHO. Página visitada em 4 de março de 2012.
24.↑ Mandela (2010), op. cit., pág. 46.
25.↑ a b c d e f g Stengel (2011), op. cit., pág. 108-109
26.↑ a b Stengel (2011), op. cit., pág. 90
27.↑ Mandela (2010), op. cit., pág. 50
28.↑ Mandela (2010), op. cit., pág. 45
29.↑ Stengel (2010), op. cit., pág. 181; na época Mandela contava em suas leituras autores como Jane Austen.
30.↑ Stengel (2011), op. cit., pág. 95
31.↑ Mandela (2010), op. cit., págs. 55-57
32.↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r Coleen Degnan-Veness. Nelson Mandela. [S.l.]: Pearson Educational / Penguin Books, 2007. 45 p. ISBN 9781405852098
33.↑ Stengel (2011), op. cit., pág. 107
34.↑ Nelson Mandela corrects identity of woman in photograph. Centro de Memória Nelson Mandela (27 de fevereiro de 2008). Página visitada em 2 de março de 2012.
35.↑ a b Mandela (2010), op. cit., pág. 51
36.↑ a b Mandela (2010), op. cit., pág. 67-68
37.↑ Mandela (2010), op. cit., pág. 336
38.↑ a b CNA. Nelson Rolihlahla Mandela - biografia. anc.org.za. Página visitada em 4 de março de 2012.
39.↑ Mandela (2010), op. cit., pág. 88.
40.↑ Mandela (2010), op. cit., pág. 80-81
41.↑ Mandela (2010), op. cit., pág. 90
42.↑ Mandela (2010), op. cit. pág. 411
43.↑ a b c d e f g Mandela (2010), op. cit., pág. 99-116
44.↑ Mandela (2010), op. cit., pág. 69
45.↑ South Africa: The Black Pimpernel (em inglês). The Time (17 de agosto de 1962). Página visitada em 3 de março de 2012.
46.↑ Stengel (2011), op. cit., pág. 31
47.↑ a b Auto-retrato de Mandela. Revista Veja (outubro de 1962). Página visitada em janeiro de 2012.
48.↑ Stengel (2011), op. cit., pág. 61.
49.↑ Stengel (2011), op. cit., pág. 189.
50.↑ Stengel (2011), op. cit., pág. 170-171.
51.↑ Mandela (2010), op. cit., pág. 161 e 171-172 (Carta a Irene Buthelezi, de 3 de agosto de 1969).
52.↑ Stengel (2011), op. cit., pág. 174
53.↑ Stengel (2011), op. cit., pág. 45
54.↑ Stengel (2011), op. cit., pág. 140.
55.↑ a b Stengel (2011), op. cit., pág. 39-40
56.↑ a b Justin Cartwright (20 de junho de 2010). Young Mandela by David James Smith (em inglês). The Observer. Página visitada em março de 2012.
57.↑ Mandela (2010), op. cit., pág. 173
58.↑ a b c d Mary Ann French (30 de abril de 1994). The Resurrected Winnie Mandela. The Washington Post, pág. G01. Página visitada em 6 de março de 2012.
59.↑ Mandela (2010), op. cit., pág. 314
60.↑ Mandela (2010), op. cit., pág. 408.
61.↑ a b c d Stengel (2011), op. cit., pág. 65 a 71.
62.↑ Mandela (2010), op. cit., pág. 271-272
63.↑ Mandela (2010), op. cit., pág. 66 (Carta a Winnie Mandela, em 27 de dezembro de 1984)
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70.↑ Stengel (2011), op. cit., pág. 194
71.↑ Mandela (2010), op. cit., pág. 320
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73.↑ a b c d e Stengel (2011), op. cit., pág. 46-56
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Página oficial da Nelson Mandela Foundation (em inglês)
Perfil no sítio oficial do Nobel da Paz 1993 (em inglês)
Página de Mandela no sítio oficial do CNA (em inglês)
Biografia completa, pelo Washington Post (em inglês)
Internacional: O que se pode esperar de Mandela?
Precedido por
Rigoberta Menchú Tum Nobel da Paz
1993
com Frederik Willem de Klerk Sucedido por
Yasser Arafat, Shimon Peres e Yitzhak Rabin
[Expandir]v • ePrêmio Lenin da Paz
Década de 1950 1950: Frédéric Joliot-Curie - Soong Ching-ling - Hewlett Johnson - Eugénie Cotton - Arthur Moulton - Pak Chong Ae - Heriberto Jara Corona • 1951: Guo Moruo - Monica Felton - Oyama Ikuo - Pietro Nenni - Anna Seghers - Jorge Amado • 1952: Johannes Becher - Eliza Branco - Ilya Ehrenburg - James Gareth Endicott - Yves Farge - Saifuddin Kitchlew - Paul Robeson • 1953: Andrea Andreen - John Desmond Bernal - Isabelle Blume - Howard Fast - Andrew Gaggiero - Leon Kruczkowski - Pablo Neruda - Nina Vasilevna Popova - Sahib-singh Sokhey - Pierre Cot • 1954: Alain Le Léap - Baldomero Sanincano - Prijono - Bertolt Brecht - André Bonnard - Thakin Kodaw Hmaing - Felix Iversen - Nicolás Guillén - Denis Nowell Pritt • 1955: Lázaro Cárdenas - Mohammed Al-Ashmar - Joseph Wirth - Ton Duc Thang - Akiko Seki - Ragnar Forbeck • 1957: Louis Aragon - Emmanuel d'Astier - Heinrich Brandweiner - Danilo Dolci - Maria Rosa Oliver - Chandrasekhara Venkata Raman - Udakandawala Saranankara Thero - Nikolay Semenovich Tikhonov • 1958: Josef Lukl Hromádka - Artur Lundkvist - Louis Saillant - Kaoru Yasui - Arnold Zweig • 1959: Otto Buchwitz - William Edward Burghardt Du Bois - Nikita Khrushchov - Ivor Montagu - Kostas Varnalis
Década de 1960 1960: Laurent Casanova - Cyrus Eaton - Sukarno • 1961: Fidel Castro - Ostap Dlussky - William Morrow - Rameshvari Neru - Mihail Sadoveanu - Antoine Tabet - Ahmed Sékou Touré • 1962: István Dobi - Olga Poblete de Espinosa - Faiz Ahmed Faiz - Kwame Nkrumah - Pablo Picasso - Georgi Traikov - Manolis Glezos • 1963: Oscar Niemeyer • 1964: Dolores Ibárruri - Rafael Alberti - Aruna Asaf Ali - Kaoru Ota • 1965: Miguel Ángel Asturias - Mirjam Vire-Tuominen - Peter Ayodele Curtis Joseph - Giacomo Manzù - Jamtsarangiyn Sambuu • 1966: Herbert Warnke - Rockwell Kent - Ivan Málek - Martin Niemöller - David Siqueiros - Bram Fischer • 1967: Joris Ivens - Nguyen Thi Dinh - Jorge Zalamea - Romes Chandra - Endre Sík - Jean Effel • 1968-1969: Akira Iwai - Jarosław Iwaszkiewicz - Khaled Mohieddin - Linus Pauling - Shafie Ahmed el Sheikh - Bertil Svahnstrom - Ludvík Svoboda
Década de 1970 1970-1971: Eric Henry Stoneley Burhop - Ernst Busch - Tsola Dragoicheva - Renato Guttuso - Kamal Jumblatt - Alfredo Varela • 1972: James Aldridge - Salvador Allende - Leonid Brejnev - Enrique Pastorino • 1973-1974: Luis Corvalán - Raymond Goor - Jeanne Martin-Cissé • 1975-1976: Hortensia Bussi de Allende - János Kádár - Seán MacBride - Samora Machel - Agostinho Neto - Yannis Ritsos • 1977-1978: Kurt Bachmann - Freda Yetta Brown - Angela Davis - Vilma Espín Guillois - Kumara Padma Sivasankara Menon - Halina Skibniewska • 1979: Hervé Bazin - Lê Duẩn - Urho Kekkonen - Abd al-Rahman al-Sharqawi - Miguel Otero Silva
Década de 1980 1980-1982: Mahmoud Darwish - John Morgan - Líber Seregni - Míkis Theodorákis • 1983-1984: Indira Gandhi - Jean-Marie Léger - Eva Palmer - Nguyễn Hữu Thọ - Luis Vidales - Joseph Weber - Charilaos Florakis • 1985-1986: Miguel d'Escoto - Dorothy Hodgkin - Herbert Mies - Julius Nyerere - Petr Tanchev • 1986-1987: Evan Litwack
Década de 1990 1990: Nelson Mandela
[Expandir]v • ePrêmio Félix Houphouët-Boigny da Paz (1991–2008)
1991 — 2008 1991: Nelson Mandela e Frederik Willem de Klerk, 1992: Academia de Direito Internacional de Haia, 1993: Yitzhak Rabin, Shimon Peres e Yasser Arafat, 1994: Rei Juan Carlos I e Jimmy Carter, 1995: Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados e Sadako Ogata, 1996: Álvaro Enrique Arzú Irigoyen e Rolando Morán, 1997: Fidel Valdez Ramos e Nur Misuari, 1998: Sheikh Hasina e George J. Mitchell, 1999: Comunidade de Sant'Egidio, 2000: Mary Robinson, 2002: Kay Rala Xanana Gusmão, 2003: Roger Etchegaray e Mustafá Cerić, 2005: Abdoulaye Wade, 2007: Martti Ahtisaari, 2008: Luiz Inácio Lula da Silva
[Expandir]v • eNobel da Paz (1901–2012)
1901 — 1925 Henri Dunant e Frédéric Passy • Élie Ducommun e Charles Albert Gobat • William Randal Cremer • IDI • Bertha von Suttner • Theodore Roosevelt • Ernesto Teodoro Moneta e Louis Renault • Klas Pontus Arnoldson e Fredrik Bajer • Auguste Marie François Beernaert e Estournelles de Constant • Gabinete Internacional Permanente para a Paz • Tobias Michael Carel Asser e Alfred Hermann Fried • Elihu Root • Henri La Fontaine • Comitê Internacional da Cruz Vermelha • Thomas Woodrow Wilson • Léon Victor Auguste Bourgeois • Karl Hjalmar Branting e Christian Lous Lange • Fridtjof Nansen • Austen Chamberlain e Charles Gates Dawes
1925 — 1950 Aristide Briand e Gustav Stresemann • Ferdinand Édouard Buisson e Ludwig Quidde • Frank Billings Kellogg • Nathan Söderblom • Jane Addams e Nicholas Murray Butler • Ralph Norman Angell Lane • Arthur Henderson • Carl von Ossietzky • Carlos Saavedra Lamas • Robert Cecil • Comitê Internacional Nansen para os Refugiados • Comitê Internacional da Cruz Vermelha • Cordell Hull • Emily Greene Balch e John Raleigh Mott • Conselho da Sociedade dos Amigos e Comitê Americano da Sociedade dos Amigos • John Boyd Orr • Ralph Johnson Bunche
1951 — 1975 Léon Jouhaux • Albert Schweitzer • George Marshall • ACNUR • Lester Bowles Pearson • Dominique Pire • Philip Noel-Baker • Albert Lutuli • Dag Hammarskjöld • Linus Pauling • Comitê Internacional da Cruz Vermelha e Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho • Martin Luther King Jr. • UNICEF • René Cassin • Organização Internacional do Trabalho • Norman Borlaug • Willy Brandt • Henry Kissinger e Lê Đức Thọ • Seán MacBride e Eisaku Sato • Andrei Sakharov
1976 — 2000 Betty Williams e Mairead Corrigan • Anistia Internacional • Anwar Al Sadat e Menachem Begin • Madre Teresa de Calcutá • Adolfo Pérez Esquivel • ACNUR • Alva Reimer Myrdal e Alfonso García Robles • Lech Wałęsa • Desmond Tutu • Médicos Internacionais para a Prevenção da Guerra Nuclear • Elie Wiesel • Óscar Arias • Forças de manutenção da paz das Nações Unidas • Tenzin Gyatso • Mikhail Gorbachev • Aung San Suu Kyi • Rigoberta Menchú • Nelson Mandela e Frederik Willem de Klerk • Yasser Arafat, Shimon Peres e Yitzhak Rabin • Joseph Rotblat e Conferências Pugwash sobre Ciência e Negócios Mundiais • D. Ximenes Belo e José Ramos-Horta • Campanha Internacional para a Eliminação de Minas e Jody Williams • John Hume e David Trimble • Médicos sem Fronteiras • Kim Dae-jung
2001 — 2012 Organização das Nações Unidas e Kofi Annan • Jimmy Carter • Shirin Ebadi • Wangari Maathai • AIEA e Mohamed ElBaradei • Muhammad Yunus e Banco Grameen • Al Gore e IPCC • Martti Ahtisaari • Barack Obama • Liu Xiaobo • Ellen Johnson-Sirleaf, Leymah Gbowee e Tawakel Karman • União Europeia
[Expandir]v • eChefe de estado da África do Sul (1961–2012)
Presidentes de Estado (1961-1994) Charles Robert Swart • Theophilus Ebenhaezer Dönges • Jozua François Naudé • Jacobus Johannes Fouché • Johannes de Klerk • Nicolaas Johannes Diederichs • Marais Viljoen • Balthazar Johannes Vorster • Marais Viljoen • Eleição Pieter Willem Botha • Jan Christian Heunis • Pieter Willem Botha • Frederik Willem de Klerk
Presidentes (desde 1994) Nelson Mandela • Thabo Mbeki • Kgalema Motlanthe • Jacob Zuma
Portal da África Portal da África do Sul Portal da política Portal dos direitos humanos
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