quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

8000 - GENERAIS INGLESES DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

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A Itália na Segunda Guerra Mundial-Pt. 1
Uma análise da “covardia” dos soldados de Mussolini

Matéria de grande descrédito é o estudo da participação italiana na Segunda Guerra Mundial. A generalização da covardia italiana face à coragem de seus aliados alemães é até hoje uma verdade absoluta na mente de diversos estudiosos, muito embora essa suposta “verdade” esconda aspectos visíveis somente a um olho treinado. Na verdade, a “covardia” italiana durante o conflito não passa de uma inverdade, que foi incutida no pensamento mundial desde o tempo da guerra, levada a diante principalmente pela imprensa inglesa.

O passar dos anos, porém, começou a revelar falhas na teoria da covardia, ainda que muito lentamente. Vê-se então, necessidade intrínseca de corrigir um erro histórico, e não repassar para as próximas gerações as opiniões preconceituosas que hoje são via de regra.

Após um estudo mais aprofundado dos fatos, é plenamente possível entender o desenrolar dos acontecimentos, e começar a descartar a “incompetência pessoal” dos oficiais magistrados italianos. É esperado que tal estudo seja fonte de pesquisa para os novos estudiosos, assim como novo ponto de vista para os que já estão em atividade.

Podemos encontrar as origens da questão “Segunda Guerra” no Risorgimento [unificação] italiano. Essa manifestação, concluída nos idos da década de 1870, sob Giuseppe Garibaldi e o futuro monarca Vittorio Emmanuele II, unificou os antes pequenos reinos da península em um único governo, o Reino da Itália, governado pela Casa Real de Savoia. Junto com a Alemanha, a Itália completou seu processo de unificação com séculos de atraso sobre seus vizinhos europeus. Isso acarretou uma considerável perda de vantagem na atividade que marcou o século XIX: o Imperialismo. A busca por colônias além-mar gerou enorme disputa e em muitos casos animosidade entre os países europeus. Estando atrasada então, a Itália somente pôde buscar territórios de pequeno valor e extensão. Mas os objetivos de grandeza italianos não estavam refreados.

No início do século XX, o outrora poderoso Império Turco-Otomano caía em ruínas, gradualmente perdendo controle de seus territórios longínquos. Em 1911 os italianos aproveitaram a oportunidade e desembarcaram uma força na Líbia, visando tomar esse vasto território das mãos turcas. Uma bem-sucedida campanha se desenrolou para os italianos, que ainda tiveram o mérito de utilizar pela primeira vez em combate uma máquina revolucionária: o avião.

Quando, em 1915, a Itália juntou-se à guerra contra os Impérios Centrais; esperavam os italianos ganhar muito com o fim do conflito. Apesar de uma derrota pujante na Batalha de Caporetto em 1917, a Itália pôde comemorar a vitória em novembro do ano seguinte. Comemoração esta que teve um gosto um pouco amargo, visto que os ganhos territoriais concedidos pelos tratados de paz nem de longe satisfaziam às expectativas. Além da Líbia, os italianos possuíam somente mais duas pobres e pequenas colônias, a Eritréia e a Somalilândia Italiana, ambas no chamado “Chifre da África”, o leste africano.

Gabriele D’Annunzio, famoso poeta e guerreiro durante a Primeira Guerra, ficou extremamente decepcionado com a ordem de entrega da cidade de Fiume, no Adriático, durante a Conferência de Paris em 1919. D’Annunzio reuniu 2.000 homens e tomou então o controle da cidade, expulsando as forças de ocupação inglesa, francesa e americana lá baseadas. O governo de Roma enviou ordem a D’Annunzio para que entregasse a cidade, o que foi respondido com uma negativa e declaração de independência de Fiume. Foi implantado um estado com uma constituição muito similar à adotada por Mussolini mais tarde, e o próprio D’Annunzio se declarou “Duce” [líder] de Fiume. Foi então declarada guerra à própria Itália, que terminou após bombardeio naval da cidade em 20 de dezembro de 1920.

Foi nesse cenário sócio-político que o Partido Fascista apareceu. Insatisfeitos com a aparente inanição do governo italiano perante aos “ultrajes” inferidos pelos seus próprios aliados na Grande Guerra, e vendo com admiração a atitude de seus “camaradas” em Fiume, os fascistas, liderados pelo ex-jornalista Benito Mussolini, fizeram uma campanha de extremo apelo popular, e forçaram o rei a colocar-lhes no poder após a “Marcha sobre Roma” em 1922. Cabe aqui uma explicação do nome “Fascismo”. Este termo deriva de fascio, que era o símbolo de poder na Roma antiga. Constava de um feixe de varas amarrados juntamente com um machado. As varas representavam o povo unido, e o machado representava o governo. Os dois juntos eram a combinação perfeita para o estado. É a política do “Tudo pelo Estado, todos pelo Estado, nada fora do Estado”.

Mussolini adota o título antes utilizado por D’Annunzio, “Duce”, e forma tropas semelhantes às por ele formadas em Fiume, os Camisas Negras. O governo tem por objetivo final implícito o expansionismo territorial. É o objetivo de Mussolini levar a Itália a um “Segundo Império Romano”. O país é o primeiro a se rearmar após a Primeira Guerra, fazendo seu exército crescer e treinando nativos para suas fileiras, os chamados askaris. Estes constituiriam a base do exército colonial italiano até o início da Segunda Guerra.

Porque colônias eram tão importantes para a Itália? Porque a necessidade de expansão? Ora, a Itália é um estado pobre de matérias-primas básicas como carvão, ferro e petróleo. A grande maioria do seu comércio é realizado com fornecedores de além-mar, principalmente a Inglaterra. O cenário da década de 1930 deve então ser analisado. A Itália tinha uma relação de amor e ódio com a Inglaterra, pois esta era seu principal fornecedor, mas ao mesmo tempo ousava fincar posições no que deveria ser sua zona de influência: o Mediterrâneo. Este estreito mar que liga a Europa à África sempre foi considerado pelos italianos como “seu quintal”, e não era com bons olhos que viam os ingleses dominarem suas duas portas de entrada/saída, em Gibraltar e Suez; o Mare Nostrum (“Nosso Mar”) estava ameaçado, ao mesmo tempo em que suas vitais rotas de comércio também estavam. Na verdade, os italianos sempre se sentiram “com a faca no pescoço” pela poderosa presença naval britânica no Mediterrâneo, que mantinha esquadras em Alexandria, Gibraltar e numa pequena ilha de crescente importância no centro daquele mar, Malta. Essa pequena ilha era um incômodo constante para os italianos, pois estava localizada a meio caminho entre a Sicília e a Líbia, podendo representar um perigo imediato às comunicações da metrópole com Trípoli. Mussolini fez com que uma ilha vizinha de posse italiana, chamada Pantelleria, fosse fortificada para que pudesse combater a eventual força inimiga; chegou-se a chamá-la de “Ilha de Mussolini”, devido ao montante de reforços para lá destinado.

Para controlar o Mediterrâneo, a Itália punha suas esperanças em sua portentosa marinha de guerra, a Regia Marina (Marinha Real). Baseada taticamente em grupos de batalha liderados por pesados couraçados, a Regia Marina era uma força respeitável e temida durante os anos 1930. Sua força submarina, composta por mais de uma centena de aparelhos, também impunha respeito. Apesar de ser numericamente muito maior, a Royal Navy [Marinha Real Inglesa] estava dispersa por todo o globo cobrindo suas colônias, nunca podendo colocar números equivalentes aos italianos no Mediterrâneo.

A questão da indústria italiana deve ser abordada nesse ponto. A Itália tinha a indústria mais atrasada entre as potências européias. Seus processos de montagem não seguiam os preceitos da produção em massa fordista, e os centros industriais, concentrados no norte do país, eram pouco numerosos. Além disso, a poderosa Fiat tinha conexões políticas no governo fascista, sempre levando vantagem em concorrências governamentais, mesmo apresentando projetos inferiores. Sendo assim, a produção era sempre demorada e difícil. Esse aspecto se refletia na doutrina das forças armadas, e mais ainda na marinha, que era a mais “independente”: os almirantes sempre se mantiveram a certa distância dos fascistas. Ainda durante a Primeira Guerra, o Comandante em Chefe da Regia Marina, Grande-Almirante Paolo Thaon di Revel estabeleceu a doutrina da “Fleet in Being” [Frota em potencial], que rezava pela conservação da frota, evitando comprometê-la em batalha para poder usá-la como instrumento de barganha em possíveis negociações; essa doutrina, particularmente no caso italiano, visava também proteger seus preciosos e insubstituíveis vasos de guerra, já que a indústria não poderia construir repositórios em tempo hábil. Thaon di Revel passou essa doutrina a seus dois pupilos, que viriam a ser os Comandantes na próxima guerra, Almirante Domenico Cavagnari e Almirante Arturo Riccardi. Estes almirantes utilizaram-se dessa doutrina, então, para dar liberdade a pequenos grupos de ataque armados com lanchas torpedeiras, as famosas MAS [Motoscafo Anti Sommergibile Lancha anti-submarina]. que tinham afundado couraçados austríacos na Primeira Guerra. Essas Flottiglia Mezzi d’Assalto [Flotilhas de Meios de Assalto (Flottiglia MAS)]. estavam espalhadas por toda a costa italiana. A mais famosa delas seria a Decima Flottiglia MAS, lar dos fantásticos homens-rãs italianos.

A força aérea italiana fora criada em 1923, sob a designação de Regia Aeronautica (Força Aérea Real). Seu desenvolvimento durante os anos 1920 e 1930 se deu no sentido de mostrar para o mundo o poder da Itália, ou seja, a Regia Aeronautica era uma arma de propaganda, e das mais eficientes. Um dos quatro homens-chave de Mussolini durante a Marcha de 1922, o Marechal Italo Balbo era um aviador de grande prestígio dentro e fora da Itália, quando liderou enormes esquadrilhas de hidroaviões Savoia-Marchetti S.55 através do Atlântico até o Brasil e Estados Unidos no início dos anos 1930. Outro campo em que brilhou a Regia Aeronautica foi na disputa do Troféu Schneider. Essa disputa era exclusiva de hidroaviões, visando estabelecer o recorde da categoria. O vencedor de três edições consecutivas levaria o troféu definitivamente. Embora os ingleses tenham vencido três vezes e levado o troféu em 1931, o avião italiano daquela edição, o Macchi MC.72 de Mario Castoldi, estabeleceu em 1934 o recorde de velocidade que continua até hoje, de 705 km/h. A Itália tinha, na verdade, o melhor caça do mundo na primeira metade da década de 1930, o Fiat CR.32 projetado por Celestino Rosatelli. A doutrina da força aérea italiana pode ser explicada aqui: na área da caça, era priorizado o poder de manobra sobre todos os outros, seja armamento, blindagem, ou potência. Sendo assim, a indústria aeronáutica italiana nunca havia priorizado o desenvolvimento de motores de alta performance, nem armas de grosso calibre, ou canhões. As aeronaves italianas eram biplanos leves, sem blindagem, pois esta prejudicaria a manobrabilidade, deixando a aeronave muito pesada. Outro fator característico eram os cockpits abertos, sem teto envidraçado. A ala de bombardeio seguia os preceitos formulados pelo General Giulio Douhet, que durante a Primeira Guerra fora defensor do uso de aeronaves como forma de destruir a indústria inimiga, levando o país inimigo a procurar um armistício. Sendo assim, a doutrina do “domínio do ar” de Douhet pregava que o inimigo deveria ter sua indústria destruída pelo poder aéreo, sendo este o método mais adequado para vencer o conflito. Segundo Douhet “Existem países sem costas litorâneas, mas nenhum sem o sopro do ar”. Não é para menos que mais da metade de todas as aeronaves da Regia Aeronautica eram bombardeiros; eram, porém, pequenos e carregavam bombas leves, além lançarem sua carga a uma altura demasiado elevada, dispersando as bombas e diminuindo a eficiência do ataque. Era a doutrina de Douhet aplicada de forma “teórica”; os ingleses e americanos levariam as idéias do General bem mais a fundo...

O Regio Esercito (Exército Real) italiano era também uma força que aparentava mais do que realmente era. Mal equipado de todo tipo de material, o exército não foi capaz de se atualizar após a Primeira Guerra. Suas peças de artilharias datavam (quase em totalidade) daquela época e estavam defasadas em relação às estrangeiras. Para os soldados, faltavam materiais básicos, como botas. O poder de mobilização era lento e o número de veículos automotores era insuficiente. Embora contando com tropas de elite como os Bersaglieri [infantaria leve] e os Alpini [tropas de montanha] o moral geral da tropa não era dos melhores. Os primeiros tanques de nova geração somente apareceram em 1933 na forma do Fiat L 3/33, um pequeno veículo de dois tripulantes baseado num desenho inglês da Carden-Lloyd. O L 3 seria a espinha dorsal da força blindada italiana até 1940, quando se provaria um total desastre perante os britânicos. Os generais italianos baseavam suas táticas em fórmulas do passado, o que justifica até certo grau a afirmação de Maquiavel em seu clássico “O Príncipe”:

“Aqui existe grande valor no povo, enquanto ele falta nos chefes. Observei nos duelos e nos combates individuais o quanto os italianos são superiores na força, na destreza ou no engenho. Mas, quando se passa para os exércitos, não comparecem. E tudo resulta da fraqueza dos chefes, porque aqueles que sabem não são obedecidos, e todos julgam saber, não tendo surgido até agora alguém que tenha sabido instigar-lhes o valor...”

Em 1935 Mussolini virou sua atenção para a Abissínia (Etiópia), então o único país africano independente, governado pelo Imperador Hailé Selassié. Era a oportunidade que o Duce precisava para finalmente seu tão sonhado “Império”. Segundo algumas pesquisas, o solo etíope continha petróleo e outros minerais preciosos, algo que Mussolini queria muito. Os italianos então usaram como pretexto a “necessidade de reformas” do estado etíope, que estaria totalmente atrasado sob o domínio de Selassié; de fato, a Abissínia era um país muito pobre e pouco desenvolvido. De suas forças armadas, a única parte não-tribal era a Guarda Imperial, treinada por uma missão militar belga, e uma força aérea de três aviões. Em fins de 1935, duas forças de invasão italianas estavam às portas da Abissínia, uma pelo norte na Eritréia, sob o comando do Marechal Emilio De Bono, e outra pelo sul na Somalilândia Italiana sob o comando do Marechal Rodolfo Graziani. De Bono atacou primeiro em outubro, avançando lentamente território inimigo adentro; lentamente demais para Mussolini. Pouco depois foi substituído pelo Marechal Pietro Badoglio, que ordenaria o uso de gás mostarda contra as forças etíopes, atitude que caracterizou crime de guerra perante a Liga das Nações. Os italianos, por seu lado, acusaram os etíopes de estarem usando munição dum-dum [bala deformável que abre uma ferida muito maior na vítima].

Nessa guerra, diversos líderes do regime fascista combateram como representantes do Duce. O ousado Ettore Muti, que havia combatido com os Arditi [Tropas de elite reunidas por Gabriele D’Annunzio] na Primeira Guerra, era o garoto de ouro de D’Annunzio, e dele ganhou o apelido de “Gim de Olhos Verdes” [alusão a artistas americanos]. Na década de 1930, Muti aprendeu a pilotar e entrou para a Regia Aeronautica, como um de seus mais audaciosos expoentes. Em 1936 Muti, pilotando um bombardeiro na Abissínia, resolveu fazer o inusitado e realizar um pouso na capital Adis Abeba, ainda em poder de Selassié. Ao seu lado, como co-piloto, um assustado Ciano...

Gian Galeazzo Ciano, filho do companheiro de guerra de D’Annunzio, Constanzo Ciano, casara-se em 1930 com a primogênita do Duce, Edda Mussolini. Ganhou diversas posições na hierarquia fascista, chegando a ser considerado “o nº 2 da Itália”. “Gallo”, como Edda o chamava, foi para a Abissínia pilotando bombardeiros da Esquadrilha La Disperata, junto, também, com o “literato feroz” Alessandro Pavolini, o último homem a ficar ao lado de Mussolini antes de sua morte em 1945.

Os etíopes se renderam em 1936, com Badoglio num cavalo branco entrando em Adis Abeba. Graziani foi feito Vice-Rei da colônia. Sob o comando do General Guglielmo Nasi, os italianos fariam uma perseguição ferrenha aos rebeldes etíopes, que só cessaria com a chegada do Duque de Aosta em 1939. Mas muito foi investido em infra-estrutura na Abissínia durante os anos de domínio italiano. Escolas, hospitais e outras obras públicas foram construídas, em grande parte com material desviado de obras na própria metrópole.

O mesmo ano de 1936 viu nascer outro conflito, desta vez na península ibérica. O general espanhol Francisco Franco rebelou-se contra o governo de Madri, e precisava urgentemente transportar suas tropas do Marrocos Espanhol para a Espanha. Itália e Alemanha então ofereceram ajuda com aviões, no que constituiu o primeiro transporte aéreo de tropas em tempo de guerra do mundo. Os “Nacionalistas”, como se chamavam as tropas de Franco, começaram sua guerra civil contra o governo de Madri, conhecido como “Republicano”, mas logo o conflito fugiu às fronteiras espanholas e diversos países enviaram auxílio. Os republicanos foram auxiliados pelos ingleses, franceses e principalmente os russos; já os nacionalistas receberam ajuda da Alemanha e da Itália. Os italianos enviaram inicialmente um contingente aéreo, a Aviazione Legionaria, com bombardeiros e caças. Depois, chegou à Espanha uma força terrestre italiana, inclusive com tanques L 3, que ainda operavam com sucesso no contexto daquela guerra. No ar, Fiat CR.32 provou-se um caça muito bem-sucedido, batendo os rivais franceses, ingleses e russos; o bombardeiro Savoia Marchetti SM.79 Sparviero também se saiu muito bem na Espanha, tendo somente 3 dos 100 aparelhos enviados sido perdidos, e mesmo assim, por acidentes de vôo, nenhum foi derrubado pelos inimigos.

Com a tomada de Madri por Franco, a Guerra Civil Espanhola chegou a um fim em 1939. Ela ratificou a vitória do totalitarismo, que agora ameaçava toda a Europa. A Espanha foi uma grande “plataforma de testes” para o conflito muito maior que seria desencadeado mais tarde naquele mesmo ano. Para a Itália, mais particularmente para suas forças armadas, foi uma armadilha mortal, pois apesar da evidente vitória, serviu para reforçar a crença de que seus aparelhos eram capazes de agüentar as demandas da década seguinte.

Mas muita coisa aconteceu no fim dos anos 1930... Os últimos desenvolvimentos do crescente rearmamento europeu apontavam para um aumento considerável de blindagem e poder de fogo. A Itália pagou o preço por seu pioneirismo, não sendo capaz de acompanhar essas mudanças. E somente o teste de fogo na Segunda Guerra é que diria a magnitude desse abismo de diferença.

Em 1937 a Itália firmara um acordo com a Alemanha, que em 1939 se estendera a um acordo de cooperação militar, o chamado “Pacto de Ferro” [assinado por Ciano e Joachim von Ribbentrop ]. Esse acordo previa o auxilio mútuo em caso de guerra, algo que a Itália não podia cumprir nos próximos três anos. Badoglio, então Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, apresentou um relatório a Mussolini, dizendo que o país não estaria preparado para guerrear antes de 1942, tempo suficiente para concluir os programas de modernização.

A Regia Aeronautica lançara em 1937 o “Programa R”, que visava substituir os velhos biplanos CR.32 por aeronaves de desenho mais moderno, no que constituía uma tentativa de acompanhar a tendência européia. Diversos projetos foram apresentados, sendo que três foram considerados finalistas: o Macchi MC.200, Fiat G.50 e Reggiane Re.2000. A decisão final, que caracteriza de certa forma o pensamento industrial italiano então vigente, é até hoje objeto de muita discussão. As três fábricas se uniram com o argumento de que a lenta produção de cada uma justificava a encomenda dos três tipos de caças, o que foi aceito pelo governo. Essa decisão provocaria mais tarde enormes atrasos por falta de padronização, tanto de peças quanto de mecânicos, reduzindo a operacionalidade dos esquadrões de caça. Outra decisão ainda mais polêmica, e que mostra o poder da Fiat, foi a de construir um “caça de transição”, mais especificamente o Fiat CR.42 Falco, o último biplano produzido no mundo. O Falco seria o caça mais numeroso nas fileiras da Regia Aeronautica em 1940.

Em matéria de tanques, o exército havia determinado em 1937 um programa de desenvolvimento de construção de três tipos: os Leggero (leves), Medio (médio) e Pesante (pesado). Somente em 1939 foi aprovado para produção o M 11/39, tanque médio com armamento ruim e péssima mobilidade. Junto com o L 3/35, seriam esses os tanques disponíveis no início das hostilidades. Em 1938 as divisões de infantaria receberam nova configuração, colocando dois regimentos por divisão, ao invés de três. Isso deveria aumentar o poder da força, mas na verdade só trouxe problemas, pois acarretou um aumento no número de estados-maiores e cargos burocráticos, tornando todo o processo mais lento.

O Comandante em Chefe da Regia Marina, Almirante Cavagnari, dera autorização para levar adiante as experiências do Major Teseo Tesei com torpedos-guiados, os chamados Maiali. Para isso, a Decima MAS entregou suas lanchas torpedeiras e recebeu um submarino para transporte desses novos mezzi d’assalto [meios de ataque], o Sciré, cujo capitão seria o futuro comandante da unidade, Junio Valerio Borghese. A esquadra principal estava concluindo a construção de dois novos couraçados, o Littorio e o Vittorio Veneto, mas não tinha planos de construir a arma que vinha ganhando destaque nas grandes marinhas do mundo: o porta-aviões. Segundo os almirantes, a Itália era um grande “porta-aviões natural”, cobrindo o Mediterrâneo com seu território. Os acontecimentos futuros provariam o terrível erro dessa teoria.

Foi feito até agora essa exposição de fatos porque ela é de extrema importância para entender-se o comportamento dos italianos no campo de batalha, e os resultados de suas investidas. Começar a explicação por aqui, sem esse prelúdio, seria cortar aspectos que indiscutivelmente devem ser levados em conta, o que constitui deturpação histórica. O soldado italiano foi terrivelmente prejudicado pelas circunstâncias, levado a uma guerra que não queria e sem preparo para ela. O exército italiano vinha lutando contra inimigos tribais em suas colônias já há quase trinta anos, não tendo muita noção do que seria uma guerra européia. Prova disso é que as três divisões blindadas, Centauro, Ariete e Littorio, estavam posicionadas no norte italiano. Nas colônias, somente pequenos grupos blindados estavam dispostos, e estes tinham equipamento obsoleto. Mussolini conhecia esses fatores, pois era informado por seus subordinados, mas o contexto de junho de 1940 o fez calcular os riscos e lançar-se contra a Inglaterra e a França.


Fonte deste artigo: Júlio César Guedes Antunes


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Artigos do Front : A Itália na Segunda Guerra, parte 2


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Italianos constroem trincheira na Etiópia, 1935


Fiat CR32 nos céus da Espanha


Lancha torpedeira MAS


Pequeno tankette L3-35


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