quinta-feira, 21 de junho de 2012

prosperidade da amazônia

Revista Estudos Amazônicos • vol. VI, nº 2 (2011), pp. 50-76 “Inmigración y Colonización”: a propaganda da “Amazônia Brasileira” na Espanha Francisco Pereira Smith Júnior* Resumo: Este artigo traz uma leitura da propaganda imigratória do Pará veiculada na Espanha no final do século XIX e início do século XX que atraiu milhares de espanhóis para trabalhar e povoar o território amazônico. Faz uma apresentação das características do território e traz informações que dizem respeito à divisão federal, raça, idioma, literatura, religião, costumes, sistema monetário, governamental e comércio local. Palavras-chave: Propaganda, Migração, Espanhóis. Abstract: This article offers a reading about advertisement immigration of Pará that was conveyed in Spain in the late nineteenth and early twentieth century attracted thousands of Spaniards to work and populate the territory amazon. It features a presentation of the territory and gives information about federal division, race, language, literature, religion, behavior and monetary system, governmental and local market. Keywords: Advertisement, Migration, Spaniards. O livro “El Pará”, de 1895, de propaganda imigratória da Amazônia brasileira na Espanha, trazia um discurso de convencimento, prosperidade e muita fortuna aos imigrantes espanhóis. A organização do texto propõe ao leitor a ideia de que havia na Amazônia uma grande chance do indivíduo imigrante Revista Estudos Amazônicos • 51 tornar-se um grande agricultor, um comerciante ou até um grande homem de negócios. O texto apresenta uma espécie de mapa geográfico, econômico, social e etnográfico da região, apresentando informações relevantes a respeito da divisão federal, raça, idioma, literatura, religião, costumes, sistema monetário, governamental e do comércio local. Logo no início do texto faz-se um apelo àqueles que desejavam migrar, “que antes solicitem e leiam com a devida atenção o livro El Pará, publicado em Barcelona, no ano de 1895”. O livro foi produzido pelo escritório de Emigracion da España y lãs islas Baleares y canárias al estado del Pará en la República del Brasil e foi encomendado pelo governo brasileiro. De conteúdo convincente e patriótico, fascina o leitor curioso, principalmente quando descreve as principais características da região Amazônica. As principais informações dessa propaganda serão reveladas neste artigo para que se possa ter a ideia de como os imigrantes espanhóis construíram seu universo de expectativas diante da terra que lhes prometeu ser o lugar de grandes realizações pessoais e coletivas. No que diz respeito à raça do homem amazônico, o texto destaca uma grande predominância de latinos, brancos ou caucasianos, e diz que a cada dia há um aumento desse número em função da crescente imigração estrangeira na região, grande parte advinda da Europa. Esse argumento era forte, pois de fato influenciou bastante para que muitas famílias espanholas migrassem para a Amazônia, por acharem que aqui existiam grandes semelhanças raciais e assim teriam menores dificuldades de adaptação. Mesmo assim, o texto não negou a quantidade existente de miscigenados na Região Norte. Muitos são identificados de origem africana e indígena, porém, afirma-se que 52 • Revista Estudos Amazônicos essa mistura era algo positivo, visto que herdavam a pacificidade do indígena e a força de trabalho do negro. Ao tratar das religiões, a propaganda imigratória fala de uma liberdade absoluta para as crenças. É de direito de todos expressarem sua fé da maneira que quisessem. Todos poderiam realizar seus cultos sem qualquer embargo. Mas não deixa de apresentar a religião católica como a religião mais procurada pela população local, pois sabia-se que isso seria um atrativo para os espanhóis. Já que muitos europeus eram católicos, isso influenciaria bastante na sua escolha. A moeda da época no Brasil era o Real. O texto mostra sua tímida equivalência monetária ao lado de países da Europa e da América como Inglaterra, Canadá, México, Uruguai e Argentina, alguns concorrentes na disputa por imigrantes. Não se deixa de apresentar também a moeda como uma oportunidade de investimento. O estado do Pará é descrito em todos os seus costumes, desde a vestimenta de suas mulheres, a alimentação da população local, o clima, a grandiosidade do estado e até sua riqueza natural. Ao descrever a mulher da Amazônia, é apresentado ao leitor um tipo europeu, com vestimenta que segue padrões exigentes, por muitas vezes refinado, típicos da Europa. A alimentação da população é basicamente trigo, pescado, carne de vaca, carneiro, cerdo, veado, javali, porco, frutas, doces, feijão, verduras, café, açúcar, conservas e vários tipos de batata. O clima é considerado moderado. Chega-se a compará-lo ao clima de Porto Rico, não havendo inverno pesado e gelo. Com isso, não haveria necessidade de se preocupar com roupas e muito menos com lenha. O verão é suave, se comparado ao verão da Galícia e Cataluña e jamais lembra o verão sufocante de Castilha, Andaluzia e outros lugares da Espanha. O Revista Estudos Amazônicos • 53 Pará é apresentado ao estrangeiro como uma região agradável, com clima que varia entre 22º a 32º centígrados, um clima aprazível, jamais comparado ao clima escaldante de Madri e Sevilha. Os estados brasileiros são revelados de forma proposital, cada um com seu destaque na cultura de plantio. Apresenta-se São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo como os “reis” do café; Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais como fortes na criação do gado (ganado) e Bahia, Pernambuco e Maranhão pelo destaque da cana de açúcar. E logo em seguida, descreve-se um país chamado Amazônia, e diz ser esse o melhor lugar entre todos, por ter dentro dessa maravilhosa região um estado chamado Pará, com uma beleza natural incomparável, com rios, canais, lagos, ilhas, bacias, costas, cidades e vilas. Seria um estado fundado e colonizado por portugueses, mas que por anos havia sido de domínio espanhol. Da mesma forma dizia-se de forma que os novos imigrantes espanhóis provavelmente não enfrentariam tantas dificuldades haja vista já terem um dia “vivido” indiretamente a realidade amazônica por meio de seus “ascendentes galegos”. A região é apresentada como próspera e admirável. O crescimento econômico apresentava números crescentes entre os anos de 1894 a 1899, justamente o período de grande incentivo à migração no estado. Belém é descrita como uma cidade referência, a principal cidade da região, a capital da Amazônia, a Paris na América, conhecida pela sua beleza de estar localizada em uma grande planície, entre a Baia do Guajará e as Ilhas das Onças, Arapiranga e Cotijuba. Uma metrópole “modesta” em meio à mata Amazônica, mas tão moderna que se comparava as cidades europeias, com seus edifícios suntuosos e de grande estilo, uma infraestrutura que não deixava a desejar a qualquer outra cidade do sul ou sudeste do país. 54 • Revista Estudos Amazônicos Uma organização urbana, mesmo com suas limitações operacionais, se destacava pela sua funcionalidade, pois havia eletricidade e gás, hospitais, mercados, teatros e até uma grande feira livre, conhecida como Ver-o-Peso, reconhecida pela sua variedade de frutas, verduras, carne e peixe. A apresentação foi tão bem feita da capital paraense, que trouxe dificuldades para manter os imigrantes nos núcleos coloniais do Pará, pois ao lerem uma descrição tão grandiosa da cidade sentiam-se motivados a ficar em Belém e, já que eram livres, poderiam ficar onde desejassem. Uma cidade tão desenvolvida como qualquer outra da Europa, com certeza atrairia os olhos do imigrante a querer se instalar e progredir nela. O livro “O Pará em 1900” mostra a capital como uma cidade de grande prosperidade e organização: “A imagem da cidade é que ela é dotada de ruas largas compridas, sem becos ou vielas, uma cidade fulgente portadora de luz, de calor chegando a todos os nossos lares. Belém recebe a brisa da baia do Guajará que acalmaria a fadiga e o suor. O calor, a luz e o vento junto com as boas condições de higiene, da cidade garantem uma vida próspera nesta parte dos trópicos”1 O texto da propaganda comenta que no estado paraense havia um importante periódico da época, El Noticiero Español, criado no início de 1899, em virtude da numerosa colônia espanhola existente na Região Norte do Brasil. Em 21 de maio do mesmo ano de inauguração, o seu numero inaugural trazia noticias da cidade de Belém e dos núcleos de colonização espanhola. Nele, eram noticiados acontecimentos do cotidiano da sociedade paraense. As notícias eram de toda natureza, desde o falecimento de um compatriota espanhol, como o caso relatado na colônia de Benjamin Constant, do Sr. Miguel Macías, até casos de doentes em estado terminal atendidos de forma atenciosa e honrosa pelo Revista Estudos Amazônicos • 55 governo paraense. O noticiário apresentava explícitos agradecimentos ao governador Paes de Carvalho, reconhecimento à dedicação e a atenção dada aos imigrantes espanhóis residentes. Desta forma, os meios de comunicação se encarregavam em mostrar o comprometimento e a preocupação do governo com o bem estar do estrangeiro, que assim asseguravam ao futuro imigrante a certeza de que iriam encontrar pela frente um estado engajado e protetor. Em 18 de junho de 1899, o jornal novamente evidenciava suas declarações de admiração a inesgotável caridade do Dr. Paes de Carvalho, e relatava outro fato admirável do governador: a ajudar ao espanhol Cassiano Justo, que se encontrava enfermo, ao lado de sua esposa, a senhora Consuelo Alvarez, que também estava tendo complicações com a saúde, visto estar prestes a dar a luz. Enfim, os textos do jornal haviam sido publicados na propaganda imigratória com o objetivo de declarar os feitos do governo paraense em favor dos imigrantes, principalmente os espanhóis. Era necessário dar-lhes a segurança que necessitavam sentir do governo. Como uma “boa anfitriã”, a propaganda não se esqueceu de apresentar seus principais núcleos de colonização espanhola ao leitor, dentre estes se destacaram as descrições de núcleos como: Marapanim, Benjamin Constant, Jambuassú, Monte Alegre, Santa Rosa, Ferreira Pena e Couto Magalhães. No ramo da beneficência, o texto da propaganda traz informações da existência de hospitais de caridade, asilo, hospícios e orfanato, tudo para dar segurança aos imigrantes que se mostrassem interessados na migração para o estado. A propaganda faz elogios a diretoria do asilo infantil (orfanato) e a uma artista musical, a Senhora Esmeralda Cervantes. A primeira é merecedora de aplausos pela forma amorosa que desempenhava suas atividades 56 • Revista Estudos Amazônicos na direção do asilo de crianças e a segunda pela amorosa visita realizada e por ser a “glória da Catalunha”. Atualmente o prédio abriga o espaço cultural Museu dos Povos, patrocinada pela Petrobrás, local destinado a contar a história dos imigrantes que ajudaram a construir Belém e o Estado do Pará. A Sociedade de Beneficência Espanhola foi uma importante instituição de apoio aos espanhóis. Foi criada para reunir fundos para ajudar os “irmãos espanhóis” que se encontrassem enfermos e inválidos. Assim, como em Salvador, relata-se que em 1º de Janeiro de 1885, após quatro reuniões preparatórias, é criada a Sociedade Española de Beneficência, com a presença de 64 associados dos 124 inscritos como fundadores da instituição. A sua função primordial era servir como instrumento de assistência social, protegendo os galegos enfermos e necessitados.2 A Sociedade de Beneficência Espanhola realizou uma grande festa para angariar fundos de ajuda. Assim, o periódico El Noticiero Espanhol descrevia o evento: “o magnifico Teatro da Paz, adornado elegantemente, recebeu em sua memorável noite todos que fossem notáveis naquela próspera cidade de Belém, em artes, comércio, política e administração civil e militar”3. A festa parecia ser “mágica”, os palcos estavam ornados em cores brasileiras e espanholas, a senhoras e senhoritas brasileiras, portuguesas e espanholas com adornos de flores amarelas e vermelhas em seus cabelos, ditos como poéticos. A noite ficou marcada pela presença da companhia Coniglio-Valla, que proporcionou grande satisfação ao fazer seu público ouvir a partitura de Suppé “Dona Juanita”. O periódico também não deixou de comentar o orgulho da noite, a sinfonia o “Guarany” e a presença da artista compatriota Senhora Esmeralda Cervantes. A Revista Estudos Amazônicos • 57 festa foi finalizada com gritos eufóricos que ecoaram nas paredes do Teatro da Paz, “Viva ao Brasil!”, “Viva a Espanha!”. O Pará da propaganda mais parecia um estado da Espanha. As semelhanças eram tantas que seria difícil resistir a não ir. Um grande atrativo da propaganda foi revelar a existência de um Cassino Espanhol, descrito por El Noticiero Español como importante para a comunidade espanhola no Pará. Seria este um local de encontro para investimentos e troca de experiências positivas de seus compatriotas em terras amazônicas. Outro destaque dado na propaganda foi à Hospedaria dos Imigrantes, descrita de forma grandiosa e com a ideia de ser um lugar de merecido conforto ao estrangeiro. O imóvel era amplo, composto por um corpo central e dois chalés laterais, com salões e dormitórios para homens e mulheres, um grande refeitório, despensa e chão de cimento, um compartimento para mulheres e seis para homens, quarto de banho, água encanada e dois bons depósitos. Informava ainda, que o local apresentava conforto por ter camas bem preparadas e bons cobertores, além de uma cozinha confortável e arejada, com uma boa bateria para preparar a alimentação dos hóspedes espanhóis. A localização das instalações da hospedaria era de excelente acesso para navegação e o terreno era seco e bastante elevado. Assim, não teriam problemas com alagamentos em tempos de chuva. Sabe-se que o governo do estado do Pará gastou bastante dos cofres públicos para realizar esta que seria “a pedra fundamental” da imigração estrangeira no estado do Pará. Assim que foi criada a Lei de Imigração nr. 223, 30 de junho de 1894, tratou a administração do estado de dar-lhe cumprimento. Adquiriu o governo a antiga Olaria do Outeiro, situada no furo do Maguary, o qual foi necessário acrescer, modificar e adaptar, 58 • Revista Estudos Amazônicos criando a Hospedaria dos Imigrantes do Outeiro.4 Assim, surgiu aquele que seria o lar para tantos estrangeiros no Estado do Pará no final do século XIX. Mas a propaganda imigratória também fazia suas exigências, e trazia em seu texto um tipo de constituição familiar a qual desejava que migrasse para o estado do Pará. Definia um perfil com um “certo rigor” para não errar na forma organizada na qual queria tratar o assunto da migração no Pará. Então, assim estabelecia os seguintes critérios aos leitores: A. Marido e mulher sem filhos, não poderiam ter mais de 45 anos de idade. B. Marido e mulher sem filhos ou enteados não deviam deixar de casar antes dos 45 anos, e ter pelo menos um homem útil para o trabalho. C. Viúvo ou viúva com filhos ou enteados devem ter sempre um homem útil. A estas famílias poderiam agregar-se: D. Irmãos, irmãs e cunhados solteiros que tenham menos de 45 anos e sejam cabeça de família. E. Irmãos e irmãs e cunhados maiores de 45 anos quando haviam vivido com família. F. Os ascendentes de chefes de família, o pai e a mãe, o avô e a avó do marido ou da mulher cabeça de família. G. Os sobrinhos e enteados, órfãos de irmão ou irmã chefe de família e que vivem agregados a ela. H. Esposo que foi criado na mesma família na qual vive. Revista Estudos Amazônicos • 59 I. Avô e avó, com filhos, genros, noras netos, sempre que haja entre eles um homem útil para o trabalho. J. As mulheres casadas, quando unirem-se aos seus maridos empregados no trabalho do campo, levando seus filhos. K. Os indivíduos solteiros com mais de 15 anos e menores de 45 anos, quando provarem terem sido chamados por seus parentes e estabelecidos na lavoura. L. Excetuando-se o chefe de família, não deve ter o imigrante mais de 45 anos. M. Os primos não são considerados parte da família. N. Os sobrinhos também serão excluídos, salvos os incluídos na cláusula G. N. Os netos são do mesmo modo excluídos, exceto se estiverem incluídos na cláusula I. O. O parentesco, assim como profissão serão examinados por seus passaportes e a faltas destes, por documentos das autoridades. Os mestres de oficinas e estabelecimentos serão visados pelos cônsules brasileiros. P. A admissão de emigrantes dará preferência aos que forem chamados por parentes e já estabelecidos pela agricultura do estado. Havia também regras para a permissão de embarque na Espanha. Algumas diretrizes estipuladas pelo Governo da Província de Barcelona, em 20 de fevereiro de 1900, eram: 1. Meninos com idade de 15 anos deveriam apresentar certidão de batismo se forem desta ou de outra província (deveriam passar por visto), autorização dos pais ou tutores com autorização da prefeitura ou com visto do respectivo governo de província, 60 • Revista Estudos Amazônicos certificação de não estar sendo processado, expedido pela prefeitura do local, também com visto do governador da respectiva província. 2. Meninos de 15 a 19 anos deveram seguir os mesmos requisitos do quesito nr. 1 (meninos com idade até 15 anos), mas com cédula pessoal (espécie de identidade), deveriam realizar o depósito de 1,500 pesetas em moeda na Tesouraria da capital da província de onde iria realizar o embarque, e responderiam com responsabilidade pela casa de campo, fazenda, sítio ou chácara. 3. Rapazes de 19 a 25 deveriam apresentar cédula pessoal e os mesmos requisitos do quesito nr. 1. Apresentar um certificado em que declarasse ser livre de qualquer responsabilidade ou trabalho em casa de campo, fazenda, sítio ou chácara, expedida pela comissão mista de recrutamento. Em caso de haverem sido excluídos e não haver cumpridos os doze anos da lei, ou se achassem com as reservas, deveriam ter autorização do capitão geral do distrito para ausentar-se até quando desejar. 4. Homens de 25 a 40 anos apresentariam cédula pessoal e licença absoluta ou certificação de estar livre de qualquer responsabilidade ou trabalho em casa de campo, fazenda, sítio ou chácara (os com 40 anos que estiverem com sua certidão de batismo não precisavam desta certificação), certificação de não estar sendo processado, expedido pela prefeitura do local, também com visto do governador da respectiva província. 5. Mulheres casadas deveriam apresentar cédula pessoal, permissão de seus maridos com visto da prefeitura local, Revista Estudos Amazônicos • 61 certificação de não estar sendo processada, expedido pela mesma prefeitura do local e visada pelo governador da respectiva província. Nota: O casal que viajava em companhia necessitava apresentar os documentos de casamento e as certidões de seus filhos que estivessem em sua companhia, devendo todos estar devidamente legalizados. 6. Solteiras até 25 anos deveriam apresentar cédula pessoal, documento de permissão de seus pais ou tutores, certificado de não estar sendo processada e nem sofrer condenação, expedida da mesma forma que foi indicada nos números anteriores. 7. Solteiras maiores de 25 anos deveriam passar pelas mesmas exigências dos números anteriores, com exceção apenas do documento de permissão de seus pais. Na falta de apresentação de qualquer documento ou dos requisitos exigidos, não se permitia a expedição de nenhuma autorização de embarque. A expedição da dita autorização de governo de província era completamente gratuita de toda classe de direito, comissões, mas deveriam ser marcadas com a lei vigente, com timbre. Os emigrantes estavam isentos de muitos gastos, pois muitas regalias lhes eram ofertadas, como as passagens completamente gratuitas. Os passageiros eram livres e não tinham que custear nada no vapor durante a viagem. A única exigência era a de declararem não ter pagado quantia alguma por conta destas passagens. A validade da passagem gratuita se entendia desde o momento em que o emigrante estava a bordo do vapor, da sua apresentação 62 • Revista Estudos Amazônicos ao ponto de embarque, hospedagem, dias de espera, os documentos selados para solicitar permissão do Governo Civil, o selo ou a apólice para estender essa permissão, o imposto de embarque para o Tesouro, condução de sua bagagem a bordo, os selos de correios para enviar certificados de seus expedientes e devolvê-los se for necessário retificados, e a conta do comissionista que realizava os tramites para obtenção e ajuste dos documentos. Tudo isso era parte dos custos que o governo deveria ter com o imigrante, assegurados por lei. Em caso de alguns pretenderem retornar, seriam pagos pelos retornados os gastos com selos, direitos e demais. Com qualquer pretexto que seja, não se lhes dava passagem. No que competia à responsabilidade criminal, a propaganda informava que o governo, por meio de um inspetor encarregado de fiscalizar este serviço, repudiava a todo emigrante que não viajasse nas condições estabelecidas e obrigava o Sr. Concessionário a retorná-lo ao porto de sua procedência. Como os agentes não queriam assumir a responsabilidade de pagar as passagens de ida e volta, denunciavam à polícia todos aqueles que apresentavam solicitação de passagem gratuita valendo-se de documentos falsos e ilegítimos, ou pertencentes a outro indivíduo, e também seus cumplices na ação considerada ilegal. No que dizia respeito aos embarques ao Pará, o transporte era feito em vapores de primeira classe, observando as regras de higiene local. O agente de embarque deveria ser informado da data de saída do vapor e solicitar aos agentes locais e das províncias da região que avisassem aos emigrantes que se apresentassem em tempo oportuno a fim de evitar gastos desnecessários com hospedagens. Chegados ao Pará, eram direcionados para a Hospedaria dos Imigrantes, onde teriam direito a alimentação Revista Estudos Amazônicos • 63 completa, desde o café da manhã até o jantar, além de assistência médica. Poderiam ficar lá por dez dias até encontrar um trabalho, isso para aqueles que possuíssem um ofício. A propaganda migratória apresentava uma tabela de salários e diárias pagas no estado do Pará de acordo com a profissão correspondente. Tudo era feito para que o emigrante se sentisse motivado e atraído a migrar. Havia uma diferenciação de pagamento entre os profissionais de acordo com a função exercida. Assim o imigrante entendia que o trabalho e a remuneração seriam uma opção bem melhor do que a realidade de desemprego a qual a Espanha vinha sofrendo ao longo dos anos e no final do século XIX. Além de salário mensal, ainda havia também a garantia de casa e comida a esse trabalhador. Logo, com tantas regalias, o imigrante não hesitava em optar por migrar para a Amazônia paraense. O perfil do imigrante espanhol, revelado e pretendido na propaganda emigratória, era de um indivíduo trabalhador, ambicioso o bastante para tornar- se rico e poderoso em terras paraenses. A linguagem do texto era clara: somente seriam bem vindos os indivíduos que quisessem trabalhar, e de preferência jovens para o trabalho. Além do mais, não haveria tolerância para aqueles que fossem pobres e que viessem apenas com o propósito de se aventurar, pois temiam que a mendicância fosse a única certeza de opção para esses indivíduos. Pedir esmolas seria uma consequência e não seria admitida a entrada, sequer permitido o embarque daqueles cujo objetivo em terras da Amazônia não fosse o estritamente o trabalho. As causas da emigração também foram discutidas no texto da propaganda emigratória. Há um conjunto de explicações para justificar o sentido real da migração para os espanhóis. Alguns 64 • Revista Estudos Amazônicos motivos chamam bastante atenção no texto, pois estavam relacionados à questão do clima e da economia espanhola. Cita o clima da cidade de Madri não estar mais como antes, haja vista o inverno estar muito intenso e triste, e remete-se também à agravante situação de penúria a qual se encontrava a economia espanhola, visto que, a crise econômica havia deixado as indústrias da cidade paradas e quase sem produção. Com isso, havia muito desemprego e o comércio já apresentava um visível enfraquecimento com a baixa de valores e quebra nas vendas. Mesmo diante de tantas vantagens apresentadas pela propaganda emigratória, a Espanha se via em volta de discursos “a favor e contra” a imigração. Mas o discurso da propaganda migratória pareceu ter sido mais convincente, pois seu texto defendia que a migração se tratava de uma solução para os problemas sociais e econômicos dos dois países, Espanha e Brasil. Trouxe até elogios ao discurso do Senador Duran y Bas, quando este afirmou que no país estavam “sobrando advogados, médicos e farmacêuticos”, e que pairava a sensação de que os profissionais formavam-se e não tinham como exercer suas habilidades aprendidas na academia, pois não tinham se quer emprego. Com isso, era comum ver jovens profissionais a se entregar a uma vida medíocre e sem oportunidades por todo o território espanhol. O país era chamado de “Mundo de Espanha enferma”, pois havia uma superpopulação de profissionais sem atividade, mas que fariam a diferença em outras partes do mundo. Por isso, a propaganda oficial acreditava haver a necessidade desses indivíduos apressarem-se a encontrar na migração uma “porta de saída” para aquela situação de falta de oportunidades. A propaganda migratória pareceu cercar por todos os lados os seus imigrantes espanhóis, afim de não deixá-los escapar de qualquer Revista Estudos Amazônicos • 65 forma. O texto os fez acreditar que a migração era realmente um “bom negócio”, haja vista ter garantias tão interessantes, que seriam irrecusáveis, indo desde o transporte para a América, hospedagens, moradia, alimentação e até “bons salários” para os que tivessem formação profissional. Tudo para encantar os olhos do imigrante e fazê-lo acreditar que migrar era uma decisão acertada para obter sucesso e prosperidade. Havia críticas feitas por alguns periódicos espanhóis contra a migração, mas também um sentimento mais convincente e a favor, pois a migração para Américas era quase um grito de liberdade para o povo espanhol. A propaganda migratória sabia argumentar e assumia realmente uma postura discursiva a favor do imigrante. Dedicava-se a mostrar vantagens que o indivíduo jamais teria em sua terra natal e trazia reflexões a respeito de futuro, privilégios e melhores salários ao trabalhador. Chamava atenção para grandes oportunidades que lhes foram negadas em seu país, como o direito a terra e ao trabalho, além da garantia de que não sofreriam mais com os horrores da fome e da miséria gerados pelos constantes conflitos vividos na Espanha. Era também apontada a forma lastimosa com a qual o governo monárquico da Espanha vinha tratando seu povo. Segundo a propaganda brasileira, o governo centralizador, não dava novas oportunidades à população espanhola, acarretando com isso grande sofrimento e indignação entre os cidadãos espanhóis. Com isso, havia um sentimento inconsciente de insatisfação que estava apenas esperando para ser exposto. Damos até mesmo por saber que muitos que emigraram tenham trabalho, que ganham uma diária para não morrer de fome. Há razões para 66 • Revista Estudos Amazônicos obriga-los a não melhorar seu modo de vida presente e a não desejar um futuro ao menos incerto? Pretende-se, por exemplo, que um trabalhador (jornaleiro) não tenha nunca um pedaço de terra sua, que lhe emancipe da vontade do fazendeiro e do industrial? Eis que a Espanha está dividida em “castas”, estes são forçados e obrigados a trabalhar eternamente para os donos da empresa? Enfim, que o pedreiro, o ferreiro, o carpinteiro, que em, Barcelona ganham 4 pesetas ao dia – quando há trabalho – não devam ir para o Brasil, onde ganhariam constantemente de 15 a 25 pesetas diárias?5 Outro ponto de ataque da propaganda era o excedente populacional que existia no país, pois o aumento de desempregados e os baixos salários geraram um exército de desocupados por todos os cantos da Espanha, além das discussões em torno das terras espanholas improdutivas e cansadas para o plantio. Este parecia ser o cenário ideal para que a imigração acontecesse, e fosse inevitável a emigração para a Amazônia. Assim, a migração foi defendida como um grande benefício aos emigrantes e as suas famílias, pois esses teriam emprego e segurança de melhores dias a todos. Mas imigração espanhola também era um grande negócio para as cidades brasileiras que os recebiam, pois resolviam o problema de mão de obra para trabalhar no campo e no comércio. Países como Venezuela, Cuba, Costa Rica, Peru, Chile, Uruguai, Argentina são apresentados como lugares que os espanhóis poderiam migrar, mas quando se apresentava o Brasil, os Revista Estudos Amazônicos • 67 argumentos tomavam ares de conquista e verdade. O país aparece no texto como um lugar de prosperidade. Até para as profissões mais simples como a de um artesão o lugar aparece como próspero. O país é descrito com todas as suas principais cidades, capitais, dentre elas o destaque está o para o estado do Pará, onde descrevem-se seus principais municípios e vilas, numa descrição geográfica, política, econômica e populacional do estado. Ao que diz respeito à produção do estado do Pará, a propaganda tem esse assunto como estratégia principal para atrair os imigrantes espanhóis. O destaque foi para o leite da Seringueira, o látex (“La goma elástica”), citado como o mais importante ramo de comércio no Pará. Depois citou o cacau, que apesar da dificuldade do seu cultivo é um produto compensador pelo valor que alcançou no mercado brasileiro. O cacau foi apresentado como segundo produto de maior importância em quantidade e valor, com facilidade de serem encontradas suas árvores nos vales do Amazonas e do Tocantins. A castanha também mereceu destaque como um produto de natureza amazônica com grande valor de exportação, pois segundo a propaganda, existiam documentos oficias que comprovavam que no período de quase 50 anos (1836 a 1893) se exportou 12.840,373 quilos de castanha arrecadando um valor aproximado de 3.482,102`50 pessos. O tabaco tinha destaque de cultivo em cidades (distritos) como São Miguel do Guamá, Ourém, Irituia, Acará e Bragança. Sua produção não alcançava grandes números de exportação, mas no que diz respeito ao comércio interno, seu cultivo e produção alcançava números surpreendentes. O transporte hidroviário é descrito como fundamental para a Amazônia, por ter principalmente elevado seu comércio a estágios maiores que muitos mercados estrangeiros de países antigos. O 68 • Revista Estudos Amazônicos trabalho abundante nas colheitas fazia com que o comércio fosse bem remunerado, bastava que se avaliasse o comércio de exportação do Pará. Isso fazia com que 42 vapores com 52 mil toneladas, e mais 72 vapores com 20 mil toneladas e diversos barcos a vela e a remo navegassem constantemente pela difícil extensão de 80 mil quilômetros de rede amazônica. A navegação sempre foi o meio de transporte mais usado e mais característico do povo amazônico. Ela é responsável não só pelo desenvolvimento econômico da Região Norte, mas também pela expressão cultural dos “povos da floresta”, pois a identidade de seu povo depende da presença dos rios para entender-se como parte também dessa floresta. Desta forma, os imigrantes estrangeiros se introduziram na região e passaram a fazer parte desse “mundo amazônico” com hábitos e costumes tão diferentes e quase aventureiros, aprenderam a usar o rio como um aliado para vencer as adversidades encontradas na dinâmica de trabalho na Amazônia. “Na indústria local paraense a navegação a vapor contribuiu em 1851 pela introdução de mão de obra trabalhadora nas indústrias locais para dedicar-se a extração de goma elástica”.6 Com relação à comunicação no estado do Pará, a propaganda traz no seu texto informações de um serviço prático e moderno. Somente os correios possuíam 61 administrações de 1ª a 4ª classe e por 65 carteiras, com várias agencias em pequenos lugares do estado, de modo que o benefício do correio alcançasse a todos. Sabendo que os imigrantes também era um público que aquecia a economia através dos meios de comunicação por utilizaram constantemente os serviços de comunicação das cidades, ainda havia promessas do governo de ter mais investimentos na área, pois sabiam que somente assim atrairiam cada vez mais imigrantes para a região. Revista Estudos Amazônicos • 69 Segundo o administrador do Correios do Pará, Gregório Antônio do Reis a renda apenas de um ano dos correios se resumia em uma fabulosa renda, a qual se resume em valores que podem sem entendidos em um pequeno fragmento do texto da propaganda. O texto informa que os emigrantes ajudavam suas famílias residentes na Europa. Isso aos “olhos do imigrante leitor” trazia certo conforto em saber que o contato com seus conterrâneos não acabaria com a migração, e muito mais, a garantia de que poderiam ajudar financeiramente seus familiares, mesmo a distância. Além dos correios, havia os telégrafos, pelos quais se comunicavam com todo o mundo pelos cabos da Western & Brazilian Telegraph Company. Os telefones eram a grande novidade no Pará, pois se tratava de um meio de comunicação bastante moderno no século XIX na Amazônia Paraense. Segundo o gerente da Estação Central Manuel Ignácio da Silva, havia linhas telefônicas agrupadas em 26 cabos subterrâneos e 12 aéreos cuja extensão se eleva a 8,737 metros, ligados 50 finais, divididos em 36 caixas de distribuição. As linhas aéreas abertas expandiam-se a 183,740 metros e as conexões ascendiam a 22,402, cifras que evidenciam a importância do serviço telefônico em Belém. Há um grande destaque na propaganda para a ferrovia paraense com trajeto Belém – Bragança. A concessão era de uma companhia Inglesa que logo depois a vendeu ao governo do Pará. A construção da estrada de ferro favoreceu bastante a economia da região do nordeste paraense, principalmente por ter facilitado o escoamento de produtos que eram cultivados na cidade de Bragança, nos núcleos de colonização próximos, como foi o caso da colônia de Benjamin Constant. No entorno da estrada de ferro, novos povoados surgiram. A região passou a atrair bastante os 70 • Revista Estudos Amazônicos imigrantes estrangeiros e os internos também, vindos de várias regiões do país. A Estrada de Ferro Belém Bragança tornou-se o “carro chefe” dentro do processo imigratório do Pará no século XIX. Muitos imigrantes, como o caso dos espanhóis, viram nela um símbolo de modernidade e prosperidade, talvez algo que jamais se pudesse imaginar em meio a toda imensidão da floresta amazônica. O comércio de importações e exportações revela números crescentes surpreendentes na propaganda imigratória. Entre os anos de 1849 a 1889, percebe-se um constante aumento de produtos saindo e entrando no estado, tudo em função das necessidades e da produção de uma nova civilização e elite que se instalava no Estado do Pará e comprovava a riqueza de muitas famílias já residentes no estado e o sucesso da estrada de ferro. A estrada de ferro foi um elemento forte de atração, que serviu de gancho para incentivar muitos imigrantes a virem para o norte do país, pois representava a praticidade do transporte tanto de alimentos como de pessoas, mesmo dentro de uma região que parecia tão cheia de contrastes e adversidades. A propaganda deu continuidade a divulgação, também, de um estado cheio indústrias, comércio e agricultura, todos fortes e consolidados. O Pará era apresentado como um lugar de grandes oportunidades de investimento e aqueles que desejassem enriquecer e prosperar teriam ali sua oportunidade de emprego e trabalho. Em pouco tempo, o Pará se tornou um “país industrial”, rico e grande fornecedor de matéria prima para engenhosas construções. Neste sentido, o território paraense agradava desde o mais exigente gosto artístico até o mais simples agricultor. Havia todo tipo de artefato, tecidos delicados, finos, linhos resistentes e aos Revista Estudos Amazônicos • 71 interessados ao cultivo. Havia plantas medicinais, azeites finos, cascas das mais variadas, rezinas e gomas. No reino animal havia muita diversidade, desde óleos para máquinas que eram feitos a partir de animais da floresta. O couro forte, que ao mesmo tempo era delicado, servia para a produção de sapatos, luvas e casacos, todos de origem animal. A diversidade de animais ia desde veados, jacarés até uma grande variedade de lontras, além de animais cujo o nome indígena não se encontrava tradução. O reino mineral constituía-se na maior parte do subsolo amazônico. Havia argila das mais variadas cores que serem de matéria prima de vasilhas de luxo. Também havia quartzo, granada, micas, turmalina, mármore e até carbono e muitos outros elementos de riqueza que a indústria iria se apoderar em pouco tempo. O trabalho no Pará aos poucos “evoluía”, desde a escravatura indígena e africana. Após a liberdade a lei Áurea, viu-se a necessidade de braços para realizar o trabalho braçal na terra, pois era necessário continuar plantando e cultivando. Sendo assim, em 1862, o Pará já possuía grandes oportunidades de emprego aos imigrantes estrangeiros. A indústria paraense apresentava uma interessante e diversificada configuração de trabalho, com 166 de engenhos de açúcar, 24 fábricas de sabão, 6 fábricas de azeite, 18 de cal, 6 de louça de barro, 1 de vinho de cajú, 1 fábrica de chocolate, 3 beneficiadoras de arroz, 1 moinho de café, 25 olarias e 10 serrarias, além das 1.565 fábricas de farinha de mandioca, uma indústria comum no estado, em função dos seus hábitos alimentares, isso sem falar da crescente exportação de sabão, açúcar, arroz, algodão e café, fazendo com muitos imigrantes fossem atraídos para a região. 72 • Revista Estudos Amazônicos A propaganda não se esqueceu de citar as companhias anônimas existentes no século XIX no estado do Pará. Eram as mais variadas, de toda natureza, de navegação a Companhias de Seguro. O texto destacava: Companhia das Águas do Grão Pará, Companhia de Seguros do Grão Pará, Companhia de Seguros Comercial, Companhia de Navegação Pará e Amazonas, Amazon Steam Naigation Company Limited, Lanfrane, Anselm, Augustine, Ambrose, Basil, Clemend, Siril, Gregory, Justine & Origen, Red Cros Line (Vapores com navegação Nova York – Pará) Companhia Viação Férrea e Fluvial do Tocantins e Araguaia, Empresa de Navegação do Rio Guamá e Tocantins, Cerâmica Aperfeiçoada, Companhia de Gás Paraense, Fabrica de Papel Paraense (já com máquinas a vapor), Companhia Costeira do Maranhão, Lloyd Brasileiro, Empresa Industrial do Gram Pará (serviço telefônico), Companhia Auxiliar do Comércio (Armazéns e Doca, Cais), Companhia de Seguros Garantia do Porto, Companhia Construtora Paraense, Companhia Urbana da Estrada de Ferro Paraense (Linhas férreas que cruzavam toda a capital paraense), Companhia protetora da Industria Pastoril e um destaque para Booth´s Line of Steamers, uma companhia de navegação que estabeleceu vários serviços mensais no transporte fluvial realizando trajetos como: Liverpool – Pará, Maranhão – Ceará (ambos com escala em Lisboa), Pará, Lisboa, Harvre – Liverpool, Hamburgom (Alemanha), Antuérpia (Belgica), Harvre (França), Oporto (Portugal) e Pará, Nova York –Pará, Maranhão e Ceará, Nova York, Pará e Maranhão, todos com serviços de correios. Os bancos, estes não poderiam deixar de ser citados no texto, com destaque para o Banco Comercial do Pará, Banco do Pará, Banco de Belém do Pará, Banco Emissor do Norte, Banco de Crédito Popular e o London Brazilian Bank Limited. Revista Estudos Amazônicos • 73 Ao que diz respeito à beneficência, a Santa Casa de Misericórdia é citada como uma referência para atendimentos de toda natureza. Estava dividida em Hospital de Caridade e Asilo de Dementes na Capital e Hospício de Lázaros em Tucunduba. Assim, garantia-se um atendimento de qualidade, para dar maior atenção ao paciente que se necessitasse de tratamento específico. A beneficência fornecia além do atendimento, também a medicação aos enfermos, principalmente para os em situação de extrema pobreza, mendigos e moradores de rua. De certo modo, toda a comunidade de Belém e do interior teria se beneficiado com a existência de um serviço médico e social, já que muitos imigrantes dos núcleos vinham para a capital paraense a procura de um serviço médico de qualidade. A propaganda migratória é finalizada com o depoimento envaidecido dos nomes mais importantes da sociedade paraense do final do século XIX. Há grande destaque para o Dr. Lauro Sodré, por ser um dos idealizadores da migração estrangeira no estado do Pará. Encerra-se a propaganda da lei 223 de 1894, assinada por ele, deixando para o leitor uma “mensagem de convite no ar”. Constrói-se, em seu texto, uma imagem positiva ao leitor, mostrando a generosidade do Governo do Pará para com os imigrantes espanhóis. Proporciona-se um sentimento de que a imigração era um simples e lucrativo, principalmente aos agricultores e as suas famílias, já que teriam total apoio do governo estadual no que diz respeito principalmente às suas despesas e moradia. Sendo assim, o texto finaliza apresentando os interesses da Direção de Terras e Colonização do Pará em introduzir imigrantes na região. Assim, logo informa a introdução de 35.000 emigrantes procedentes de países como Itália, Espanha, Portugal, ilhas do Mediterrâneo e Atlântico durante o período de apenas 5 anos. 74 • Revista Estudos Amazônicos Há também das palavras de exaltação e ufanismo à terra do Engenheiro Manuel Odorico, que excita os olhos do leitor a admirar a beleza e o encanto do território amazônico, “onde tudo que se planta dá”. O texto compara sua terra e seus rios aos mais grandiosos e prósperos do mundo, com uma civilização que um dia será a mais importante do mundo: “Eis ali que mais cedo ou mais tarde se concentrará um dia a civilização do mundo”. É utilizando as palavras de Humboldt que de forma grandiosa o Engenheiro e Diretor das Ferrovias do Pará, Manuel Odorico Nina Ribeiro prevê o futuro da Amazônia, um centro do mundo. Ao tratar da questão das vias de transporte, compara o rio Amazonas aos rios Ganges, Nilo e Eufrates. O Amazonas era um gigante no transporte de vapores, levando e trazendo os mais variados produtos. A livre navegação no “rio mar” a todas as bandeiras de nações amigas demonstrava a facilidade com a qual se escoavam os alimentos na Amazônia. Com a emancipação do braço escravo e a produção de suas inesgotáveis riquezas, em ordem e progresso proclamados em sua constituição política determinam o processo da história do Amazonas, e o começo da grande civilização amazônica. “Nada tão belo como a amplitude do Amazonas, cujo seu tamanho imenso, sai dos planaltos auríferos das Guianas e termina nas vertentes orientais dos Andes.7 O texto da conclusão da propaganda traz como reflexão as palavras convidativas do contratante Francisco Cepeda, um dos Revista Estudos Amazônicos • 75 principais agentes contratados pelo estado, responsável por introduzir 15.000 estrangeiros no Pará. Assim dizia: O Brasil é um lugar de homens livres, onde lá se terá um presente fácil, cômodo, prazeroso e com um futuro seguro e rico, inevitavelmente rico para todos os homens de bem e suas famílias. O estado do Pará é a Nova Jerusalém do Trabalho esplendidamente retribuído.8 É quase com o sentimento da Revolução Francesa, liberdade, igualdade e fraternidade, que Francisco Cepeda mostra aos espanhóis um lugar de direitos, em que o ser humano é valorizado pelo seu trabalho e sua recompensa seria sempre a riqueza, a prosperidade, não só para o individuo que migrasse, mas para toda sua família. Com esse coração pulsante, escrito em palavras firmes é que o contratante Cepeda tenta convencer seu público de que a única certeza que poderiam ter em suas vidas seria “migrar para a Amazônia”. Artigo recebido em agosto de 2011 Aprovado em dezembro de 2011 76 • Revista Estudos Amazônicos NOTAS * Doutorando Núcleo De Altos Estudos Amazônicos – PDTU / NAEA. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará. Contato: fsmith@ufpa.br 1 FONTES, Edilza Joana Oliveira. Prefere-se português (as): Trabalho, cultura e movimento social em Belém do Pará. (1885-1914). Tese de Doutorado (Programa de Pós-Graduação em História Social). Campinas-SP: Unicamp, 2002. 2 BACELAR, Jeferson. Galegos no Paraíso Racial. Salvador: Ianamá, CEAO/CED/UFBA, 1994. 3 AMAZÔNIA. Escritório de emigracion da España y lãs islas Baleares y canárias al estado del Pará em la República del Brasil. Galicia: J.Barreras [1895] 4 MUNIZ, Palma. Imigração e Colonização. História e Estatística (1616-19160). Belém: Imprensa Oficial do Estado do Pará, 1916. 5 Amazonia. Escritório de emigracion da España y lãs islas Baleares y canárias al estado del Pará em la República del Brasil. Galicia: J.Barreras [1895]. 6 Amazonia. Escritório de emigracion da España y lãs islas Baleares y canárias al estado del Pará em la República del Brasil. Galicia: J.Barreras [1895], 56 p, il. Retrs. 7 Amazonia. Escritório de emigracion da España y lãs islas Baleares y canárias al estado del Pará em la República del Brasil. Galicia: J.Barreras [1895], 56 p, il. Retrs. 8 Idem. copyright autor do texto

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