quinta-feira, 21 de junho de 2012

DECADÊNCIA DA BORRACHA NA AMAZÔNIA

Dilson Lages Monteiro Quinta-feira, 21 de junho de 2012 Entre-textos Página Inicial Álbum de fotos Audios Editora Entretextos Entretextos Acadêmico Entrevistas Etc Especiais Crônica viva Conversa de escritor Colunas Contato Dicionário de escritores Links Livros online Mural Notas historiograficas Notícias Slides poéticos Sobre poesia Videos Laboratório de Redação Blog Cursos Vestibular Dílson Lages Artigos Biografia Cartões poéticos Cidade natal Ensaios Obras didáticas Obras literárias Ano 6 , n. 60 ISSN: 0 EDITOR Dílson Lages Monteiro CONSELHO EDITORIAL Dílson Lages Monteiro, Aldairis Pereira da Silva, Rogel Samuel, Cunha e Silva Filho, Alfredo Castro Souto Carvalho e Manoel Lages Monteiro NO AR Desde 4 de Março de 2004 FICÇÕES DA BORRACHA Tamanho da letra A +A Imprimir Arquivo_ PDF A decadência LUCILENE GOMES LIMA A decadência do ciclo econômico da borracha está inevitavelmente associada ao crescimento da produção da borracha na Ásia (Malásia, Ceilão, Índia e Indonésia), resultante da introdução das mudas de seringueiras levadas para aquele continente pelos ingleses, desenvolvendo ali um sistema de plantação racional e não mais apenas natural como ocorria na Amazônia. A produção de borracha amazônica, que era a maior até então, passou a sofrer a concorrência da produção asiática, não resistindo e entrando em colapso. Apesar do otimismo por parte de alguns exploradores e investidores em relação à produção da borracha amazônica, ela era, na verdade, insuficiente para atender a demanda do mercado mundial, o que ocasionava seu alto preço. A experiência da plantação na Ásia levou mais de vinte e cinco anos para se desenvolver satisfatoriamente, mas quando, enfim, a produção se iniciou em 1898 com 1 tonelada e manteve um nível de produção crescente até atingir 47.618 toneladas em 1913, superando a produção amazônica, esses resultados compensaram o investimento nas técnicas de melhoramento do plantio e ofereceram ao mercado mundial abundância do produto a um baixo custo. O quadro oferecido pela produção asiática desmantelou o sistema de exploração montado na Amazônia. Os investidores abandonaram a região, levando o capital que movimentava a economia gomífera, capital que mesmo no período da alta cotação da borracha amazônica já era drenado para fora da região. A esse respeito, Antõnio Loureiro informa que três grupos se beneficiaram com a comercialização da borracha, sem precisarem se responsabilizar pelos custos da sua produção: o aparelho estatal que arrecadou 25% de impostos; os exportadores que compravam a borracha dos aviadores para revendê-la no mercado exterior e os intermediários, especuladores das bolsas de Nova Iorque e Londres.[1] Esses lucros reverteram em benefício de outras regiões brasileiras, ampararam a produção cafeeira do sudeste, serviram para desenvolver as empresas de plantação asiática. A decadência do “ciclo da borracha” e a conseqüente crise em que entraram os estados que concorreram para aumentar os saldos de divisas do país[2] são vistas por alguns estudiosos da história econômica da Amazônia como uma incapacidade dos governantes locais de gerirem competentemente os recursos da região, revertendo-os para o seu desenvolvimento. Para Ferreira Filho, essa constatação não deve ser desviada para outras justificativas de menor importância, como, por exemplo, o episódio da transplantação das sementes da hevea brasiliensis pelo inglês Henry Wickham:[3] [...] Não creio que tenha havido escritor, jornalista de profissão ou simples comentarista ocasional que, ao relembrar o episódio do deslocamento da produção de borracha para terras asiáticas, não se demore em sovar e malsinar o tal senhor Henry Wickmam, acusando-o de imperdoável crime de haver furtado as sementes da ‘hevea brasiliensis’ para servir aos interesses de sua majestade britânica. Essas carpideiras ainda não compreenderam que, tendo a borracha se convertido em matéria-prima essencial ao bem-estar da humanidade, não poderia o mundo ficar escravizado à limitada e imperfeita produção dos seringais nativos da Amazônia. E que, por meios pacíficos ou violentos, mais tarde ou mais cedo, as nações industrializadas que a utilizavam teriam de apoderar-se de suas matrizes. O que deve ser pranteado é a nossa incúria e falta de iniciativa, deixando de formar grandes plantações de seringueiras para neutralizar a tremenda competição que, cinqüenta anos mais tarde, viria arrasar a economia extrativa da Amazônia [...].[4] Benchimol também questiona se o fato da transplantação da hévea é realmente essencial para justificar a derrocada do ciclo. O autor argumenta que apesar de o amazônida cultivar ressentimento desse fato, a borracha não foi o único produto natural transplantado do mundo tropical amazônico para outros países e particularmente para o sudeste asiático. Cita uma extensa lista de outros produtos, como cacau, milho, batata, tabaco, abacaxi, caju, goiaba, maracujá, mandioca, macaxeira, açaí, guaraná e pupunha, além de plantas medicinais, como quinino, chinchona, ipeca, jaborandi e o capim-santo. Por outro lado, lembra que a Amazônia brasileira e países da América tropical também receberam uma grande variedade de produtos da Ásia e da África, tais como manga, jaca, café, arroz, cana-de-açúcar, banana, entre outros. Assim, segundo o autor, [...] os produtos da flora e da fauna tropical sofreram intenso processo de transplante e migração entre continentes e países, a partir dos séculos XV e XVI, durante e após o ciclo dos grandes descobrimentos. Os colonizadores portugueses, espanhóis, ingleses, franceses, belgas e holandeses tiveram papel importante na difusão e propagação dos produtos tropicais entre os povos e países da Ásia, Oceania, África e América. Troca e intercâmbio, que muito contribuíram para ajudar os países tropicais a enriquecer e buscar alternativas de desenvolvimento, graças ao seu diversificado patrimônio biológico e genético e pela aclimatação de novas espécies e cultivares de híbridos mais resistentes às pragas.[5] Benchimol conclui que Henry Wickham não pode ser condenado por ter levado as sementes de seringueiras sem que se condene também Francisco de Melo Palheta que, à semelhança do que fez o inglês, também teve de esconder as plantinhas de rubiáceas (café), trazendo-as de Caiena para as plantações do Pará e Amazonas, sendo que o café posteriormente seria transplantado para São Paulo e outros estados. Os dois autores – Ferreira Filho e Benchimol – vêem naturalidade no episódio da transplantação da hévea pelos ingleses. O primeiro considera legítima a ação imperialista inglesa de apoderar-se das sementes da hévea para auferir monopólio sobre ela. Não parece considerar, ao referir-se à escravidão do mundo à borracha amazônica, que os ingleses se beneficiavam com essa escravidão tanto na comercialização da borracha quanto na venda de seus produtos aos consumidores amazônicos. Portanto, não se tratava simplesmente de acabar com a escravidão da humanidade à produção de borracha amazônica, mas sim de obter um meio de exploração ainda mais lucrativo. O segundo, por sua vez, encara a transplantação da hévea pelo prisma da inevitabilidade da transmigração de espécies vegetais e animais entre os continentes. Na generalidade, pode-se dizer que o processo ocorrido com a hévea é o mesmo, mas quando ocorre a sua transplantação, ela já é um produto natural largamente explorado e de importância crescente para o mercado mundial. Mais que transplante, levar a semente da hévea significou assenhorear-se completamente do monopólio de extração, uma vez que o capital inglês já era um dos principais financiadores do negócio da borracha, mas ainda não tinha o completo domínio de sua fonte de produção ou de extração na natureza. 2 -------------------------------------------------------------------------------- [1] Antônio J. S. LOUREIRO, A grande crise (1908-1916), p. 15. [2] É digno de destaque o fato de que em 1910 cada habitante da Amazônia produzia 14 vezes mais divisas do que os demais brasileiros (Cf. Antônio J. S. LOUREIRO, Amazônia: 10.000 anos, p. 177). [3] Optamos pela grafia Wickham por ser a mais freqüente nos textos pesquisados. Dentre esses textos, a grafia Wickmam é empregada por Arthur Cezar Ferreira Reis, Cosme Ferreira Filho e Samuel Benchimol. [4] Cosme FERREIRA FILHO, Amazônia em novas dimensões, p. 155. [5] Samuel BENCHIMOL, Amazônia: formação social e cultural, p. 218-219. 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