terça-feira, 24 de agosto de 2010

2598 - ONDAS HERTZIANAS

Ondas Hertzianas
Monday, August 14, 2006
Do palco da sociedade direto ao córtex cerebral...
Córtex: camada, revestimento, superfície. Cérebro: segundo a medicina, a psicologia e a biologia, principal órgão do sistema nervoso humano; centro da razão e da emoção, de aproximadamente 2kg, repleto de milhões de células que evoluíram durante milhares de anos para ajudar o homem, por exemplo, a manipular o controle remoto da TV. Comunicação: tornar algo em comum, para que todos saibam, tenham informações sobre alguma coisa que é julgada importante, trocar idéias, gesticular, falar, ouvir, ver, sentir, imaginar. Sociedade: conjunto de seres humanos, que se amontoam de diversas formas em cidades concretas ou mundos virtuais, inventora, dentre outras coisas, da comunicação, da televisão e da publicidade. Palco da cultura de massas. São vários tipos de massas. Massas de comunistas idealistas, massas de intelectulóides acadêmicos, massas de capitalistas cristãos, massas de artistas boçais, massas de pessoas coisificadas, massas de nerds, massas de estudantes de comunicação, massas de telespectadores, massas de reboco sob o sol, massas caseiras, massas de trigo integral, massas lights e diets. Massas de todos os tipos, para todos os bolsos, para todas as formas de antropofagia. Este é o corpo e o sangue que provamos todos os dias, por exemplo, pela televisão. O corpo e a alma do próprio homem: a eucaristia midiática. Drogas. As massas precisam de drogas para buscar sua verdade. Drogas pesadas, direto no córtex cerebral. Domingo Legal, Márcia Goldsmith, Ab-isolator, religiões, marxismos, Faustão, Fantástico, Ab-Shape, imagens de retirantes da seca, imagens de oprimidos, Senhora do Destino, a última versão do Windows, o carro com mais espaço interno, o seguro com maior cobertura do mercado, Criança Esperança, o computador com maior memória, Jornal Nacional, natureza, a última versão do PhotoShop, partidos políticos, ecologia, Eleições 2004, solidariedade, cidadania, ditadores (uma parcela significativa da população deseja instintivamente a ditadura, só assim ela terá uma causa “verdadeira” para lutar), enfim, drogas alucinógenas de um grande palco chamado sociedade. Só assim para nos manter nos papéis. Neste tráfico de mensagens e jogos de marionetes, jornalistas e publicitários são os fios condutores dos movimentos das massas, seja para consumir pasta de dentes ou manifestação nas ruas contra alguma “ditadura”. O importante, para ser um cidadão, é consumir tudo isso. O consumo cria o perfil do cidadão, quanto mais consumir, mais cidadão você é. Quando as luzes do palco se apagam, ninguém sabem quem é, tamanha a contaminação de suas almas por suas máscaras. Tudo é uma grande farsa, tudo é espetacularmente mentiroso. Felizes aqueles que compreendem seus papéis e fazem diferente: aprendem a dirigir os personagens e criar novos espetáculos. A ganhar dinheiro. Todos precisam comer, pagar água, luz e telefone. Não tem volta, qualquer escolha estética é uma escolha política. Córtex cerebral: camada, revestimento, superfície do cérebro humano. Mas o que existe de verdadeiro sob esta superfície-território da mídia? Como disse o poeta, “há mais mistérios entre o céu e a terra que em nossa vã filosofia”.
posted by Hertz Wendel at 8:54 PM 1 comments

Tuesday, August 08, 2006
Almas urbanas: percepções...
MARIA
Eu sou Maria. Mas não sou qualquer Maria... Sou Maria Gorete de Jesus Alcântara. Meu nome de batismo vai até Jesus. Mas acho que ele está tão longe. Alcântara é do meu marido. Oficial do exército, sabe. Lindo, formal, durão. Mas ele morreu, há dez anos.

HELENA
Meu nome? Helena. Leninha para os amigos e Lena Boca de Veludo, só para quem é muito, muito íntimo. Fui criada em orfanato dos quatro aos treze anos. Uns dizem que sou o cão chupando manga, que meto medo em qualquer um. Outros dizem que sou um anjo. Engraçado, né? Todo mundo tem uma opinião sobre mim. Menos eu mesma.

LÚCIA
Senhoras e senhores, meu nome é Lúcia Medeiros. Este avião possui seis saídas de emergência, sendo duas na região frontal, duas no meio do avião e duas na parte posterior do avião.

MARIA
Eu gostava de cuidar das coisas de casa. Cuidado com esse prato, menina, não vê que é porcelana chinesa! Olha, se quebrar vai custar um ano do seu salário! Um ano! Presta atenção, sua doméstica incompetente! Meus Deuses, não se fazem mais empregadas como antes. Elas não têm cuidado com as coisas da gente. Nem com a porcelana chinesa que ganhei do Alcântara.

HELENA
Fugi do orfanato aos treze anos, cansada dos maus-tratos, dos abusos de poder, abusos que marcaram meu o corpo e minha alma, mas já não era mais criança. Saí fugida, levando na mochila de jeans surrado e desbotado alguns sonhos e poucas coisas que eu roubei do orfanato pra mim: uma xícara e um pires azul, de porcelana vagabunda. Linda. E uma foto do Amado Batista que roubei do quarto da madre que cuidava da gente.

MARIA
Ganhei a porcelana do Alcântara quando completamos 10 anos de casados. Um jogo completo. Nossa casa é linda, quartos amplos, portas largas, uma casa arejada. Mas eu não me sentia bem, faltava alguma coisa. Eu tinha, eu tinha um vazio por dentro, um vazio profundo. Um aperto no peito, uma falta de ar. Meu Deus, o ar me faltava.

LÚCIA
Senhoras e senhores, se acontecer a despressurização da cabine do avião máscaras de oxigênio cairão do compartimento superior de cada poltrona. Utilizem a máscara desta maneira, depois de colocada a sua máscara, ajude a pessoa que está do seu lado a colocar a máscara dela.

HELENA
Odeio pressão, odeio ser pressionada, odeio ter gente por perto dizendo o que eu tenho que fazer. Odiava aquele orfanato. Aquelas madres que cuidavam do orfanato, que cuidavam da gente. Aquilo, aquilo me sufocava. E pouco antes da gente pular o muro, eu e mais duas amigas espalhamos querosene por todo o alojamento das madres. E de cima do muro toquei fogo na porcaria do quartinho delas. Aquilo era um inferno mesmo. Só precisava esquentar um pouquinho.

MARIA
Eu e o Alcântara tivemos três filhos. É. Três filhos lindos. Marco Antonio, Kátia Daniela e Flávia Roberta.

HELENA
Eu? Eu fiz quatro abortos. Não sou mulher pra ter filho não. Não posso fazer com um filho meu aquilo que fizeram comigo, deixar por aí, que nem bicho. A vida só faz cachorrada com a gente. Mas ajudo uma amiga minha, a Soraia, ajudo a criar a filha dela. A menina é uma princesinha! Linda. Parece uma porcelana. Eu sou madrinha dela. O pai? O pai morreu com um pipoco na cabeça depois de enfrentar a polícia lá na favela do Canta Sapo.

LÚCIA
O que deseja, senhor? Se tenho filhos? Não senhor, isso não posso responder. Por favor, senhor, apenas respondo questões técnicas sobre o avião e os serviços de bordo. Por favor, não insista.
posted by Hertz Wendel at 8:23 PM 1 comments

Outros nós...

Onde está a verdade? Certamente não está na matéria do jornal, nem na retórica do historiador. Não está nas guerras, na igreja, nem no poder do capital e do estado. Não está na fotografia, nem na imagem em movimento da televisão. A verdade é um ponto dentre infinitos pontos. Está na alma do mundo, na alma de cada indivíduo. A verdade está fora e está dentro ao mesmo tempo. Sobre as nossas frontes urbanas o sol. Só a escuridão permite revelar mais que as luzes frias dos escritórios. Segredos, marcas, desejos, verdades atados ao corpo. A imagem, a prismatização dos sentidos poéticos, é a matéria de que corpos e almas – humanidades – são compostos: a cidade, a cultura. Não somos nós, somos outros nós. Memórias. Entre o mundo insano e os abismos interiores, o corpo. É neste terreno fértil e infinito de marcas e histórias, o corpo como produto da luz, habitações das imagens de Goya, há tensões entre o corpo verdadeiro, biológico, vivo, e a cultura. Só o olhar pode permear esse jogo de tensões e percepções. O corpo do outro um objeto dissecado por nós para saber quem somos. Existem outros eus, outros nós à flor da pele.
posted by Hertz Wendel at 8:23 PM 0 comments

Monday, August 07, 2006
Almas urbanas. Diálogos sob a noite...
ZARAFEL
Mate seu próximo. Como sua carne. Mate seu irmão, seu pai, sua mãe. Injete nas veias sua raiva. Cheire o pó que resta da humanidade. Leia a manchete do jornal. Olhe para os políticos. Olhe seu filho passando fome. Circule pelos corredores dos hospitais lotados. Assista à televisão, assista muito... não saia da frente da tevê. Genocídio. Assassinato. Suicídio. A alma violentada pelo caos urbano procura suas formas de dizer que ainda quer viver.

HAZAEL
Somos apenas corpos perambulando como zumbis, inconscientes de que a cidade à qual realmente pertencemos é invisível. O pensamento, o conhecimento, a alma transitam por ruas, avenidas e becos de uma cidade oculta e labiríntica. Memórias.

ZARAFEL
Memórias. As paredes da cidade contam histórias. Proponho a você, Hazael, andarmos pela cidade e vermos o que encontramos. Tens coragem de participar desse jogo, meu amigo?

HAZAEL
A cidade é repleta de surpresas. Poesia e realidade podem andar juntas. São filhas da mesma mãe...
posted by Hertz Wendel at 8:38 AM 0 comments

Sunday, August 06, 2006
Impasse
Nossa...a vida dela foi completamente arruinada, a única coisa que sobrou foi apenas um naco de mortadela Perdigão no fundo da geladeira.... isso porque não conseguiram levar o referido eletrodoméstico... agora só lhe resta vender o imóvel pra pagar a conta do tratamento da doença do pai... o impasse é que ela foi abusada sexualmente na infância por ele.... e agora, vendo o pai no leito de morte, sendo carcomido pelo câncer... o que ela mais deseja é que ele agonize lentamente.... que ele morra, mas o conflito dentro dela é terrível... afinal, estamos no mês de agosto... mês em que todos querem guardar o pai no fundo do coração... será que ela deve fazer uma entrega a Moloc?
posted by Hertz Wendel at 8:24 PM 0 comments
About Me
Name: Hertz Wendel
View my complete profile

Links
Google News
Edit-Me
Edit-Me
Previous Posts
Do palco da sociedade direto ao córtex cerebral......
Almas urbanas: percepções...
Outros nós...
Almas urbanas. Diálogos sob a noite...
Impasse
Archives
August 2006


--------------------------------------------------------------------------------




3COPYRIGHT AUTOR DO TEXTO

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Contador de visitas