domingo, 25 de julho de 2010

2086 - A IDADE MÉDIA

Busca: Blog do Atheneu | A tradição é a personalidade dos imbecis. A. Einstein Home | Quem somos | Editorial | Contato | SobrePosted on 30-04-2010
O retorno à Idade Média – das damas piedosas
Filed Under (Acontece, América Latina, Ceticismo, Defesa, Internacional, Mídia, Nossa América, Política, Religião, Sociedade, internet) by Vera L.
Só nessa Idade das Trevas da Razão que foi a Idade Média, marcada pela férrea onipresença ortodoxa, o fanatismo católico e as piedosas torturas e queimadas massivas da Inquisição, se pode impor à maioria dos homens a idéia de que existem, por direito divino, instituições e textos intocáveis e eternos. Sobre esta visão do mundo quietista e repressivo, intolerante e desumano, foi possível infiltrar nos espíritos a submissão às leis das monarquias e da própria Igreja. Até que depois veio o Renascimento e, de sua mão, a redescoberta do homem e da transitoriedade do tempo, o renovado respeito aos frutos da criação e da criatividade próprias e, conseqüentemente, um novo compromisso com a razão e seus frutos, e um retorno da confiança na ciência, antes tão combatida.

Desta Primavera do homem e sua inteligência, da arte e das ciências, das novas idéias e dos novos tempos se avançou para as revoluções burguesas. E essas deram á luz textos e instituições novas, entre elas constituições, normas e formas de governos mais democráticos, estados laicos, direitos humanos e do cidadão, novos códigos e leis. Foi, sem dúvida, um grande passo para a Humanidade, um salto para a luz, testemunho de sua recusa em seguir tropeçando na escuridão. Por isso o Século das Luzes. Por isso a gloriosa Revolução Francesa.

Logo, essas mesmas burguesias, as quais foram revolucionárias em seu dia ao encarnar as aspirações progressistas de milhões, se tornaram reacionárias ao afastar-se de seus ideais primários ou interpretá-los nocivas para os despossuídos. E ante sua evidente estagnação, se iniciou a fase das revoluções proletárias ou socialistas, e de um movimento poderoso anti-colonialista e anti-imperialista que mudou a face do Século XX.

Mas para a surpresa de qualquer leitor imparcial que por esses dias leia o artigo que acaba de publicar no Townhall.com um Sr. chamado Mario Diaz, Diretor de Políticas Legais de uma organização de mulheres conservadoras chamada “Concerned Women for America”, aprenderá que a Idade não terminou. E que hoje, em pleno século XXI, atrás de organizações conservadoras e neoconservadoras se pretende amarrar de novo o pensamento e a prática social humana aos velhos limites do irracional, do fanático, do incomovível e do eterno. Como em tempos em que esses artigos de fé eram ciosamente guardados para obrigatório cumprimento geral, pelas máquinas de tortura e expiação dos pecados do seráfico Tomás de Torquemada.

No fundo, hoje como ontem, se envolve em pregações religiosas e preocupações morais que não passam de interesses egoístas das classes exploradoras. A suposta “intocabilidade” das instituições e textos “divinos” é o resultado perverso da divinização de textos que fundamentam e consagram os mecanismos que asseguram o poder temporal dessas classes. Assim, quando um colérico Mario Diaz clama pela noção de que, enquanto todos os homens são criados iguais por Deus, as idéias que estes defendem, sobretudo na política, já não devem ser considerados da mesma maneira. Em consequência, é perfeitamente lógico, a partir deste ponto de vista, que se recuse toda interpretação das leis fundamentais do país, especialmente da Constituição, e que se a declare atemporal e intangível, isto é, eterna pela graça divina. Tampouco é por acaso que este piedoso ataque de fé tenha lugar em momentos em que ainda não se calaram os ecos da aprovação no Congresso, por votos restritos, da Reforma de Saúde proposta por Obama e que se leva a cabo uma luta feroz em torno da proposta de reforma financeira em Wall Street.

A História tem demonstrado repetidamente com exemplos: quando os homens procuram transformar as leis, mesmo que a intenção não seja radical, sempre aparecem iluminados e guardiões das crenças e da fé, chamados a cerrar fileiras contra a impiedade e o desatino. É precisamente o sentido do artigo do Sr. Diaz, e seu reconhecimento, em pleno Século XXI, de que “nem todos somos iguais”.

Mas seu apelo á retornar aos velhos tempos medievais tem um valor agragado: não é permitido ver de perto o milagre de uma organização como a “Concerned Women for America”, que também é um fóssil medieval incrustado parasitamente na justa luta das mulheres do mundo por seus direitos. E que, a propósito, tem-nos mostrado como construir esse estreito tecido neoconservador que penetra toda a vida social norte-americana, e também, fora das suas fronteiras.

A CWA diz ter meio milhões de filiados e mais de 500 capítulos em todo o país. “Nós somos a maior organização de mulheres nos Estados Unidos - declara em seu site: “Temos uma história de mais de trinta anos. Nós levamos os princípios bíblicos ao nível das políticas públicas.”

Dentre as seis questões fundamentais que a CWA enfoca estão a Família (“Nós defendemos o casamento heterossexual, fiel ao mandamento bíblico”);
a Educação (“Defendemos a devolução da autoridade aos pais”);
e a Soberania Nacional (” Nem a ONU, nem nenhuma organização internacional deverá ter autoridade, em nenhuma área, acima da dos Estados Unidos “).

A missão da CWA é “promover e proteger os valores bíblicos entre os cidadãos, em primeiro lugar, através da oração, em seguida, através da educação e, finalmente, influenciar a sociedade para reverter o declínio dos valores morais da nação” .

Mas onde se resume a filosofia tomista da CWA é em suas preocupações e ocupações, com respeito ao que ela chama de “soberania nacional”. É aqui, neste campo nada etéreo e sim muito terreno, onde se evidencia as estreitas ligações entre o feminismo medieval com o pensamento e a prática política mais conservadora do país:

“Estamos sofrendo uma perda de nossa soberania ante as organizações internacionais (ONU, UNICEF, OMS, etc) … Falta segurança em nossas fronteiras para nos proteger dos terroristas e dos imigrantes ilegais … e nos preocupa, principalmente, a segurança nacional e as crescentes pressões para debilita-la … “

Para evitar esses perigos, a CWA propõe medidas que não parecem concebidos por piedosas senhoras em oração perpétua, mas por falcões neoconservadores ao estilo de John Bolton Dick Cheney:

“É preciso reafirmar a independência dos Estados Unidos e não reconhecer legalmente nenhuma organização externa nem as interpretações da nossa Cosntituinte … Fazer que os Estados Unidos implante o mais forte sistema de defesa do mundo, para conter as agressões estrangeiras”

A lebre saltou: sob o manto de orações e súplicas surge a orelha peluda da eterna obsessão neoconservadora pela segurança nacional, e fumegam as caldeiras do medo exacerbado constantemente. Também, nos bastidores, entre cenas, adivinhamos o Complexo Militar-Industrial, que é a mão que balança o berço, arpovando com orgulho.

A CWA não é exatamente um clube de devotas. Publicou no seu website, por exemplo, a lista dos 11 legisladores do Texas que votaram a favor da Reforma da Saúde, em 21 de março, conclamando a que “é chegado o momento de socorrer a nação, e agir”.

Wendy Wright, sua presidente, juntamente com Beverly LaHaye, viajou para Honduras, como observadora das eleições para santificar e lavar a imagem de um golpe de estado brutal e anti-cristão, causador de dezenas de assassinatos, estupros e espancamentos de mulheres e de outros cidadãos. Lá, elas se reuniram com observadores “respeitáveis”, como Armando Valladares, falso inválido e mais falso poeta ainda, chamando-lhe o “prisioneiro político em Cuba por se recusar a aceitar as regras do comunismo.”

E para fechar com chave de ouro esta quermesse medieval, a Sra. Wright nos regala em suas memórias como Lutadora pela Liberdade, outro detalhe que parece saído da idade das trevas:

“Talvez Deus tenha sorrido a este pobre país (Honduras). Quando um grupo de pastores evangélicos e católicos conheceram as intenções de Zelaya de levar a cabo um referendo, convocaram para uma semana de oração … Poucos dias depois ele foi deposto”

Não deve assombrar-nos que por estes dias, em que a Wall Street pode perder algumas migalhas do seu imenso poder corrupto e corruptor ante as propostas de Obama, as piedosas Damas de Branco da CWA estejam em oração e vigília permanente.

Para os reis e poderes terrenos trabalha a Igreja medieval. Nada mudou em nossos dias.


Eliades Acosta
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