quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

8579 - ORIGEM DA HISTÓRIA

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Origem e História
Alguns autores referem a existência, no Norte de África (Vale do Nilo), de animais com características morfológicas semelhantes à actual raça Barrosã, em especial no que se refere à forma, tamanho e espessura dos cornos. Estes animais são normalmente associados à designação subespecífica Bos primigenius opisthonomus (embora também se refira como Bos primigenius mauritanicus e como Bos tauros desertorum), e terá chegado à Península Ibérica através de várias rotas migratórias dos povos norte-africanos. A raça Barrosã poderia, assim ser incluída no tronco mauritânico, tendo como ancestral Bos primigenius mauritanicus (GARCIA et al., 1981). Aquele tronco foi descoberto por Thomas na região quaternária do Norte de África, sendo o ancestral paleontológico dos tipos côncavos brevilíneos denominado por Bos primigenius mauritanicus.

Neste contexto, poderá admitir-se que o gado que corresponde a este grupo se tenha instalado na Península Ibérica, provavelmente durante a longa ocupação Moura. Posteriormente, a raça Barrosã terá sido desalojada pelos troncos ibérico e aquitânico, restando apenas um núcleo populacional confinado às zonas planálticas do Barroso, onde permaneceu até hoje.

A raça apresenta aspectos morfológicos e histórico-evolutivos muito peculiares, sendo ainda hoje difícil proceder ao seu enquadramento no seio das restantes raças bovinas ibéricas. O aprofundamento da investigação sobre a estrutura genética das populações poderá ser, assim, uma via para o esclarecimento das muitas questões que permanecem por responder.

Quanto à conformação dos bovinos Barrosãos, explica MIRANDA DO VALE (1907), "o que deu aos bois barrosões tão portentosa e descomunal armadura foi a nosso ver a forma tradicional porque, nas serranias montalegrinas se faz a escolha do marel. Apartam-se os reprodutores, assolando, um contra o outro dois candidatos à função magna da reprodução e aquele que depois de enlaçar as armas com o adversário, consegue recuá-lo, derrubá-lo ou pô-lo em fuga, esse é o touro da freguesia, o padreador das vacas da vezeira. Ora esta divertida forma de eleição dá a primazia aos touros de maior ossatura capital, mais potentes musculatura céfalo-cervical, maior força céfalo-cervical, mais força no ângulo társico e, por variação correlativa, determina o grande desenvolvimento dos chifres".

Todavia a prática das lutas que teriam condicionado a modificação dos ossos da cabeça e o deplorável desenvolvimento da cornamenta, que se dirige nos touros para a frente e para cima, por forma a constituir maior ameaça para o rival, por feliz circunstância determinou também a selecção dos touros que possuíam mais fortes membros, dotados de bons curvilhões, de garupa horizontal e larga, provida de boas massas musculares e bem ligada ao terço dianteiro, através de uma região lombar larga e bem musculada. Quem tenha observado estas "chegas" no Barroso deve reconhecer que sem estes requisitos somáticos não seria possível desenvolver o prélio a que se assiste até que, por vezes não ferido, mas convencido da sua menor potencialidade perante o adversário, um dos rivais se acobarda e foge. E touro que foge é vexatório no Barroso ser utilizado na padreação.

De duas centenas de milhar à dois séculos atrás, passando a uma centena de milhar no início do século e a sete escassos milhares na actualidade, já Silvestre Bernardo Lima em 1873 referia o recuo no seu solar onde o Barrosão foi sendo substituído por exemplares Mirandeses (localmente, denominados "galegos", em oposição aos Barrosãos, designados por "portugueses"). Os factores deste recuo foram a expansão da cultura de batata de semente e consequente exigência de trabalho animal para arroteamento de terrenos incultos, a melhor condição dinamófora da raça Mirandesa e a sua melhor e maior precocidade e estatura. Concomitantemente com a Mirandesa foi-se infiltrando no Barroso uma outra raça, menos corpulenta, a Maronesa, proveniente dos concelhos vizinhos. No Minho a sua substituição foi feita pelas raças leiteiras Galega e Turina. Esta raça expandiu-se de tal forma desalojando uma outra raça de função tripla, a Galega / Minhota do seu solar, mais tarde viria a acontecer o inverso.

O Barrosão também é conhecido nos concelhos de Melgaço, Monção e Arcos de Valdevez pela designação de Piscos pelo facto de serem animais muito sóbrios em comparação com as outras raças que consigo coabitavam. Designavam-se também por Portugueses na região de Trás-os-Montes para se distinguir de outras raças oriundas da vizinha Galiza.

As feiras mais importantes que se realizavam na antiguidade são aquelas que estiveram na sua rota de expansão e também na maneira sui generis como eram exploradas. Assim, os animais nasciam no Barroso, eram vendidos em vitelos para concelhos limítrofes para aí serem recriados e fazerem os trabalhos agrícolas e só mais tarde, já na idade adulta, eram vendidos para outros concelhos nomeadamente Maia, Santo Tirso, Porto, Vila do Conde, Póvoa de Varzim e Barcelos, para aí serem engordados, ou cevados, sendo depois os famosos "bois do barco" vendidos directamente, sem intermediários, para serem exportados para Inglaterra. A famosa e inigualável carne que produziam era assim repasto da mesa de nobres, marinha inglesa e casas mais abastadas de Inglaterra.

As feiras destas rotas eram a feira de Rossas, no concelho de Vieira do Minho, cujos animais seguiam para os concelhos de Fafe, Celorico de Basto, Guimarães, Santo Tirso, Felgueiras, etc. e a feira de Pico de Regalados, no concelho de Vila Verde, onde os animais eram vendidos para os concelhos de Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Monção, Melgaço, Paredes de Coura e Ponte de Lima.

Os primeiros passos para o melhoramento da raça bovina Barrosã foram dados em 1914, tendo como base legal o Decreto nº 925 de 2 de Outubro, que aprovou a organização do Posto Zootécnico do Gerês (Garcia, 1964).

Em 1977 publica-se um importante documento legislativo, a Portaria nº 385/77 de 25 de Junho que contém o regulamento relativo às normas de reprodução animal, Livro Genealógico e contrastes funcionais. Em 1980 num esforço conjunto da Direcção Geral dos Serviços Veterinários (DGSV) e da Direcção Regional de Agricultura de Entre-Douro e Minho (DRAEDM) é nomeada uma comissão de técnicos para se dar início ao Registo Zootécnico da raça.



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