domingo, 25 de julho de 2010

2069 - A IDADE MÉDIA

~ Introdução ~

Idade Média, termo utilizado para referir-se a um período da história que transcorreu desde a desintegração do Império Romano do Ocidente, no século V, até o século XV. Esse período implicou em sua origem uma paralisação do progresso, considerando que a Idade Média foi uma época de estancamento cultural, situado cronologicamente entre a glória da antiguidade clássica e o renascimento. A historiografia atual tende, não obstante, a reconhecer este período como um dos que constituem a evolução histórica européia com seus próprios processos críticos e de desenvolvimento.



~ Início da Idade Média ~

Nenhum evento concreto determina o fim da Antiguidade e o início da Idade Média: nem o saque de Roma pelos Godos dirigidos por Alarico I em 410, na queda de Rômulo Augusto (último imperador romano do Ocidente) foi sucesso que seus contemporâneos consideraram iniciadores de uma nova época.

A culminação no final do século V de uma série de processos de grande duração, entre eles a grave deslocação econômica e as invasões e assentamentos dos povos germânicos no Império Romano, fez mudar a face da Europa. Durante os seguintes 300 anos a Europa ocidental manteve uma cultura primitiva instalada sobre a complexa e elaborada cultura do Império Romano, que nunca chegou a perder-se ou ser esquecida por completo.



























~ Fragmentação da autoridade ~

Durante este período não existiu realmente uma maquinaria de governo unitária nas distintas entidades políticas, nem tampouco a sólida confederação de tribos permitiu a formação de reinos. O desenvolvimento político e econômico era fundamentalmente local e o comércio regular desapareceu quase por completo, já que a economia monetária nunca deixou de existir de forma absoluta. Na culminação de um processo iniciado durante o Império Romano, os camponeses começaram a se ligar na terra e a depender dos grandes proprietários para conquistar sua proteção e uma rudimentar administração de justiça, no que constituiu a semente do regime senhorial. Os principais vínculos entre a aristocracia guerreira foram os laços de parentesco que também começaram a surgir nas relações feudais. Considera-se que estes vínculos (que relacionaram a terra com prestações militares e outros serviços) tem sua origem na antiga relação romana entre patrão e cliente ou na instituição germânica denominada comitatus (grupo de companheiros guerreiros). Todos estes sistemas de relação impediram que se produzisse uma consolidação política efetiva.

~ A Igreja ~

A única instituição européia com caráter universal foi a Igreja, mas inclusive nela se havia produzido uma fragmentação da autoridade. Todo o poder no centro da hierarquia eclesiástica estava nas mãos dos bispos de cada região. O papa tinha uma certa preeminência baseada no fato de ser o sucessor de são Pedro, primeiro bispo de Roma, a quem Cristo havia outorgado a máxima autoridade eclesiástica. Contudo, a elaborada maquinaria do governo eclesiástico e a idéia de uma Igreja encabeçada pelo papa não se desenvolveram até passados 500 anos. A Igreja via a si mesma como uma comunidade espiritual de crentes cristãos exilados do reino de Deus, que aguardava em um mundo hostil o dia da salvação. Os membros mais destacados desta comunidade se achavam nos mosteiros, disseminados por toda Europa e alijados da hierarquia eclesiástica.

No seio da Igreja houve tendências que aspiravam a unificar os rituais, o calendário e as regras monásticas, opostas a desintegração e ao desenvolvimento local. Ao lado destas medidas administrativas se conservava a tradição cultural do Império romano. No século IX, na chegada ao poder da dinastia Carolíngia começou o início de uma nova unidade européia baseada no legado romano, posto que o poder político do imperador Carlos Magno dependeu de reformas administrativas que utilizou materiais, métodos e objetivos do extinto mundo romano.

~ Vida cultural ~

A atividade cultural durante os inícios da Idade Média consistiu principalmente na conservação e sistematização do conhecimento do passado e se copiaram e comentaram as obras de autores clássicos. Foram escritas obras enciclopédicas, como as Etimologias (623) de são Isidoro de Sevilha, nas que seu autor pretendia compilar todo o conhecimento da humanidade. No centro de qualquer atividade douta estava a Bíblia: todo aprendizado secular chegou a ser considerado como uma mera preparação para a compreensão do Livro Sagrado.

Esta primeira etapa da Idade Média se encerra no século X com as segundas migrações germânicas e invasões protagonizadas pelos Vikings procedentes do norte e pelos magiares das estepes asiáticas, e a debilidade de todas as forças integradoras e de expansão européias ao desintegrar-se o Império Carolíngio. A violência e o deslocamento que sofreu a Europa impediram que as terras fossem cultivadas, a população diminuíra e os mosteiros se converteram nos únicos baluartes da civilização.




~ A Alta Idade Média ~

Desde meados do século XI a Europa se encontrava num período de evolução desconhecido até esse momento. A época das grandes invasões havia chegado a seu fim e o continente europeu experimentava o crescimento dinâmico de uma população já assentada. Renasceram a vida urbana e o comércio regular em grande escala e se desenvolveu uma sociedade e cultura que foram complexas, dinâmicas e inovadoras. Este período se converteu no centro das atenções da moderna investigação e que passou a ser chamado de "renascimento do século XII".

~ O poder papal ~

Durante a Alta Idade Média a Igreja católica, organizada em torno de uma estruturada hierarquia com o papa com indiscutida participação, constituiu a mais sofisticada instituição de governo na Europa ocidental. O Papado não só exerceu um controle direto sobre o domínio das terras do centro e norte da Itália, mas também o teve sobre toda Europa graças a diplomacia e a administração de justiça (neste caso mediante o extenso sistema de tribunais eclesiásticos). Além do mais as ordens monásticas cresceram e prosperaram participando intensamente na vida secular. Os antigos mosteiros beneditinos se imiscuíram na rede de alianças feudais. Os membros das novas ordens monásticas, como os cistercienses, desobstruíram zonas pantanosas e limparam bosques; outras, como os franciscanos, entregados voluntariamente a pobreza, logo começaram a participar da renascida vida urbana. A Igreja já não seria vista mais como uma cidade espiritual no exílio terreno, senão como o centro da existência. A espiritualidade alto medieval adotou um caráter individual, centrada ritualmente no sacramento da eucaristia e na identificação subjetiva e emocional do crente com o sofrimento humano de Cristo. A crescente importância do culto a Virgem Maria, atitude desconhecida na Igreja até este momento, teria o mesmo caráter emotivo.

~ Aspectos intelectuais ~

Dentro do âmbito cultural, houve um ressurgimento intelectual ao prosperar novas instituições educativas como as escolas catedralícias e monásticas. Fundaram-se as primeiras universidades, criaram-se graus superiores na medicina, direito e teologia; foram recuperados e traduzidos escritos médicos da Antiguidade, muitos dos quais haviam sobrevivido graças aos eruditos árabes e se sistematizou, comentou e investigou a evolução tanto do Direito canônico como do civil, especialmente na famosa Universidade de Bolonha. Este trabalho teve grande influência no desenvolvimento de novas metodologias que frutificariam em todos os campos de estudo. O escolasticismo se popularizou, se estudaram os escritos da Igreja, se analisaram as doutrinas teológicas e as práticas religiosas e se discutiram as questões problemáticas da tradição cristã. O século XII, portanto, deu partida a uma época dourada da filosofia no Ocidente.

~ Inovações artísticas ~

Também se produziram inovações no campo das artes criativas. A escrita deixou de ser uma atividade exclusiva do clero e o resultado foi o florescimento de uma nova literatura, tanto em latim como, pela primeira vez, em línguas vernáculas. Estes novos textos estavam destinados a um público letrado que possuía educação e tempo livre para ler. A lírica amorosa, o romance cortês e a nova modalidade de textos históricos expressavam a nova complexidade da vida e o compromisso com o mundo secular. No campo da pintura se prestou uma atenção sem precedentes a representação de emoções extremas, à vida cotidiana e ao mundo da natureza. Na arquitetura, o românico alcançou sua perfeição com a edificação de incontáveis catedrais no caminho de peregrinação no sul da França e na Espanha, especialmente o Caminho de Santiago, inclusive quando já começava a despontar o estilo gótico que nos seguintes séculos se converteria no estilo artístico predominante.

~ A nova unidade européia ~

Durante o século XIII se sintetizaram os feitos do século anterior. A Igreja se converteu na grande instituição européia, as relações comerciais integraram a Europa graças especialmente ao desempenho dos banqueiros e comerciantes italianos, que estenderam suas atividades pela França, Inglaterra, Países Baixos e o norte da África, assim como pelas terras imperiais germânicas. As viagens, bem por razões de estudo ou por motivo de uma peregrinação foram mais habituais e cômodas. Também foi o século das Cruzadas; estas guerras, iniciadas em fins do século XI, foram organizadas pelo Papado para libertar os Lugares Santos cristãos no Oriente Médio que estavam em mãos de muçulmanos. Concebidas segundo o Direito canônico como peregrinações militares, os chamados não estabeleciam distinções sociais nem profissionais. Estas expedições internacionais foram um exemplo mais da unidade européia centrada na Igreja, mas que também influiu no interesse de dominar as rotas comerciais do Oriente. A Alta Idade Média culminou com os grandes esplendores da arquitetura gótica, os escritos filosóficos de são Tomás de Aquino e a visão imaginária da totalidade da vida humana, narrada na Divina Comédia de Dante Alighieri.



~ A Baixa Idade Média ~

Se a Alta Idade Média esteve caracterizada pela consecução da unidade institucional e uma síntese intelectual, a Baixa Idade Média esteve marcada pelos conflitos e a dissolução da dita unidade. Foi então quando começou a surgir o Estado moderno — já quando este não era mais que um incipiente sentimento nacional — e a luta pela hegemonia entre a Igreja e o Estado se converteu em um rasgo permanente da história da Europa durante alguns séculos posteriores. Povos e cidades continuaram crescendo em tamanho e prosperidade e começaram a luta pela autonomia política. Este conflito urbano se converteu ademais numa luta interna em que os diversos grupos sociais quiseram impor seus respectivos interesses.

~ Inícios da ciência política ~

Uma das conseqüências desta luta, particularmente nas corporações senhoriais das cidades italianas, foi a intensificação do pensamento político e social que se centralizou no Estado secular como tal, independente da Igreja.

A independência da análise política é só um dos aspectos de uma grande corrente do pensamento baixo medieval e surgiu como conseqüência do fracasso do grande projeto da filosofia alto medieval que pretendia alcançar uma síntese de todo o conhecimento e experiência tanto humano como divino.

~ A nova espiritualidade ~

Já que este desenvolvimento filosófico foi importante, a espiritualidade da Baixa Idade Média foi o autêntico indicador da turbulência social e cultural da época. Esta espiritualidade esteve caracterizada por uma intensa busca da experiência direta com Deus, através do êxtase pessoal da iluminação mística, ou mediante o exame pessoal da palavra de Deus na Bíblia. Em ambos os casos, a Igreja orgânica — tanto em sua tradicional função de intérprete da doutrina como em seu papel institucional de guardiã dos sacramentos — não esteve em disposição de combater nem de prescindir deste fenômeno.

Toda a população, leigos ou clérigos, homens ou mulheres, letrados ou analfabetos, podiam desfrutar potencialmente uma experiência mística. Concebida esta como um dom divino de caráter pessoal, resultava totalmente independente do nível social ou do nível de educação pois era indescritível, irracional e privada. Por outro lado, a leitura devocional da Bíblia produziu uma percepção da Igreja como instituição marcadamente diferente das épocas anteriores que a considerava como algo onipresente e ligado aos assuntos terrenos. Cristo e os apóstolos representavam uma imagem de radical sensibilidade e ao tomar a vida de Cristo como modelo de imitação, houve pessoas que começaram a organizar-se em comunidades apostólicas. Em determinado momento se esforçaram por reformar a Igreja desde seu interior para conduzi-la à pureza e sensibilidade apostólica, enquanto que em outras ocasiões se desvencilharam simplesmente de todas as instituições existentes.

Em muitos casos estes movimentos adotaram uma postura apocalíptica ou messiânica, em particular entre os setores mais desprotegidos das cidades baixo medievais, que viviam em uma situação muito difícil. Quando da aparição catastrófica da peste negra, na década de 1340, que acabou com a vida de uma quarta parte da população européia, bandos de penitentes, flagelantes e de seguidores de novos messias percorreram toda Europa, preparando-se para a chegada da nova época apostólica.

Este momento de agitação e inovação espiritual desembocaria na Reforma protestante; as novas identidades políticas conduziriam ao triunfo do Estado nacional moderno e a contínua expansão econômica e mercantil criou as bases para a transformação revolucionária da economia européia. Deste modo as raízes da idade moderna podem localizar-se no meio da dissolução do mundo medieval, no meio de sua crise social e cultural.

~ Arnaldo Poesia ~

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Bibliografia: Histoire du Moyen Age, M. Abramsom, A. Gurevitch e N. Kolesnitski, VAAP, Moscou, 1976. –
Editorial Estampa Ltda., Lisboa, 1978. – História do Mundo Feudal, Mário Curtis Giordani, Editora Vozes Ltda., Petrópolis, 1983.



~ Clássicos da Idade Média ~


As histórias do legendário Rei Arthur da Inglaterra e seus Cavaleiros da Távola Redonda são alguns dos contos mais famosos da literatura. Na Idade Média, na França, Chrétien de Troyes escreveu diversas histórias sobre o Rei Arthur, incluindo: Lancelot, ou o Cavaleiro da Carruagem,1170? A lenda continua viva, tanto na literatura como no cinema. A Chanson de Roland (Canção de Rolando) é um poema épico francês que fala das aventuras heróicas do cavaleiro Rolando. Em seu retorno da batalha contra os Sarracenos na Espanha, Rolando é morto em combate. O épico foi escrito provavelmente no século 12. Essa iluminura do século 14 está na Biblioteca Marciana em Veneza, Itália.




O Romance da Rosa é um poema medieval francês escrito por Guillaume de Lorris, e divulgado por Jean de Meun. Nessa alegoria um jovem sonha com o amor ideal, e neste sonho a mulher que ele ama é simbolizada por um botão de rosa em um jardim representando a vida cortês. O poema influenciou a literatura na Europa por muitos séculos. Esta pintura intitulada Romance da Rosa (1864, Tate Gallery, Londres, Inglaterra) é de autoria do pintor e poeta inglês Dante Gabriel Rossetti.


O conceito do amor cortês foi desenvolvido entre os aristocratas franceses durante o ano 1100. No amor cortês, um homem devota uma grande paixão a uma mulher casada ou comprometida com outro. Por causa do costume medieval, onde quase todos os casamentos eram feitos por interesse, o amor cortês funcionava como o único e verdadeiro sentimento na vida da maioria das pessoas. Conforme mostra essa pintura, Couple Amoureux (Casal Amoroso), autores medievais, artistas, e trovadores se inspiravam no amor cortês como tema principal na maior parte de seus trabalhos.





Cerco dos Cruzados a Jerusalém

Cruzadas




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A Arte Medieval - Estilo Gótico

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Musée National du Moyen Age - Museu Nacional da Idade Média (em espanhol)

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