sexta-feira, 12 de outubro de 2012
PAE MANUEL BERNARDES
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04/06/2009Padre Manuel Bernardes
Nasceu em Lisboa, em 1644. Aos trinta anos, ingressou na Congregação do Oratório de S. Filipe Néri, imerso no silêncio claustral, a meditar e a compor sua obra moralista.
Enlouqueceu dois anos antes de falecer, em 1710.
Sua existência, apenas marcada por duas datas, e sua obra opõem-se diametralmente às do Padre António Vieira. Infenso à vida activa e ao atrito social, era um contemplativo e místico por natureza, e as obras que escreveu, reflectem nitidamente essa condição. Dotado de inquebrantável fé religiosa, que o recolhimento conventual estimulava e nutria, escreveu suas obras com os olhos voltados para o plano transcendente, embora não esquecesse de os dirigir igualmente para os seus semelhantes, dentro e fora dos mosteiros. Por isso, ao se comunicar com o leitor, no afã pedagógico de guiá-lo na estrada que levaria à bem-aventurança, não esquece jamais de molhar a pena com a ungida contemplação espiritual em que se compraz. Quer ensinar o homem a encontrar Deus pelo culto das virtudes morais mais autênticas nele, precisamente as que lhe conferem a condição de criatura humana.
Sua numerosa obra, em que se espelham especiais qualidades de escritor e pensador cristão, escreveu-a com esse único destino: Nova Floresta (5vols., 1706, 1708, 1711, 1726, 1728), Pão Partido em Pequeninos (1694), Luz e Calor (1696), Exercícios Espirituais (1707), Últimos Fins do Homem (1726), Armas da Castidade (1737) Sermões e Práticas (2 vols., 1711), Estímulo prático para seguir o bem e fugir o mal (1730).
A Nova Floresta é a obra mais conhecida do Padre Manuel Bernardes, entre outras razões porque nela o escritor atingiu o apogeu de suas faculdades literárias. Ao mesmo tempo, assina la a realização plena do seu processo: os tópicos de que trata estão dispostos em ordem alfabética: Alma Racional, Amizade, Amor Divino, Apetites, Armas, Astúcia, Avareza, etc., por vezes conjugando num só tópico matérias afins: Abstinência. Jejum; Alegria. Tristeza; Anos. Idade. Tempo; etc.
Cônscio do poder insinuativo e modificador das palavras, como bom conceptista que era, o Padre Manuel Bernardes procura atingir o máximo de efeito com o mínimo de recursos: baixa até o leitor, conta-lhe um "caso", um "exemplo", de origem religiosa, ou bíblica, histórica ou mesmo popular, e dele extrai as ilações que julga fundamentais para a formação moral do verdadeiro cristão.
Para consegui-lo, o escritor despoja a linguagem de tudo quanto lhe parece supérfluo, como quem procurasse um andamento e um tom próximos da fala confessional, mas sem perder dignidade, altura e brilho, Utilizando rico vocabulário e uma sintaxe dita, clara, clássica, onde raramente despontam hipérbatos e semelhantes recursos barrocos, simplifica a doutrina a fim de q o leitor comum possa senti-la, interpretá-la e assimilá-la. Ajuda-o nessa tarefa de falar aos simples a ingenuidade crédula com que atribuía foros de verdade a meras lendas e ficções. Por outro lado, certas notações "realistas" denunciam um sacerdote interessado na vida exterior, embora por vias inteiramente indirectas, como o sionário.
Pela fluidificação da linguagem, em que não é estranho o influxo conceptista e latino, pela elegância, espontaneidade, precisão e vernaculidade, o Padre Manuel Bernardes tornou-se um autentico modelo da prosa literária seiscentista. Pelo estilo, realizou um anseio geral no tempo, e pela reclusão claustral, um ideal de vida contemporâneo, qual seja, a ascese de tipo medieval.
Massaud Moisés, A Literatura Portuguesa
Editora Cultrix, São Paulo
Publicada por Helena Maria em 05:40
Etiquetas: Barroco, Padre Manuel Bernardes
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