domingo, 5 de fevereiro de 2012

VENCESLAU - SACRO IMPERIO

Setembro de 1995
A Realidade Concisamente Ambientes, Costumes e Civilizações Brasil Real Capa Destaque Discernindo, comentando, agindo Entrevista História Historia Sagrada In Memoriam Página Mariana TFP´s em ação Verdades esquecidas Vidas de Santos Comente
Leia os comentários
Envie para amigos
Versao para impressão


Vidas de Santos
São Wenceslau, duque e mártir

Esteio da expansão do Catolicismo na Boêmia, coroou com seu sangue uma existência de autêntico príncipe cristão

Luiz Carlos Azevedo

O antigo Ducado da Boêmia constituíra-se pela aglutinação de vários povos bárbaros na região, com predominância dos eslavos. A partir do século VII, começou a evangelização dessa nação, mas somente com a organização de um Estado e, depois, com a ascensão ao trono ducal de Borivar, o primeiro Duque cristão da Boêmia, é que o Catolicismo firmou-se e começou a alcançar progressos consideráveis.

O duque Borivar casou-se com Ludmila, princesa piedosa, sagaz e ardente propulsionadora da Fé católica. Não obstante, o duque não impediu seu filho Wratislau de contrair matrimônio com Draomira, princesa pagã, de má índole e totalmente entregue ao culto dos ídolos.

Com a morte do pai, Wratislau continuou o trabalho apostólico de Borivar com grande empenho. Embora Draomira simulasse ter-se convertido, não escapava à sagacidade da duquesa Ludmila a falsidade da nora. Por isto, ao nascer-lhe os filhos Wenceslau (907-935) e Boleslau, pediu a duquesa-mãe licença ao seu filho para educar os dois netos. Draomira, contudo, consentiu na separação do primogênito, conservando consigo Boleslau.

No palácio da avó, em Praga, Wenceslau recebeu sólida formação religiosa e cultural, bem como o aprendizado na carreira das armas, alcançando tal progresso, seja na virtude, seja nas ciências, que chegou a ser reputado um dos melhores príncipes de seu tempo.

Renasce o paganismo

Contava Wenceslau apenas treze anos de idade, quando seu pai pereceu numa batalha contra os húngaros.

Embora o duque tivesse deixado a regência à sua mãe Ludmila, a nora, auxiliada por sectários e à custa de subornos, tomou as rédeas do governo. Não tendo mais o marido para contê-la, Draomira deu livre curso a seu ódio contra a Religião, decretando o fechamento das igrejas, proibindo o culto divino e a evangelização. Nas escolas houve proibição absoluta de se falar de Deus. Os professores católicos foram substituídos pelos pagãos. Sacerdotes e monges foram proscritos. Ao mesmo tempo, Draomira concedeu amplos privilégios aos pagãos. A desolação e a impiedade reinavam na corte dessa nova Jezabel.

Porém, Santa Ludmila vigiava. Com muita diplomacia foi preparando terreno para que Wenceslau fosse aclamado duque aos dezoito anos. Nessa ocasião, então, a combativa princesa obteve de todas as regiões uma completa e irrestrita adesão a Wenceslau, cujos predicados constituíam a honra e o orgulho da Boêmia.

Autêntico príncipe cristão

Wenceslau ascendeu ao poder, exilou sua mãe e irmão numa província afastada e iniciou o trabalho de restabelecimento da ordem tumultuada pelos cinco anos de despotismo da sanguinária Draomira. Alcançou tanto êxito nessa tarefa, por sua sabedoria e prudência, que em pouco tempo transformou-se na expressão mais pura da majestade real e cristã, que iria ter em São Luís, três séculos mais tarde, um exemplo perfeito.

Este príncipe tornou-se o pai dos pobres, o protetor dos órfãos e o guardião da justiça; mas, sobretudo, o paladino da Religião. Sua força e virtude provinham do amor à Sagrada Eucaristia e à Virgem Maria, em cuja honra fez voto de castidade perpétua.

São Wenceslau resgatava os cativos, visitava os prisioneiros, consolando-os com os seus conselhos. A temperança e a mortificação eram os esteios de sua castidade, nunca desmenti da durante toda sua vida.

O calor das pegadas na neve...

Freqüentemente assistia ao Ofício Divino. E muitas vezes, durante os rigores do inverno, ia descalço às igrejas. Os que o acompanhavam só tinham um meio de não enregelarem: colocar os pés sobre as pegadas deixadas pelo santo na neve. Fazendo assim, sentiam um calor benfazejo penetrar em seus corpos.

O duque tinha imenso respeito pela hierarquia eclesiástica. Honrava os Bispos e os padres como o próprio Nosso Senhor. Quando tinha algo a tratar com eles, fazia-o com profundo respeito.

Fazia questão de ele próprio semear o trigo e pisar as uvas, destinados à celebração do Santo Sacrifício. E ficava transido de alegria em acolitar à Missa.

Essa admirável devoção fortalecia-lhe a grande coragem e a indomável intrepidez.

Vivendo sempre na presença de Deus, e tendo tão pouco apego às coisas da terra, deliberou ingressar na Ordem de São Bento. Chegou mesmo a pedir ao Papa que autorizasse o estabelecimento dos beneditinos em seus domínios. Mas não teve tempo para executar tal projeto.

Em uma reunião de dignitários realizada em Worms, na Alemanha, o imperador Oton recebeu Wenceslau com especial deferência. Fê-lo sentar-se junto a si, prometendo conceder-lhe tudo quanto pedisse.

O duque contentou-se em pedir-lhe as relíquias de São Vítor e São Sigismundo (rei da Borgonha), que foram depositadas numa igreja de Praga que ele fez edificar para esse efeito. Alguns historiadores dizem que, naquela ocasião, Oton -- outorgou-lhe o título de Rei, autorizando-o a ostentar a águia imperial em seu estandarte. Wenceslau declinou o título, mas sempre foi tratado como tal pelo imperador e pelos príncipes do Sacro Império Romano Alemão, como se vê na correspondência que mantinham com ele.

Proteção angélica

Do seu exílio, Draomira tentava destruir a obra do filho. Convencida de que sua sogra, Santa Ludmila, era a grande incentivadora do neto, mandou assassiná-la, crime que seus sectários executaram estrangulando-a, enquanto rezava em seu oratório.

Vendo que o filho não só não arrefecera em seu zelo, mas redobrava os esforços para converter seus súditos à Fé católica, Draomira pediu a um príncipe pagão, Radislau, para invadir a Boêmia, destronar seu filho e restituir a ela o poder. São Wenceslau desafiou o invasor para um combate pessoal, a fim de poupar a morte de seus súditos, e quando Radislau estava para arremessar-lhe a lança, viu dois anjos que protegiam o Duque. O príncipe pagão lançou-se aos pés do Santo, aceitando todas as suas condições de paz.

Morto pelo próprio irmão

Simulando grande desejo de reconciliação com o filho, Draomira convidou-­o para ser padrinho do primeiro filho de Boleslau, anunciando grandes festas. São Wenceslau, embora duvidasse da sinceridade da mãe, não pôde deixar de aceitar o convite, visto por todos como o epílogo feliz de uma longa dilaceração no ducado.

Depois da solene festividade do batismo e do banquete oferecido ao Santo no castelo de Stará (Boleslávia), retirou-se este para rezar o Ofício da Virgem Maria, numa igreja. Lá Boleslau e seus sectários o assassinaram, em 28 de setembro de 935.

A pérfida Draomira, contudo, recebeu o castigo que merecia pelos seus crimes. Certo dia em que ela passava próximo de um local onde havia mandado executar inúmeros católicos, o solo se abriu e ela foi engoli da viva.

Sabendo do assassinato do duque, o Imperador Otão enviou um exército para a Boêmia. Após vários anos de luta Otão venceu, mas contentou-se com a humilhação de Boleslau. Obrigou-o a chamar os sacerdotes católicos de volta e a restabelecer a verdadeira religião na Boêmia.

Boleslau, espantado com o número de milagres operados junto ao túmulo do irmão, mandou secretamente que levassem o corpo de Wenceslau para a igreja de São Vítor, em Praga, a fim de que os milagres fossem atribuídos à intercessão deste santo, e não ao santo mártir.

São Wenceslau (ou São Vaclav em tcheco) foi canonizado a 16 de julho de 1670 pelo Papa Clemente X, a rogos do Imperador Leopoldo.

Uma grande estátua foi erguida em sua honra numa praça central de Praga.

Um pouco de História

Quando no ano 863 o rei Ratislau, da Morávia, pediu missionários a Miguel, o Gago, imperador do Oriente, este lhe enviou um sacerdote de Tessalonica chamado Cirilo, que conhecia bem a língua eslavônica. Desde logo, com seu irmão Metódio, Cirilo converteu o búlgaro Bogoris. Na Morávia traduziram para o idioma eslavo os livros sagrados e litúrgicos, criando um novo alfabeto que se tomou célebre.

Certo dia, o jovem duque da Boêmia, Borivar, veio encontrar-se com Zventibaldo, que sucedera Ratislau no trono morávio, e de quem ele dependia. O rei recebeu-o com honra, mas durante a refeição fê-lo sentar-se no chão, pois Borivar era pagão e não podia ser admitido à mesa com senhores cristãos.

São Metódio aproveitou-­se dessa circunstância para conversar sobre a Religião de Nosso Senhor com o jovem duque. Borivar, após tê-lo escutado e refletido, pediu o batismo juntamente com trinta de seus condes. São Metódio, após muitas pregações, batizou-o e indicou um sacerdote para fortalecê-lo nas verdades da Fé.

Borivar casou-se com uma jovem eslava de nome Ludmila, que haveria de tornar-se avó de São Wenceslau e a primeira santa da Boêmia. Uma parte da nação seguiu o exemplo destes príncipes, e outra continuou imersa no paganismo.

Em fins do século IX, São Metódio esteve pessoalmente pregando o Evangelho na Boêmia. E no ano 916 São Wenceslau fez edificar a igreja de Boleslávia, em honra dos célebres apóstolos dos eslavos, São Metódio e São Cirilo.

São Wenceslau não morreu inutilmente, uma vez que, por pressão do Imperador alemão Otão I, seu irmão ímpio Boleslau voltou a favorecer o Cristianismo. A filha deste último, casada com o rei da Polônia, foi grande propagadora do catolicismo em seu reino, e um filho de Boleslau se fez monge. Outro filho seu foi Boleslau 11 (967-999), cognominado o Piedoso e considerado por um historiador contemporâneo como "o príncipe cristão, justo e vitorioso".


__________________

Fontes de referência:

Enciclopédia Cattolica, vol. XII. p. 1179.

Bnttler. Vida dos Santos, Ed. Vozes, Petrópolis. 1992. p.259.



Comente
Leia os comentários
Envie para amigos
Versao para impressão










COPYRIGHT WIKIPÉDIA

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Contador de visitas