quinta-feira, 21 de junho de 2012

O ABANDONO DOS SERINGAIS NA AMAZÔNIA

Para publicar artigos, acesse sua conta abaixo. Se esqueceu sua senha, clique aqui. E-mail: Senha: Artigos História NAS FRONTEIRAS DA FICÇÃO E DA HISTÓRIA: REPRESENTAÇÕES SOBRE A AMAZÔNIA NA LITERATURA AMAZONENSENAS Publicado em 17 de fevereiro de 2010 em História ImprimirEnviarRSSNAS FRONTEIRAS DA FICÇÃO E DA HISTÓRIA: REPRESENTAÇÕES SOBRE A AMAZÔNIA NA LITERATURA AMAZONENSENAS O presente trabalho analisa as representações sobre a Amazônia na Literatura Amazonense da virada do século XX e sua primeira década, a partir da leitura analítica da obra literária Terra de Ninguém , do escritor amazonense, Francisco Galvão, natural do município de Manicoré. Livro este que é um romance social do cotidiano amazonense, publicado em 1934 e ambientado em 1906, mesmo ano que o autor nasceu. Busca-se verificar nessa obra como a Amazônia, especificamente o estado do Amazonas é representado, observando o espaço social, econômico e cultural da época pesquisada, bem como os sujeitos representados na literatura. Por este viés, compreender a relação importantíssima entre a história e a literatura amazonense. Palavras Chaves: Literatura; História e Representações amazônicas. INTRODUÇÃO Terra de Ninguém! Paragem maldita onde se encontra um refúgio, um descanso. Tudo é falso e mente a nossos olhos. (Francisco Galvão) Escritores no mundo inteiro sempre exploraram os aspectos econômicos, culturais e sociais de seus países através da prosa e da poesia. No Brasil nossos imortais abordaram amplamente os ciclos econômicos, aspectos culturais e sociais por meio de suas prosas. Isto acontece a partir do movimento do Romantismo que ganha características regionalistas ou sertanistas, com O Quinze, de Rachel de Queiroz; Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Os escritores amazonenses, também, começaram a desenvolver no início do século XX, uma literatura regionalista voltada para o ciclo econômico da "borracha". Na intenção de compreender a história do Amazonas, durante o apogeu da borracha, pelas representações da literatura amazonense, sob o olhar de escritores nativos, defrontamos com Terra de Ninguém, de Francisco Galvão, romance ambientado em 1906, ano de nascimento do autor e publicado em 1934. Terra de Ninguém é uma das muitas obras literárias amazonenses que segue o caminho de exploração do período extrativista na Amazônia.O primeiro romance a enveredar por esse caminho foi O Paroara (1899), de Rodolfo Teófilo; seguido por Inferno Verde (1908), de Alberto Rangel; Deserdados (1921), de Carlos de Vasconcelos; A Selva (1930), de Ferreira de Castro; Terra de Icamiaba (1934), de Abguar Bastos; Beiradão (1958) e Banco de Canoa (1963), ambas de Álvaro Maia; Coronel de Barranco (1963), de Cláudio de Araújo Lima, entre outros. Para melhor entender a intrínseca relação entre ficção e história num contexto histórico e posicionando o autor no tempo e no espaço que escreve, recorremos em muitos momentos aos conceitos de Leonardo Affonso e Sidney Chalhoub que nos revela: "para historiadores a literatura é, enfim, testemunho histórico" (CHALHOUB & PEREIRA, 1998, p. 6). E assim, sendo "testemunha" da história passa a nos desvendar os fatos históricos da época em que a ficção foi ambientada, ligados a experiência do escritor.Sob este olhar Sevcenko considera a "literatura... que fala ao historiador sobre a história que não ocorreu, sobre as possibilidades que não vingaram, sobre os planos que não se concretizaram" (SEVCENKO, 1999, p. 21). Em Francisco Galvão, nos confrontamos com a distorção entre o tempo de lançamento da obra que ocorreu em 1934 e sua ambientação em 1906. Para compreender essa relação de tempo histórico e o tempo ficcionista, recorremos ao filósofo Paul Ricoeur, que em sua obra Tempo e narrativa, nos oferece algumas reflexões múltiplas acerca do tempo, dentre elas a proximidade entre as intenções do historiador social e os do romancista quanto ao ato de narrar. O filósofo afirma que a história "reinscreve o tempo da narrativa no tempo do universo" (RICOEUR, 1997, p. 317). Para explanar sua concepção, o filósofo fala da historicizaçao da ficção, apoiado em Weinrich, ressalta que o tempo não tem função própria, a não ser indicar a organização da narrativa, por meio de seus indícios, tais como, os modos e tempos verbais, que fazem com que o leitor possa captar a distensão do momento em maior ou menor grau. Neste caso, o papel da obra, Terra de Ninguém, é remeter as significações temporais que o cotidiano não nos permite perceber. A fim de compreendermos o conjunto de abordagens em torno da obra Terra de Ninguém, vamos proceder caracterizando seu autor, conforme o que propõe Chalhoub: "e aqui as primeiras perguntas do historiador social são: De que literatura se está falando? Quais as suas características? Como determinado autor ou escola' concebe sua arte?" (CHALHOUB E PEREIRA, 1998, p. 8). Segundo os dados biográficos oferecidos pela Seleta Literária do Amazonas (1966), do prof. Lins, Francisco Xavier Galvão, assim como o seu personagem Anatólio, veio ao mundo em 1906, na cidade de Manicoré, região do Rio Madeira, Amazonas e, faleceu em 1956 no Rio de Janeiro. Filho do cel. Domingos Hermilo Galvão e Maria Cabral de Vasconcelos Galvão, fez seus estudos em Manaus, no Ginásio Pedro II. O autor ingressou no 'mundo das letras' através de uma filiação à escola romântica. Em 1922, ano divisor na cultura e na política brasileira, o jovem Galvão publica, pela Livraria Schettino, o livro de poemas Vitória Régia. Foi deputado estadual pelo Amazonas em duas legislaturas e, à época da Revolução de 1930, viajou para o Rio de Janeiro, onde se formou em Direito e escreveu em diversos órgãos da imprensa. Lá publicou, em 1934, Terra de Ninguém. Francisco Galvão de acordo com a Seleta Literária do Amazonas do Professor Lins (1966) pertenceu ao movimento do parnasianismo no Amazonas, com a obra Vitória - Régia. Os poemas são carregados de emoções românticas vestidos pela forma parnasiana com todos os direitos que a mesma ditava: métrica perfeita e rimas ricas e preciosas. É na expressão de romancista social, que se perfaz o papel social de Francisco Galvão, que para J.M. Gomes de Almeida, em A Tradição Regionalista no Romance Brasileiro, escreve: "Os escritores agora parecem mais preocupados com o questionamento direto da realidade do que com a renovação da linguagem narrativa" (ALMEIDA, 1981). E este é o papel do autor social, questionar a realidade, ao mesmo tempo, oferecer ao historiador social de acordo com Sevcenko: "As posturas, as ênfases, as críticas presentes nas obras nos serviram como guias de referência para compreendermos e analisarmos as suas tendências mais marcantes em seus níveis de enquadramento sociais e sua escola de valores" (SEVCENKO, 1999, p. 22). Portanto, Terra de Ninguém, foi escolhida a partir de uma longa pesquisa dentre tantas obras da temática extrativista no Amazonas, mas, por ser um romance que trata do social e histórico da região amazônica. E finalmente, por termos entrado em contato com algumas pessoas que viveram na época do "ciclo da borracha", especialmente os oriundos da última grande corrida da borracha entre 1942 e 1945, incentivados pelo presidente da República Getúlio Vargas. Esses sobreviventes, hoje espalhados pela calha do Juruá, microrregião geográfica localizada ao sudoeste do Estado do Amazonas; são testemunhas da narrativa de Francisco Galvão ainda que meio pitoresca, visto que, a maioria identifica-se com os temas abordados na obra; tais como a relação entre "os coronéis" e "os seringueiros"; a vida subumana que levavam. Terra de Ninguém convida a despertar a consciência crítica dos trabalhadores e a trilhar pelas "estradas" da selva Amazônica, seguindo os passos dos "nordestinos" na região. 2. DA TERRA MISTERIOSA AO HOMEM SERVIL. Em Terra de Ninguém, a região amazônica, em especial o Rio Madeira, é apresentada em cenário predominantemente selvagem em que a "selva enorme, eriçada de mistério, grávida de perigos" [1], leva os seus desbravadores "a conhecer os segredos da vida". Em todas as cenas, a floresta amazônica, surge como uma personagem controversa que acaricia e protege no ventre o amado filho: "eu me aconchegava aos lençóis de linho", mas que ataca com a mesma intensidade o seu agressor "selva bárbara, onde a esperança de libertação desaparecia ao tempo". A imagem de uma terra misteriosa, fértil e abundante se destaca em toda a narrativa, mas ressaltada no início da obra quando Anatólio, protagonista desta saga amazônica chamada Terra Ninguém, penetra na vida da floresta e depara-se com: "a mata ciclópica, infinita, desumana, onde, na superstição macia dos caboclos, saltavam matintapereras e apareciam boitatás gemendo nas noites escuras, e as cobras silvavam enrodilhadas nas folhas". Francisco Galvão é mais claro ao retratar a floresta que desafia ao homem e o homem que desafia a terra quando declara: "e muito pior que a terra o homem". Se o homem é pior que a terra, na visão galvaniana, embora o autor registre o homem fica encurralado durante o regime de enchente, o caboclo, nascido e criado ou adotado nesse sertão sem seca e nesta seca com água, conhece a região de tal modo que sabe viver numa: "Terra de Ninguém, onde todos mandam, onde todos exploram e são explorados". Essa relação entre caboclo e Amazônia; exploradores e explorados segue ao longo da narrativa, contando a história da personagem Anatólio. Na narrativa os caboclos quase sempre são apresentados como "seringueiros que apareciam, seminus, companheiro da mesma tragédia humana". A região compõe o disfarce de uma tragédia, em que a Amazônia é testemunha da agressão do homem pelo homem, do homem a ela mesma, a qual, em certos momentos, se mostra passiva como acumular forças para a reação ao agressor em que: "uma gente esmagada pela luxúria da paisagem, sem leis, nem garantias escravizadas ainda aos potentados". Se o nordestino fugia para cá em busca da "conquista de um sonho", quando aqui chegava já devia mais que dinheiro, passava a dever a própria vida e era: "obrigado, para salvar se, a jogar com a vida, desembainhando o terçado da cintura e atracando se epicamente, corpo a corpo, defendendo se, com audácia e coragem inauditas". No olhar de Galvão "a vida do seringueiro é uma luta permanente com a natureza. Inimigos por toda a parte". Segundo depoimento recolhido por Samuel Benchimol, em Romanceiro da Batalha da Borracha o seringueiro nordestino: "no primeiro ano era brabo, no segundo é barrigudo, no terceiro é que chamam de manso" (BENCHIMOL, 1992, p. 147). Seguindo esta trilha depois de alguns anos de mansidão, o agora caboclo, passa a comungar da mesma labuta e reflete sobre a vida: "Somos apenas uns escravos. Escravos e nada mais". Escravos jogados a própria sorte e ao devaneio do "coronel de barranco" que não se importa com a "massa anônima de escravos perdida nas selvas". Portanto, entre a misteriosa e encantadora selva está o enganado retirante nordestino, lutando pela sobrevivência na selva, na certeza de vencer os perigos de uma terra "onde a morte espreita em cada clareira" e em cada recorte da espessa floresta. 3. DAS CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS E EDUCACIONAIS AO IDEÁRIO REVOLUCIONÁRIO. O seringueiro nordestino, em especial o cearense, predomina no romance e, ao lado destes companheiros é que Anatólio se joga na vida do seringal como brabo e ironiza sobre as diferenças sociais: "Ali seria o nosso lar. Naquela miséria é que haveríamos de aguardar a visita da Fortuna, quando esta, cansada de atender os desejos dos ricos, se acertasse o caminho, e não temesse a distancia, quisesse se perder no labirinto intrincado da selva misteriosa". As condições socioeconômicas dos seringueiros contrapõem-se com a vida do patrão (coronel), enquanto este vivia no "conforto, extraído das lágrimas dos que trabalhavam no seringal". A massa trabalhadora era deixada "no interior, a desordem; ao abandono, a miséria". E as contradições, são acentuadas ao modo de vida e tratamento dos aventureiros da selva. Na narrativa de Galvão, a massa escravizada vivia em "casa de palha de ubi, sem móveis, sem luxo" em uma situação degradante e jogado "com toda a miséria da vida" onde "um resquício da liberdade que tinham iam perder para sempre". Nesta extraordinária e fabulosa terra, a tragédia humana faz parte do cenário de um lugar tão inóspito como era a Amazônia de Francisco Galvão. Lugar propício para o abandono do aparelhamento do estado. A narrativa apresenta os seringais como lugares "sem escalas, sem farmácias, sem o menor conforto" onde "ainda se mente afirmando-se falsamente que existem leis sociais", mas "o que existe é a miséria... a vergonha, a indiferença, o marasmo". E o governo só se fazia presente em épocas de eleições, o que não é muito diferente de hoje, aliado aos "coronéis de barrancos" que incentivava os seringueiros a "descarregarem na chapa do governo"; e quando algum seringueiro desviava o voto para o adversário "não mais trabalhava, sendo posto de bubuia numa canoa, alta noite, sem remos". Isto é, era levado a morte como um manso cordeiro. A educação era privilégio de poucos, em Terra de Ninguém somente os filhos do patrão tinham acesso aos estudos, sendo educados nos "melhores colégios europeus". Os seringueiros como viviam num regime de escravidão, tinham esse direito negado. E os poucos que sabiam ler e escrever havia aprendido ainda no Ceará, ou em algum colégio da capital quando sua vida concentrava um pouco de dignidade, como é o caso do Anatólio, protagonista deste enredo amazônico. Mas mesmo os que detinham os conhecimentos científicos e das letras ficavam atrelados aos anéis e, não sabiam fazer mais nada, como descreve Galvão no encontro do promotor com Nadesca e Anatólio: "Um homem formado está para sempre preso ao anel. Não pode mais fazer nada. - Penso como ele, disse ela: O homem que se forma, é um cidadão que se entrega ao parasitismo. Compra cargos pelo título, onde os exerce mal, sem a devida competência, as mais das vezes. - Tem sido, aliás, um mal no Brasil esta educação falsa, os homens e as mulheres correm às Universidades e esquecem as escalas técnicas: O que se vê depois, com mágoa, são bacharéis de rubis e brilhantes no indicador empurrando malas-postais, à noite nos correios e médicos amáveis, servindo de inspetores agrícolas". E a ideia de uma "educação falsa", como era falso tudo que antes haviam dito a eles, surgia então algumas ideias de transformação social. Galvão representa uma latente e eminente revolução seringueira, presente através dos diálogos de Nadesca e Anatólio, e intensificado pelo ideário socialista, que é uma das ideias matrizes da obra. A forma de trabalho do seringueiro, as condições sociais, o capitalismo, os movimentos revolucionários da década de 1920, e o confronto burguesia e proletariado são algumas das questões que norteiam o teor político que percorre em Terra de Ninguém. Mas para Souza em A Expressão Amazônica, "Terra de Ninguém conta uma rebelião de seringueiros, com muitas palavras marxistas e pouca profundidade ideológica" (SOUZA, 2003, p. 224). Além disso, foi uma rebelião "inverossímil", que serviu para Francisco Galvão implantar "os conceitos libertários do marxismo em personagens de elite que se despedaçam na indigência do seringal" (SOUZA, 2003, p. 224). Para Afrânio Coutinho, em A Literatura no Brasil o romance regional: "alia-se à questão social e ao drama do proletário" (COUTINHO, 1997). Outros temas sociais são encontrados, o feminismo presente na fala do narrador: "O casamento é hoje um negócio como outro qualquer, e eu não costumo fazer preço nesse assunto"; a escravidão é tema social recorrente na obra seja a forma de vida dos seringueiros, seja o sonho por liberdade "nem parece que a Princesa Isabel, libertou uma raça. No Amazonas, vivemos como naquele tempo, acorrentados ao patrão malvado, que, como sanguessuga, rouba-nos o sangue". Por fim, as ideias marxistas são resumidas na fé de renovação de um país humano e preocupadas com o bem-estar comum de todos e não apenas de uma pequena parcela, o próprio narrador ressalta: "Eu creio na renovação do Brasil: A revolução vem aplainando o terreno. Já existem leis sociais interessantes providenciando sobre garantia dos operários". 4. DOS ÍNDIOS A LINGUAGEM. O índio em Terra de Ninguém é uma mística de selvagem e civilizado, uma verossimilhança das narrativas de Ferreira de Castro, em A Selva (1930) e, Adauto Fernandes, em Terra Verde (1925). Os muras, descritos como terríveis, de acordo com A Muraida (1818) de Wilkens, que tragicamente foram quase extintas, ressurgem em Terra de Ninguém como "meio civilizados" e "prestando grandes serviços na lavoura". Enquanto as Parintintins tanto nas obras citadas acima como na de Galvão são apresentadas como "bravios, sempre escondidos nas moitas, dispostos a enviar as flechas envenenadas do curare mortífero". "Malvados e desumanos, àquelas horas estariam certamente fazendo festas, em hora das cabeças levadas como troféus". Assim, era o pensamento de Dona Rosa, esposa, de Manuel Lobo, que lamentava e criminava a horrenda ação dos nativos das matas. Que não deixava de ser o conceito de "não-selvagem" na época e que, de alguma forma ainda hoje, persiste em algumas camadas sociais, especialmente daquelas que não conhecem a região Amazônica, contrariando a ideia do "bom selvagem" de Rousseau. O romance representa os índios muras fazendo uma farinhada, acompanhada de cantos melancólicos e uma música bárbara, rudimentar que por si retrata a tristeza e a vida monótona que levavam. Quanto à linguagem, o autor prima por expressões simples e de fácil compreensão. Não é uma linguagem rica e criativa como a de outros romances de mesma temática social. Sua forma de escrever concentra-se, em favor de uma ideia o socialismo. Contudo, ressaltam-se, passagens do romance social do Amazonas pela subjetividade: "Aqui é acolá um paraná estreito que o navio singrava". "Casa de palha de ubi, sem móveis, sem luxo e a felicidade lá dentro, sem vontade de sair". O vocabulário utilizado além de simples é uma mistura de expressões nordestinas e palavras indígenas como: "aqui não se admite muié; fora do tapiri, um curumim sujava"; o que também caracteriza o regionalismo. O cenário é vivo, e realista, os verbos são empregados numa exatidão e as palavras regionais traduzem mais do cenário que as atitudes. Por fim, Francisco Galvão, provavelmente, não pretendia criar uma obra tipicamente literária, e sim uma obra para despertar em seus leitores a consciência da luta social. Talvez, não fosse sua pretensão, escrever para letrados, mas para o proletariado, o homem simples, o caboclo, o seringueiro que um dia viesse a ler, pudesse ler sua obra e fazer a revolução tão sonhada e apregoada por ele. 5. CONCLUSÃO Depois da leitura e da reflexão do romance Terra de Ninguém e as representações sobre o mesmo, conclui-se que a obra literária, no entanto não possuindo toda a carga crítica exigido pelo leitor social, mas cumpre a sua função, deixando o recado do autor ainda que seja muito coloquial e subjetivo, conforme o período vivenciado por ele, para as futuras gerações. O autor deixa um toque revolucionário em sua obra, isto é, através do desfecho do último capitulo em que se deflagra a revolta dos seringueiros, ele dá a entender de um futuro promissor para os seringueiros em que o patrão já não era seu algoz, e tudo perdia de como eles (seringueiros) conduziriam suas vidas expresso pela a última fala do autor: "Lá em baixo, o rio continuava a drenar para o oceano, com a enchente, as balsas de murumurés que lembravam mortuárias coroas votivas enquanto os seringueiros, soltos, senhores da sua vontade, despóticos e sombrios, começaram a sentir a volúpia do mando e do domínio nas selvas, onde a Natureza possuía os impulsos da libertação e da posse" . A luta do seringueiro pela dignidade de uma vida livre começa na "bala certeira" que joga ao chão o patrão. E na oração de agradecimento de Epifânio, dirigida ao céu: "Custou mais veio. Deus não deixava de vir castigá este miserave...". Se em Terra de Ninguém não foi possível encontrarmos uma linguagem literária criativa e a altura dos romances da década de 1930 como já citado, pelo mesmo observou-se, a preocupação do autor em criar um romance social e político. Mesmo aspecto encontrado na obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos e, observado em O Quinze, de Rachel de Queiroz. Porém, nos aparece uma dúvida: será que não poderia ter muita literatura em um romance social? O amor é um pretexto para a condução do romance, em que Nadesca e Anatólio tornam-se uma questão conflitante de um romance onde; a primeira é filha do patrão, ficando solidária aos menos favorecidos, os sem voz e sem vez; o segundo é o seringueiro que ama e luta pelos seus companheiros de tragédia; posteriormente, os dois amantes passam a viver um intenso e proibido amor, ou empatia, pois ele admira-lhe as idéias revolucionárias, o próprio narrador não sabe dizer que sentimento era: "... até hoje não sei explicar se era amor, se teria sido apenas instinto". Enfim, este foi um olhar sobre a prosa social de Francisco Galvão que buscou fazer uma reflexão social histórico do Amazonas nas primeiras décadas do século XX. No entanto, observou-se que a obra trás a luz da história fatos que marcaram as décadas de 1920 e 1930 como: A Revolução Russa de 1917; O sacrifício dos dezoitos do Forte de Copacabana; O Tenentismo 1924; A Velha República; No entanto, para (SOUZA 2003, p. 224): "nem realista o romance pode ser classificado". Mas a obra prima por retratar o "ciclo da borracha", e Galvão é ousado em denunciar, mesmo de forma inverossímil, pois a revolução seringueira descrita por ele não se encontra em anais de história do Amazonas, à labuta do seringueiro nas paragens amazônicas. ----------------------------- NOTAS 1) As citações sem marcações de referências no início e final, ficaram assim terem sido retiradas da obra analisada: Terra de Ninguém, do escritor amazonense Francisco Galvão. OBRA ANALISADA GALVÃO, Francisco. Terra de Ninguém. 2ª. Ed. Revista. Manaus: Editora Valer, 2002. 6. REFERÊNCIAS ALMEIDA, José Mauricio Gomes. A Tradição Regionalista no Romance Brasileiro. Rio de Janeiro: Achiamé, 1980. BENCHIMOL, Samuel. Romanceiro da Batalha da Borracha. Manaus: Imprensa Oficial, 1992. CHALHOUB, Sidney & PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda (orgs.). A História Contada: capítulos de história social da literatura. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil. 4ª. Ed. São Paulo: Global, 1997. GALVÃO, Francisco. Terra de Ninguém. 2ª. Ed. Revista. Manaus: Editora Valer, 2002. LINS, José dos Santos. Seleta Literária do Amazonas. Manaus: Ed. Governo do Estado do Amazonas, 1966. MENEZES, Raimundo de. Dicionário Literário Brasileiro. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: LCT, 1978. RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa. Tomo III. Trad. Roberto Leal Ferreira. Campinas: Papirus, 1997. SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural da Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 1999. SOUZA, Márcio. A Expressão Amazonense: do colonialismo ao neocolonialismo. Manaus: Editora Valer, 2003. Avalie este artigo: Talvez você goste destes artigos também O PODER DE PERSSUASÃO SOBRE AS MASSAS Lobato Sob A Perspectiva De Vários Historiadores Literários A IMPORTÂNCIA DOS CONHECIMENTOS BÁSICOS SOBRE O SISTEMA COGNITIVO CEREBRAL NA FORMAÇÃO DO PEDAGOGO Disqus LoginSobre o DisqusQue bom que gostou. Gostaria de compartilhar? Facebook Twitter Compartilhar Não obrigado Sharing this page … Obrigado! 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Nasceu em Envira - Am, além de professor é poeta, cronista e pesquisador de literatura amazonense. Atualmente tem artigos publicados em alguns sites de ciencias. + mais (1) artigos publicados Membro desde fevereiro de 2010 Artigos por tema Administração e Negócios4662 Apostilas28 Arte e Ciência2002 Contos1761 Crônicas3997 Cursos95 Desenvolvimento Pessoal2324 Direito6011 Economia943 Educação7030 Estudos Bíblicos1457 Filosofia2218 Frases e pensamentos230 Geografia549 Governo e Política1670 História1589 Lar e Família826 Literatura1506 Meio Ambiente1075 Poemas e Poesias9335 Psicologia1115 Receitas Culinárias90 Religião2510 Resumos e Resenhas934 Saúde e Beleza3141 Sociedade e Cultura3651 Sustentabilidade2 Tecnologia1856 Tutoriais55 Informativo Webartigos.com Receba novidades do webartigos.com em seu e-mail. Cadastre-se abaixo: Nome: E-mail: Publique seu artigoArtigosAutoresContato ©2006-2012 WebArtigos.com - Portal para publicar artigos, monografias e outros textos. Privacidade. 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