domingo, 6 de fevereiro de 2011

8602 - HISTÓRIA DA LINGUÍSTICA

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A Mais Bela Descrição da Linguagem por César Gonzalez

Estou lançando aqui no Language Bar o concurso A Mais Bela Descrição da Linguagem. E o meu candidato favorito até o momento é o estruturalista dinamarquês Louis Hjelmslev. O primeiro parágrafo de Prolegômenos a uma Teoria da Linguagem é a mais bela descrição da linguagem que eu já li. Um pouco longo, mas peço que o leitor tenha paciência, pois vale a pena:
A linguagem - a fala humana - é uma inesgotável riqueza de múltiplos valores. A linguagem é inseparável do homem e segue-o em todos os seus atos. A linguagem é o instrumento graças ao qual o homem modela seu pensamento, seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade e seus atos, o instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, a base última e mais profunda da sociedade humana. Mas é também o recurso último e indispensável do homem, seu refúgio nas horas solitárias em que o espírito luta com a existência, e quando o conflito se resolve no monólogo do poeta e na meditação do pensador. Antes mesmo do primeiro despertar de nossa consciência, as palavras já ressoavem à nossa volta, prontas para envolver os primeiros germes frágeis de nosso pensamento e a nos acompanhar inseparavelmente através da vida, desde as mais humildes ocupações da vida quotidiana aos momentos mais sublimes e mais íntimos dos quais a vida de todos os dia retira, graças às lembranças encarnadas pela linguagem, força e calor. A linguagem não é um simples acompanhante, mas sim um fio profundamente tecido na trama do pensamento; para o indivíduo, ela é o tesouro da memória e a consciência vigilante transmitida de pai para filho. Para o bem e para o mal, a fala é a marca da pesonalidade, da terra natal e da nação, o título de nobreza da humanidade. O desenvolvimento da linguagem está tão inextrincavelmente ligado ao da personalidade de cada indivíduo, da terra natal, da nação, da humanidade, da própria vida, que é possível indagar-se se ela não passa de um simples reflexo ou se ela não é tudo isso: a própria fonte do desenvolvimento dessas coisas (p. 1-2).
Estou lançando o desafio: se conheces uma descrição tão bonita quanto essa (ou ainda mais bonita que essa), por favor, entre em contato!
Comentários (2) :: 04/05/2008 - 14:56

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Descartes e a Linguagem por César Gonzalez
Leitura interessante é a do Discurso Sobre o Método de Descartes. Além de toda uma teorização preocupada com a busca da verdade, e que lança as bases de uma filosofia da ciência, o pensador francês também discute linguagem.

Para ele, a linguagem é uma das características da alma humana que não pode ser reconhecida na natureza. Ela é um dos traços que diferenciam humanos e animais. Animais, por mais que possam imitar palavras, não podem colocá-las em ordem como que representando por palavras aquilo que pensam:

as pêgas e os papagaios podem proferir palavras como nós, mas não podem falar como nós, isto é, demonstrando que pensam o que dizem (p. 71).

Descartes ainda afirma que, se houvesse máquinas semelhantes a humanos, elas ainda assim não seriam capazes de nos enganar e haveria, pelo menos, dois meios de as identificar como máquinas, um deles a linguagem:

O primeiro meio [de se diferenciar uma máquina de um humano] reside no fato de que jamais poderiam empregar palavras ou outros sinais, compondo-os como nós o fazemos, para transmitir aos outros os nossos pensamentos (p. 69).

A diferença reside no fato de humanos possuírem uma alma racional - penso, logo existo - cuja existência é fruto de desígnio divino. Deus, em sua magnânima perfeição, concedeu ao homem a razão, o meio pelo qual atingir a verdade. E graças à razão possuímos a linguagem, que o filósofo reconhece, também, nos surdos-mudos, algo que se soma às diferenças entre homens e animais:

homens que, tendo nascido surdos-mudos, são providos dos órgãos de que os outros se servem para falar, tanto ou mais do que os animais, costumam inventar por si mesmos alguns sinais pelos quais se fazem entender pelos que, estando habitualmente em sua companhia, têm a oportunidade de lhes aprender a língua (p. 71).

Por fim, já na penúltima página de seu Discurso, Descartes comenta o fato de escrever em francês (e não em latim, como era usual na época, séc. XVII [1637]). Diz ele, alfinetando os "bastiões do bem falar e bem escrever" do início da idade moderna:

Escrevo em francês, que é a língua do meu país, de preferência ao latim, que é a dos meus preceptores. Espero que os que se servem exclusivamente de sua razão natural poderão assim julgar melhor as minhas opiniões do que os que só acreditam nos livros antigos. Quanto aos que unem o bom senso ao estudo, os únicos que desejo ter como juízes, estou certo de que não serão tão apaixonados pelo latim que recusem ouvir minhas razões só porque as explico em língua vulgar (p. 93).



DESCARTES, Réné (1637). Discurso sobre o método. São Paulo: Atena, 1960.

Comentários (0) :: 02/05/2008 - 17:05

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Carta a Chomsky e Lasnik por Emanuel Souza de Quadros
Mais um capítulo da história da Sintaxe vem a público. A famosa carta de Jean-Roger Vergnaud a Chomsky/Lasnik, de 1977, indisponível por um longo tempo, ainda que famosa dentro da área, tornou-se disponível recentemente no LingBuzz. O texto influenciou grande parte da teoria de Princípios e Parâmetros, trazendo as primeiras idéias sobre a noção de Caso estrutural em sintaxe gerativa.

Comentários (0) :: 07/06/2007 - 21:27

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2007 - 1957 = 50 anos de Syntactic Structures! por Emanuel Souza de Quadros
Este ano marca o qüinquagenário de um evento importante na história da lingüística: a publicação de Syntactic Structures. Embora não se trate da primeira obra de lingüística gerativa, trata-se da primeira exposição da concepção chomskiana de gramática como uma teoria da linguagem que recebeu, de fato, a atenção da comunidade lingüística. Nessa obra, Chomsky demonstrou a possibilidade de se propor uma teoria formal da linguagem humana, não-empirista, sujeita às mesmas restrições válidas na construção e avaliação de teorias das ciências naturais. Além de estabelecer essa concepção como o ponto de partida para as discussões subseqüentes em teoria lingüística, a obra chamou a atenção dos psicólogos e filósofos da época, ao ressaltar um aspecto tido como crucial à linguagem humana: a criatividade ilimitada, ainda que governada por regras.

Saber o ano de publicação é fácil, mas alguém que se interesse pela história da lingüística, como eu, deve se perguntar quando, exatamente, o livro foi publicado… Kai von Fintel, do Semantics etc., tem um post dedicado a essa questão. O que ele encontrou é um artigo do Professor Jan Noordegraaf da Vrije Universiteit Amsterdam, intitulado "On the Publication Date of Syntactic Structures: A Footnote to Murray (1999)", disponível para download.

O texto aponta fevereiro de 1957 como o mês de publicação do livro, em resposta a um artigo publicado em 1999, por Stephen O. Murray, que colocava "novembro ou dezembro" como provável período de publicação. As duas evidências cruciais são:

No número 7 do volume 124, datado de 14 de fevereiro de 1957, da Nieuwsblad voor de boekhandel, um jornal semanal dos livreiros holandeses, Syntactic Structures é anunciado na página 129 como um livro recém-publicado. Na falta de um registro oficial de livros lançados, esse semanário é considerado como a fonte mais confiável de datas de publicação na Holanda.
Numa carta endereçada a Bernard Bloch (1907-1965), editor da Language na época, Robert B. Lees escreveu, no dia 22 de fevereiro de 1957, sexta-feira, que Syntactic Structures havia sido "publicado […] na semana passada".
Less foi um dos primeiros lingüistas a terem acesso à obra e a lhe darem a atenção merecida. Nas palavras do próprio Chomsky (1977:122), "[a]s questões de gramática gerativa chamaram a atenção dos lingüistas graças à publicação, em 1957, da resenha minuciosa que Lees fez de Syntactic Structures, em Language. Suponho que, sem esse artigo, a monografia não teria sido conhecida."

Dadas as evidências, então, sigo a sugestão de Kai von Fintel de declarar o dia 14 de fevereiro de 1957 como a data oficial de publicação de Syntactic Structures. É por isso que este post foi aparecer logo hoje, no qüinquagenário da obra!

Para terminar, também via Semantics etc., uma carta de Noam Chomsky a Cornelis van Schooneveld, editor da série Janua Linguarum, da Mouton:



A carta acima faz parte de uma exposição da biblioteca da Universidade de Leiden, que traz, além dessa carta e de outros documentos e fotos interessantes da coleção de van Schooneveld, uma foto do editor com Roman Jakobson (de costas).



Chomsky, N. (1957) Syntactic Structures, Janua Linguarum Series Minor, 4, The Hague: Mouton.

Chomsky, N. (1977) Dialogues avec Mitsou Ronat trad. em português: Diálogos com Mitsou Ronat S. Paulo, Cultrix, 1980.

Comentários (0) :: 14/02/2007 - 04:24

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