terça-feira, 27 de julho de 2010

2233 - RELAÇÃO ALFABÉTICA DASD PRINCIPAIS BIBLIOTECAS NA IDADE MÉDIA

Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 1
Universidade Fernando Pessoa
Pós-graduação em Ciências da Informação e
da Documentação
Tecnologias de Informação Documental
Colin Michael Mateus Marques
A catalogação informatizada e a ISBD (ER) como produto
da evolução histórica da catalogação
Porto, Junho de 2006
Universidade Fernando Pessoa
Praça 9 de Abril, 349
P-4249-004 Porto
Tel. +351-22550.82.70
Fax. +351-22550.82.69
geral@ufp.pt
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 2
Resumo
Este trabalho faz uma minuciosa revisão bibliográfica de toda a evolução histórica da
catalogação desde a antiguidade, passando pela idade média, pelo renascimento e pela
revolução francesa até chegar à catalogação moderna, cujo início se situa a meados do
séc. XIX. Acompanhando, com zelo, os progressos verificados no séc. XX,
principalmente na sua segunda metade correspondente ao período do pós-guerra, uma
vez que é neste período que desponta a necessidade de regulação da catalogação de
modo a criar uma normalização internacional do tratamento catalográfico aceite
universalmente. Neste sentido a evolução da ISBD, nas suas várias vertentes consoante
o suporte de informação que incidem, e do formato UNIMARC que lhe confere uma
legibilidade internacional devido à sua linguagem assente num sistema de códigos que
permitem a legibilidade de dados bibliográficos registados em suporte electrónico, são
também objecto de análise.
Aqui faz-se um resumo histórico de todo o progresso ocorrido nesta fundamental
técnica de tratamento documental que é a catalogação, até chegarmos à técnica
propriamente dita e ao seu produto final: o catálogo. Assim é definido o conceito de
catalogação e analisadas as quatro principais operações desta técnica, designadamente: a
definição da entrada principal; a descrição da obra, a classificação da obra e a escolha
dos temas (descritores).
Além da evolução histórica, os temas das ISBD, do formato UNIMARC, da catalogação
informatizada e da ISBD (ER) também merecem tratamento exclusivo e aprofundado.
Tudo isto é efectuado sob uma estrutura de quatro capítulos, onde o primeiro é dedicado
à introdução, o segundo à problemática do tema, o terceiro à revisão bibliográfica e o
quarto à conclusão.
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 3
Índice
1. Introdução……………………………………………………………………………4
2. Abordagem à problemática do tema……………………………………………….5
3. Revisão Bibliográfica……………………………………………………………….6
3.1. A Catalogação, as ISBD’s e o formato UNIMARC (evolução histórica) …………6
3.2 A Catalogação (definição) …..…………………………………………………….14
3.2.1 Definir a entrada principal……………………………………………………….16
3.2.2 Descrever a obra ………………………………………………………………...17
3.2.3 Classificar a obra………………………………………………………………...18
3.2.4 Escolher os temas (descritores) ………………………………………………….21
3.3 As ISBD e formato UNIMARC…………………………………………………...23
3.4 A catalogação informatizada e a ISBD (ER)………………………………………27
4. Conclusão…………………………………………………………………………..30
5. Bibliografia………………………………………………………………………....31
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 4
1. Introdução
Este trabalho tem como objectivo demonstrar que a evolução histórica da catalogação
teve como últimos produtos a catalogação informatizada e a ISBD (ER). Assim através
de um percurso que começa na antiguidade e termina em 2004 – ano da última revisão
da ISBD (ER) – analisaremos todo o percurso percorrido pela catalogação até ao
momento que esta surge como informatizada. Da mesma forma procuraremos
evidenciar a absoluta importância da normalização para o desenvolvimento da
catalogação e para a implementação de normas com aplicação universal. Objectivo que
foi alcançado pelas ISBD nas suas varias vertentes, conforme o suporte de informação
em que actuem, que combinadas com o formato UNIMARC alcançam um âmbito
universal.
Por uma questão de clareza de exposição decidimos incluir num mesmo sub-capítulo
toda a evolução histórica da catalogação, junto com a evolução histórica das ISBD e do
formato UNIMARC, porque estamos convictos que a sua separação apenas suscitaria
dúvidas ou incorrectas interpretações. Na história existem fenómenos que só podem ser
explicados conjuntamente. E este é um deles.
Terminada a apresentação da sua evolução histórica, o próximo objectivo é demonstrar
a importância da catalogação como técnica de tratamento bibliográfico imprescindível a
qualquer centro de documentação, pelas possibilidades que oferece no que toca à
descrição e identificação bibliográfica. Assim após definir-mos o seu conceito e
analisado o resultado da sua operação, o catálogo, procuramos dividir em quatro as suas
principais operações técnicas: a definição da entrada principal; a descrição da obra, a
classificação da obra e a escolha dos temas (descritores), para proceder a uma análise
mais especifica de cada operação em si. Neste caso, acreditamos que a esta apresentação
em separado das operações da catalogação reúna maior clareza de exposição, pois cada
uma engloba uma singular especificidade.
A parte do trabalho dedicada à revisão bibliográfica termina com a abordagem aos
temas das ISBD e do formato UNIMARC, tratadas conjuntamente, uma vez que não faz
qualquer sentido tratá-las isoladamente. Com a catalogação informatizada e a ISBD
(ER) seguimos o mesmo tratamento. Contudo, o trabalho apenas se encontra
definitivamente concluído com a conclusão extraída sobre o mesmo.
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2. Abordagem à problemática do tema
Duma evolução histórica existe sempre uma ideia que permanece: tudo se transforma. O
que não significa que aquilo que surge, surja em oposição ao que já existe, mas sim
como a evolução natural do que existe para o que seria desejável existir.
Assim procuremos expor toda a história da catalogação como uma história feita através
de encadeamentos e caracterizando-se pela ausência de rupturas bruscas. O que produz
resultados muito significativos, pelo facto das rupturas implicarem sempre a perca de
conhecimentos e de ensinamentos. Algo de que a história da catalogação nunca foi
vítima.
Para todos os quantos que julguem que o aparecimento das novas tecnologias marca
uma ruptura com todo o período pré-existente, ao estilo «Revolução Francesa», nós
propomos uma explicação de continuidade, ou seja de evolução na continuidade para
explicarmos todo o processo que culminou, por agora, com o surgimento da catalogação
informatizada e com aparecimento da norma ISBD (ER). Ambos tributários não apenas
do desenvolvimento da computação, mas sobretudo da evolução histórica da
catalogação.
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3. Revisão Bibliográfica
3.1. A Catalogação, as ISBD’s e o formato UNIMARC (evolução histórica)
Apesar de não podermos falar em catalogação na antiguidade, pelo menos no sentido
em que o termo é aplicado actualmente, podemos afirmar, com segurança, que a
catalogação e a sua metodologia são tão antigos como as bibliotecas.
Tendo em conta que a catalogação era e continua a ser um passo prévio a qualquer
organização posterior dentro de uma biblioteca, podemos afirmar que a evolução
histórica das bibliotecas tenha coincidido com a evolução histórica da catalogação.
Deste modo podemos considerar a antiguidade como a primeira fase da evolução
histórica da catalogação. Nesta fase as bibliotecas eram essencialmente depósitos de
preciosidades bibliográficas e os profissionais que aí trabalhavam eram bibliotecários
eruditos, cujas principais funções eram o estudo e a conservação desses depósitos.
Datam deste período a célebre biblioteca de Assurbanipal (VII a. C.), assim como a
igualmente famosa biblioteca de Alexandria e as bibliotecas romanas do Palatino.
Na maioria destas bibliotecas já existiam catálogos, e do seu estudo podemos concluir
que: não é evidente a diferença entre biblioteca e arquivo (as bibliotecas tinham
exclusivamente um carácter de depósito e conservação de fundos); não é clara a
diferença entre catálogo e inventário (o principal objectivo dos catálogos era o mero
controle das colecções); não existindo códigos, nem instruções para a realização dos
catálogos, esse trabalho ficava ao critério pessoal de cada catalogador; a catalogação e a
classificação apareciam misturadas, uma vez que aspectos formais que hoje
chamaríamos “conteúdo intelectual” do documento aparecem na parte descritiva desses
documentos.
Na idade média, as bibliotecas monásticas eram verdadeiros depósitos de cultura da
época. Os seus catálogos eram listas descritivas e ordenadas que inventariam as
colecções. Sabemos, no entanto, que a questão da localização dos livros não se definiu
antes do séc. XIV, e a ordem alfabética para os encontrar não se utilizou antes do séc.
XVI.
Contudo, foi na idade média que se desenvolveu a biblioteconomia, entendida somente
como a arte de conservar os tesouros das bibliotecas e os catálogos como meio
imprescindível para o controle dos seus fundos. Naturalmente que a ideia da biblioteca
como meio difusor de cultura estava completamente arredada, até porque apenas uma
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pequena minoria sabia ler. Foi já no séc. XV, com a invenção da imprensa de
Gutenberg, que apareceriam os primeiros catálogos impressos, que pouco se
diferenciavam dos catálogos manuscritos da antiguidade.
Foi no Renascimento – movimento tributário da corrente filosófica do humanismo que
o deu forma – que começou a perfilar-se a função profissional dos bibliotecários,
associada a um notável desenvolvimento das letras e ao aparecimento de grandes
bibliotecas como as de Milão, Florença e Veneza.
Do ponto de vista catalográfico, perdura o conceito de catálogo-inventário em que cada
obra só tem uma referência. Continuando a persistir um vazio no que respeita a normas
catalográficas. Apenas em meados do séc. XVI se vislumbram as primeiras tentativas de
implantação de rudimentares regras de catalogação.
No séc. XVII desenvolveram-se as bibliotecas da Companhia de Jesus, as bibliotecas de
importantes mosteiros na Europa e as grandes bibliotecas reais que, posteriormente,
deram origem às grandes bibliotecas nacionais, onde se começam a sentir mudanças
provocadas pela procura de leitores, nomeadamente: a necessidade de utilizar
bibliotecários profissionais que superentendam ao funcionamento das bibliotecas e
atendam o público cada vez mais numeroso; os leitores procuram agora os livros mais
por temas do que por autores; e passa a haver preferências pelo catálogo de matérias, em
desfavor do catálogo de autores.
À medida que o número de livros vai aumentando, dois séculos depois da invenção da
imprensa, deixa de ser possível aos bibliotecários reter de memória os títulos e os
autores de todos os documentos depositados nas bibliotecas. É assim que nos finais do
séc. XVII surge o primeiro catálogo dicionário rudimentar, entendido este como uma
lista ordenada alfabeticamente por autores, títulos e assuntos, permitindo aceder à obra a
partir de diferentes pontos de vista.
Outra importante etapa para a evolução histórica das bibliotecas e por inerência da
catalogação foi a Revolução Francesa. De um só golpe milhões de volumes passaram a
ser propriedade do estado através de surpreendentes confiscações de colecções reunidas
durante séculos. Isto originou: a criação de um grande número de bibliotecas
especializadas; a transformação da Biblioteca Real em Biblioteca Nacional; e a criação
de muitas bibliotecas públicas que acabaram por converter-se em bibliotecas
municipais.
É nestas circunstâncias que surge o primeiro código catalográfico de 1791, que
estabelece como norma obrigatória o encabeçamento por autor e inclui regras concretas
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para o acesso ao documento e à sua localização. Prescreve, também, que o catálogo
deverá ter a forma de fichas.
A importância histórica deste código reside no facto de, pela primeira vez, se
estabelecerem normas para a catalogação descritiva, aplicadas à escala nacional. Não é
tanto pelos elementos descritivos prescritos para identificar os livros, mas sobretudo
pelo carácter de código oficial com vista à elaboração de catálogos que constituíssem
uma Biblioteca Geral, que este código foi considerado um marco histórico.
A catalogação moderna tem o seu início em meados do séc. XIX e coincide com o
aparecimento das bibliotecas públicas nos países anglo-saxónicos; facto que resulta das
alterações sociais que emergiram com as ideias revolucionárias aquando da queda do
Antigo Regime e que favoreceram a socialização da cultura.
A década de 1870 ficou conhecida, nos Estados Unidos, como o “boom” bibliotecário.
A maioria das capitais estaduais ou já tinham ou estavam a criar a sua biblioteca
pública. Datam deste período profissionais como Panizzi, Cutter e Dewey entre outros,
que lutam pela unificação do pensamento bibliotecário.
Panizzi é, inclusive, considerado como o “pai” do catálogo moderno. O qual foi
pensado na organização do Museu Britânico, onde era bibliotecário, sendo redigidas 91
Regras de Catalogação concebidas para elaborar o catálogo de livros impressos, mapas
e música do museu. A importância das suas regras não reside apenas no facto de serem
concebidas para a aplicação numa grande biblioteca nacional, mas também por se tratar
do primeiro código sistemático.
Cutter é outro dos grandes nomes a reter deste período. Este norte-americano pretendia
o ordenamento científico dos livros de forma a facilitar o trabalho dos investigadores e
dos estudiosos. O objectivo de Cutter era constituir um catálogo dicionário, que
contemplasse a união de 4 catálogos distintos (autores, títulos, matérias e formas) e foi
neste sentido que redigiu as suas regras. Nestas propunha 3 formas de catalogar
diferentes, ou seja três níveis de catalogação: uma pouco detalhada, outra imediata e
outra extensa. O grande contributo do Cutter foi a criação, pela primeira vez na história
da catalogação, de regras específicas para criar o catálogo de matérias. Foi ainda
fundador da ALA (American Library Association) e co-fundador, junto com Dewey, do
famoso Library Journal.
A ALA foi fundada com a missão de servir como estrutura organizativa e de controle do
mundo bibliográfico americano, e ao mesmo tempo promover avanços científicos neste
sector e tinha como principal ferramenta de difusão e comunicação o seu Library
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Journal. À semelhança dos EUA surge em Inglaterra a sua congénere europeia a LA
(Library Association).
Em 1908 foi publicado, sob os auspícios da LA e da ALA o Código Anglo-Americano,
que reflecte uma nítida influência de Cutter, das instruções prussianas e das regras de
Panizzi. Este código conjunto é formado por 174 regras, bem estruturadas, divididas em
secções relacionadas com cabeçalhos, títulos e catalogação descritiva das obras para
criar catálogos de autor e título.
Com o decorrer dos anos estas regras foram-se revelando insuficientes, sofrendo,
inclusive, fortes criticas dos profissionais da biblioteconomia. O que serviu de
motivação para que em 1949 a Biblioteca do Congresso e a ALA publicassem as Regras
ALA e as Regras da Biblioteca do Congresso para Catalogação Descritiva. Com uma
maior amplitude e minuciosidade do que as regras de 1908, são, no entanto, muito
criticadas pelo seu carácter de excessivamente detalhado. Os protestos aliados aos
desentendimentos crescentes entre europeus e americanos chegaram a por em causa a
cooperação entre a LA e a ALA; até que em 1967 num esforço conjunto de ambas as
associações foi publicada a primeira edição das AACR (Anglo-American Catologuing
Rules). Regras que foram significativamente influenciadas por Ranganathan – um dos
principais teóricos do séc. XX e autor da Classificação Colon.
As AACR de 1967 rapidamente se desactualizaram, o que se pode confirmar pelo facto
de já em 1971 – ano em que em virtude das importantes iniciativas no campo da
normalização internacional foram acusando uma cada vez maior necessidade de
actualização, o que se deveu a um diminuto interesse pela automatização – a IFLA
(International Federation of Library Associations and Institutions) começar a publicar as
ISBD (International Standard Bibliographic Description).
As AACR viram a sua utilidade claudicar em onze anos. Assim, em 1978, é publicada
uma 2º Edição: as AACR 2, que incluem já para descrição diversos tipos de materiais,
as diversas ISBD conhecidas até ao momento. Estas regras foram adoptadas pelos
países de cultura anglo-saxónica e gozaram de uma ampla aceitação internacional,
embora não tivessem atingido o estatuto de regra única, como almejavam.
Todavia, as AACR 2, não descuraram de princípios fundamentais da biblioteconomia,
nomeadamente: ser fieis aos princípios estabelecidos no Conferência Internacional
sobre Princípios de Catalogação em Paris (1961); tomar em especial conta as vantagens
que representa a aplicação dos computadores à informação bibliográfica; fazer o
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possível para produzir um código que fosse aceite internacionalmente; e determinar o
tratamento dos “non book materials”.
Uma das principais novidades das AACR 2 está na sua estrutura. Foi abandonada por
completo a estrutura de redacção dos antigos códigos, que privilegiaram a atribuição e a
forma do cabeçalho, estas novas regras dedicam toda a primeira parte à descrição de
qualquer documento (independentemente do suporte) para só depois eleger os pontos de
acesso dos mesmos, ou seja as entradas possíveis pelas quais um documento deve
figurar no catálogo.
A partir deste momento do séc. XX uma realidade impõe-se: a absoluta necessidade de
uma normalização. Por normalização entende-se a actividade que permite estabelecer
normas em todos os âmbitos da vida humana que precisem de ser regulados. Molina
(1994)1, mais especificamente, define normalizar como: “codificar um procedimento
para resolver um problema que se repete com frequência, ordenando os seus dados com
um critério unificado e lógico, garantindo a sua solução”. No que se aplica directamente
à catalogação, uma norma consiste num dado referencial, resultado de um trabalho
colectivo, com o fim de servir de base de entendimento à resolução de problemas
repetitivos. Portanto, o principal benefício da normalização é que simplifica, racionaliza
e codifica os dados a fim de resolver as dificuldades que possam surgir.
É pela sua acção eficaz, pelas características de fiabilidade e internacionalidade e
também pelo seu alcance simplificador e racionalizador, que a normalização se
evidencia como um recurso absolutamente necessário em qualquer actividade científicotécnica
como a documentação onde a sua aplicação permite facilitar o tratamento e a
transferência de informação.
As primeiras reuniões preparatórias no campo da Normalização Internacional recuam a
1919. Contudo, a criação da Federação Internacional das Associações Nacionais de
Normalização (ISA) apenas ocorreu em 1926. A qual agrupou 22 comités nacionais de
normalização. Depois da II Grande Guerra, esta associação foi substituída pela ISO
(International Standards Organization) que tinha, entre outros objectivos, facilitar a
coordenação das normas nacionais estabelecidas pelos comités membros e emitir
normas internacionais próprias.
Aplicada à Documentação, a função da normalização consiste em estabelecer regras que
assegurem a inter-conexão de sistemas que permitam uma maior facilidade no
1 Molina, M. P. (1994). La catalogación de documentos: teoría e práctica. Madrid, Editorial Sínteses.
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tratamento documental e na transferência de informação. O facto de apenas ter sido na
segunda metade do séc. XX que se constatou a imperiosa necessidade de normas
internacionais para regular a área da documentação está directamente relacionado com a
“explosão documental” ou “explosão da informação” que se verificou no período do
pós-guerra. De facto, a nível científico, a maioria dos investigadores viam-se
incapacitados de não apenas dominar como também de estar informados de tudo o que
se publicava e que poderia ser útil ao seu trabalho, uma vez que o enorme
desenvolvimento da ciência e da tecnologia, sobretudo após a II Grande Guerra,
multiplicou a literatura especializada – para não nos referirmos à literatura ligeira
destinada ao grande consumo. Perante este cenário de crescimento avassalador da
informação e dos documentos, vários organismos nacionais e internacionais
responderam emitindo normas para conseguir o controlo dessa “explosão documental”.
A normalização incide primordialmente sobre operações afectas à catalogação
descritiva, onde encontrou um amplo espaço de aplicação, tendo em conta, sobretudo, as
trocas e a concepção e utilização de sistemas de informação – apenas operações como a
indexação, por exigir um tratamento intelectual específico, escapam a uma regulação
normalizada quer nacional quer internacional.
Deste modo organizações internacionais como a UNESCO e a ISO, e também
nacionais, redigiram normas para controlar esta área, entre as quais podemos destacar:
as diversas ISBD, como normas de descrição bibliográfica de todo o tipo de materiais; o
formato de troca internacional de dados bibliográficos legíveis por computador,
conhecido por MARC (Machine Readable Cataloguing), consignado pela norma ISO
2709; os vários códigos de identificação de documentos, tais como o ISBN, o ISSN,
ect.; as relativas a suportes físicos (formato das fichas); e o conjunto de normas ISO
aplicadas ao vocabulário e terminologia, ect.
Entre todos os organismos que pretenderam instituir normas catalográficas para
controlar o ininterrupto crescimento da informação nos mais variados suportes, foram a
IFLA e a UNESCO os maiores impulsionadores dessa regulação catalográfica. Na
Conferência Internacional de Princípios de Catalogação, em Paris (1961), realizou-se a
primeira real tentativa para se chegar a um acordo internacional em matéria de
princípios catalográficos, a qual originou uma revisão das regras de catalogação
europeias, americanas e até japonesas.
Foi na Conferência de Paris que se criou o programa-base da IFLA, programa de longo
prazo, denominado CBU – Controle Bibliográfico Universal, com sede na British
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Library. Com o qual se pretendia que cada serviço nacional de catalogação, assumisse a
responsabilidade de adquirir as novas publicações editadas no seu território, as
catalogasse e distribuísse a outros países. É a criação de um sistema mundial para
controle e troca de informação, em que cada país assume a responsabilidade de registar
as suas próprias publicações, de forma a assegurar um contributo nacional ao sistema
internacional.
Outro encontro importante entre os especialistas da área ocorreu em Copenhaga (1969),
a Reunião Internacional de Especialistas de Catalogação, onde foi trazida à discussão
pela primeira vez a possibilidade de estabelecer uma normalização internacional no
terreno da descrição bibliográfica, o que exigiria a curto prazo a revisão das regras
nacionais de catalogação. Esta reunião marca uma viragem no que toca às questões
prioritárias a debater na catalogação. Assim, temas como as enormes perspectivas que
se abriam à catalogação com a utilização das novas tecnologias informáticas passaram a
dominar as atenções dos profissionais da área em detrimento de temas como o estudo
das questões relacionadas com a eleição pontos de acesso (entradas) e cabeçalhos, que
até então tinham constituído os temas clássicos de discussão da história da catalogação.
Foi no seguimento da Reunião de Copenhaga que a IFLA, sempre apoiada pela
UNESCO, estudou as bibliografias nacionais e concluíram que havia necessidade de
criar programas muito restritos para regular a ordenação de todos os elementos que
intervêm na descrição bibliográfica de maneira a que ocupem um lugar adequado,
sempre o mesmo, e que estejam separados uns dos outros por sinais de pontuação muito
precisos, uma linguagem simbólica que visa facilitar a comunicação internacional da
informação bibliográfica. Assim nascem as ISBD.
Quase em simultâneo, nos EUA entre 1966 e 1968, a Biblioteca do Congresso faz
experimentar o formato MARC em 16 bibliotecas, cuja selecção se baseou no tipo de
biblioteca, na localização geográfica e, principalmente, na possibilidade de pessoal para
colaborar em pleno no projecto. Durante esse período, a partir da Biblioteca do
Congresso fazia-se a catalogação e o envio semanal às bibliotecas cooperantes das
fichas em formato MARC sobre bandas magnéticas. As bibliotecas tratavam-nas nos
seus computadores locais e alimentavam os seus ficheiros de modo a obterem listas
bibliográficas ou catálogos impressos.
Parte deste projecto experimental foi dedicada a desenhar um formato para introduzir
informação por máquina. Assim surgiu o formato MARC 1, que foi aprovado pelas
bibliotecas que o experimentaram. Da necessidade de utilização do formato para além
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dos EUA, especialmente no Reino Unido, tornou-se indispensável criar um formato
internacional normalizado, nascendo assim o MARC 2, concebido para a troca de dados
e capaz de armazenar informação bibliográfica sobre todo o tipo de materiais.
Desde então, a Biblioteca do Congresso e as bibliotecas cooperantes iniciaram o
trabalho de reconversão retrospectiva dos seus catálogos. A estrutura do formato foi
aceite pela Organização Internacional de Normalização convertendo-se na norma ISO
2709, que permite realizar a descrição bibliográfica de todo o tipo de documentos por
via informática, especificando os elementos que devem constar em todo o registo
informático.
Nesta fase todo este processo era efectuado por métodos off-line, nos quais não é
possível o diálogo Homem-Computador. Contudo, a partir da década de 70, nos EUA,
aparecem os sistemas on-line, também conhecidos por sistemas interactivos por serem
dotados de um ecrã e dum teclado que possibilitam o diálogo. Ainda nesta década
surgem os primeiros catálogos públicos em linha, que ficaram conhecidos por OPACs
(Online Public Acces Catalog), enquanto a IFLA continuava a publicar novas ISBD e a
rever as já publicadas.
Pouco depois da criação do formato MARC, outro grupo de trabalho de descrição
bibliográfica, liderado pela UNISIST, desenvolveram o Manual de Referência para as
Descrições Bibliográficas Legíveis por Computador, vulgarmente conhecido por
Manual de Referência UNISIST, cujo principal objectivo era servir como formato
normalizado de comunicação para troca de informação bibliográfica legível por
computador entre bases de dados bibliográficas. Formato que adopta uma norma
equivalente à ISO 2709.
Todavia, nem o MARC nem o Manual UNISIST resolveram totalmente os problemas
que se colocavam com a troca de registos. Para colmatar essas insuficiências, uma
secção da IFLA, trabalhou sobre a descrição bibliográfica normalizada e criou o
UNIMARC, publicado em 1977 para monografias e publicações em série.
Desde a década de 80 até aos nossos dias, foi formato UNIMARC tem sido
permanentemente melhorado no sentido de uma cada vez maior sofisticação,
acompanhando a evolução das regras catalográficas, até que em 1994, é publicada a 2º
Edição do Manual UNIMARC.
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3.2 A Catalogação (definição)
A catalogação é a uma operação de tratamento técnico documental imprescindível para
a descrição do conteúdo informativo duma publicação tendo em conta a sua posterior
recuperação. Desta forma, por catalogação designa-se o processo de descrever os
elementos informativos que permitem identificar um documento, independentemente do
seu suporte físico, e de estabelecer os pontos de acesso ou entradas (de autoria, títulos
ou temáticos) que facultem uma completa recuperação desse mesmo documento.
Nesse sentido catalogar consiste na elaboração de um catálogo, ou seja uma operação
que visa descrever minuciosamente os documentos possuidores de informação
associados a um determinado suporte com a finalidade de os integrar num núcleo que
desembarace o procedimento da recuperação da sua informação. Assim sendo, o
catálogo é o produto final da catalogação. É um instrumento bibliográfico por
excelência, e o seu principal objectivo é facilitar a identificação e a localização de um
documento do qual previamente conhecemos o autor, o título ou a matéria que aborda.
Pode-mos defini-lo como um conjunto de registos do documento duma colecção,
ordenados de acordo com determinadas normas. Deve, no entanto, cumprir os seguintes
requisitos: que obras existem de um autor ou responsável determinado; se existe uma
obra da qual se conhece o seu responsável ou o seu título; que obras existem sobre
determinada matéria; que edições existem de uma obra e se há uma edição determinada.
O catálogo acarreta a dupla função de: registar ordenadamente todos os documentos de
uma colecção previamente descrita (descrição bibliográfica) contendo os seus
necessários pontos de acesso; e de assinalar a sua colocação topográfica. Para facilitar
esses objectivos foram criados vários tipos de catálogos, consoante a sua finalidade.
Assim pela sua extensão temos: catálogos colectivos (quando reúnem registos
bibliográficos de vários centros de documentação); catálogos gerais (que possuem
registos de todo o tipo de materiais existentes no centro de documentação); e catálogos
especiais (com registos de uma só classe de documentos ou de fundos que já estão
contidos noutro catálogo geral de incunábulos, impressores, ect.).
Pelo seu sistema de ordenação existem: catálogos topográficos (para uso interno);
catálogos de base alfabética (por autores e obras anónimas, títulos, assuntos ou pela
conjugação dos três: catálogo dicionário); catálogos de base numérica (pelo ISBN, ect.);
catálogos de base mista (pelo número, ect., ou se tivermos em conta o assunto temos os
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catálogos sistemáticos). Pela sua forma temos: fichas; listas; on-line; CD-ROM.
Enquanto que pela sua utilização temos os catálogos internos e catálogos públicos.
Todavia, para que uma biblioteca tenha capacidade para dar resposta aos utilizadores
dos seus serviços tem de estar munida dos seguintes catálogos:
Þ Catálogo Alfabético de Autores e Obras Anónimas (que reúne as entradas
principais de autores, tanto pessoas como entidades e de obras anónimas ou
como tal consideradas. É o mais importante e o mais difícil catálogo-técnico.
Este catálogo inclui, dentro da mesma ordem alfabética, as fichas principais de
autor e as obras cuja entrada principal é o título, assim como as secundárias de
co-autores, tradutores, colaboradores, ect.)
Þ Catálogo Alfabético de Título (no qual são reunidas e ordenadas
alfabeticamente as entradas secundárias de títulos)
Þ Catalogo de Assuntos (que reúne os registo em função do seu conteúdo, e que
tanto pode ser alfabético como sistemático)
Þ Catálogo Alfabético de Assuntos (que segue uma ordem alfabética normal)
Þ Catálogo Sistemático de Assuntos (que se ordena hierarquicamente de acordo
com um código de classificação, sendo as mais utilizadas a CDU e a CDD)
Þ Catálogo Dicionário (onde são reunidos, numa só ordem alfabética, os
catálogos de autores, assuntos e títulos. Não inclui o Catálogo Sistemático de
Assuntos)
Þ Catálogo Topográfico (que se ordena de acordo com a cota. É de utilização
interna e muito importante, uma vez que é utilizado para fazer o controle de
existências)
A catalogação é, portanto, o principal instrumento de recuperação de informação, a
ponte entre o fundo documental e o utilizador. As suas origens remontam à época
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Suméria, no entanto só a partir do séc. XVIII é que se pode falar de catálogos, na
verdadeira acepção da palavra.
De um modo geral a catalogação tem como objectivos: informar sobre toda a existência
de informação existente num centro de documentação, de modo a que quem procura
informação lhe possa aceder depois de saber a sua localização; registar toda a
informação existente sobre determinado assunto, autor, tema ou mesmo obra; e
disponibilizar todo o acervo documental através de protocolos on-line.
Para a consumação destes objectivos o procedimento técnico da catalogação deve
contemplar 4 importantes operações: definir a entrada principal; descrever a obra;
classificar a obra; e escolher os temas.
3.2.1 Definir a entrada principal
Nas entradas principais encontram-se o conjunto de informações que mais rapidamente
permitem aceder à informação. No caso, por exemplo, de um CD áudio, o título do
álbum ou o seu autor afiguram-se como os principais candidatos a entrada principal
desse documento electrónico. Neste caso com privilégio do autor sobre o título do
álbum. Segundo as Regras Portuguesas de Catalogação (RPC)2: “dizem-se entradas as
unidades de informação constituídas por elementos, que identificam e por vezes
descrevem os documentos e que são estabelecidos de acordo com os objectivos a
alcançar e princípios a seguir. Quando agrupadas e ordenadas, as entradas formam
catálogos”.
Funcionando como pontos de acesso à informação, a sua atribuição é uma operação que
consiste em dar ao documento as entradas necessárias que permitam ordená-lo dentro de
um catálogo possibilitando a sua recuperação dentro da colecção. Não é uma operação
formal, uma vez que obriga o profissional de documentação a realizar uma operação
intelectual.
Existem dois tipos de entradas: por autores pessoais, corporativos ou por títulos
(característicos da Catalogação Descritiva); por assuntos (típico da Catalogação por
Assuntos). Todavia, como a ficha bibliográfica ou o registo bibliográfico tem de conter
todas as entradas para os vários catálogos de uma biblioteca, o registo assinalará: a
2 Gusmão, A., Campos, F., e Sottomayor, J. (2000). Regras Portuguesas de Catalogação I. Lisboa,
Biblioteca Nacional.
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 17
entrada principal (que reflecte a autoria da obra do ponto de vista intelectual ou
artístico); e a entrada secundária (das autorias secundárias da obra).
A uniformidade nos critérios de escolha das entradas é imprescindível para a troca de
informações entre bibliotecas, por isso impõe-se a existência de critérios uniformes,
pelo menos ao nível nacional.
3.2.2 Descrever a obra
Descrever a obra significa fazer a sua descrição bibliográfica, embora consideremos o
termo ultrapassado em virtude do desenvolvimento de novos suportes (CD-ROM, DVD,
ect.) de informação. Mas a IFLA insiste em mantê-lo.
A descrição bibliográfica consiste no conjunto de dados bibliográficos com que se
regista ou se identifica um documento de forma regulada. As principais etapas do
processo de descrição são: um exame prévio do documento; a definição do tipo de
documento e escolha das normas adequadas à sua descrição; a decisão sobre o nível de
descrição; a identificação dos elementos necessários para cada nível de descrição; a
passagem dos dados para o suporte utilizado, conforme se trate de catalogação manual
ou informatizada; e comprovar a exactidão dos dados extraídos.
A natureza da descrição bibliográfica é, de certo modo, contrária à atribuição de
entradas. Por intermédio destas pretende-se agrupar e unificar as possíveis entradas que
apresenta o documento e que nos permitem a sua posterior recuperação. Todavia, com a
descrição bibliográfica trata-se de distinguir, de individualizar, de identificar de forma
inequívoca as particularidades externas do documento, que o distinguem de outros
semelhantes. O que justifica a obrigatoriedade da inclusão dos ISBN (International
Standard Book Number) e ISSN (International Standard Serial Number), se os tiverem.
O ISBN é composto por 10 dígitos antecedidos pela sigla ISBN, divididos em quatro
partes de longitude variável e com as seguintes identificações:
Þ Indicador do grupo, país ou idioma
Þ Indicador de editorial
Þ Indicador de título (serve para identificar um documento em particular ou a
determinada edição por uma editora concreta)
Þ Digito de comprovação
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 18
A descrição bibliográfica está estruturada em oito zonas. As quais compreendem um ou
vários elementos descritivos relacionados entre si por uma pontuação prescrita.
Zonas de Descrição Bibliográfica
Zona 1 Zona de título e da menção de responsabilidade
Zona 2 Zona de edição
Zona 3 Zona de numeração
Zona 4 Zona de pé de imprensa
Zona 5 Zona de colação
Zona 6 Zona de colecção
Zona 7 Zona de notas
Zona 8 Zona do ISBN/ISSN e das modalidade de aquisição
Em termos de catalogação, a descrição bibliográfica é um processo técnico de
catalogação descritiva. Este consiste no conjunto de operações que se realizam sobre um
documento com a finalidade de o descrever e de estabelecer entradas que determinam os
nomes (autoria) dos responsáveis pelo conteúdo intelectual ou artístico das obras. A
catalogação descritiva parte do pressuposto de que o utilizador conhece de antemão
algum dado sobre a obra que procura. Contam-se por duas as principais operações da
catalogação descritiva: 1) Descrição bibliográfica dos documentos; 2) Estabelecimento
de entradas à descrição por autor pessoal, corporativo ou por título, tanto principal como
secundário.
3.2.3 Classificar a obra
Por classificar entende-se reunir objectos semelhantes e separar os diferentes, o que
pressupõe a existência de um plano determinado para fixar esse agrupamento. Esse
plano pode ser projectado tendo em conta determinadas características e seguindo uma
ordem lógica. Deste modo, a existência de um critério pré-estabelecido é fundamental
como garantia de que as diferentes classes do sistema não se sobrepõem umas às outras.
Por outro lado, a exposição desse plano pode seguir determinados critérios e recorrer a
linguagens convencionais. Assim como todos os objectos são susceptíveis de ser
classificados, também no domínio dos conceitos podemos criar esquemas de
classificação, onde estes são representados por símbolos ou índices – e não em
linguagem natural – que revelem as relações estabelecidas no interior da estrutura.
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 19
Na classificação documental, para expressar ideias usamos conceitos. Os conceitos
podem ser expressos por uma ou mais palavras e serem representados em linguagem
natural, portanto por palavras, por algoritmos ou por notações alfanuméricas. Enquanto
que os sistemas de classificação consistem na organização dos conceitos em classes que,
por sua vez, se dividem em subdivisões para expor as relações semânticas existentes
entre eles.
Sendo a classificação uma operação intelectual pela qual o documentalista atribui a uma
obra um índice correspondente a uma classe de matérias, utilizando uma linguagem de
classificação; a função que a classificação desempenha na organização do conhecimento
é uma das mais importantes, mesmo imprescindível num centro de documentação, pois
concorre para que os sistemas de recuperação de informação alcancem o seu objectivo
principal: facultar o acesso à informação e ao documento a quem o procura. A
classificação permite ainda a arrumação sistemática dos próprios documentos.
Exemplo da Classificação Decimal Universal utilizada na Biblioteca Municipal Almeida Garrett,
com a utilização de cores para facilitar a arrumação dos documentos em estantes.
Classificar documentos num centro de documentação é uma operação intelectual,
através da qual o documentalista atribui à obra índices correspondentes a classes de
matérias utilizando uma linguagem de classificação, que pode ser alfabética, numérica
ou alfanumérica, com o objectivo de recuperar esses documentos pelos assuntos nele
tratados. O objectivo da classificação num centro de documentação é, portanto,
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 20
organizar todo o conhecimento existente em todos os documentos independentemente
do seu suporte.
Mas classificar é também decidir sobre a posição relativa do assunto ou dos assuntos
contidos num documento, no conjunto das classes que constituem o sistema de
classificação, o que pode ser efectuado consultando a tabela ou quadro de classificação,
onde se encontra o esquema classificatório utilizado.
É através da tabela e usando a respectiva linguagem de classificação que o conteúdo do
documento pode ser representado de forma sintética. Esta operação pode também
determinar a arrumação do próprio documento, uma vez que permite reunir os
documentos em estantes por afinidades do seu conteúdo, isto é, a cada documento pode
ser atribuída uma forma de só forma de representação, a correspondente ao assunto
eleito como principal.
Os dois principais esquemas de classificação são a CDU – Classificação Decimal
Universal e a CDD – Classificação Decimal Dewey. Ambos são divididos em classes,
que se podem definir como um conjunto cujos elementos têm qualquer coisa em
comum. A CDU tem nove classes (de 0 a 9, estando vaga a classe 4) e cada uma pode
ser dividida – decimalmente, do geral para o particular – para formar dez classes mais
específicas, enquanto que CDD possui dez classes que podem ser divididas
decimalmente, onde todos os números se lêem como decimais.
Tanto a CDU como a CDD são sistemas hierarquizados e numerativos que permitem
ordenar sistematicamente conjuntos de informação de acordo com categorias lógicas e
através de sistemas de notas, independentes das línguas. Estes sistemas possuem
limitações porque rapidamente se tornam em mapas de conhecimento desactualizado ou
controverso, sendo também difíceis de gerir quando há necessidade de acomodar novas
áreas do conhecimento e novos conceitos sem que possam evitar alterar a sua estruturabase.
Uma característica negativa destes sistemas é a sua unidimensionalidade, o que
leva a que para representar significações muito específicas tenham de recorrer a
complicados léxicos (vocabulários).
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 21
O quadro seguinte demonstra as classes principais da CDU e da CDD.
Classes Principais da CDU Classes Principais da CDD
0 Generalidades 0 Generalidades
1 Filosofia 1 Filosofia
2. Religião. Teologia. 2 Religião
3 Ciências Sociais 3 Ciências sociais
4 4 Linguística
5 Matemática. Ciências Naturais. 5 Ciências puras
6 Ciências Aplicadas 6 Tecnologia (Ciências aplicadas)
7 Arte. Desporto. 7 Belas-Artes
8 Língua. Linguística. Literatura. 8 Literatura
9 Geografia. Biografia. História. 9 Geografia Geral, etc.
3.2.4 Escolher os temas (descritores)
A classificação permite a classificar várias obras sob vários temas, embora a obra tenha
de ficar integrada numa única classe. Para admitir essas múltiplas classificações foi
necessário a criação e utilização de catálogos temáticos, os tesaurus, que podem
assumir características de dicionários caso contenham definições.
Podemos definir o tesaurus como uma linguagem documental controlada baseada nas
estruturas hierárquicas de uma ou diversas áreas de conhecimento, em que os dados são
representados por termos de uma ou mais línguas naturais e as relações entre eles por
sinais convencionais; ou seja uma lista alfabética de descritores que evidenciam as
diferentes relações existentes entre si, fornecendo descritores normalizados para
domínios específicos, de maneira a assegurar a coerência da escolha dos termos por
parte dos indexadores e, simultaneamente, fornecendo uma estrutura de reenvios de tal
forma eficaz que seja óbvia, tanto para quem indexa, como para quem procura a
informação, a relação existente entre descritores. O tesaurus pode ser, entre outros:
especializado, monolingue, multilingue, por facetas, temático, de termos não
preferenciais, de termos preferenciais, thesaurus-alvo ou thesaurus-fonte. Todos
partilham a necessidade de armazenar logicamente o saber numa perspectiva de
recuperação posterior.
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 22
O número de descritores contido num tesaurus depende do grau de especificidade para o
qual foi vocacionado aquando da sua elaboração. Estima-se que esse número possa
variar entre 500 a 20000, a média situando-se nos 3000. Contudo, um tesaurus
demasiado extenso pode inviabilizar a escolha dos descritores mais pertinentes, para
além de tornar difícil e pesado o seu manuseamento.
Os termos contidos num thesaurus são normalmente substantivos ou locuções nominais,
na língua nacional, no masculino, embora com excepções, quase sempre no singular.
Sempre que se considere necessário recorre-se à pré-coordenação de conceitos e termos,
tendo sempre presente se não existirão alternativas nominais, logo mais simples. A
elaboração de um tesaurus deve ser sempre fruto de um trabalho de grupo. Deverá
também ser regularmente revisto e actualizado de modo a reflectir a evolução da
linguagem, sobretudo a relativa ao saber da área que aborda.
É graças à existência de tesaurus especializados em várias áreas, caso da educação,
ciências naturais ou humanas, psicologia e outras, que a linguagem comum tão variada e
dependente de factores externos, se pode traduzir numa linguagem neutra e
independente de variáveis socioculturais, a chamada "linguagem documental", expressa
pelos descritores de cada tesaurus.
A escolha de um tesaurus por um centro de documentação não é fácil. Por isso algumas
instituições elaboram tesaurus personalizados tendo em conta as exigências e o perfil
dos seus utilizadores. O que pode ser efectuado por intermédio da selecção de conceitos
de vários outros tesaurus que se coadunam com as necessidades predefinidas da
instituição e dos seus utilizadores. Acontece, por vezes, que no tesaurus utilizado não
existe o descritor necessário para caracterizar determinada obra, seja pela raridade do
assunto seja pelo facto do tesaurus não o contemplar. Nesse caso utilizar-se-á o descritor
que mais se aproxime do ideal.
É através da facilidade de recuperação da informação, isto é, da rapidez de acesso aos
documentos, dos quais o utilizador não conhece muitas vezes nem o título nem o autor,
mas tão só o assunto a investigar, que se pode aferir da pertinência das escolhas dos
descritores no acto da indexação. O conjunto dos descritores do tesaurus possibilita
traduzir o conteúdo essencial de um documento para uma linguagem desprovida de
ambiguidade. Sendo listagens organizadas e estruturadas de conceitos ordenados por
ordem alfabética, apresentam entre si relações hierarquizadas semanticamente: relação
de hierarquia, relação de equivalência, ou relação de associação.
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 23
A relação hierárquica permite situar o descritor no seu campo semântico. Recuperam-se
os termos no seu sentido mais geral e os de sentido mais especifico, partindo dos
primeiros para os últimos, seguindo a lógica aristotélica do geral para o particular.
Também podem ser utilizadas abreviaturas antes dos termos, uma vez que cada
abreviatura indica a relação ou a função do termo ou da nota que se segue.
Abreviaturas utilizadas num tesaurus (NP 4036)
NE Nota Explicativa: nota que acompanha um termo para indicar o seu sentido
numa linguagem de indexação.
USE Use: o termo que segue este símbolo é o descritor, quando existe opcção entre
descritor e não-descritor.
UP Usado por: o termo que segue este símbolo é um não descritor (sinónimo ou
quase sinónimo).
TT Termo de topo: o termo que se segue é o nome da classe mais genérica à qual o
termo específico pertence, é muitas vezes utilizado na parte alfabética dum
tesauru.
TG Termo genérico: o termo que o segue representa uma noção contendo um amplo
sentido.
TE Termo especifico: o termo que o segue representa uma noção que tem um
sentido mais restrito.
TR Termo relacionado: o termo que o segue é um termo associado, mas não é um
sinónimo, nem um termo genérico específico.
3.3 As ISBD e formato UNIMARC
Surgida devido à absoluta necessidade da existência de uma normalização catalográfica
com aceitação universal, a ISBD contempla um conceito de unidade bibliográfica: todo
o documento, conjunto de documentos, ou parte de um documento é susceptível de
receber uma descrição bibliográfica própria. Deste modo, a ISBD assenta sobre uma
estrutura normalizada que individualiza cada elemento através da sua colocação em
zonas que funcionam no sentido de descrever e identificar qualquer tipo de documento,
seguindo uma ordem estabelecida por intermédio de um sistema de pontuação
convencionada.
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 24
Cada ISBD esta projectada como um instrumento para a comunicação internacional da
informação bibliográfica. No entanto, a ISBD não é uma norma de aplicação universal
em todos os países. Cada país, por seu turno, deve a partir dela redigir o seu próprio
código ou as suas regras de catalogação de aplicação nacional. As ISBD apresentam um
objectivo tripartido de: trocar informação proveniente de fontes distintas; facilitar a sua
interpretação apesar das barreiras linguísticas da informação; e facilitar a conversão
desta informação de forma a poder ser legível por máquina.
Assim tempos as seguintes ISBD, segundo os materiais que funcionam como suportes
de informação:
Þ ISBD (G) – International Standard Bibliographic Description of Generalites
(para todo o tipo de materiais, teve notável influência no desenvolvimento das
várias ISBD)
Þ ISBD (M) – International Standard Bibliographic Description of Monographs
(para monografias)
Þ ISBD (S) – International Standard Bibliographic Description of Series (para
publicações em série)
Þ ISBD (NBM) – International Standard Bibliographic Description of Non Book
Material (para material não livro)
Þ ISBD (PM) – International Standard Bibliographic Description of Printed
Musics (para partituras musicais)
Þ ISBD (CM) – International Standard Bibliographic Description of
Cartographic Materials (para material cartográfico)
Þ ISBD (A) – International Standard Bibliographic Description of pré-1801
monographs (para publicações antigas)
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 25
Þ ISBD (CP) – International Standard Bibliographic Description of Component
Parts (para partes de uma publicação)
Þ ISBD (CF) – International Standard Bibliographic Description Component
Files (para ficheiros de computador)
Þ ISBD (ER) – International Standard Bibliographic Description of Electronic
Resourses (para documentos electrónicos)
Apesar da sua diversidade mediante os diferentes suportes de informação, todas as
ISBD têm três princípios-base subjacentes:
Uniformidade – estabelece que os elementos de identificação e de descrição dos
documentos são definidos, determinados a apresentados de igual modo, sempre que em
idênticas circunstâncias.
Simplificação – fixa que os elementos são apresentados e determinados de forma
concisa, tendo em atenção os interesses dos utilizadores e dos serviços que executam
essas tarefas.
Analogia – determina o recurso ao tratamento de situações análogas ou similares,
quando estas regras se verificam insuficientes ou omissas.
Sistema de pontuação convencionada das ISBD, exemplo:
_ Indica a separação entre áreas distintas
= Indica a repetição da mesma informação, embora de forma diferente
[ ] Indica interpolação ou que a informação foi retirada da fonte principal
… Indica a suspensão de partes de elementos
/ Indica a menção de responsabilidade em relação ao elemento precedente
: Indica um elemento complementar do anterior
; Indica a repetição da mesma classe do elemento
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 26
A criação dum sistema normalizado internacional exige a criação de formatos que
representem a ISBD a uma escala planetária. Assim surge o formato ou linguagem
UNIMARC, que significa: Universal Machine Readable Catalogue. E que consiste num
sistema de códigos internacionais que permitem a legibilidade de dados bibliográficos
registados em suporte electrónico (ou seja, legíveis por computador), em conformidade
com a norma ISO 2709. Este formato tem vindo a ser actualizado para acompanhar as
especificidades dos vários tipos de suportes, assim como admitir registos de outros
formatos MARC. Daqui surgem as várias designações que o formato ostenta,
nomeadamente: UNIMARC bibliográfico e UNIMARC autoridades. A que se podem
juntar as designações de: UNIMARC classificação e UNIMARC existências, que ainda
se encontram em fase preparação.
Exemplos de representações ISBD e linguagem UNIMARC
Documentos Electrónicos (exemplo 1)
Representação ISBD
BUENA VISTA SOCIAL CLUB
Buena vista social club [Documento electrónico] / um filme de Win Wenders. - Multimédia interactivo. -
[Lisboa] : Atalanta Filmes, cop. 2001. - 1 DVD (100 min.) : son., color. - (Atalanta Filmes). - Requisitos
do sistema: DVD 9 - Pal Zona 2; écran 16/9 compatível com 4/3. - Legendado em português. - Video
musical. - Elenco: Ry Cooder, Ibrahim Ferrer, Rúben Gonzalez, Eliades Ochoa, Omara Portuondo,
Compay Segundo. - Contém: capítulos, cenas adicionais, trailer, filmografia de Win Wenders, biografias
dos músicos. - Para maiores de 6 anos
Representação em Linguagem UNIMARC
MFN: 77
Estado: n Tipo:l Nível bibl.: m
Nível hierárquico: 0 Nível de cod.: Forma de desc.:
001:0000077
005:20050618120651.0
100: ^a d m y0pory0103 ba
101:0 ^apor
102: ^aPT
135: ^azz
200:1 ^aBuena vista social club^bDocumento electrónico^ffilme de Win Wenders
210: ^a[Lisboa]^cAtalanta Filmes^dcop. 2001
215: ^a1 DVD (100 min.)^cson., color
225:2 ^aAtalanta Filmes
230: ^aMultimédia interactivo
300: ^aLegendado em português
300: ^aVideo musical
323: ^aElenco: Ry Cooder, Ibrahim Ferrer, Rúben Gonzalez, Eliades Ochoa, Omara Portuondo, Compay
Segundo
327:1 ^aContém: capítulos, cenas adicionais, trailer, filmografia de Win Wenders, biografias dos músicos
333: ^aPara maiores de 6 anos
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 27
337: ^aRequisitos do sistema: DVD 9 - Pal Zona 2; écran 16/9 compatível com 4/3
702: 1^aWenders^bWin^4630
702: 1^aCooder^bRy^4005
702: 1^aFerrer^bIbrahim^4005
702: 1^aGonzalez^bRúben^4005
702: 1^aOchoa^bEliades^4005
702: 1^aPortuondo^bOmara^4005
702: 1^aSegundo^bCompay^4005
856:4 ^ghttp://www.bn.pt
Documentos Electrónicos (exemplo 2)
Representação ISBD
NATUREZA FANTASTICA
Natureza fantástica [Documento electrónico]. - Multimédia Interactivo. - [Lisboa] : Verbo Multimédia. -
Requisitos do sistema: PC 486; 8m de memória RAM (aconselhada: 16 M); Windows 95; placa gráfica
com 640x480 e 256 cores (aconselhada: 16 M); leitor de CD-Rom; placa de som (opcional)
Representação em Linguagem UNIMARC
MFN: 78
Estado: n Tipo:l Nível bibl.: m
Nível hierárquico: 0 Nível de cod.: Forma de desc.:
001:0000078
005:20050618122016.0
100: ^a d m y0pory0103 ba
101:0 ^apor
102: ^aPT
200:1 ^aNatureza fantástica^bDocumento electrónico
210: ^a[Lisboa]^cVerbo Multimédia
230: ^aMultimédia Interactivo
337: ^aRequisitos do sistema: PC 486; 8m de memória RAM (aconselhada: 16 M); Windows 95; placa
gráfica com 640x480 e 256 cores (aconselhada: 16 M); leitor de CD-Rom; placa de som (opcional)
3.4 A catalogação informatizada e a ISBD (ER)
Não podemos nos referirmos à catalogação informatizada e à ISBD (ER) é conveniente
fazermos referência aos documentos electrónicos, uma vez que são estes os materiais
objecto da catalogação electrónica regulada pela ISBD (ER).
Por documento electrónico entendemos os materiais possuidores de informação
controlados por computador. Estes podem ser de dois tipos: dados (informação em
forma de números, letras, gráficos, imagens e sons possibilitando combinações) ou
programas (guias para processamento de tarefas, como o processamento de dados).
É possível categorizar a publicação electrónica em: publicações electrónicas sem
conexão à rede (CD-ROM, DVD-ROM); publicações electrónicas híbridas (publicações
sem conexão à rede, mas que possuam ligações a elementos em linha); e publicações
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 28
electrónicas em linha (documentos editados na internet). Entre estas publicações
electrónicas, devemos prestar especial atenção às publicações em linha pelo facto de
estas poderem ser caracterizadas através da fixação do seu texto em: documentos
estáticos (cuja forma e conteúdos fixados permanecem inalteráveis); documentos
cumulativos (cuja forma e conteúdo fixado permanece fixa, mas que permite adicionar
novos elementos de informação); e documentos dinâmicos (os quais não apresentam
uma forma ou conteúdo fixada permitindo a sua constante alteração).
O aparecimento, em grande escala, de novos suportes de informação de natureza
electrónica ou digital, assim como o acesso remoto a documentos na internet ditou que
cada centro de documentação utilizasse a catalogação informatizada como o meio de
catalogação mais eficaz. Entre as vantagens da catalogação informatizada destacam-se
as seguintes: evita a redundância do trabalho, pois cada documento só se cataloga uma
vez; reduzem-se os custos económicos em relação à catalogação manual; é mais fácil a
correcção dos erros e a actualização dos dados; assegura-se a qualidade e a rapidez da
difusão através de poderosos catálogos.
Em relação às acções que se podem automatizar no trabalho de catalogação dispomos
da: entrada de novos documentos no sistema; modificação, adição ou eliminação de
informação nos documentos já armazenados; criação de outros documentos a partir dos
já existentes; introdução de termos de indexação no ficheiro de autoridades ou num
tesaurus; a consulta de catálogos; a impressão de fichas, listas bibliográficas e etiquetas.
Os documentos electrónicos para efeitos de catalogação e pesquisa são tratados de duas
maneiras segundo o acesso seja local (exigindo um suporte físico como CD ou DVD)
ou remoto (existente num disco rígido ou noutro tipo dispositivo de armazenamento
num computador ou na rede). A criação de registos para recuperar informação através
de catálogos em linha é o método mais eficaz para aceder a estes documentos.
A operação da catalogação implica forçosamente a necessidade de normalização. Isto
levou à criação, em 1977, pela IFLA, da ISBD (ER) – International Standard
Bibliographic Description for Electronic Resources. A qual se aplica a todos os
documentos electrónicos, especificando os requisitos para a sua descrição e
identificação, qualquer que seja o seu suporte e que apresenta a estrutura clássica de
uma normal ISBD. Os avanços tecnológicos e o aumento assinalável do número de
documentos electrónicos serviram de mote para que a IFLA nesse ano redefinisse a
ISBD (ER), e apresenta-se novos campos do UNIMARC aplicados a estes documentos.
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 29
Assim relativamente à ISBD (ER), além das zonas comuns aos outros tipos de
documentos, foram reconsideradas as seguintes zonas:
Þ Zona 3 – relativa ao Tipo e extensão do documento onde são descritas as características básicas
do documento electrónico e inclui duas partes: 1. Designação do documento, que é obrigatória,
identifica e particulariza o tipo de documento, nomeadamente como o recurso é constituído por
dados e programas, bases de dados em linha, jornal electrónico, ect. A parte 2. Extensão do
documento consiste no número de ficheiros que compõem o documento, é opcional e regista-se
na iminência de informação disponível;
Þ Zona 4 – relativa à Publicação, produção e distribuição do documento. No contexto ISBD (ER)
determinou-se que todos os documentos elctrónicos de acesso local ou remoto fossem
considerados “publicados”;
Þ Zona 5 – relativa à Descrição física, só deve ser preenchida por documentos de acesso local, ou
seja que possuam suporte físico, sendo específica para recursos que existam em diferentes tipos
de suporte ou tamanho;
Þ Zona 7 – relativa às Notas, temos Nota sobre a fonte do título que é obrigatória; Nota sobre a
história bibliográfica do item, que inclui informação sobre frequência de alteração de conteúdos
de um documento de acesso remoto dinâmico; Notas sobre requisitos do sistema informático,
para documentos de acesso local e Nota sobre o modo de acesso, para documentos de acesso
remoto, ambas obrigatórias.
Em relação ao formato UNIMARC, os novos campos a implementar que correspondem
às zonas ISBD (ER) mencionadas, descrevemos cinco:
Þ 135 – Campos de dados codificados: Documentos electrónicos;
Þ 230 – Zona especifica de alguns tipos de materiais: documentos electrónicos, campo equivalente
à zona 3 da ISBD (ER);
Þ 336 – Nota relativa ao tipo de documento electrónico, relacionada com o tipo e extensão do
documento;
Þ 337 – Nota relativa aos requisitos do sistema
Þ 856 – Acesso electrónico, permite localizar um item electrónico.
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 30
Evolução Histórica da ISBD (ER) – Cronologia
1973 Criação de uma estrutura descritiva para material não livro – ficheiros de
dados legíveis por computador
1977 1ª Edição da ISBD (NBM)
1981 Revisão conjunta das ISBD’s (NBM), (CM), (M) e (S)
1988 Publicação da versão de trabalho da ISBD (CF)
1988 Harmonização do texto da ISBD (CF) com os textos revistos das quatro
ISBD’s mencionadas e publicadas entre 1981-1988
1990 1ª Edição da ISBD (CF)
1997 1ª Edição da ISBD (ER) International Standard Bibliographic Description
for Electronic Resources. Revisão da ISBD(CF) e recomendada pelo grupo
de trabalho de ISBD(CF)
1999 2ª Edição electrónica da ISBD (ER)
2004 3ª Edição electrónica da versão de trabalho da ISBD (ER)
4. Conclusão
Foi nosso objectivo demonstrar neste trabalho a capital importância da história da
catalogação na confecção dos produtos que ela nos disponibiliza actualmente.
Procuramos demonstrar que os processos catalográficos são resultado duma evolução
que já vem sendo seguida desde a antiguidade e que actualmente encontra nas novas
tecnologias da computação o instrumento de trabalho por excelência, uma vez que
possibilita resultados e eficácia de operações nunca antes visto.
Assim, julgamos demonstrar que a catalogação informatizada nunca poderia ter
ocorrido apenas pelos avanços tecnológicos possibilitados pelas novas tecnologias da
informação e da comunicação (TIC), mas sobretudo como resultado do percurso
histórico da catalogação. Do mesmo modo que a ISBD (ER) também não teria a sua
existência assegurada apenas pelo aparecimento do novo tipo de suporte de informação,
que são os documentos electrónicos, mas sim porque antes dela a precedem todas as
restantes ISBD conhecidas até ao momento.
Foi finalmente nosso objectivo desmistificar a importância das TIC nos avanços
ocorridos na catalogação e sua normalização. O “casamento” entre as TIC e a
catalogação aconteceu porque antes dele todo um percurso foi percorrido no sentido de
o tornar possível, por parte da catalogação, sem o qual catalogação e TIC seriam
objectos completamente estranhos.
Colin Marques (colinmarques@hotmail.com) 31
5. Bibliografia
Þ Furtado, J. (1999). As bibliotecas públicas, as suas missões e os seus novos
recursos de informação. Liberpolis: revista das bibliotecas públicas, nº 2 [Em
linha]. Disponível em http://www.liberpolis.pt/revista_2htm
Þ http://rcbp.iplb.pt/docs/politica.pdf [Consultado em 20/6/2006]
Þ Gusmão, A., Campos, F., e Sottomayor, J. (2000). Regras Portuguesas de
Catalogação I. Lisboa, Biblioteca Nacional.
Þ Molina, M. P. (1994). La catalogación de documentos: teoría e práctica.
Madrid, Editorial Sínteses.
Þ Leal, F. (1998). O Fio de Ariane: a organização do conhecimento nas bibliotecas
públicas. Leituras. (2), pp. 127-140.
Þ Lopes, M. I. (1998). As bibliotecas e a organização do conhecimento: evolução e
perspectivas. Leituras. (2), pp. 141-157.
Þ McMurtrie, D. (1997). O Livro. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.
Þ Rafael, G. G. (2001). Documentos electrónicos: da biblioteca de papel à
biblioteca digital. Páginas Arquivos & Bibliotecas, nº 6, pp. 7-20.
Þ Rafael, G. G. (2000). Catalogação de documentos em suporte electrónico.
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