segunda-feira, 26 de julho de 2010

2176 - HISTÓRIA DA ESCRITA RÚNICA

Os registros dos godos
O advento da literatura nórdica

Após a estruturação dos reinos bárbaros dentro do território do antigo Império Romano, o latim persistiu como idioma usual devido aos resquícios da superioridade da civilização greco-romana, evidente na admiração dos bárbaros para com os elementos culturais da antiga população romana. O prestígio do latim no início da Idade Média foi tanto, que era a única língua considerada digna de ser escrita.

Portanto, o latim continuou como língua oficial. As leis bárbaras (com exceção das anglo-saxônicas), os editos e os contratos eram escritos nesta língua morta. A adoção do latim deveu-se à sua sofisticação, quando comparado aos dialetos germânicos, que possuíam uma estrutura gramatical mais complexa e um vocabulário mais pobre e mais concreto.

O idioma gótico é um dentre os vários pertencentes ao tronco indo-europeu que se encontram extintos. A família indo-européia divide-se em doze grupos, dentre os quais estão o germânico e o itálico. O gótico, pertencente ao primeiro grupo, e o latim, representante do segundo, encontram-se extintos.

A língua gótica ficou conhecida através do bispo ariano Úlfilas, que traduziu a Bíblia para os bárbaros visigodos. Sua tradução foi fundamental para o entendimento do estado primitivo comum das línguas germânicas. Como os germanos não tinham literatura escrita antes da conversão ao Cristianismo (à exceção das runas), os estudos sobre a língua gótica são amplamente baseados nas manifestações literárias em línguas aparentadas (a Bíblia de Úlfilas e as relações da literatura alemã antiga com a nórdica).




De acordo com Peter von Polenz, em História da Língua Alemã, (Tradução por Jaime Ferreira da Silva e Antônio Almeida. Lisboa: Edição da Fundação Calouste Gulbenkian, 1970. p. 321), muitas foram as transformações do idioma, desde os tempos germânicos (que devem ser representados pelo gótico, por volta de 350 d.C) até os dias atuais. O mesmo autor mostra a evolução da língua através de comparações de traduções bíblicas alemãs de épocas diferentes.

O latim evoluiu de modo diverso. O idioma dos romanos transformou-se em um instrumento literário e apresentou dois aspectos distintos: o clássico e o vulgar. O Reino Visigótico foi tão influenciado pelo modo de falar dos hispano-romanos que a língua gótica característica dos bárbaros invasores foi substituída pelo latim vulgar.

O latim cristão, outra divisão deste idioma, teve origem nas traduções da Bíblia, nos escritos de padres e na linguagem litúrgica própria das fórmulas e orações do cerimonial cristão. Na época dos Reinos Bárbaros, à medida que o latim era desintegrado, isto é, que diferenciava-se cada vez mais do latim greco-romano, surgiam as diferentes línguas neolatinas (originárias do latim vulgar). Assim apareceram os vários romances (modificações regionais do latim).

Os germanos não eram familiarizados com a escrita, pois não a praticavam com freqüência. No entanto, esta não lhes era totalmente estranha, pois as runas foram marcantes na cultura dos povos bárbaros. Na época pagã, a escrita rúnica possivelmente foi compreendida por pessoas detentoras de conhecimentos ocultos, como sacerdotizas e adivinhos.




À exceção da escrita rúnica, os germanos não tinham o hábito de conservar sua língua por meio da escrita e preferiam registrá-la através da tradição oral. Posteriormente, os poemas épicos e a mitologia destes povos foram referenciados nas epopéias medievais. Deste modo, o antiqüíssimo patrimônio cultural dos bárbaros foi preservado. Para os germanos a poesia, aliada à música e à dança, tinha como objetivo propiciar estados alterados de consciência, a fim de tornarem bem sucedidos os rituais de magia.

Exemplos desta herança são as sagas em torno de Dietrich von Bern (o rei ostrogodo Teodorico) pano de fundo do famoso Hildebrandslied (Canto de Hildebrando) e as Sentenças Mágicas de Merseburg, que chegaram ao mundo contemporâneo graças a transcrições do século X. Figuras célebres da História da Literatura alemã, como Siegfried, Kriemhilde, Brunhilda e Hagen, apareceram inicialmente na mitologia dos Eddas. Posteriormente, estas personagens receberam versões medievais ou modernas na Canção dos Nibelungos.

Com relação aos godos, em específico, já na época anterior à Renascença Carolíngia e durante o desenrolar desta, muitos escritores expuseram dados referentes à sua cultura e chegaram a fornecer fontes de inspiração para a futura Arte Gótica.

Ambrósio, nascido em Tréveris por volta de 330 e morto provavelmente em 397, foi um destes literatos e sobressaiu-se como exemplo do gênio romano, ancorado no Cristianismo. O Te Deum, hino litúrgico de Ação de Graças, apresenta um rico significado histórico porque reflete os problemas que o Cristianismo enfrentava nos séculos IV e V, devido ao arianismo, e afirma a fé no Pai, Filho e Espírito Santo. É uma crítica à heresia ariana na forma literária.

Outro escritor que retratou poeticamente a realidade de seu tempo foi Prudêncio (348-410), nascido em Saragoça e governador da Espanha. Dentre suas obras merece destaque a Psicomaquia, que procurou mostrar a força moral do Cristianismo, ao fazer uma oposição entre as virtudes cristãs e os vícios pagãos. As alegorias utilizadas por Prudêncio inspiraram os miniaturistas que ilustravam os manuscritos e os pintores e escultores que ornamentavam as igrejas medievais.

Provoca especial curiosidade as contribuições de Santo Avito, bispo de Viena, autor da primeira epopéia cristã. Seu Libelli de Spiritalis Historiae Gestis, dividido em cinco livros (A Criação, O Pecado Original, O Julgamento, O Dilúvio e a Travessia do Mar Vermelho), pode ser considerado um prenúncio de futuros cantos, como os de John Milton e Dante Alighieri.

Cassiodoro, também conhecido como Magnus Aurelius Cassiodorus, suscita especial interesse devido à publicação da História dos Godos (De Origine Actibusque Getarum). A obra divide-se em doze livros, e o pouco conhecimento acerca dela foi viável devido ao resumo feito, em 552, por Jordanes, único bárbaro de nascença a galgar a posição de historiador.


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por
Carla Damasceno
em setembro de 2006





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