quarta-feira, 10 de outubro de 2012

REBELO DA SILVA: BIOGRAFIA E OBRAS


Resumos, ResenhasArtigos Acadêmicos, EnsaiosBibliotecaDidáticosFórum de Debates Testes AtualizaçõesContatoColaborações! qua

8

set



2010Home ≫ Biblioteca, Literatura, Textos Introdutórios.

Autor:biblioteca-antologianacional



LUIS AUGUSTO REBELO DA SILVA – Biografia e Obras











Índice

Antologia de escritores portuguesesUltima Corrida de Touros em SalvaterraNotas e comentáriosAntologia de escritores portugueses

LUIS AUGUSTO REBELO DA SILVA (Lisboa, 1822-1871) freqüentou um curso matemático, que logo abandonou, dedicando-se a estudos literários e históricos.



Sua coroa de romancista é a Mocidade de D. João V; além deste também são muito lidos Rausso por Homizio, Casa dos Fantasmas, Ódio velho não cansa etc.



Em outras províncias das ciências e artes — Economia Política, Crítica, literária e filológica, História — exerceu brilhantemente sua atividade. Os Fastos da Igreja e a História de Portugal merecem especial menção. Como dramaturgo fêz tentativas não descoroadas de êxito. Em seguida a triunfos literários e políticos, alcançou o pariato e tomou assento nos conselhos da coroa.



Conquanto não tolere o confronto com Herculano, Castilho e Garrett, Rebelo da Silva foi escritor fluente e a seu estilo não falta decorosa amplidão, nem movimento e brilho.



Ultima Corrida de Touros em Salvaterra

Uma toirada real chamara a corte a Salvaterra. Os fidalgos respiravam nesta ocasião menos oprimidos. Não os assombrava tão de perto a privança do ministro. Os toiros eram bravos, os cavaleiros destros, o anfiteatro pomposo, e o cortejo das damas adorável. O prazer ria na boca de todos. Por cúmulo de venturas, o marquês de Pombal ficara em Lisboa, retido pelo conflito com o embaixador da Espanha.



Nestas funções não vigorava a severidade das últimas pragmáticas. Outro motivo de júbilo. Quem queria podia arruinar-se em luxuosos vestidos, enfeites e toucados. As bordaduras e os recamos de oiro, os veludos e as sedas de fora, talhadas à francesa, resplandeciam constelados de pérolas e diamantes. Por cima dos mais ricos trajes e das mais vistosas cores, desenrolavam-se os anéis ondeados das empoadas cabeleiras. As damas ostentavam as graças de seus donaires e tufados, (223) e, emoldurando o belo oval (224) dos rostos nos penteados caprichosos, sorriam-se para os gentis campeadores, e seus olhos cheios de luz e de promessas estimulavam até os tímidos.



Correram-se as cortinas da tribuna real. Rompem as músicas. Chegou el-rei, e logo depois entra pelos camarotes o vistoso cortejo, e vê-se (225) ondear um oceano de cabeças e plumas. Na praça ressoam com brava alegria as trombetas, as charamelas e os timbales. (226). Aparecem os cavaleiros, fidalgos distintos todos, com o conto (227) das lanças nos estribos, e os brasões bordados no veludo das gualdrapas dos cavalos. As plumas dos chapéus debruçam-se em matizados cocares, (228) e as espadas em bainhas lavradas pendem de soberbos talins. Os capinhas e forcados vestem com garbo à castelhana antiga. No semblante de todos brilha o ardor e o entusiasmo. (229).



O conde dos Arcos, entre os cavaleiros, era quem dava mais na vista. O seu trajo, cortado à moda da corte de Luís XV, de veludo preto, fazia realçar a elegância do corpo. Na gola da capa e no corpete, sobressaíam as finas rendas da gravata e dos punhos. Nos joelhos as ligas bordadas deixavam escapar com artifício os tufos de cambraieta alvíssima. O conde não excedia a estatura ordinária, mas, esbelto e proporcionado, todos os seus movimentos eram graciosos. As faces eram talvez pálidas de mais, porém animadas de grande expressão, e o fulgor das pupilas negras fuzilava tão vivo e por vezes tão recobrado, que se tornava irresistível. Filho do marquês de Marialva, e discípulo querido de seu pai, do melhor cavaleiro de Portugal, e talvez da Europa, a cavalo, a nobreza e a naturalidade do seu porte enlevavam os olhos. Êle e o corcel, (230) como que ajustados em uma só peça, realizavam a imagem do centauro antigo.



A bizarria com que percorreu a praça, domando sem esforço o fogoso corcel, arrancou prolongados e repetidos aplausos. Na terceira volta, obrigando o cavalo quase a ajoelhar-se diante de um camarote, fêz que uma dama escondesse, torvada, no lenço as rosas vivíssimas do rosto, que de certo descobririam o melindroso segredo da sua alma, se em momentos rápidos como o faiscar do relâmpago, pudesse alguém adivinhar o que só dois sabiam.



El-rei, quando o mancebo o cumprimentou pela última vez, sorriu-se e disse voltando-se:



— Por que virá o conde quase de luto à festa? Principiou o combate.



Não é propósito nosso descrevermos uma corrida de toiros. Todos têm assistido a elas, (231) e sabem de memória o que o espetáculo oferece de notável. Diremos só que a raça dos bois era apurada, e que os toiros se corriam desembolados, à espanhola. Nada diminuía, portanto, as probabilidades do perigo e a poesia da luta.



Tinham-se picado alguns bois. Abriu-se de novo a porta do curro, e um toiro preto investiu com a praça. (232). Era um verdadeiro boi de circo. Armas (233) compridas e reviradas nas pontas, pernas delgadas e nervosas, indício de grande ligeireza, e movimentos rápidos e bruscos, sinal de força prodigiosa. Apenas tocara o centro da praça, estacou como deslumbrado, (234) sacudiu a fronte e, escarvando a terra impaciente, soltou um mugido (235) feroz no meio do silêncio que sucedera às palmas e gritos dos espectadores. Dentro em pouco os capinhãs, saltando a pulos as trincheiras, fugiam à velocidade espantosa do animal, e dois ou três cavalos expirantes denunciavam a sua fúria.



Nenhum dos cavaleiros se atreveu a sair contra êle. Fêz-sc uma pausa. O toiro pisava a arena ameaçador, e parecia desafiar em vão um contendor. De repente viu-se o conde dos Arcos, firme na sela, provocar o ímpeto da fera, e a hástea flexível do rojão ranger e estalar, embebendo o ferro no pescoço musculoso do boi. Um rugido tremendo, uma aclamação imensa do anfiteatro inteiro, e as vozes triunfais das trombetas e chama-relas encerraram esta sorte brilhante. Quando o nobre mancebo passou a galope por baixo do camarote, diante do qual pouco antes fizera ajoelhar o cavalo, a mão alva e breve (236) de uma dama deixou cair uma rosa, e o conde, curvando-se com donaire sobre os arções, apanhou a flor do chão sem afrouxar a carreira, levou-a aos lábios e meteu-a no peito. Investindo depois com o toiro tornado imóvel com a raiva concentrada, rodeou-o, estreitando em volta dele os círculos, até chegar quase a pôr-lhe a mão na anca.



O mancebo desprezava o perigo, e, pago até da morte pelos sorrisos que seus olhos furtavam de longe, levou o arrojo a arrepiar a testa do toiro com a ponta da lança. Precipitou-se então o animal com fúria cega e irresistível. O cavalo baqueou trespassado, e o cavaleiro, ferido na perna, não pôde levantar-se. Voltando sobre êle o boi enraivecido, arremessou-o aos ares, esperou-lhe a queda nas armas, e não se arredou senão quando, assentando-lhe as patas sobre o peito (237) conheceu que o seu inimigo era cadáver.



Este doloroso lance ocorreu com a velocidade do raio. Estava já consumada a tragédia, e não havia expirado ainda o eco dos últimos aplausos.



De repente, um silêncio em que se conglobavam milhares de agonias, emudeceu o circo. (238). Rei, vassalos e damas, meio corpo fora dos camarotes, fitavam a praça (239) sem respirar, e erguiam logo depois a vista ao céu, como para seguir a alma que para lá voava envolta em sangue.



Quando o mancebo, dobado no ar, (240) exalava a vida antes de tocar o chão, um gemido agudo, composto de soluços e choro, caiu sobre o cadáver como uma lágrima de fogo.



Uma dama, desmaiada nos braços de outras senhoras, soltara aquele grito estridente, derradeiro ai do coração ao rebentar no peito.



El-rei D. José, com as mãos no rosto, parecia petrificado.



A corte desta vez acompanhava-o sinceramente na sua dor.



Mas o drama ainda não tinha concluído. Quem sabe? O terror e a piedade iam cortar de novas mágoas o peito a todos. (241).



O marquês de Marialva assistira a tudo do seu lugar. Revendo-se na gentileza do filho, seus olhos seguiam-lhe os movimentos, brilhando radiosos a cada sorte feliz. Logo que entrou o toiro preto, carregou-se de uma nuvem o semblante do ancião. Quando o conde dos Arcos saiu a farpeá-lo, as feições do pai contraíram-se, e a sua vista não se despregou mais da arriscada luta.



De repente o velho soltou um grito sufocado e cobriu os olhos, apertando depois as mãos na cabeça. Os seus receios haviam-se realizado. Cavalo e cavaleiro rolavam na arena, e a esperança pendia de um fio tênue! (242).



Cortou-lho rapidamente a morte, e o marquês, perdido o filho, luz da sua alma e ufania de suas cãs, (243) não proferia uma palavra, não derramou uma lágrima; mas os joelhos fugiram-lhe trêmulos, e a elevada estatura inclinou-se, vergando ao peso da mágoa excruciante.



Volveu, porém, em si, decorridos momentos. A lívida palidez do rosto tingiu-se de vermelhidão febril, subitamente. Os cabelos, desgrenhados e hirtos, revolveram-se-lhe na fronte inundada de suor frio, como as sedas da juba de um leão irritado. Nos olhos amortecidos faiscou instantâneo, mais terrível, o sombrio clarão de uma cólera em que todas as ânsias insofridas da vingança se acumulavam.



Em um ímpeto, a presença (244) reassumiu as proporções majestosas e erectas, como se lhe corresse nas veias o sangue do mancebo que perdera. Levando por ato instintivo a mão ao lado para arrancar da espada, meneou tristemente a cabeça. A sua boa espada cingira-a êle próprio ao filho neste dia, que se convertera para a sua casa em dia de eterno luto!



Sem querer ouvir nada, desceu os degraus do anfiteatro, seguro e resoluto, como se as neves de setenta anos lhe não branqueassem a cabeça.



— Sua Majestade ordena ao marquês de Marialva que aguarde as suas ordens! disse um camarista detendo-o pelo braço.



O velho fidalgo estremeceu como se acordasse sobressaltado, e cravou no interlocutor os olhos desvairados, (245) em que reluzia o fulgor concentrado de um pensamento imutável. Desviando depois a mão que o suspendia, baixou mais dois degraus.



— Sua Majestade entende que este dia já foi bastante desgraçado, e não quer perder nele dois vassalos… O marquês desobedece às ordens de el-rei?…



— El:rei manda nos vivos e eu vou morrer! atalhou o ancião em voz áspera, mas sumida. Aquele é o corpo de meu filho! E apontava para o cadáver. Está ali! Sua Majestade pode tudo, menos desarmar o braço do pai, menos desonrar os cabelos brancos do criado que o serve há tantos anos. Deixe-me passar, e diga isto.



D. José vira o marquês levantar-se e percebera a sua resolução. Amava no estribeiro-mor as virtudes e a lealdade nunca desmentida. Sabia que da sua boca não ouvira senão a verdade, e a idéia de o perder assim era-lhe insuportável. Apenas lhe constou que êle não acedia à sua vontade, fêz-se branco, cerrou os dentes convulso, e, debruçado para fora da tribuna, aguardou em ansioso silêncio o desfecho da catástrofe.



A esse tempo já o marquês pisava a praça, firme e intrépido como os antigos romanos diante da morte. Dentro do peito o seu coração chorava, mas os olhos áridos queimavam as lágrimas, quando subiam a rebentar por eles. Primeiro do que tudo queria a vingança.



Por impulso instantâneo, todo o ajuntamento se pôs de pé. Os semblantes consternados e os olhos arrasados de água exprimiam aquela dolorosa contenção do espírito em que um sentido parece concentrar todos.



Deixai-o ir, ao velho fidalgo! A mágoa, que o traspassa, não tem igual. O fogo, que lhe presta vida e forças, é a desesperação. Deixai-o ir, e de joelhos! Saudai a majestade do infortúnio!



O pai angustiado ajoelhou junto do corpo do filho e pousou–lhe um ósculo (246) na fronte. Desabrochou-lhe depois o talim e cingiu-o, levantou-lhe do chão a espada, e correu-lhe a vista pelo fio e pela ponta de dois gumes. Passou depois a capa no braço e cobriu-se. Decorridos instantes, estava no meio da praça e devorava o toiro com a vista chamejante, provocando-o para o combate.



Cortado de comoções tão cruéis, não lhe tremia o braço, e os pés arraigavam-se na arena como se um poder oculto e superior lhos tivesse ligado repentinamente à terra.



Fêz-se no circo um silêncio gélido, tremendo e tão profundo, que poderiam ouvir-se (247) até as pulsações do coração do marquês, se naquela alma de bronze o coração valesse mail do que a vontade.



O toiro arremete contra êle… Uma e muitas vezes o investe cego e irado, mas a destreza do marquês esquiva sempn-a pancada.



Os ilhais da fera arfam de fadiga, a espuma franja-lhe a boca, as pernas vergam e resvalam, e os olhos amortecem (248) de cansaço. O ancião zomba da sua fúria. Calculando as distâncias, frustra-lhe todos os golpes sem recuar um passo.



O combate demora-se.



A vida dos espectadores resume-se nos olhos. Nenhum ousa desviar a vista de cima da praça. A imensidade da catástrofe imobiliza todos.



De súbito solta el-rei um grito e recolhe-se para dentro da tribuna. O velho aparava a peito descoberto a marrada do toiro, e quase todos ajoelharam para rezarem por alma do último marquês de Marialva.



A aflitiva pausa apenas durou momentos. Por entre as névoas, de que a pupila trêmula se embaciava, viu-se o homem crescer para a fera, a espada fuzilar nos ares, e logo após sumir–se até aos copos entre a nuca do animal. Um bramido, que atroou o circo, e o baque do corpo agigantado na arena encerraram o extremo ato do funesto drama.



Clamores uníssonos saudaram a vitória. O marquês, que tinha dobrado o joelho com a força do golpe, levantava-se mais branco do que um cadáver. Sem fazer caso dos que o rodeavam, tornou a abraçar-se com o corpo do filho, banhando-o de lágrimas e cobrindo-o de beijos.



O toiro ergueu-se, e, cambaleando com a sezão da morte, veio apalpar o sítio onde queria expirar. Ajuntou ali os membros e deixou-se cair sem vida ao lado do cavalo do conde dos Arcos.



Nesse momento os espectadores, olhando para a tribuna real, estremeceram. El-rei, de pé e muito pálido, tinha junto de si o marquês de Pombal coberto de pó e com sinais de ter viajado depressa.







Sebastião José de Carvalho voltava de propósito as costas à praça, falando com o monarca. Punia assim a barbaridade do circo.



— Temos guerra com a Espanha, senhor. É inevitável. Vossa Majestade não pode consentir que os toiros lhe matem o tempo e os vassalos! Se continuássemos neste caminho. .. cedo iria Portugal à vela.



— Foi a última corrida, marquês. A morte do conde dos Arcos acabou os toiros reais, enquanto eu reinar.



— Assim o espero da sabedoria de Vossa Majestade. Não há tanta gente nos seus reinos que possa dar-se (249) um homem por um toiro. (250). El-rei consente que vá em seu nome consolar o marquês de Marialva?



— Vá. É pai. Sabe o que há de dizer-lhe.. .



— O mesmo que êle me diria a mim, (251) se Henrique estivesse como está o conde.



El-rei saiu da tribuna, e o marquês de Pombal, entrando na praça com toda a majestade de sua elevada estatura, levantou nos braços o velho fidalgo, dizendo-lhe com voz meiga e triste:



— Senhor marquês! Os portugueses como Vossa Excelência são para darem exemplos de grandeza d’alma e não para os receberem. Tinha um filho e Deus levou-lho. Altos juízos seus! A Espanha declara-nos guerra e el-rei, meu amo e meu senhor, precisa do conselho e da espada de Vossa Excelência.



E, travando-lhe da mão, levou-o quase nos braços até o meterem na carruagem.



D. José I cumpriu a palavra dada ao seu ministro.



No seu reinado nunca mais se picaram toiros reais em Salvaterra.



(Contos e Lendas, p. 171).



Notas e comentários

(223) donaires = enfeites, adornos; tufados — folhos, pregas do vestido. Donaire significa também graça, garbo, elegância.

(224) O determinante oval está aí substantivado por omissão do substantivo determinado, que pode ser contorno, forma, desenho, conjunto etc. É um caso de braquilogia, ou simplificação da expressão, tão comum em todas as línguas: — um transatlântico, a Central, o rápido, uma reta, as credenciais, o temporal, uma cir-cular, o voluntário (soldado), a pátria (terra: terra dos pais), a batina (veste abatina: do abade), o vernáculo (idioma), uma pernambucana afiada (Faca): "levou a mão ã cinta. Buscava a sua boa toledana" (espada; feita em Toledo) Herculano, ap. M. Barreto.

(225) e vê-se — Essa oração, apassivada pelo se, tem por sujeito a infinitiva do verbo ondear, da qual um oceano de cabeças e plumas é o sujeito.

(226) charamelas e timbales — instrumentos musicais: o primeiro, do fr. antigo chalemelle, no lat. calamellus, derivado de calamus, caniço. O francês palatiza o — e — duro inicial latino, e os vocábulos que nos vieram através desse idioma conservam esse ch palatal: chaminé, chanceler, chantre, chapéu, charrua, chefe, chino, que no lat. eram caminata, cancellarius, cantor, *cappellus, carruca, caput e *cate-nione. Timbales parece ser a contaminação do gr. tympanon, tambor, com atabale, do ár. tabl (tabal).

(227) Conto = extremidade inferior da lança, ponteira; do gr. kóntos, pelo lat. contus: "o conto do bastão". (Lus., I, 37). Locução: às contoadas (Fr. Luís de Sousa). Conto significa também narração, pequena história; e quantidade, ora valendo número (um sem-conto de cousas), ora valendo dez vezes cem mil, empregados para indicar valor monetário: um conto de réis z= um milhão de réis.

(228) cocares, pl. de cocar = tufo de penas ou penacho. Do francês cocarde, velho fr. coquarde, de coq, galo.

(229) O verbo antecede o sujeito composto e concorda no singular com o primeiro termo deste, tanto mais quanto os substantivos são sinônimos.

(230) corsel. V. n. 154.

(231) Todos têm assistido a elas — O v. assistir com a significação de estar presente, comparecer, não aceita o complemento lhe, lhes, mas a êle(s) ou a ela(s). Seria inaceitável escrever-se acima: Todos lhes têm assistido. "Lá vão os frades celebrar um auto! Não serei eu que assista a êle". (Herculano, ap. Franc. Fernandes, Dicion., s. v.).

(232) — Investiu com a praça = acometeu-a, atacou-a. Com este sentido aceita as regências: investir a praça, com a praça, para a praça e contra a praça.

(233) armas = chifres.

(234) deslumbrar — ofuscar a vista pela ação de muita luz. Guarda a raiz do lat. lumine, pelo esp. lumbre (< lumre < lumne). Corradical é vislumbre (de vis, por bis, com sentido pejorativo, e lumbre: luz fraca, frouxa, clarão. O alumbrar castelhano corresponde a nosso alumiar.

(235) Mugir, voz dos bovídeos, do lat. mugire, onomatopaico, e mungir, ordenhar, do lat. mulgere > muigir > mugir e mungir) são parônimos.

(236) breve — pequena. Na expressão em breve subentende-se tempo; Camões usou em tempo breve (III, 26, 33; VII, 65) e em breve (III, 81).

(237) quando, assentando-lhe as patas sobre o peito, — pronome átono, compulsoriamente enclitico junto ao gerúndio independente.

(238) emudeceu o circo, isto é, emudeceu os espectadores (o continente pelo conteúdo — metonímia).

(239) fitavam a praça por fitavam os olhos na praça. Houve abreviação da frase; e hoje tanto se diz fitar os olhos em alguém como fitar alguém. E o mesmo se dá com o verbo fixar, ambos com o sentido de olhar. Camilo usou as duas construções e Rui igualmente. Deste há vários exemplos; daquele uma dezena de abonações carreadas por Mário Barreto às pp. 199 e 200 do tomo 2.° da obra De Gramát. e de Linguagem.

(240) dobado no ar = volteado, arremessado no ar. Verbo dobar, antigo debar, do Iat. *depanare. Dobrar o fio = enovelar o fio com a dobadoura ou sem ela; dobar a seda, o linho. Por extensão, mover em roda, voltear, rodopiar: andar numa dobadoura.

(241) a todos = de todos.

(242) tênue — fino, delgado, leve, frágil, do lat. tenue. Ê vocáb. paroxítono, como todos os que terminam em âitongo crescente: sábia, rádio, cárie, náusea, mágoa, plúmbeo, crânio, vénia, princípio, notícia, ignorância, extraordinária etc. Tais palavras não são esdrúxulas; e, pois, o acento visa tão somente a evitar que na pronúncia se transmude o ditongo crescente em hiato: o que daria à cada um desses termos mais uma sílaba. Cfr. providência, com quatro sílabas e providencia, com cinco; contínua com três e continua com quatro, mágoa com duas e magoa, com três.

(243) Cãs pl. femin. de cão, do lat. canu (canus, a, um), branco, em referência a pêlos, cabelos e penugens. O termo reduziu-se apenas ao pl. fem. cãs, do lat. canas, brancas, em que se subentende o subst. barbas ou o are. crenchas, cabeleira. Diz-se as cães, como se diz as brancas: …"a verdade nos mostra… as últimas brancas daquela cabeça… piamente recolhidas até o último cabelo, como relíquias sagradas…" (Rui, Swijt, in Orações do Apóst., p. 154). O verbo é encanecer.

(244) a presença — o aspecto, a aparência, o semblante.

(245) desvairados — metátese, ou, mais propriamente, hipértese de desvariados; coexistem com o mesmo sentido. Cfr. desvario e desvairo.

(246) ósculo = beijo; osculu — é diminutivo do lat. os, oris, boca; na linguagem familiar afetiva, o beijo é boquinha.

(247) que poderiam ouvir-se ou que se poderiam ouvir.

(248) Da raiz mor do verbo lat. morior e do subst. morte — decorrem os verbos morrer, amortear, amortecer, mortificar, amortizar, amortiçar, amortalhar, mortalizar, esmorecer.

(249) ou que se possa dar. (250) Toiro e touro — formas sincréticas, a primeira, mais lusitana; a segunda, nossa. O lat. tauru deu touro, que lá se alterou em toiro, como causa deu cousa que também se escreve coisa, e coriu e biscoctu produziram coiro e couro, biscoito e biscouto. Essas formas poderiam ter-se fixado consoante à voz originária, mas tal não se deu, e tão somente o uso lhes marca a preferência. (251) êle me diria a mim — objeto indir. reforçado pleonàsticamente.









--------------------------------------------------------------------------------





Seleção e Notas de Fausto Barreto e Carlos de Laet. Fonte: Antologia nacional, Livraria Francisco Alves.







Mais textos

■JOAQUIM MANUEL DE MACEDO (0)

■JOÃO MANUEL PEREIRA DA SILVA (0)

■JOAQUIM PEDRO DE OLIVEIRA MARTINS (0)

■JOAQUIM NORBERTO DE SOUSA E SILVA (0)

■ANTÔNIO FERREIRA (1)

Sem comentários - Adicione o seu

algumas tags: antiga, carlos de laet, castelhano, centauro, citações em latim, contos e lendas, dicionário de literatura, dicionário latim texto biblico em grego, economia política, escritores portugueses, etimologia de palavras, etimologia online, expressões em latim, Formas, frases em latim, História de Portugal, instrumentos musicais, latim, lendas e folclore, Literatura Portuguesa, Luís XV, nobreza, origem das palavras, palavras em latim, portugal, videos lendas urbanas, um grito tremendo uma aclamação imensa Rebelo da Silva biografia corrida de touro em salvaterra antologia Luís Augusto Rebelo da Silva a última corrida de touros em salvaterra - autor rebelo da silva poemas de Luís augusto rebelo coquarde frances portugues a morte do conde dos arcos diante do touro contos e lendas resumo rebelo da silva um rugido tremendo há uma aclamação imensa do anfiteatro inteiro e as vozes triunfais das trombetas e charamelas encerram esta sorte brilhante são orações vê-se ondear um oceano de cabeça e plumas luís augusto rebelo da silva poemas poemas de luis augusto rebelo da silva os ilhais da fera arfam da fadiga a espuma franja-lhe a boca as pernas vergam e os olhos amortecem de cansaço citaçoes de luis rebelo da silva resumo a ultima corrida de touros em salva terra de rebelo da silva rausso por homízio gualdrapas etimologia o conde dos arcos entre os cavaleiros era quem dava masi na vista um rugido tremendo uma aclamação imensa! quantas orações há?

Prezado visitante: por favor, não republique esta página em outros sites ou blogs na web. Ao invés disso, ponha um link para cá. Obrigado.







Consciência.ORG



usuário: senha: Lembrar

Esqueci a senha

Registrar-se

--------------------------------------------------------------------------------







Literatura

Filosofia Antiga

Filosofia Medieval

Filosofia Moderna e Renascimento

Filosofia Contemporânea

História do Brasil

História Geral

Teoria e Ciência Política

Ensino

Existencialismo & Fenomenologia

Filosofia da Mente & Psicologia

Lógica, Epistemologia e Filosofia da Linguagem

Mitologia

Grécia Antiga

Roma Antiga

Sociologia

Antropologia

Estética e Arte

Filosofia do Direito

Frases, Pensamentos e Citações



--------------------------------------------------------------------------------



TWITTER

FEED/RSS





Posts no email:



--------------------------------------------------------------------------------



Parceiros

1.Blog do Miguel

2.Conexões Epistemológicas

3.Consistência

4.Diário da fonte

5.Estudando Letras

6.Filosofia em Quadrinhos

7.Filosofonet

8.Ricardo Rose – Da Natureza & Da Cultura

9.Umas reflexões

10.Veritas





Início



■Textos Introdutórios e Resumos

■Trabalhos Acadêmicos Ensaios e Artigos

■Biblioteca - ebooks

■Ensino de Filosofia

■Salvador Dali

■Colaborações / Envie seu texto!

■Política de Privacidade

■Fale Conosco

■Testes de Filosofia

■Inscrição nas Atualizações

■Fórum / Comunidade

■Carlos Castaneda

■Nei Duclós

COPYRIGHT AUTORBIBLIOTECA - ANTOLOGIA NACIONAL.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Contador de visitas