sexta-feira, 4 de maio de 2012

OS BREVES: BARÕES DO CAFÉ

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Já sou assinante Loja Virtual Mais fHist - Festival de História Diamantina História no ponto História da Ciência História de Bolso Loja Virtual fHist - Festival de História Diamantina História no ponto História da Ciência História de Bolso Loja Virtual Sala de Aula O imperador do café Dono de um exército de escravos e de fazendas do tamanho de um país, Joaquim José de Souza Breves foi o brasileiro mais rico do século XIX Aloysio Clemente Breves Beiler 9/9/2007 Versão para impressão Envie essa matéria para um amigo Em 30 de setembro de 1889, pouco mais de um ano após a Abolição, morria na sua Fazenda de São Joaquim da Grama, em Rio Claro, no Rio de Janeiro, o comendador Joaquim José de Souza Breves, conhecido como o “rei do café” no Brasil Imperial. Ele foi, sem dúvida, o maior proprietário de escravos e terras do século XIX, chegando a ter mais de seis mil cativos. Nascido em fevereiro de 1804 na Fazenda Mangalarga, em Piraí, RJ, era filho do capitão-mor José de Souza Breves, e acumulou fortuna somando a compra de fazendas à herança dos pais e ao casamento com sua sobrinha Maria Isabel de Moraes Breves, filha dos barões do Piraí. No seu inventário, aberto em 1891, constavam mais de 100 propriedades: 72 fazendas, imóveis nas cidades e na capital, ilhas e embarcações. Se tivesse falecido antes da Lei Áurea e se computássemos o valor da escravaria, sua fortuna chegaria a somas extraordinárias, mesmo para os padrões atuais de riqueza. Breves não acreditava na Abolição. Continuou comprando escravos após a proibição do tráfico negreiro, em 1850, e mesmo depois do 13 de maio tirou o velho relho (chicote) da parede e deu uma surra numa escrava chamada Basília, que tinha “emburrado” e não queria voltar ao trabalho. O contínuo tráfico de escravos, destinados às suas muitas fazendas, rendeu-lhe inclusive um processo: o chamado “caso Bracuí”, que movimentou a Corte e envolveu outro grande cafeicultor, Manoel de Aguiar Vallim, de Bananal, São Paulo. Em janeiro de 1852, fora confirmado o desembarque ilegal de africanos em Bracuí, Angra dos Reis, RJ, em terras pertencentes aos Breves, mais precisamente na Fazenda Santa Rita, de propriedade do irmão de Joaquim Breves. Aberto um inquérito, Breves e Vallim foram levados a júri em Angra dos Reis. E inocentados. Além de potentado do café, Breves foi testemunha ocular da História. Aos 18 anos, ele acompanhava o príncipe D. Pedro na jornada do Ipiranga, tendo o privilégio de assistir à cena do grito da Independência. Foi o último sobrevivente do episódio, que rememorava entusiasmado na velhice, dizendo que a indisposição e o mau humor de D. Pedro no dia 7 de setembro de 1822 se deviam em grande parte a uma feijoada que comera na véspera. Mais tarde, Breves receberia, pela sua fidelidade ao monarca, o título de Comendador da Ordem da Rosa, em 15 de agosto de 1830, iniciando aí uma carreira política. Com a abdicação de Pedro I, tomou posição antagônica ao governo, passando de colaborador a opositor. Por causa da fortuna em café, escravos e terras, Breves se tornou um político influente, tendo sido presidente da Câmara de São João do Príncipe, eleito e reeleito juiz de paz e vereador, e deputado, em duas legislaturas, na Câmara Provincial. Em 1842, o ministério liberal demitido por Pedro II foi substituído pelo ministério conservador, trazendo grande insatisfação para os liberais e provocando em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro levantes contra o governo central. Entre os líderes do movimento no Rio de Janeiro estava Joaquim José de Souza Breves. Entretanto, apesar de pertencer ao Partido Liberal, jamais atacou seus parentes: seu sogro, o barão do Piraí, e seu cunhado, Lima e Silva (irmão do duque de Caxias), eram líderes conservadores. Na vida pessoal, o casamento sucessivo entre gerações resultava numa grande confusão familiar, pois Breves, casado com a sobrinha, era irmão da sogra, cunhado do sogro e tio dos cunhados. A produção de café era compatível com a extensão de suas terras (do litoral carioca até Minas Gerais). Em 1860, quando a produção no Brasil era de 14 milhões de arrobas, ele produziu a fantástica safra recorde de 360 mil arrobas, ou 1,45% do total. A notícia se espalhou pela província, sendo Breves apelidado de “rei do café” pelos seus pares fazendeiros e pela população local. O único produtor que se aproximava do seu recorde era José Joaquim Breves, seu irmão (os dois costumam ser confundidos por causa da semelhança do nome), que produzia cerca de 100 mil arrobas. Breves desdenhava o apelido, assim como desprezava a nobreza e os títulos distribuídos sem grandes critérios pelos monarcas Pedro I e II. Entretanto, não rejeitou os títulos nobres em sua família. Sua irmã foi baronesa do Piraí, seus sobrinhos foram barões de Guararema e Louriçal, conde e visconde de Benevente e barões da Guanabara. Joaquim Breves percorria suas fazendas constantemente. Por vezes, na estrada, era saudado por um negro com o clássico cumprimento: “Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”. Ele respondia: “Para sempre seja louvado, você donde é?” “Do Sinhô”. “Que você é meu, eu sei; o que desejo saber é a que fazenda você pertence”. As propriedades dos Breves receberam a visita de inúmeros viajantes estrangeiros. O naturalista suíço Agassiz esteve na Fazenda do Pinheiro em julho de 1865. Relata o viajante: “Acolhem-nos com uma hospitalidade que dificilmente, penso, encontrará equivalente fora do Brasil”. Na fazenda de São Joaquim da Grama, os banquetes para os convidados, amigos e parentes eram requintados: mesa para 40 pessoas, coberta com toalha de linho belga adamascada, centro de flores cultivadas e silvestres, louça inglesa, talheres de prata lavrada portuguesa com as iniciais JSB e copos do mais fino cristal. Iguarias em baixela de prata, servidas por negrinhos descalços de casaca vermelha. Falava-se francês. O cardápio atendia ao mais exigente gourmet: vinhos franceses e portugueses, servidos ao som de uma orquestra de escravos. Depois do café (o melhor da fazenda), conhaque e charutos. Os costumes e a educação ali eram palacianos. Quando Joaquim Breves adquire a Fazenda de Santo Antônio da Olaria, um novo solar é construído, em 1865. Em volta da gigantesca construção ficavam as senzalas e os armazéns, depósitos, engenhos, e terreiro de macadame (terra e pedras batidas) para o café. Possuía 1.303 alqueires de terras, em matas e lavouras. Em 1913, a Cia. Light and Power adquiriu a área para a construção da barragem e Usina de Fontes, demolindo a casa-grande. A aquisição da Fazenda da Marambaia ocorreu em 27 de fevereiro de 1856. Desembarcados dos tumbeiros, os escravos contrabandeados eram trazidos pelos vapores (movidos a roda) que Breves mantinha no local: Califórnia, Marambaia, Januária e Emiliana. Os dois últimos foram batizados com nomes de sobrinhas suas, o que lhe valeu uma reprimenda de Pedro II, por usar nomes de moças do Paço Imperial em negócio tão sujo. Após a quarentena em Marambaia, os cativos embarcavam para Itacuruçá e subiam a estrada, construída quase que integralmente por Joaquim Breves, até a Serra do Piloto, em Mangaratiba, para serem distribuídos pelas 72 propriedades do altiplano, na região de Rio Claro, Piraí, Barra do Piraí e Barra Mansa, para o trabalho nos cafezais. A estrada era um vaivém contínuo de tropas e escravos carregados de café para os portos. O historiador Brasil Gerson relata a vigilância das autoridades sobre o comendador: “O comandante Delfim Carlos e um funcionário do Ministro Nabuco alertaram o governo para a compra feita por Breves de uma vasta área no litoral, toda estéril, e que só poderia ser, portanto, para esconderijo e engorda de escravos contrabandeados. Tratava-se exatamente da fazenda da Marambaia em Guaratiba, englobando toda a restinga e ilha.” Com a morte do “rei do café”, a fazenda entrou em decadência. Restam hoje as ruínas da sede, da capela (praia da Armação) e uma senzala. Em 1891, a viúva do comendador e herdeira da ilha vendeu a Marambaia. Hoje, a ilha (ou pontal) está sob o domínio da Marinha do Brasil, que mantém ali um Centro de Adestramento de Fuzileiros Navais. Quanto a Breves, morreu aos 85 anos e foi enterrado na capela que mandara edificar na Fazenda de São Joaquim da Grama. Apesar da riqueza de que usufruiu em vida, pediu no testamento um enterro simples, sem galões dourados ou enfeites de prata no caixão. Aloysio Clemente Maria Infante de Jesus Breves Beiler é advogado, pesquisador da história fluminense e autor da monografia “Cidades Mortas: Declínio econômico das cidades do médio Paraíba na província do Rio de Janeiro no ciclo do café. Aspectos econômicos, históricos e sociais das cidades de Piraí, São João Marcos e Rio Claro no período de 1860 – 1900” (Rio de Janeiro, UNIFOA, 2002). Edita o site História do Café no Brasil Imperial. LINKS RELACIONADOS “O Breves? Era um véio bão!” Versão para impressão Envie essa matéria para um amigo Seu nome Seu email Nome do amigo Email do amigo Mensagem Digite o código ao lado Compartilhe Publicar no FacebookPublicar no TwitterCompartilhar no OrkutPublicar no Google+ Bem-vindo visitante Login Cadastre-se Edição Impressa copyright autor do texto Edição nº 80Maio 2012Compre Edições Anteriores Revista de História RHBN RHBN Todos contra o Paraguai - Artigo de Leslie Bethell dá uma aula sobre a guerra mais sangrenta da América do Sul ow.ly/aEQ7r 13 hours ago · reply · retweet · favorite RHBN No Cine História: "Sete dias com Marilyn" abre portas para se discutir os estereótipos de gênero na sociedade Ocidental ow.ly/aGMY8 10 hours ago · reply · retweet · favorite RHBN Simpósio sobre a configuração do espaço urbano acontece em junho, em Salvador ow.ly/aFTzT 15 hours ago · reply · retweet · favorite Join the conversation Revista Seções Participe Institucional Assinatura Mais Edição do mês Edições anteriores Compre Agenda Artigos Entrevistas Gente da História Na RHBN Reportagem Cine História Contato Fórum História interativa Quem somos Expediente Tira-dúvidas Fale Conosco Quero assinar! 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