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Garrett foi o grande impulsionador do teatro em Portugal a partir do Romantismo. Propôs a edificação do Teatro Nacional e a criação do Conservatório. Com admirável persistência, Garrett não desistia. Em 1816 inscreveu-se na Faculdade de Leis e tomou contacto com os ideais liberais. Em 1843 começou a publicar as “Viagens na Minha Terra”. Foi o homem que deu à língua portuguesa o preceito de modernidade. “A língua moderna no País começa com Garrett”, diz António Mega Ferreira, presidente da Fundação Centro Cultural de Belém.
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Escritor e dramaturgo romântico, Almeida Garrett foi o fundador do teatro moderno português. “A presença de Garrett mudou a nossa literatura”, afirma, peremptório, Fernando Pinto do Amaral, escritor e professor universitário. “Foi uma autor que deixou sementes.” Garrett foi o grande impulsionador do teatro em Portugal a partir do Romantismo. Foi ele que propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório. “A situação do teatro no País foi radicalmente alterada pela presença de Garrett. Ele lançou as bases do teatro virado para as preocupações de uma sociedade cada vez mais alfabetizada e atenta.”
João Baptista da Silva Leitão, a que só depois acresceram os apelidos com que se notabilizou, nasceu a 4 de Fevereiro numa casa da velha zona ribeirinha do Porto, não longe da alfândega onde o pai possuía o cargo de selador-mor. A 10 de Fevereiro foi baptizado na igreja de Santo Ildefonso, filho segundo, entre cinco irmãos, de António Bernardo da Silva e de Ana Augusta de Almeida Leitão, família burguesa ligada à actividade comercial e proprietária de terras na região portuense e nas ilhas açorianas.
A infância foi repartida pela Quinta do Castelo, para onde a família se transferiu, e a do Sardão, ambas ao sul do Douro, no concelho de Gaia. Viveu a adolescência na ilha Terceira, fugindo das Invasões Francesas, destinado à carreira eclesiástica, entre a escola régia do padre João António e as aulas do erudito Joaquim Alves, a que a aprendizagem no seio familiar dava sequência.
Em 1816, tendo regressado ao continente, inscreveu-se na Faculdade de Leis. Foi aí que entrou em contacto com os ideais liberais. Em Coimbra, organizou uma loja maçónica, que será frequentada por alunos da Universidade, como Manuel Passos. Em 1818 começou a usar o apelido Almeida Garrett, assim como toda a sua família.
Garrett é, sem dúvida, uma das maiores figuras do romantismo português. “Foi um homem que arriscou tudo. Um dos únicos portugueses que, depois de fazer uma coisa bem feita, não teve receio de enfrentar o segundo, terceiro, quarto desafio”, afirma António Mega Ferreira, presidente da Fundação Centro Cultural de Belém e seu admirador confesso. “Garrett foi um homem que se investiu totalmente. É o herói romântico.”
Participou entusiasticamente na revolução de 1820, de que parece ter tido conhecimento atempado, como sugere a poesia “As férias”, escrita em 1819. Enquanto dirigente estudantil e orador, defendeu com chama o vintismo, escrevendo um “Hino Patriótico” recitado no Teatro de São João. “Garrett é o herói romântico também no sentido bélico do termo. Ele é um homem que investe na luta. É obrigado a exilar-se mais de uma vez devido ao seu envolvimento nas lutas e no partido liberal”, conta Mega Ferreira.
Almeida Garrett foi um português interventivo, em várias facetas da vida. Cultivava o vício da paixão como método implacável. Era um sedutor. Talvez por isso provoque sentimentos ambivalentes. “A figura de Garrett é marcada por um certo gosto exibicionista”, explica Fernando Pinto do Amaral. “Ligava muito, por exemplo, à indumentária. De certa forma era um 'dandy', gostava de se vestir bem, de impressionar homens e mulheres. Há nele uma vaidade exterior que, mais de 150 anos depois, temos tendência a perdoar, porque tudo aquilo correspondia a uma encenação.” O que este especialista defende é que Garrett encenava a sua própria personagem. “Garrett é um herói intelectual, um herói literário, um herói que cria a imagem de Almeida Garrett. É Garrett que cria a imagem de Garrett. A figura de Garrett, sabemos hoje, é totalmente encenada. Desde o dandismo na forma de vestir, até à pose, à atitude, à sua inscrição social”, corrobora Mega Ferreira.
Em Coimbra publicou o poema libertino “O Retrato de Vénus”, que lhe valeu ser acusado de materialista e ateu, assim como de “abuso da liberdade de imprensa”, de que será absolvido em 1822.
Os sucessivos abandonos por parte dos governos cartistas levaram-no a envolver-se com o setembrismo, dando assim origem à sua carreira parlamentar. Mas o prestígio político de que gozou foi largamente um efeito da sua aura literária e do seu brilhante talento oratório.
Logo em 28 de Setembro de 1836 foi incumbido de apresentar uma proposta para o teatro nacional. Propôs a organização de uma inspecção-geral dos teatros, a edificação do Teatro D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática. Os anos de 1837 e 1838 foram preenchidos nas discussões políticas que levarão à aprovação da Constituição de 1838, e à renovação do teatro nacional.
Garrett foi um homem de muitos amores. Tinha sempre um novo exercício de paixão. Era uma espécie de homem fatal, personificado no exemplo de Carlos, personagem do romance “Viagens na Minha Terra”. “É uma figura parecida com o pinga-amor, que se apaixona muito. Enquanto está apaixonado, sofre imenso por aquela mulher pela qual se apaixonou”, explica Fernando Pinto do Amaral. “Mas depois as circunstâncias da vida levam-no a apaixonar-se por outra mulher, perdidamente como se apaixonou pela anterior.” Em 14 de Janeiro de 1841 nasceu a sua única filha, Maria Adelaide. No início do ano, a família passou a residir na Rua do Alecrim, perto do Chiado, em Lisboa.
Em 1843 começou a publicar, na “Revista Universal Lisbonense”, as “Viagens na Minha Terra”, descrevendo a viagem ao vale de Santarém, começada em 17 de Julho. “É um livro completamente único”, diz António Mega Ferreira.
Com a vitória cartista e o regresso de Costa Cabral ao governo, Almeida Garrett afasta-se da vida política até 1852. Em 1849 passou uma breve temporada em casa de Alexandre Herculano, na Ajuda. Em 1850 subscreveu, com mais de 50 personalidades, um protesto contra a proposta sobre a liberdade de imprensa, mais conhecida por “lei das rolhas”. Costa Cabral nomeou-o, em Dezembro, para a comissão do monumento a D. Pedro IV. Eis outra característica de Garrett: ele começava onde os outros desistiam.
Com o fim do cabralismo e o começo da regeneração, em 1851, Almeida Garrett foi consagrado oficialmente. Em 25 de Junho foi agraciado com o título de visconde, contrariando o que tinha escrito na década de 30: “Foge, cão, que te fazem barão. Para onde? Se me fazem visconde.” Em 1852 foi novamente deputado e de 4 a 17 de Agosto foi ministro dos Negócios Estrangeiros. Um dos aspectos mais marcantes de Garrett é o seu lado cosmopolita. Garrett era europeu, algo que não era comum nessa época. “Os políticos e os escritores eram - ainda hoje são - muito paroquiais, provincianos. Garrett não”, diz Fernando Pinto do Amaral. Foi cônsul-geral em Bruxelas, frequentou durante dois anos a alta-roda e estudou a literatura alemã. “Como viveu algum tempo fora de Portugal, tinha um espírito cosmopolita. Além de um grande português era um grande europeu.”
Da Rua do Salitre, no final de Outubro transfere-se para uma casa na Rua de Santa Isabel, recentemente demolida, onde morre, vítima de cancro. A sua última intervenção no Parlamento foi em Março de 1854, em que ataca o governo na pessoa de Rodrigo de Fonseca Magalhães. “Garrett é um tribuno do progresso, da liberdade, das luzes contra as trevas”, diz Mega Ferreira. “O seu programa de vida foi devolver a grandeza a Portugal. Com ele, os Portugueses ganharam tudo. E não perderam nada.”
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Garrett foi o grande impulsionador do teatro em Portugal a partir do Romantismo. Propôs a edificação do Teatro Nacional e a criação do Conservatório. Com admirável persistência, Garrett não desistia. Em 1816 inscreveu-se na Faculdade de Leis e tomou contacto com os ideais liberais. Em 1843 começou a publicar as “Viagens na Minha Terra”. Foi o homem que deu à língua portuguesa o preceito de modernidade. “A língua moderna no País começa com Garrett”, diz António Mega Ferreira, presidente da Fundação Centro Cultural de Belém.
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Escritor e dramaturgo romântico, Almeida Garrett foi o fundador do teatro moderno português. “A presença de Garrett mudou a nossa literatura”, afirma, peremptório, Fernando Pinto do Amaral, escritor e professor universitário. “Foi uma autor que deixou sementes.” Garrett foi o grande impulsionador do teatro em Portugal a partir do Romantismo. Foi ele que propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório. “A situação do teatro no País foi radicalmente alterada pela presença de Garrett. Ele lançou as bases do teatro virado para as preocupações de uma sociedade cada vez mais alfabetizada e atenta.”
João Baptista da Silva Leitão, a que só depois acresceram os apelidos com que se notabilizou, nasceu a 4 de Fevereiro numa casa da velha zona ribeirinha do Porto, não longe da alfândega onde o pai possuía o cargo de selador-mor. A 10 de Fevereiro foi baptizado na igreja de Santo Ildefonso, filho segundo, entre cinco irmãos, de António Bernardo da Silva e de Ana Augusta de Almeida Leitão, família burguesa ligada à actividade comercial e proprietária de terras na região portuense e nas ilhas açorianas.
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Almeida Garrett foi um português interventivo, em várias facetas da vida. Cultivava o vício da paixão como método implacável. Era um sedutor. Talvez por isso provoque sentimentos ambivalentes. “A figura de Garrett é marcada por um certo gosto exibicionista”, explica Fernando Pinto do Amaral. “Ligava muito, por exemplo, à indumentária. De certa forma era um 'dandy', gostava de se vestir bem, de impressionar homens e mulheres. Há nele uma vaidade exterior que, mais de 150 anos depois, temos tendência a perdoar, porque tudo aquilo correspondia a uma encenação.” O que este especialista defende é que Garrett encenava a sua própria personagem. “Garrett é um herói intelectual, um herói literário, um herói que cria a imagem de Almeida Garrett. É Garrett que cria a imagem de Garrett. A figura de Garrett, sabemos hoje, é totalmente encenada. Desde o dandismo na forma de vestir, até à pose, à atitude, à sua inscrição social”, corrobora Mega Ferreira.
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João Baptista da Silva Leitão, a que só depois acresceram os apelidos com que se notabilizou, nasceu a 4 de Fevereiro numa casa da velha zona ribeirinha do Porto, não longe da alfândega onde o pai possuía o cargo de selador-mor. A 10 de Fevereiro foi baptizado na igreja de Santo Ildefonso, filho segundo, entre cinco irmãos, de António Bernardo da Silva e de Ana Augusta de Almeida Leitão, família burguesa ligada à actividade comercial e proprietária de terras na região portuense e nas ilhas açorianas.
A infância foi repartida pela Quinta do Castelo, para onde a família se transferiu, e a do Sardão, ambas ao sul do Douro, no concelho de Gaia. Viveu a adolescência na ilha Terceira, fugindo das Invasões Francesas, destinado à carreira eclesiástica, entre a escola régia do padre João António e as aulas do erudito Joaquim Alves, a que a aprendizagem no seio familiar dava sequência.
Em 1816, tendo regressado ao continente, inscreveu-se na Faculdade de Leis. Foi aí que entrou em contacto com os ideais liberais. Em Coimbra, organizou uma loja maçónica, que será frequentada por alunos da Universidade, como Manuel Passos. Em 1818 começou a usar o apelido Almeida Garrett, assim como toda a sua família.
Garrett é, sem dúvida, uma das maiores figuras do romantismo português. “Foi um homem que arriscou tudo. Um dos únicos portugueses que, depois de fazer uma coisa bem feita, não teve receio de enfrentar o segundo, terceiro, quarto desafio”, afirma António Mega Ferreira, presidente da Fundação Centro Cultural de Belém e seu admirador confesso. “Garrett foi um homem que se investiu totalmente. É o herói romântico.”
Participou entusiasticamente na revolução de 1820, de que parece ter tido conhecimento atempado, como sugere a poesia “As férias”, escrita em 1819. Enquanto dirigente estudantil e orador, defendeu com chama o vintismo, escrevendo um “Hino Patriótico” recitado no Teatro de São João. “Garrett é o herói romântico também no sentido bélico do termo. Ele é um homem que investe na luta. É obrigado a exilar-se mais de uma vez devido ao seu envolvimento nas lutas e no partido liberal”, conta Mega Ferreira.
Almeida Garrett foi um português interventivo, em várias facetas da vida. Cultivava o vício da paixão como método implacável. Era um sedutor. Talvez por isso provoque sentimentos ambivalentes. “A figura de Garrett é marcada por um certo gosto exibicionista”, explica Fernando Pinto do Amaral. “Ligava muito, por exemplo, à indumentária. De certa forma era um 'dandy', gostava de se vestir bem, de impressionar homens e mulheres. Há nele uma vaidade exterior que, mais de 150 anos depois, temos tendência a perdoar, porque tudo aquilo correspondia a uma encenação.” O que este especialista defende é que Garrett encenava a sua própria personagem. “Garrett é um herói intelectual, um herói literário, um herói que cria a imagem de Almeida Garrett. É Garrett que cria a imagem de Garrett. A figura de Garrett, sabemos hoje, é totalmente encenada. Desde o dandismo na forma de vestir, até à pose, à atitude, à sua inscrição social”, corrobora Mega Ferreira.
Em Coimbra publicou o poema libertino “O Retrato de Vénus”, que lhe valeu ser acusado de materialista e ateu, assim como de “abuso da liberdade de imprensa”, de que será absolvido em 1822.
Os sucessivos abandonos por parte dos governos cartistas levaram-no a envolver-se com o setembrismo, dando assim origem à sua carreira parlamentar. Mas o prestígio político de que gozou foi largamente um efeito da sua aura literária e do seu brilhante talento oratório.
Logo em 28 de Setembro de 1836 foi incumbido de apresentar uma proposta para o teatro nacional. Propôs a organização de uma inspecção-geral dos teatros, a edificação do Teatro D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática. Os anos de 1837 e 1838 foram preenchidos nas discussões políticas que levarão à aprovação da Constituição de 1838, e à renovação do teatro nacional.
Garrett foi um homem de muitos amores. Tinha sempre um novo exercício de paixão. Era uma espécie de homem fatal, personificado no exemplo de Carlos, personagem do romance “Viagens na Minha Terra”. “É uma figura parecida com o pinga-amor, que se apaixona muito. Enquanto está apaixonado, sofre imenso por aquela mulher pela qual se apaixonou”, explica Fernando Pinto do Amaral. “Mas depois as circunstâncias da vida levam-no a apaixonar-se por outra mulher, perdidamente como se apaixonou pela anterior.” Em 14 de Janeiro de 1841 nasceu a sua única filha, Maria Adelaide. No início do ano, a família passou a residir na Rua do Alecrim, perto do Chiado, em Lisboa.
Em 1843 começou a publicar, na “Revista Universal Lisbonense”, as “Viagens na Minha Terra”, descrevendo a viagem ao vale de Santarém, começada em 17 de Julho. “É um livro completamente único”, diz António Mega Ferreira.
Com a vitória cartista e o regresso de Costa Cabral ao governo, Almeida Garrett afasta-se da vida política até 1852. Em 1849 passou uma breve temporada em casa de Alexandre Herculano, na Ajuda. Em 1850 subscreveu, com mais de 50 personalidades, um protesto contra a proposta sobre a liberdade de imprensa, mais conhecida por “lei das rolhas”. Costa Cabral nomeou-o, em Dezembro, para a comissão do monumento a D. Pedro IV. Eis outra característica de Garrett: ele começava onde os outros desistiam.
Com o fim do cabralismo e o começo da regeneração, em 1851, Almeida Garrett foi consagrado oficialmente. Em 25 de Junho foi agraciado com o título de visconde, contrariando o que tinha escrito na década de 30: “Foge, cão, que te fazem barão. Para onde? Se me fazem visconde.” Em 1852 foi novamente deputado e de 4 a 17 de Agosto foi ministro dos Negócios Estrangeiros. Um dos aspectos mais marcantes de Garrett é o seu lado cosmopolita. Garrett era europeu, algo que não era comum nessa época. “Os políticos e os escritores eram - ainda hoje são - muito paroquiais, provincianos. Garrett não”, diz Fernando Pinto do Amaral. Foi cônsul-geral em Bruxelas, frequentou durante dois anos a alta-roda e estudou a literatura alemã. “Como viveu algum tempo fora de Portugal, tinha um espírito cosmopolita. Além de um grande português era um grande europeu.”
Da Rua do Salitre, no final de Outubro transfere-se para uma casa na Rua de Santa Isabel, recentemente demolida, onde morre, vítima de cancro. A sua última intervenção no Parlamento foi em Março de 1854, em que ataca o governo na pessoa de Rodrigo de Fonseca Magalhães. “Garrett é um tribuno do progresso, da liberdade, das luzes contra as trevas”, diz Mega Ferreira. “O seu programa de vida foi devolver a grandeza a Portugal. Com ele, os Portugueses ganharam tudo. E não perderam nada.”
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