sábado, 29 de janeiro de 2011

8370 - REUNIFICAÇÃO ALEMÃ

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Reunificação alemã: 18 anos depois, o desafio continua
Carla enviou em 03/10/2008 00:43 | popular em 04/10/2008 13:00

A Alemanha atual ainda enfrenta os desafios do pós-reunificação de 1990 e a expectativa de integrar os cidadãos sob um mesmo regime e anseios.

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O que acontece quando dois mundos se encontram? Essa pode ser a pergunta feita numa tentativa de entender a Reunificação da Alemanha. Em 03 de outubro de 1990, a RDA (Alemanha Oriental) era incorporada pela RFA (Alemanha Ocidental) e o socialismo real era devorado pela chegada do capitalismo. Mas se por um lado a unificação exigia rapidez para se consolidar, na mesma proporção foi ineficaz na tentativa de equiparar dois mundos com valores e desejos distintos.





De uma forma bem humorada e inteligente o filme Adeus Lênin trouxe elementos desse choque coletivo. O sonho de reaver laços separados pelo Muro de Berlim se transformou no fim das ilusões para o jovem protagonista que reencontra seu pai, metáfora de outros sonhos roubados. Desde o Bloqueio de Berlim, em 1948, ambos os lados da Alemanha dividida propagandearam as vantagens de seu modo de vida e a Reunificação de alguma forma parecia significar o melhor de dois mundos. Ilusão desfeita, 18 anos depois, o resultado é o descontentamento de ambos os lados. A nova Alemanha não dá conta de igualar seus cidadãos.



O índice de desemprego no lado oriental é quase o dobro que o do lado ocidental e a emergência de grupos neonazistas é a ponta de uma grave crise social que desponta em questões identitárias. O 1,3 trilhão de euros investidos nos primeiros 15 anos após a reunificação não foram capazes de fazer surgir um moderno parque industrial no território da antiga RDA. Ao mesmo tempo o alto grau de escolaridade da população daquele território provocou um fluxo migratório para o oeste, em busca de empregos que atendessem vontades de consumo refreadas por décadas.



O Estado de bem estar social alemão, propalado como a vitória da justiça social dentro do capitalismo no pós-guerra, não resistiu à demanda de assistência que a nova população exigiu. Ainda nesse sentido, o Pacto de Solidariedade – que retira parte da renda dos trabalhadores do oeste para financiar obras de infra-estrutura no leste e que vigorará até o fim de 2019 – tem sido duramente criticado por ter seus investimentos desviados para cobrir rombos orçamentários dos estados. A população da parte ocidental se sente duplamente penalizada ao ver que, além de sua organização estatal ter ruído, ainda financia o consumo no lado oriental.



Sob outro olhar, é importante perceber que a antiga RDA ainda não se sustenta dentro da nova Alemanha. A renda média é 36% inferior ao total do país e a capacidade de atração de indústrias quase nula, considerando-se o perfil agrícola das regiões. Os altos investimentos na produção de alimentos pela União Européia garantiram avanços no setor, o que ironicamente diminuiu a necessidade de mão de obra devido à mecanização.


Apesar de todos os problemas, apenas 6% dos alemães se declaram a favor da divisão dos dois territórios em Estados Nacionais. E se entre os moradores do leste a porcentagem dos que se dizem satisfeitos com a unificação supera os 91%, no oeste, onde há o maior número de grupos descontentes, o número beira a respeitosa casa dos 82%, segundo os dados do Instituto Forschungsgruppe Wahlen para rede pública de televisão ZDF.



Se a “Ostalgie” – termo que pode ser traduzido como Nostalgia do Leste Comunista – é a última moda na Alemanha, produzindo uma estética juvenil, é apenas metáfora para os desagrados de quem quis crer que teria o melhor dos dois mundos. O choque ainda toca as novas gerações, que talvez tentando recompor uma identidade comum, usem como souvenir as memórias que restaram do socialismo real, sem desejar o controle estatal de antes, mas almejando os benefícios de entregar ao coletivo social suas necessidades.



Carla Menegat - editora do Dos crimes, bordados e vaidades


Comentários (6) Quem votou (54) Comentários (6) Quem votou (54)
Pablo Melo
(dihitt.com.br)

comentou em 03/10/2008 12:46
Creio que o problema é mais complexo. As cidades são reflexo da cultura da população, não o inverso.

Não basta investir nas cidades e tentar forçar a "coisa" funcionar no "tranco". Tem que primeiro mudar a cabeça das pessoas. Aqueles que viveram por décadas sob o socialismo acham que depender do governo e terceiros está no DNA.

Outro ponto importante é que não basta ajudar. Tem que fazer o "ajudado" não sentir que está recebendo esmola e ter uma identidade própria. Carla Menegat
(doscrimesbordadosvaidades.blogspot.com)

comentou em 03/10/2008 15:00
Oi Pablo,

Concordo que o elemento cultural pesa muito no caso da Alemanha Oriental, mas ele não se reflete no caso exemplar dos que migram/migraram para o Oeste em busca de emprego.

Há ainda um outro dado a se pensar nessa questão dos que viveram no socialismo real. Todos tinham emprego na economia estatal, em tese, todos produziam. Claro que era uma economia fechada, que apenas atendia à demanda estabelecida pelo Estado, e portanto, trabalhava-se menos que numa economia de mercado. Mesmo assim, todos tinham um emprego. O Estado não ajudava essas pessoas, elas recebiam isso como paga do seu trabalho. Acho que isso vem ao encontro do que tu disse no fim. Esse elemento se perdeu, essas pessoas querem ser ajudadas pelo Estado mas não há contrapartida nenhuma. É um problema complexo mesmo.

Numa economia de mercado as pessoas trabalham se há onde trabalharem. E só precisam da ajuda do Estado quando não ganham para se suster por si. Vira esmola mesmo. Mas como garantir que elas ganhem o seu sustento se não há onde elas trabalharem? Complexo, né?!

Enfim, esse assunto rende horas de papo... E talvez a atual chanceler da Alemanha tenha razão ao dizer que seria necessário o dobro do investimento já realizado e o dobro do tempo desde a unificação para chegar a um patamar aceitável na reunificação.

Abraço e obrigado pelo comentário! Joao Assis
(assisj29.blogspot.com)

comentou em 04/10/2008 01:18
O comunismo deixou feridas que levarão gerações para serem suplantadas.
Um grande abraço e bom final de semana. Ednan Chaves de Sousa
(www.newblog-ed.blogspot.com)

comentou em 06/10/2008 20:41
Não é fácil, até mesmo a implantação de um estado comunista tem que ser gradativa, simplesmente derrubar um muro e falar "pronto, agora todos vocês moram em um pais capitalista e livre" não resolve, é uma mudança de cultura de quem viveu a vida toda fazendo isso sonhando com aquilo. Letícia Castro
(babelpontocom.blogspot.com)

comentou em 08/10/2008 01:01
Muitos anos de bipartição, né? Duas nações distintas foram criadas. De qualquer maneira, que bom que o índice de aprovação da reunião seja alto e que a vontade de formar um único povo prevalece. O povo alemão é duro na queda, em qualquer lado do muro, investe no ponto chave para o equilíbrio e desenvolvimento de um povo, a fórmula não falha.
Comadre, estamos curiosíssimos pelo artigo desta sexta, hein? O que aguarda este 10 de outubro? ; ) Eu tô sentada na carteira de novo, só sorvendo as aulas.
Beijocas muito grandes e parabéns pela estréia brilhante! Letícia Castro
(babelpontocom.blogspot.com)

comentou em 08/10/2008 14:29
Eu não digo que estou zureta? É dia 17! hehehe
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