segunda-feira, 26 de julho de 2010

2173 - O PRIMEIRO SUPORTE PARA A ESCRITA

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Professor encontra primeiro texto escrito em português


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Quem acreditava que o primeiro documento escrito em português era a "Notícia do Torto" ou o "Testamento de d. Afonso II", de 1214, pode começar a contar com uma diferença de 40 anos para o surgimento do primeiro texto escrito no idioma. O professor galego José Antonio Souto Cabo apresentou, na semana passada, um documento que encontrou na Torre do Tombo, em Lisboa, que afirma ser de pelo menos dois anos antes de 1175.

Trata-se do pacto entre os irmãos Gomes e Ramiro Pais. No documento, escrito em galaico-português, um dos irmãos se compromete a não contestar os direitos do primeiro em relação às suas terras e, em troca, o segundo deverá ajudar a defender o primeiro no caso de agressões de terceiros. Apesar de estar sem data, Souto Cabo encontrou uma forma de datá-lo como sendo anterior a 1175.

A data foi determinada pelas indicações do texto em latim, do outro lado do pergaminho, um suporte para escrita feito de pele de carneiro. "Os escrivães preferiam sempre o lado da carne, porque pegava melhor a tinta. Do lado do pêlo, está um contrato em latim, de compra e venda, datado de 1175", conta Souto Cabo. Como o pacto tinha um prazo de validade de dois anos, o documento de compra e venda deveria ser posterior. "Era normal a reutilização do pergaminho depois da caducidade do outro lado. A reutilização era sistemática", disse.

Reciclagem

Além de utilizarem o suporte no verso, na época era comum apagarem os textos dos pergaminhos para rescreverem nele. Souto Cabo acredita que as características do pergaminho fizeram com que o texto em português do pacto entre irmãos não fosse perdido: "Esse pergaminho é muito fino e por isso não dá para apagar. No entanto, como é muito fino, isso confere ao pergaminho uma grande qualidade."

Segundo Souto Cabo, o fato de o notário ter escrito o pacto em português deve-se a que o texto não repetia o que os documentos habituais costumavam apresentar. Normalmente, os notários tinham modelos de documentos e apenas trocavam os dados, como os nomes de locais e de pessoas - o que era impossível com o pacto.

Para ajudar a fixar a data do pergaminho, Souto Cabo encontrou em Braga documentos relativos aos irmãos Ramiro e Gomes, que ele acredita serem os mesmos do pacto, apesar de Pais ser um sobrenome muito comum na época. O pacto entre os irmãos Pais tinha sido depositado na Mitra de Braga - foi para a Torre do Tombo devido ao trabalho de Alexandre Herculano, que no século 19 percorreu as bibliotecas dos conventos portugueses recolhendo os documentos mais antigos e mais valiosos para o arquivo nacional.

Com o pacto, Souto Cabo, professor da Universidade de Santiago de Compostela, apresentou mais três textos: a "Nómina de Pedro Viegas", de 1184; a "Carta de Foro de Benfeita" e o "Escrito de Pai Soares", ambos da segunda metade do século 12, mas sem data certa. Os três documentos também encontram-se na Torre do Tombo.

A maior parte dos documentos em galaico-português dessa época são jurídicos: segundo Souto Cabo, apesar de o português no fim do século 12 até os primeiros anos do século 14 ser a língua de cultura da Península Ibérica, falada nas várias cortes, os textos literários que chegaram até hoje foram através de cancioneiros, com cópias de cópias de cópias, sem serem datáveis. Além disso, os copistas alteravam palavras e mexiam nos textos.

Polêmica

O anúncio da descoberta de Souto Cabo provocou uma polêmica entre os especialistas da área. Até a direção da Torre do Tombo tomou partido: "Do ponto de vista do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, o texto em português mais antigo é o descoberto pela professora Ana Maria Martins", afirmou o vice-diretor da instituição, José Vicente. A Torre do Tombo relutou em dar autorização para a publicação da imagem do texto descoberto por Souto Cabo.

Vicente refere-se à "Notícia de Fiadores", um documento revelado em 1999. "A Notícia de Fiadores", assim como o texto do pacto entre irmãos, tinha várias formas latinas ou próximas do latim. Segundo um texto da professora Rita Marquilhas, professora de Lingüística da Universidade de Lisboa, a "Notícia de Fiadores" tem morfologia e sintaxe portuguesas, sem a flexão nominal (declinações) da gramática latina e com pronomes pessoais átonos, inexistentes em latim.

Comentando a apresentação de Souto Cabo, Rita escreve que "é apenas datável por conjectura, com base em provas circunstanciais e escassas, uma vez que as personagens referidas no documento ainda não foram historicamente identificadas. "A Notícia de Fiadores" continua sendo, assim, o mais antigo documento que se sabe ser original, datado e escrito em português".

Prudência

Para o professor Ivo de Castro, da Faculdade de Letras de Lisboa, "a argumentação do professor Souto Cabo é muito convincente, mas não serve como prova e não substitui uma data exata. Não é prudente afirmar que o pacto entre os dois irmãos seja o documento mais antigo escrito em português". Castro considera que a descoberta dos dois documentos faz parte de um esforço de pesquisa na área de história da língua iniciado há alguns anos: "Agora estamos tendo os primeiros resultados desse esforço." Ele considera que poderão surgir novas descobertas antecipando a data.

Castro conta que o primeiro documento que marca o início da separação entre o latim e o romance (nome como é conhecida a forma intermediária entre o latim e a língua independente) é a "Escritura de Doação da Igreja de Lordosa", do ano 882. Por exemplo, no meio do texto, em vez da palavra "monástica" aparece "moástica" - uma marca do futuro desaparecimento da letra "n" entre as vogais "o" e "a", que fizeram com que, em português, surgisse a palavra mosteiro, do latim monasterium.

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