domingo, 25 de julho de 2010

2047 - A IDADE MÉDIA

PASTORALIS - Uma nova forma de conversar sobre fé!
A Idade Média e as Fogueiras
Categoria : Colunas, Crônicas, Artigos Diversos
Publicado por Tht em 23/6/2009
Jorge Ferraz
Deus lo Vult!
O preconceito histórico contra o Cristianismo encontrado amiúde nos nossos dias é uma das coisas
que mais impede que se tenha uma visão equilibrada sobre a Igreja Católica e o Seu papel na
construção da civilização ocidental. A repetição de clichês e de mentiras, de visões simplistas e de
reconhecidos preconceitos iluministas, de lendas negras e de anacronismos, tudo isso parece ter se
transformado em uma espécie de teste de aferimento intelectual. Parece que ninguém é bom o
bastante se não nutrir um grande preconceito contra a Igreja Católica; e, quanto maior for este
preconceito, mais inteligente é o preconceituoso em questão.
A Idade Média é evocada como uma época de trevas iluminada tão somente pelas terríveis
fogueiras da Inquisição. O cristão-médio é um intolerante truculento que está disposto a trucidar
qualquer um que apareça no seu caminho, pregando qualquer coisa que não esteja de acordo com
a Doutrina Cristã. O obscurantismo e a superstição tomam o lugar da Ciência, e os cientistas levam
uma espécie de vida nas catacumbas, diuturnamente escondidos dos terríveis inquisidores, os quais
são, por sua vez, ambiciosos ávidos de riqueza e de poder. Os cristãos são retratados como se
fossem o compêndio de todos os vícios.
É tão imponente o edifício preconceituoso que não se sabe muito bem sob qual ponto deve-se
começar a demoli-lo. Não tenho a pretensão de esgotar o assunto, até porque é uma tarefa
humanamente impossível de ser realizada em um simples texto curto de blog. Já disse outras vezes
aqui que é muito mais fácil jogar a calúnia barata do que desmentir a calúnia barata; é muito mais
fácil lançar mão da mentira que da verdade. Acontece que a mentira tem pernas curtas, e já está
mais do que na hora de ajudá-la, ao menos, a tropeçar.
À Idade Média - e, em particular, à Igreja Católica - coube o incrível milagre de transformar o caos
em que se havia transformado a Europa com a queda do Império Romano e as invasões bárbaras
na civilização onde nascemos e vivemos. Seria realmente espantoso se esta cruel religião cristã
tivesse conseguido um tão extraordinário prodígio, seria verdadeiramente admirável se estes
cristãos repletos de defeitos e totalmente carentes de qualidades tivessem operado tão portentosa
transformação: portanto, há uma verdadeira ruptura entra a Idade Média e a Idade Moderna, e é
esta a tese defendida pelos anticlericais de todos os naipes. Agem como se todos os bens -
inegáveis - da civilização ocidental tivessem brotado ex nihil, aparecido por geração espontânea dos
escombros nos quais a Igreja lançou a Europa durante a Idade Média.
Porque a Idade das Trevas não pode ter produzido - não, jamais! - nada de bom, nada de civilizado,
nada de minimamente aproveitável pelas gerações futuras. Estas tiveram que, sozinhas, reconstruir
tudo o que a Igreja destruiu em mil anos. O Renascimento e o Iluminismo, assim, apresentam-se
não como simples fenômenos históricos, mas como verdadeiras revelações sobrenaturais: após mil
anos de trevas, uma luz resplandeceu, e uma luz tão fulgurante que, em duzentos ou trezentos
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anos, conseguiu reerguer tudo o que a Igreja tinha Se esforçado para lançar por terra ao longo do
último milênio. Eis como pessoas “inteligentes” explicam a história!
É muito difícil argumentar contra pessoas que sustentam uma visão preconceituosa da realidade.
Não adianta dizer que a tese deles é absurdamente ridícula, e que é completamente inverossímil
que, um belo dia, alguns iluminados tenham resolvido sacudir dos ombros o jugo da tirania
eclesiástica e construir o mundo. Eles começarão a ter um ataque histérico e a falar em fogueiras,
em trevas, em cruzadas, em obscurantismo, e em meia dúzia de outros chavões que, na cabeça
confusa deles, confundem-se com argumentos ou - pior ainda - com fatos históricos. Quando, na
verdade, a História é bem mais complexa do que a caricatura ideológica dos anticlericais os permite
enxergar.
As fogueiras! “Milhões de bruxas queimadas” - é a primeira frase dita por um
anticlerical. A segunda, é acrescentar que essas bruxas eram na verdade cientistas (já que bruxas
não existem). E então emendam com o “obscurantismo institucionalizado”, com a
“hierarquia ávida por poder que tinha medo de perder o domínio exercido sobre o
povo”, com a “perseguição de cientistas e proscrição da Ciência”… e,
diante do ataque histérico raivoso, você não consegue mais argumentar. Ad baculum, é o modus
operandi dos anticlericais quando estão pontificando história.
Não adianta lembrar que a Inquisição foi instituída com o propósito muito claro e específico de
combater os cátaros, que eram vere et proprie uma ameaça à civilização medieval. Não adianta
mostrar que não há registro de que as fogueiras tenham extrapolado a casa dos milhares [muito
menos dos milhões!] como pretendem os raivosos historiadores anticlericais. Não adianta nem
mesmo lembrar que não foi a Igreja a inventar as fogueiras, sendo esta modalidade de pena capital
já amplamente utilizada antes mesmo de que o primeiro inquisidor entregasse ao braço secular o
primeiro herege cátaro. Não adianta, porque os anticlericais não estão preocupados com fatos, e
sim com a ideologia deles. Já puseram na cabeça que a Idade Média foi a Idade das Trevas, e
qualquer coisa que abale, um mínimo que seja, esta íntima convicção dogmática é sumariamente
descartada.
A Idade Média viu levantarem-se na Europa as cúpulas das catedrais, mas os anticlericais só vêem
as fogueiras. A Idade Média viu as Universidades serem fundadas pela Igreja, mas os anticlericais
só vêem as fogueiras. A Idade Média viu os filósofos escolásticos lançarem as bases da ciência
experimental, mas os anticlericais só vêem as fogueiras. A Idade Média viu a Inquisição
proporcionar indiscutíveis avanços ao Direito Penal, mas os anticlericais só vêem as fogueiras.
Quando uma pessoa só quer ver uma coisa, não adianta mostrar mais nada. “Intolerância
medieval!”, é só o que eles sabem gritar.
Na verdade - e, aqui, rasguem as vestes os inimigos da Igreja de todos os naipes -, a Idade Média
foi um excelente exemplo de uma sadia intolerância, da intolerância contra o vício e contra o
pecado, da intolerância que é a única capaz de construir e manter alguma coisa duradoura. Na
verdade, os pecados são avessos à civilização, e a forma mais eficaz - aliás, a única forma da qual
temos conhecimento - de criar e manter alguma sociedade minimamente civilizada é apontando
claramente o que deve ser feito e o que deve ser evitado. Não poderia subsistir uma sociedade onde
as pessoas roubasssem umas às outras, nem uma onde as pessoas matassem umas às outras. E,
sim, qualquer civilização que se proponha a ser duradoura, que tenha um mínimo de “instinto
de sobrevivência”, precisa ser intolerante para com aquilo que a pode destruir. Isto é óbvio;
tão óbvio que os medievais o entenderam perfeitamente (o que fica mais do que demonstrado pelos
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excessos - pontuais - cometidos pelos homens daquele tempo), ao passo em que os tolerantes
modernos nunca conseguiram fazer com que as suas teses fossem abraçadas pela grande massa
da população. Mas, claro, isto deve ser culpa da influência católica!
A “intolerância” da Idade Média, combatida pelos autointitulados
“livres-pensadores” (que, no entanto, de livres não têm nada, porque só repetem
chavões e perconceitos anticlericais), foi o que construiu o mundo moderno onde estes mesmos
livres-pensadores podem vomitar o seu ódio à Igreja Católica. Quer eles gostem, quer não. A
despeito da ideologia preconceituosa dos anticlericais, entre as fogueiras da Idade Média
levantaram-se campanários e cúpulas de catedrais aos céus, ergueram-se universidades e
lançaram-se as bases do mundo moderno, de modo que resumir os mil anos nos quais “a
filosofia do Evangelho guiava as nações” às fogueiras da Inquisição é de um simplicismo
criminoso. Mas contra preconceitos - insisto - não há argumentos possíveis. E o preconceito do
século XXI parece ser o pior de todos os preconceitos que já se abateram sobre a humanidade.
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