sábado, 24 de julho de 2010

1939 - HISTÓRIA DA FILOSOFIA

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A CORPOREIDADE NA HISTÓRIA DA FILOSOFIA OCIDENTAL
MAGALHÃES1, Maria Pedro
BONA JÚNIOR2, Aurélio
(Comunicação Oral)
No presente trabalho abordamos as várias concepções de corpo surgidas na História da Filosofia
Ocidental desde a Grécia Antiga até os dias de hoje, tendo como objetivo entender como o corpo foi visto
na antiguidade para compreendê-lo no mundo de hoje através da contribuição dos grandes pensadores da
Modernidade, e de que forma somos influenciados com os seus pensamentos. A metodologia do trabalho
foi uma pesquisa teórica bibliográfica. Os pensadores gregos da antiguidade tentaram explicar o homem
como um ser dual, composto por corpo e mente. O cristianismo aprofundou essa divisão considerando o
corpo como centro de todos os pecados, com especial ênfase na questão da sexualidade. Por isso era
torturado e castigado, tendo como vítima a mulher em detrimento dos pecados cometidos por Eva. Mas
com a evolução científica, passou-se a valorizar mais o ser humano como força na produtividade que
incentivava o individualismo, e isso surgiu com o Iluminismo. Alguns pensadores, porém defenderam o
corpo como parte fundamental do conhecimento. Desse modo, o ser humano passa a ser substituído pelas
máquinas, portanto, é objeto de trabalho. Os corpos são moldados segundo os padrões impostos pela
sociedade e com isso, as pessoas são levadas a negarem-se a si mesmas. Verifica-se muita insatisfação
por parte de pessoas jovens no tocante a imagem corporal vindo a perder a própria identidade. Por outro
lado a mídia apresenta o corpo de forma a estabelecer padrões a serem seguidos como, maneira de entrar
no mundo de trabalho, com fama e privilégio. Contudo, o corpo fala por si mesmo. Todos os seus
movimentos expressam de alguma forma o que o ser humano é, porque ele é o seu ser, a sua identidade.
Concordando com o Fenomenólogo francês Maurice Merleau-Ponty, entendemos que o ser humano é
uno, uma só totalidade, e o corpo é uma realidade ao mesmo tempo material e psicológica, sem distinção
ou separação possível.
PALAVRAS-CHAVE: Educação, Filosofia, Corporeidade.
1 INTRODUÇÃO
1 PG - Pós-Graduação em Psicopedagogia Institucional (FAFIUV)
2 Orientador (Professor Ms. FAFIUV)
2
Abordar o tema da Corporeidade na História da Filosofia Ocidental desde a
Grécia Antiga até os dias de hoje é mergulhar nas origens do movimento do corpo a
partir dos grandes pensadores da humanidade e as várias concepções de corpo surgidas
nessa História.
Falar dessas concepções da Corporeidade para descobrir como e o por que, no
passado o corpo foi visto como objeto e não como parte complexa do ser humano e que
deve ser valorizado em todos os aspectos. Por isso, com o estudo da Filosofia da
Corporeidade, trabalhou-se de forma clara e objetiva o porque do corpo ter sido
considerado como objeto de trabalho por alguns, (matéria) e para outros resgataram sua
dignidade e complexidade, mostrando sua importância para a vida do ser humano. O
que seríamos nós se não tivéssemos corpo?
Falaremos do corpo desde a Grécia Antiga, na Idade Média, Modernidade e
como é visto e considerado o corpo na Atualidade.
Este trabalho foi um estudo para nos questionarmos: Qual é o valor da
corporeidade no mundo moderno e tecnológico?
O objetivo deste trabalho foi de entender como o corpo foi visto desde a
antiguidade Grega para compreendê-lo no mundo de hoje através da contribuição dos
grandes pensadores da Modernidade. Apresentaremos as partes deste texto da seguinte
forma: 1.ª a corporeidade na Grécia Antiga; 2.ª apresentaremos a concepção da
corporeidade na Idade Média; 3.ª abordaremos aspectos importantes da Modernidade e
por último o corpo na Atualidade ou nos dias de hoje. A metodologia utilizada nesse
trabalho foi o da pesquisa teórica bibliográfica.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Na Grécia Antiga havia muito apego à razão para se buscar explicações a
existência humana. Para os pensadores daquela época, tudo poderia ser explicado
através da razão que ordenava o mundo. Em contra partida, a verdade era vista como
objeto da razão, de maneira que, o desprezo pelo corpo foi tal a ponto de considerá-lo
como matéria sem valor algum.
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O corpo é material e poderia ser desprezado, mas a alma é espiritual.
Para Sócrates, a alma é a essência do ser humano. Ela tem que ser como a idéia:
pura, bela, mas o corpo ele o considerava um cárcere. Mas Platão separou o que é
material (corpo) e o que é espiritual (alma), enfatizando que os exercícios corporais
eram necessários para a educação dos impulsos do corpo e que de fatos eram
importantes no desenvolvimento da coragem.
Aristóteles desprezava o trabalho físico exercido pelo corpo, trabalho esse que
só os escravos faziam. Então, ele empenhava-se mais na questão racional e não nos
impulsos e desejos inconscientes, enaltecendo o homem político.
Na Idade Média, o Cristianismo considerava o corpo ou a carne mais no sentido
da sexualidade e tudo era visto como pecado. E dividiu o corpo e o espírito, corpo como
origem de todo pecado e alma a essência do sopro divino.
Ainda na Idade Média, a mulher era considerada pecadora e não tinha direito a
nada, a não ser para o casamento e ser uma boa dona de casa, para o marido e cuidar dos
filhos. Mas porque a mulher era vista dessa maneira? O centro dessa discriminação
estava nas Escrituras, porque a Igreja tinha o poder das Escrituras e a grande maioria do
povo não podia ter a Bíblia. Ela não deveria ser lida por qualquer um e muito menos
para a mulher. Sendo assim, a mulher levava no seu corpo, as marcas dos pecados
cometidos por Eva.
Passamos então para a Modernidade
Na Modernidade, o ser humano, passou a ser visto como uma máquina da
produtividade que incentivava o individualismo, porque com a revolução cientifica (na
física e astronomia), a ciência dividiu-se para poder compreender o mundo. Com isso, o
ser humano perdeu a dimensão da totalidade.
Os pensadores que foram estudados durante o modulo de Filosofia da
Corporeidade, tentaram explicar a existência humana através de suas teorias em que
fundamentam essas teorias com bases na razão, valorizando a mente e desprezando o
corpo. Contudo, outros como Rousseau, pensou diferente ao dizer que era necessário
uma educação através do corpo. Depois dele veio Kant e outros que valorizaram o corpo
como parte fundamental do conhecimento.
Sobre a concepção da Modernidade, Silva (2000, p.8) relata:
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... A Modernidade é o momento de culminância de um processo em que não só
se encontra a separação entre ser humano e natureza, como também a
separação, ainda que formal, entre todos os seres humanos que se tornam,
desde então indivíduos.(Idem, p.8).
Para ressaltar ainda mais a idéia com que na Modernidade se concebia a imagem
corporal nas sociedades de então, Snnett, citado por Silva (2000) afirma ser uma
maneira :
profunda de transformação social que se operava: o individualismo, como
expressão ideológica do capitalismo industrial. Reforçar a individualidade
humana, percebendo de forma mecânica o funcionamento corporal e
cortando os vínculos com que a percepção da alma como fonte energética,
leva por fim a enfatizar o individualismo das partes do corpo e das partes
constituintes da sociedade.(Idem, p.14).
O ser humano foi substituído pelas máquinas em função da produtividade e do
individualismo. O corpo não vale mais nada a não ser como objeto de trabalho.
Observa-se que na Atualidade, o corpo deve estar em constante movimento para
ser valorizado (objeto) e não parado, mas a distância é maior em relação a experiência
corporal devido as mudanças ocorridas na trajetória humana em todas as sociedades.
A Psicologia tentou também separar o corpo da mente porque pensava-se que,
tudo se originava da psique e os especialistas tinham que tratar a parte psicológica e não
a física da pessoa. Mas a Psicologia Humanística deu impulso positivo ao dar
importância do corpo através da experiência.
Acredita-se ainda que os corpos estão sendo moldados segundo os padrões que a
sociedade impõe e com isso há muito desequilíbrio no ser humano, ao negar-se a si
mesmo e muitos deixam-se levar pelas opiniões alheias, do que aceitar o que de fato
são. Como mostra Bruhns citado por Iwanowicz (1994)
Todos nós estamos negando de alguma forma o nosso corpo, portanto
estamos negando a nossa experiência. Por isso temos que pensar nos
exercícios que aos poucos vão recuperar a nossa sensibilidade, exercícios
que formam a consciência interna, exercícios para soltar os músculos e não
prendê-los, para poder se sentir. Porque no momento em que começo a
tomar contato com o meu corpo abro possibilidades de usá-lo (Idem, p.81).
No dia-a-dia, as pessoas estão cada vez mais insatisfeitas com a imagem
corporal e, por conseguinte, sentem-se retraídas consigo mesma por não perceberem que
de fato, são uma totalidade. Não estão se reconhecendo. Percebe-se também como as
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academias estão sendo procuradas por uma parte, e por outro lado o índice de anorexia
está aumentando principalmente nas pessoas mais jovens.
O verdadeiro conhecimento só é possível a parte daquilo que se manifesta no
corpo como dizia Husserl. E antes, porém, Kant dizia: que todo conhecimento precisava
ser comparado com o anterior para se construir o novo. Todos esses pensadores
buscaram encontrar forma de conhecer melhor o corpo através da fenomenologia.
Silvino Santin (1996) diz que a sintonia que se tem entre corporeidade-prazerjogo
é uma fenomenologia que liga a consciência e mente. O ser humano no mundo e a
corporeidade é que nos fazem ser um no mundo.
Analisa-se também que, o corpo apresenta uma ameaça para o poder porque,
atualmente tudo se tornou negócio para o mercado do trabalho. E a mídia apresenta o
corpo como forma de se obter fama e privilégio e não como uma possibilidade de
entender melhor o ser humano e a fenomenologia que se manifesta através da nossa
vida.
... O saber que tanto procuramos em relação a abrangência do nosso
trabalho, no envolvimento com os corpos que encontram os nossos entre
uma prática e outra, não está nos discursos que os dissimularam entre a
eficácia e o rendimento, nem entre a beleza imposta pela mídia, nem nos
conceitos de corpos fortes, saudáveis e dóceis. Estas imagens corporais
fragmentadas foram nos influenciando nas tentativas de corresponder às
verdades estabelecidas historicamente, as quais objetivavam a
uniformização dos seres, massificando os movimentos, desumanizando os
corpos (GUEDES 1995, p.44-45).
O corpo fala por si mesma de várias maneiras ou manifestações e que muitas
vezes não são percebidas, como: no caminhar onde a pessoa se movimenta todo corpo,
no olhar se é sereno ou preocupante, no modo de se expressar, uma tatuagem no corpo
ou algum sinal importante que se queira manifestar.
O que diz Clastres em seu texto de 1974? Que as sociedades sem escrita
escreviam no corpo as suas leis. Imprimem suas marcas no corpo, porque o
corpo é uma memória: espaço e tempo. Quando, nos rituais de iniciação,
um jovem passa à idade adulta, é no e através de seu corpo que se marca a
passagem. E diz Clastres: o ethos tribal é escrito nos corpos individuais,
para que definitivamente não se esqueça que o individuo é membro da
comunidade. Ou, cito Clastres: “... a sociedade dita suas leis aos seus
membros, ela inscreve o texto da lei na superfície do corpo. Porque a lei
que funda a vida social da tribo a ninguém é pressuposta esquecer. As
cicatrizes do corpo seriam as escrituras sobre o corpo” (KOFES, 1994,
p.48).
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Experiências sobre os ritos de iniciação em Angola. Em algumas tribos de
Angola, os ritos de iniciação tanto para meninas e meninos até os anos 90 antes da
guerra ser intensa. Para os meninos marcava a circuncisão que se fazia fora da casa dos
pais, mas, com todos os outros meninos do bairro e dos bairros vizinhos. Construia-se
uma casa grande e lá ficavam cerca de dois meses. Recebiam todas as instruções
necessárias para ele. E tudo era segredo, o menino por menor que fosse, não podia dizer
à mãe o que acontecera com ele na circuncisão.
Ao deixarem a casa por onde foram circuncidados, colocava-se fogo com tudo
que foi usado. Dirigidos pelos pais e outros adultos, levavam-nos de volta para o bairro
em carruagens construídas para não serem vistos pelas mães e outras mulheres do
bairro. Mas, os que acompanhavam, vinham cantando canções especiais.
A recepção era de grande festividade para todas as famílias da comunidade
mesmo aquelas que não tinham filhos naquele momento. E eram recebidos por um casal
experiente, onde preparavam a cerimônia de recepção pelos pais. Realmente era um dia
de festa com danças ao ritmo da marimba, batuque e outros instrumentos musicais. E a
mãe para retirar o filho, abraçá-lo e beijar, tinha que ir ao meio do círculo (como era
costume sentar-se) ela dançava e com vestes novas, nas mãos, buscava o filho de lá e
voltava dançando de alegria por ter o filho são e salvo, digo são e salvo porque muitos
morriam durante por causa das infecções que contraiam e o pai de quem morresse, não
podia dizer à mulher que o filho tinha falecido.
Para as meninas era durante a primeira menstruação. A mãe e a tia (paterna)
preparavam um jantar especial para ela e convidam as pessoas mais próximas da
família. E em outras famílias o rito levava uma semana. Em ambas, a/as menina/as
usavam um traje típico preparado para a ocasião. Era muito comum esse tipo de ritos
para todo mundo e cada ano, as famílias que tinham meninos a partir dos dez (10) anos
já se preparavam para tal evento. E toda a comunidade participava com júbilo em sinal
de pertença, respeito e acolhida para a vida adulta dos novos membros.
No texto “O Corpo e as Palavras” de Rubem Alves, mostra-nos o quanto é
importante o poder da linguagem sobre o corpo. Uma simples palavra é capaz de
modificar o comportamento de alguém.
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E sem que houvesse uma única alteração nos componentes físico-químicos
da situação, a linguagem que envolvia o corpo encrespou, e a polidez se
transformou no embaraço da saída apressada da mesa para vomitar...
Vomitar o que? Miolo? Absolutamente. Vômito de palavras, rótulos,
etiquetas. Assim são as coisas: a linguagem tem a possibilidade de fazer
curtos circuitos em sistemas orgânicos intactos, produzindo úlceras,
impotência ou frigidez. Porque são as palavras que carregam consigo as
proibições, as expectativas. E é por isto que o homem não é um organismo,
mas este complexo lingüístico a que se dá o nome de personalidade (ALVES,
1994, p.23).
De acordo com Alves (1994, p.19), outro aspecto da linguagem que o autor
coloca em evidência é na comunicação. Quando você não entende o que os outros
falam, te sentes limitada para a comunicação e todas as manifestações feitas com
carinho e dedicação, não valem nada, porém, ao expressar de modo que a outra/o capte
o que se deseja, leva tempo e não é fácil. Partilho mais uma experiência vivenciada por
mim em Maputo-Moçambique.
No primeiro ano em que estive em Maputo capital de Moçambique, (2002)
designaram-me para fazer parte de uma comunidade da paróquia a que pertencíamos.
Nessa, havia muitas pessoas idosas que não falam português e a comunicação com elas
ficou difícil para mim. Mas cada vez que eu ia para lá, recebiam-me com danças típicas
e sem entender nada, dava sorriso e dizia obrigada em Ronga, uma das línguas nacionais
(além de dizer obrigado, sabia cumprimentar: bom dia, bom tarde e boa noite em
Ronga). Mas, um dia a coordenadora do grupo de reflexão perguntou-me se eu estava
entendendo o que a vovó Eliana Nhandimo (em memória) fazia. E respondi que não.
Então ela disse que aquela dança era de acolhida porque a maioria das pessoas da
comunidade se aproximam de ti por seres pessoa de confiança e a dança é uma
manifestação de agradecimento e de boas-vindas à comunidade. Não se dança para
qualquer pessoa, e a senhora Eliana é uma das idosas que se responsabilizou em acolhêla
em nossa comunidade. Sinta-se em casa todas as vezes que vieres aqui. Com aquela
explicação senti-me a vontade e em casa e não como uma pessoa distante e diferente das
demais. Embora sendo de outro país africano, fui muito bem acolhida por todos. Somos
apenas diferentes na cultura e o português que é a língua oficial dos cinco países: Cabo
Verde, Guiné Bissau, Santo Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique, cada um destes
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países tem a sua história e a cultura é diferente de um para outro. E nem todo mundo
fala português, há várias línguas nacionais em cada um desses países.
As manifestações corporais são expressas de várias maneiras e todas têm um
sentido de algo importante para quem as faz e para quê, por mais que nos pareça
absurdo, leva-nos a refletir e compreender o movimento do corpo que fala de várias e de
diferentes formas.
Portanto, existe uma retomada do pensamento do outro através da fala, uma
reflexão no outro, um poder de pensar segundo o outro que enriquece
nossos pensamentos próprios. Aqui, é preciso que o sentido das palavras
finalmente seja induzido pelas próprias palavras ou, mais exatamente, que
sua significação conceitual se forme por antecipação a partir de uma
significação gestual que ela, é eminente à fala. E, assim como em um país
estrangeiro começo a compreender o sentido das palavras por seu lugar em
um contexto de ação e participação à vida comum, da mesma maneira um
texto filosófico ainda mal compreendido me revela pelo menos um certo
“estilo” (MERLEAU-PONTY, 1999.p.243-244).
Para argumentar a difícil tarefa quanto a compreensão da corporeidade, Santin citado
por Neto (1998, p.85) afirma:
Dificilmente vemos a corporeidade ligada a questão de ordem política,
social, cultural, ideológica, religiosa e econômica. Parece que os corpos
ficam enclausurados, às vezes, na corporeidade como oposta ao indivíduo,
outra vez restrita ao indivíduo, mas, na maioria das vezes parece amarrada
aos padrões das ciências experimentais. Para ele, a corporeidade, mais do
que uma coisa que precisa ser aprendida deve significar um desafio para a
imaginação e criatividade. Ela precisa ter a “dignidade da ação sagrada e
festiva, e, ao mesmo tempo, a cotidianidade do esforço e do trabalho
criativo”.
Neto (1998) citando Moreira e Manuel Sérgio apresenta vários aspectos em que
aparecem afrontas ou desprezo do corpo:
pelo corpo é que podemos atingir uma concepção global do homem;
pela linguagem corporal é que o homem ganha um meio
extraordinário de comunicação e linguagem;
o corpo constitui, tanto interior como exteriormente, o primeiro e mais
importante ponto de referência e de relação;
o corpo revela uma personalidade, uma cultura e, por decorrência,
uma sociedade;
o corpo não pode ser concebido como simples máquina a serviço do
espírito, porque sem ele o espírito é impensável;
é através do corpo que a cultura capta seus limites, tanto os de ordem
biológica como psicológica;
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é pelo corpo que a cultura deixa se ser platônica e tenta realizar a
unidade humana com o nascimento da idéia onde está presente o
homem integral;
as atividades corporais podem e devem estimular o senso estético e,
dessa forma, contribuir para a valorização da educação e do lazer;
as atividades corporais podem e devem, através do jogo e do desporto,
exercitar a criatividade, a liberdade, a alegria e o bemestar(
Idem,p.87).
O corpo é a nossa identidade sem ele não seríamos nada neste mundo. E cada ser
humano tem a sua personalidade que a distingue dos outros seres, através dos
movimentos, gestos, expressões, sensações, sentimentos, emoções. É a corporeidade se
manifestando de vários modos. Somos uma totalidade.
3 CONCLUSÃO
É a partir da antiguidade Grega que a corporeidade tem suas origens. Pensando
nessa trajetória, podemos dizer que o ser humano é complexo que não se poder entender
por uma simples definição.
Na Modernidade considerava-se o corpo como fonte de produção e incentivava o
individualismo, desprezando a totalidade humana. Mas com a evolução cientifica o
corpo humano foi ganhando a sua dimensão e é através do corpo que surge a
criatividade, levando em conta que todas as atividades corporais expressam o que de
fato somos.
Os pensadores da Modernidade contribuíram muito com as suas idéias e nós
somos influenciados de alguma forma por esses pensadores.
Todos os nossos movimentos expressam de alguma forma o ser da gente e como
entramos em contanto com os nossos semelhantes. Negar o nosso corpo é negar a
própria identidade e por isso muitas pessoas entram em crise porque não se reconhecem
a si mesmas e tentam mudar de forma.
A sociedade apresenta padrões através da mídia e privilegia com isso só aqueles
que não estão contentes, achando que o corpo é um objeto e não uma totalidade. E
porque há tanta gente insatisfeita com o seu corpo? O nosso corpo é recortado por
imagens porque ele é diferente do organismo dos animais. Quando a pessoa não se
alimenta por causa da mania de perseguição (olhar-se no espelho e se achar gorda, mas
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na realidade a pessoa está magra), começa a entrar no estado de anorexia, passando dias
sem se alimentar e assim por diante.
4 REFERÊNCIAS
ALVES, Rubem. O corpo e as palavras. In. BRUHNS, H. (org) conversando sobre o
corpo. 5ed.Campinas, Papirus, 1994.
GUEDES, Claúdia Maria. O corpo desvelado. In. MOREIRA, Wagner Wey (org).
Corpo res(s)ente. Campinas: Papirus,1995.
IWANOWICZ, Bárbara. A imagem e a consciência do corpo. In. BRUHNS, H. (org)
Conversando sobre o corpo. 5ed. Campinas, Papirus. 1994.
KOFES, Suely. E sobre o corpo, não é o próprio corpo que fala? Ou, o discurso
desse corpo sobre o qual se fala. In. BRUHNS, H. (org) Conversando sobre o corpo.
5ed.Campinas, 1994.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Martins
fontes, 1999.
NETO, Inácio B. Corporeidade: pistas e indícios para a prática escolar. In.
PERES, S; BRANDL, N; BRANDL, C. Educação Física: abordagem histórica do
corpo e novas perspectivas. Cascavel: EDUNIOESTE, 1998.
SANTIN, Silvino. Corporeidade – prazer – jogo: desafio para repensar o projeto
antropológico. In________. Educação física: da alegria do lúdico à opressão do
rendimento. 2ed. Porto Alegre: EST/ESEF – UFGS, 1996.
SILVA, Ana Márcia. Elementos para compreender a modernidade do corpo numa
sociedade racional. In. SOARES, C. L. (org). Corpo e educação. 2ed. Campinas:
CEDES, 2000.
A PSICOMOTRICIDADE E SEUS ELEMENTOS
PRZYVITOWSKI, Vanessa Lelinski3
KLEIN, Roseli B. – orientadora2
3 Acadêmica do curso de Pós-Graduação especialização em Psicopedagogia – FAFIUV.
2 KLEIN, Roseli B. – Orientadora, professora do Colegiado de Pedagogia e Mestre em Educação e
Ensino – FAFIUV.
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A presente pesquisa vem mostrar como a Psicomotricidade é importante no desenvolvimento infantil,
pois, ela á a base de todo o aprendizado futuro do sujeito, sua importância está nos benefícios que traz ao
indivíduo, se desenvolvida satisfatoriamente, previne certas dificuldades e inadaptações tão difíceis de
melhorar quando já estruturadas, portanto, a escola tem um importante papel nesse desenvolvimento, pois
é no seu âmbito que a criança explora seus movimentos e raciocínio, contudo, a Psicomotricidade auxilia
no desenvolvimento motor, social, afetivo e emocional. Entretanto, para que isso ocorra, é necessário
trabalhar atividades lúdicas e corporais, onde a criança experiencie e vivencie brincadeiras prazerosas.
Seu objetivo é resgatar elementos essenciais da Psicomotricidade, relacionando-os ao aprendizado da
leitura e escrita. A pesquisa tem como método a forma descritiva, exploratória e bibliográfica. Trouxe
como resultado a investigação dos elementos psicomotores necessários ao desenvolvimento do educando.
Palavras-Chave: Desenvolvimento. Aprendizado. Brincadeiras.
1 INTRODUÇÃO
As crianças quando nascem não nascem como tábula rasa, elas nascem com um
repertório inicial de comportamentos e capacidades que irão mediar sua interação com o
ambiente, essa interação se dá através de estímulos e motivações, sendo que, estes
ajudarão as crianças a desenvolverem-se, adaptarem-se ao ambiente e ter uma
aprendizagem contínua.
Para que isto aconteça, é necessário que desde pequena, a criança esteja em
contato com situações que faça desenvolver sua capacidade cognitiva, afetiva e
emocional, assim, apresenta-se a Psicomotricidade, é nesse contexto que está a
importância deste trabalho, pois Psicomotricidade é a relação entre psique (consciência)
e motor (movimento), isto é, o desenvolvimento da criança está interligado com a
motricidade, ou seja, com gestos, movimentos, etc.
Este artigo é fruto de leituras e estudos para realização de monografia e de
Projeto de Estágio, onde mostra quais os benefícios do desenvolvimento psicomotor na
criança e os elementos que o acompanham necessários ao bom desempenho do
educando no âmbito escolar, social e afetivo.
2 A PSICOMOTRICIDADE E SEUS ELEMENTOS
O primeiro estudioso a usar o termo Psicomotricidade e fazer dela um
componente importante ao aprendizado foi Ernest Dupré, quando em 1909, definiu o
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termo e introduziu seus primeiros estudos sobre a debilidade motora e instabilidade nos
débeis mentais. Dessa forma, outros pesquisadores também estudaram a importância do
desenvolvimento psicomotor e entre eles, sobressai-se Henri Wallon, que é visto como o
grande pioneiro da psicomotricidade, tendo influenciado a investigação sobre crianças
instáveis, impulsivas, emotivas, obsessivas, apáticas, delinqüentes, etc., sendo que sua
obra se alastrou a outros campos como o psiquiátrico, o psicológico e pedagógico.
O conceito de psicomotricidade ganhou assim uma expressão significativa,
uma vez que traduz a solidariedade profunda e original entre a atividade
psíquica e a atividade motora. O movimento é equacionado como parte
integrante do movimento. A psicomotricidade é hoje concebida como a
integração superior da motricidade, produto de uma relação inteligível entre
a criança e o meio, e instrumento privilegiado através do qual a consciência
se forma e materializa-se. (FONSECA, 1995, p. 12).
Entretanto, o pensamento da Wallon continua em permanente atualização, uma
vez que objetiva o estudo da infância na sua totalidade. Após muitos estudos com
crianças deficientes, iniciou estudos com educandos “normais”, visto que a
psicomotricidade ajudava no desenvolvimento destes, hoje se tornou indispensável no
trabalho pedagógico escolar.
Em síntese, a Psicomotricidade é uma ciência que tem por objetivo o estudo do
Homem, através de seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e
externo. Por isso, cada vez mais se tem comprovado a importância dessa educação no
âmbito escolar e sua estreita relação com o desenvolvimento da aprendizagem.
É importante salientar que não se deve jamais apressar o desenvolvimento da
criança, pois, isso causa frustração e futuramente ela poderá apresentar dificuldades de
aprendizagem, portanto, é necessário respeitar o processo de maturação da criança para
que se tenha um aprendizado satisfatório, entretanto, Oliveira (1997) nos explica que a
maturação desempenha um papel importante no desenvolvimento mental, mas que
depende também de outros fatores como a interação da criança com o meio, a
transmissão cultural e a experiência corporal. Dessa forma, meninos e meninas que não
possuem em seus lares um amplo espaço para recreação, acabam limitando suas
experiências motoras, resultando em desvantagens no seu desenvolvimento global.
A escola tem um importante papel nesse sentido, por auxiliar a criança no
desenvolvimento da coordenação motora fina e global. Entende-se por coordenação
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motora fina a mobilidade do punho, a dissociação, flexibilidade e firmeza dos dedos, a
leveza e a precisão dos gestos ao manejar um papel, entretanto, para que a criança
adquira essas habilidades, é preciso trabalhar atividades que ajudem a desenvolvê-las
como recorte, pintura, dobraduras, modelagens, colagens entre outras, sendo que
ajudarão também no desenvolvimento da atenção, na afetividade e cooperação, mas só a
motricidade fina, não é suficiente para que a criança tenha um desenvolvimento
satisfatório, “é necessário que haja também um controle ocular, isto é, a visão
acompanhando os gestos da mão”, enfatiza Oliveira (1997), ou seja, é preciso
desenvolver a coordenação óculo-manual ou viso-motora. Já a coordenação motora
global está relacionada ao desenvolvimento dos grandes músculos, levando a criança a
adquirir a dissociação de movimentos, ou seja, permite que se realize vários
movimentos ao mesmo tempo, essa coordenação compreende a noção de espaço, noção
de tempo, desenvolve o equilíbrio, o esquema corporal, a lateralidade e tudo o que é
necessário para que a criança desenvolva-se e adquira conhecimento.
É, [...] na perspectiva de uma verdadeira preparação para a vida que deve
inscrever-se o papel da escola, e os métodos pedagógicos renovados devem,
por conseguinte, tender a ajudar a criança a desenvolver-se da melhor
maneira possível, a tirar o melhor partido de todos os seus recursos
preparando-a para a vida social. (LE BOULCH, 1988, p. 26).
Esses elementos da Psicomotricidade ajudarão no aprendizado da leitura e
escrita e dos conteúdos escolares básicos, pois, os segmentos implícitos na escrita são
muito numerosos e a coordenação motora suscitada pelo ato de escrever é bastante
complexa.
A Psicomotricidade só é desenvolvida através de atividades corporais e lúdicas,
por isso, a importância de se trabalhar com brincadeiras e jogos divertidos em que a
criança sinta prazer em realizá-los, pois, caso contrário, não haverá aprendizado:
O movimento “pelo movimento” não leva a nenhuma aprendizagem. É
necessário e fundamental que o aluno deseje, reflita e analise seus
movimentos, interiorizando-os. Só assim conseguirá atingir uma
aprendizagem mais significativa de si mesmo e de suas possibilidades.
(OLIVEIRA 1997, p. 26)
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Essas experiências devem objetivar o desenvolvimento da psicomotricidade,
assim, há inúmeras brincadeiras que auxiliam esse desenvolvimento.
É, [...] vivenciando, explorando, experimentando, descobrindo, manipulando
e se percebendo que a criança poderá integrar-se, organizar-se, modificando,
assim, hábitos e condutas, aliada a uma ação educativa que preze o
movimento como um meio educativo onde o ser humano apreende o mundo,
colhe dele os elementos significativos e elaboram/reelaboram suas estruturas
cognitivas e motoras necessárias para sustentar as futuras aprendizagens.
(BARRETO apud COSTA, 2004, p. 16).
Muitas atividades não desenvolvem apenas uma habilidade e sim outras
relacionadas, segundo Piaget (apud PETERSON e FELTON-COLLINS, 2002), nas
brincadeiras, a criança está aprendendo a capacidade de solucionar problemas, o
desenvolvimento lingüístico, as relações espaciais, a seqüenciação temporal, as relações
estruturais, o raciocínio lógico, assim como também a comparação, o tamanho e a
lateralidade, onde essa última ajudará a perceber os movimentos do corpo no espaço e
no tempo, é através dela que se percebe qual é o lado dominante do indivíduo.
Não é difícil perceber o lado dominante das pessoas, pois, é o lado mais fácil de
manobrar e o mais desembaraçado e isso é mostrado na primeira infância, a partir dos
dois anos, assim afirma Coste (1989), “só a partir do momento em que os movimentos
se combinam e organizam numa intenção motora é que se impõe e justifica a presença
de um lado predominante que irá ajustar motricidade”.
Quando a lateralidade é desenvolvida na criança e esta apresenta o seu lado
dominante, fica mais fácil desenvolver a noção de tempo e espaço (ontem, hoje,..., em
cima, embaixo,...). Ajuda a criança a ter consciência do próprio corpo no tempo e no
espaço que está inserida, mas é importante ressaltar que não se deve procurar definir a
lateralidade de uma criança antes dos cinco anos.
A noção espacial significa a compreensão de um objeto e do seu lugar no
espaço, por exemplo, se o objeto é grande ou pequeno, se é espaçoso ou não, se está
perto ou longe, entre outras coisas. Isto ajuda no desenvolvimento e maturação do
indivíduo, pois, está presente na vida e no cotidiano das pessoas.
A estruturação espacial é: a tomada de consciência da situação de seu
próprio corpo em um meio ambiente, isto é, do lugar e da orientação que
pode ter em relação às pessoas e coisas; a tomada de consciência da situação
15
das coisas entre si; a possibilidade, para o sujeito, de organizar-se perante o
mundo que o cerca, de organizar as coisas entre si, de colocá-las em um
lugar, de movimentá-las. (MEUR, 1991, p. 13).
Junto com a noção de espaço, está a noção de tempo, não dá para abordarmos
um assunto, sem incluir o outro, são indissociáveis, pois, o tempo e a coordenação dos
movimentos, são esboçados pela memória obedecendo a um determinado espaço, por
isso, recebem a denominação de estruturação espaço-temporal.
A orientação temporal ajudará as crianças a localizarem-se nos acontecimentos
do passado, presente e dará capacidade de projetarem-se para o futuro. Segundo
Oliveira (1997) a orientação temporal está interligada também com a linguagem, a
palavra falada é emitida por uma forma ordenada, uma após outra, onde há um ritmo e
um tempo determinado, ou seja, fala-se uma palavra e depois outra, não todas ao mesmo
tempo.
Para a criança aprender a ler, é necessário que possua o domínio do ritmo,
uma sucessão de sons no tempo, uma memorização auditiva, uma
diferenciação de sons, um reconhecimento das freqüências e das durações
dos sons das palavras. (OLIVEIRA, 1997, p. 87).
Além desses elementos há também o esquema corporal, onde a criança adquire
consciência do seu próprio corpo e a capacidade de reconhecer-se como pessoa para
entender que faz parte de um meio social, assim como afirma Barreto (2000, p. 54), “a
percepção do próprio corpo é o elemento básico, indispensável na criança para a
construção de sua personalidade”.
A imagem corporal que o indivíduo tem de si mesmo é o ponto de referência
para todo tipo de aquisição de conhecimento. É através do domínio do próprio corpo
que irá estruturar e organizar o conhecimento do mundo exterior. Será este o ponto de
partida das noções de espaço, tempo, forma, volume, etc. segundo nos explicam Ferreira
e Caldas (s.d.).
Também há a coordenação viso-motora que auxilia na capacidade de coordenar
o campo visual com os movimentos do próprio corpo. Essa habilidade favorece no
desempenho das crianças na leitura e escrita, ou seja, no movimento dos olhos da
esquerda para a direita e também na distribuição ordenada da escrita no papel.
16
Enfim, nesse contexto, a coordenação motora é considerada como instrumento
de desenvolvimento de pré-requisitos para o aprendizado da leitura e escrita e dos
conteúdos escolares básicos. Segundo Le Boulch (1988), a psicomotricidade deverá
criar condições para o indivíduo ter equilíbrio psíquico fazendo coincidir o espaço e o
tempo com o EGO, numa unidade organizada que tenha ligação com a realidade.
A escola é o local mais indicado para que a Psicomotricidade seja desenvolvida
através de atividades próprias, lúdicas e relacional.
Muitas das habilidades apresentadas pelos alunos podem ser facilmente
sanadas no âmbito da sala de aula, bastando para isto que o professor esteja
mais atento e mais consciente de sua responsabilidade como educador e
despenda mais esforço e energia para ajudar a aumentar e melhorar o
potencial motor, cognitivo e afetivo do aluno. (OLIVEIRA, 1997, p. 12)
Segundo Piaget (apud PETERSON e FELTON-COLLINS, 2002), as crianças
com seis anos, estão no estágio Pré-Operacional, ou seja, elas são capazes de usar a
linguagem e as palavras para representar coisas que não são visíveis, mas ainda não
usam a lógica, para explicar eventos a criança, nesse estágio, baseia-se na sua intuição
em como as coisas lhe parecem, portanto, aprendem melhor através de brincadeiras e
experiências concretas.
As maiorias das crianças nessa fase têm maior controle da musculatura fina,
maior consciência do seu corpo no espaço, melhor desenvolvimento motor e melhor
acuidade visual e auditiva, porém, essas habilidades não estão totalmente desenvolvidas,
por isso, precisam ser ajustadas, mas sempre respeitando a maturação e capacidade de
cada uma, pois, “muitas dificuldades podem surgir com uma aprendizagem falha na
escola”, segundo nos explica Oliveira (1997, p. 39) e algumas vezes, não são sanadas
porque os professores “não sabem” do que a criança precisa para se desenvolver, por
isso, é necessário que o educador observe seus alunos e perceba que nível de
aprendizagem se encontra cada um e então, levar para sala de aula várias atividades
lúdicas e jogos propiciando um melhor ajustamento e desenvolvimento nas crianças.
Por ser o movimento, uma forma de conduta global, deve ser amplamente
explorada por meio das percepções visuais, tácteis, auditivas e cinestésicas,
permitindo ao educando perceber, conhecer analisar, vivenciar, meditar,
resolver, elaborar, comparar e, através da ação formar seus conceitos.
(BARRETO, 2000, p. 41).
17
Através da psicomotricidade, a criança pode ser estimulada a ler e escrever com
mais facilidade e como o ato de ler e escrever é um ato complexo de se aprender, são
necessários alguns pré-requisitos que ajudarão o educando na habilidade da leitura e
escrita, são eles: percepção e memória auditiva, percepção e memória visual,
linguagem, percepções táteis que junto com a coordenação motora, auxiliarão a criança
num aprendizado satisfatório e a impedem que futuramente apresente dificuldades de
aprendizagem como, falta de atenção, dispraxia, inibição, disgrafia, entre outros
problemas.
A educação psicomotora atua de maneira preventiva, evitando dificuldades
tão comum à alfabetização tais como má concentração, confusão de letras e
de silabas, confusão no reconhecimento das palavras, no todo ou em sua
divisão silábica, durante a leitura, escrita espelhada, letra ilegível,
dificuldade de passagem do plano vertical para o horizontal, etc.
(BARRETO, 2000, p. 29).
É importante ressaltar que esse desenvolvimento não é um aprendizado
preparatório para aprender a ler e escrever, são elementos indispensáveis para esse
conhecimento, ou seja, eles darão subsídio a todo o processo do aprender a ler e
escrever. Segundo Gomes (1995) as habilidades psicomotora são essenciais ao bom
desempenho da criança no início do processo de alfabetização e para isso ela precisa
dominar essas habilidades como ter dominância manual, conhecimento numérico,
preensão adequada para segurar lápis e folhear o papel, adequação da escrita às
dimensões do papel e pronúncia adequada de palavras.
A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação básica
para a escola primária. Ela condiciona todas as aprendizagens pré-escolares;
estas não podem ser conduzidas a bom termo se a criança não tiver
conseguido tomar consciência de seu corpo, lateralizar-se, situar-se no
espaço, dominar o tempo, se não tiver adquirido habilidade suficiente e
coordenação de seus gestos e movimentos. A educação psicomotora deve
constituir privilégio desde a mais tenra infância; conduzida com
perseverança, permite prevenir certas inadaptações sempre difíceis de
melhorar quando já estruturadas... (LE BOULCH, 1988, p. 11).
A linguagem oral interferirá diretamente nesse aprendizado, pois, as dificuldades
da língua devem ser superadas e dominadas entre os seis e oito anos de idade, sendo ela
18
um vínculo de socialização, assim como nos explica Grosso e Bellotti (1969, p. 25), “o
desenvolvimento da Linguagem condiciona não só o desenvolvimento do indivíduo
como também sua interação social, já que linguagem é, no seu mais amplo sentido,
qualquer meio de comunicação” e, por isso, precisa ser bem explorada e desenvolvida
antes da criança começar a escrever.
Quando a criança inicia seu processo de leitura, necessita distinguir as letras e o
som de cada uma delas, por isso, a importância de se trabalhar a percepção e memória
auditiva e visual, sendo que, a percepção auditiva ajudará na discriminação de sons
entre dois ou mais estímulos sonoros, com isso, torna-se necessário propor às crianças
exercícios de atenção auditiva e concentração que ajudarão discernir melhor os sons,
assim também, a memória auditiva é muito importante, pois, favorece a retenção e
recordação das letras captadas auditivamente, assim nos explicam Grosso e Bellotti
(1969, p. 70), “[...] o que se deve evitar, inicialmente, é comparar sons semelhantes, tais
como: P e B, LI e LH, D e T, Q e G, F e V e Z e X”.
A percepção visual ajudará a criança a controlar o movimento dos olhos, pois,
diante de uma figura, os olhos fazem movimentos em várias direções, sem fixá-los em
algum lugar e também a diferenciar objetos apresentados no seu campo visual com
significado e precisão; já a memória visual, fará com que ela retenha na memória os
símbolos visuais, tais como letras, palavras, sinais de pontuação, pois, lhe dará subsídio
para que possa formar a imagem visual das palavras, segundo Grosso e Bellotti (1969)
as atividades de percepção de figura-fundo também ajudarão no aprendizado da leitura e
escrita, pois, levarão a criança a focalizar a atenção em uma palavra ou em um grupo de
palavras, dentro de um texto ou em letras, dentro de uma palavra.
Por isso, a importância de passar atividades e brincadeiras que exijam atenção
visual e concentração para discriminar e compreender letras e objetos e descobrir seus
significados.
A percepção tátil auxiliará a criança a identificar e diferenciar objetos e
superfícies (áspero, liso, frio, quente, fino, etc.) simplesmente através do tato, além de
ser uma ferramenta para deduções e conclusões.
Segundo Costa (2004), a criança que não possui a sensibilidade tátil bem
desenvolvida, pode apresentar algumas dificuldades como, reconhecer objetos através
19
do tato, realizar tarefas que exijam coordenação das mãos no manuseio de objetos e
pouca habilidade para a prática de trabalhos manuais.
É importante destacar que essas áreas do conhecimento não são ensinadas no
sentido tradicional, são aprendidas através da própria integração da criança com as
brincadeiras e atividades, onde os educadores devem oferecer uma variedade muito
grande de materiais e experiências para que ela possa explorar e interagir.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa proporcionou um conhecimento significativo sobre o
desenvolvimento psicomotor na criança, mostrando sua importância e como é
indispensável para o aprendizado da leitura e escrita.
O desenvolvimento psicomotor deve começar desde cedo, para que a criança
tenha melhor desenvolvimento e também, precisa ser bem trabalhada para que
realmente aconteça um aprendizado significativo, dessa forma Le Boulch (1988) nos diz
que através da Psicomotricidade que acontecerá a evolução da sua personalidade e o
sucesso escolar.
Quando a Psicomotricidade é desenvolvida satisfatoriamente, o educando não
apresenta nenhum tipo de dificuldade e por isso, não devem faltar jamais nas escolas
atividades que desenvolvam as habilidades primordiais para o seu aprendizado, assim
concluímos a partir dos estudos de Le Boulch (1988), que a educação psicomotora
precisa ser considerada como uma educação básica para a escola primária, pois, essa
educação condiciona todas as aprendizagens pré-escolares e escolares prevenindo certas
inadaptações sempre difíceis de melhorar quando já estruturadas.
4 REFERÊNCIAS
ANTUNES, Celso. Novas maneiras de ensinar, Novas formas de aprender. Porto
Alegre; Rio Grande do Sul: Artmed, 2002.
BARRETO, Sidirley de Jesus. Psicomotricidade: Educação e reeducação. 2 ed. rev. e
ampl. Blumenau; Santa Catarina: Acadêmica, 2000.
20
COSTE, Jean-Claude. A Psicomotricidade. Tradução de Álvaro Cabral. 4 ed. Rio de
Janeiro: Guanabara, 1992.
FERREIRA, Idalina Ladeira; CALDAS, Sarah P. Souza. Atividades na Pré-escola. 15
ed. São Paulo: Saraiva, (s.d).
FONSECA, Vítor da. Manual de Observação Psicomotora: significação
psiconeurológica dos fatores psicomotores. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
GOMES, Vera Miranda. Prática Psicomotora na Pré-Escola. 3 ed. São Paulo: Ática,
1995.
GROSSO, Lia D. Jacy; BELLOTTI, Thelma. Como Preparar a Criança para Ler e
Escrever. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969.
GUILLARME, Jean-Jacques. Educação e Reeducação Psicomotoras. Tradução de
Arlene Caetano. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.
LE BOULCH, Jean. Educação Psicomotora: Psicocinética na idade escolar. Tradução
de Jeni Wolff. 2 ed. Porto Alegre; Rio Grande do Sul: Artes Médicas, 1988.
MEUR, A. de. Psicomotricidade. São Paulo: Manole, 1991.
OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade: Educação e reeducação num
enfoque Psicopedagógico. 6 ed. Petrópolis; Rio de Janeiro: Vozes, 1997.
PETERSON, Rosemary; FELTON-COLLINS, Victória. Manual Piagetiano para
Professores e Pais: crianças na idade das descobertas. Porto Alegre: Artmed, 2002.
A FAMÍLIA E O DEFICIENTE: DESAFIOS E PERSPECTIVAS NO
ATENDIMENTO A AUTISTAS
SACHINSKI, Ivanildo4
STENTZLER, Marcia M. Orientadora (Prof. FAFIUVA)
RESUMO: A família se constitui de suma importância para a formação de novos
seres, sendo uma geradora de opiniões e atitudes. Dentro de um cenário de entrada de
uma pessoa com deficiência as inúmeras ligações e formulações construídas são
reformuladas e remodeladas para o novo acolhimento que vão da negação até a
aceitação e busca de ajuda. Essa perspectiva torna-se ainda mais evidente e complicada
com o diagnóstico de autismo, atingindo de forma direta todas as suas estruturas.
4 Graduado em História pela FAFI – União da Vitoria. Especialista em Educação Especial pela FAFI –
União da Vitoria.
21
PALAVRAS –CHAVE: Educacao, família, autismo
INTRODUÇÃO
Historicamente a família se constitui como uma instituição formadora de
concepções dentro de uma sociedade, responsável por organizar os princípios morais e
éticos que delimitam as intuições sociais, econômicas e culturais, tendo uma
importância ativa na formação de novos seres humanos, se tornando assim o berço
daquilo que se pensa como sociedade. Sendo assim uma educação que procure
qualidade não pode desprezar a participação da instituição formadora, constituindo-se o
que podemos chamar de novo paradigma educacional onde as novas perspectivas
educacionais brasileiras se voltam a analise de temas relacionados ao contexto familiar e
sua importância dentro do seu ambiente.
Objetivamos com esse trabalho discutir a perspectiva da família como meio
eficiente para uma educação criadora de seres críticos e independentes em um ambiente
com uma pessoa com diagnóstico ou suspeita de deficiência, centrando nossa discussão
em três pontos essenciais, discutindo a família no contexto social e educacional, o
deficiente e a família e a importância da família para uma pessoa autista.
A FAMÍLIA E SUA IMPORTÂNCIA NOS AMBIENTES ESCOLARES
Para os diversos setores relacionados à educação é indiscutível o papel que a
família desempenha para o bom relacionamento do aluno com a escola. A família pode
ter uma participação efetivamente benéfica ou ainda prejudicial, dependendo de fatores
específicos. Observamos os conceitos de Buscaglia (1997) qual define família como um
sistema socialmente pequeno e interdependente em que são encontrados subsistemas
menores, no qual afirma serem constantemente remodelados e redefinidos em seus
papéis em cada momento e situação que causem algum tipo de impacto.
Desde muito cedo, em nossa história, a família constituiu-se como uma
referência para o indivíduo, na sua forma de agir ou de se comportar em determinadas
situações em ambientes diversos e, a partir dela, passou-se a gerar condições para uma
22
real adaptação dos mesmos a novas dificuldades surgidas no dia-a-dia. Essa família
passou por inúmeros momentos, e que para elucidá-los, precisamos buscar a suporte em
áreas como História e Antropologia.
A família, para Marconi e Presotto (2001), pode variar de um sistema mais
amplo de parentesco, ocupando um lugar central e dominante como as sociedades
ocidentais, chegando até uma importância reduzida dos povos ágrafos, dando maior
relevância à unidade formada pelo pai, mãe e filhos. “A família, em geral, é considerada
o fundamento básico e universal das sociedades, por se encontrar em todos os
agrupamentos humanos, embora variem as estruturas e funcionamento” (MARCONI E
PRESOTTO,2001:106). As autoras citam outros autores que trabalham na conceituação
de família, descrevendo Peter Murdock em sua obra ´Social Structure`, o qual afirma ser
um grupo social caracterizado pela residência comum em que vigora uma cooperação
econômica e de reprodução. Já Ralph Beals e Harry Hoijer em sua ´Introducción a la
antropologia`, definem família como um grupo social ligado por laços de parentesco.
Marconi e Presotto (2001) dividem a unidade denominada como família em cinco tipos
básicos: elementar, extensa, composta, conjugada-fraterna e fantasma. A primeira,
também chamada de nuclear, predominantemente se constitui das relações primárias de
parentesco, com pai, mãe e filhos, e que, com o passar dos anos, pode se dissolver, com
o casamento dos filhos e a morte dos pais. A do tipo extensa é constituída por duas ou
mais famílias nucleares, valorizando a relação consangüínea e que acaba incluindo as
figuras de avós, primos, tios, entre outros. A composta surge quando, por exemplo, um
segundo casamento dá origem a novas relações (como madrastas, enteados, padrastos),
que se refere a núcleos de famílias separados, mas relacionados por um membro
comum. O tipo familiar denominada pelas autoras como conjugada-fraterna significa
uma unidade constituída de dois ou mais irmãos com suas respectivas esposas e filhos.
E a última assinalada, denominado como fantasma é constituída por uma mulher sem o
ser masculino genitor, mas apenas um pai social, geralmente o irmão mais velho.
A família desempenha um papel importantíssimo na determinação do
comportamento humano, na formação da personalidade, no curso da moral, na evolução
mental e social, além de ser o local onde são estabelecidas relações de cultura e de
instituições. “Como influente força social, não pode ser ignorada por qualquer pessoa
23
envolvida no estudo do crescimento, do desenvolvimento, da personalidade ou do
comportamento humano.” (BUSCAGLIA,1997:78-82), sendo que, para ele, o
desenvolvimento de qualquer criança vai depender de como essa estrutura a encarar em
casa, na família, podendo ter um papel positivo ou funcionar de forma negativa, pois, “a
chave para o processo de crescimento está na oportunidade que a família oferece à
criança de ter um lugar seguro para descobrir a si mesma e às outras pessoas no seu
mundo”. Para Mielnik (1995), a família tem o seu papel fundamental na formação das
crianças e adolescentes e, ao mesmo tempo, ela pode se constituir um “poder
destrutivo” e acabar gerando um problema grave, não só no seu ambiente, mas também
para toda a sociedade, se não houver a constituição de ambientes organizados e
estruturados.
A FAMÍLIA E O DEFICIENTE
O autor Leo Buscaglia (1997) faz uma análise em torno das expectativas que são
impostas às famílias, desde a sua estruturação até o momento do nascimento de seu
filho e, principalmente, quando acontece a entrada, neste ambiente, de uma criança
deficiente. Segundo analisa, isso causa uma reorganização total de conceitos e atitudes,
de formas com que se passa a enfrentar e ser enfrentado pelo mundo. Pensando por este
prisma analisamos as fases, as dificuldades e a retomada de uma vida quando ocorrem
estas inesperadas transformações. Para Buscaglia (1997:15) “é desconcertante a pouca
atenção que se dá ainda, da parte de médicos, psicólogos e educadores, à terapia de
pessoas deficientes e de seus familiares”, acontecimento o qual afirma, constituir-se um
fato único e extremamente importante tanto para o deficiente como para a família.
Afirma que as exigências sobre uma família com um deficiente em seu seio são maiores
que aqueles tidos como normais, onde na maioria, os sentimentos oscilam entre dois
pontos, partindo desde aqueles que aceitam e compreendem de imediato seu problema,
trabalhando para o desenvolvimento das potencialidades de seu filho, e do outro lado
ficam os sentimentos de auto-piedade e martírio. “A maior parte dos pais de
excepcionais se encontrarão em algum ponto entre os dois extremos ou talvez oscilando
24
entre um e outro” (BUSCAGLIA,1997:105). Define ainda o autor as várias fases pela
qual uma família passa desde o nascimento de pessoas deficientes.
Com freqüência os pais expressam esses sentimentos através do desejo de
que aquele problema não existisse, da dúvida sobre a verdadeira identidade
da criança ou até mesmo como declarou Pearl Buck, de modo mais drástico,
através do desejo pela morte da criança. (BUSCAGLIA,1997:106)
Miller (1995) estuda o processo de modificação das relações familiares com a
entrada de uma criança deficiente com base em quatro momentos distintos, os quais
chama de fases de adaptação, sobrevivência, busca, ajustamento e separação.
Para ela, a primeira fase, a de sobrevivência, aborda os sentimentos e as
angústias iniciais, principalmente quando se necessita continuar andando sem ter um
controle efetivo sobre algo que retirou do controle a possibilidade de uma vida plena do
filho. Nesta fase podem surgir na visão da autora uma “multidão de emoções
desconfortáveis”, que vão desde o medo e a confusão até a culpa, a vergonha, a raiva, e
que podem permanecer por um tempo pequeno ou até por toda vida, caracteriza-se
como um período de resistência e de superação dos mitos e dos preconceitos por uma
nova vida. A segunda fase, a de busca, para a autora estará acontecendo durante toda a
vida e ela se divide em dois momentos, um externo quando se percebe que existe algo
errado, procurando um diagnóstico e um serviço de saúde que resolva o problema,
geralmente acontecendo quando ainda está em evidência a fase de sobrevivência, pois
se começa a ter visões e atitudes voltadas à criança e a uma possível solução racional.
Outro, de busca interna, acontece quando o pai e a mãe se dão conta da deficiência do
filho e passam a buscar atitudes que ressaltem sua identidade, procurando uma
compreensão. Ocorre nesta fase de busca, a transformação ou o deslocamento de suas
prioridades, relacionamentos e amizades. “Para alguns pais, a busca interior não envolve
maior auto-questionamento, ao passo que para outros o processo pode ser longo e
complexo, resultando em importantes mudanças de direcionamento e filosofia de vida”
(MILLER,1995:41).
Para Buscaglia (1997) boa parte dos sentimentos negativos presentes no
convívio das famílias estão relacionados com a sua desinformação ou com os
diagnósticos imprecisos, duvidosos ou confusos. Fonseca (1995) afirma que os diálogos
25
entre familiares, técnicos e educadores nem sempre são suficientemente claros, com
falta de dados, diagnósticos e prognósticos em linguagens que não são facilmente
entendidas, além de que a maioria dos profissionais envolvidos com a Educação
Especial ainda não estão totalmente capacitados com conceitos para trabalhar com os
pais de forma clara e precisa.
Para os pais é sempre um choque, já que ninguém está preparado para saber
que seu filho não corresponderá à perfeição por eles idealizada. Sentimentos
de preocupação, negação, revolta, vergonha, rejeição, tristeza, luto e
aceitação se sucederão, dependendo do tipo de problema apresentado. (PUPO
FILHO,2003:02)
Buscaglia (1997) afirma que os trabalhos com os pais devem ser temas
primordiais em toda intervenção educacional que busque o desenvolvimento pleno do
indivíduo, visto que os pais poderão se constituir professores hábeis e dispostos aos
maiores esforços para verem seus filhos se desenvolvendo. Para o autor os professores
se constituem em uma força vital na determinação da continuidade do crescimento e do
desenvolvimento emocional e intelectual do aluno, para isto é necessário,
essencialmente, este profissional ter o conhecimento aprofundado do diagnóstico, pois
“[…] a escola é a ponte entre a família e a sociedade” (BUSCAGLIA,1997:309).
A FAMÍLIA E O AUTISTA
O autismo não é muito comum e a maioria das pessoas não sabe nada sobre o
assunto, levando os pais a se sentirem muito sós e ignorantes a respeito da
condição e o que devem fazer. Muitas são as vezes que os pais passam por
situações difíceis, uma vez que a criança autista parece normal. (BORALLI
LOPES,1997:74)
A complexidade do ambiente familiar estremecido pela entrada de uma pessoa
com deficiência adquire um significado ainda mais profundo quando o diagnóstico é de
autismo, visto que uma das características principais dessa síndrome é a de ser
percebida a partir de avaliações comportamentais, não apresentando sinais físicos que a
possam caracterizar já no momento do nascimento, características que observamos ser
critério de avaliação tanto no item B do DSM-IV (APA, 2000) na qual consta como
“Atrasos ou funcionamento anormal em pelo menos uma das seguintes áreas, com
26
início antes dos 3 anos de idade[…]” como também na CID-10 (OMS, 1993) em sua
introdução, na qual consta da seguinte forma:
Transtorno invasivo do desenvolvimento definido pela presença de
desenvolvimento anormal e/ou comprometido em todas as três áreas de
interação social, comunicação e comportamento restrito e repetitivo.
Manifesta-se antes dos três anos de idade e ocorre três a quatro vezes mais
freqüentemente em meninos.
Ao analisarmos a problemática e a dinamicidade familiar diante do diagnóstico
de autismo, estudamos diretamente as características da chamada tríade ( comunicação,
interação social e imaginação), visto que é a partir desta que surgem as maiores
dificuldades neste ambiente. Como já elucidamos, a chegada de uma criança vem
repleta de expectativas e de projeções, que no caso do autismo vão sendo desmontadas,
necessitando de uma reconstrução, com outros conceitos e práticas, gerando muitas
vezes cisões e revoltas. Neste contexto, a relação escola/família adquire um papel muito
maior do que o simples desenvolvimento cognitivo, como na maioria das vezes acaba
acontecendo com os sistemas de ensino tradicionais. Dominique Amy (2001) apresenta
a perspectiva das relações entre pais e educadores sendo fundamental, principalmente
nestes casos, uma vez que, também em casa, necessita-se colocar em prática ações
realizadas na escola, ressaltando a necessidade de não se tornar o ambiente familiar
apenas de aprendizagem. “Uma criança, por mais doente que seja, necessita de uma
vida familiar na qual os pais não lhe sejam completamente submetidos, onde eles
possam ainda viver para eles mesmos e para seus outros filhos.” (DOMINIQUE
AMY,2001:55).5
Concordamos com a autora quando esta afirma ser primordial que existam
constantes contatos entre os dois ambientes, principalmente por ações de um refletirem
no outro e servirem de auxílio ou desestruturação, principalmente, no trabalho escolar.
Segundo Dominique Amy (2001), os professores que desejam buscar o
desenvolvimento de seus alunos devem auxiliar na restauração das relações de
confiança com a família, visão confirmada por Sprovieri (1995:266) quando afirma que
“o autismo leva o contexto familiar à ruptura entre seus membros, pois, interrompe suas
atividades normais, o clima emocional transforma-se no interior e exterior”.
5 A autora ainda usa o termo “doente” para autistas, o qual atualmente já está descartado, principalmente
por ainda não existir algo definitivo sobre suas causas e nem uma possível cura.
27
Este fenômeno apresentado por Sprovieri origina o que Facion et al (2002)
chama de mecanismos de compensação, e que são sentidos com a oferta de alimentos
em demasia, guloseimas, ausência de limites em qualquer ação da criança, inadvertência
de limites dos pais a comportamentos inadequados ou inconscientes, reforçando-os. No
caso de autistas, favorece, ainda mais, a criação de problemas de comportamento,
refletindo em todos os ambientes sociais, inclusive na escola, se não há um limite, uma
determinação do que pode ser feito ou não. “Esses mecanismos de compensação
baseiam-se em sentimentos de comiseração, indulgências ou até compaixão para com
seus filhos, o que de forma alguma é benéfico ao salutar convívio e amadurecimento
desta criança”. (FACION et al,2002:198).
Diante deste quadro, a escola torna-se um mediador entre o desenvolvimento
cognitivo-comportamental destes alunos, devendo não restringir o trabalho aos seus
limites físicos, procurando constantemente uma interação com estas famílias, não só no
intuito de diminuir os problemas a nível escolar, mas, procurando dinamizar as relações
familiares e encontrar nesta família mais um aliado no sentido de desenvolver o autista,
procurando de ambos os lados fomentar e proporcionar a sua maior independência.
Boralli Lopes (1997) ressalta que um dos maiores problemas enfrentados, no
trabalho com as famílias, está no fato da maioria projetar na escola apenas um local para
internar seus filhos, transferindo sua responsabilidade, sendo que ainda existem, para
ela, aqueles pais que não conseguem estar em contato por se envolverem com trabalhos
em função de terem membros falecidos, ausentes ou doentes, ou famílias que
simplesmente ignoram o problema e não lhe dão a devida atenção. Muitos dos pais de
crianças autistas vivem em constante luto, com novas perspectivas, novas abordagens,
tratamentos, questionando a escola e erguendo barreiras para um trabalho específico no
ambiente escolar, e, que se choca já na sua essência com a necessidade apresentada por
Maring (1997) de integrar o autista à coletividade. Para ela, “de nada adianta um
trabalho constante com o autista, se a comunidade como um todo não estiver madura e
pronta para absorvê-lo” (MARING,1997:269). Esta consciência e esta necessidade
apresentada pela autora, ao nosso entender, começa diretamente relacionada à família, já
que é ela quem vai permanecer a maior parte do tempo em contato e conseqüentemente
deve também ter isto como um objetivo claro.
28
Ardore e Regen (2003) trabalham numa perspectiva de dinamizar as relações
entre o ambiente familiar e o escolar, ressaltando a grande dificuldade de se modificar
as relações de dependência criadas pelos pais para com seus filhos, e que se explicitam
principalmente pelos vários fatores já estudados. Para elas, muitas vezes, antes de
começar o trabalho efetivamente consistente com os autistas é necessário quebrar as
barreiras familiares mostrando as qualidades e as potencialidades que cada um possui. O
que se constitui como um dos elementos fundamentais desta temática é o trabalho em
grupos, pois, permite atingir um número maior de pessoas, em menor tempo. Além
disso, com o trabalho em grupos, podem ser ressaltadas as trocas de experiências em
relação às características, às dificuldades, os problemas e às soluções encontradas em
cada família, algo semelhante ao que Schwartzman (1995) propõe, com um trabalho
junto àqueles que estão mais próximos do autismo um treinamento e uma supervisão de
ações que possam, ao mesmo tempo, desempenhar uma maior dinamicidade ao autista
sem tirar do ambiente familiar suas características básicas de um local onde possui uma
maior flexibilidade nas ações cotidianas.
Dallabrida (2000), em seus estudos sobre a aceitação da existência de uma
criança deficiente no contexto familiar, afiança que a sociedade de forma direta e
indireta, estará aceitando este membro no seu meio se este conceito estiver
primeiramente construído no ambiente familiar, Essa dinâmica é relacionada
especificamente à mãe, sendo vista como um trabalho direcionado às instituições de
ensino, as quais devem adquirir um papel de formação e incentivo destas relações.
Com o entendimento que a interação social é essencial na promoção da
aprendizagem, estabelece-se um elo entre este atendimento à mãe,
denominado ‘preventivo’, para viabilizar a aceitação desse filho o mais cedo
possível, eliminando ou diminuindo o ‘pesar crônico’ e a qualidade das
interações estabelecidas pelo filho com a mãe e com a sociedade.
(DALLABRIDA,2000:32)
Torna-se assim uma dinâmica que envolve primeiramente as duas organizações
básicas, a família e a escola, que constituem o alicerce para a inserção dentro de um
contexto maior, na sociedade. As duas devem trabalhar de forma a se auto-ajudar,
construindo ambientes que favoreçam o desenvolvimento amplo do autista, tanto o
comportamental como o cognitivo.
29
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A família independentemente do contexto sócio econômico é uma das mais fortes
instituições responsáveis por formar opinião, e conseqüentemente deve ser valorizada
no processo completo de aprendizagem, sendo uma forma concreta de criar ambientes
estruturados para todas as crianças, independente das condições físicas, emocionais,
cognitivas ou sociais, sendo a escola uma fomentadora de pessoas criticas.
Percebemos com nossa pesquisa a importância de um constante acompanhamento da
escola junto a família, principalmente pela maioria dessas terem na escola uma
referência segura de informações e de tratamento, a qual por sua vez deve escola
proporcionar um acompanhamento psico – pedagógico junto a essas famílias, visto que
a construção dos prognósticos geralmente são conflituosas, traumatizantes, que até
mesmo no contato inicial com as instituições de ensino são causadas o aparecimento de
expectativas errôneas, vivendo constantemente na negação, não sendo competente
trabalho algum de formação técnica. Assim uma educação que procure qualidade em
todos os níveis não deve jamais desprezar a importância da família e as busca de sua
constante valorização.
REFERÊNCIAS
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transtornos mentais (DSM-IV). 4 ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000
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aceitação. In: COSTA DE SOUZA, A. M. (org). A criança especial: Temas médicos,
educativos e sociais. São Paulo: Roca, 2003. p. 284-297
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Paulo: EDICON, 1997
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Especial do Programa Magister. UFSC. Centro de Ciências da Educação. v. 2. n. 2.
Florianópolis: NUP/CED, 2000. p.29-33.
30
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relação terapêutica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2001.
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psicológico a família. In: FACION, J. R. Transtornos do desenvolvimento associados
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Brasília: Ministério da Justiça, Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência, 2002. p. 97-101.
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MARCONI, M. de A. & PRESOTTO, Z. M. N. Antropologia: uma introdução. 5 ed.
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264-276
31
O PAPEL DO PROFESSOR NA FORMAÇÃO DA PESSOA
MAGALHÃES, Maria Pedro6
ANSAI, Rosana Beatriz7
( Exposição de Painel)
O papel do professor como mediador do conhecimento, animador das capacidades no processo ensinoaprendizagem,
muitas vezes não é compreendido pela sociedade, por muitas vezes desvalorizar a
profissão. Com este estudo, pretendemos compreender melhor o papel do professor na formação da
pessoa, numa pesquisa baseada no cotidiano desse profissional. Falar do professor é referir-nos antes de
tudo que ele exerce desde a sua preparação profissional e culmina em sala de aula. Para o alcance do
objetivo apontado utilizou-se para a coleta dos dados, os moldes da pesquisa teórica bibliográfica apoiada
em pesquisa de campo; para que o papel do professor seja reconhecido na sociedade. Constatou-se que o
professor como mediador do conhecimento do aluno, é um profissional para que esse por sua vez seja o
protagonista do conhecimento adquirido com a ajuda do seu professor. Quando o professor domina o que
ele ensina, as suas aulas são dinâmicas e com o seu jeito e motivação cativa os alunos a serem
participativos, questionadores e pesquisadores porque sabem em quem se espelham, não recebem os
ensinamentos, mas, buscam e desafiam o professor. E as escolhas se firmam na medida em que o
professor se aproxima dos alunos, se coloca no lugar deles e os instiga para um bom relacionamento entre
ambos (professor e aluno). Hodiernamente se observa, o professor sofre muitas agressões por parte de
alunos que não desejam transformar seus sonhos em realidade e com isso, muitos deixaram de ser
professores para buscar a sorte em outras profissões que não os levem a sofrer tanta desvalorização
profissional.
PALAVRAS-CHAVE: aluno, mediador, professor.
1 INTRODUÇÃO
6 PG - Pós-Graduação em Psicopedagogia Institucional (FAFIUV)
7 Professora Ms. Orientadora/FAFI/UV
32
É importante saber a maneira com que pais e professores estão se relacionando
as práticas educativas. Assim, na medida em que o vínculo familiar e escolar for
estabelecido com maior e melhor consistência, fica mais fácil conhecer a realidade
histórica da criança em todas as dimensões que a envolvem.
A psicopedagogia que tem como objeto de estudo a aprendizagem, vem
buscando soluções para tratar e prevenir as dificuldades e problemas, tendo em conta
que a aprendizagem é um processo que passa pela construção do indivíduo e a sua
relação com o mundo que o cerca. E para tanto, requer abertura para acolher o novo
desafio.
Para o estudo do objetivo apontado utilizou-se para a coleta dos dados, os
moldes da pesquisa bibliográfica.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Refletindo e questionando-nos sobre a vida do grande filósofo “Sócrates”, um
exemplo de educador, é impossível esquecer a sua maneira de educar. Ele que não tinha
escola onde os alunos pudessem sentar, um quadro para escrever, no entanto, estimulava
as pessoas a buscarem o saber escondido dentro delas. Ensinava em qualquer lugar e os
seus conteúdos eram interessantes para quem queria mudar de vida e melhorar a sua
visão da realidade. Conduzia seus interlocutores pela mão, compreendia-se como gestor
da palavra e com isso, mostrava o abismo da realidade grega da sua época.
Assim, o papel do professor não é tão simples como se pensa. Muitos não
valorizam essa profissão porque o salário de um professor é muito baixo e acabam
escolhendo outras profissões que lhes dêem mais garantia financeiramente e
socialmente com privilégios e status. Porém, observa-se que se o professor educar com
amor a todo e qualquer profissional, seu papel será fundamental na formação da pessoa
e do cidadão.
O professor é a pessoa que ajuda, incentiva, estimula, é mediador, é aquele que
conduz o aluno a construir seu conhecimento, não somente um mero conhecedor ou
33
dono do saber, mas cabe a ele fazer com que o aluno seja protagonista deste saber para
compreender com objetividade o real do porque do estudar. E escuta-se que a profissão
professor (a) é especial, porque é uma profissão das relações humanas. Por isso, a arte
de educar nem todos têm e talvez saibam dessa importância. Nota-se que o seu papel
não é reconhecido do ponto de vista humano, profissional e cultural porque
tradicionalmente foi muito idealizado. Ele era o centro do saber, porém, não devemos
nos esquecer do seu papel e da sua sublime missão transcendental para a humanidade e,
sobretudo para os alunos que se aproximam dele para participar dessa missão
humanizadora e muito significativa que é educar.
Sócrates sempre dizia: “conhece-te a ti mesmo”; acreditamos que essa frase
deveria ser o ponto de partida para o professor analisar-se a si mesmo, como manifesta
seus sentimentos, emoções e seus conflitos humanos. Sem dúvida, como ser humano e
ser social, ele trabalha com as situações da realidade do aluno e da sua história pessoal.
ABRAMOVAY (2006) numa entrevista feita pelo Jornal Mundo Jovem
argumentou que o professor ainda continua recebendo aquela formação antiga. Alega
culpas às faculdades de Educação e de Pedagogia pelo fato do professor ser mal
preparado ao terminar seu estudo acadêmico, pois, esse só se especializa, mas não sabe
trabalhar ou usar as experiências e práticas que teve durante o tempo de estudo, para
lidar com a realidade.
O professor continua recebendo uma formação elitista, como se fosse para
uma escola de 30 anos atrás. As faculdades de Educação e de Pedagogia têm
muita culpa nisso: o professor conhece pouco a realidade durante os anos de
estudo, não aprende os temas transversais, não sabe lidar com eles. O
professor aprende as suas especialidades.
Acho então que deve haver um “olho” maior para este professor, pois a
atuação dele é fundamental na escola. O professor precisa ter mais
ferramentas. Não sei se ele precisaria ter mais capacitação. Talvez a
capacitação tenha que ser diferente, mais ligada ao real, ao que são os
alunos, o que fazem, o que pensam, a questão da violência, da sexualidade.
Enfim, o que é a questão das drogas? Diante disso, o professor fica
absolutamente sem saber o que faze (idem, p.12-13).
Se tomar essas atitudes diante de si e da sociedade, estará tomando atitudes de
mudanças e progresso para que os rumos da educação possam conhecer outras
realidades e os pais possam confiar mais assim será resgatado o papel do professor na
formação da pessoa e do direito a escolher a profissão que deseja para o seu futuro.
34
O professor tem uma missão muito importante na sociedade e no mundo e é a
partir dele que a transformação deve começar. Revolucionar o ser professor de dentro
para fora e que as pessoas olhem e digam: vale a pena ser professor.
Segundo alguns autores, argumenta-se que o professor é um profissional que não
deve esperar que os outros mudem sua história, mas ele mesmo precisa ser alguém que
saiba questionar sua realidade, ser administrador da sua vida com dignidade pela sua
profissão e sua atuação, não esperando que a situação se torne pior para começar a se
mexer.
O momento é agora e pede urgência na ação, na vida e atuação de sua área. Não
adianta reclamar a quem não interessa escutá-lo ou a pessoas apropriadas da sua
profissão, mas sim ser alguém que arregaça as mangas e põe as mãos na massa em prol
de seus direitos. Em todas as sociedades a vida dos professores melhorou quando esses
se uniram e junto reivindicaram seus direitos, condições de vida digna e salário justo,
porque a formação acadêmica que tiveram não foi em vão, mas souberam valorizar-se
por terem percebido que as reclamações não adiantavam e muito menos ajudavam
quando essas eram feitas a pessoas erradas e que nada entendiam de educação.
Está na hora de perder a vergonha que alguns professores sentem quando lhes
toca o momento de defender sua profissão diante de outros profissionais com mais
vantagens sociais (como muitos se acham) desvalorizando os professores.
Você é a pessoa mais indicada para amar a própria profissão.
Lamentar-se não adianta. Até agora tal atitude não resolveu nada, energias
foram perdidas e tudo continuou como estava.
Uma decisão se impõe: se amamos nossa profissão, vamos lutar por ela.
Assim estaremos lutando em favor de nós mesmos e da comunidade. Se não
amamos nem temos o desejo de amá-la, sejamos honestos: vamos fazer
outra coisa.
A sociedade atrasada quer a permanência da atual situação. Quer o professor
se lamentando sem direcionar suas energias para os verdadeiros alvos.
Chegou a hora de mudar de estação, mudar o programa, mudar a linguagem,
desenhar outros mapas de novos paradigmas (WERNECK,2004:p.15).
Olhe ao seu redor professor, chegou a hora e é sua vez mudar e o tempo de
felicidade depende de você. Ao ter confiança na sua pessoa e na sua profissão, você
exerce seu direito e dever profissionalmente, pois, você gastou tempo e energia, sono
por muitos anos para dedicar-se aos estudos, sacrificou muitas vezes a sua família por
não poder acompanhá-lo, seus pais gastaram às vezes o pouco que tinham e investiram
35
em você porque eles sabiam que era capaz, era o melhor investimento de sua vida e
confiaram em você. Não jogue isso fora, lute por ela e por todos os profissionais da
educação.
Seja um professor atualizado em sua profissão para enfrentar a realidade de
nosso tempo, porque as coisas e o mundo estão mudando constantemente.
Os alunos querem professores atualizados, competentes, alguém que os leve a
buscar o saber e construir juntos o processo de ensino-aprendizagem, que saibam
questionar e analisar criticamente aquilo que lhes é ensinado, porque nada é pronto e
acabado como era antigamente. E aqui vale rever o relacionamento do professor e aluno
em que o professor não só passa o conteúdo para a classe, mas aquele que media o
conhecimento e valoriza o conhecimento prévio que o aluno traz. Ele é amigo que faz
da aula um processo de construção de conhecimento, não pelo fato de ser bom, mas,
porque a partir da sua profissão e da sua metodologia, leva os alunos a buscarem mais e
mais o saber porque o professor sabe provocar neles essa capacidade e eles participam.
Uma das coisas que os alunos gostam é descobrir curiosidades, portanto o professor
precisa ter confiança em si mesmo, e passa a ser visto pelos alunos como aquele que
tem conhecimento na sua área de ensino e tem o domínio da matéria.
Analisa-se que, em uma pesquisa realizada com os alunos do ensino médio e do
ensino superior nas escolas do Rio Grande do Sul, a professora percebeu o porque dos
alunos gostarem desse ou daquele professor:
__ “escolho este professor como o melhor pela forma com que nos faz
pensar, colocando o conteúdo teórico não como verdade acabada, mas
questionando-o”.
__ “o que me agrada no professor X é que ele está sempre pronto a
responder as nossas dúvidas, ele até estimula a gente a ter dúvidas...”.
__ “o professor Y é o melhor porque ele transmite para a gente o gosto que
ele tem pela Matemática. Ele nos mostra o prazer de aprender...”.
Outro aspecto que se estabelece é a metodologia do professor. Um professor
que acredita nas potencialidades do aluno, que está preocupado com sua
aprendizagem e com seu nível de satisfação, exerce práticas de sala de aula
de acordo com esta posição. E isso é também relação professor-aluno.
Dizem os alunos que, entre as características de seus melhores professores
estão, “torna as aulas agradáveis e atraentes”, “estimula a participação do
aluno”, “sabe se expressar de forma que todos entendem”, “induz à crítica, à
curiosidade e à pesquisa”, “procura formas inovadoras de desenvolver a
aula”, “faz o aluno participar do ensino” etc...(CUNHA, 1991: p.146-147).
36
Esse é o grande desafio do professor, saber incentivar os alunos com aulas
interessantes e que os leve a pesquisar, questionar, analisar e assim possam participar de
forma livre se compreenda bem o assunto que o professor tratar com eles. Nessa
relação, professor-aluno está também o ser do próprio professor que tanto ele como o
aluno são membros de uma sociedade e têm histórias familiares diferentes. Ambos
devem respeitar-se para assim se estabelecer o bom relacionamento.
Professor mediador não é aquele que traz o conhecimento pronto e o lança para
os alunos, mas aquele que desperta interesse de participação, curiosidade, incentivo e os
prepara para a vida. Depois, passe o tempo que passar, eles terão o professor nas suas
vidas porque algo de bom levaram para suas vidas porque carregam consigo as
experiências que marcantes que tiveram com o seu professor durante o tempo de
estudos ou como estudantes. Porque você professor, os ajudou a buscarem o saber
através do caminho da construção do conhecimento.
Ser professor nesse mundo moderno não é uma tarefa fácil. Ele enfrenta no seu
dia-a-dia, situações tão desagradáveis com familiares e responsáveis de alunos que
acham que educar é dar ao filho, ao aluno, tudo o que ele deseja e quer e não como uma
profissão de qualidade e que é feita com amor e dedicação.
Hoje em dia os pais oferecem a seus filhos aparelhos modernos e que muitas das
vezes usam-nas em lugares e ambientes inadequados como, por exemplo, em sala de
aula. O respeito para com os colegas e professores é uma regra estabelecida pela escola,
porque atrapalha os demais a prestarem atenção quando o celular de alguém toca. Se o
professor retira do aluno aquele aparelho, ele sofre ameaças da parte do aluno e até
agressão física e moral com a família do aluno que se acha dona do mundo. As regras da
escola devem ser respeitadas por todos desde o momento do ato da matrícula, não
importa se os pais são da classe média, rica ou pobre.
Os pais que, ao darem um equipamento que permite que o aluno resolva suas
questões com os pais protetores, solapam a tarefa da escola inviabilizam que
a escola faça o que eles mesmos desejam que ela faça _ que é provocar
aprendizagens e as decorrentes maturidades. Aqui vale salientar que não é só
o celular, mas os computadores e todas as engenhocas desse universo que,
muitas vezes, essas crianças e jovens não têm maturidades para manusear e
usar a favor do seu desenvolvimento (PAROLIN, 2005: p.150 - 151).
37
Percebe-se que a disciplina na escola exige um relacionamento entre professor e
aluno para se estabelecer às regras a serem cumpridas por todos, pois isso é também um
dos desafios do professor. Mas quando esse prepara as suas aulas de forma adequada e
atraente, os alunos participam e não têm tempo para a indisciplina na sala de aula.
Sendo assim um dos motivos para a indisciplina na sala é o fato das aulas serem
monótonas e os alunos muitas vezes não estão interessados com tal assunto e ai começa
o reboliço da turma. Saber motivar e cativar os alunos a participarem é uma maneira de
convidá-los a fazerem parte desse processo de produção do conhecimento, porque se
sentem valorizados quando percebem que também eles são importantes e que seus
conhecimentos ajudam o professor a conhecê-los melhor.
Se as aulas forem interessantes todos os alunos terão vontade de serem
chamados pelo professor, para falar alguma coisa na frente dos colegas, porque o
professor preparou o ambiente para cativar a todos e sentir o gosto pelo estudo.
Quando o professor prepara com cuidado o modo de transmitir os
conteúdos, o aluno pode aprender por prazer. Seu interesse para a matéria
deve ser despertado do mesmo modo que um trailer convida a assistir a um
filme. A forma é importante: a comida deve ter um cheiro delicioso, uma
linda apresentação e um sabor especial.
..., o professor deve ter muita criatividade para tornar sua aula apetitosa. Os
temperos fundamentais são: alegria, bom humor, respeito humano e
disciplina.
Se de fato o professor integrou a informação à sua vida – e não apenas a
decorou -, ele é capaz de fazer a correlação entre a matéria e os fatos
cotidianos. Isso acaba com a contestação que se baseia na pergunta: “Para
que estudar o que nunca vou usa?.
Haverá interesse do aluno pelo conteúdo do programa escolar sempre que
houver uma correlação entre estes e o dia-a-dia do estudante. O professor
sábio estabelece tal correlação (TIBA, 1996: p.124-125)
Quanto ao convite, o fato de o professor pedir que os alunos levem para a aula
do dia seguinte ou para outra semana uma reportagem sobre a disciplina em estudo,
pesquisar na Internet, em revistas, jornais ou até mesmo em livros (indicar quais), faz
com que os alunos se interessem pela participação, porque aí todos se empenham em
levar novidades para apresentar aos colegas e ao professor.
O papel do professor é de suma importância para o aluno a se sentir motivado e
incentivado de ir à escola porque ele mesmo se compromete em levar informações a fim
de serem partilhadas com os colegas e o professor. E ao professor, cabe sempre a tarefa
38
de levar também novidades que deixam os alunos mais motivados para participarem da
aula e procurarem estar sempre informados, ajudando-se mutuamente a transformar as
notícias em conhecimentos.Isso desperta muito interesse para a classe.
Observa-se atualmente que muitos professores estão sobrecarregados de trabalho
e não conseguem ter tempo para si mesmos porque precisam dar conta de tudo e com
isso surge a desmotivação, má disposição para lecionar, falta de entusiasmo e até
coragem para preparar-se bem a fim de prosseguir com o seu projeto nas atividades que
ele se propõe a realizar com os alunos e o compromisso para com a escola onde
trabalha. Mas a causa de tudo isso é o fato de trabalhar em várias escolas por causa do
salário. Se o salário de um professor fosse superior a de um deputado, não haveria
necessidade de trabalhar em várias escolas para ter um salário digno. E as cobranças
recaem para o professor quando as coisas não vão bem ou algum aluno está com
problema e corre o risco de reprovar. Logo, a culpa é do professor, mas, será que (o
professor) tem tido tempo para preparar-se? A má qualidade do ensino é um problema
sério.
O professor é refém também:
. do tempo de que necessita, mas de que não dispõe, para superar
deficiências básicas de formação;
. das pressões internas que sofre do sistema – que o impulsiona a
implementar técnicas e métodos que lhe exigem dedicação quase individual
a cada aluno – e que ele não consegue, porque não “dá tempo”;
. da própria consciência que lhe revela sua impotência para realizar uma
avaliação qualitativa, tal qual se preconiza atualmente;
. dos alunos, que hoje o enfrentam e desafiam abertamente, em muitos casos;
..da família dos alunos, que perdeu a autoridade sobre os filhos e pressiona
a escola para fazê-lo em seu lugar;
. da sociedade, que volta e meia surpreende professores e gestores com
medidas cautelares, mandados de segurança e processos...(ZAGURY, 2007:
p.65).
A pesquisa feita por Zagury (idem) mostra claramente o porquê da má qualidade
de ensino em nosso país. E o professor é a vítima de um sistema que não valoriza o seu
trabalho por um lado, e por outro está a família que deixa o seu papel e exige que a
escola desempenhe a função de educar e de ensinar. E como fica o professor diante de
tanta confusão na sociedade e na família.
39
Hoje em dia, verificamos que o professor sofre agressões físicas e psicológicas
por parte dos alunos e muitos tentam mudar de profissão porque estão traumatizados
com fatos marcantes que quase os levou ao óbito profissional. A que se deve isso? Será
que a culpa é só do profissional da educação? Além de ser mal visto e desconsiderado
por muitos, passa a ser vítima dos alunos que muitas vezes desmotivados não pretendem
ser nada na vida.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para firmar a base na educação que a criança trás de casa, está o papel do
professor, pessoa que vai colaborar mais na educação de habilidades da criança, do
adolescente e do jovem. Sendo mediador do conhecimento, acolhe as crianças e todos
aqueles que a comunidade apresenta para serem instruídos no caminho do saber, mas
com a colaboração também da família e da sociedade nesse vasto processo de educar.
O papel do professor é muito importante na sociedade, mas nem sempre é
reconhecido e valorizado. Mas se todos tivessem a consciência de valorizar e
reconhecer o professor, o mundo seria mais humano, porque todos passam pelas mãos
do professor antes de escolherem outras profissões que garantem status e privilégios:
todos nós precisamos e queremos que a educação melhore, mas de que maneira se os
mestres não são valorizados e muito menos respeitados como os primeiros profissionais
da sociedade?
Como autoridade leva o aluno a descobrir suas habilidades e competências no
ato de estudar a partir do incentivo e estímulos que recebe do seu professor. O professor
é um herói anônimo que ninguém quer reconhecer. Ele educa para humanizar a pessoa
para ser um cidadão consciente, trabalhando com o aluno desde pequeno, despertando
nele o gosto pelo estudo, pela leitura, aventurando a criança, o adolescente, o jovem e o
adulto no mundo do saber que desperta interesse pela vida.
4 REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, Miriam. Os tempos mudaram... E a escola? In. Jornal Mundo
Jovem. Porto Alegre: PCRS, outubro/2006, p.12-13.
LOPES, A. O (et. al). Respondendo a Didática. 13. ed. Campinas, SP: Papirus, 1991.
PAROLIN, Isabel. Professores formadores: a relação entre a família, a escola e a
aprendizagem. Curitiba: Positivo, 2005.
TIBA, Içami. Disciplina, limite na medida certa. São Paulo: Editora Gente, 1996.
40
WERNECK, Hamilton. Como vencer na vida sendo professor. Petrópolis, RJ: Vozes,
2004.
ZAGURY, Tânia. O Professor Refém: para pais e professores entenderem por que
fracassa a educação no Brasil; 8. ed.-Rio de Janeiro: Record,2007.
A CRIANÇA MIDIÁTICA: INTERFERÊNCIAS DA TELEVISÃO NOS
DESEJOS INFANTIS
Luciana Camurra 8
Teresa Kazuko Teruya 9
RESUMO
O presente trabalho expõe os resultados de um projeto de iniciação científica (PIBICCNPQ),
concluído em 2007, a partir do qual desenvolvemos, atualmente, a pesquisa de
Mestrado. Analisamos a interferência das programações televisivas nos desejos de
crianças, sob a perspectiva da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt e da Psicanálise.
Entrevistamos vinte crianças da educação infantil pública. Constatamos que os
programas televisivos interferem na subjetividade infantil, incutindo valores e
comportamentos essenciais na formação de consumidores. Para isso, incentivam a
atuação de mecanismos psíquicos regressivos, os quais dificultam o processo de
formação da autônomia. A educação escolar pode interferir nessa influência, desde que
professores possam contribuir para o desvelamento das ideologias e interesses contidos
nas programações televisivas.
Palavras-chave: Televisão, infância, consumo.
INTRODUÇÃO
A mídia televisiva tem se destacado não só por seu papel de formadora ou
“deformadora” da opinião pública como também, pela interferência que exerce na
própria estruturação e funcionalidade do psiquismo e da mentalidade social. Por meio
de suas programações e comerciais, utiliza-se de seu poder de persuasão para incentivar
comportamentos e sugerir valores, atitudes e comportamentos. Por meio dos conteúdos
8 Graduada em Psicologia e Mestranda em Educação, pela Universidade Estadual de Maringá.
9 Professora do Departamento de Teoria e Pratica da Educação e do Programa de Mestrado e Doutorado
em Educação da Universidade Estadual de Maringá.
41
que veicula, elaborados cuidadosamente com determinado propósito, certas emissoras
não medem esforços para manter os pontos de audiência, pois esses conteúdos
geralmente estão voltados para atender fins políticos e econômicos.
As publicidades e programações buscam sempre vender idéias, estilos de
comportamento e modos de viver. Mais do que convencer do que é bom e necessário, o
propósito é fazer crer em certos valores e idéias.
Os representantes da Teoria Crítica de Frankfurt, Adorno e Horkheimer
(1985), analisam a difusão de certos valores éticos e estéticos que atuam como
obstáculos à formação do indivíduo capaz de crítica. Conforme a compreensão desses
pensadores, os conteúdos veiculados pela televisão, frutos da sociedade mercantilizada,
ao invés de gerar esclarecimento, criam obstáculos à formação do indivíduo para a
consciência autônoma.
Considerando que há uma apropriação econômica do psiquismo pela mídia,
pode-se dizer que os conteúdos televisivos têm potencial para transformar qualquer
processo psíquico em uma ferramenta eficaz na indução ao consumismo. Neste
contexto, a escola, que deveria possibilitar a formação de indivíduos capazes de
identificar os interesses e ideologias que permeiam os conteúdos midiáticos, deixa a
desejar na medida em que não contribuí para o desenvolvimento de uma visão crítica,
acerca da atual sociedade de consumo, onde o “ter”, torna-se, muitas vezes, mais
relevante que o próprio “ser”.
Assim sendo, buscamos por meio desta pesquisa, analisar a relação existente
entre os desejos infantis e os conteúdos apresentados pela televisão. Para atingir tais
objetivos, entrevistamos 20 crianças entre 5 e 6 anos de idade, a fim de identificar as
possíveis intervenções midiáticas em suas formas de ser e pensar.
Os resultados da pesquisa indicam que os discursos midiáticos cooperam para
que os desejos dos indivíduos tornem-se acessíveis às intenções da indústria cultural, as
42
quais atendem a lógica mercantil. Assim, os discursos da mídia empenham-se em
modificar hábitos, cooptar desejos e necessidades, incutir valores e idéias, eliminar as
diferenças, uniformizar os indivíduos de acordo com os interesses dominantes e, assim,
consequentemente, impedir a constituição de indivíduos autônomos.
Desta forma, esta investigação torna-se urgente pelas contribuições teóricas
que pretende oferecer à compreensão da interferência midiática na formação de valores,
crenças, ideais e na aquisição de comportamentos por parte das crianças.
A INDÚSTRIA CULTURAL E OS TELESPECTADORES
A Teoria Crítica de Frankfurt analisa a atuação da mídia no sentido de
converter os indivíduos em simples compradores e consumidores dos produtos culturais.
De acordo com essa perspectiva, esses meios servem, em primeira mão, aos interesses
dos mais fortes economicamente, veiculando imagens e propostas de condutas com fins
comerciais. Essa exploração comercial e cultural a qual os indivíduos estão subjugados,
Adorno e Horkheimer (1985), denominam indústria cultural10. Segundo esses autores,
essa forma de exploração não apenas configura os desejos, mas também difunde valores
éticos e estéticos, gerando uma falsa experiência social nos homens à medida que não
decidem sobre seus valores, seus gostos e suas preferências.
Os discursos midiáticos pertencentes à indústria cultural contribuem para que
as formas de subjetivação tornem-se acessíveis às intenções da sociedade de consumo.
Sendo assim, esses meios não medem esforços no intuito de modificar hábitos,
subordinar desejos e necessidades, incutir valores e idéias, eliminando as diferenças e
uniformizando os indivíduos de acordo com os interesses dominantes.
10 Indústria cultural é um termo proposto pelos frankfurtianos Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, na
obra “Dialética do Esclarecimento”, publicada em 1947. Teve como propósito substituir a expressão
cultura de massas, considerada inapropriada, já que a cultura atual não é produzida pelas massas, mas
sim, para elas, ou seja, a cultura é imposta às massas por setores dominantes da sociedade. Essa indústria
cultural diferencia-se de cultura de massa e dedica-se à produção de bens simbólicos destinados ao
consumo de massa. Por meio da indústria cultural, tudo se torna negócio. Sua finalidade é a produção de
cultura, com fins lucrativos e mercantis.
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A Teoria Crítica da Escola de Frankfurt oferece fundamentos para
questionarmos as interferências da sociedade industrial sobre a subjetividade dos
indivíduos. Compreendendo a cultura como produzida, não pelas massas, mas sim, para
elas, na busca em atender a demanda de consumo, os frankfurtianos Theodor W.
Adorno e Max Horkheimer, na obra Dialética do Esclarecimento, escrita em 1944 e
publicado três anos depois, utilizam o termo indústria cultural pela primeira vez.
Conforme os autores, a indústria cultural, diferenciando-se de cultura de massa, dedicase
à produção de bens simbólicos – produtos - destinados ao consumo de massa. Por
meio dela, tudo se torna negócio, “em todos os seus ramos fazem-se, mais ou menos
segundo, produtos adaptados ao consumo das massas e que em grande medida,
determinam esse consumo” (ADORNO, 1978: 287). A finalidade da indústria cultural é
a produção de cultura, com fins lucrativos e mercantis,
Esta espécie de indução da mídia pode trazer inúmeras conseqüências à
formação do indivíduo e, especialmente, da criança, já que afeta sua capacidade de
escolha, na medida em que impede a decisão consciente sobre seus desejos, gostos e
valores, impossibilitando a formação de indivíduos autônomos e independentes. O
espaço interno se torna controlado pelos estímulos externos e não pelas manifestações
autênticas e espontâneas da pessoa.
A indústria cultural é a integração deliberada, a partir do alto de seus
consumidores. Na medida em que nesse processo a indústria cultural
inegavelmente especula sobre o estado de consciência e inconsciência de
milhões de pessoas as quais ela se dirige, as massas não são, então o fator
primeiro, mas um elemento secundário, um elemento de cálculo; acessório de
maquinaria. O consumidor não é rei, como a indústria cultural gostaria de
fazer crer, ele não é sujeito da indústria, mas seu objeto (ADORNO, 1978:
287).
De acordo com Erich Fromm, psicanalista e um dos representantes da Escola
de Frankfurt, na sociedade industrial acentua-se o consumo e a não-manutenção dos
produtos. Qualquer que seja o objeto da compra, após certo tempo de uso, as pessoas se
desfazem dele na ânsia de jogar fora o “velho” e adquirir o último modelo, a novidade.
[...] consumir é uma forma de ter, e talvez, a mais importante da atual
sociedade industrial. Consumir apresenta qualidades ambíguas: alivia
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ansiedade, porque o que se tem não pode ser tirado; mas exige que se
consuma cada vez mais; porque o consumo anterior logo perde a sua
característica de satisfazer. Os consumidores modernos podem identificar-se
pela fórmula: eu sou = o que eu tenho e o que eu consumo. (FROMM, 1977:
45).
Nesse contexto, as pessoas são avaliadas de acordo com o nível de consumo,
com o que possuem, pois se a pessoa não tem nada, ela não é nada.
Neste contexto, o papel da educação, que deve ser o de possibilitar que os
indivíduos se tornem críticos e autônomos, pois só assim, é que algo pode ser
transformado em uma sociedade que contribui para a manutenção da heteronomia, do
ser governado por outro e não por si mesmo. Conhecer as intenções da indústria
cultural e especificamente, da mídia, capacita os educadores a contribuírem para o
desenvolvimento de consciências críticas e autônomas, as quais possam ser capazes de
identificar os interesses e ideologias que permeiam as programações televisivas.
A PESQUISA DE CAMPO
Por meio de entrevistas, realizamos uma coleta de dados a fim de verificar a
relação entre os desejos das crianças e os programas televisivos. Selecionamos 10
crianças do sexo masculino e 10 crianças do sexo feminino, com idade entre 5 e 6 anos,
que freqüentam uma escola pública na cidade de Maringá. Consideramos a vontade
espontânea em participar da pesquisa e em seguida, estabelecemos um contato prévio
com os pais das crianças para explicitar a presente investigação e solicitar a permissão.
As análises dos dados obtidos partiram da perspectiva da Teoria Crítica de Frankfurt e
da Psicanálise.
As entrevistas e observações nos permitiram constatar que os desenhos
animados favoritos, apresentados pela emissora rede globo são os “Power Rangers”,
para os meninos e “Meninas Superpoderosas” e “Três Espiãs Demais”, para as meninas.
Essas preferências são explicadas por nós, a partir dos conceitos de identificação
projetiva/introjetiva e sentimento de onipotência.
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Estes desenhos enfatizam a força, o poder e a capacidade de se transformar
em algo melhor. A questão do poder infantil, presente logo nas primeiras relações da
criança com o outro, é amplamente abordada no campo da psicanálise e da psicologia
infantil. Na definição psicanalítica, a onipotência vivida pela criança é decorrente de um
momento primordial da vida humana marcado pela indistinção entre suas experiências
internas e as que vêm do mundo exterior. A criança, ao não se reconhecer como uma
entidade separada do outro, com quem se relaciona e supre suas necessidades
primordiais de sobrevivência, incorpora-o imaginariamente como parte constitutiva de
seu ser. É dessa forma que, por meio da identificação introjetiva, ocorre a fantasia de
onipotência.
Os processos de identificação projetiva/introjetiva, são definidos por Hanna
Seagal (1975), com base na obra de Melanie Klein. A identificação introjetiva é
definida como “o resultado da introjeção do objeto no ego, o qual, então se identifica
com algumas ou com todas as suas características” (SEAGAL, 1975: 140). Desta forma,
o indivíduo toma o outro para si, e sentem-se igual a ele. Quanto à identificação
projetiva, tira-se o que é próprio e coloca-se o que é do outro. Sou o outro. Na
identificação projetiva, o ego apodera-se por projeção do objeto externo e o converte
numa extensão sua, ou seja, no seu representante. Assim, o objeto é sentido como
idêntico ao sujeito, ou então, o sujeito é sentido como idêntico ao objeto.
Identificação projetiva é o resultado da projeção de partes do eu (self) no
objeto. Pode ter como resultado, não só o fato de que se perceba o objeto
como tendo adquirido as características da parte projetada do eu (self), mas
também o de que o eu (self) se torne identificado com o objeto de sua
projeção (SEAGAL, 1975, p. 141).
Conforme as definições acima, podemos entender que o indivíduo se
identifica com o personagem da mídia, ou seja, ocorre uma identificação
projetiva/introjetiva. Quando perguntamos a uma das crianças “o que você acha legal
nos ‘Powers Rangers’?” O menino respondeu: “eles lutam e se transformam em robôs.
Daí ficam mais fortes” (Mo.4 - 6 anos). Outro menino disse: “gosto porque eles se
transformam em animais e ficam bem fortes, daí lutam” (Mo.7 - 5 anos).
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No caso das meninas, o desenho “Meninas Super-Poderosas” foi o predileto.
Esse desenho apresenta três garotas diferentes entre si, mas que se juntam para combater
o mal que assola a cidade imaginária de Townsville. Por meio de uma análise
psicanalítica, podemos ver que o desenho incentiva a fantasia de onipotência e apresenta
modelos identificatórios em busca da perfeição. Podemos constatar este fato nas
palavras das crianças. Perguntamos: “O que você acha legal nas ‘Meninas Super-
Poderosas’?” A menina respondeu: “Cada uma tem o cabelo de uma cor e elas são
fortes, batem em outros que mexem com elas” (Ma.9 - 5 anos). Em seguida indagamos:
“Você queria ser alguma delas (Meninas Super-Poderosas)?”. A criança respondeu:
“sabe aquela do olho azul, então eu queria ser ela porque ela é a mais bonita e a mais
poderosa de todas elas” (Ma.9 - 5 anos).
Determinadas características pessoais, as quais são ressaltadas pela cultura
dominante, tornam-se, muitas vezes, em ideais, quando reforçadas pelos desenhos
animados. Perguntamos a uma das crianças: “O que você gosta desse desenho?”. A
menina respondeu: “gosto da espiã verde” (Ma.2 - 6 anos). Em seguida, questionamos:
“O que você mais gosta nela?”. A resposta foi: “do cabelo. É loiro, comprido e liso”
(Ma.2 - 6 anos).
Em “As Três espiãs demais”, o padrão de beleza é corpo alto, magro,
“perfeito”, de acordo com a indústria da moda. Os locais freqüentados por elas são os
shoppings centers e a metrópole. São jovens auto-suficientes que para se transformarem
em heroínas precisam adquirir bens de consumo, como batons, bolsinhas, cintos, lentes
de contato etc. Assim, ao projetar sujeitos que discursam em primeira pessoa e cujos
principais valores são monetários, para consumir produtos nos shoppings, constatamos
que este desenho instaura sujeitos do “ter” em detrimento de sujeitos do “ser”.
Quanto aos modelos identificatórios, observamos que a preferências por
determinados personagens das telenovelas, se dá devido a alguma característica que é
apresentada pela cultura, como mais valiosa que outras, por exemplo: cabelos lisos,
corpo alto e magro. Vejamos o que disseram as crianças em nossa entrevista: “Gosto da
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mia (personagem da novela ‘Rebelde’). Ela tem o cabelo lisinho (Ma.8 - 5 anos). Em
seguida foi perguntado a mesma criança: “E você queria ter o cabelo igual ao dela?”.
Ela respondeu: eu queria, o meu é enroladinho, não gosto” (Ma.8 - 5 anos).
Quando perguntamos a um dos meninos, sobre seu personagem preferido, a
resposta foi: “Eu gosto do jeito que o Diego (personagem da novela ‘Rebelde’) penteia
o cabelo. Ele passa um monte de gel e coloca pra cima. Quando eu vou numa festa, meu
pai empresta o gel dele e eu faço igual o cabelo do Diego [...]” (Mo.1 - 6 anos). Sobre a
novela preferida, uma menina disse: “Gosto de ‘Pé na jaca’, porque tem a Maria. Ela
gosta do Tico. Ela engravidou dele e ela é muito bonita, ela é bem magra e bem alta, e
tem cabelo loiro. Eu queria ter o cabelo igual o dela” (Ma.4 - 5 anos).
A eficiência deste vínculo estreito entre o mercado de consumo e as
programações televisivas pode ser evidenciada no discurso das crianças entrevistadas.
Na conversa com uma menina, sobre sua novela preferida, ela falou: “Eu gosto daquela
que é mãe do Mateus [...] porque ela usa umas roupas bem bonitas (Ma.5 - 6 anos).
Perguntamos, em seguida: “Tem mais algum programa que você gosta de assistir?”. A
resposta da mesma criança foi: “Gosto da novela ‘pé na jaca’, por causa da Maria e da
filhinha dela, porque elas usam uns vestidos e uns brincos muito bonitos” (Ma.5 - 6
anos).
Tratando-se da fantasia de onipotência, esta pode ser definida como poder
supremo ou absoluto. É a impressão de ter tudo o que se quer e de não ter nada a
desejar. Assim sendo, pode-se compreender que o problema existente na estimulação
dessa fantasia, via personagens de desenhos animados, encontra-se no fato de que isso
só é possível por meio de fantasia, e as implicações negativas da fantasia, como
apontado anteriormente, consiste no fato de representar uma fuga da realidade. A
negação da realidade e o predomínio de fantasias é característica das psicoses.
Para que a fantasia de onipotência entre em ação, torna-se necessário a
negação da realidade. Este processo também abordado pela Psicanálise, é mais um dos
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mecanismo psíquicos usados pelas programações midiáticas no intuito de aumentar
audiências e convencer o telespectador. Neste sentido podemos recorrer a Seagal,
(1975), quando esta trata das funções da fantasia:
[...] as funções da fantasia são múltiplas e complicadas, e ela possui um
aspecto defensivo que deve ser levado em conta. Visto que os objetos da
fantasia consistem em satisfazer os impulsos instintuais, prescindido da
realidade externa, a gratificação derivada da fantasia pode ser encarada como
uma tarefa contra a realidade externa da privação. É, no entanto, mais do que
isso: é também uma defesa contra a realidade interna. O indivíduo,
produzindo uma fantasia de satisfação do desejo, não está apenas evitando a
frustração e o reconhecimento de uma realidade externa desagradável; está
também – o que inclusive é mais importante – defendendo a si mesmo contra
a realidade de sua própria fome e raiva – sua realidade interna (SEAGAL,
1975: 27)
Podemos então, compreender, que a negação da realidade por meio de
fantasias, não contribui para um funcionamento saudável do psiquismo. Os personagens
dos desenhos animados, com seus super-poderes, favorecem a fantasia de onipotência,
permitindo que a criança acredite na possibilidade de deixar de ser ela mesma, e
transformar-se no outro. Para exemplificar esse processo, citamos a fala de um menino:
“[...] gosto do ‘Super-homem’ também, porque ele consegue ver atrás das paredes, ele
tem visão de raio-x” (Mo.2 - 6 anos). Ainda neste sentido, quando foi perguntado a
outro menino: “O que você acha legal nos ‘Powers Rangers’?”, a resposta foi: “eles
lutam e se transformam em robôs, daí ficam mais fortes” (Mo.6 - 6 anos).
Os programas televisivos têm o potencial para educar e preparar os
telespectadores com seus valores e estilos de vida que alimentam a sociedade de
consumo. Porém, a partir de uma ação conjunta a nível de Estado, escola, diretores e
professores, a educação pode interferir neste jogo de influências. Mas somente quando
estiver comprometida com a formação de educadores capacitados a favorecer e
estimular o desenvolvimento de consciências crítica acerca do que é apresentado pelas
mídias, contribuindo assim, para a formação de sujeitos autônomos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise dos dados sob a perspectiva da Teoria Crítica de Frankfurt
e da Psicanálise, foi possível contatarmos que os textos produzidos pela mídia
consistem em produções complexas, que envolvem discursos sociais e políticos cuja
análise e interpretação exigem métodos de leitura e crítica capazes de articular sua
inserção na economia política, nas relações sociais e no meio em que são criados,
veiculados e recebidos.
Os resultados obtidos por meio de entrevistas com as crianças, nos permitem
afirmar que os conteúdos televisivos interferem significativamente na constituição da
subjetividade infantil. A indústria cultural transmite valores, concepções e modelos de
conduta que favorecem o consumismo e para isso, incentivam os mecanismos psíquicos
regressivos, como a identificação projetiva/introjetiva, as fantasias de onipotência e a
negação da realidade, o que dificulta o desenvolvimento psíquico, impede a formação
de uma consciência crítica e assim, cria obstáculos à formação do sujeito autônomo.
Por tais motivos é que devemos trabalhar no sentido de formar sujeitos que
saibam lidar com as informações que são veiculadas pela televisão. Torna-se necessário
que os educadores conheçam as técnicas de produção da mídia, as ideologias e
interesses implícitos nas programações e comerciais e principalmente, conheçam o
potencial que a mídia possui e a quem ela atende. Assim, contribuímos para a formação
do juízo crítico, da autonomia e da emancipação de educadores e educandos.
REFERÊNCIAS
ADORNO, T. W. A Indústria Cultural. In.: COHN, G. (Org.). Comunicação e
indústria cultural: leituras de análise dos meios de comunicação na sociedade
contemporânea e das manifestações da opinião pública, propaganda e cultura de massa
nessa sociedade. São Paulo: Nacional, 1978.
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ADORNO, T.W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1985.
ADORNO, T. W. Educação e emancipação. Trad. de Wolfgang Leo Maar. São Paulo:
Paz e Terra, 1995.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionario da Lingua Portuguesa. 2.
ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
FROMM, E. Ter ou ser? Rio de Janeiro : Zahar, 1977.
Portal X: Disponível em: http://portalx.globo.com/PortalX/0,19125,PCW157-3151-
4-1,00.html. Acesso em: 15/01/2008.
SEGAL, H. Introdução à Obra de Melanie Klein. Rio de janeiro: Imago, 1975.
TERUYA, T. K. Trabalho e educação na era midiática. Maringá, PR: Eduem, 2006.

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