segunda-feira, 16 de agosto de 2010

2560 - O SESCENTISMO

Barroco (séc. XVII ao começo do séc. XVIII)
Índice

Referências históricas
Características
Autores
Sinopse
"Toda forma exige fechamento e fim, e o barroco se define pelo movimento e instabilidade; parece-nos, pois, que ele se encontra ante um dilema: ou negar-se como barroco, para completar-se numa obra, ou resistir à obra para persistir fel a si mesmo"

--J. Rousset

Conhecido também por Seiscentismo (anos de 1600), este foi um estilo literário marcado pela linguagem rebuscada, o uso de antíteses e de paradoxos que expressavam a visão de mundo barroca numa época de transição entre o teocentrismo e o antropocentrismo.

No Barroco, estão presentes duas vertentes: cultismo e conceptismo:

Cultismo ou gongorismo - valorização de forma e imagem, jogo de palavras, uso de metáforas, hipérboles, analogias e comparações. Manifesta-se uma expressão da angústia de não ter fé.


" Ofendi-vos, Meu Deus, é bem verdade,
É verdade, Senhor, que hei, delinqüido
Delinqüido vos tenho..."

--Gregório de Matos

Conceptismo ou quevedismo - valorização do conteúdo/conceito, jogo de idéias através do raciocínio lógico. Há o uso da parábola com finalidade mística e religiosa.

"Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos."

--Pe. Vieira


"Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História,

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Cobrai-a e não queirais, Pastor Divino,
Perder na Vossa ovelha a Vossa glória."

--Gregório de Matos


Referências históricas
renovações culturais trazidas pelo Renascimento

fim do ciclo das navegações

Reforma Protestante combatida através da Contra-Reforma

Na segunda metade do século XVIII, sentem-se no Brasil os "ecos" do Barroco. O ciclo do ouro propicia o desenvolvimento das artes em geral, notadamente em Minas Gerais, em que se destacam as obras de Aleijadinho.

Características
Essa situação contraditória provoca o aparecimento de uma arte que expressar também atitudes contraditórias do artista em face do mundo, da vida, dos sentimentos e de si mesmo.

O homem tenta conciliar a glória e o valor humano despertados pelo Renascimento com as idéias de submissão e pequenez diante de Deus e a igreja.

Homem está entre céu e terra, consciente de sua grandeza, mas perseguido pela idéia de pecado e busca a salvação de forma angustiada. Assim, há uma tentativa de conciliação de idéias antagônicas: Bem – Mal / Deus – Diabo / Céu – Terra / Pureza – Pecado / Alegria – Tristeza / Espírito – Carne

Há um crescente pessimismo em face da vida (oposto à vontade de viver e vencer do Renascimento) e tudo lembra ao homem sua morte e aniquilamento.

"Ó não guardes, que a madura idade, / te converte essa flor, essa beleza, / em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada."

--Gregório de Matos

É de se esperar que os recursos dessa visão de mundo sejam, na poesia, as figuras: sonoras (aliteração, assonância, eco, onomatopéia...), sintáticas (elipse, inversão, anacoluto, silepse...) e principalmente semânticas (metáfora, metonímia, senédoque, antítese, paradoxo, clímax...).

Metáfora

Revolução da poética barroca com o surgimento das metáforas erótico-anatômicas que associavam o amor ao prazer e a natureza à mulher.

"Goza, goza da flor da mocidade. / Que o tempo trata a toda ligeireza / E imprime em toda a flor sua pisada."

--Gregório de Matos

Antítese

reflete a contradição do homem barroco, seu dualismo

"Ardem chamas n’água, e como / vivem as chamas, que apura, / são ditosas Salamandras / as que são nadantes turbas"

--Botelho de Oliveira

Paradoxo

demonstra a tentativa de fusão dos opostos que atormenta o homem barroco

"Ardor em firme coração nascido; / Pranto por belos olhos derramado; / Incêndio em mares de água disfarçado; / Rio de neve em fogo convertido."

--Gregório de Matos

Hipérbato

denota a desordem do pensamento do homem barroco

"A vós correndo vou, braços sagrados / Nessa Cruz sacrossanta descobertos"

--Gregório de Matos

Gradação

"Oh não aguardes que a madura idade / Te converta essa flor, essa beleza, / Em terra, em cinzas, em pó, em sombra, em nada."

--Gregório de Matos

São usados vários símbolos que traduzem a efemeridade e a instabilidade das coisas: fumaça, ventos, neve, chama, água, espuma etc.

As frases interrogativas ajudam a refletir a dúvida e a incerteza que caracterizam esse período.

"Porém, se acaba o Sol, por que nascia? / Se tão formosa a Luz é, por que não dura? / Como a beleza assim se transfigura? / Como o gosto da pena assim se fia?"

--Gregório de Matos

A ordem inversa torna a frase pomposa e traduz os maneios de raciocínio, além de retratar a falta de clareza, de certeza diante das coisas.

Autores
Destacam-se Botelho de Oliveira, Gregório de Matos, Frei Itaparica e Padre Antônio Vieira.

Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711)
O primeiro escritor nascido no Brasil a ter um livro publicado. Sua principal obra é a coletânea de poemas Música do Parnaso (1705), em que se destaca o poema À Ilha Maré. Este poema é um dos primeiros a louvar a terra, descreve com todo o esmero de vocabulário típico dos barrocos os muitos frutos brasileiros, lembrando sempre a inveja que fariam às metrópoles européias.

Em sua obra, faz uso constante de analogias (campos semânticos) e acentua os contrastes através de antíteses e paradoxos.


À Ilha Maré

"Quando vejo de Arnada o rosto amado,
Vejo ao céu e ao jardim ser parecido;
Porque no assombro do primor luzido
Tem o Sol em seus olhos duplicado."

"Tem o primeiro A nos arvoredos
sempre verdes aos olhos, sempre ledos;
tem o segundo A, nos ares puros
na tempérie agradáveis e seguros;
tem o terceiro A nas águas frias,
que refrescam o peito, e são sadias;
o quarto A, no açúcar deleitoso,
que é do Mundo o regalo mais mimoso."

--Botelho de Oliveira

Gregório de Matos Guerra (1623-1696)
Sua própria produção poética — lírica, religiosa, satírica — já mostra a alma barroca deste poeta. Ao lado de expressões de amor carnal, manifestou aspirações religiosas; ao lado de poesias sérias e reflexivas sobre a condição humana, debochou e satirizou a sociedade da época, notadamente a baiana. A dualidade barroca percorre toda a obra de Gregório de Matos, vazada numa linguagem bem trabalhada, capaz de traduzir sua angústia metafísica e religiosa, sutil para expressar seus sentimentos amorosos e objetiva e popular nas sátiras. Tinha por apelido "Boca do Inferno", devido ao teor de seus poemas.

Sua poesia religiosa é sempre do pecador que se penitencia através de uma lógica argumentativa; enquanto a poesia lírica é sensualista e elogiosa.

Em Salvador, levou vida desregrada, tendo famosos encontros amorosos com freiras e compondo poemas satíricos, por isso foi banido em 1694 para Angola.

Nunca em vida Gregório de Matos publicou um livro, e suas poesias, colecionadas e publicadas apenas por seus admiradores, sobrevive até hoje em antologias.

Padre Antônio Vieira (1608-1697)
Participava ativamente da Companhia de Jesus e da política portuguesa de sua época, apesar de passar a maior parte de sua vida no Brasil. Destacou-se como importante orador jesuítico em língua portuguesa, sendo famoso por seus sermões.

Apresentava idéias a favor dos cristãos-novos e contra a escravidão do negro e principalmente do índio, sofreu críticas e perseguições, tendo-se envolvido com a Inquisição.

Desenvolve seus sermões por meio de raciocínios tortuosos, em longos períodos, através de um encadeamento profundamente lógico. Traduz suas idéias através de parábolas, fazendo uso principalmente da metáfora.

Merecem destaque os seguintes: Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra a Holanda, Sermão da primeira dominga da Quaresma e o Sermão da Sexagésima. A respeito deste último seguem algumas considerações.

Este sermão versa sobre a arte de pregar em suas dez partes. Nele Vieira usa de uma metáfora: pregar é como semear. Traçando paralelos entre a parábola bíblica sobre o semeador que semeou nas pedras, nos espinhos (onde o trigo frutificou e morreu), na estrada (onde não frutificou) e na terra (que deu frutos), Vieira critica o estilo de outros pregadores contemporâneos seus (e que muito bem caberia em políticos atuais), que pregavam mal, sobre vários assuntos ao mesmo tempo (o que resultava em pregar em nenhum), ineficazmente e agradavam aos homens ao invés de pregar servindo a Deus.

"A definição de Pregador é a vida, e o exemplo... Ter nome de Pregador ou ser Pregador de nome não importa nada: as ações, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o mundo"

--Pe. Vieira

Academias
No Brasil, formam-se academias, grêmios eruditos e literários, a exemplo de Portugal. Foram as academias brasileiras o último centro irradiador do barroco literário e o primeiro sinal de uma cultura humanística viva na sociedade brasileira. As mais fecundas foram Basílica dos Esquecidos, Basílica dos Renascidos e Academia dos Felizes (RJ).

Sinopse
Marco inicial do Barroco no Brasil: poema épico Prosopopéia, de Bento Teixeira Pinto em 1601.

Final do Barroco brasileiro: Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa em 1768

Principais autores: Gregório de Matos e Pe. Antônio Vieira





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